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17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES NO DIREITO DO


TRABALHO

DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES NO DIREITO DO TRABALHO


Revista dos Tribunais | vol. 774 | p. 731 | Abr / 2000
Doutrinas Essenciais de Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 3 | p. 1329 | Set /
2012DTR\2000\254
Jorge Severiano Ribeiro
Procurador da Justiça do Trabalho. Membro efetivo do Instituto Brasileiro de Direito do Trabalho.

Área do Direito: Geral

Sumário:

1 - ESTADO. NAÇÃO.
Lê-se em Ch. Durand, (Les Etats Federaux), que - toutes les coletivités humaines, même durables,
n'ont pas d'existence juridique. A existência jurídica, adverte, é a aptidão para exercer uma
atividade jurídica, a figurar ativamente nas relações de direito, nas relações reconhecidas, regidas
e sancionadas por um sistema de direito positivo em vigor. A existência jurídica não pertence, isto
é, não é reconhecida pelos diversos sistemas de direito positivo, a não ser que se trate de
coletividades providas de certa organização. Esta condição pode não ser suficiente. Ela é, em
todo caso, necessária. A organização de uma coletividade consiste essencialmente em um
conjunto de regras, expressas ou costumeiras, em virtude das quais decisões tomadas (em certas
ocasiões) por certos individuos produzem efeitos jurídicos frente ao agrupamento interno, de
todos os membros presentes e futuros. Num sentido amplo, tais indivíduos são órgãos do
agrupamento*.
Estado, ensinam os juristas, é a nação polìticamente organizada. Nação é a coletividade unificada
por língua e raça. Para formar o Estado, necessita de território certo e govêrno próprio. (Pedro
Calmon - Curso de Direito Público). Chama-se nação, diz Adaucto Fernandes, (Introdução à
Ciência do Direito), a mais vasta, a mais complexa e a mais compreensiva das modalidades sociais
com que a humanidade, histórica, etnográfica e sociològicamente tem aparecido à fase da terra. O
Estado, é a expressão viva da sociedade jurìdicamente organizada, em que a norma do direito,
segundo C. Cforza, é a figura suprema do equilíbrio e da órdem.
Território, é o espaço do globo sôbre o qual uma nação exerce sua soberania. Nele se
compreende, não só a terra, mas ainda as águas submetidas a seu domínio, tais como rios, canais,
portos, encoradouros, baías, golfos, mares interiores e aqueles que banham as costas, comumente
chamados territorias. (Jorge Severiano Ribeiro - Código Penal (LGL\1940\2) Comentado). Tem sido
dito repetidamente por vários escritores, salientam W. Clark e W. Marshal. (A Treatise on the Law
of Crimes), escritores - on international law - que a jurisdição de uma nação não se limita
meramente ao mar que banha as costas, mas penetra por êle a dentro até a distância de um tiro
de canhão - estimated at or marine leage on three miles from low-water mark.
Como bem observa von Liszt, (Tratado de Direito Penal Alemão), também se deve considerar
território de uma nação a massa atmosférica que se superpõe ao território, até onde possa ser
dominada de fato e especialmente pelas armas. Na linguagem do direito, portanto, a palavra
território tem uma significação bem mais ampla que na linguagem comum. Isto porque abraça, não
só a terra firme, com seus rios, lagos, portos etc., como também por ficção jurídico-política todos
os lugares - ove la sovranitá si appalesa, usando da expressão de Pessina. (Martens-Précis de
Droit des Gens; Vattel-Droit des Gens).
Govêrno. Para formar o Estado necessita a Nação de território certo e govêrno próprio. Govêrno o
mesmo é que a autoridade encarregada de administrar o país. A maneira com que se exerce esta
autoridade varia segundo a constituição do Estado. As formas principais de govêrno são: -
monarquia, aristocrácia e democrácia ou república, podendo elas mesmas se combinarem num
grande numero de modos, provocando a existência de várias formas, podemos dizer, mixtas.
Metafìsicamente, diz Pedro Calmon, (Curso de Direito Público), govêrno é a vontade de realização
dos fins estatais. Positivamente, é o conjunto de funções que impõem a disciplina jurídica; o
complexo de magistraturas que determinam a ação do Estado, distribuída atravez dos serviços
públicos.
Euzebio de Queiroz, (Sociologia Jurídica), após dizer: Estado é uma nação encarada sob o ponto

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de vista de sua organização política, acrescenta - procurando determinar a posição do Estado


com relação à vida jurídica, que os escritores, em geral, assinalam três concepções possíveis: ou
o Estado é considerado como objeto de direito, ou como relação de direito, ou como sujeito de
direito. A impropriedade, no seu modo de ver, do primeiro conceito, é manifesta: a existência de
um objeto de direito presupõe a de um sujeito, e a quem poderia ser atribuida a qualidade de
titular do direito na relação jurídica de que o Estado fosse o objeto? A concepção do Estado como
relação jurídica entre o govêrno e o povo é, igualmente, inaceitavel. Não se pode estabelecer
essa dualidade de conceitos de Estado e govêrno. O govêrno é um aspecto particular do Estado -
é a sua expressão política. O Govêrno e o povo são os elementos constitutivos do Estado. Estado
é um povo polìticamente organizado, com o govêrno próprio. Resta a terceira hipótese - o Estado
sujeito de direito, o Estado pessôa jurídica.
A concepção, salienta o escritor atrás apontado, do Estado, como pessôa jurídica, apareceu com
a escola de direito natural, fundada por Hugo Grotius. Foi explicitamente formulada na Inglaterra
por Hobbes e Locke e desenvolvida por Puffendorf na Alemanha e J. J. Rousseau na França.
(Jelinek - L'etat Modern et son droit). E' a doutrina, conclue, dominante entre os escritores de
direito público e é universalmente aceita em direito internacional. O Estado é a personificação
jurídica de uma Nação; o Estado é um sujeito de direito. (Esmein - Droit Constitutionel). Os
elementos constitutivos de sua personalidade são: a população, o território e a unidade política.
(Araujo Castro - Manual da Constituição Brasileira).
No ver de L. Duguit, (Manuel de Droit Constitutionel) - pour le moment la chose est sans intérêt.
Basta dizer, salienta, que na teoria dominante hoje, os Estados são considerados pessôas
jurídicas, sujeitos de direito e que os elementos que constituem esta personalidade são: une
colletivité, un territoire, un gouvernement. Para Cícero, (De República), o Estado não é sinão uma
sociedade para o direito.
Forma de Estado. Forma de govêrno. Deixando de parte o estudo da organização pròpriamente
política que os estados apresentam, ensinam R. Octavio e Paulo Vianna, (Elementos de Direito
Público), o que entende com o aspecto interno e modo prático de govêrno, quanto à sua
estrutura e fórma externa os Estados se classificam em simples e compostos, sendo êstes os que
se constituem por laços de dependência e federação. Estado simples é aquêle que formando um
tôdo integro individual, é soberano em relação aos habitantes de seu território e independente em
relação aos demais estados. Estado composto é aquêle que é constituido pela reunião, sob o
mesmo govêrno, de dois ou mais estados simples, que perdem quase sempre em favor do Estado
composto a personalidade internacional.
Pedro Calmon, (Curso de Direito Público), distingue fórma de Estado de fórma de govêrno. Quanto
à formas de govêrno, diz, há monarquias e repúblicas, presidencialismo e parlamentarismo etc. E
quanto às formas de Estado: unitários e federais, simples e compostos, soberanos e semi-
soberanos. No primeiro caso, importa-nos "o modo" da realização do govêrno. No segundo caso a
zona especial em que isto ocorre.
Constituição. Chama-se constituição, diz Carlos Maximiliano, (Constituição Brasileira), repetindo
Racioppi e Brunelli, o complexo de regras que determinam a estrutura e o funcionamento dos
poderes públicos e asseguram a liberdade dos cidadãos. E' a lei anterior e superior a todas as
outras. (O. Orban); viza as relações entre os governantes e governados (C. de Lestrade); e não
se pode ser modificada senão pelos meios excepcionais indicados no próprio texto, ou por uma
revolução triunfante. (R. Fortes).
L. Bryce, (Studies in History and Jurisdiction), diz W. L. Ludlow, (The American Constitution)
definiu uma constitução como - the aggregate of the laws and customs under which the life of
state goen on. Herman Finer, (The Theory and Practice of Modern Governement), diz brevemente,
que uma constituição é o sistema - of fundamental political institutions.
Perguntando-se a si mesmo o que se deve entender pela constituição americana, responde
Ludlow: - it constitutes a body os principles upon which the framewark of government rest and
and fron which the people find theirs reciprocal duties and rights. Difere muito da carta política
japonesa - int that the latter consists merely of a charter of liberties granted by an individual
ruler.
A constituição francesa, antes da invasão nazista de 1940, poderia ser descrita como uma série
de leis fundamentais do Estado. A inglesa é definida por W. R. Munro, (Governments of Europe),
com - a complex amalgam of institutions, principles and practices. E' um composto, diz, de cartas
e estatutos, de decisões judiciais, de common law, de precedentes, usos e tradições. Não é um
documento, são centenas de documentos. Não deriva de uma fonte, mas de várias fontes - it is
not derived from a source, but from several.
Em direito, ensina A. Octavio, (Direito Público e Constitucional), a palavra constituição, significa a
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lei suprema e básica de uma associação humana politicamente organizada. E acrescenta, com
apoio em Ruy Barbosa, (Discurso no Senado Federal em 1900): - as constituições são um conjunto
de sínteses, dentro das quais a jurisprudência pública se vai desenvolvendo com os tempos, com
as aspirações de cada situação, com a exigência pública de cada estado sociável.
A guerra de 1914-1918, diz bem Ezekiel Gordon, (La Responsabilité du Chef de l'Etat) - fui suivie
d'un bouleversement génerale... Com a quéda do império Russo e a vitória dos aliados surgiram
novos estados e com êles novas formas constitucionais. (E. Gordon - Les Nouvelles Constitucions
Européenes et le Rôle du Chef de l'Etat). E a confusão se generalisou, nascendo com o tempo
regimens de um pessoalismo tremendo: Mussolinismo, Hitlerismo, Salazarianismo, Kemalismo, etc. O
mundo que estava dividido nos campos da batalha, ainda mais se dividiu, e agora, de forma pior,
no campo das idéias.
Felizmente, dentro deste choque tremendo, ainda não terminado, algo de útil vai pouco a pouco
surgindo. O trabalho, por exemplo, questão sempre relegada a segunda órdem, vem sendo
chamada ao primeiro plano. Adolfo Posada, (La Nouvelle Constitution Espagnole), bem o percebeu
quando disse: no capítulo segundo do título III da nova constituição espanhola se manifestou
claramente a influência - des plus nouvelles tendences sociales et des nouvelles formules de droit
constitutionel.
2 - ESTADO NEUTRO. ESTADO INTERVENCIONISTA. ESTADO ASSISTENTE.
O estado neutro é o marasmo; o estado puramente intervencionista é o desassossêgo, a
agitação. Um exemplo do primeiro, nós temos na carta política brasileira de 1891. Igualmente na
carta do Império, menos no que dizia respeito á religião, que devia ser católica, não sendo
permitido às outras qualquer fórma exterior de culto. Quanto ao mais, o neutralismo do Estado era
absoluto: - direito de propriedade em toda a sua plenitude; nenhum gênero de trabalho podia ser
proibido; completo direito de reunião e associação; direito de entrar e sair do território brasileiro
com sua fortuna e bens; as minas pertenciam ao proprietário do solo etc.
Como se vê, estrutura política do Estado e estrutura econômica eram cousas inteiramente
diversas. O Estado garantia a todos igualmente, esquecido que não era possível tratamento igual
para seres desiguais - política e econômicamente. Resultado: - no campo econômico, exploração
do trabalhador, impondo reações indignas de um povo civilizado, como ato de defesa; no campo
político, perpetuação de certa classe como eternos governantes. (Consultar Henry George -
Problemas Sociais).
Se o Estado neutro é o marasmo, o Estado puramente intervencionista é o desassossêgo, a
agitação. E a razão é simples, ninguem se sente seguro nos seus deveres, nem nos seus direito.
Nos seus deveres, porque estes podem ser aumentados de modo brusco; nos seus direitos, porque
podem ser suprimidos de um momento para outro.
A carta política brasileira de 10 de Novembro de 1937 colocou-se entre as duas formas acima
aludidas. Por ela o Estado nem é neutro nem pura e exclusivamente intervencionista. Sua figura
assemelha-se mais a dos assistentes nas demandas em juizo: intervem para defender sua causa
com a alheia. E tal se dá, quer na órdem educacional, quer na órdem econômica.
Atuando no setor educacional não afasta da família a pessôa do chefe, embora reduza um pouco
os já reduzidos direitos do chamado pátrio poder. ( Ortolan - Institutas; Cunha Lobo - Curso de
Direito Romano). Não afasta a pessôa do chefe, dissemos nem mesmo a coloca em posição
secundária. Pelo contrário, reconhece que é um direito natural do pai ministrar a educação à sua
prole, embora não a ignore, como sucede no Estado neutro, e prescreva, (método de Estado
assistente), ser dever do Estado com êle colaborar, de maneira principal ou subsidiária para
facilitar a sua execução ou suprir as deficincias e lacunas (artigo 125).
Como se vê, a sua neutralidade, não é a neutralidade comodista e prejudicial da carta política do
Império ou da primeira república, mas vigilante e sempre pronta a agir, certo como está, que o
caráter nos primeiros tempos da vida - in the early life is the time in wich character is formed. (
Clarence Darrow - Crimes its Cause and Treatment).
A despeito de tudo, convem salientar, intervém colaborando, e não, excluindo. Absorve o individuo
mas não o anula. Tem-no como um valôr econômico, e interessa-se por que êle produza o máximo,
mas não o avilta, respeitando-o como valor moral, artístico, cívico, religioso, e até estético, como
o queria Th. Ribot. (Psychologie des Sentiments).
Partindo do princípio sadio de que na iniciativa individual, no poder de creação, invenção do
indivíduo é que se funda a riqueza e a prosperidade de um povo, não intervem desabrida e
violentamente na sua vida, entretanto dêle cuida e o ampara, antes mesmo de nascer. E' assim
que à gestante garante repouso anterior e posterior ao parto, se simples operária, velando pela
sua saude e, o que é mais, pela saude de sua prole. Não sendo operária não a relega para um
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segundo plano, colocada como está a família sob a proteção especial do Estado, proteção
especialíssima, quando numerosa ou miseravel.
E segue o Estado assistente, sem os exageros do Estado-intervencionista e os prejuizos do
Estado-neutro, ao individuo pela vida a fóra: colaborando na sua educação, seja na infância, seja
na juventude, seja sob o aspecto moral, intelectual ou físico, seja o pai pobre ou rico, punindo
êste pelo abandono da prole, e auxiliando aquêle, se o invoca, na sua subsistência e educação.
Mesmo como valor artístico, não desampara o cidadão, embora mantenha de pé o respeito à
iniciativa individual, que é a regra, quer na órdem educacional, quer na órdem econômica. Só
obriga, quando é necessário que obrigue: é o caso do ensino primário, da educação física, do
ensino cívico. (Constituição - artigos 128 a 131).
O seu horror, porém, ao intervencionismo puro, bem se retrata em vários textos, principalmente
quando contempla o individuo como fator religioso.
Na órdem econômica o espírito de assistência, sem os exageros intervencionistas, é evidente.
Basta ler o artigo 135 da Constituição brasileira que após declarar fundar-se a riqueza e a
prosperidade nacional na iniciativa individual, acrescenta: a intervenção no domínio econômico
poderá ser mediata ou imediata, revestindo a forma de contrôle, do estímulo ou da gestão direta.
Como já o fizemos sentir atrás, a característica do regimen liberal-democrático, reside na absoluta
neutralidade do Estado diante das relações dos membros que o compõem. E esta foi a fórma
adotada em 1891. Vitoriosa a revolução brasileira de 1930, a liberdade econômica, de absoluta (e
já era apenas em teoria), passou a ser relativa. Também força é confessar, o mundo atual não
comportava mais a rigidez dos velhos principios, neutro o Estado, diante das relações individuais,
principalmente as relações de trabalho, entre empregados e empregadores.
Dizendo isto é, como se disseramos: - é possível tenha defeitos o capítulo da Constituição
brasileira que rege a órdem econômica. Não se lhe pode negar atualidade. Admite a intervenção do
Estado no domínio econômico, mas não deixa de exaltar a iniciativa individual. E vai além: -
condiciona a aludida intervenção, que pode ser mediata ou imediata, revestindo a fórma de
contrôle, de estímulo ou gestão direta, a certas regras. Quanto ao direito de propriedade, tão
combatido, mas sempre tão desejado, (Clarence Darrow - Crime its Cause end Treatment),
colocou-o no capítulo sôbre as garantias individuais.
A fórma de intervir, para controlar ou estimular, já era conhecida, mesmo vigorante a carta
política de 1891. Um exemplo eloquente tem-se na chamada política protecionista do café-
brasileiro. A atual carta básica (1937) vai adiante: - permite a gestão direta, o que lhe dá um
sabor de econômica dirigida, socialista ou coletivista. Tendo-se em vista, porém, a regra
estabelecida de que a "intervenção" do Estado no domínio econômico só se legitima para suprir as
deficiências da iniciativa individual e coordenar os fatores da produção, fácil se compreenderá logo
que seu espírito é puramente assistencial e não intervencionista.
3 - REGRAS PARA A LEGISLAÇÃO DO TRABALHO.
Prescreve a Constituição brasileira de 1937 o seguinte:
Artigo 136 - O trabalho é um dever social. O trabalho intelectual, técnico e manual tem direito à
proteção e solicitude especiais do Estado. A todos é garantido o direito de subsistir mediante o
seu trabalho honesto e êste, como meio de subsistência do indivíduo, constitue um bem que é
dever do Estado proteger, assegurando-lhe condições favoráveis e meios de defesa.
Artigo 137 - A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos:
A - os contratos coletivos de trabalho concluidos pelas associações reconhecidas legalmente, de
empregadores, trabalhadores, artistas e especialistas serão aplicados a todos os empregados,
trabalhadores, artistas e especialistas que elas representam;
B - os contratos coletivos de trabalho deverão estipular obrigatòriamente a sua duração, a
importância e as modalidades do salário, a disciplina interior e o horário do trabalho;
C - a modalidade do salário será a mais apropriada às exigências do operário e da emprêsa;
D - o operário terá direito ao repouso semanal aos domingos e, nos limites das exigências técnicas
da empresa, aos feriados civis e religiosos, de acôrdo com a tradição local;
E - depois de um ano de serviço ininterrupto em uma emprêsa de trabalho o operário terá direito a
uma licença anual remunerada;
F - nas emprêsas de trabalho contínuo, a cessação das relações de trabalho a que o trabalhador
não haja dado motivo, e quando a lei não lhe garanta a estabilidade do emprêgo, cria-lhe o direito

