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Direito Internacional Público- Resumos- 1º Mini Teste

Contents
Conceito de Direito Internacional Público..............................................................................................3
Fundamento Sociológico do Direito Internacional................................................................................9
Evolução Histórica do Direito Internacional........................................................................................18
Direito Internacional nas civilizações antigas.................................................................................18
Direito Internacional no Mundo Helénico e Romano.....................................................................23
A Comunidade Cristã Ocidental da Idade Média: A respública Cristiana...................................27
Direito Internacional No mundo Bizantino.......................................................................................33
Direito Internacional no Mundo Árabe.............................................................................................35
Direito Internacional na Transição do mundo Medieval para o sistema Europeu de estados.
Paz de Westfália.................................................................................................................................37
Direito Internacional desde a Paz de Westfália ao Congresso de Viena....................................42
Direito Internacional Desde o Congresso de Viena a Primeira Guerra Mundial........................46
Direito Internacional entre as duas Guerras Mundiais...................................................................51
Direito Internacional depois da Segunda Guerra Mundial.............................................................59
Evolução das Correntes Doutrinais......................................................................................................64
Civilizações Antigas............................................................................................................................67
Pensadores medievais.......................................................................................................................73
Escola Espanhola de direito Internacional......................................................................................78
Hugo Grócio.........................................................................................................................................88
Jusnaturalismo....................................................................................................................................92
Positivismo Jurídico............................................................................................................................94
Correntes Modernas...........................................................................................................................95
Características do Direito Internacional.............................................................................................101
Fundamento da obrigatoriedade Do direito Internacional...............................................................111
As Relações do Direito Internacional com o direito dos estados...................................................120
Prática internacional.............................................................................................................................128
Fontes de Direito...................................................................................................................................138
O costume Internacional......................................................................................................................142
Organizações Internacionais...............................................................................................................154
Organização das Nações Unidas.......................................................................................................159
Conceito de Direito Internacional Público

Nossa disciplina e tradicionalmente designada por Direito


Internacional. A consagração deste conceito deriva de uma
grande evolução doutrinal que procurou encontrar um nome que
revelasse com clareza e precisão as principais características
deste ramo de direito. Mesmo atualmente, ainda é objeto de
muitas críticas.
Direito Internacional é a denominação que predomina. Mas ainda
assim, em Alemanha por exemplo, predominam expressões que
remetem para o antigo ius gentium romano, como direito
interestatal

Os primeiros autores o estudarem este ramo do direito, o


designavam por ius gentium(direito das gentes), por influência do
direito romano, onde as relações entre romanos e estrangeiros
estavam submetidas a esta legislação. Contudo na época
romana este era um direito interno!

Após a concessão por Caracala da cidadania romana a todos os


habitantes livres do império, o ius gentium evoluiu passando a ser
considerado uma espécie de direito comum a todos os povos. O
ius gentium foi uma expressão muito predominante, e deste facto
resultou a sua adoção no direito internacional de vários países
europeus.

Será Ius gentium a expressão adotada, até chegar os tempos de


Kant, autor que sobre isto veio defender que o direito
internacional é um direito interestatal, e por essa razão, a
expressão que na sua concessão melhor traduziria esse direito
que regula as relações entre os estados não seria ius gentium,
mas sim, um ius publicum civitatum(direito dos estados)

J. Bentham, por sua vez, preocupado com a clarificação das


características do direito internacional, viria a optar pelo emprego
da expressão direito internacional, a qual muito rapidamente se
generalizou e foi adotada pela doutrina.

Contudo, ambas estas últimas expressões não são perfeitas, já


que designavam o direito internacional apenas como um direito
interestatal, quando na realidade este abrangia muito mais. Estas
concepções vão ser, portanto, alvo de inúmeras críticas visto que
a doutrina percebe que o direito internacional regula não apenas
as relações entre os estados, mas também, alarga a sua ação a
outras entidades. Era imprudente definir o direito internacional
como o direito que regula as relações externas interestaduais.

Foi então que Barão de Taube propôs sua designação, que


supostamente seria capaz de abarcar as relações entre os
estados e entre outras comunidades jurídicas soberanas. Este
autor dizia que a expressão mais correta seria a de ius inter
potestates.

Essa designação abarcava as relações entre os estados e as


outras coletividades não estaduais. Contudo, gerava-se outro
problema. Qual a posição que os indivíduos ocupavam nisto?

Nesse sentido, muitos autores se opondo conceção dominante


do direito internacional como o direito intergrupal, vieram
defender que o DI não se aplicava apenas aos estados ou as
comunidades jurídicas soberanas, mas também aos indivíduos.

Houveram muitos posicionamentos, de diversos autores sobre


estes assuntos. Todos tiveram em comum o facto de admitirem a
existência de coletividades jurídicas soberanas que, pela via da
cooperação, vão criando o direito positivo.

Face a multiplicidade de opiniões, necessário tornou-se a criar


um conceito de direito internacional que fosse suficientemente
amplo para abarcar toda a realidade que o acercava, realidade
esta que era constituída pelos sujeitos e pelo seu objeto, sujeitos
que na sua articulação formam a comunidade internacional e
objeto que revela as relações internacionais estabelecidas entre
os sujeitos.

Quanto aos sujeitos, atualmente considera-se que para além


dos estados, os principais participantes na formação do direito
internacional, encontram-se outras coletividades internacionais
que gradativamente foram surgindo no cenário internacional
estabelecendo relações entre si e com os estados(igreja católica,
ordem de malta, cruz vermelha etc)

Ainda que estas outras coletividades somente sejam


consideradas com o consentimento dos estados, estas podem
participar na vida internacional e nada lhes retira a qualidade de
sujeitos de direito internacional, embora com uma natureza
diferente dos estados.

Para além destes dois, ainda se encontram os indivíduos, que


assumem uma posição especial no direito internacional. Desde
logo, pois a sua personalidade jurídica internacional é revestida
por uma natureza particular e em seguida, pois os indivíduos
surgem sempre representados na vida jurídica internacional pelo
estado ou por outro ente jurídico internacional.
Os indivíduos não cooperam ativamente com os outros sujeitos
na formação de normas de direito internacional. São sujeitos
passivos do direito internacional, sendo esta a regra. Ainda
assim, estes, devido a sua personalidade jurídica internacional,
são sujeitos de direitos e deveres internacionais sem qualquer
necessidade de representação estadual.

Quanto ao seu objeto, diz-se que este é constituído pelas


relações sociais internacionais dos mais diversos tipos-
económico, político, militar, cultural, social etc que as
comunidades jurídicas soberanas estabelecem entre si e com os
indivíduos.

O direito internacional é um grande e complexo mecanismo


coordenador de todas estas relações e de todo o conjunto de
atividades que os estados, outras comunidades jurídicas e os
indivíduos(menos densamente) desenvolvem no quadro da
comunidade internacional.

Mas qual um possível conceito que abranja toda a realidade por


ele regulada?

Em sentido amplo, o direito internacional seria aquele conjunto


de normas que regulam as relações entre os estados e outras
entidades soberanas
Em sentido estrito, seria o conjunto de normas que regulariam
outras realidades jurídicas internacionais, ou seja, as relações
entre comunidades jurídicas soberanas e os indivíduos.

Mas de modo geral, o direito internacional público deverá ser


definido como o conjunto de normas e princípios jurídicos
reguladores das relações internacionais entre os membros ou
sujeitos da comunidade internacional.

Fundamento Sociológico do Direito


Internacional

*sociológico - relativo a sociedade

A) Uma Pluralidade de Estados

O direito internacional, como se viu, é fruto da colaboração entre


estados e também de outras comunidades internacionais.
Foi primeiramente a colaboração entre os estados que ao longo
do tempo foi produzindo a necessidade de se criarem normas
reguladoras das relações entre os estados. Ainda hoje estes
ocupam um importante papel no quadro das relações
internacionais.

Por isso, pode-se dizer que o direito internacional surgiu e se


desenvolveu por conta da cooperação entre estados. Não seria
possível a existência de direito internacional se a sociedade
internacional não fosse constituída pelos vários estados
soberanos e carentes de entrarem em relações com os
outros(ninguém subsiste sozinho).

O direito internacional surge como fruto desta pluralidade, isto é,


como um fenómeno histórico-sociológico que surge e se
desenvolve no tempo para dar resposta a necessidade de
cooperação interestatal e em seguida, intergrupal.

B) Soberania
A soberania é um conceito moderno, de finalização apenas em
meados do século XVI. Até lá, este vai sofrendo uma grande
evolução

O impulso inicial para o desenvolvimento deste conceito começa


a ser dado no Século XVI, aquando vão surgindo várias
tendências para a separação entre o estado e a igreja(pois neste
período o poder, a soberania interna, era ainda muito
condicionada pela igreja). aquando no pensamento político
cristão surgem várias tendências relativas a questão das relações
entre o poder temporal e a igreja.

Começa-se então a falar acerca de uma Summa potestas para se


referir ao poder temporal e da supremacia do poder político
relativamente aos súbditos.(summa in cives ac súbditos
legisbusque soluta potestas).

Contudo, até então estes poderes ainda estavam em muito


vinculados aos poderes da igreja(direito divino). Por isso, era
necessário cada vez realizar a laicização do poder temporal, de
modo a permitir a ascensão dos estados modernos.
Vai ser apenas já com os pensamentos político renascentistas,
que se vem proclamar a definitiva autonomia da esfera política da
vida em relação as outras(nomeadamente a religiosa)

Nicolau Maquiavel, neste período, veio introduzir em suas obras


o conceito de STATO, que designaria uma comunidade política
ou então a república, o que contribuiu para esta autonomia do
político em relação ao religioso. Para si, a razão de
estado( Raison D´ Etat), sobrepunha-se a tudo. Todas deveriam
lhe submeter, sem quaisquer limites étnico muito menos
religiosos.

O político vai então se autonomizar. Mas o conceito de soberania


propriamente dito apenas vai se desenvolver definitivamente com
a chegada de BODIN e das suas obras e da transformação
radical das antigas estruturas feudais pelas novas formas de
estado e governo unificadas no poder do monarca.

Segundo BODIN, o monarca era o detentor de um poder absoluto


que não conhecia nenhum limite nem quaisquer vínculos. Tal
poder era unitário, integral e inalienável e a ele, todos estão
subordinados.
Considerava ainda que, a soberania, seria aquele poder
absoluto e perpétuo, próprio do estado, poder que consiste
essencialmente em dar e anular leis e ao qual todos estão
subordinados.

Sendo, portanto, a soberania o poder que não admite qualquer


outro e que, por natureza, é ilimitado, permanente e concedido
exclusivamente ao monarca, este seria detentor de um poder
supremo que nenhum outro estado ou entidade poderá limitar.

A soberania, reflexo do processo de centralização do poder real,


e da subsequente monarquia absoluta, trouxe grandes alterações
nas formas em que os estados se relacionavam.

Os interesses específicos de cada estado, acrescidos da ideia de


que havia um estado perfeito dotado de todos os meios
necessários para a satisfação de suas necessidades(estado
nesta fase chegou a ser afirmado como o próprio monarca),
gerou grandiosas dificuldades nas relações internacionais, todas
elas marcadas pelo grande orgulho da razão de estado,
generalizada e aceite pela europa.
Mesmo após a revolução francesa onde se passou a soberania
do monarca para o povo. Com este acontecimento histórico os
povos ficaram marcados por um grande sentimento nacionalista,
o que acentuou a forças centrifugas da sociedade, justamente
quando era muito preciso a interdependência e cooperação.

Na altura da revolução industrial, as relações económicas e


comerciais internacionais foram se alargando, fazendo decair
aquela ideia de que o estado era em si próprio uma entidade
perfeita e autossuficiente. Em seu lugar, vai se formando a
Communis opinio de que as novas realidades nacionais e
internacionais não se compadecem com isolamentos e muito
menos na ideia de autossuficiência entre estados.

O conceito de soberania absoluta vai perdendo força por ser


incompatível com a realidade, e vai ser substituído pelo de
soberania relativa.

Na soberania absoluta, os estados não só procuraram delimitar


a nível externo, o seu poder interno, como ainda reclamavam
para si uma completa independência nas suas ações e perante
aos outros. Eram os únicos determinadores das questões que
lhes diziam respeito e recusavam-se a reconhecer outras normas
que não fossem aquelas produzidas por si próprios. O direito
internacional surgia como um direito externo, que os estados
poderiam ou não decidir acatar, de acordo com sua vontade,
visto que não existia nenhuma autoridade superior a raison D etat

Contudo, esta ideia evoluiu para a de uma soberania relativa.


Aqui também se revela a ideia de que os estados não podem,
sem seu consentimento, ser submetidos a autoridade superior.
No entanto, já não é mais possível aos estados negarem
completamente o direito internacional.

C)Relações Económicas Internacionais

Outro fator que fundamenta sociologicamente o direito


internacional, são as relações económicas internacionais.

Nem as primitivas coletividades humanas, nem os estados,


podem viver sozinhos, e por isso, era frequente estabelecerem
relações económicas de natureza diversa.
Durante muito tempo estas foram relações de caráter
preponderante comercial. Delas resultavam imensas vezes
outras espécies de relações como políticas, religiosas, militares,
culturais etc.

Com o desenvolvimento económico dos estados, as relações


comerciais se complexificaram, evoluindo para um tipo de
natureza a que se designa por relações económicas
internacionais, e em que se incluem relações comerciais,
industriais, financeiras etc. Desta evolução, foi-se ao pouco se
produzindo uma comunidade internacional cujos diversos
elementos se encontravam ligados primeiro por laços
económicos e mais tarde, por laços tão fortes que a
interdependência passou a ser o aspeto predominante nestas
relações.

O isolamento não serviam mais aos interesses dos povos, que


pouco a pouco iam percebendo que não se é possível viver num
sistema autárquico.
Muitas vezes, das relações comerciais estabelecidas resultavam
relações culturais entre os povos, conflitos armados(os quais
exigiam como resolução a quase sempre realização de tratados)
etc.

Com o desenvolvimento do trafico de mercadorias a nível


internacional, fruto do desenvolvimento económico das nações e
da rede de interdependências já criada, o comércio passou a ser
feito por mercadores, primeiro, e depois pelos chamados homens
de negócios. Do comércio mais amplo e desenvolvido vai surgir
outro tipo de relações económicas, as financeiras e industriais,
que vão implicar uma acelerada movimentação de pessoas entre
estados

D)A guerra

As relações internacionais foram desde sempre atormentadas por


grandes conflitos, o que conduzia a criação de normas que
regulassem sobre o uso da força.
Na 1ª grande guerra, a ação bélica pôs a mostra os efeitos
terríveis que um conflito armado destas proporções poderia
trazer. Isto gerou nas pessoas a consciência da necessidade de
haver paz e de se encontrarem a disposição, instituições capazes
de garantir a cooperação entre os povos e estados. Desde modo,
paz e cooperação passam a primeiro plano dos estados, que
encabeçam várias iniciativas neste sentido.

A ideia de se criarem organizações internacionais com um


caráter político geral e universal começou a surgir e assumir,
portanto, um cenário de destaque a nível mundial, acabando por
originar a 1ª grande organização com tais características, a SDN.
A partir destas, muitas outras vão surgindo.

Evolução Histórica do Direito Internacional

Direito Internacional nas civilizações antigas


Para muitos autores, o direito internacional é uma criação
moderna, que surgiu e se desenvolveu com a formação do
estado moderno.

No, entanto, o que aparece com o estado moderno é apenas uma


das formas históricas deste direito internacional. A forma
moderna, que já é alvo de uma longa evolução.

Inicialmente, o direito internacional era limitado a um pequeno


número de relações ligadas ao comércio ou a guerra, e a
evolução destas fez-se em paralelo com a do direito
internacional.

Era também um direito fragmentado, devido a natureza


religiosa do seu fundamento, o que dificultava muito o encontro
de pontos comuns.

Era um direito precário, pois a vigência das suas normas quase


sempre era posta em causa pelas guerras, por novas alianças,
pela cessação de relações comerciais etc.
Pouco a pouco com o aparecimento das ideias de uma
comunidade internacional universal e da necessidade de paz, o
direito internacional assumiu uma natureza mais estável
permitindo assim uma edificação mais sistemática. Neste
processo, destaca-se o papel do pensamento cristão e de outras
religiões como o confucionismo e islamismo.

A) A Ásia Ocidental e Zona Mediterrânea

Nesta região os grandes impérios(egípcio, Mesopotâmico,


Assírio, Persa, Babilônico) degladiavam-se continuamente, com
guerras longas e sangrentas.

Mantinham entre si um forte intercambio comercial igualmente.

No quadro das suas relações político militares e comerciais,


estes impérios desenvolviam grandes esforços no sentido de
facilitar suas relações e atenuar os conflitos. Produziam
legislação interna, como era o caso do código de Hamurabi de
Dário.
Realizavam tratados como é caso Kadesh, de 2100, tratado mais
antigo que se tem conhecimento, celebrado entre a Mesopotâmia
e as cidades de Lagash e de Ummah, no qual se regularam
questões de fronteira.

Para além deste, há ainda indícios de outros como alguns


celebrados entre a Babilônia, irão, ásia menor e Grécia, no qual
se estabelece a neutralidade deste império. Estes povos firmam
ainda tratados com o Egito, visando obter ajuda militar recíproca
contra os inimigos externos comuns e contra os súbditos
rebeldes.