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a uma indenização proporcional aos anos de serviço;


G - nas emprêsas de trabalho contínuo, a mudança de proprietário não rescinde o contrato de
trabalho, conservando os empregados para com o novo empregador, os direitos que tinham em
relação ao antigo;
H - salário mínimo, capaz de satisfazer, de acôrdo com as condições de cada região, às
necessidades normais do trabalho;
I - dia de trabalho de oito horas, que poderá ser reduzido, e sòmente susceptível de aumento nos
casos previstos em lei;
J - o trabalho à noite, a não ser nos casos em que é efetuado periòdicamente por turnos, será
retribuido com remuneração superior à do turno;
K - proibição de trabalhos a menores de catorze anos, de trabalho noturno a menores de dezeseis
anos e, indústrias insalubres, a menores de dezoito anos e mulheres;
L - assistência médica e higiênica ao trabalhador e à gestante, assegurado a esta, sem prejuizo
do salário, um período de repouso antes e depois do parto;
M - a instituição de seguros de velhice, de invalidez, de vida e para os casos de acidentes do
trabalho;
N - as associações de trabalhadores têm o dever de prestar aos seus associados auxílio e
assistência, no referente às práticas administrativas ou judiciais relativas aos seguros de
acidentes do trabalho e aos casos sociais.
O homem, ensina F. Consentini, (Elementos de Economia Política), para atingir aos próprios fins e
satisfazer às próprias necessidades é obrigado a efetuar um certo trabalho. Sob ponto de vista
individual, trabalho é toda a atividade do homem, mesmo intelectual. Socialmente, porém, só se
entende por trabalho a atividade útil à coletividade. Certa está, portanto, a expressão da nossa
lei básica: o trabalho é dever social, também constante, aliás, da constituição soviética.
Desde porém que a sociedade impõe ao indivíduo o trabalho, fatalmente teria que se obrigar a dar-
lhe trabalho. E daí, a criação indireta, mas evidentemente criação para o homem de um novo
direito - o direito de ter trabalho.
Bem andou destarte a constituição brasileira prescrevendo: - a todos é garantido o direito de
subsistência mediante o seu trabalho honesto, e êste, como um meio de subsistência do indivíduo,
constitue um bem que é dever do Estado proteger, assegurando-lhe condições favoráveis e meios
de defesa. Também preceitua: - o trabalho intelectual, técnico e manual tem direito a proteção e
solicitudes especiais do Estado.
Por trabalho, sob o ponto de vista social, só se entende aquêle que é útil à coletividade; por
trabalho, sob o ponto de vista individual, só se compreende aquêle que é honesto. O trabalho
deshonesto, exercido embora pour rectifier le hasard, na frase de Pelletan, (Droit de l'Homme), a
lei não protege. Às vezes até o eleva a categoria de crime como ocorre com a usura, ou a uma
contravenção, como sucede com o jôgo.
Quanto ao trabalho honesto, a lei o considera dever para com o Estado e direito do próprio
indivíduo. E' a guerra ao parasitismo, já declarada por S. Francisco quando exclamava: o trabalho
em primeiro lugar e sempre. Pad. Aloyzio F. Gonçalves - Vida de S. Francisco), ao lado da guerra
ao desemprêgo. (Hewlett Johnson - Poder Soviético); E. Ludwig - Stalin; Wendel Wilkie - Um
Mundo Só).
4 - LEGISLAÇÃO SOCIAL. LEGISLAÇÃO DO TRABALHO.
A lei, entre nós, ora fala em legislação do trabalho, ora em legislação social, para significar a
mesma cousa. (Constituição Federal (LGL\1988\3), artigo 139). Em êrro igual já incorrera a carta
política de 1934. Significam, entretanto, as duas expressões cousas diversas. A legislação do
trabalho tem campo mais restrito: visa apenas, de um modo geral, a proteção do operário sob os
seus mais variados aspectos.
Quanto à legislação social, nela não se contêm apenas os homens, mas a própria coletividade.
Esta é aliás também a opinião de A. Rotwein e N. Rotwein (Labor Law), já que dizem: - o termo
labor law é passivel de várias interpretações. Não há dúvida, porém, que uma grande parte da
labor law é um produto da legislação social. Na concepção popular, entretanto, acentuam, o
termo labor law, tem um significado mais amplo abraçando todos os principios legais que dizem
respeito ao bem estar do operário - the welfare of workers.
Araujo Castro, (Justiça do Trabalho), seguindo Waldemar Ferreira, (Princípios de Legislação Social
e Direito Judiciário do Trabalho), tem como impossível, frente a nossa lei, fazer distinção entre
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legislação social e legislação do trabalho. A Cesarino Junior, (Direito Social Brasileiro), afigura-se,
que para o nosso direito positivo, essas expressões são sinônimas.
5 - NORMA JURÍDICA.
Dizia J. J. Rousseau que ainda está por achar-se a definição do que seja lei. E. Fagnet (O Culto da
Incompetência), só entendia por lei uma disposição antiga, consagrada por uso prolongado. E
salientava - lei baseada em circunstâncias de momento não é mais que um decreto. Seu
ensinamento está mais ou menos acorde com o de Lamartine, (La France Parlamentaire), quando
escreveu: o caráter de todas as leis - de circonstance et de tyrannie - é a precipitação, é a
irreflexão.
Acepção formal. Muitos são os sentidos em que se pode tomar a lei, palavra derivada de ler,
segundo Varron, porque, on lisait la loi au peuple pour lui en donner connaissance. Tomando-a na
sua acepção mais geral, define-a Montesquieu: tout rapport necéssaire qui derive de la nature des
choses. (Espírito das Leis). E' certo, porém que muitos não crêm certa tal definição. Boistel,
(Cours de Droit Naturel), após criticá-la, principalmente quanto ao emprêgo do vocábulo -
necessária, que parece excluir da definição - les lois des êtres libres, l'object definit, define-a
assim: - a lei de um ser livre é uma noção segundo a qual êle se dirige nos seus atos, com
conseqüências felizes ou desagradáveis, caso se conforme ou não.
Acepção restrita. Bluntschli, (Direito Público), define a lei na sua acepção restrita, como a regra
de direito permanente revestida da mais alta autoridade pública.
Especies de leis. Há duas espécies de leis, umas necessárias (leis físicas); outras contingentes
(leis morais). As primeiras fundam-se na natureza mesma das cousas, daí serem chamadas
também leis da natureza (atração, movimento etc.). As outras, são normas gerais obrigatórias que
presidem as relações dos seres entre si, e chamam-se - leis de direito. (Ahrens - Cours de Droit
Naturel).
Requisitos. Uma boa lei deve ser antes de tudo uma norma geral e nacional. Daí só a poder fazer
quem tenha um conhecimento completo do objeto ao qual se dirige ela. O contrário importa em
proclamar, por vezes, êrros contrários aos próprios fins da lei. (Jorge Severiano - Curso de Crítica
Penal), Mittermaier, (Tratado da Prova), diz bem que as instituições judiciárias, para que tenham
bom êxito, exigem cultura e climas próprios, opinião, parece-nos, adotada também por Cândido de
Oliveira. (Origens do Jury no Brasil).
Destarte, sempre presente à memória deve ter todo o legislador a seguinte passagem de
Hoffbauer, a qual se reporta Maudsley, (Le Crime et la Folie): - toda a legislação deveria se fundar
sôbre o conhecimento do objeto ao qual se aplica: se êste conhecimento é incompleto valeria
melhor que a lei se abstivesse de definir, que dar uma má definição e introduzir na prática erros
que, se bem contrários aos seus fins - se perpetuent en vertu de son autorité.
Sob este aspecto não é passivel de crítica a constituição brasileira. De fato, segundo ela, a lei
deve ser apenas uma norma geral, livre de todo o casuitismo, defeito gravíssimo em que tinham
incorrido as constituições anteriores de 1891 e 1934. E' pelo menos o que está dito de modo
expresso no artigo II quando prescreve: a lei quando de iniciativa do Parlamento, limitar-se-á a
regular de modo geral, dispondo apenas sôbre a substância e os princípios a matéria que constitue
o seu objeto. Igualmente quanto ao que diz respeito ao requisito nacional, bastando para
evidenciá-lo o que dispõe sôbre a organização dos municípios, estados, bem como a órdem
econômica (inclusive trabalhista) e órdem educacional.
Iniciativa da lei. A iniciativa dos projetos de lei, cabe em princípio ao governo. Eis aí uma
disposição que bem demonstra o espírito nacional da carta política brasileira. Claro que para
muitos tal se afigura um absurdo, presos como se encontram aos rígidos princípios da divisão dos
poderes. A verdade, porém, é que a constituição apenas retratou um velho costume: - os
projetos de lei, aqui como em toda a parte, com probabilidades de se transformarem em lei,
sempre foram os de iniciativa do Poder Executivo. Quando dêles se desinteressava o Govêrno,
dêles se desinteressava o Congresso. Tem uma outra virtude o dispositivo - evitar a apresentação
de projetos inúteis, sem consultar as realidades da vida nacional, em todos os seus setores,
consulta que o Poder Executivo o faz todos os dias, mesmo sem o querer, pelo contacto mais
direto com a coletividade. Hoje, mais que nunca, se evidencia constituir uma verdade a
observação de Clarence Darrow, (Crimes its Cause and Treatment) de que - o legislador nunca
realmente faz a lei, simplesmente escreve o que já se tornou, mais ou menos, uma regra: simply
writes in the books what has already become a rule. (James Coolidge Carter - The Ideal and
Actual in the Law).
Como está determinado, a iniciativa dos projetos de lei, cabe em princípio ao govêrno. Não foi
vedado portanto, em regra, ao Parlamento votá-la. A constituição mesmo o permite, desde que

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encabeçada por um terço de deputados ou de membros do Conselho Federal. A nenhum membro,


entretanto, de qualquer das Câmaras caberá a iniciativa de projetos de lei, preceito justo, que
veio acabar com o abuso de se atulhar o Parlamento com projetos inúteis, alguns de caráter
pessoal e outros até ridículos.
No tocante à iniciativa por parte do Parlamento há, porém, uma proibição expressa. E' a seguinte:
não serão admitidos como objeto de deliberação, projetos ou emendas de iniciativa de qualquer
das Câmaras, desde que versem sôbre matéria tributária ou que de uns ou de outros resulte
aumento de despesa. A constituição federal de 1934 já continha preceito idêntico, embora menos
radical.
Mesmo quando de iniciativa de qualquer das Câmaras, o projeto terá suspenso seu andamento,
desde que o govêrno comunique o seu propósito de apresentar projeto que regule o mesmo
assunto. E' uma decorrência da regra estabelecida que a iniciativa dos projetos de lei cabe em
princípio ao govêrno, e êste aqui se exerce, como se vê, por uma espécie de veto antecipado.
Fica obrigado porém, a dentro de trinta dias enviar à Câmara respectiva o projeto substitutivo,
sob pena de voltar a constituir objeto de deliberação o projeto suspenso.
Obrigatoriedade da lei. A lei só se completa com a publicação. Isto, porém, não quer dizer entre
ela em vigor imediatamente. Tal só se dá após o transcurso de determinados prazos. Dois sistemas
existem a respeito: o do prazo único e o do prazo necessário. O primeiro consiste na estipulação
de um prazo certo, findo o qual, entrará a lei em vigor. O segundo aconselha a vigoração da lei
por partes, tendo em vista a maior ou menor dificuldade de comunicação com o centro da
administração do país.
Desaparecimento da lei. A lei impera até a sua revogação. Esta quando é total, chama-se
abrogação; quando parcial, derrogação.
A lei e a vontade do legislador. Vimos atrás como a lei nasce e se fórma em definitivo, para
imperar no mundo exterior. Descrito, porém, como está, parece que a só vontade de alguns
indivíduos baste para fazê-la medrar. Assim não o é, mas assim realmente muitas vezes tem
sucedido. Nêste caso, porém, ela deixa de ser uma lei - fórma mais ou menos perfeita do direito,
para tornar-se um enxerto incompreendido e incompreensível pela coletividade. Viverá apenas
enquanto durar o domínio de quem a imaginou, e quando retirada, a sensação que se tem é de
alívio, como quando morre um tirano. Felizmente têm elas uma vida passageira e nunca chegam a
ser aplicadas, como o pretenderam os seus elaboradores. E' que o juiz, que a vê como os demais,
com olhos de governado e não de governante, entra a contorná-la, gesto de defesa natural e
irreprimível. Só a aplica em casos de evidência absoluta, e ainda assim, vinga-se a coletividade,
transformando em mártir, aquêle que por ela é atingido.
Nasce, impera e morre, sem nunca ter chegado a ser uma lei-norma de conduta social. E se veio
para regular um suposto crime, dá-se a inversão total da órdem, como um crime ela é que passa a
ser considerada. E' assim que o bom senso, na expressão de Jean Cruet, (A Vida do Direito), tira a
sua desforra prática.
Leis precipitadas. Leis retardadas. Sendo a lei uma méra fórma do direito, deve medrar como
morre, naturalmente. Não se a deve precipitar, nem retardar. Não se deve, dissemos, ou para
melhor dizer, não se póde deixar de atender a oportunidade e ao meio, e da desobediência a êsses
elementos o resultado é o que se vê: precipitada, não se a entende e não se a aplica; retardada,
provoca distúrbios, desordens e até revoluções. E' o caso das leis de trabalho, protetoras do
trabalho ou regulantes de crimes contra o trabalho.
Quando, porém, deve-se concluir da necessidade de dar corpo e fórma a lei para evitar
precipitação ou retardamento?
Quando, porém, deve-se concluir da necessidade de dar corpo e fórma à lei para evitar
precipitação ou retardamento? ( sic) Quando for sentido e notado que ela já existe no sub-
consciente do povo para quem é feita. Exemplo de uma lei precipitada seria a que, nos primeiros
anos da república brasileira, procurasse criar uma justiça especial para os litígios trabalhistas.
Exemplo de uma lei retardada: teimar em querer impôr ao povo brasileiro as velhas regras sôbre
liberdade de trabalho, contrato de trabalho, crimes contra a organização do trabalho. E' que no
sub-consciente das massas, já existiam as novas regras, do chamado - direito social, expressão
imprópria, mas comumente usada. (Lopes Gonçalves - A Constituição do Brasil).
O grande trabalho do legislador consiste em atinar com o momento próprio para lançar a lei. Não
se lhe pede que legisle, mas que declare por um escrito, a lei, o que já está costumeiramente
declarado, vive no sub-consciente da massa. O legislador, na realidade, nada deve legislar. Sua
função se deve resumir em sancionar o que já existe dentro dele próprio, não como indivíduo,
tomado isoladamente, mas como parte da coletividade. E' assim, apenas um coordenador e não um

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criador.
Daí a necessidade da criação nos Congressos, de comissões técnicas, as quais, conhecendo de
perto as questões que lhe são afetas, possam dizer da oportunidade ou não da lei a ser lançada,
elemento tão importante que o colocamos acima da questão da constitucionalidade. Se a
constituição é a vontade do povo, não há lei inconstitucional quando o povo a quer e já a segue
costumeiramente. A constituição então é que já viveu a sua vida e deve ser afastada. Das Recht
hat kein Recht immer Recht zu sein, dizem bem os germanos, ou seja: o direito não tem o direito
de sempre direito ser.
Dizer da oportunidade de uma lei, é falar de sua vida interna, que há e existe. Ninguém faz a lei -
ela se fórma e nasce do entrechoque de interesses, sem se poder dizer precisamente o tempo em
que aparecerá no mundo exterior e seu tempo de duração.
6 - LEI PENAL. LEI PENAL DO TRABALHO. DIREITO PENAL DO TRABALHO.
Vimos o que seja a norma jurídica de um modo geral, as acepções em que pode ser tomada,
requisitos, a quem cabe sua iniciativa, como obriga, até quando obriga, e quando deve ser
lançada no mundo exterior. Vejamos agora o que se deve entender por lei penal, lei penal do
trabalho, e se há realmente um direito penal do trabalho.
A lei penal, já o dissemos, (Código Penal (LGL\1940\2) Comentado. I Volume), é uma espécie da lei
jurídica, e esta fórma com a lei moral stricto sensu as duas espécies em que se divide a lei moral
latu sensu. Um esquema melhor o expõe:
Lei moral
lei moral lei física
(lato sensu)
lei jurídica
lei moral
(stricto sensu)
lei penal - (crimes contra o trabalho)
Como se vê do esquema acima, a lei penal, é, em suma, uma regra de moral. ( Jorge Severiano -
Curso de Crítica Penal). Toda lei, aliás, entroncando-se na lei moral (lato sensu) vem a ser em
última análise uma regra de moral. E daí entendermos um êrro de apreciação, dizer-se que é difícil,
distinguir uma regra de moral e outra de direito. Há, realmente, impossibilidade, desde que
constituem um só corpo. E, se percorremos a história, veremos que juntas nascem, indistintas
permanecem. (C. J. Etinger - The Problem of Crime).
Genèricamente a lei penal compreende as leis penais ou repressivas, como as leis de competência
e instrução criminal. ( Morin - Droit Penal). Sob um ponto de vista menos amplo, poder-se-ia
definí-la como uma norma reguladora do exercício do direito de punir, por parte do Estado,
promulgada segundo as formas constitucionais de cada País. Seu escôpo superior, outro não pode
ser que o de toda a lei - promover o bem geral da coletividade. (Carlos Maximiliano - Comentários
à Constituição Brasileira). Ao lado porém desta finalidade, que podemos dizer genérica, apresenta
o dispositivo penal características próprias que o fazem distinto dos demais. Lamartine, (La France
Parlamentaire), enfeixou-os bem na seguinte passagem: a justiça penal tem três objetos -
indenizar a vítima, corrigir o culpado e defender a sociedade. Naturalmente que nem sempre assim
se entendeu. (J. L. Gillin - Criminology and Penalogy). Para E. Sutherland, (Principles of
Criminology), a lei penal, antes do mais, não é uma simples compilação de prescrições escritas. A
técnica, diz Roscoe Pound, (Criminal Justice in America), usada pela côrte para interpretar e
aplicar os estatutos, são uma parte da lei e tão verdadeira quanto os estatutos.
Sob o ponto de vista estritamente teórico, podemos definir o direito penal, como o conjunto de
princípios sistematicamente organizados, que deve regular o exercício do direito de punir por parte
do Estado. Sob o ponto de vista positivo, ou objetivo, ou legal, é o conjunto de normas
reguladoras do direito de punir por parte do Estado e promulgadas segundo as formas
constitucionais de cada Estado.
Do exposto se conclue que o direito penal sob o ponto de vista objetivo é a própria lei penal. Com
von Liszt, (Tratado de Direito Penal Alemão), estamos em que seja desnecessária semelhante
distinção. Assim, como em geral, o direito é a política do poder, (von Ihering - Zweck im Recht), o
direito de punir é o poder público de punir, juridicamente limitado.
Ora, essa limitação é dada pelo direito penal no sentido objetivo e no sentido subjetivo,
significando em última análise a mesma cousa. ( Jorge Severiano - Código Penal (LGL\1940\2)
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Comentado - I Volume). Não há união de vistas entre os criminalistas no definir o direito penal.
(Pessina; Warchter; R. Vera; Haus; Impallomeni; Holtzendorf; Garraud; Carrara; Puglia etc.).
Vimos o que seja lei, lei penal, e direito penal. Vejamos agora o que se deve entender pela
expressão - direito penal do trabalho.
A primeira pergunta a ser feita, será, sem dúvida, a seguinte: há um direito penal do trabalho? E' o
que passaremos a verificar no número seguinte.
7 - DIREITO PENAL DO TRABALHO.
Direito penal, do ponto de vista teórico, podemos definir como o conjunto de princípios
sistemàticamente organizados que deve regular o exercício do direito de punir por parte do
Estado. Direito penal do trabalho, no mesmo sentido, isto é, no sentido teórico ou subjetivo, é
então o conjunto de princípios sistemàticamente organizados, reguladores do direito de punir por
parte do Estado a todas e quaisquer violações das normas estabelecidas quanto ao trabalho.
Sob o ponto de vista objetivo, direito penal do trabalho, será só e tão só o conjunto de regras
sobre a organização do trabalho contidas nos artigos 197 a 207 do Código Penal (LGL\1940\2)?
Pensamos que não. Como tal devemos considerar não só o que prescreve o Código Penal
(LGL\1940\2), como tudo o mais que conste de outras leis trabalhistas, consolidadas ou não.
Onde aparecer uma pena, de qualquer natureza, por violação de lei referente ao trabalho, também
evidentemente haverá aí um dispositivo de direito penal do trabalho, que corresponde a esta e
autoriza a aplicação daquela.
Neste caso, não são apenas os dispositivos constantes do Código Penal (LGL\1940\2), acima
apontados, que formam, com exclusividade, o direito penal do trabalho, mas a êles deverão ser
acrescidos os existentes na Consolidação das Leis do Trabalho para em conjunto caracterizarem o
Código Penal (LGL\1940\2) do Trabalho.
E' a conclusão a que o exposto nos leva para o estudo especial do direito penal do trabalho e de
suas previsões de repressão e punição. Eis as letras das leis:
1 - O atentado contra a liberdade de trabalho. (art. 197, CP (LGL\1940\2)).
2 - O atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta. (art. 198, CP
(LGL\1940\2)).
3 - O atentado contra a liberdade de associação. (art. 199, CP (LGL\1940\2)).
4 - A paralisação do trabalho seguida de violência ou perturbação da órdem. (artigo 200, CP
(LGL\1940\2)).
5 - A paralisação do trabalho de interêsse coletivo. (art. 202, CP (LGL\1940\2)).
6 - A invasão de estabelecimento. Sabotagem. (art. 202, CP (LGL\1940\2)).
7 - A frustração de direito assegurado por lei trabalhista. (art. 203, CP (LGL\1940\2)).
8 - A frustração da lei sôbre nacionalização. (art. 204, CP (LGL\1940\2)).
9 - Exercício de atividade com infração de decisão administrativa. (art. 205, CP (LGL\1940\2)).
10 - O aliciamento para fins de emigração. (art. 206, CP (LGL\1940\2)).
11 - O aliciamento em geral de trabalhadores de um local para outro do território nacional. (art.
207, CP (LGL\1940\2)).
12 - Usar de falsidades na emissão, substituição ou anotação de carteiras profissionais. (arts.49 e
50, CLT (LGL\1943\5)).
13 - Vender ou expôr à venda qualquer tipo de carteira, igual ou semelhante ao tipo oficial
adotado. (art. 51, CLT (LGL\1943\5)).
14 - Extraviar ou inutilizar carteira profissional. (art. 52, CLT (LGL\1943\5)).
15 - Reter carteira profissional. (art. 53, CLT (LGL\1943\5)).
16 - Não comparecimento do empregador, quando intimado, para anotar a carteira profissional.
(art. 54, CLT (LGL\1943\5)).
17 - Conservar empregado sem a carteira profissional. (art. 55, CLT (LGL\1943\5)).
18 - Cobrar remuneração pela entrega de carteira profissional. (art. 56, CLT (LGL\1943\5)).
19 - Violação de dispositivos sôbre jornada de trabalho, período de descanso, trabalho noturno e
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quadro de horário de trabalho. (art. 75, CLT (LGL\1943\5)).