Egito ainda firmou com o imperador Ramsés II, tratados de


aliança e de paz com o imperador Hitita Hattusil em 1292 A.C.
(tratado de kadesh)

A intensidade de relações entre estes impérios os levou a


acordar na adoção de uma língua comum, o Arcádio
Babilónico, e de uma escrita também comum, a cuneiforme.
Tratou-se do celebre tratado de TEL-EL-AMARNA, cidade
egípcia onde foi celebrado.
Muitos destes tratados eram efémeros e fragmentários, e todos
tinham a religião como fundamento comum. Mesmo muito
rudimentares, não deixavam de ser normas internacionais, as
quais ajudavam a construir direito internacional adequado a
época em que foram criadas.

A) China

Principalmente com Confúcio, que veio a desenvolver toda uma


concepção filosófica que chegou a influenciar fortemente o
império chinês.

Baseado na existência de uma lei fundamental universal segundo


a qual as ações dos homens deveriam ser praticadas para o bem
social e em conformidade com a ordem natural, Confúcio vai
defender uma grande federação de povos, que em última análise,
nada mais se tratava do que uma associação entre estados.

Lao Tse, por sua vez, juntamente de muitos outros pensadores


chineses, defenderam a humanização da guerra e o respeito
pelos contratos.
B) Índia

Código de Manu por exemplo, defendia que em casos de guerra,


deveriam ser respeitadas as populações, em especial a
camponesa, e a agricultura, proibindo-se a morte de pessoas
desarmadas.

Direito Internacional no Mundo Helénico e Romano

1) Grécia

A Grécia estava dividida em várias cidades estado(polis), que


eram verdadeiras comunidades político religiosas independentes
umas das outras.

Suas relações eram essencialmente internacionais. Estabeleciam


entre si relações comerciais e até se envolviam em conflitos
armados. Para além disto, estabeleciam também relações
culturais, todas com o aspeto comum de serem religiosamente
sancionadas. Ambas estas se aperfeiçoando com o tempo.
Daí que se fosse desenvolvendo o direito internacional
Panhelénico, todo ele formado em práticas e tradições
sancionadas pela religião e também em convénios esboçados
por debaixo da evocação dos deuses

Do direito Panhelénico foram se desenvolvendo várias


instituições consuetudinárias e convencionais. Ligas de caráter
religioso como as de Anfictionias, contruídas entre cidades e em
torno de santuários com objetivo de permitir o acesso entre estes,
as ligas de caráter militar, sinmaquias etc.

Com o desenvolvimento do comércio, desenvolveu-se a


legislação relativa ao comércio e também ao direito marítimo.
Paralelamente e derivado do comércio, surgiram normas relativas
ao tratamento de estrangeiros. As relações que se iam
estabelecendo entre as pólis, foi se vendo necessário a criação
de um direito diplomático.

No que diz respeito a guerra, contra os inimigos bárbaros,


prevalecia o direito do mais forte, que tudo permitiria. No entanto,
pouco a pouco a guerra foi sendo humanizada se estabelecendo
princípios consuetudinários e convencionais relativos a
arbitragem(A arbitragem é um método de resolução de conflitos,
no qual as partes definem que uma pessoa ou uma entidade
privada irá solucionar a controvérsia apresentada pelas partes,
sem a participação do poder judiciário), a necessidade de
declaração formal da guerra, ao respeito pelos inimigos
capturados, ao respeito pelos cadáveres, a neutralidade dos
santuários e das propriedades divinas etc

2) Roma

O império romano era composto por um largo território com


centro em Roma. Em todo este território, habitavam não apenas
cidadãos romanos, mas também todos aqueles que eram
considerados bárbaros e inferiores, submetidos por isso a
legislação emanada do poder central.

Os romanos não aceitavam cooperação na formulação de


normas internacionais e impunham a obediência a todos os
povos dominados de uma lei uniforme. Por isso estes acabaram
por contribuir muito pouco na formação do direito internacional.
Sua contribuição se limitou ao direito interno produzido.
Tal aspeto não implicou que Roma não tenha contribuído para a
formação do direito internacional. Neste período podia-se já falar
da presença do ius fetiale no direito internacional, ius este que
correspondia a um conjunto de regras que deveriam ser
observadas antes de se iniciar uma guerra.

Existia em Roma os Fetiale(colégios de sacerdotes)


encarregados de informar o senado se existia ou não justa causa
para se realizar uma guerra e cujo parecer era imprescindível
para a celebração de tratados de paz, alianças, reclamação de
separações etc.

Com base neste direito, começa a ser desenvolvida a ideia de


Guerra Justa, o que não implicava uma humanização da guerra,
já que a condução desta ainda se realizava de forma
independente a este direito.

Encontra-se em Roma ainda o Ius Gentium. Este, surge a partir


do momento em que as relações económicas e culturais se
ampliam( conceção da cidadania a todos os residentes do
império por Caracala) e com elas, a presença forte em Roma de
mercadores e de intelectuais estrangeiros. O desenvolvimento
destas relações gera a que em 242 A.C, seja criado o praetor
peregrinus, com função de administrar a justiça entre
estrangeiros e romanos.

O ius gentium não deixou de ser uma formulação do direito


privado(ius civile) . Era a parte do direito interno romano, uma
parte que Roma impunha aos povos por ela dominados e que se
encontram no território imperial em contato com os
romanos(estrangeiros).

Apesar de ser um direito tipicamente interno, o ius gentium


exerceu um importante papel no desenvolvimento do moderno
conceito de direito internacional por nele estarem presentes
elementos do direito de estrangeiros.

Relativamente aos tratados, é importante dizer que Roma, salvo


raras exceções, apenas celebrava tratados em condições de
desigualdade, impondo obrigações que a outra parte tinha de
aceitar. Manifestava supremacia ao se relacionar com outros
povos.

Tal supremacia levava a que Roma também não aceitassem a


arbitragem.
A Comunidade Cristã Ocidental da Idade Média: A
respública Cristiana

A república Christiana, não era propriamente dito um estado, mas


sim, um grupo extenso de comunidades políticas com
autodeterminação, unidas pela religião do cristianismo e
submetidas a um poder diárquico, do papa(a nível espiritual) e do
imperador(temporal)

Após a queda do império romano do ocidente em 476 com a


deposição de Rómulo Augusto por Odoacro, ocorreu que os
povos bárbaros( germanos, eslavos e árabes) aceitaram parte da
cultura romana e se converteram ao cristianismo, formando os
reinos germânico-Românicos que serviram como o principal
instrumento de configuração política do ocidente.

Desde este período, até a coroação de Carlos Magno pelo papa


Leão III(800), aqueles reinos germano-românicos foram
assolados por inúmeras invasões de diferentes povos, o que foi
causador de muita instabilidade política e de contatos entre
aqueles mesmo povos bárbaros.
Carlos Magno, por sua vez, aceitando ser investido pelo Papa, no
ano de 800, tornou-se imperador do ocidente(em Constantinopla
era contestado! Somente se admitiu como legítimo sucessor dos
imperadores romanos em 812)

Seu império do ocidente recobria apenas alguns territórios! Os da


Alemanha, França, norte de Itália, Benelux e Catalunha.

Com sua morte(814), este império se desmembrou, originando


dois novos após o tratado de Verdun(870). Um, formado pela
Áustria e Alemanha e o outro pela Áustria Francónia e a França.

A dignidade imperial apenas veio ser reestabelecida com Otão o


Grande, em 936, que para o efeito, teve de lutar muito contra o
papado, luta esta que visava o domínio da república Christiana.
Acabou por resultar numa vitória do Papado e pelo domínio do
poder temporal por estes. O papado voltava a se afirmar como o
poder máximo(poder espiritual e temporal no papa)

Esta questão veio a provocar muitos conflitos, resultando a partir


do século XIII, num enfraquecimento gradual do poder imperial
alemão, na divisão desta em vários estados regionais, e na
criação de novos centros de poder em Áustria e em França.

Tudo isto, todas estas lutas, invasões, dominações, são produtos


da emergência na europa dum novo modelo político, económico,
social e cultural gerador de novas ideias. É a idade média, muito
caracterizada, como se sabe, pela formação de sociedades
hierarquizadas, fragmentadas, com predomínio do poder
religioso, e com particularismos locais. O papa foi uma importante
figura neste tempo, já que era a figura cujo respeito era tomado
em consideração por todos os povos cristãos, sendo portanto, um
importante árbitro das questões políticas.

Houve neste período um grande desenvolvimento nas finanças e


na economia(com os bancos!) das cidades integradas no
império(=república Christiana) . Veneza, pisa, Génova, surgem
como importantes centros mercantis com extensas trocas entre
outros povos(do oriente europeu e árabes também). Estas trocas
mercantis, não só em terra, mas principalmente, por via marítima,
permitiram o desenvolvimento de um direito marítimo. As
cruzadas(guerra santa de certo modo), igualmente vão fazer
crescer as relações entre os povos de diferentes culturas.
Todas estas relações de diferentes tipos, vão produzir um
grandioso desenvolvimento do DI. Os conflitos entre os estados
da república Christiana e os estados Islâmicos, vão resultar num
grande desenvolvimento de direito diplomático(passam a haver
muitos serviços diplomáticos em Veneza e posteriormente em
outros estados. Criam-se os cônsules mercantis, representantes
dos interesses de seus estados no estrangeiro). Fomentam-se o
direito internacional do estrangeiro e o conceito da neutralidade,
também começarão a ser desenvolvidos.

Os conflitos políticos, fizeram surgir a arbitragem, por via de


regra, exercida pelo papa, que é o árbitro permanente. Em certos
casos, em nome dos príncipes, vai haver tribunais de arbitragem
com um caráter internacional.

A própria igreja vai se esforçar para suavizar e impor limites a


violência, produzindo instituições como as tréguas de
Deus( combates militares não poderiam ser travados entre a
sexta-feira e a segunda-feira seguinte, uma forma de demonstrar
a submissão dos homens, mesmo em guerra, aos ensinamentos
de Cristo) e a Paz de Deus( proibição de que os guerreiros
atacassem população desarmada( Se o fizessem, seriam vistos
como iníquos, como homens cruéis que não eram dignos da
Graça Divina) ou que atacassem as propriedades da Igreja, de
modo que toda e qualquer população protegida dentro dos limites
dos templos deveria ser deixada em paz e nada daquilo que a
Igreja desenvolvesse poderia ser destruído pela guerra) com o
concílio de Clermont, alcançaram um caráter universal quase

Foi proibida a guerra privada, também muitos teólogos como São


Tomás de Aquino, começaram a debater sobre a necessidade de
justa causa para a realização da guerra. A figura dos
concílios(espécies de conferências) também, passou a exercer
um papel muito importante interferindo em inúmeros conflitos
para os regular pacificamente

Neste período da idade média, o direito internacional encontrava-


se dividido entre direito da paz e da guerra, divisão esta que
levou a elaboração dos conceitos de guerra justa e injusta
assentes na doutrina cristã.

Com o aumento dos poderes dos príncipes, foram sendo


proibidas as guerras privadas e foram se desenvolvendo as
represálias(violação deliberada e limitada do direito internacional
para punir outro Estado soberano que já os violou). As guerras e
represálias que eram entermeadas com as Tréguas de Deus,
períodos de tempo em que a guerra era religiosamente proibida,
e a Paz de Deus, que exigia a neutralidade nos locais de culto, a
inviolabilidade dos peregrinos etc. papa para realizar a
arbitragem

As relações pacíficas neste período, eram reguladas por tratados,


os principais instrumentos regedores das relações inclusivamente
das comerciais. Tais relações vão ser desenvolvidas
essencialmente através do mar, produzindo-se normas de direito
do mar.

A diplomacia vai ser regulamentada, surgindo normas sobre a i


munidade diplomática e privilégio dos diplomatas bem como
sobre as suas funções.

Direito Internacional No mundo Bizantino


Até a sua queda, o império romano do oriente contribuiu muito
significativamente para o direito internacional.

O império que lhe sucedeu, formado por povos das comunidades


greco-ortodoxas e eslavo-bizantinas, mantinha relações estreitas
quer entre os povos que o constituíam e que formavam
comunidades autónomas quer com o mundo árabe-Islâmico.

As comunidades autónomas, embora submetidas ao imperador


bizâncio, mantinham entre si relações de caráter internacional
reguladas por um direito internacional de cunho bizantino, com
base no qual celebravam tratados reguladores das suas relações
comerciais, do direito dos estrangeiros, da emigração, tratados
de aliança etc.

O império bizantino, apesar das muitas lutas pelo poder,


constituía uma grande comunidade de povos de origens diversas
que formavam duas grandes famílias: A greco-Ortodoxa e a
Eslavo Bizantina.

Toda a complexidade do império bizantino juntamente das


complexas relações que os povos que o constituíam
estabeleciam, levava a que este tivesse contribuído muito para o
desenvolvimento de direitos diplomáticos. Os imperadores nas
suas relações com outros povos não apenas dotavam seus
enviados especiais com cartas credenciais(prokuratikon) como
também recebiam com grande cerimónia os enviados de outros
povos.

Com certos povos, tais como os Árabes por exemplo, o império


estabelecia relações com base na igualdade e havia
reciprocidade no tratamento(quando bizâncio autorizou
mercadores árabes a construírem uma mesquita em
Constantinopla pois os árabes haviam permitido o livre acesso de
peregrinos cristãos a palestina)

Direito Internacional no Mundo Árabe

Os Árabes estiveram muito em contacto com a cristandade


ocidental e oriental devido a sua vizinhança com os povos
cristãos. Desde cedo tiveram guerra e celebraram muitos
tratados.
Submetidos ao islamismo, desde sempre demonstraram a sua
intenção em constituir um império universal e teocrático.

Em tal império, o sucessor do profeta(califa), detinha os poderes


temporais e espirituais, e tinha a função de fazer respeitar a lei de
deus e de a espalhar pelo redor do mundo. Neste quadrante, os
árabes construíram um largo império, em África, Ásia e na
europa, realizando a guerra santa(jihad) por eles considerada
como um dever religioso que tinha de ser cruel contra os infiéis.
Os infiéis poderiam optar ou pela conversão imediata ou pela
destruição. Apenas estavam livres os povos dos livros(judeus,
islamistas e católicos), os quais a guerra apenas implicaria na
sua submissão ao povo árabe, o que ainda assim, mediante ao
pagamento de tributos, permitia a manutenção da sua autonomia
cultural.

Os árabes, estruturavam todo o seu direito intencional com base


no corão, o que implica que o seu direito internacional seja
necessariamente fundado na religião. Tal fundamentação, se
somada as ambição universalista destes povos e a dimensão de
seu império, levava a um direito, designado direito panislâmico,
se impusesse a todos.
Mas este aspetos em nada impediam que estes povos tivessem
relações com outros, nomeadamente com os do mundo cristão.
Devido a localização geográfica por exemplo, uma grande
quantia de tratados políticos e inclusive, relações comerciais,
foram celebrados entre o imperador do império bizantino e o
Califa, mesmo em momentos de tensão.

As questões sobre a guerra, também foram devidamente


regulamentadas. Não se poderiam executar mulheres, crianças e
escravos(embora pudessem ser feitos reféns e vendidos
escravos). Não se matavam os reféns e negociadores de paz etc.

As relações entre os mundos arábico-islâmico e cristão,


sobretudo na época das cruzadas, permitiu uma grande
interpenetração cultural, da qual resultou que cristãos e
muçulmanos tivessem transmitido e recebido influência cultural
recíproca.
Direito Internacional na Transição do mundo
Medieval para o sistema Europeu de estados. Paz
de Westfália

A partir do século XV, a europa vê-se diante do nascimento de


novas estruturas económicas, sociais e políticas, com elas, o
capitalismo. As relações entre os países europeus vão sofrer
mudanças radicais.

Os descobrimentos, por exemplo, vão abrir novas perspetivas


dando a conhecer novos mundos e abrindo o caminho para o
processo descolonizador.

O século XV é quando nascem os estados modernos, num


processo lento e doloroso, assente numa crescente concentração
e secularização do poder, legitimado pelas teorias da soberania e
da separação do poder temporal do espiritual. Foi neste século
que houve o cisma do ocidente, acontecimento que conduziu a
decadência progressiva do poder papal. A divisão do cristianismo
anunciada pela separação da igreja ocidental da oriental(cisma
do oriente) tinha provocado a emergência do protestantismo, com
todas as suas manifestações e efeitos nas relações
interestaduais.
No século subsequente, assistiu-se não apenas a divisão da
europa cristã em duas parte distintas, cristã e protestante, como
também, a realização de guerras sangrentas entre estas duas
facções, as quais tinham na sua base interesses económicos e
comerciais gerados não só pela conquista de novos mercados e
produtos mas também por interesses estratégicos ligados a
expansão destes mercados.

Dentre muitas das guerras realizadas, a mais marcante foi sem


dúvidas a guerra dos 30 anos, que opôs a frança a Áustria.
Terminou com o Tratado de Westfália(1648), que consagrou a
coexistência entre estados protestantes e católicos. Muito
importante, permitiu que sobrevivesse o célebre princípio do
equilíbrio europeu(nenhum estado poderia se impor e ditar regras
aos demais) – conflitos que foram geradores de tratados.

Contudo, a europa ocidental cristã lutava ainda contra os


muçulmanos e na europa central o império Otomano impunha a
sua supremacia. Todos os conflitos gerados, claramente iam
formulando tratados de paz que alteravam muito
significativamente a geopolítica da europa – mais conflitos mais
tratados
A paz de Westfália foi um importante marco no quadro político e
religioso europeu, na medida em que determinou a coexistência
pacífica entre católicos e protestantes. Por isso, diz-se que é
considerada um direito público europeu, ponto de partida para
diversos tratados ulteriores que se interligam de tal maneira a
que acabam por constituir um verdadeiro ius gentium europeu, a
que se nomeou carta constitucional da europa.

O tratado de Utrecht, vai reconhecer expressamente esta


preocupação em equilíbrio. Contudo, não será suficiente para
evitar novos desequilíbrios, pelo que outras guerra ocorrerão por
interesses diversos

Por outro lado, o fenómeno das descobertas havia aberto uma


leque grandioso de novas possibilidades. Agora, com o
conhecimento da África, América e Ásia e o contato com os
povos destes continentes havia mundializado as relações
internacionais, resultando disso um aumento enorme no tráfico
de pessoas e mercadorias principalmente pelo mar, que passava
a ser o principal meio de comunicação.
Nessa época, o mar passou a estar no centro das relações
internacionais que eram protagonizadas pelas nações como
Portugal, Espanha, França, Reino Unido e Países Baixos.

O atlântico era o centro das maiores disputas, já que fornecia as


melhores condições para ligação dos continentes europeus e os
territórios descobertos, o que levou até mesmo a criação de certa
legislação, como foi o caso de Portugal e Espanha, com o
Tratado de Tordesilhas que dividia o mar e criava zonas de
influência entre estes dois países.

Vai ser tanta a importância do mar que vão ser criadas um


conjunto de normas internacionais relativas a sua utilização em
tempos de guerra e paz, a repressão da pirataria, e ideia de
liberdade nos mares etc.

As potências colonizadoras disputavam entre si os vários


territórios que iam sendo descobertos, enquanto o papado ia
legitimando estas conquistas e as ocupações, concedendo aos
colonizadores títulos jurídicos de ocupação, que em termos
jurídico-internacionais, era a forma de resolver conflitos relativos
ao domínio destes territórios(bulas papais). De tais ocupações
sucedeu o costume internacional da ocupação efetiva(território só
pode ser considerado de um país se for ocupado na sua grande
maioria por este estado)

Contudo, todo este movimento colonizador acabou por se traduzir


em segunda linha, num tratamento desumano para com os povos
colonizados, originando práticas negativas como a escravatura e
o tráfico de escravos. Tais práticas viriam num momento
posterior, a gerar em alguns indivíduos a consciência de que era
necessário moralizar as condutas dos colonizadores( levando
teólogos moralizadores como Padre António Vieira, a criticar o
extermínio dos ameríndios, o tráfico e exploração de outros
povos, especialmente africanos, e para defender legislação
protetora dos índios).

Essa prática de defesa dos direitos dos ameríndios consistiu


numa base muito remota ao processo de conscientização da
necessidade de consagração dos direitos do homem.

Direito Internacional desde a Paz de Westfália ao


Congresso de Viena
A paz de Westfália constituiu um verdadeiro ius publicum
europeum, por ter se traduzido num verdadeiro ponto de partida
para uma série de tratados que posteriormente vieram a ser
celebrados com vista a manter o princípio do equilíbrio europeu.

No entanto, este equilíbrio viria a ser posto em causa mais tarde


pelas diversas guerra travadas entre os países europeus, ainda
em busca de suas fronteiras, da sua identidade nacional e ainda
pelo próprio fenómeno da colonização(guerras coloniais).

A revolução inglesa do século XVII e as ideias liberais que


começavam a se impor por Inglaterra e por toda europa
provocaram uma enorme influência na política interna e externa
dos estados, os quais acabaram por determinar novos equilíbrios
políticos e com eles, o princípio do equilíbrio europeu.

Desse princípio resultou a queda da hegemonia da Espanha e da


casa da Áustria, que passa para a França, que mais tarde, com a
paz de Utrecht, vai perdê-la a favor da Inglaterra. Este país vai
passar a ser o fiel da balança do equilíbrio europeu, o centro de
irradiação das ideias do liberalismo. Notar-se a realização de
tratados para a resolução de problemas.
Ainda neste período, temos os países europeus a enfrentar as
alterações bruscas, provocadas pela substituição das antigas
estruturas feudais pelas do próprio capitalismo
burguês(estruturas modernas). Tais alterações processaram-se
através das revoluções liberais burguesas(em américa e
essencialmente em frança) que espalharam as ideias recém
nascidas. Assistiram-se assim a inúmeros conflitos violentos, que
manifestaram a luta entre os princípios da legitimidade
monárquica e o princípio da legitimidade popular, dos quais sairá
vitorioso a ideia de estado nacional e soberano. A revolução
francesa principalmente, exerceu um papel preponderante não só
na consolidação da ideia dos estados nacionais como também na
dissolução de muitos impérios até aí existentes.

Será principalmente entre os acontecimentos da Paz de Utrecht e


os da revolução francesa, que se iniciaram as convulsões sociais
e políticas inauguradoras do período das grandes mutações
territoriais na europa, consagradas no congresso de Viena.

Neste congresso, foi estabelecido o princípio do Status Quo


europeu anterior a revolução francesa, e por consequência, a
restauração do princípio da legitimidade monárquica com base na
qual é consagrada a nova ordem europeia fundada no princípio
do equilíbrio de forças. A paz europeia durante quase um século
vai ser assegurada por princípios conservadores um tanto
incompatíveis com as ideias revolucionárias dominantes na
europa.

Na altura em que o congresso foi realizado já havia sido


constituída a confederação Alemã, formada por cerca de 335
novos estados, o grã-ducado de Varsóvia criado por Napoleão
em 1807, e outras modificações político-territoriais ocorridas no
contexto de invasões napoleónicas. De todas as alterações, o
congresso apenas vai respeitar a existência da confederação
germânica e os limites do grã-ducado de Varsóvia.

Do congresso também ficaram estabelecidos regulamentos sobre


a hierarquia e categoria dos representantes diplomáticos(para
efeitos de honra e precedência), sobre a livre navegação fluvial
bem como uma grande declaração que suspendia o tráfico de
negros, por considerar esta prática contrária a moral a
humanidade e a justiça.

Do conjunto de normas produzidas neste congresso bem como


do modo como foram distribuídas as forças(santa aliança), surgiu
uma nova ordem jurídica internacional para a europa do século
XIX

Por outro lado, a europa do século XIX estava muito ligada aos
territórios colonizados, pelo que os acontecimentos históricos
produzidos nestas regiões vão afetar esta ordem conservadora.

As colónias de Inglaterra por exemplo, já detinham uma grande


autonomia. Em 1776 obtiveram a sua independência, produzindo
uma declaração na qual reconheciam os direitos inatos dos
homens, ato que vai ter impacto por toda europa(assim como já
tinha havido com frança na declaração dos direitos do homem e
do cidadão).

Outros sujeitos de direito internacional irão surgir neste período.


Em 1801, o Haiti declarou sua independência após uma guerra
com frança. Entre 1811 e 1814 muitos outros sujeitos passarão a
estar presentes na cena política internacional.

Agora a sociedade internacional assentava nos princípios do


estado nacional e das nacionalidades, cuja rejeição provocava
novos conflitos dos quais resultavam profundas alterações no
mapa político europeu.

O congresso de Viena constituiu-se como um importante marco


na história do direito internacional, apesar de seu papel
conservador. Com ele, ficaram já criadas as bases para o
sistema de congressos.

Direito Internacional Desde o Congresso de Viena a


Primeira Guerra Mundial

Após o congresso de Viena, a nova ordem jurídica internacional


vai sofrer o impacto das ideias nacionalistas e do princípio da
nacionalidade delas resultante, o que irá produzir significativas
alterações na geografia política europeia.

Este princípio se pararmos pra ver, é realmente incompatível com


a ordem conservadora estabelecida pelo congresso de Viena e
que a chamada Santa Aliança, criada logo após o congresso em
1815, constituindo-se pela Rússia, Áustria e Prússia e na qual a
Inglaterra e França vão entrar em meados de 1815 e 1820,
pretende garantir. Trata-se duma pentarquia, que irá constituir
uma espécie de governo internacional. Daí que as forças
estivessem distribuídas desta maneira.

Este diretório das grandes potências europeias desenvolverá


esforços no sentido de manter e garantir o Status Quo político e
territorial saído do congresso. Os países que integravam o
diretório vão passar a realizar reuniões periodicamente
procurando resolver os problemas internacionais e acertar as
políticas. Estava inaugurado assim o chamado sistema de
congressos, ficando já lançadas as bases para a formação das
primeiras organizações internacionais.

Este diretório das grandes potencias orienta a sua ação no


sentido de evitar conflitos armados entre seus membros(o que se
consegue). Apesar disto, fracassa em muitas outras missões no
oriente

No entanto, com o alto desenvolvimento industrial, com a


necessidade de expansão e de busca por novos mercados bem
como com o reforço da ideia de nação, a Santa aliança vai
acabar por desaparecer. Outros conflitos irão surgir em nome
deste emergir das ideias nacionalistas, do que resultará, por sua
vez, de muitas alterações no mapa político da europa.

Exemplos da nacionalidade nos países:

Itália entra em agitação política pelas ideias nacionalistas

Alemanha também

Produzem efeitos noutros povos europeus. Em1830, a Bélgica


se separou dos países baixos e com a Grécia que em 1829-30,
se tornou independente.

O império Otomano acabou por cair em 1922 aquando os


nacionalistas turcos aboliram o Sultanato, e o mesmo ocorreu
com o Austro-Húngaro(Quando as autoridades militares
assinaram o Armistício de Villa Giusti em 3 de novembro de
1918. O Reino da Hungria e a Primeira República Austríaca
foram tratados como seus sucessores, enquanto a independência
dos eslavos ocidentais e dos eslavos meridionais do Império
como a Primeira República da Checoslováquia, a Segunda
República da Polônia e o Reino da Iugoslávia, respetivamente, e
a maioria das demandas territoriais do Reino da Romênia
também foram reconhecidas pelas potências vitoriosas em
1920) . Da desagregação de tais impérios outros novos países
vão surgir(Roménia, Bulgária, Albânia, a separação da Áustria da
Hungria, a reunião dos Checos com os Eslavos num único
estado- Checoslováquia- incorporação de povos eslavos na
Jugoslávia).

Entre o congresso de Viena e a 1ª Guerra mundial foram


diversas e profundas as alterações no mapa político europeu,
todas fruto de guerras, do nacionalismo, e de grandes
movimentações diplomáticas com influências no direito
internacional. Tal direito ao passo que era constantemente
violado em razão das guerras e das anexações territoriais, estava
sempre em desenvolvimento.

Importa saber que neste período muitos dos territórios


colonizados na américa acediam a independência por via de lutas
políticas ou político-militares. Foi o caso do Brasil, Cuba, Panamá
etc. A colonização em África, por sua vez, conduzia a partilha
deste continente pelos vários países europeus em conferências
internacionais (a mais célebre, Berlin em 1885, nela se
estabelecendo os limites das colónias e estabelecendo
protetorados)
Neste período, contribuem para o desenvolvimento do direito
internacional a guerra e a navegação marítima(muito
incrementada pelo comércio), e por isso, não é menos certo dizer
que os avanços tecnológicos verificados também não vão
contribuir. Deste modo, com as guerras e com a navegação
marítima, os estados europeus desenvolveram um grande
esforço no sentido de:

. Consolidar seus novos limites territoriais

. Humanizar a guerra(importante papel desempenhado pela


conferência de Haia da qual vai sair a codificação do direito
internacional geral(costumeiro), a criação do tribunal de
arbitragem de Haia e da cruz vermelha, a regulamentação do
tratamento de prisioneiros e feridos de guerra, a neutralização
dos hospitais e de ambulâncias etc

. Desenvolver e aperfeiçoar o direito marítimo, pondo fim a


pirataria.

Com o desenvolvimento tecnológico, criou-se a união telegráfica


internacional e a União Postal.
Os avanços cada vez maiores da industrialização criaram um
mundo laboral extremamente vasto a agitado pelas ideias
marxistas, sendo mais que preciso se criar legislação que
protegesse os trabalhadores

Apesar de tudo isto, antes e após a 1 guerra, a europa continuou


a obter um equilíbrio instável.

Direito Internacional entre as duas Guerras


Mundiais

No período entre o congresso de Viena e o Primeiro grande


conflito armado, foram diversos os acontecimentos históricos
políticos económicos e sociais que tiveram um grande impacto no
direito internacional.

Assiste-se ao surgimento dum número cada vez maior de sujeitos


de direito internacional, quer por força das descolonizações, quer
pelas alterações político-territoriais.
Some-se estes fatores ao contexto da época. As novas
tecnologias, a industrialização efervescente, ao subsequente
extenso mundo laboral dominado pela agitação causada pelas
ideias marxistas e socialistas, a emergência das ideias
nacionalistas exacerbadas, causadoras de antagonismos
nacionais.

Tudo isto entre outros fatores ademais, destruiu completamente


o já debilitado equilíbrio europeu e contribuiu para desencadear a
1ª Guerra mundial.

Finda guerra, dois grandes problemas surgiram para o


restabelecimento da paz e definição de uma nova ordem
internacional:

. A reorganização da carta política da europa

. Substituição do velho sistema de equilíbrio por outro que


oferecesse mais garantias de convivência pacífica
Nota que agora a solução destes problemas não caberia apenas
a europa, uma vez que outras nações em todo o mundo tinham
conquistado sua independência e teriam de contribuir ativamente.

Na conferência de Paz de paris em 1919, outros estado


participaram na discussão e decisão de questões europeias, e
dessa conferência vai resultar a definição da nova política
mundial, construída a partir de diferentes concepções do mundo.

Estes outros países vão também contribuir juntamente dos


europeus, para o chamado princípio da autodeterminação dos
povos, reconhecendo e consagrando assim, o princípio das
nacionalidades.

Deste princípio vai resultar a reunificação da polónia, que passa a


ser independente, o desmembramento do império Austro-
Húngaro, do que faz resultar vários outros estados
independentes(Jugoslávia, Roménia, Hungria, Áustria,
Checoslováquia etc)

Para além disto sentiu-se a necessidade de dotar a sociedade


internacional de um novo sistema de equilíbrio que fosse capaz
de garantir a coexistência pacífica entre os estados. Para tal
efeito, e em resposta a mensagem do presidente Norte
Americano Thomas Woodrow Wilson, cria-se a SDN, sociedade
das nações e o tribunal de justiça internacional com sede em
Haia. Esta foi criada pelos tratados de paz de 1919-20, mas
nasceu com inúmeros defeitos, refletidos em sua
operacionalidade.

Seu primeiro fracasso começa pela recusa dos EUA em


aderir(senado norte americano numa posição de isolamento
continental)

Segundo, a recusa por parte da Rússia em aderir pois tinham


acabado de entrar numa revolução, emergindo na cena
internacional como o 1º estado socialista.

Tinha em si apenas a frança e Inglaterra como grandes


aderentes. Por isso, diz-se que a SDN havia nascido sem
grandes recursos para levar a cabo a sua missão. Foi mais
estruturada como uma confederação de estados dominada por
Inglaterra e por França do que um verdadeiro organismo
internacional dotado de todos os meios necessários para a
prossecução de seus fins.
Internamente também havia sido muito mau estruturada, o que
gerava uma grande deficiência funcional de seus órgãos, em
especial do conselho e da assembleia.

Por todos estes motivos, a partir de 1931 a SDN entra em


colapso, o que não lhe permite evitar o 2 grande conflito armado
que estava prestes a vir. Ainda assim, chama-se a atenção para
os importantes papeis que desempenhou, mesmo tendo falhado
em seus principais objetivos. Ratificou muitos tratados de paz, e
ajudou na resolução pacífica de muitos conflitos.

Entre 1929 e a segunda guerra mundial a europa e o mundo


enfrentavam sérios problemas políticos sobretudo económicos,
geradores de muita instabilidade a qual a SDN não foi capaz de
resolver.

Por exemplo, os problemas políticos decorrentes do emergir do


nazismo alemão e do fascismo Italiano, por um lado, e do
Bolchevismo, por outro, acrescidos dos problemas económicos
motivados pelas lutas e conquistas de novos mercados e pelas
crises do capitalismo em 1929, não serão resolvidos por esta.
Apenas vão agravar ainda mais as divergências dos países
membros no interior da própria SDN, levando a que Alemanha e
japão a abandonem, provocando a ruína completa desta
organização, e com ela, o inicio da rutura do sistema de equilíbrio
que já tinha sido estabelecido, o que vai conduzir a 2ª Guerra
Mundial.

Terminada a 2ª guerra, e sabida a incapacidade por parte da


SDN de assegurar a paz mundial, as potências vencedoras
entenderam ser necessário rever o sistema de equilíbrio e criar
uma nova ordem internacional. Nesse sentido, as grandes
potências(URSS, EUA, Grã-Bretanha, China e França)
arquitetaram em diversas conferências e acordos, aquele que
viria a ser o perfil do novo sistema mundial do pós guerra.

Para o efeito, vários instrumentos jurídico-internacionais foram


utilizados como a declaração de moscovo, Carta do atlântico,
declaração das nações unidas, declaração interaliada de
Londres. A ideia de criar-se uma nova organização internacional
capaz de substituir a SDN estava em dia.

Terminada a guerra, a carta do atlântico serviu de base aos


países vencedores na defesa a um ideal comum- O repúdio ao
Nazismo. Em 1944, os países reuniram-se em conferência em
Dumbarton-Oaks, para discutirem a possibilidade da criação de
uma nova organização de segurança.

Fizeram-se outras reuniões, como a de Yalta, onde foram


discutidas questões relativas as esferas de influência na europa
bem como o direito de voto na nova organização de segurança.

A 5 de junho de 1945, realizou-se a declaração relativa a derrota


dos alemães. Em julho deste mesmo ano, a conferência de Berlin
e os acordos de Potsdam relativos a administração compartilhada
dos aliados do território alemão. Em agosto de 1945, criaram-se
tribunais internacionais, o de Nuremberga e o de Tóquio, para
julgar os criminosos de guerra.