20 - Violação de dispositivo sôbre salário mínimo. (art. 117, CLT (LGL\1943\5)).
21 - Violação do direito a férias. (art. 146, CLT (LGL\1943\5)).
22 - Infração dos dispositivos sôbre higiêne do trabalho e segurança do trabalho. (art. 223, CLT
(LGL\1943\5)).
23 - Violação de dispositivo sôbre duração e condições do trabalho. (art. 351, CLT (LGL\1943\5)).
24 - Violação de dispositivo sôbre nacionalização do trabalho. (arts. 363, 364 e parágrafo único,
da CLT (LGL\1943\5)).
25 - Violação de dispositivo referente ao trabalho da mulher. (arts. 401 e 401 §§ 1.º e 2.º, CLT
(LGL\1943\5)).
26 - Violação de dispositivos sôbre trabalho de menor. (arts 434, 435, 436, 437, 438 e 438 §
único, da CLT (LGL\1943\5)).
27 - Ato de improbidade. (art. 482, a, CLT (LGL\1943\5)).
28 - Incontinência de conduta ou máu procedimento. (art. 482, b, CLT (LGL\1943\5)).
29 - Negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador e quando
constituir ato de concorrência à emprêsa para a qual trabalha o empregado ou fôr prejudicial ao
serviço. (art. 482, c, CLT (LGL\1943\5)).
30 - Condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão
da execução da pena. (art. 482, d, CLT (LGL\1943\5)).
31 - Desídia no desempenho das respectivas funções. (art. 482, e, CLT (LGL\1943\5)).
32 - Embriaguês habitual ou em serviço. (art. 482, f, CLT (LGL\1943\5)).
33 - Violação de segredo da emprêsa. (art. 482, g, CLT (LGL\1943\5)).
34 - Ato de indisciplina ou insubordinação. (art. 482, h, CLT (LGL\1943\5)).
35 - Abandono do emprêgo. (art. 482, i, CLT (LGL\1943\5)).
36 - Ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessôa, ou ofensas
físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem. (art. 482,
j,CLT (LGL\1943\5)).
37 - Ato lesivo da honra e boa fama ou ofensas físicas praticados contra o empregador e
superiores hierárquicos, salvo no caso de legítima defesa, própria ou de outrem. (art. 482, k, CLT
(LGL\1943\5)).
38 - Práticas constantes de jogos de azar. (art. 482, l, CLT (LGL\1943\5)).
39 - Exigência de serviços superiores às fôrças do empregado ou contrários aos bons costumes ou
alheios ao contrato. (art. 483, a, CLT (LGL\1943\5)).
40 - Tratamento com rigor excessivo. (art. 483, b, CLT (LGL\1943\5)).
41 - Perigo manifesto de mal consideravel. (art. 483, c, CLT (LGL\1943\5)).
42 - Não cumprimento das obrigações contratuais. (art. 483, d, CLT (LGL\1943\5)).
43 - Suspensão por mais de trinta dias. (art. 474, CLT (LGL\1943\5)).
44 - Prática contra o empregado ou pessôa de sua família de ato lesivo da honra e boa fama. (art.
483, e,CLT (LGL\1943\5)).
45 - Ofender físicamente ao empregado salvo em legítima defesa própria ou de outrem. (art. 483,
f, CLT (LGL\1943\5)).
46 - Redução de trabalho. (art. 483, g,CLT (LGL\1943\5)).
47 - Falta contumaz de pagamento de dívidas. (art. 508, CLT (LGL\1943\5)).
48 - Dispensa, suspensão ou rebaixamento de categoria de empregado para impedir que o mesmo
se associe a sindicato. (art. 543, § 3, CLT (LGL\1943\5)).
49 - Malversação ou delapidação do patrimônio das associações sindicais. (art. 552, CLT
(LGL\1943\5)).
50 - Violação das disposições sôbre instituição sindical. (art. 553, CLT (LGL\1943\5)).

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51 - Violação dos dispositivos sôbre imposto sindical. (art. 598, CLT (LGL\1943\5)).
52 - Violação de condições ajustadas em contrato coletivo de trabalho. (art. 624, CLT
(LGL\1943\5)).
53 - Lock-out e greve. (CLT (LGL\1943\5), arts. 722, 723, 724 (25 e 24 § único).
54 - Recusa do exercício da função de vogal. (art. 726, CLT (LGL\1943\5)).
55 - Falta às sessões de Junta de Conciliação e Julgamento. (art. 727, CLT (LGL\1943\5)).
56 - Crimes contra a administração pública praticados pelos presidentes, membros, juízes, vogais
e funcionários da justiça do trabalho. (art. 728, CLT (LGL\1943\5)).
57 - Não cumprimento por parte do empregador de decisão passada em julgada sôbre readmissão
ou reintegração. (art. 729, CLT (LGL\1943\5)).
58 - Impedir o empregador que empregado seu sirva como vogal em Tribunal do Trabalho. (art.
729, § 2, CLT (LGL\1943\5)).
59 - Impedir ou procurar impedir o empregador que empregado seu preste depoimento em Tribunal
do Trabalho. (art. 729, § 2, CLT (LGL\1943\5)).
60 - Recursar-se a depôr como testemunha sem motivo justificado. (art. 730, CLT (LGL\1943\5)).
61 - Distribuir reclamação e não fazê-la tomar por termo. (art. 732, da CLT (LGL\1943\5)).
62 - Não fornecimento de informações ou dados necesssários à instrução e julgamento dos feitos
na justiça do trabalho. (arts. 735 e 735, parágrafo único).
63 - Causar o empregado dano. (art. 462 e parágrafo único, da CLT (LGL\1943\5)).
64 - Suspensão de empregado por tempo superior ao permitido em lei, e em outros casos. (arts.
346, 474, 475, 494, 495 e 497, da CLT (LGL\1943\5)).
Tais preceitos procedem do direito do trabalho, do meio de prover a subsistência e do dever de
trabalhar, fórmula constitucional nossa, desdobrada em termos essenciais por leis escritas,
formando, em conjunto, o ramo especial do sistema penal trabalhista.
8 - ALARGAMENTO DA NORMA PENAL NOS ESTADOS INTERVENCIONISTAS E NOS ESTADOS
ASSISTENTES.
Como vimos atrás, o Estado pode ser neutro, intervencionista ou apenas assistente.
Quando neutro, forma do Estado brasileiro na primeira República, traçada e regulada pela
Constituição de 1891, nada mais compreensível que sua impassividade frente às relações privadas,
especialmente no que concerne ao trabalho. Carlos Maximiliano, (Comentário à Constituição
Brasileira), tinha inteira razão quando, escreveu: Todas as profissões são lícitas, assim como os
indivíduos são iguais perante a lei; portanto não cabe ao poder público a prerrogativa de
estabelecer tabela de preço do trabalho, para certos cidadãos, sobretudo se atribue a todos os
outros o direito de recorrer ao arbitramento. E mais, agora com amparo em F. Bastos, Cooley,
Watson e Stimsons - contrasta com a garantia de contratos a lei que fixa o número de horas de
trabalho diário. Só seria possível, a bem da moral e da conservação da espécie, velar o Estado
para que não sejam exploradas pessoas dependentes de outras - as mulheres casadas, as
solteiras de menor idade, e as crianças. Os indivíduos sui juris trabalharão onde, como, e quando
quiserem. Respeitam-se as greves pacíficas, porque é um direito o deixar de trabalhar por não
convirem as vantagens ou condições oferecidas pelo industrial. Acatam-se as coalisões de
operários, embora com objetivo transitório, porém, não criminoso, em nome da liberdade de
associação. Já João Barbalho, (Constituição), acentuava: - o livre exercício de qualquer indústria,
comércio ou ofício, é um direito inherente a cada indivíduo.
Ora, como a constituição federal é a lei mater, onde todas as mais se entroncam e não a podem
contrariar, principalmente no que tenha de institucional, a consequência lógica foi, e não podia
deixar de ser, enquanto vigente, a forma estatal da primeira República, permanecer a lei penal,
também, mais ou menos neutra, diante das relações do trabalho, como se vê do Código Penal
(LGL\1940\2) revogado.
De fato, o Código Penal (LGL\1940\2) de 1890, como se infere da leitura dos seus artigos 204, 205
e 206, foi de uma estreiteza marcante no que diz respeito aos crimes contra o trabalho e tinha
que ser, atendendo ao rítmo constitucional dominante. Eis o que preceituavam os mencionados
artigos:
Artigo 204 - Constranger ou impedir alguém de exercer a sua indústria, comércio ou ofício; de abrir
ou fechar os seus estabelecimentos e oficinas de trabalho ou negócio; de trabalhar ou deixar de

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trabalhar em certos dias.


Artigo 205 - Seduzir ou aliciar operários ou trabalhadores para deixarem os estabelecimentos em
que forem empregados, sob promessa de recompensa ou ameaça de algum mal. (Modificado pelo
decreto n.c 1.162, de 1, 2de Dezembro de 1890 - sic).
Artigo 206 - Causar ou provocar cessação ou suspensão de trabalho, para impôr aos operários ou
patrões, aumento ou diminuição de serviço ou salário. (Modificado, também pelo decreto n.º 1.162
de 1890).
Estabelecido um paralelo entre o que prescreve o aludido Código e o que determina o atual, dúvida
não padece que um alargamento houve e bem pronunciado da norma penal no que diz respeito
aos crimes contra o trabalho, afetando mesmo a legislação civil e comercial, como se conclue dos
artigos 197, 198 e 203 do Código Penal (LGL\1940\2) vigente. De fato, o que eram apenas normas
de direito privado, passaram a ser normas de direito público. Antes, possível era, exigir o
empregador do empregado:
A) Trabalhar ou não trabalhar durante certo período.
B) Trabalhar ou não trabalhar em determinados dias.
C) Atentar contra a sua liberdade de trabalho.
D) Frustrar direito que lhe haja assegurado a lei.
Por estes atos, responderia apenas, pelos danos que ocasionasse e fossem reconhecidos.
Hoje, não. Elevada foi tal norma de direito privado a instituto de caráter público, e não só pelos
danos resultantes responde, mas também incorre num dispositivo penal se a viola, acompanhada a
violação de certos requisitos.
E nada mais natural assim seja. E' que o Estado brasileiro deixou de ser neutro frente as relações
do trabalho. E' exato que não foi ao extremo, como já assim assinálamos, do intervencionismo
puro, mas não deixou de assumir uma fórma de assistência bem pronunciada, principalmente no
que diz respeito as chamadas leis-sociais, como de uso frequente se as qualificam.
A tendência moderna, aliás, é evidentemente, no sentido do alargamento da intervenção do
Estado nas relações particulares, havendo quem propugne até por um maior arbítrio concedido aos
seus representantes na apreciação dos fatos discutidos em juizo. Carece o juiz, diz Waldemar
Ferreira, (Principios de Legislação Social e Direito Judiciario do Trabalho), mercê da organização
judiciaria e do sistema processual vigentes, de poder de iniciativa. A sua inércia condiz com a
velha concepção de ser o processo a luta entre os litigantes, resquício do conceito individualista
predominante no processo, hoje abalado pelas doutrinas modernas. Já ponderou isso, entre
inúmeros outros, José Alberto dos Reis. (Breve Estudo sôbre a Reforma do Processo Civil e
Comercial). Embora critique os exageros neste sentido do Código do Processo em vigor, não nega
W. Ferreira, que há realmente necessidade de emprestar ao juiz maior atividade em prol do bem
coletivo, ainda quando sòmente do interêsse do indivíduo se cuide. E conclue: com o crescimento
progressivo da ação social do Estado, mais envolvente e vigorosa, com a sua intervenção
contínua e persistente, por via de extravasamento, na zona que delimitavam os interesses
privados - tem-se acrescido, correspondentemente, sua função jurisdicional, exercitada pelo
mesmo organismo, ampliada apenas a sua competência.
Luigi de Litala, (Diritto Penale del Lavoro e della Pubblica Economia), já observara êste
alargamento da norma penal. À pergunta: diritto privato o pubblico? Responde - o sistema jurídico
do trabalho não pode adaptar-se às regras do direito privado comum, dominado pela vontade
privada ladove il sistema del lavoro é pervaso dall'interesse sociale. Hoje o direito do trabalho,
como acentúa Carnelutti (Sindicalismo), é penetrato nel cuore del diritto pubblico, cioé nel diritto
constituzionale. Assim a lei sobre emprêgo privado, que foi uma das primeiras, esclarece Litala, a
regular as relações de trabalho, constitue um complexo de normas que encontram a sua
justificação na natureza social das relações do trabalho, valendo por desvios e eceções do direito
comum. Quando se sancionam disposições sôbre o trabalho da mulher e dos menores, quando se
regula a matéria de acidentes, quando se impõe repouso e horário, si determina un insieme di
norme il cui contenuto é di caratteer essenzialmente sociale.
9 - PENA. CONCEITO. EVOLUÇÃO.
Em comentário ao Código Penal (LGL\1940\2) em vigor já escrevemos o seguinte e não tememos
em reafirmar. No periodo da história da humanidade chamado da caça e da pesca não é possível
falar-se de delitos nem penas. ( Vaccaro - Genese e Função das Leis Penais). Cada um defende-
se e ataca como pode. Seguiu-se o período de vingança ou guerra privada e privação da paz
social. (Von Liszt, Tácito, Du Boys, Girardin). Êste estado de cousas não poderia ser eterno.