As potências aliadas se reuniram em S. Francisco na


califórnia para discutirem e aprovar a carta da ONU de 25 de
abril a 26 de setembro, data final em que todos os 5 grandes
e a maioria dos signatários reuniram todos os requisitos
para a ratificação da carta das nações unidas.

Nascia assim uma organização internacional, a ONU, que deste


tempo até hoje, foi estruturada com base em dois princípios
fundamentais ainda hoje operantes: O princípio democrático e o
da hegemonia das grande potências.

Segundo o princípio democrático, todos os membros da ONU


gozam de igualdade de direitos.

O princípio da hegemonia, consistia no predomínio das grandes


potências que se traduz no direito de pertencerem de forma
permanente ao conselho de segurança e aí poderem exercer o
direito de veto. No exercício deste seu direito, as grandes
potências podem traçar as linhas mestras das políticas
internacionais, pondo-as conforme melhor lhes aprouver. Desse
princípio resultará na prática um certo diretório das grandes
potências aliadas.

Relativamente ao território, o definido pelos estados foi manter ou


restaurar o Status Quo anterior a segunda guerra mundial.

Importante é ainda saber que com a criação dos tribunais


internacionais, de Nuremberga e de Tóquio, ficavam lançadas as
bases de um novo direito penal internacional.
Direito Internacional depois da Segunda Guerra
Mundial

Finda guerra, com a rendição incondicional dos autoritarismos,


surgiu uma tendência para sobrevalorizar o papel da ONU e as
possibilidades de cooperação entre os aliados, em especial entre
as grandes potências que detinham o governo do mundo.

Mais tarde, esta aparente tendência revelou-se perante ao peso


que representavam na cena mundial as duas superpotências que
então se formavam: EUA e URSS. A seguir a estas, também a
china, a começar a ganhar muito espaço e significância no
cenário internacional.

Em seguida, deu-se a formação dos blocos. De um lado as


potencias ocidentais polarizadas pelos EUA e que no seio delas
começa a exercer a sua hegemonia, em especial após o plano
Marshall ter permitido uma rápida reconstrução destes.
Do outro lado, estava o socialismo-Marxista que alargava a sua
zona de influência a vários países da europa oriental e do centro
num universo ideológico cujo centro era a URSS.

Mais tardiamente, assiste-se a emancipação chinesa, dominada


agora pelo pensamento Maoista, provocando uma divisão no
mundo socialista.

Ambos os blocos vão conflitar, na chamada guerra fria, guerra


que embora não realizada de forma direta, durante todo o seu
período, foi geradora de grandes tensões internacionais, fazendo
perigar a paz no mundo com a iminência de conflitos armados.

De modo a reduzir as tensões, surge a teoria da coexistência


pacífica, teoria esta que consistia numa possibilidade de apesar
dos seus grandes arsenais bélicos, as duas superpotências
poderem coexistir. No entanto, tal teoria não foi capaz de evitar
os conflitos localizados que se produziam por questões político-
económicas, de difícil solução que contribuíram inclusivamente
para a divisão de muitos estados como foi o caso da coreia e do
Vietnam.
Ocorre ainda que com o pós guerra, o fenómeno descolonizador
atingiu proporções grandiosas em diversos continentes.
Essencialmente em áfrica, onde as ideias independentistas
inspiradas no princípio da autodeterminação dos povos e
impulsionadas pelo sentimento de liberdade com o fim dos
autoritarismos da 2 grande guerra, e as independências já
conquistadas em outros territórios, se fizeram sentir. Surgiram
movimentos de libertação, que após inúmeras lutas político ou
político militares conduziram a independência e a criação de
novos estados por todo o mundo.

Tudo isto claramente vai exigir uma restruturação da sociedade


internacional, uma vez que agora existiam mais sujeitos de direito
internacional(tal como já vinha sendo feito anteriormente com o
surgimento dos novos estados). Por isso, já não se poderia
deixar de atender ao nível de desenvolvimento económico,
diversidade cultural e as ideologias destes povos.

Perante a isto, o mundo passou a estar dividido em 3


categorias de estados. Os desenvolvidos, os em via de
desenvolvimento e os subdesenvolvidos(3 mundo)
A sociedade internacional não poderia ficar completamente alheia
a posição que estes países adotaram na cena internacional.

A mundialização do direito internacional, e a nova natureza desta


mundialização proveniente agora das antigas colónias nos vários
continentes aparecerem como sujeitos plenos de direito
internacional, vai provocar os chamados regionalismos
internacionais. Estes vão se articular com o universalismo do
direito internacional através da criação de várias organizações
Internacionais especiais, que refletem os interesses dos grupos
de países ligados por afinidades económicas, ideológicas,
culturais, geográficas etc. Vão assim surgir neste período várias
organizações regionalistas.

As afinidades dos países de ordem geográfica e cultural vão, por


sua vez, impulsionar os regionalismos internacionais e a
emergência de novas organizações internacionais vocacionadas
para definir a política comum dos países membros, quer na
defesa de seus interesses económico-sociais quer na da paz e
segurança regionais. Assim surgem, variadas organizações
coadjuvadoras da ONU e que com ela cooperam para efeitos de
paz e segurança internacionais.
Para além disto, com o pós guerra e com a guerra fria, gera-se
um bloco específico: O dos países não alinhados.

A questão colonial, a dependência crescente dos países


subdesenvolvidos face aos desenvolvidos, a necessidade de
defesa conjunta dos países fornecedores de matérias primas,
levou a que muitos países afro-Asiáticos na conferência de
Bandung de 1955, acertarem suas políticas anticolonialistas e
proclamarem o seu não alinhamento com os blocos existentes,
visando constituir um anti bloco. No entanto, passada uma
primeira fase, este não alinhamento começou a perder expressão
em razão da grande força exercida pelos dois outros blocos,
passando a haver assim, sempre entre os não alinhados certos
alinhamentos de um ou doutro estado com um ou outro bloco.

Na europa ocidental e oriental sugiu também um direito


Regionalismo. Foram criadas diversas organizações de caráter
económico, político e cultural e participam em instituições
militares(CECA, +CEE,+ EURATON= direito comunitário.
TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE PACTO DE VARSÓVIA)
COMECON, criado pelos países socialistas. Todas estas
organizações promovem um novo desenvolvimento do direito
internacional
Destes regionalismos resultará o fortalecimento de acordos
regionais e a emergência por um direito internacional novo, de
caráter regionalista e realista, capaz de manter a paz e
segurança internacionais.

De toda a evolução histórica pode se dizer que esta se


desenvolve perante 3 elementos essenciais

- Conflitos bélicos

-Relações económico-culturais

-desenvolvimento científico-tecnológico

Evolução das Correntes Doutrinais


A dogmática jurídica internacional é um fenómeno moderno.
Começa aproximadamente na idade média, mais precisamente
na baixa idade média cristã.

No entanto, apesar de só terem surgido na idade média as


primeiras investigações sobre direito internacional, isto não
significou que nos períodos anteriores, não existiram já direta ou
indiretamente estudos relativos a isto. Nas civilizações antigas,
chinesa, indiana, grega, Romana e muçulmana por exemplo,
encontram-se reflexões sobre o direito internacional.

Inicialmente, tal dogmática preocupava-se com questões


relativas a história do direito internacional, precisamente porque a
atenção dos estudiosos será focada a investigação das origens
daquele direito.

Passada esta primeira fase, se alcançará uma viragem doutrinal


que leva os estudiosos a se dedicarem essencialmente
fundamentos axiológicos(valores) do nosso direito, e nessa
perspetiva, fazerem com base na filosofia dos valores da época
uma descrição do direito internacional existente.
Mais tardiamente, a partir do século XIX, surge a moderna teoria
do direito internacional, sobre a qual começam a ser elaborados
os conceitos fundamentais desse direito com o objetivo de o
transformar numa unidade sistemática e com coerência interna.
Tal tarefa será desempenhada por autores com diversas
concepções do direito, e consequentemente defensores de
diversas correntes do pensamento jurídico, com especial relevo
para as correntes jusnaturalistas e positivistas

Em suma, as diferentes etapas do desenvolvimento da dogmática


do direito internacional acabam por representar as duas grandes
fases deste desenvolvimento: A fase empírica e a fase
Sistemática.

A primeira engloba as duas primeiras etapas, a histórica e


axiológica, e com elas é feito o inventário das regras nascidas
das relações interestatais e da história destas, e em seguida, a
discussão dos conceitos e princípios sob o ponto de vista
axiológico.

A segunda vai se esforçar no sentido da conceptualização e da


teorização do direito internacional tendendo a articula-lo numa
unidade sistemática.
Ambas as fases são muito importantes para o desenvolvimento
do direito internacional e não deixam de estar ligadas umas as
outras, constituindo a segunda o desenvolvimento teórico da
primeira.

Civilizações Antigas

-China

Muitos filósofos como Confúcio, Lao-Tsé e Chung-Tsé apesar


das diferentes escolas em que se inseriam(confucionismo e
taoismo) vão cada um a sua maneira defender o pacifismo
universal. Se preocupam muito com os problemas da guerra e da
paz.

Assim vai acontecer com a escola de Confúcio, toda ela


preocupada com as realidades práticas, de onde irá extrair os
fundamentos da sua filosofia moralista na qual o homem é
concebido como um ser naturalmente bom.

Também na escola Taoista de Lao-tse, onde das suas teses,


extraiu-se um pacifismo contrário aos conflitos armados e a toda
e qualquer dominação dos povos.

-Índia

Muitos pensadores refletem sobre a guerra, paz, a política de


alianças, a diplomacia e o equilíbrio entre os povos, sempre se
baseando na ideologia religiosa aí dominante: O bramanismo ou
hinduísmo.

É nestas filosofias religiosas, baseadas nas ideias de ritmo,


sacrifício e num certo pessimismo, que o direito internacional
indiano se assenta e que o código de Manu reflete.
O mesmo já não ocorre na filosofia budista, defensora do
universalismo político e religioso bem como da não violência e da
igualdade de tratamento.

-Grécia

Neste país, o pensamento filosófico do direito internacional não é


uniforme. Nas diversas correntes filosóficas vão se encontrar
posições divergentes sobre os problemas do direito internacional,
nomeadamente, aos relativos a guerra e a paz.

Para Tucídides, por exemplo, a guerra é um fenómeno natural no


qual a lei do mais forte se impõe pela submissão do mais fraco.

Platão, ao refletir em sua república sobre as relações entre as


polis gregas defende uma certa humanização da guerra, posição
que mais tarde adotará para as relações conflituosas entre os
gregos e outros povos.
Pensadores gregos também se preocupam com problemas
relativos a associação das polis numa federação pan-helénica
como uma forma de ultrapassar os particularismos locais(e os
conflitos por eles produzidos)

-Roma

Apesar de pouco o seu contributo para o direito internacional, não


deixou, no entanto, de produzir alguma literatura filosófica sobre
esta matéria.

Cícero, por exemplo, defendeu a liberdade de comércio para os


estrageiros e a liberdade de instalação ou fixação destes no
território romano por entender ser injusto impedi-los de
comercializarem e viverem em terras romanas.

De forma igual, defendeu também o caráter irracional da violência


como meio para solucionar os conflitos, condenando assim a
guerra, que apenas é justa se feita para a legitima defesa ou para
reparar agravamentos.
Do ponto de vista jurídico, a grande contribuição dos romanos
para o direito internacional é a que adveio da abundante
jurisprudência acerca do ius gentium.

-Povos Islamizados

Não deixaram de participar no processo criador da dogmática


jurídico internacional.

Claramente, a dogmática jurídico internacional islâmica foi


sempre dominada pelos textos sagrados do corão. É fundada
essencialmente na religião.

As 4 grandes escolas jurídicas islâmicas(sunitas, hanazita,


malekita e hanbali) aceitam, embora com alterações, o corão
como fonte revelada de direito, fonte na qual mais tarde virá a ser
completada por outras duas: o costume do profeta e a tradição
autêntica.
Todas as escolas produziram uma verdadeira ciência do direito
Islâmico, na qual o forte vínculo a religião era a característica
comum. Vão teorizar juridicamente as relações com outros
povos(os infiéis e os do livro) e consequentemente, o problema
da guerra com estes povos, sempre considerada como uma
guerra santa(Jihad)

A guerra santa surgia como uma bellum Justum, na exata medida


em que com ela se cumpria a obrigação divinamente imposta de
espalhar a fé islâmica

Por outro lado, dessa doutrina vai nascer ainda 3 importantes


instituições: AMAN, DIMMA e MUWADA’A

Da primeira resulta a suspensão da guerra santa e dos efeitos


desta por um certo período

Da segunda, é reconhecido aos judeus e cristãos o privilégio da


concessão da cidadania limitada mediante ao pagamento de um
tributo
Da terceira é autorizada a celebração de tratados com os infiéis
sempre que fosse necessário ou útil e por um período limitado.

É este direito que vai regular as relações entre muçulmanos e


não muçulmanos.

Houve de facto um pensamento jurídico sobre o direito


internacional antes da idade média, cuja importância não pode
ser negada.

Pensadores medievais

-As correntes Canonistas

Com o cristianismo e as ideias da unidade do género humano,


nascerá uma reflexão acerca das condições de convivência entre
os povos, baseada na ideia da existência de uma família de
nações unidas por vínculos decorrentes da natureza comum dos
povos.

Baseando-se no antigo testamento e nas teses de São Paulo


sobre a unidade do género humano, sobre a delimitação territorial
das nações e ainda sobre os povos primitivos, que apesar de não
alcançarem a lei divina revelada, tem a suas próprias leis
decorrentes da natureza das coisas, os pensadores cristãos vão
descobrir esta ideia e criar as condições para o nascer do
Jusnaturalismo cristão.

Santo Agostinho partindo das teses de São Paulo, vai dar


fundamento a sociedade internacional, sem desconsiderar a
diversidade cultural dos vários povos. Ainda vai teorizar sobre a
guerra justa sob o ponto de vista cristão, defendendo que a
guerra justa era aquela que pretendia restabelecer a justiça
violada e que é limitada nos seus efeitos pela moral cristã e pelo
direito.
São Tomás de Aquino e outros muitos teólogos vão tratar o tema
da guerra justa. Este passa a ser o tema o tema dominante na
obra dos pensadores da época.

A partir do século XIII, cetos teólogos vão desenvolver temáticas


no sentido de averiguar de quem seria a autoridade competente
para declarar a guerra justa e ainda se os requisitos desta seriam
ou não aplicáveis aos infiéis. Tal questão vai dividir os teólogos.
Não havia opinião uniforme sobre o principio hierárquico dos
poderes no mundo cristão ou ainda, sobre o reconhecimento ou
não da personalidade jurídico-internacional aos infiéis.

Para alguns o monopólio da guerra caberia ao papado, por ser o


detentor da plenitude potestatis, enquanto para outros, mais
defensores do império, seriam os príncipes as autoridades com
poderes para declarar a guerra.

Relativamente aos infiéis, haviam também duas perspetiva . Uns


defendiam que era sempre lícito declarar a guerra justa a estes
povos(Perspetiva defendida pelos que negavam personalidade
jurídico-internacional a estes povos). Isto porque a atribuição
desta personalidade só poderia ser feita com base no direito
natural decorrente do direito divino(cristão)

Outros, por sua vez, preferiam distinguir entre a esfera natural e


temporal, da sobrenatural e espiritual para a partir daí, recusar
qualquer discriminação. Assim ocorreu com os seguidores de
São Tomás de Aquino, nomeadamente São Raimundo de
Penaford. Estes admitiam a ideia do direito da sociedade
humana, com base na qual defendiam a noção de uma
sociedade humana internacional.

-Correntes Romanistas

No século XIV, uma corrente romanista começou a emergir,


simultaneamente com as doutrinas sobre o ius gentium e
humana societatis, que passaram agora a serem tratadas sob o
ponto de vista do conflito entre o papado e o imperium por
teóricos regalistas que defendiam a supremacia do poder
imperial).

Em último ponto, consistiu na afirmação de um pensamento que


viria a dominar todas as teorias dessa época, anunciando o
declínio da escolástica e do seu método de estudo e ensino do
direito e a emergência de uma nova época do pensamento
jurídico-político europeu.

A corrente romanista da época dos glosadores e dos


comentadores, surge do renascimento do direito romano
justinianeu no século XII. Importante o papel desempenhado
pelas escolas de Bolonha de Irnério onde este começou por ser
estudado(glosa) e posteriormente a dos comentadores com uma
vocação mais prática. Nesta última, com um enorme destaque
para Bártolo de Sassoferato, jurista de renome que se debruçou
pela 1 vez perante todo o corpo de direito e, orientado por fins
puramente práticos, procurou unificá-lo e adaptá-lo as
necessidades normativas da idade média.

.Bártolo de Sassoferato

Foi enquadrado neste pensamento e na polémica dos teóricos da


plenitude potestatis do papado e os do império que se situava
Bártolo, jovem catedrático de Bolonha que defendia o poder do
Império.
Bártolo no quadro da sua defesa da supremacia do império, de
poderes autónomos aos do papado, reconhece as comunidades
a autoridade suficiente para através do príncipe, declarar a
guerra Justa.

Ao reconhecer que a formação dos estados implicava o


desaparecimento da instância central da comunidade
internacional- o papado- e reconhecendo que cabia aos estados
assumirem a defesa de seus interesses, Bártolo vai teorizar em
suas obras sobre a chamada instituição da Represália.

Para o efeito começa por distinguir os vários momentos da


autotutela, defendendo que num primeiro momento os estados
que se considerassem ofendidos teriam de averiguar se os
agressores cometeram ou não ato de injúria. Em seguida, teriam
de decidir sobre o seu direito de exercício de represália. O
primeiro momento foi a autodecisão e o segundo, autoexecução.

A represália para si seria como uma espécie de guerra.


Escola Espanhola de direito Internacional

O mundo estava em grande expansão e mutação acelerada, o


que vai provocar uma alteração no modo de tratamento dos
problemas já clássicos do direito internacional. As grandes
questões agora estavam divididas entre a razão de estado e o
humanismo cristão, e os princípios morais

Para alguns autores, como Maquiavel, a razão de estado tinha


supremacia absoluta perante tudo e todos. Quer nas relações
internas como nas externas. A guerra era vista mais como um
fenómeno natural, devendo ser assumida sob o ponto de vista da
sua oportunidade e conveniência para se obter o poder do que
sob o da moral e justiça.

Por outro lado, outros autores já advogavam a primazia da moral


perante a razão de estado. Estes são defensores do humanismo
cristão, enveredando pela ética política e o pacifismo, criticando
as correntes belicistas.

No quadro deste período um tanto agitado, surge a escola


espanhola do direito internacional que inaugura de uma forma
completamente nova, o pensar direito internacional, baseando-se
em métodos puramente filosóficos.

Tal método, é adaptado as novas condições político-sociais


mundiais e vai permitir um estudo rigoroso e sistemático do
direito internacional, no qual o princípio da moral e do direito
natural são aplicados a nova realidade do século XVI.

A sociedade internacional apareceu como resultado natural da


sociabilidade humana e, nesta medida, tem como fundamento o
direito natural. Isto resulta necessariamente que a
fundamentação do direito internacional venha a ser no direito
natural, todo ele repassado pelas ideias humanistas da época.

.Francisco Vitória

Catedrático da universidade de Salamanca que defende que a


sociedade é fruto de um direito natural. É um direito comum a
toda a humanidade, a qual não pode ser concebida sem uma
organização política e social.
Para este autor, o direito natural era um conjunto de princípios
fundamentais da conduta humana que se desenvolvia e
positivava através do costume e do pacto ou convenção. Isto
significa que o direito natural positivo não regia apenas as
relações entre as partes, mas se assume como o conjunto de
normas com força obrigatória universal.

E com todo este raciocínio, Vitória chegou a ideia de direito


internacional comum, obrigatoriamente válido para todos os
povos.

Por outro lado, este autor muito desenvolveu questões relativas


aos problemas gerados pela colonização, procurando soluções.

Nesse âmbito, vai defender a legitimidade do processo colonial,


no entanto, condicionando-a ao bem e a prosperidade dos
Indígenas, pois defendia que a colonização não poderia ser
apenas para o benefício dos colonos Espanhóis.

Vitória vai se preocupar também com as questões relativas a


arbitragem(não concordava com esta pois considerava que era
prejudicial a soberania dos estados), a limitação ou não da
soberania dos estados, defendendo a este propósito que não
existia nenhum limite a autonomia dos estados e que ainda não
poderia haver arbitragem, pelo facto de não existir nenhuma
autoridade superior acima das comunidades políticas perfeitas,
os estados.

Para este autor, como o direito internacional positivo nascia do


costume e dos acordos internacionais, que não são mais do que
instâncias do direito natural, este direito consiste num ius inter
gentes e não num ius gentium.

No entanto, outro grande aspeto caracterizador deste pensador é


não somente as teorizações que realizou sobre a guerra, como
também o esforço teórico que faz para a humanizar.

Vitória aceitava a guerra como uma realidade que se impunha a


comunidade internacional, considerando os atos da guerra quase
sempre maus e contrários a racionalidade. Com efeito, em sua
teoria sobre a guerra, teoria sobre a guerra justa, defende que
esta deveria estar submetida aos princípios do direito de modo a
demonstrar a sua licitude. Lança os fundamentos racionais para a
criação de um direito da guerra.
Tal teoria começa por aceitar que a guerra, era um mau
necessário para reprimir a injustiça entre os povos e para
assegurar a paz. Vai partir, procurando responder a algumas
questões:

.É lícito ao cristão fazer a guerra?

. Quem tem(ou em quem reside)a autoridade para fazer a


guerra?

.Qual a causa ou razão da guerra justa?

. O que é permitido fazer no decurso de uma guerra?

A primeira questão, Vitória responde positivamente, por entender


que Cristo não proibira a guerra, desde que fosse justa. Por esta,
este autor, acompanhando já o raciocínio de Santo Agostinho e
de São Tomás de Aquino, entende ser aquela que se faz por uma
causa justa, em defesa da justiça, para repor esta.
Deste modo, apenas é justa a guerra quando feita respeitando os
princípios de direito e para reprimir a injustiça entre os povos e
para repor a paz.

Relativamente a segunda questão, Vitória entende que apenas a


república ou o príncipe legítimo podem declarar a guerra, o que
em última análise, confere ao estado a titularidade do direito de
declarar. Contudo, se neste ou no príncipe reside esta autoridade
para decidir a feitura da guerra, Vitória defendia que não era uma
prerrogativa do estado, mas sim um meio ao serviço da
comunidade internacional, pelo que os estados deveriam sempre
renunciar a guerra se ela causasse um dano maior do que aquele
pretendido evitar

Quanto a próxima questão, Vitória ainda teorizou sobre a guerra


defensiva e ofensiva, advogando que toda a guerra justa deverá
ser defensiva precisamente porque entende que não é nenhum
mau ou pecado se defender do agressor(trata-se de um legítima
defesa que, por sua vez, não viola o mandamento bíblico, não
matarás).

Acaba por aceitar também, de certo modo, uma guerra ofensiva,


desde que esta seja feita para assegurar a paz a toda a
comunidade internacional e respeitando as condições jurídicas
clássicas da guerra justa(causa suficiente, injustiça grave e não
reparada, autoridade legítima para declarar a guerra, e reta
intenção, que impede o estado de utilizar a guerra para fins
distintos daqueles que a justificam).

Sobre as finalidades, Vitória alerta os príncipes para não fazerem


guerras visando favorecer-se a si próprios, de modo a aumentar
seu prestígio, domínio ou riquezas.

De qualquer forma, com estas teorias, este autor construiu um


verdadeiro direito da guerra que se integra no direito internacional
como parte integrante.

No que diz respeito a última questão, vitória defendeu o respeito


pelos inocentes e pelos não combatentes, propõe que a
reparação dos danos sofridos seja proporcional a injúria sofrida,
defende que não se devem praticar atrocidades e atos
desumanos, entende que não se devem matar todos os
combatentes nem os prisioneiros etc.

Vitória se esforçou muito para humanizar e moralizar a guerra,


submetendo-a a princípios jurídicos e éticos e defendendo que
toda a guerra justa é uma guerra defensiva. Por essa razão e
muitas outras, este catedrático é considerado o fundador do
direito internacional moderno.

.Francisco Suarez

Na continuação das teorias de Vitória, Suares vai realizar a


distinção entre os fundamentos jusnaturalistas e juspositivistas do
direito internacional.

Defende que as normas do direito natural são absolutas e


invariáveis. O direito internacional positivo, por sua vez, surge de
convenções ou de costumes. Suarez admite a sua grande
variabilidade e evolução, geradas pelas alterações nos costumes
ou convenções.

Suarez teoriza muito sobre a solidariedade da humanidade e


consequentemente, das comunidades humanas politicamente
organizadas, demonstrando um sentido de universalidade até
então não conseguido. O género humano embora dividido em
povos e estados diversos, conserva uma certa unidade não
apenas específica, mas quase política e moral.
Para Suarez não era possível o isolamento dos estados, pois
nenhum era autossuficiente a ponto de não necessitar de alguma
ajuda e entrar por isso, em relações com os outros.

Para Suares, tais relações precisam ser regidas por um direito, o


direito internacional positivo, que as ordena retamente permitindo
aos estados viverem em paz e justiça e se auxiliarem
mutualmente.

Para além disto, Suarez também elabora uma teoria da guerra.


Tal como acontecera com Vitória, para este autor, a guerra justa,
seria aquela que visasse punir a violação de direitos.

Afirmava que só poderia se chamar guerra a um conflito externo


entre dois príncipes ou estados. Defende que a guerra é um mau
que não está proibido pelas sagradas escrituras, e que estas até
chegam a permitir guerras defensivas.

Considera que embora a guerra devesse ser declarada pela


autoridade que tem legitimidade para o fazer, é possível presumir
o consentimento dessas entidades em casos extremos. A guerra
realizada por autoridades ilegítimas são sempre contrárias ao
direito natural, mesmo havendo justa causa.

Defende ainda que antes de declarada a guerra, a autoridade


deve observar a justiça da guerra, e em caso de dúvidas, solicitar
o parecer de um homem bom e submeter-se a este parecer(Abre
com isso um certo espaço para a arbitragem, considerando-a
desejável mas não obrigatória).

Estuda também as condutas da guerra, defendendo regras para


declaração e a necessidade de codificar o direito a guerra.
Apresenta, aparentemente menos preocupações humanitárias do
que Vitória, ao considerar que os vencedores poderiam aplicar
castigos a inocentes sempre que estes se revelassem
necessários a plena reparação do mal.

Hugo Grócio

Contemporâneo de Suarez, esta dotado de um outro espírito, que


o leva a procurar tirar as consequências do humanismo cristão.
Foi muito influenciado em seus pensamentos pela escola
espanhola, mas diferenciando-se desta, vai centrar-se na
natureza humana.

Grócio vivenciou uma época em que os estados europeus eram


já realidade, assumindo de forma absoluta a sua soberania.
Viveu os conflitos provocados pela expansão comercial e colonial
bem como pelas lutas religiosas. De tudo isto, vai retirar como
experiência prática as ideias de tolerância religiosa e de
jurisdicionalização das guerras.

Foi considerado, de certo modo, o fundador do direito


internacional(apesar de não ser muito justo esta consideração já
que Grócio já vinha sofrendo a influência das doutrinas de muitos
teólogos juristas Espanhóis). Contudo, foi com este Holandês que
que a doutrina jusinternacionalista sofreu um forte impulso
racionalista, o qual abriu novos caminhos ao direito internacional
cuja fundamentação se encontrava agora na natureza humana.

Para Grócio, a racionalidade de qualquer direito, o trona


acessível a mente humana sem necessidade de qualquer
revelação, pleo que a sua validade e obrigatoriedade assentam
na própria racionalidade. Deste modo, por serem racionais, tais
normas são obrigatórias.

O direito surge assim como uma esfera autónoma da moral e da


fé.

Contudo, se Grócio defende a existência de um sistema


normativamente auto-suficiente, capaz de impor-se a si próprio,
este implica a existência de um direito natural fonte de todo o
direito positivo.

O direito natural é resultado da racionalidade. Decorre da própria


natureza humana, por pensarmos. Por outro lado, o direito
positivo surge da vontade.

Disto resulta que para Grócio, a natureza e a vontade concorrem


para a formação do direito.

Partindo da distinção entre o direito natural resultante da razão e


um direito positivo fundado na vontade dos homens, Grócio vai
partir para uma distinção entre o direito natural das gentes
originariamente fundado na razão que leva as comunidades
organizadas em estado a colaborarem e a respeitarem os pactos,
e o direito positivo das gentes, que nasce da vontade, do acordo
entre os estados.

Agora o direito das gentes se fundava não naquela política


generalizada da comunidade internacional oriunda da Escola
Espanhola, mas da vontade dos estados. Era um ius gentium
voluntarium. Grócio laicizou e autonomizou todo o direito e em
consequência, o direito das gentes.

Mas este autor não se limitou a estas teorias. Defendeu em uma


de suas obras, onde citava um conflito entre Portugal e Holanda
gerado pela captura em Malaca de um barco Português por
barcos da companhia das Índias Orientais, muitos aspetos sobre
a liberdade dos mares, por forma a demonstrar que os
Holandeses tinham o direito de navegar e estabelecer relações
comerciais com os povos das Índias.

No capítulo XII desta obra defende e teoriza a liberdade dos


mares e o direito a comercializar que em sua opinião, eram
derivados da natureza e tem fundamento no direito das
gentes(comércio estava aberto a todos os povos).

Estas teorias fizeram muito sucesso até 1864. Este princípio era
do interesse económico de vários estados. Claramente existiram
reações, como foi o caso de alguns Portugueses como Frei
Serafim de Freitas que defendia o Mare clausum.

Relativamente a guerra, Grócio entende que esta consiste no


estado dos que combatem pela força. Defende, que a guerra não
é algo contrário ao direito desde que fique a este submetida,
seguindo assim os princípios da guerra justa da escola
Espanhola.

Com este pensamento, Grócio defende que a guerra é uma


condição de paz ou, por outras palavras, o direito a guerra é um
direito a paz.

Admite a arbitragem como meio de evitar a guerra e trata pela


primeira vez da questão de neutralidade.

Toda a obra de Grócio teve um grande impacto e dela resultará a


emergência de novas escolas nascidas do dualismo por ele
defendido, entre o direito natural das gentes e o direito positivo
das gentes. Nomeadamente, o Jusnaturalismo e o Juspositivismo

Jusnaturalismo

Surge após Grócio e tem como principais representantes


Hobbes, Pufendorf, etc. Trata-se de uma novo Jusnaturalismo
cujo pensamento social e jurídico é laicizado. O homem é um ser
cartesiano, ou seja, racional. Buscava a verdade através da
razão.

Era um ser que intelectualmente não se despendia da sua


racionalidade.

A isto dois direitos eram decorrentes: O de usar livremente a


racionalidade(teórico) e o de desenvolver(a nível prático)
racionalmente a sua personalidade.
Das teorias de Hobbes, fundamentalmente racionalistas, vai
resultar de que o direito natural se liga ao instinto de conservação
dos seres humanos, dado que este nada mais é do que a
liberdade que cada um tem de usar o seu poder para preservar
sua vida como bem entender.

As leis naturais surgem como uma regra da razão que impede


que cada um pratique atos que possam prejudicar a sua vida ou
que impeçam de utilizar os meios necessários para a
preservação da vida.

Somente o temor leva os homens a pactuarem na constituição do


estado e a respeitarem as normas decorrentes desse pacto.

Os estados não tem acima deles nenhuma outra autoridade que


limite os seus poderes. Tem soberania absoluta.

O direito das gentes é para Hobbes, um direito natural. Nunca


positivo. É um direito que regula as relações entre os estados.
Direito das gentes não é mais o que as puras máximas da razão.
Por isso se recusa a aceitar a existência de um direito positivo
das gentes.

Positivismo Jurídico

As teorias de Grócio levaram também ao surgimento das escolas


positivistas, nas quais o direito vai ser analisado da perspetiva da
vontade. Para os representantes desta escola, o direito natural e
o positivo são dois direitos distintos.

O direito natural é para alguns uma moral, uma parte ética. Já a


lei positiva é para os positivistas o direito.

Cornelius van Bynkershoek, vai defender no campo do direito


marítimo que a soberania do estado não se pode impor onde não
é efetiva. Daí que quanto ao mar territorial, a soberania não
pudesse ir além do alcance de um tiro de canhão.
Moser, por sua vez, vai projetar uma teoria da experiência pura
de direito internacional, segundo a qual este direito não teria de
perguntar como devem se comportar os estados entre si, mas
sim dizer lhes quais são as normas que necessitam observar nas
suas relações(pelo que se faz necessário estudar os materiais
diplomáticos e deles extrair as normas positivas, pois somente
assim se conhece o verdadeiro direito internacional).

Correntes Modernas

.Século XIX a 1914-1918

O mundo progride muito. Há muitos avanços tecnológicos e


científicos em muitas áreas de estudo.

No decurso desse período o direito internacional foi estudado sob


inúmeras perspetivas, pelo que não é possível desenvolver toda
a evolução doutrinária ocorrida.
Ainda assim, faz-se mister que no século XIX e nos princípios do
nosso século surgirá uma vastíssima produção jurídico-
internacionalista, sob as mais diversas formas(tratados, manuais,
conferências etc) cuja importância é grandiosa.

Nesta época, o positivismo predominava e por isso era atribuído


um papel dominante do estado na vida internacional. Por outro
lado, da predominância do positivismo vai resultar também que o
direito internacional se libertou por completo de todos os outros
elementos que até então vinculavam-se a si, e de uma
elaboração mais teórica e rigorosa do nosso direito.

Relativamente as obras de natureza filosófica de maior impacto


no direito internacional

Projeto da paz perpétua de Kant, defendido em uma de suas


obras, nas qual este pensador alemão sob uma perspetiva
filosófica defendia que o fim último da história do direito seria
uma confederação mundial.

Em frança, Saint-Simon e de Maistre não deixaram de se


preocupar com problemas jurídico-internacionais. Este primeiro
autor, partindo de um modelo histórico universal(idade média
cristã) mas substituindo a fé na religião pela fé na ciência, vai
defender uma organização federada de estados, que deveria se
iniciar com Alemanha e França.

Por outro lado, De Maistre defendia a restauração do poder do


papado. Enquanto que Comte, mais próximo de Saint-Simon,
defendia que a paz apenas seria possível através dos
ensinamentos da ciência.

Na segunda metade do século XIX, muitos autores vão


desenvolver teorias no sentido adaptar o direito internacional as
realidades históricas vividas na época. Nesse sentido

Johann Gaspar Bluntschli vai defender a formação de uma


comunidade europeia com estrutura flexível.

Franz, adepto do federalismo internacional, e defendia tal


federalismo sob a hegemonia Alemã.

O pensamento jurídico sofre um grande impulso e vai produzir


muitos trabalhos sobre direito internacional. A sua grande maioria
vai surgir na Alemanha, o que não significava que nos outros
países surgisse menos ou menor qualidade.