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(Hudelot e Metman, Ettinger). E veiu o sistema da composição. (Hastings, Gillin, Tyles). Só muito
tempo depois a composição facultativa se tornou obrigatória. (Grapali). Muitos escritores
sustentam que a pena é uma expressão de vingança. (Sutherland).
Várias são as teorías que objetivam o definir do direito de punir. ( Rossi, Carpenter, Hobbes,
Loecke, Vatel, Becaria, Girardin, Rousseau, Pastorel, Boistel, Filangieri, Schmalz, Pagano, Pessina,
Tissot, Tocqueviile, Romagnosi, Carminagi, Kant, Ahrens, Carrara).
Sendo o crime, diz-se, um ente jurídico, que se contrapõe ao direito violando a segurança e a
tranquilidade do cidadão, a pena deve ser a média da reintegração desta violação, a reafirmação
do direito, a reconstrução da segurança e tranquilidade dos cidadãos turbados pela ação humana.
Seja intimidação, expiação, vingança, o certo é que a pena não tem parado no seu evoluir. Já se
esboçam os bons frutos originários das sementes lançadas por Bonneville. (Tratado das Diversas
Instituições Complementares do Regimen Penitenciário). No momento em que vivemos, a sociedade
pune, como meio de defender-se, visando com a pena corrigir e não vingar-se. O critério da lei
punitiva passou a ser a justa e reta moderação da liberdade individual e da temibilidade do réu,
para o fim primordial da sociedade. (Bonnano - Il Delinquente per Passione). Un code vraiment
sage, adapté aux besoins d'un mileu elevé, réprime en redressant, non pas en detruissanti. (Corre
- Les Criminels).
O problema do fundamento da pena, diz Roberto Lyra amparando-se em Radbruch, (Filosofia do
Direito), corresponde àquela determinada época histórica em que o indivíduo enfrentou o Estado
como coisa estranha. E acrescenta, agora apoiando-se em E. Gomes, (A Função Social da Pena):
- os princípios filosóficos já não são a base indispensável ou a premissa obrigatória dos estudos
criminológicos. Investigar o fundamento do direito de punir é tarefa inútil, quando a necessidade
das sanções, que esse direito estabelece, não se põe em tela. Se a defesa social reclama,
iniludivelmente, o emprêgo de medidas coercitivas, a legitimidade destas não reclama
demonstração. Em geral, conclue, quando se tem perguntado pelo fundamento e o fim da pena,
apresenta-se não já um problema de direito penal, mas um problema de filosofia jurídica, uma
razão última que está acima da construção interna de qualquer direito dado.
10 - AS PENAS NO DIREITO DO TRABALHO.
Quem quer que leia o Código Penal (LGL\1940\2) vigente e a Consolidação das Leis do Trabalho,
chegará fatalmente a conclusão de que as penas por violação de dispositivos da legislação
trabalhista são as seguintes:
Prisão (reclusão ou detenção).
Multa.
Recisão automática do contrato de trabalho.
Pagamento em dobro.
Suspensão.
Perda do cargo.
Perda de vencimentos.
Perda do direito de reclamar.
Revelia.
Confissão.
Perda do pátrio poder.
Destituição da tutela.
Desconto.
Fechamento de sindicato.
Cassação de licença.
Expulsão.
Perda da remuneração.
11. PENA DE PRISÃO
A pena de prisão nos crimes contra o trabalho tem aplicação nos seguintes casos:
1 - Atentado contra a liberdade de trabalho. (art. 197, CP (LGL\1940\2)).
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2 - Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta. (art. 198, CP


(LGL\1940\2)).
3 - Atentado contra a liberdade de associação. (art. 199, CP (LGL\1940\2)).
4 - Paralisação de trabalho seguida de violência ou perturbação da órdem. (art. 200, CP
(LGL\1940\2)).
5 - Paralisação de trabalho de interêsse coletivo. (art. 201, CP (LGL\1940\2)).
6 - Invasão de estabelecimento. Sabotagem. (art. 202, CP (LGL\1940\2)).
7 - Frustração de direito assegurado por lei trabalhista. (art. 203, CP (LGL\1940\2)).
8 - Frustração da lei sôbre nacionalização do trabalho. (art. 204, CP (LGL\1940\2)).
9 - Exercício de atividade com infração de decisão administrativa. (art. 205, CP (LGL\1940\2)).
10 - Aliciamento de trabalhadores em geral para fins de emigração ou transferência de um local
para outro. (arts. 206 e 207, CP (LGL\1940\2)).
11 - Usar de falsidades na emissão, substituição ou anotação de carteiras profissionais. (arts. 49
e 50, CLT (LGL\1943\5)).
12 - Ato de improbidade. (CLT (LGL\1943\5), art. 482, a, arts. 152, 155, 157, 161, 162, 163, 168,
171, 180, 184, 187 e 192 do CP (LGL\1940\2) e os crimes contra a fé pública).
13 - Violação de segredo. (art. 482, g, da CLT (LGL\1943\5) e art. 154 do CP (LGL\1940\2)).
14 - Ato lesivo da honra. (art. 482, j, da CLT (LGL\1943\5) e Código Penal (LGL\1940\2) - injúria,
calúnia e difamação).
15 - Ofensas físicas. (art. 482, j e k, da CLTe Código Penal (LGL\1940\2), Título I, capítulo II).
16 - Malversação ou delapidação do patrimônio das associações sindicais. (CLT (LGL\1943\5), art.
552 e Decreto-lei n.º 869, de 18 de Novembro de 1938, que define o crime contra economia
popular).
17 - Atos criminosos contra a administração pública, praticados pelos presidentes, membros,
juizes, vogais e funcionários auxiliares da Justiça do Trabalho, (art. 728 da CLT (LGL\1943\5) e
Título XI do Código Penal (LGL\1940\2)).
O Código Penal (LGL\1940\2), já o dissemos ( Jorge Severiano - Comentários ao Código Penal
(LGL\1940\2), volume II), divide as penas em principais e accessórias. São penas principais:
reclusão, detenção e multa. São penas accessórias: a perda de função pública, eletiva ou de
nomeação, as interdições de direitos, a publicação da sentença. Entre as penas principais não
cogita da pena de morte. Dela, porém, nos dá notícia a Constituição Federal (LGL\1988\3), no seu
artigo 122 n. 13.
J. L. Gillin, diz mui acertadamente o seguinte: No presente momento o sistema de punir prendendo
é o mais importante. Não foi, porém, sempre assim - it was no always so however. A prisão é um
sistema relativamente moderno, e com êle concorda Roberto Lyra. (Comentários ao Código Penal
(LGL\1940\2), volume II). Estas palavras do notavel professor norte-americano servem para
acordar na memória de todos que a prisão não foi a primeira ou uma das primeiras penas usadas,
pela humanidade, na repressão do crime. Clarence Darrow, (Crimes, its Cause and Treatment),
talvez tenha razão quando assinala: Prisons came into fashion later than death penalty.
Qual tenha sido na realidade a primeira pena de que se lançou mão para reprimir o crime, não se
pode dizer. O certo é que a pena de morte foi uma das primeiras. Matar o ofensor era uma
penalidade comum. ( Robertson Smith - Religions of Semites). A pena de morte é - coeva all'idea
stessa di penalitá. (Meccaci - Diritto Penale). Parecerá isto uma fantasia pela distância em que
nos encontramos da época em que tal sucedera. Esta, porém, é a verdade. (Bronislaw Malinovski -
Crime and Custom in Savage Society).
O cárcere, diz C. J. Ettinger, (The Problem of Crime) - is the oldest and most important of penal
institutions. Aí se entroncam as primeiras prisões. A prisão na época selvagem jamais foi usada. A
Grécia quasi não a usou. (P. Vinogradoff - Outlinies of Historical Jurisprudente). Também Roma,
quando República, (E. Sutherland - Principles of Criminology). Na França medieval, a prisão foi
quasi desconhecida. (Carl L. von Bar - A History of Continental, Criminal Law). A Igreja também já
fez uso da pena de prisão, principalmente durante a época da inquisição. (G. Ives - A History of
Penal Methods).
12 - PENA DE MULTA.
A pena de multa nos crimes contra o trabalho tem aplicação nos seguintes casos:
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1 - Venda ou exposição à venda de qualquer tipo de carteira igual ou semelhante ao tipo


oficialmente usado. (art. 51, CLT (LGL\1943\5)).
2 - Extraviar ou inutilizar carteira profissional. (art. 53, CLT (LGL\1943\5)).
3 - Retenção de carteira profissional. (art. 53, CLT (LGL\1943\5)).
4 - Não comparecimento do empregador quando intimado para anotar a carteira. (art. 54, CLT
(LGL\1943\5)).
5 - Conservação de empregado sem carteira profissional. (art. 55, CLT (LGL\1943\5)).
6 - Cobrar remuneração pela entrega de carteira profissional. (art. 56, CLT (LGL\1943\5)).
7 - Violação dos dispositivos sôbre jornada de trabalho, período de descanso, trabalho noturno e
quadro de horário de trabalho. (art. 75, CLT (LGL\1943\5)).
9 - Violação do direito de férias. (art. 146, CLT (LGL\1943\5)).
10 - Violação dos dispositivos sôbre higiêne do trabalho e segurança do trabalho. (art. 223, CLT
(LGL\1943\5)).
11 - Violação dos dispositivos sôbre duração e condições do trabalho. (art. 351, CLT
(LGL\1943\5)).
12 - Violação dos dispositivos sôbre nacionalização do trabalho. (arts. 363, 364 e 364, parágrafo
único, da CLT (LGL\1943\5)).
13 - Violação dos dispositivos sôbre a proteção do trabalho da mulher. (art. 401 da CLT
(LGL\1943\5) e seus §§).
14 - Violação dos dispositivos referentes ao trabalho da mulher. (arts. 434, 435, 436, 437 e 438,
da CLT (LGL\1943\5)).
15 - Dispensa, suspensão ou rebaixamento de categoria. (art. 543, parágrafo único, CLT
(LGL\1943\5)).
16 -Violação dos dispositivos sôbre instituição sindical. (art. 553, CLT (LGL\1943\5)).
17 - Violação dos dispositivos sôbre imposto sindical. (art. 598, CLT (LGL\1943\5)).
18 - Violação das condições ajustadas em contrato coletivo. (art. 624, CLT (LGL\1943\5)).
19 - Exercício de lock-out e greve. (art. 722, a, CLT (LGL\1943\5)).
20 - Recusa de função de vogal. (art. 726, CLT (LGL\1943\5)).
21 - Não cumprimento de decisão passada em julgado. (art. 729, CLT (LGL\1943\5)).
22 - Impedir que o empregado sirva de vogal. (art. 729, § 1.º, CLT (LGL\1943\5)).
23 - Impedir ou procurar impedir que o empregado sirva como testemunha. (art. 729, §§ 1.º e 2.º,
CLT (LGL\1943\5)).
24 - Recusa de depôr como testemunha. (art. 730, CLT (LGL\1943\5)).
25 - Exercício da profissão de químico sem satisfazer certas condições. (art. 347, CLT
(LGL\1943\5)).
A pena pecuniária, diz E. Sutherland, (Financial Penalties), seja sob a fórma de confisco, seja sob
a fórma de multas - have existed in most literate societies. Desenvolveu-se do seguinte modo:
quando um indivíduo era prejudicado por outro, êle podia exigir certa reparação, dependendo o
valor desta, da extensão do dano causado e da posição do prejudicado. (Du Boys, - Direito Penal
dos Povos Antigos). Quanto ao rei, exigia êle uma parte da reparação cobrada, ou mesmo um
pagamento adicional, sob o pretexto das despesas com o julgamento e ainda, porque o fato, em
si, prejudicava a paz. (Jorge Severiano - Comentários ao Código Penal (LGL\1940\2), volume 2). A
multa na sua origem, foi mais uma matéria da côrte civil que da côrte criminal.
Acreditam alguns escritores, diz E. Sutherland, (Principles of Criminology), que - the fine as a
payment to the Court was relatively late in its origin. Assim pensam Hobhouse, Wheler e Ginsberg.
Observa J. L. Gillin, (Jail, Workhouses and Houses of Correction), que grande número de indivíduos
recolhidos à prisão não podem pagar multa. E adverte: if the pratice grows of allowing them to
pay their fines ons the instalment plan under careful supervision of probation officers, the need of
jail will be very greatly decreased.
F. Meccaci, (Trattato de Diritto Penale), cogitando da origem das penas pecuniárias as dá como
existentes mesmo na legislação mosáica. Em Roma, partindo do direito civil, penetraram elas no
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direito penal. Ruido o império romano, vamos encontrá-las na legislação medieval. Muito comum foi
até a sua aplicação sob a forma horrível do confisco integral. Segundo Beaumont e Alexis
Tocqueville, (Sistéme Penitentiaire aux Étas-Unis), as antigas leis americanas sôbre multas e não
pagamento eram muito rigorosas. Como todas as instituições inglesas, acrescentam: elles étaient
surtout dures pour le pauvre.
A multa, porém, dir-se-á, imposta pelas violações de dispositivos trabalhistas, não constitue
pròpriamente uma pena. Pensamos de modo diferente. Pena é tudo que de algum modo restrinja
ou suprima a liberdade, diminua o patrimônio, ou venha a abolir ou suspender um direito. Por assim
pensarmos, é que sempre, contràriamente a vários penalistas, ( Alimena, Mittemair, Garraud,
Stoos, etc.), consideramos a própria medida de segurança uma pena. (Jorge Severiano -
Comentários ao Código Penal (LGL\1940\2), volume 2).
Ademais, seria contrariar a própria lei sustentar que a multa pelas violações de dispositivos da
legislação do trabalho, não constitue uma pena, quando ela como tal a considera e o problema
claramente.
Fácil é a demonstração, e decorre da simples leitura dos dispositivos ou títulos da Consolidação
das Leis do Trabalho, abaixo transcritos:
Artigo 21, § 2.º - No caso de extravio ou inutilização da carteira profissional, por culpa do
empregador ou preposto seu, aquêle terá de custear as despesas do processo de emissão, além
de se sujeitar às penas cominadas nesta lei.
Artigo 763 - O processo da Justiça do Trabalho no que concerne aos dissídios individuais e
coletivos, e à aplicação de penalidades, reger-se-á em todo o território nacional pelas normas
estalecidas neste título.
Artigo 903 - As penalidades estabelecidas neste título, etc.
E assim em vários outros dispositivos: capítulo I do Título I, secção VII; capítulo 2 do Título 2,
secção VI; capítulo V do Título 2, secção III; capítulo 3 do Título 3, secção VI; capítulo VI do
Título 3, secção V; capítulo I do Título 5, secção VIII; capítulo 2 do Título 5, secção IV; capítulo
7 do Título VI, secção I; capítulo 7 do Título VI, secção 2; capítulo 7 do Título VI, secção III.
13 - PENA DE RESCISÃO AUTOMÁTICA DO CONTRATO DE TRABALHO.
A pena de recisão automática do contrato de trabalho tem lugar quando ocorre qualquer das
hipóteses abaixo mencionadas:
1 - Ato de improbidade. (art. 482, a, CLT (LGL\1943\5)).
2 - Incontinência de conduta ou máu procedimento. (art. 482, b, CLT (LGL\1943\5)).
3 - Negociação habitual por conta própria ou alheia. (art. 482, c, CLT (LGL\1943\5)).
4 - Condenação criminal do empregado passada em julgado. (art. 482, d, CLT (LGL\1943\5)).
5 - Dissídia no desempenho das funções. (art. 482, e, CLT (LGL\1943\5)).
6 - Embriaguês habitual ou em serviço. (art. 482, f, CLT (LGL\1943\5)).
7 - Violação de segrêdo da emprêsa. (art. 482, g, CLT (LGL\1943\5)).
8 - Ato de indisciplina ou insubordinação. (art. 482, h, CLT (LGL\1943\5)).
9 - Abandono de emprêgo. (art. 482, i, CLT (LGL\1943\5)).
10 - Ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas. (art. 482, k, CLT (LGL\1943\5)).
11 - Prática constante de jogos de azar. (art. 482, l, CLT (LGL\1943\5)).
12 - Falta contumaz de pagamento de dividas. (art. 508, CLT (LGL\1943\5)).
A mesma objeção quanto à multa, isto é, de não se poder considerá-la pròpriamente uma pena,
poderá ser aqui repetida. Não procede ela porém, como o demonstraremos linhas adiante.
Pena é tudo quanto obsta a liberdade de ir e vir livremente ou que afeta o patrimônio ou que
suprima ou restrinja um direito. Ora, da leitura atenta do artigo 482, da Consolidação das Leis do
Trabalho que reza:
" - constitue justa causa para recisão do contrato de trabalho pelo empregador,
a prática dos fatos acima apontados", resulta evidente que elevou a lei a categoria de verdadeira
pena a recisão do contrato de trabalho, pois com ela se suprime um direito, isto é, o direito de
trabalhar para certo empregador, e com certas garantias - férias, estabilidade, etc.