Relativamente a França, importa salientar a obra filosófico-


doutrinal de Leroy-Beaulieu, na qual este autor defende a ideia
de um estado federal, os estados unidos da europa, excluindo
dessa federação a Grã-Bretanha pelos seus interesses extra-
europeus.

Também no século XIX, o pacifismo com base ideológica no


liberalismo, vai influenciar várias obras. Nem todos os
pensadores eram positivistas. Alguns deles seguiam outras
orientações, de natureza sociológica e jusnaturalista e que vão
exercer um importante papel após a 1 grande guerra quando o
positivismo é posto em causa.

. Século XX: 1918 a atualidade

Deste período até a atualidade, a doutrina do direito internacional


não será uniforme. Vai seguir por diversas direções, umas de
natureza sociológica e outras de natureza mais jusnaturalista.
Outros até mesmo de natureza positivista.

Nos países socialistas, maxime a URSS, o direito internacional


vai se desenvolver com base na teoria marxista do direito e do
estado, segundo a qual o direito era a expressão da vontade da
classe dominante e não mais do que uma superestrutura social
que tem como base o económico.

Olhando para a realidade internacional, os teóricos marxistas


verificam a existência de dois sistemas socio-políticos e a
necessidade de haver coexistência dos países de um e de outro.

Mais cedo ou mais tarde a teoria da coexistência pacífica viria a


chegar. Contudo, antes mesmo disto, alguns autores defendiam
que o direito internacional não era senão um direito de transição,
dado que se percebia que cedo ou tarde, o avanço da revolução
socialista conduziria ao desaparecimento do estado.

Nos finais dos anos 30, Andrey Vyshinsky lançou as ideias de


cooperação e de luta, caracterizando a realidade internacional e
definindo o direito internacional como um conjunto de normas
reguladoras das relações entre os estados no processo de luta e
cooperação entre estes, cuja imposição coerciva cabe ao estado.

Por seu lado, Grigorij I. Tunkin até o XXII congresso do partido


comunista e as ideias de Andrey, defendeu que o direito
internacional era um direito externo aos estados, pois tal direito
não era uma ordem normativa unitária mas sim normas
coincidentes de distintos sistemas estaduais. Com isto procurava
conciliar a realidade soviética com a internacional.

Contudo abandonou esta tese para se colocar perto das ideias de


cooperação e luta. Assim, passou a definir o direito internacional
como o conjunto de normas que são criadas por via de
convenções entre os estados e que expressam a sua vontade
concertada, regulam as suas relações no processo de luta e
cooperação, encaminhando-o a salvaguarda da coexistência
pacífica dos estados dos dois sistemas.

O direito internacional surge para os autores soviéticos como um


direito estatal externo e, consequentemente, como um direito
interestatal, fundado na vontade dos estados, que podem
autolimitar-se através de tratados e de costumes reconhecidos.
Para estes autores existe interesses comuns que o direito
internacional deverá proteger, e a coexistência pacífica é um
deles.

Na teoria do direito soviético surge ainda teses que reconhecem


a luta das nações que procuravam a sua independência,
apoiadas pelo princípio da autodeterminação dos povos, o que
leva a doutrina soviética a reconhece-los sujeitos de DI.

Características do Direito Internacional

Direito internacional é um verdadeiro direito?

Normas de direito internacional tem natureza de normas


jurídicas?

Não obrigatoriedade das suas normas? Estados as


desrespeitam? Sem entidades supraestatais para impor lhes?
-Negação doutrinal do caráter jurídico das Normas de direito
Internacional

Várias doutrinas vem negado. Quais? Se agrupam em 3 grandes


correntes:

- Uma defende que o direito internacional é uma moral


internacional

-Uma que defende que o direito internacional é uma política de


força

-Uma que entende o direito internacional como um direito


imperfeito

a) Como moral Positiva internacional


Nesta corrente de cariz jusnaturalista, a doutrina admite a
existência do direito internacional, mas entende que esta tem
natureza de uma moral internacional.

Thomas Hobbes foi o grande defensor desta doutrina. Estados


vivem no estado de natureza e acima deles não existe nenhuma
autoridade superior que lhes possa impor estas normas. Aliás, no
estado de natureza, não existe qualquer ordenamento jurídico
positivo. Portanto, os estados apenas se encontram vinculados a
normas de caráter moral que derivam da razão.

Foi também com John Austin, Inglês, que esta doutrina vai ser
desenvolvida. Para esse autor, o direito não poderia deixar e ser
um mandato superior cujos destinatários são os
súbditos(Superiority). Mas este mesmo autor considera que não
pode haver direito sem que haja um legislador e um poder capaz
de impor coercivamente a norma.

Daí que, pelo facto da sociedade internacional não possuir


nenhym superior, ou um legislador, o direito internacional não
pode ter caráter jurídico. Contudo, apesar considerá-las não
jurídicas, admite que as normas de direito internacional tem o
apoio da opinião pública. São usos sociais que a sociedade
respeita e aceita. São uma moral positiva.

Em Alemanha, esta mesma doutrina teve o seu fundamento com


Hegel. Este filósofo defendia que um verdadeiro direito deveria
ter a sua base no poder estatal.

Baseando-se em Hobbes, vai afirmar que o direito internacional é


produto das vontades soberanas diversificadas, que não são uma
vontade geral constituída em poder superestatal. São vontades
particulares. Daí conclui que as normas de direito internacional
não tenham natureza jurídica

Nestas doutrinas, as normas internacionais nada mais são do


que uma moral internacional

b) Direito Internacional como Política de Forças

Ainda no quadro do Jusnaturalismo, encontram-se pensadores


cuja radicalidade é tanta que os leva a defender que o direito
internacional, é a expressão ideal da política de forças no plano
internacional, inexistindo assim qualquer normatividade
internacional.

Dentre estes pensadores destacam-se Spinoza, para quem os


estados viviam no estado natureza, onde o princípio moral
supremo é o da autoconservação. Por isso, o direito de cada um
chega até onde o seu poder era capaz de se impor.

Neste ponto, as convenções não serão nada mais do que reflexo


das relações de força internacional, sendo assim possível que
elas sejam alteradas sempre que se alterem aquelas relações.

Lasson, por sua vez, partindo do mesmo pressuposto da


convivência dos estados no estado natureza, entende que entre
os estados não pode existir uma relação de comunidade, pelo
que é a força que decide. Assim, os tratados são instrumentos de
adequação das relações de força entre os estados e apenas são
justos se adequados aquela relação.

É esta teoria defendida pelo Sueco Lundstedt, para quem a cena


internacional se caracteriza pelo nihilismo jurídico e por um
relacionamento inter-estatal fundado na força e dependente das
relações de cada momento

Para todos estes autores, o núcleo central da vida internacional é


o poder e o consequente monopólio de força exercido por cada
um dos estados presentes na cena internacional.

c) Direito Internacional como normatividade Sui Generis

Esta corrente observa no direito internacional quer uma


normatividade Sui Generis quer um direito imperfeito.

Esta imperfeição do direito internacional não significa uma


negação propriamente dita de seu caráter jurídico.

É nesta perspetiva que Savigny partindo do princípio de que todo


o direito é produto de uma consciência comunitária e de que a
comunidade internacional é algo que ainda está em gestação,
conclui que o direito internacional terá de ser imperfeito e as suas
normas inseguras.
Por seu turno, Zitelmann defende a imperfeição deste direito que
para ele está ainda em gestação, apontando como fundamento
os 5 defeitos capitais deste direito:

- O seu pequeno conteúdo(reduzido número de matérias que lhe


servem de objeto)

-Insegurança em muitos de seus preceitos

-Admissibilidade do direito a represália

-Admissão do direito a guerra como meio de proteção e defesa


dos interesses dos estados.

-Grande número de clausulas que restringem a aplicação de suas


normas

Com Burckhardt passa-se a mesma coisa. Este autor


compreende que o direito internacional não pode ser perfeito,
primeiro por carecer de positividade(segundo este autor só tem
positividade o direito estabelecido por uma autoridade
internacional) e em segundo por lhe faltar aplicação coercível,
dado que esta pressupõe a existência e ação de uma autoridade
superior que não existe na cena internacional.

Inexistência de convicções comuns e de usos efetivamente


vigentes a nível mundial leva a autores como Ortega y Gasset a
defender o caráter imperfeito da normatividade internacional.
Também em Portugal com Cabral de Moncada que entendeu que
sem o apoio de uma autêntica consciência comunitária o direito
internacional não poderia deixar de ser incompleto.

É com base nas ideias de que não existe uma verdadeira


comunidade internacional e de que não há ainda uma
consciência jurídica comunitária geradora de convicções
comummente aceites mundialmente é que se constitui a doutrina
relativa a imperfeição do direito.

Não nega a juridicidade das normas, mas também não lhes


reconhece juridicidade plena. Tal apenas poderá ser atingida
quando se concluir a gestação da comunidade internacional. Daí
direito sui generis.
-Caráter incompleto do Direito Internacional

As normas do direito internacional necessitam da colaboração e


cooperação ativa dos estados para se tornarem válidas e
eficazes para seus destinatários. Somente assim podem se
impor.

Se os estados produzem direito internacional, então são eles que


terão de encarregar os seus órgãos de executar as normas
daquele direito, o que significa que este apenas se torna válido e
eficaz através dos órgãos internos dos estados.

Sem isto, o direito internacional poderá existir, mas vai lhe faltar a
validade e eficácia para ficar completo, ou seja, para preencher
os requisitos mínimos da sua juridicidade

-Inexistência de Órgãos Centrais de aplicação do direito


Internacional
No ordenamento jurídico dos estados existem órgãos
encarregados de produzir e aplicar as normas jurídicas.

Contudo, na sociedade internacional, não existem estas


entidades que produzam e apliquem com efetivas sanções de
incumprimento as normas jurídicas internacionais.

Disto resulta precisamente para o facto das normas jurídicas


serem constantemente violadas e de ainda serem um tanto
incertas e inseguras. Este é um dos principais defeitos do
direito internacional e uma marca forte da sua imperfeição que
leva a que muitos autores venham negar a juridicidade das suas
normas.

Claramente, a sociedade internacional procurando evitar as


possíveis problemáticas oriundas destas questões, vai fazer
esforços no sentido de se dotar de órgãos centrais(já que
inexistência destes se fez sempre em último caso, apelar para o
recurso extremo dos estados(auto tutela) com grandes riscos a
paz e segurança internacionais.

Muitas organizações como a SDN e a ONU foram criadas. Eram


equipadas para exercerem funções administrativas e
jurisdicionais. Com a ONU em especial caso, foi estabelecido
pela primeira vez um órgão com poderes coercitivo, limitado e
supranacional, o conselho de segurança(No entanto, a poliarquia
da sociedade nunca permitiu o exercício pleno das suas funções)

Fundamento da obrigatoriedade Do direito


Internacional

-Fundamentação Positivista

Para a doutrina positivista, a fundamentação do direito


internacional ou é de natureza voluntarista ou é normativista.

Estes ao negarem o direito natural como instância legitimadora


do direito positivo vão procurar como fundamento das normas de
direito internacional ou a vontade particular ou a vontade comum
dos estados ou ainda na existência de uma norma fundamental.

Três doutrinas:
- Uma que fundamenta o direito internacional na vontade
particular dos estados

-Outra que fundamenta o direito internacional na vontade comum


dos estados

-Uma última de natureza normativista

a) Doutrina Voluntarista

Para esta, a soberania dos estados não se compadece com


vinculações exteriores, impostas de cima. Isto significa que a
vontade dos estados não pode nunca ser conformada e
enformada por nenhuma vontade superior, já que não existe
nenhuma vontade superior a daquele.

Daí que o direito internacional não é mais do que uma projeção


exterior do direito interno dos estados. O direito internacional é a
projeção externa do direito estatal.
Somente assim na visão dos defensores desta doutrina, pode
haver unidade do sistema jurídico.

Desta doutrina resulta que o direito internacional é um direito


infralegal, já que não existindo uma instância central produtora
das normas internacionais, estas apenas valem na ordem interna
quando esta autoriza os seus órgãos a concluírem tratados.

-Teoria da vontade Particular dos Estados: Autolimitação

Dentro da corrente positivista, certos autores vão defender uma


nova teoria, a da Auto-obrigação ou autolimitação do estado,
para com base nelas justificarem a obrigatoriedade do direito
internacional.

Segundo estes autores, com destaque para Jellinek, o estado


soberano não poderia ter a sua soberania limitada por força da
vontade de outros estados. Contudo, o mesmo estado soberano
pode limitar sua própria soberania e, consequentemente, sua
própria vontade, nas relações com os outros estados.
O estado deveria respeitar a sua própria vontade, o que lhe
impõe o dever de respeitar a ordem jurídica por ele estabelecida
ou outra em cuja produção participou.

O estado pode por vontade própria, mas nunca por alheia,


submeter-se a ordem jurídica internacional. Apenas por auto
obrigação ou auto limitação se vincula ao direito internacional.

A obrigatoriedade do direito internacional só é possível se os


estados entenderem limitar sua vontade, auto obrigando-se a se
submeter as normas jurídicas internacionais.

Direito internacional surge mais uma vez como um direito estatal


externo.

- Teoria da vontade comum dos Estados


Seu principal defensor foi Von Trieppel. Em sua opinião, os
acordos de vontade se dividiam em dois grandes grupos:

O contrato: quando as partes tem interesses contrapostos, mas


correlativos o que implica diferentes direitos e obrigações.

Acordo coletivo: Um número não determinado de partes com


interesses convergentes ou comuns decidem ou acordam
prosseguir conjuntamente aqueles interesses. Ao invés de
contraposição há cooperação.

Dessas duas modalidades, é o acordo coletivo que vai gerar a


nível internacional a vontade comum. Esta, é uma vontade
superior as várias vontades singulares que a compõe.

Pode aparecer fora de qualquer ordenamento jurídico pré-


existente e que tem a capacidade de criar ordenamento jurídico
novo.
A teoria de trieppel trata-se antes de uma sutil adaptação da
vontade geral de Rousseau a comunidade internacional.

-Perigo da fundamentação voluntarista

Todas estas teorias não são capazes de explicar com eficácia a


obrigatoriedade do direito internacional, e podem constituir um
perigoso incentivo a desobediência pelos estados das normas de
direito internacional.

Nota. Se é através da autolimitação individual ou coletiva da


soberania ou da vontade dos estados que estes se vinculam ao
direito internacional, eles podem a qualquer momento de forma
soberana, decidir por alterar a sua vontade de modo a
desvincular-se das normas que se vinculara outrora.

b) Fundamentação Normativista
Nesta doutrina de principal defensor, Hans Kelsen, chefe da
escola de Viena, vai ser tomado outro rumo diferente.

Segundo Kelsen, a validade de uma norma não era dependente


da vontade, mas sim, de uma outra norma hierarquicamente
superior. Para este autor, o ordenamento jurídico é concebido
como uma pirâmide, onde no topo se encontra a chamada norma
fundamental, superior a todas: A Grundnorm

É esta grundnorm que vai condicionar toda a realidade do


ordenamento jurídico, constituído por uma imensidade de normas
cuja validade é conferida por esta.

A grandnorm não é positivada, uma vez que não é posta, mas


sim, pré-suposta. Tem caráter hipotético.

Relativamente a ordem jurídica internacional, Kelsen considera


ocorrer o mesmo. As normas internacionais apenas podem ser
na opinião deste autor normas jurídicas quando fizerem parte da
ordem jurídica.
E a norma fundamental fazia parte do direito interno?

Se não soubesse se a grundnorm está enquadrada no direito


interno, seria o primado do direito interno.

Se a grundnorm se situava no domínio do direito internacional


então era o primado do direito internacional

Havendo o primado do direito internacional como parece ser


admitido por Kelsen, a grundnorm seria a pacta sunt servanda,
princípio fundamental do direito internacional comum que
também fundamenta o convencional.

A grande fraqueza desta tese reside no facto da grundnorm


possuir um caráter hipotético, o que não podia nem pode
constituir fundamento de obrigatoriedade e de validade a nenhum
direito.

-Jusnaturalismo Morderno e fundamentação do direito


internacional
Com a crise do positivismo, o Jusnaturalismo vai renascer, e se
vai orientar em duas direções distintas. Uma de inspiração
católica, aristotélica tomista, e outra de inspiração iluminista.

Todos os jusnaturalistas acabaram por fundamentar o direito


internacional em normas e princípios que resultam da natureza
racional e social do homem, increntes a sociedade política e que
se sobrepõe vontade humana.

Deste modo, Para Le Fur, o critério material que preside a noção


de direito é a racionalidade. A razão aplicada as questões
sociais. O direito surge como algo de racional destinado a fazer o
bem comum.

Sobre o direito natural, este autor entende que dele resultam


duas regras essenciais: A de respeitar compromissos livremente
assumidos e a de reparar todos os prejuízos injustamente
causados. Regras fundamentais que servem para integrar as
normas de direito natural e positivo.
Por seu lado, Verdross, veio defender a existência de uma regra
que, por ser fundamental, se sobrepõe a vontade dos estados. É
o pacta sunt servanda.

Para este autor o direito natural é o conjunto de princípios que


resultam necessariamente da ideia ou da natureza dos grupos
humanos. Daí que a fonte do direito natural seja para si, a ideia
ou natureza de grupo.

Cada grupo tem o seu direito natural cujos princípios se refletem


na consciência de seus membros.

Capítulo III

As Relações do Direito Internacional com o


direito dos estados
Para explicar as relações que o direito internacional estabelece
com o direito dos estados, tem se obtido duas grandes doutrinas:
Monista e a Dualista

A) Doutrina Dualista

Esta doutrina, defendida essencialmente pelo Alemão Von


Triepel e pelo Italiano Anzilotte, defende que o direito
internacional e o direito interno dos estados correspondem a dois
sistemas jurídicos autónomos, iguais e separados, e que por isso
nunca se confundem.

O direito interno dos estados e o direito internacional tem a sua


própria validade, independentemente da conformidade com o
outro.

 Mas, quais são os fundamentos?


-Os dois possuem fontes diferentes. O primeiro tem como fonte a
vontade do estado. O segundo, tem como fonte a vontade
comum dos diversos estados.

-Os seus destinatários são diferentes. O direito internacional tem


como destinatário os estados e as organizações internacionais. O
direito interno tem como destinatário os indivíduos nas suas
relações privadas ou com o estado.

 Consequências práticas desta teoria?

Na opinião dos defensores desta doutrina resultaria:

Os estados ao produzirem suas normas internas não precisariam


de se preocupar com a conformidade destas com o direito
internacional, dado que conformes ou não, a nível interno estas
sempre serão válidas.

Validade do direito internacional na ordem jurídica interna dos


estados. Sendo o direito internacional um sistema autónomo e
independente do direito interno, as suas normas apenas serão
válidas e eficazes na ordem jurídica interna quando forem
previamente transformadas em normas desse direito. Deverá
haver uma receção de tal direito pelo direito interno. Com esta
receção, podem haver alterações as quais claramente podem
fazer incorrer o estado na responsabilidade internacional.

Até mesmo nos tribunais. Aplicação das normas de direito


internacional, após a receção pelo direito interno, será sempre
uma aplicação de direito interno, visto que somente este os
tribunais aplicam.

 Críticas a doutrina Dualista

Muitas críticas dentre as quais:

- diversidade de fontes. Autores defendem que não é nada mais


que confusão entre as origens e os modos de manifestação da
norma. Na opinião de Charles Rousseau, internamente e
externamente, o direito não é criado por estados, mas sim é
produto da vida social. O que os distingue são as formas de
manifestação

-Num ponto de vista lógico, não se concebe que duas normas


contraditórias reguladoras da mesma matéria e que regem os
mesmos sujeitos, possam ser ambas válidas sem colidir com o
princípio da identidade.

-Também Kelsen criticou afirmando que a doutrina dualista não


apenas nega a natureza jurídica do direito internacional como
também conduz a um solipsismo estatal de onde resulta que a
única ordem jurídica existente é a nacional.

B) Doutrina Monista

Esta doutrina parte do pressuposto de que todas as normas


jurídicas(internas e externas) estão subordinadas umas as
outras, ou seja, que existe uma hierarquia entre estas normas
que implica a sua supra-infra ordenação no quadro de um
sistema jurídico unitário.
Disto resulta que ordem jurídica, nacional e internacional, é
unitária(daí teoria monista) e no seu quadro há hierarquia de
normas e consequentemente subordinação.

Quanto a hierarquia, esta vai depender muito do ponto de partida


escolhido: Se é o direito interno ou internacional. A este
propósito, Kelsen inclusive vem defender que pode ser atribuída
a primazia e o consequente valor mais elevado no escalão
hierárquico a qualquer um destes.

MONISMO: Vem aqui defender a unidade do sistema jurídico,


fundamento o argumento ao dizer que o direito interno e o
internacional constituem um único sistema.

Esta doutrina pode vir ser apresentada sob duas perspetivas,


variando conforme a primazia atribuída: Monismo com primado
do direito interno e Monismo com primado do direito internacional
a) Monismo com Primado do direito Interno

Segundo esta tese muito defendida na Alemanha e URSS, o


direito internacional deriva do direito interno, sendo este último
uma ordem jurídica hierarquicamente superior aquele direito.

Direito interno é hierarquicamente superior ao direito


internacional no quadro de um sistema jurídico unitário

-E como é fundamentada esta tese?

Dois argumentos principais:

. A inexistência de uma autoridade supraestatal, permite que os


estados apreciem livremente quais as suas obrigações
internacionais

. O fundamento constitucional das obrigações internacionais, uma


vez que é o direito constitucional que determina quais os órgãos
competentes para celebrar tratados e obrigar o estado a nível
internacional. Direito constitucional é interno, por isso, é no direito
interno que que as obrigações internacionais se fundamentam.

-Críticas a esta tese

. Os argumentos apresentados são insuficientes para conseguir


explicar a vinculação do estado ao direito internacional pela via
do costume, dado que apenas valem para os tratados, se
esquecendo de outra importante fonte do direito internacional que
é o costume

. São ainda insuficientes pois não explicam a razão de ser da


continuação da vigência do direito internacional, mesmo quando
se verificam transformações no direito constitucional dos estados.
Se o direito internacional se fundamentasse no direito
constitucional de cada estado, a validade dos primeiros estaria
condicionada e subordinada as constituições dos estados, e toda
transformação que ocorresse deveria levar a caducidade dos
tratados defendia Charles Rousseau. Ma isso não se verifica na
prática internacional. Alterações constitucionais não alteram a
validade de tratados.

b) Monismo com Primado do Direito Internacional

Para esta tese, e segundo Hans Kelsen, a ordem jurídica interna


é uma derivação do direito internacional

É defendido que se houver contradição entre o direito interno e o


direito internacional, as normas internas que contrariarem as do
direito internacional são consideradas nulas. (Sobre isto alguns
autores ainda vem dizer que apesar de poder haver essa
contradição, não é necessário que resulte necessariamente na
nulidade. Contudo, nestes casos, o estado ao estar aplicando o
direito interno contrário as normas internacionais poderá incorrer
na responsabilidade internacional).
Prática internacional

Qual era a adotada? A monista ou a dualista? Ambas estas


soluções foram muito criticadas e nenhuma foi adotada e
considerada perfeita. No entanto, a prática internacional, tem
uma tendência em reconhecer a superioridade do direito
internacional sobre o direito interno. É a orientação defendida por
muitos autores

Sistemas de incorporação do direito internacional no direito


interno

Então como é que se processava esta receção do direito


internacional no direito interno? Através de alguns mecanismos.

Os mecanismos responsáveis por fazer isto, tinham por fim


permitir que as normas de DI possam ser aplicadas diretamente
na ordem jurídica interna de cada estado. Estes são:
1) Sistema de cláusula geral de recepção plena - D.I é
recebido no direito interno por meio de uma norma deste
direito que não exige outra formalidade para o efeito que
não seja a da publicação. Ou seja, a partir da sua
publicação, o direito internacional passa a ser incorporado
no direito interno.

2) Sistema de cláusula geral de recepção quasi-plena(sistema


misto)– Algumas normas de direito internacional são
incorporadas no direito interno através de publicação.
Outras são incorporadas pelo método da transformação.

3) Sistema de transformação – Legislador ordinário reproduz


numa lei interna a norma internacional, de modo a que esta
possa passar a ser aplicada na esfera jurídica interna.

Nota: Estas problemáticas apenas se impõe aos tratados, visto


que para vigorarem a nível interno precisam ser devidamente
incorporados na esfera jurídica interna destes países.
Sistema de cláusula geral de receção plena decorre da
perspetiva monista sobre as relações entre direito interno e
internacional. Sistema de transformação decorre da perspetiva
dualista.

Receção do direito internacional na ordem jurídica Portuguesa

Como o ordenamento jurídico português se posiciona perante


estas questões?

 Artigo 8º nmrs 1 e 2

1) As normas e princípios de direito internacional geral ou


comum fazem parte integrante do direito português.

Com este preceito, estabelece-se a cláusula geral da receção


plena das normas e princípios do direito internacional
comum(consuetudinário). Estas normas e princípios são
incorporados no ordenamento jurídico português a partir do
momento em que vigoram no ordenamento internacional(gomes
Canotilho a este propósito inclusivamente propôs a ideia de que o
direito português acolhe as normas de direito internacional, na
medida da existência e validade jurídico-internacional das normas
deste último).

Por outro lado, já no que se refere ao direito internacional


convencional(tratados), o mesmo artigo 8 determina:

2) As normas constantes de convenções internacionais


regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem
jurídica interna após a sua publicação oficial e enquanto
vincularem internacionalmente o estado português.

Deste modo, para que o direito internacional convencional vigore


na ordem jurídica portuguesa é necessário que:

- Vigore na ordem internacional

-Tenha sido ratificado( processo pelo qual uma legislação ou


tratado passa a ter efeito legal vinculativo para as suas entidades
signatárias. Para tal, o tratado ou lei necessita receber uma
maioria de votos da Casa Legislativa, ou de países, no caso de
tratados internacionais) ou aprovado por Portugal

-Tenha sido publicado- publicação feita no diário da república

São, portanto, estabelecidas estas três condições:

Uma que diz respeito a aprovação e ratificação das normas


convencionais pelo estado Português. Como?

A aprovação tem de ser um ato da assembleia da república nos


termos do artigo 161 alínea i

No entanto, a aprovação pode ser feita também pelo governo,


dado que este é um órgão de soberania com competência para
aprovar as convenções internacionais em forma
simplificada(acordos internacionais)- De acordo com o disposto
no artigo 197 alínea c. E ainda relativamente a tratados, desde
que estes versem sobre matérias de competência governamental
A ratificação deveria caber ao presidente da república conforme o
disposto no artigo 135 alínea b

Estão constitucionalmente consagradas!

Seguidamente, vem a condição respeitante a publicação do


direito convencional em Portugal, realizada através do Diário da
República.

Em último caso, vem a condição deste direito convencional estar


já a vigorar na ordem jurídica internacional. É de grandiosa
importância, visto que é apenas quando estas normas
começarem a vigorar na esfera jurídica internacional(e já
preenchidos os outros dois requisitos) que Portugal fica
internacionalmente vinculado.

Mesmo após o preenchimento dos dois primeiros


requisitos(aprovação, ratificação e publicação a nível interno por
Portugal), não significa que a norma de direito internacional
vigore imediatamente na esfera jurídica Portuguesa. Será
somente após o momento em que esta começa a vigorar na
ordem jurídica internacional é que pode já vigorar na ordem
interna, passando assim a vincular o estado português.

Por outro lado, essa vinculação vai cessar a partir do momento


em que tais normas deixam de obrigar internacionalmente o
estado português

A publicação é uma formalidade essencial, que visa dar a


conhecer o ato normativo pelos seus destinatários, e tal
formalidade constitui, portanto, um requisito de eficácia destas
normas na ordem jurídica interna.

PUBLICAÇÃO NA ESERA JURÍDICA INTERNACIONAL: O seu


incumprimento conduziria a ineficácia das normas convencionais
de DI, ou seja, apesar de válidas e de vigorarem na ordem
jurídica internacional, não seriam juridicamente eficazes a nível
interno! (119 n 2 da crp)

É muito importante que este último alerte a população a data do


início da vigência das normas convencionais na ordem
internacional, o que pode e deve ser feito, através da publicação
de avisos no diário da república(as convenções apenas ganham
relevo na ordem jurídica interna após a Vacatio Legis, contada a
partir do momento da entrada em vigor da convenção no cenário
jurídico internacional)

É somente com feita esta publicação que as normas se tornam


vinculativas, não podendo ninguém se aproveitar da sua
ignorância

Para as normas de direito internacional convencional, o


sistema adotado é também o da cláusula geral de recepção
plena, mas agora, condicionado a estes requisitos
apresentados.

Receção na ordem jurídica Portuguesa das normas emitidas


pelas Organizações internacionais

Problema relativo a recepção das normas emitidas pelas


organizações internacionais. Artigo 8 nº 3 vem dispor:
3) As normas emanadas dos órgãos competentes das
organizações internacionais de que Portugal seja parte
vigoram diretamente na ordem interna, desde que tal se
encontre estabelecido nos respetivos tratados constitutivos.

Esta disposição vem cobrir constitucionalmente a imediata e


direta vinculação do estado português e dos cidadãos em si
residentes aos atos normativos das organizações internacionais
(a que Portugal pertence) expressamente previstos no tratado
constitutivo da OI e relativamente aos quais este tratado
estabeleça a imediata vigência na ordem jurídica dos estados
membros. Ela passam a vigora imediatamente sem necessidade
de produção de qualquer ato recetivo( aprovação, ratificação,
publicação)

No entanto, dois requisitos indispensáveis(que tem de estar


preenchidos no momento da produção da norma):

- O tratado constitutivo da organização estabeleça a imediata


vigência das normas por si emitidas na ordem interna dos
estados membros
- Estas mesmas normas sejam produzidas pelos órgãos
competentes da organização

Caso não estiverem preenchidos, as normas podem chegar nem


entrar em vigor na esfera jurídica interna dos estados.

Fontes de Direito

1) O Problema das Fontes no Direito Internacional

O que é uma fonte de direito? Causas de ordem social


determinantes da necessidade da norma(fontes materiais), ou de
modos de formulação, exteriorização ou afirmação da norma na
vida social(fontes formais).

Fontes formais – não são criadoras de direito mas sim,


exteriorizadoras.

Fontes materiais – São fontes criadoras de direito as quais a


doutrina considera como verdadeiras fontes.
Varia de opiniões. Para alguns autores, a única fonte é o acordo
entre vontades, quer expresso tacitamente(implicitamente), quer
expressamente. Para outros, as fontes deveriam designar se
referir apenas as formais já que as materiais era muito variáveis
de autor para autor.

2) Classificação das fontes de direito Internacional

Saber quais são as fontes de direito internacional. Precisamos


saber se elas são aceites pela ordem jurídica internacional. Há
vários textos de DI positivado que consagram diversas destas
fontes. O estatuto do TIJ por exemplo, em seu artigo 38º,
estabelece a este propósito:

“O tribunal, cuja missão é resolver de um acordo com o direito


internacional, os diferendos que lhe sejam submetidos, aplica:

a) As convenções internacionais(gerais ou especiais),


estabelecedoras de regras expressamente reconhecidas
pelos tratados em litígio.
b) O costume Internacional, como uma prática geralmente
aceite como direito.

c) Os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações


civilizadas

d) Sob reserva do disposto no seu artigo 59, as decisões


judiciais e a doutrina dos mais qualificados publicistas, como
um meio auxiliar de determinação das regras de direito.

Também a possibilidade de se recorrer a equidade, consagrada


no número 2 do mesmo artigo.

Disto retira-se que as fontes formais de direito são as


convenções/tratados, o costume, os princípios gerais de direito, a
jurisprudência e a doutrina e a equidade.
Mas esta enunciação não é taxativa e muito menos hierárquica,
atenção. Podem sempre vir a existir outras fontes, de diferente
natureza das referidas no artigo 38. Por exemplo, os atos
unilaterais. Para além disto, tal lista é meramente enunciativa,
não havendo escala hierárquica entre as normas.

De qualquer maneira, consideram-se mais importantes o costume


e os tratados e convenções. As outras todas como subsidiárias
estão como se fosse num nível inferior, o que como vimos, não é
algo necessário.

No entanto, este artigo 38 possui muitas problemáticas


pendentes. Este não só deixa o problema da hierarquia das
normas de direito internacional sem solução, como também se
encontra atualmente um tanto desatualizado(veja-se pro exemplo
na referência aos “princípios gerais de direito reconhecidos pelas
nações civilizadas”. Atualmente, após anos da descolonização e
com a mudança do pensamento, já não há mais sentido em falar-
se em nações civilizadas.)
Os atos unilaterais por exemplo, estão cada vez mais presentes
na formação do direito internacional, pelo que se torna
necessário a consagração da sua importância.

Na convenção de Viena sobre os tratados, surge na ordem


jurídica internacional a figura do ius cogens, que também terá
grande influência no direito internacional.

O costume Internacional

a) Conceito e elementos

No próprio artigo 38 do estatuto do TIJ encontra-se a definição de


costume. De uma forma geral, este é encarado como uma prática
reiterada ao longo do tempo e tomada como tendo um valor de
obrigatoriedade.

Voltado para as especificidades da prática internacional, este é


definido como uma prática uniforme e reiterada, adotada pelos
membros da comunidade internacional nas suas relações,
possuindo um valor de obrigatoriedade. De tal definição, pode-se
retirar dois elementos do costume:
- Um material –Prática geral uniforme e reiterada(o usus)

-Um psicológico – A convicção de que esta prática reiterada tem


valor de obrigatoriedade( animus)

Para que haja costume é preciso a existencia destes dois


elementos(usus e animus). Somente assim o costume pode ser
internacionalmente válido. Esta é a posição aceite.

Ainda que existam autores que considerem que seja preciso


apenas o usus. Estes consideravam que haveria uma norma
autónoma reconhecedora aos atos normativos exteriores a
dignidade de uma norma jurídica.

Elemento material(USUS)

Pode consistir tanto na prática de atos como na abstenção(atos


positivos ou negativos)
As práticas que constituem o USUS devem corresponder a uma
série uniforme de comportamentos imputáveis aos estados ou
outros sujeitos de DI.

O USUS terá de ser constituído, não somente por práticas


reiteradas, contínuas, mas também, terá de ser a expressão de
uma prática de aplicação comum, isto é, na generalidade do
espaço.

Somente após todos estes requisitos é que o USUS assume sua


dimensão de obrigatoriedade

Elemento psicológico(ANIMUS)

O primeiro elemento não se basta a si mesmo para transformar a


prática internacional em costume. É preciso ainda que os sujeitos
de DI aceitem esta prática como sendo obrigatória.
É esta aceita, este convencimento da obrigatoriedade jurídica do
USUS, o qual confere normatividade a prática.

b) Fundamento de Obrigatoriedade do Costume

Apenas se pode considerar existente um costume bem como a


sua relevância, quando o USUS é contínuo e geral e quando os
sujeitos de DI o reconhecem como obrigatório.