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A lei, deve-se ter em vista, não diz: poderá o empregador pleitear a recisão do contrato. Proclama
imperativamente: constitue justa causa para a recisão. E' evidente aqui a existência de um
julgamento por antecipação. Onde uma das causas acima apontadas apareceça, a recisão se
operará automàticamente em fórma de verdadeira pena.
E parece-nos, outro não ter sido o pensamento do legislador. Tanto assim, que da leitura dos
dispositivos referentes à recisão contratual constantes da Consolidação das Leis do Trabalho,
resulta iniludível, que ela a divide em duas categorias:
A - Recisão automática (verdadeira pena).
B - Recisão pleiteavel.
Recisão automática: artigo 482 e suas letras.
Recisão pleiteavel, segundo a vontade de uma das partes: artigos 483, 483 § 1.º, 483 § 2.º, 446,
parágrafo único, etc.
Artigo 483 - O empregado poderá considerar recindido o contrato e pleitear a devida indenização,
etc.
Artigo 483, § 1j - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou recindir o contrato,
etc.
Artigo 483, § 2.º - No caso de morte do empregador constituido em emprêsa individual, é
facultado ao empregado recindir o contrato.
Artigo 446, § único - Ao marido ou pai é facultado pleitear a recisão do contrato, etc.
Como se vê, grande é a diferença de tratamento. Enquanto em uma hipótese (recisão
automática), há um julgamento por antecipação, proclamando justa, (perfeita, jurídica), a recisão;
em outra, (recisão pleiteavel) às partes se transfere o direito de discutir ou não o fato.
Alegar-se-á que nos próprios chamados casos de justa causa para recisão, especificados em lei,
as partes poderão valer-se ou não do ocorrido, proclamando ou não a recisão, o que tira a
penalidade imposta o caráter de pena. O argumento, porém, não procede. Ninguém, também, nos
casos de furto ou outro crime, impõe ao lesado dar a queixa e ventilar a ação penal. Às vezes o
perdão sujeita o fato a permanecer em silêncio. Porque tal seja possível, porém, ninguém irá
sustentar não tenha o caráter de pena verdadeira a penalidade imposta a tais crimes.
14 - PENA E PAGAMENTO EM DOBRO.
A pena de pagamento em dobro é uma modalidade da pena de multa, sendo como é em essência,
uma espécie de pena pecuniária. A ela aplicam-se assim, todas as observações que já fizemos a
respeito de tal forma de penalidade, em notas anteriores. Ocorre pena de pagamento em dobro
nos seguintes casos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho:
1 - Não pagamento na época determinada da parte incontroversa do salário. (Consolidação das
Leis do Trabalho artigo 467).
2 - Dispensa de empregado com o fim de evitar adquira êle a estabilidade. (Consolidação das Leis
do Trabalho artigo 499).
3 - Nos casos de lock-out sendo o empregador concessionário de serviço público. (Consolidação
das Leis do Trabalho artigo 722, § 1.º).
4 - Nos casos de instigação a greve ou lock-out, quando se trate de serviço público ou haja
violência contra pessôa ou cousa. (art. 725, § 1.º, CLT (LGL\1943\5)).
15 - PENA DE SUSPENSÃO.
A suspensão tanto pode ser pena de caráter pecuniário, como de efeito apenas moral. Tudo
depende do modo por que seja aplicada: com perda ou não dos vencimentos. A interdição é uma
figura distinta da suspensão. Num caso, diz bem Manzini, (Trattato di Diritto Penale), se veda a
capacidade de exercício. Em outro - si limita a sospendere per un certo tempo la capacitá del
esercicio. Traga consigo a suspensão, a perda ou não dos vencimentos, o exato é que ela não
deixa de ser, em qualquer caso, uma verdadeira pena, já que, usando da expressão de J. Maxwell,
(O Crime e a Sociedade), intimida, representando uma certa quantidade de sofrimento para o
agente. Em qualquer de tais hipóteses se apresenta justa e útil, como a querem Bentham e Mill,
completando Kant, que a entendia bôa, desde que haja um culpado, esquecendo como salienta
Proal, (Le Crime et la Peine) - l'utilité qui peut revenir de la punition - de que falam Grotius e Haus.
A pena de suspensão, segundo a Consolidação das Leis do Trabalho, tem lugar nos seguintes
casos:

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Artigo 346 - Será suspenso do exercício de suas funções, independentemente de outras penas em
que possa incorrer, o químico, inclusive o licenciado, que incidir em algumas das seguintes faltas:
A - revelar improbidade profissional, dar falso testemunho, quebrar o sigilo profissional e promover
falsificações, referentes a prática de atos de que trata esta secção.
B - concorrer com seus conhecimentos científicos para a prática de crime ou atentado contra a
pátria, a ordem social ou a saude.
C - deixar, no prazo marcado nesta secção, de requerer a revalidação e registo de diploma
estrangeiro ou o seu registo profissional no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
Parágrafo único - O tempo de suspensão a que alude este artigo variará entre um mês e um ano,
a critério do Departamento Nacional do Trabalho, após processo regular, ressalvada a ação da
justiça pública.
Artigo 494 - O empregado acusado de falta grave poderá ser suspenso de suas funções, mas a
sua despedida só se tornará efetiva após o inquérito em que se verifique a procedência da
acusação. (Capítulo sôbre a estabilidade).
Artigo 722 - Os empregadores que, individual ou coletivamente, suspenderem os trabalhos dos
seus estabelecimentos, etc., ou que violarem ou se recusarem a cumprir decisão proferida em
dissídio coletivo, incorrerão na suspensão, pelo prazo de dois anos a cinco anos, do direito de
serem eleitos para cargos de representação profissional.
Artigo 723 - Os empregados que coletivamente e sem prévia autorização do tribunal competente,
abandonarem o serviço ou desobedecerem a qualquer decisão proferida em dissídio, incorrerão na
penalidade de suspensão, pelo prazo de dois anos a cinco anos, do direito de serviço, eleitos para
cargo de representação profissional.
Deixamos de incluir como pena de suspensão o que prescrevem os artigos 475 e 843, § 1.º,
porque não apresentam tal caráter.
Convém salientar que a suspensão do empregado por mais de 30 dias consecutivos, importa na
recisão injusta do contrato de trabalho.
16 - PENA DE PERDA DO CARGO.
A pena de perda do cargo será imposta segundo a Consolidação das Leis do Trabalho, nos
seguintes casos:
1 - Falta consecutiva a três reuniões ou sessões pelo vogal. (art. 727, CLT (LGL\1943\5)).
2 - Falta por igual tempo pelo Presidente. (art. 727, parágrafo único, CLT (LGL\1943\5)).
3 - Suspensão do serviço ou desobediência às decisões dos tribunais do trabalho, ordenada por
associação profissional, sindical ou não de, empregados ou empregadores. (art. 724, b, CLT
(LGL\1943\5)).
17 - PENA DE PERDA DE VENCIMENTOS.
A perda de vencimentos é uma modalidade da pena pecuniária. Tem lugar tal pena no seguinte
caso, consoante a Consolidação das Leis do Trabalho:
Artigo 727, § único - Se a falta (refere-se as reuniões) - fôr do presidente, incorrerá êle na pena
de perda do cargo, além da perda de vencimentos correspondentes aos dias em que tiver faltado
às audiências ou sessões consecutivas.
Vencimento, define o Estatuto dos Funcionários (artigo 107), é a retribuição paga ao funcionário
pelo efetivo exercício do cargo correspondente ao padrão fixado em lei. Remuneração, é a
retribuição paga ao funcionário pelo efetivo exercício do cargo, correspondente a dois terços do
padrão de vencimentos e mais as quotas ou percentagem que, por lei lhe tenham sido atribuidas
(artigo 108). A lei, como se vê acima, tem finalidade de alcance geral, abrangendo o funcionário
efetivo ou quem exerça o cargo interinamente.
18 - PENA DA PERDA DO DIREITO DE RECLAMAR.
O empregado perde o direito de reclamar, segundo a Consolidação das Leis do Trabalho, quando:
1 - Feita uma reclamação verbal não se apresente dentro de certo prazo para fazê-la tomar por
termo. (art. 731 da CLT (LGL\1943\5)).
2 - Quando, por duas vezes seguidas der causa ao arquivamento por não comparecimento, a
audiência. (art.732 da CLT (LGL\1943\5)).
Não se trata, porém, de decadência, no sentido absoluto do vocábulo, como bem a fixa e define
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A. Fernandes, diferenciando-a do instituto da prescrição. (Curso de Direito Civil Brasileiro). O


direito aqui, a despeito da inércia do seu titular não perece, já que poderá a reclamação ser
renovada.
19 - PENA DE REVELIA.
A pena de revelia será imposta, diz a Consolidação das Leis do Trabalho, quando o reclamado não
comparece à audiência. (Artigo 844).
O não comparecimento dos litigantes em juizo, diz W. Ferreira, (Princípios de Legislação Social e
Direito Judiciário do Trabalho), seja o do autor para propôr a causa, seja a do réu para defender-
se, chama-se contumácia, que João Mendes Júnior, definia como consistente em não atender a
um despacho ou mandado do juiz. Revelia, ensina, é o estado ou qualidade do que é revel e este
vocábulo designa a parte que, sendo citada, não acode a citação. Citação é o chamamento de
alguém a juizo para ver-se-lhe propôr a ação. Notificação e intimação são cousas diferentes.
Notificação é a ciência de um preceito para a prática ou não prática de um ato. Intimação, é a
certeza dada às partes de um despacho ou sentença. Como bem observa Cesarino Júnior (Direito
Processual do Trabalho), na Justiça do Trabalho a palavra notificação tem o mesmo significado
que citação. E' possível que se trate de um êrro de técnica, acrescenta, mas o exato é que os
próprios praxistas, em êrro igual têm incorrido. (Gusmão - Processo Civil e Comercial). Galdino
Siqueira, porém, adota a distinção acima apontada. (Curso de Processo Criminal).
20 - PENA DE CONFISSÃO QUANTO À MATÉRIA DE FATO.
A pena de confissão quanto à matéria de fato ocorre quando o reclamado não acode à audiência
para a qual foi notificado. E' o que escreve a Consolidação das Leis do Trabalho (Artigo 844).
A contumácia do reclamado, adverte W. Ferreira, é punida muito severamente. E acentua: a
revelia é pena. Sofre-a a parte, o réu comumente que não atende a citação. Prossegue o feito, a
despeito de seu não comparecimento, à sua revelia. Mas, não apenas isso acontece na lide
trabalhista. A ausência do reclamado, importará também em confissão quanto à matéria de fato.
Que a revelia constitue uma pena, na processualística comum, ninguém o contesta. Igualmente na
legislação do trabalho. Trata-se, porém, de pena purgável em certos casos. É o que se vê do §
único do artigo 844. Tal, entretanto, não lhe retira o caráter de verdadeira pena, permitindo como
permite o curso da ação na audiência do interessado e mais ainda, valendo como vale pela sua
confissão quanto à matéria de fato.
21 - PENA DE PRIVAÇÃO DO PÁTRIO PODER E DESTITUIÇÃO DE TUTELA.
Preceitua a Consolidação das Leis do Trabalho o seguinte:
Artigo 437 - O responsável legal do menor empregado, que infringir o dispositivo deste capítulo
(Proteção do Trabalho do Menor), ou deixar de cumprir os deveres que nele lhe são impostos, ou
concorrer, na hipótese do § 2.º do artigo 419, para que o menor não complete a sua
alfabetização, poderá, além da multa, em que incorrer, ser destituido do pátrio poder ou da tutela.
Parágrafo único - Perderá o pátrio poder ou será destituído da tutela o pai, mãe ou tutor, que
concorrer por ação ou omissão, para que o menor trabalhe nas atividades previstas no § 1.º do
artigo 405.
Entre as penas accessórias, diz Morin, (Droit Criminel), no direito penal, se encontra a interdição
legal e a interdição de certos direitos. A interdição ensina Costa e Silva, (Código Penal
(LGL\1940\2)), consiste na privação, transitória ou permanente, de certos direitos ou da
possibilidade de os adquirir. Essa privação se funda em um ou outro dos dois motivos seguintes:
na ausência de idoneidade por parte do respectivo titular, ou da pessôa que os pretende adquirir;
ou na falta da necessária capacidade para o exercício de certas artes ou profissões.
Há quem conteste seja a interdição uma pena, dando-a antes, como um efeito da condenação,
mesmo entre nós. Assim Macedo Soares, (Código Penal (LGL\1940\2)), e J. Vieira, (Código Penal
(LGL\1940\2)). Muitos outros sustentam tese oposta, enfileirando-se entre eles Galdino Siqueira.
Para o Código Penal (LGL\1940\2) vigente a interdição é pena, pena accessória, mas pena. Frente
a Consolidação das Leis do Trabalho, como acima se vê, não tem ela o caráter de pena
meramente accessória. Pode ter lugar por ação ou omissão do agente. Segundo o Código Civil
(LGL\2002\400) brasileiro estão sujeitos ao pátrio poder os filhos legítimos, os legitimados, os
legalmente reconhecidos e os adotivos. Durante o casamento exerce o pátrio poder o marido e na
falta ou impedimento a mulher. Sempre que no exercício do pátrio poder colidirem os interêsses
dos pais com os do filho, a requerimento dêste ou do Ministério Público, o juiz lhe dará curador
especial. Perde o pátrio poder, segundo a legislação civil:
1 - O pai que castigar imoderadamente o filho.

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2 - O pai que o deixar em abandono.