Sem o convencimento de obrigatoriedade, o costume não


passará de uma praxe internacional. É o convencimento da
obrigatoriedade que atribui natureza jurídico-internacional a este
elemento o distinguindo destes outros.

Não precisa ser uma convicção unânime. Para este ser


reconhecido, basta que todos os estados que estejam ou sejam
colocados sob as condições de adotar tais comportamentos, o
adotem, convencidos de que estão a cumprir uma norma jurídica.

c) Natureza do Costume

Há várias perspetivas no que toca a isto. É uma questão muito


incerta.

Para os jusnaturalistas, o costume internacional se forma de


maneira independente do consentimento dos sujeitos de D.I. A
sua origem era inconsciente e involuntária dos outros sujeitos de
DI, e o seu valor não derivava de intenção ao se criar, mas sim,
da convicção de obrigatoriedade.

Para a corrente voluntarista e positivista, por sua vez, era


defendido que o costume tinha em sua base um acordo tácito
entre os sujeitos de direito, principalmente entre os estados.

Esta corrente liga-se muito com as teorizações do costume feitas


por Grócio, segundo a qual o costume é um acordo ou pacto
tácito entre os estados.´
d) A crise do Costume

1) Crise do Conteúdo

Segundo Thierry e outros, a maior parte das normas de DI


costumeiro estão postas em causas por pressões dos países e
estado socialistas e dos estados nascidos das descolonizações,
que por razões de ordem política, quer económicas ou
ideológicas.

Tais estados discordam destas normas de DI costumeiro


precisamente por considerarem que não participam na sua
elaboração e que elas foram realizadas para o proveito dos
países europeus.

Dessa contestação, considera este mesmo autor que nasceram


as bases para a codificação do direito internacional(= textos
escritos criados pelas resoluções das OI). Ora esta crise vai fazer
com que as normas internacionais costumeiras decaiam em prol
das codificações.

2) Crise do princípio ou de renovação do processo costumeiro


tradicional

Na opinião de alguns autores, mais do que uma crise no próprio


costume, tratava-se de uma renovação do processo costumeiro
tradicional. O processo de codificação vai vir como uma foram de
renovar as normas de costume. Ainda assim, todo o direito
costumeiro positivado não irá atingir a importância e permanência
do direito costumeiro.

A crise no direito costumeiro é algo associado a crescente


importância do direito internacional escrito. É algo ligado ao
conteúdo do costume e ao processo de formação.

e) Processo de determinação da existencia do costume


É através do USO que se deve averiguar a existencia de um
costume. Para o efeito, deverá se recorrer a uma análise da
prática internacional dos estados, focada, na observação dos
seus atos jurídicos relativos a sua vida internacional praticados
pelos seus respetivos órgãos.

Em primeiro ponto, nota-se a conduta internacional desenvolvida


através da prática de atos do governo e da diplomacia(em
especial caso correspondência diplomática, instruções
governamentais e ministeriais transmitidas aos diplomatas)

Atos dos órgãos legislativos também. As leis internas,


independente da natureza, indicam a conduta na qual o estado
deve adotar para com os outros.

Atos jurisdicionais, também muito importantes pois neles, os


tribunais chamados a se pronunciar sobre questões que
envolvem o direito internacional, terão de decidir aplicando esse
direito
e) Classificação dos Costumes

É feita com base no âmbito espacial da sua aplicação.

Podem se distinguir entre universais e regionais.

1) Universais

São universais todos aqueles costumes que são reconhecidos


pela generalidade dos estados e demais sujeitos de DI, e que por
isso, vigoram na sociedade internacional.

Para que um estado fique vinculado a um costume universal não


é necessário que tenha participado efetivamente em sua
elaboração ou formação, nem que o aceite expressamente.
Basta que manifeste tacitamente o desejo de aceitação deste
costume e que não demonstre de forma expressa a sua negação.
Assim passa a estar vinculado.

Muitas vezes não é fácil realizar a prova da existência um


costume geral. É apoiado pelo objeto do próprio
costume(liberdade dos mares)

Pode se perguntar por exemplo, mas e os novos estados que


surgem? Estão ou não vinculados pelo costume universal pré-
existente? Questão um tanto pertinente ao considerar-se as
contestações dos estados socialistas e dos recém nascidos por
não terem participado na sua elaboração.

Considera-se que os estados ficam vinculados a estes costumes


pré-existentes, na dada em que começam a participar como
sujeitos do direito internacional, desde que, não manifestem-se
expressamente a negação deste.

2) Costumes Particulares ou Regionais


São costumes particulares ou regionais, os que apenas são
reconhecidos por dois ou por um grupo de estados, que os aplica
através de uma prática corrente constante. Estes costumes
apenas vinculam estados que os reconhecem como tais.

O estado que invoca um costume particular, precisa provar a


sua existência.

f) Esfera de aplicação e de validade do costume

Esta questão esta diretamente relacionada com a posição


adotada em relação a natureza do costume. Para os semelhantes
a Grócio, a esfera de aplicação da validade está muito limitada,
uma vez que este somente é válido para os estados que
colaboram na sua formação ou que o aceitaram.

Para os defensores da segunda doutrina, na qual a validade do


costume assentava na opinio juris, distinguem-se dois pontos:
-Esfera de aplicação e validade no espaço

. Os costumes gerais ou universais vigoram e são aplicáveis em


toda a sociedade internacional

.Os costumes particulares apenas são aplicáveis e vigoram entre


os estados que os sancionam com as suas práticas.

-Esfera de aplicação e validade no tempo

O costume geral ou particular apenas é aplicável a partir do


momento em que local ou universalmente se forma a opinio iuris.
Deixa de vigora quando deixa de haver esta opinio iuris. Não é
possível nestes casos fixar com rigor o período da sua vigência.

g) As organizações internacionais e o costume


Atualmente, as OI participam muito na cena internacional, quer
através de suas atuações quer através das suas práticas
normativas na formação do costume(atos unilaterais)

Os atos produzidos pelas OI de qualquer natureza jurídica,


enquanto expressão da vontade dos seus estados membros,
correspondem a importantes elementos de formação do
costume(prática uniforme e reiterada no tempo e no espaço) . Os
estados membros, já que participam todos na produção destes
atos, dão desde logo o seu consentimento aos mesmos e o seu
consentimento em assumir uma prática conforme aqueles,
reiterada uniforme e generalizada.

Essa prática reiterada acaba por ser manifestação de um


consentimento coletivo e do convencimento coletivo da
obrigatoriedade.

Organizações Internacionais
Quais são seus poderes:

- O poder de cooperação – quando estas administram a vontade


dos seus membros sem limitar a sua soberania

- O poder de Integração – Quando estas recebem de seus


membros, competências as quais lhes permitem agir diretamente
sobre o território de cada um de seus membros.

Quanto ao âmbito de ação:

-Organizações de vocação universal – Quando são abertas a


todos os estados

- Organizações regionais – Quando apenas são admitidos


sujeitos ligados por características comuns geográficas,
religiosas, ideológicas políticas etc.

Criação das OI:


As Oi são entidades que surgem duma criação voluntária dos
sujeitos de DI, maxime os estados.

É preciso um acordo de vontades entre os sujeitos, acordo este


que por via de regra é uma convenção ou tratado
internacional(podendo também assumir outras formas, como uma
resolução ou um ato jurídico unilateral). Somente através de um
acordo livremente estabelecido pelos estados, é que estes
podem demonstrar o seu interesse na criação de um novo sujeito
de direito internacional.

O que mais importa é que a OI seja criada pela manifestação de


vontade de cada estado fundador, através de um acordo, sendo
que nenhum estado é obrigado a participar.

Este acordo de vontades é designado muitas vezes por pacto,


carta, estatuto, constituição, tratado ou convenção.

Membros das Organizações Internacionais:


Podem ser membros de um OI, quer os estado quer as regiões
ou territórios de um estado.

Em certos casos, muitos movimentos de libertação ainda podem


participar! Embora com um estatuto de observador e não de
membros efetivos. Podem assistir a debates sobre matérias que
lhe dizem respeito e consultarem documentos.

Somente e adquire a qualidade de membro de uma OI, o sujeito


de direito internacional que tenha originariamente participado em
sua formação ou então, que posteriormente, venha a ser
admitido. Classificam-se dois tipos. Membros originários e
admitidos(critérios de admissão).

Saída voluntária e saída por expulsão.

Competências das OI
O conjunto de competências são definidas pelo ato constitutivo
que atribui a cada um de seus órgãos um conjunto de poderes
funcionais para poder prosseguir com as suas tarefas.

O princípio da especialidade na base desta ideia - O poderes


atribuídos aos órgãos, apenas podem ser exercidos para a
prossecução das finalidades da OI estabelecidas no seu ato
constitutivo. Este poderes, sua existencia somente se justifica
para isso.

Mas este princípio da especialidade é muito restritivo quanto as


normas de competências das OI. Isto levou a doutrina a realizar
uma interpretação extensiva destas normas, chegando a teoria
das competências implícitas.

Esta foi defendida no pelo TIJ, no caso “reparação de prejuízos


sofridos ao serviço das nações unidas. Foi defendido neste caso
que a ONU, detinha os poderes necessários para realizar a
proteção de seus agentes e para realizar reclamações
internacionais, mesmo que estes poderes não estivessem
consagrados em seu ato constitutivo, uma vez que eram
necessários ao exercício de suas funções.

Teoria das competências implícitas – Mesmo quando não consta


no ato constitutivo algum poder da OI, deverá se entender que
esta possui este poderes poderão ser necessários a prossecução
das suas finalidades

São poderes implícitos, pelo que é preciso ir ao ato constitutivo e


interpretar para saber quais são. Este poderes implícitos não
devem ser utilizados de forma a modificar os explícitos e sim,
como uma forma de os efetivar.

Organização das Nações Unidas

Natureza Jurídica:
A ONU, é uma organização Internacional
intergovernamental(criada exclusivamente entre estados), criada
por um tratado, e com vocação universal. Tem por finalidade a
solução de todos os conflitos internacionais e a promoção da paz
e segurança.

Possui os seus órgãos responsáveis de realizar os seus fins. E é


dotada de personalidade jurídica internacional.

Princípios fundamentais:

Para a prossecução de seus objetivos de manter a paz e


segurança internacional, desenvolver relações de amizade entre
as nações, realizar a cooperação internacional e constituir-se
num centro de harmonização de ações dos estados, no artigo
segundo do seu ato constitutivo, são consagrados um conjunto
de princípios que deverão nortear a ação da ONU.
1) Princípio da Igualdade soberana dos Estados – impõe
igualdade jurídico formal entre os estados. Reconhece a
todos os estados igualdade de direitos e deveres, o direito a
soberania, o respeito a integridade territorial e pela
independência política, o direito de escolher sem
interferência a sua forma de organização política, social,
económica etc.

2) Princípio da Boa-fé – impõe aos estados o dever de cumprir


de boa fé as suas obrigações em conformidade com a carta
das nações unidas e com os princípios e normas de DI.

3) Princípio da Resolução Pacífica de controvérsias - impõe


aos estados o dever de recorrer a meios pacíficos para
resolver os seus diferendos, nomeadamente, recorrendo a
negociação, arbitragem , conciliação e recurso a órgãos
jurisdicionais.

4) Princípio da Proibição da ameaça ou uso da força – Proíbe


a todos os estados a ameaça de uso ou o uso da força
contra a integridade territorial ou a independência política de
outro estado
5) Princípio da cooperação e assistência mútua – Impõe aos
estados o dever de com respeito pelos princípios da
igualdade soberana e da não intervenção, cooperar uns com
os outros em todos os domínios das relações
internacionais(económico, político, social, cultural, científico,
comercial etc)

6) Princípio do domínio reservado dos estados – reconhece


que o direito internacional não regula o exercício de todas
as competências de um estado no interior de seu território.
Admite que há algumas competências sobre certas matérias
cujo exercício não cabe ao direito internacional.

Membros:

Os membros da ONU, são necessária e exclusivamente estados


soberanos.
Nos artigos 3 e 4 do ato constituinte da ONU, são distinguidos os
seus dois tipos de membros: Originários ou admitidos.

a) Originários: Nos termos do artigo 3, são todos os estados


que participaram na criação desta OI,
b) Admitidos: Categoria tratada no artigo 4. A admissão está
aberta a todos os países amantes da paz, que aceitem as
obrigações contidas na carta, e que tenham o desejo de as
cumprir.

Estrutura Orgânica

No artigo 7 da carta, foram estabelecidos como órgãos principais


da ONU a assembleia geral, conselho de segurança o TIJ entre
outros(conselho económico e social, conselho de tutela, tribunal
internacional de justiça e o secretariado). Ainda neste mesmo
artigo, está permitida a criação de órgãos subsidiários que se
julgarem necessários.
a) Assembleia Geral

A assembleia geral, nos termos do artigo 9, é composta por todos


os membros da nações unidas. É o órgão representante de todos
os estados membros, os quais participam nela em pé de
igualdade. É por isso um órgão democrático, baseado no
princípio da igualdade dos estados. Tem natureza plenária.

- Sistema de votação

Artigo 18 da carta das nações Unidas:

1 - Cada membro da Assembleia Geral terá um voto.

2 - As decisões da Assembleia Geral sobre questões importantes


serão tomadas por maioria de dois terços dos membros
presentes e votantes. Tais questões compreenderão: as
recomendações relativas a manutenção da paz e da segurança
internacionais, a eleição dos membros não permanentes do
Conselho de Segurança, a eleição dos membros do Conselho
Económico e Social, a eleição dos membros do Conselho de
Tutela de acordo com o n 1, alínea c), do artigo 86, a admissão
de novos membros das Nações Unidas, a suspensão dos direitos
e privilégios de membros, a expulsão de membros, as questões
referentes ao funcionamento do regime de tutela e questões
orçamentais.

3 - As decisões sobre todas as outras questões, inclusive a


determinação de categorias adicionais de assuntos a serem
debatidos por maioria de dois terços, serão tomadas por maioria
dos membros presentes e votantes.

b) Conselho de Segurança

É um órgão permanente da ONU, com natureza


intergovernamental e que tem como principais responsabilidades
a garantia da paz e da segurança internacionais. A sua
composição reflete muito a lição aprendida com o fracasso da
SDN, segundo a qual com mecanismos exclusivamente jurídicos
e sem a permanência das grandes potências capazes de
desencadear grandes conflitos, não seria possível manter a paz e
segurança internacional.

Foi essa dura lição que ditou a criação deste órgão, a sua
composição e a suas competências como um órgão permanente
dotado de preponderância na manutenção da paz e segurança
internacionais.

Originariamente, ele era composto por 11 membros, sendo que 5


eram permanentes e 6 não.

Permanentes(artigo 23): china, França, URSS, Reino Unido e


EUA.

Os não permanentes: Com as muitas mudanças nas relações


internacionais, em prol da guerra fria por exemplo, tornou-se
necessário um maior representatividade, pelo que a partir de
1963, alargou-se o número de membros não permanentes para
15.

A composição do CSNU pode ser encarada (sem prejuízo da sua


necessidade funcional) como um reflexo da predominância dos
Estados mais poderosos, os quais podem impor a sua visão,
moldar o direito internacional mesmo que sob o princípio da
igualdade soberana dos Estados
- Sistema de Votação

Artigo 27 da carta das Nações Unidas:

1 - Cada membro do Conselho de Segurança terá um voto

2 - As decisões do Conselho de Segurança, em questões de


procedimento(ou seja, que tem por objeto a aprovação de
regimento interno, criação de órgãos subsidiários, convite de um
estado a participar num debate etc), serão tomadas por um voto
afirmativo de nove membros. Não há direito de veto.

3 - As decisões do Conselho de Segurança sobre quaisquer


outros assuntos serão tomadas por voto favorável de nove
membros, incluindo os votos de todos os membros permanentes,
ficando entendido que no que se refere às decisões tomadas nos
termos do capítulo VI e do nº 3 do artigo 52º, aquele que for parte
numa controvérsia se absterá de votar.
Inicialmente, considerava-se de acordo com o artigo 27 n 3 da
carta das nações unidas, que para um assunto ser considerado
questão de fundo, houvesse o voto favorável dos cinco membros
permanentes do CS , bastando um voto contra ou uma abstenção
para que não fosse considerado.

Por outras palavras, antigamente, uma abstenção correspondia


de certa forma, a não aprovação de propostas, isto é, ao veto.

Mas deixou de o ser. Atualmente, passou se a exigir que para


vetar, um membro permanente votasse de forma expressa contra
a proposta apresentada(=abstenção não significava mais o veto)

Pode assim, uma questão não procedimental ser aprovada, ainda


que com a abstenção de um ou mais membros.

Limites ao direito de veto?


-No que se refere às decisões tomadas nos termos do capítulo VI
e do n º 3 do artigo 52, aquele que for parte numa controvérsia se
absterá de votar(nem vetar poderá)

-Também a boa fé. Veto deve ser exercido de boa fé.

A soberania de um Estado só estará completamente protegida se


este puder exercer um direito de veto (de facto ou de iure) na OI.
Tendência das OI’s procurarem consenso não significa regresso
à unanimidade mas apenas o de conferirem um maior peso às
decisões adotadas. Não é fácil tomar decisões por unanimidade.
Algumas organizações tomam a população ou o valor das
contribuições como forma de alterar o peso do voto dos Estados.
Ainda assim a maioria das OI’s atribui o mesmo poder de voto
independentemente destes factores. A maioria das OI’s não é
independente financeiramente. A recusa em contribuir
financeiramente para uma OI pode minar o seu funcionamento ou
de uma aCvidade específica mas limita a noção de
responsabilidade financeira coleCva

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