3 - O pai que praticar atos contrários à moral e aos bons costumes.
A tutela pode ser legítima ou dativa. A lei compreende todas as espécies de tutela pois não faz
especificação alguma.
22 - PENA DE DESTITUIÇÃO.
A pena de destituição não atinge apenas o tutor. De acôrdo com a Consolidação das Leis do
Trabalho, é também imposta em outros casos. Por exemplo, aos diretores e membros de sindicatos
por violação de disposições do capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho. (Artigo 553, letra
c).
23 - PENA DE DESCONTO LÍCITO.
Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado. Esta regra,
porém, sofre uma exceção. Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito.
Para que tal possa ocorrer é preciso:
1 - Ou que a possibilidade do desconto tenha sido acordada;
2 - Ou que tenha o empregado agido com dolo.
E', pelo menos o que dispõe o artigo 462 e 462, § único da Consolidação das Leis do Trabalho. O
desconto é uma modalidade de pena pecuniária.
24 - PENA DE FECHAMENTO DE SINDICATO.
Entre as penas impostas pelas infrações do capítulo da Consolidação das Leis do Trabalho sôbre
os sindicatos figura o do seu fechamento por seis meses, trate-se de sindicato, federação ou
confederação. É o que determina o artigo 553 letra d da Consolidação das Leis do Trabalho.
25 - PENA DE CASSAÇÃO DE CARTA DE RECONHECIMENTO.
Pelas infrações praticadas de dispositivos acerca dos sindicatos várias penas podem ser impostas.
Entre elas figura a cassação da carta de reconhecimento. (Consolidação das Leis do Trabalho,
artigo 553 letra e).
26 - PENA DE CASSAÇÃO DA CONCESSÃO OU AUTORIZAÇÃO PARA FUNCIONAR.
As infrações do capítulo da Consolidação das Leis do Trabalho sôbre a nacionalização do mesmo
serão punidas com multas e com prisão (Código Penal (LGL\1940\2)). Em se tratando, porém,
declara a lei (Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 364 § único) de emprêsa concessionária
de serviço público ou de sociedade estrangeira autorizada a funcionar no país, se a infratora,
depois de multada, não atender afinal ao cumprimento do texto infringido, poderá ser-lhe cassada
a concessão ou autorização.
27 - PENA DE EXPULSÃO.
Preceitua a Consolidação das Leis do Trabalho no seu artigo 725 § 2 que o estrangeiro que incidir
nas sanções do artigo que regula a instigação à greve, será expulso do território nacional
observados os dispositivos da legislação comum.
28 - PENA DE PERDA DE REMUNERAÇÃO.
A pena de perda de remuneração tem lugar quando se verificar paralisação dos trabalhos da estiva
por causas provadamente atribuíveis aos estivadores ou às entidades estivadoras (Consolidação
das Leis do Trabalho, artigo 276).
29 - CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES. CONCEITO. ESPÉCIES.
No conjunto dos fatos que podem ser encontrados em um delito, com mais ou menos influência
sôbre o grau de criminalidade, há uma importante distinção a fazer: - Um só ou muitos, conforme
o caso, são indispensáveis à existência do delito; outros, porém, constituem apenas
circunstâncias acessórias, que irão influir, ou não, para mais ou para menos na culpabilidade do
agente, podem deixar de existir sem fazer desaparecer a infração penal. Tais são as
circunstâncias agravantes ou atenuantes. ( Jorge Severiano - Código Penal (LGL\1940\2)
Comentado, 2 Volume). E é por meio delas que se torna possível proporcionar a pena à gravidade
da infração. (Garraud). Tal sistema de graduação é relativamente moderno. Data dos fins do
século 18. Daí para traz o que imperava era o arbítrio integral do juiz, forma condenada por
Beccaria e Montesquieu.
As circunstâncias agravantes e atenuantes podem ser materiais ou morais. As primeiras são
inherentes ao crime; as segundas se relacionam com a culpabilidade do autor da infração.

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São, segundo o Código Penal (LGL\1940\2), (artigo 44), circunstâncias que sempre agravam o
crime:
I - Reincidência. Um dos mais sérios problemas da criminalidade, no que diz respeito aos métodos
de tratar com o crime - dealing of crime, diz J. J. Gillin, (Criminology and Penalogy) - é o da
reincidência. Sério, não só porque diz respeito com os métodos de tratar com os criminosos, como
porque levanta a questão de saber a razão por que certos indivíduos, que teem sofrido penas, não
se amedrontam e voltam a cometer novas infrações da mesma ou de diversa natureza. Muitas
explicações teem sido tentadas neste sentido. (E. Sutherland - Principles of Criminology). Pensam
uns que a persistência no crime não passa de uma persistência de hábitos. Outra explicação da
persistência - is found in the criminality and near criminality in the general society. Alberto Nock,
após salientar que uma pessôa não fuma numa Igreja, porque aí não é local apropriado, diz: -
similarmente, o criminoso só comete crimes porque uma situação social o permite. Há ainda quem
explique a persistência no crime porque os meios de tratamento nas penitenciárias não
regeneraram o indivíduo.
Para o Código em vigor verifica-se a reincidência quanto o agente comete novo crime, depois de
transitar em julgado a sentença que no país ou no estrangeiro, o tenha condenado em crime
anterior. Quanto a reincidência póde ser ela:
A - genérica, quando os crimes não são da mesma natureza.
B - específica, quando são da mesma natureza. Crime da mesma natureza é não só o consistente
na violação do mesmo dispositivo penal, como o que, embora previsto em dispositivo diverso,
apresente pelos fatos que o constituem ou por seus motivos determinantes, caracteres
fundamentais comuns.
2 - Motivo fútil ou torpe. Não há crime sem um motivo. Nada acontece por acontecer. (Ihering).
Motivo frívolo ou fútil é aquêle que alegado pelo agente não justifica de modo algum o ato
praticado. Motivo torpe é o motivo abjeto. (V. Manzini).
3 - Crime cometido para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime. Esta agravante não constava do Código de 1830 e 1890. Mandava a
lei, todavia, que se punisse como cúmplice aquêle que assim procedesse.
4 - Embriagar-se propositalmente para cometer um crime. A embriaguez póde ser voluntária ou
culposa. De um modo ou de outro não exclui a responsabilidade penal. A lei só isenta da pena o
agente, no caso de embriaguez completa, proveniente do caso fortuito ou força maior. E' possível,
porém, que alguém se embriague propositalmente para cometer um crime. Êste é o caso da
embriaguez preordenada, que no ver de Carrara, (Programa), jamais deve valer como escusa. Há
quem pense de modo diverso. (Jorge Severiano - Tratado de Direito Penal, Volume 2).
5 - Cometer o crime a traição, de emboscada ou mediante dissimulação, ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defeza do ofendido. Traição é perfídia, quebra de fidelidade
prometida, aleivosia. (Jorge Severiano - Criminosos Emocionais). Emboscada é a espera, por mais
ou menos tempo, de um indivíduo, seja para matá-lo, seja para praticar contra êle atos de
violência. (Garraud - Tratado de Direito Penal). Esmeraldino Bandeira, (Direito Penal Militar), tem
como elemento da emboscada a surpresa. Dissimulação é o mesmo que disfarce, embora envolva
um conceito mais amplo. O uso de qualquer recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido, póde traduzir-se de diferentes modos:
A - Procurando o agente a noite para mais facilmente cometer o crime. Pensam alguns autores
que a noite começa quando expira o crepúsculo. ( Chauveau et Helie). Von Liszt entende por noite
o período noturno de descanso. Macedo Soares pelo espaço de tempo em que para ver
precisamos de luz artificial. (Código Penal (LGL\1940\2)).
B - Procura de lugar ermo, ou seja aquele que não tem habitantes ou cuja população é tão
escassa que faz presumir a improbabilidade de qualquer auxílio. ( Costa e Silva - Código Penal
(LGL\1940\2)).
C - Superioridade em forças ou armas. Há quem sustente ser esta agravante uma agravante de
caráter objetivo; há quem sustente tratar-se de uma agravante de caráter subjetivo. ( Magarinos
Torres - Subjetivismo da Agravante da Superioridade em Armas).
D - Proceder o agente com fraude. Fraude é todo o artifício destinado a iludir a vigilância. ( Cunha
Azevedo - Código Penal (LGL\1940\2)).
E - Abuso de confiança. Não há nada mais infame, salientava Cícero, que a amisade traida debaixo
das aparências de amisade. Esta circunstância é elementar no crime de furto por apropriação
indébita e em geral em todos os crimes que envolvem a violação de relações privadas ou públicas,
de mandato, locação de serviços etc. Os crimes funcionais estão neste número.
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F - Premeditação. Premeditar é pensar, resolver com antecipação. E' uma forma de volição que
surge na calma do ânimo. ( Alimena - A Premeditação em relação com a Psicologia). A
premeditação para que exista exige intervalo de tempo e calma da vontade. (Simonet - A
Premeditação). Ânimo frio e pacato dizia Carrara (Programa).
G - Entrada ou tentativa de entrada em casa do ofendido. Esta circunstância só diz respeito ao
caso em que fique provado que a entrada ou tentativa de entrada, foi realizada com a intenção
de praticar o crime. ( Thomaz Alvez - Anotações ao Código Criminal).
H - Surpreza - Gramaticalmente surpreza é ataque inopinado. Jurìdicamente é preciso que o
agredido não tivesse razões para esperar a agressão. ( Jorge Severiano - Criminosos Passionais -
Criminosos Emocionais).
I - Ajuste. Ajuste é um meio de que lança mão o delinquente para consumar o crime com mais
segurança.
J - Arrombamento, isto é, o uso da fôrça e de qualquer instrumento ou aparêlho empregado para
vencer os obstáculos.
6 - Emprêgo de veneno, fôgo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel de que
podia resultar perigo comum. Venenos são substâncias que absorvidas pelo organismo ou nêle
introduzidas ou aplicadas, determinam alterações estruturais mais ou menos graves e podem,
quando a sua ação é intensa ocasionar a morte. (H. Coutagne - Précis de Médecine Légal). Para
Taylor em medicina legal é difícil dar uma definição de veneno. Uma queimadura por fôgo, ensina
Afrânio Peixoto, mesmo do primeiro ou segundo grau, pode ser muito grave e mortal, desde que
seja extensa. Explosivo, de explosão, é uma comoção violenta e instantânea, acompanhada de
detonação, produzida pela inflamação repentina ou excesso de tensão de um gás ou pela súbita
expansão de um corpo sólido ou líquido que passe ao estado gazoso. Asfixia é a consequência
direta da suspensão dos fenòmenos respiratórios. (A. Lutaud - Manual de Medicina Legal). Tortura
já foi uma modalidade de pena na Inglaterra. (George Ives - A History of Penal Methods). Meio
insidioso ou cruel é o meio aleivoso ou o meio deshumano. Meio do qual resulte perigo comum é
aquêle como o incêndio ou a inundação.
7 - Prática do crime contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge. Nas palavras
ascendentes e descendentes devemos compreender não só os pais naturais, como adulterinos e
incestuosos. Quanto ao irmão pouco importa seja legítimo ou ilegítimo ou adulterino. Cônjuge é o
que prova sua qualidade de casado. A lei devia compreender também a companheira de vida
comum prolongada. Trata-se no nosso ver de uma agravante subjetiva.
8 - Crime cometido com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de
cohabitação ou de hospitalidade. Por autoridade se deve entender todo o individuo que tem o
direito ou o poder de mandar, ou de obrigar a fazer alguma cousa. Relações domésticas são
aquelas que dizem respeito a vida íntima da família. Cohabitar é viver conjuntamente. Hospedar é
acolher alguém com ou sem retribuição em casa particular, hospedaria ou hotel. A lei fala em
relações de hospitalidade, parecendo-nos que se refere apenas ao acolhimento de uma pessôa
gratuitamente.
9 - Crime cometido com abuso de poder ou violação de dever inherente a cargo, ofício,
ministério ou profissão. O poder de mandar implica da parte do mandado o dever de obedecer. Por
dever se deve entender o conjunto de obrigações de alguém, principalmente em determinada
situação. Cargo é sinônimo de incumbência. Ofício também. Ministério é o mesmo que ocupação.
Profissão é o modo habitual de viver de alguém.
10 - Cometer o crime contra criança, velho ou enfermo. Diz-se criança o indivíduo que está no
período da infância. Velho é o homem de idade avançada. Para que se diga que um homem é velho
não é necessário se prove encontrar-se no último quarteirão da vida. A senilidade precoce é fato
incontestável. Enfermo é o mesmo que doente.
11 - Cometer o crime estando o ofendido sob a imediata proteção da autoridade. Esta causa de
agravação é de toda a justiça, porque denota o estado de desvalimento do ofendido e importa
uma ofensa a autoridade pública, diz S. Ferrão. (Código Penal (LGL\1940\2)). Proteção imediata é
a que atua diretamente.
12 - Cometer o crime em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade
pública ou desgraça particular do ofendido. Incêndio é a destruição total ou parcial de um objeto
por combustão e portanto pelo calor que a força natural e desencadeada do fôgo produz. (von
Liszt - Tratado de Direito Penal Alemão). Inundação e naufrágio são meios dos quais resultam
perigo comum. Calamidade pública é uma desgraça que atinge a muita gente: peste, fome,
inundações, guerra, epidemia etc. Desgraça é todo o acontecimento funesto. A lei fala em
desgraça do ofendido, deveria dizer - do ofendido ou de sua família.
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Estas as agravantes que sempre agravam segundo o Código Penal (LGL\1940\2). Diz porém este
no art. 45: a pena ainda é agravada:
A - Quando o agente promove ou organiza a coperação no crime ou dirige a atividade dos demais
agentes.
B - Quando o agente coage outro a execução material do crime.
C - Quando o agente instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou
não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal. Instigação é a dolosa determinação de
outrem para a ação punível que o induzido dolosamente praticou. ( von Liszt). Instigar é o mesmo
que determinar, induzir, incitar, estimular. O conceito, a persuasão são formas de instigação.
Determinar é ordenar. A instigação póde ser exercida por qualquer um. Só determina quem possue
certa parcela de autoridade. Para a lei, não basta a determinação ou instigação para que se
julgue o agente merecedor desta agravante. E' preciso que êle determine ou instigue alguém
sujeito à sua autoridade, ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal.
D - Quando o agente executa o crime ou nele participa mediante paga ou promessa de
pagamento. Esta forma de agravação já se continha no Código Penal (LGL\1940\2) de 1830.
Também no de 1980. O velho código português já a consignava e comentando-a dizia Silva
Ferrão: - não há procedimento mais vil, nem mais ignóbil, do que a perpetração do crime, quando
o braço que descarrega o golpe, é o de um torpe mercenário. Questão interessante, salienta
Costa e Silva, (Código Penal (LGL\1940\2)), é saber se esta agravante se aplica exclusivamente
ao autor material ou também ao autor moral. Há quem sustente que sim, há quem adote pensar
contrário. Para E. Bandeira, (Direito Penal Militar), a agravação poderia não provir dessa
circunstância mais séria do ajuste.
30 - CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES NO DIREITO DO TRABALHO.
Da leitura dos artigos 75, 223 § I, 351, 401 § I da Consolidação das Leis do Trabalho resulta
evidente que segunda esta, constituem agravantes especiais no direito do trabalho:
A - Reincidência.
B - Oposição à fiscalisação.
C - Desacato à autoridade.
D - Emprêgo de artifício para fraudar.
E - Emprêgo de simulação para fraudar.
A tal conclusão nos leva a leitura dos aludidos artigos.
Artigo 75 - Os infratores dos dispositivos do presente capítulo incorrerão na multa de cincoenta a
cinco mil cruzeiros, segundo a natureza da infração, sua extensão e a intenção de quem a
praticou, aplicada em dôbro no caso de reincidência, oposição à fiscalização ou desacato à
autoridade.
Artigo 223 § I - A penalidade será sempre aplicada no grau máximo: A - se ficar apurado o
emprêgo de artifício ou simulação para fraudar; B - nos casos de reincidência.
Artigo 351 - Os infratores dos dispositivos do presente capítulo incorrerão na multa de cincoenta a
cinco mil cruzeiros, segundo o natureza da infração, sua extensão e a intenção de quem a
praticou, aplicada em dôbro na reincidência, oposição à fiscalisação ou desacato à autoridade.
Artigo 401 - (Igual ao artigo 223 § I).
Reincidência. - Já vimos o que seja no número anterior, seu conceito e como se a deve entender
frente ao Código Penal (LGL\1940\2). Diante da Consolidação das Leis do Trabalho a situação
varia um pouco. Segundo ela, no nosso modo de ver, a reincidência só tem lugar quando ocorre a
violação de um mesmo dispositivo, ou no máximo, de dispositivos de um mesmo capítulo. E' esta a
única interpretação possível já que a lei cogita sempre de infratores de um mesmo capítulo. Não
levou em conta, portanto, a lei trabalhista a chamada figura de reincidência genérica de que
cogita o Código Penal (LGL\1940\2) no artigo 46 § I n. 1.
Também uma outra diferença póde ser notada e salientada. O Código Penal (LGL\1940\2) no artigo
46 diz: verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitada em
julgada a sentença, que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado porr crime anterior. Já a
Consolidação das Leis do Trabalho, como se vê dos dispositivos atraz apontados, procedeu de
modo outro. Não exige decisão passada em julgado para que se verifique a reincidência. Limita-se
a dizer que a pena será agravada nos casos de reincidência.
E' evidente, porém, que se trata de um lapso. E a razão é simples: não é possível conceber-se tal
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figura sem uma decisão passada em julgado, anterior, condenando o agente, pois, quando o
processo ainda em curso, ninguém poderá afirmar que o seu remate não seja a absolvição.
E' exato que a Consolidação das Leis do Trabalho, (artigo 769), só manda o juiz se socorrer do
direito comum nos casos omissos de direito processual do trabalho, e a matéria discutida não é de
direito processual no seu conceito clássico dado pelos processualistas. (João Monteiro, João
Mendes, Nazareth, Lucchini, G. Siqueira etc.). Mas, também nós, interpretando a lei, não podemos
imaginar tenha o legislador desejado ou prescrito um absurdo. O juiz não deve ademais ser um
aplicador cégo da lei, ou como dizia Montesquieu - simplesmente a boca que pronuncia as palavras
da lei.
Esta tese, de algum modo defendida por F. Mallieuez, (L éxege des Codes et la Nature du
Raisonnement Juridique), não póde ter aceitação, principalmente no mundo que vivemos. Assim
sempre pensamos, (Jorge Severiano - Curso de Crítica Penal), e também Jean Cruet. (A Vida do
Direito e a Inutilidade das Leis).
Oposição à fiscalisação. Opôr-se à fiscalisação é uma outra agravante especial na legislação do
trabalho. Opôr-se, de um modo genérico, significa criar toda sorte de obstáculos. A lei não diz: -
opôr-se pela fôrça. Diz genèricamente - opôr-se. E nêste caso abraça toda a forma de oposição,
ativa ou passiva. Dificultar, simplesmente, não é opôr-se. Igualmente estorvar, embaraçar uma
fiscalisação. Resistência, mesmo negativa, recusa etc. são evidentemente formas de oposição.
A figura aqui imaginada pelo legislador trabalhista, é perfeitamente idêntica a prevista no artigo
329 do Código Penal (LGL\1940\2) que reza:
- Opôr-se a execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando serviço - e sobre a qual já escrevemos (Código Penal
(LGL\1940\2) Comentado volume 4) o seguinte: Êste crime póde assumir as seguintes
modalidades:
1 - Opôr-se à execução de ato legal mediante fôrça.
2 - Opôr-se mediante ameaça.
Opôr-se é colocar-se como obstáculo, resistir. Resistir, como salienta E. Gomez (Tratado de
Derecho Penal), é uma palavra que tem vários significados. Uno de ellos es el de oposición de un
cuerpo o una fuerza a la acción o violencia de otra, repognar, contrariar, rechazar, contradecir, es
otro de los significados de tal palabra; un tercero es el de bregar, forcejar. Outras significações
tem êste vocábulo, mas são estas as que mais se aproximam do crime chamado de resistência.
Von Liszt, (Tratado de Direito Penal Alemão), diz que tem lugar a resistência (oposição), quando
alguém opõe resistência por meio de violência ao funcionário público competente para execução
das leis, ordens e atos das autoridades judiciais e que está exercendo regularmente suas funções.
Carrara, (Programa), salienta que o conceito jurídico da resistência corresponde integralmente ao
sentido do vocábulo - resistir, quando se quer expressar o antagonismo de duas forças que
recìprocamente se querem pôr em conflito. Não há resistência sem ataque direto à autoridade.
(Liszt - Carrara). Moreno, (O Código Penal (LGL\1940\2)), não concorda inteiramente com Carrara
quanto ao conceito de resistência. A limitação da mesma ao ato violento, esclarece, não se
justifica, porque "las amenazas también pueden ser un medio de ejercitar la resistencia".
Segundo o Código Penal (LGL\1940\2) o crime de resistência não tem lugar sòmente quando se
dirige ao funcionário encarregado da execução do ato, mas também contra quem lhe esteja
auxiliando. A lei trabalhista nada diz a respeito. Frente a lei penal o sujeito ativo do crime póde ser
qualquer pessôa, como acentua E. Gomez. Para a lei trabalhista, parece-nos, a oposição
(resistência) tem que provir da parte fiscalisada. E evidente, porém, a possibilidade de provocar a
oposição por intermédio de terceiros.
A figura da oposição é possível imaginar-se entre executores e executores da fiscalisação? A
doutrina italiana sustenta que não. Assim também o pensa Carrara. Êste crime, adverte V.
Manzini, (Tratado di Diritto Penale), só é possível de praticar-se no momento em que se executa o
ato, ou no caso da legislação do trabalho, a fiscalização. Ninguém se póde opor a quem age, se
não houve início da execução do ato: non si puó respingere a ció che ancora non é. Igualmente se
o ato já foi praticado.
Desacato à autoridade. O desacato à autoridade constitue uma agravante especial, como se
infere dos dispositivos atraz apontados, na legislação trabalhista. Além de uma agravante, nas
infrações trabalhistas, constitue também, um crime, como se vê do Código Penal (LGL\1940\2), no
artigo 331 que determina:
- Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela, definição essa acerca da
qual já nos pronunciamos comentando o nosso estatuto penal, como abaixo se segue: - Êste
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crime pode se apresentar sob duas modalidades:


1 - Desacatar funcionário público no exercício da função.
2 - Desacatar funcionário público em razão dela.
Desacatar é faltar com o respeito, tratar com irreverência, com desprêzo. Não basta para que
exista o crime que se desacate o funcionário, é preciso que se o faça estando êle no exercício da
função ou em razão dela. Para a lei pouco importa seja o funcionário efetivo, interino ou em
comissão. A noção de funcionário público só póde ser dada tendo em vista o artigo 327 do Código
Penal (LGL\1940\2) que prescreve: considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,
embora transitoriamente ou sem remuneração exerce, cargo, emprêgo ou função pública.
Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprêgo ou função em entidade
paraestatal. A lei, assim preceituando, fez bem para acabar de vez com a velha questão a
respeito do que se deve entender por funcionário público, e de que nos falam Viveiros de Castro,
Demartial, Delpech, Crivelari, Garraud, Gomez, Diaz etc.
Nossa lei equipara a funcionário público o que exerce cargo, emprêgo ou função em entidade
paraestatal. O que se deve entender por entidade paraestatal? Eis uma pergunta diz V. Manzini,
(Tratatto di Diritto Penale), cuja resposta não é fácil de ser dada. Muitos sustentam que o exato
é que entre - enti pubblici in genere ed enti parastatali - não há uma nítida diferença. (Raneletti -
Corso di Diritto Administrativo; Romano - Corso di Diritto Administrativo). Diz, porém, V. Manzini,
após relacionar todas as opiniões atraz mencionadas; no nosso ver a denominação de entes
paraestatais, no direito vigente, serve sòmente para designar aqueles entes públicos autárquicos
que são diversos do Estado e dos entes autônomos que dependem do Estado.
Qualquer empregado por mais ínfimo que seja póde ser vítima de um desacato. Ato praticado no
exercício das funções é o ato praticado - in officio ou propter officium, pouco importando o lugar
em que se encontra a autoridade. (Nypels et Servais - Code Penal Belge). E' preciso que o ato
seja praticado em presença do funcionário, diz Rivarola. (Código Penal (LGL\1940\2) Argentino), e
intencionalmente. (Garraud - Droit Penal). Com a simples produção do ato, observa E. Diaz, (El
Codigo), dá-se consumação do delito - que reviste asi el caracter de formal y no admite
tentativa.
Deve ser advertido que a aplicação da penalidade trabalhista não evita a do crime em que tenha
incorrido o agente. Sob êste aspecto foi o legislador bem claro colocando na consolidação das leis
do trabalho o artigo 634 e seu parágrafo único, assim concebidos:
Artigo 634 - § único: - A aplicação da multa não eximirá o infrator da responsabilidade em que
incorrer por infração das leis penais.
Emprêgo de artifício para fraudar. Outra agravante especial na legislação do trabalho é o
emprêgo de artifício para fraudar. Artifício o mesmo é que fraude. (Cunha Azevedo). Uma decisão
do Tribunal de São Paulo de 19 de Agosto de 1907, definiu os artifícios, manobras fraudulentas ou
meios astuciosos, como consistentes no emprêgo de uma combinação de fatos, uma maquinação,
mais ou menos hábil, um ardíl engendrado com mais ou menos arte, com o fim de enganar.
Acrescenta: é preciso que revistam uma forma e tornem-se por assim dizer, visiveis e tangiveis. E'
a mise en scene capaz de induzir a êrro ou engano os mediamente esclarecidos.
F. Bastos, (Direito Penal), definiu fraude como toda a astúcia, maquinação, mentira ou qualquer
ardíl culpável empregado para induzir alguém em êrro. Assim também pensam Manzini, Gomez,
Chauveau et Helie, Nypels et Servais, Puglia, Garraud, Pessina, Florian etc.
Emprêgo de simulação para fraudar. Simular o mesmo é que fingir, fazer crer, aparentar. Disfarçar
é também uma forma de simulação. O disfarce existe, quando por meios engenhosos se mostra
uma cousa diferente do que é realmente. (S. Ferrão - Código Penal (LGL\1940\2)). A simulação é
uma ficção daquilo que se presume a realidade, declara A. Fernandes, (Direito Civil), mas, como
diz Forrer - ficção de realidade. (Simulation and Mentals). E' preciso, porém, não confundir
simulação com dissimulação. A primeira pode comparar-se a um fantasma, enquanto a segunda é
sua máscara. (Ferrara - A Simulação nos Negócios Jurídicos). La simulacion, en definitiva, es
siempre una alteracion de la verdad. (E. Gomez - Tratado de Derecho Penal).
31 - APLICAÇÃO DA PENA SEGUNDO O CÓDIGO PENAL.
Na sistemática do Código Penal (LGL\1940\2) (artigo 42) compete ao juiz:
A - Determinar a pena aplicável, dentre as cominadas alternativamente.
B - Fixar, dentro dos limites legais, a quantidade de pena aplicavel.
Na aludida determinação que deverá ser motivada, (Decisão do Tribunal do Distrito Federal de 25
de Maio de 1942) terá o juiz que levar em conta:
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1 - Os antecedentes do réu.
2 - A personalidade do réu.
3 - A intensidade do dolo.
4 - O grau da culpa.
5 - Os motivos do crime.
6 - As circunstâncias do crime.
7 - As consequências do crime.
Não há dúvida, já o proclamamos, (Código Penal (LGL\1940\2) Comentado volume 2), que a órdem
imposta pela lei ao juiz, na apreciação do fato delituoso, está certa. Deve êle, em primeiro lugar,
julgando, verificar se se trata de um criminoso primário ou não. Deve ainda sindicar sôbre a vida
pregressa do agente, como homem e como cidadão, e sôbre os caracteres que o distinguem dos
demais e que formam a sua personalidade. Verificados os antecedentes judiciários e não
judiciários, passará a estudar a intensidade do dolo, se doloso o crime, ou o grau de culpa, se
culposo, e depois passará a estudar os motivos, circunstâncias e consequências do crime. Todo o
crime tem uma causa. Um crime sem causa ou sem motivo faz logo desconfiar das faculdades
mentais do agente. Mesmo no epilético uma motivação é possível, afirma Clouston, (Mental
Disease), desmentindo Legrand du Saulle. (Julio de Mattos - A Loucura). Mesmo fóra da esfera do
crime, tudo tem causa, um motivo. (Porto Carrero - Psicologia Judiciária).
Estudados e vistos quais os motivos do crime, verificará o juiz as circunstâncias que o cercaram:
atenuantes umas, agravantes outras. Estas circunstâncias tanto podem ser de órdem objetiva,
como de órdem subjetiva. Servem também para apreciação da verdadeira condição e significado
próprio dos fatos. Estas condições podem aparecer ou não. Também não teem nenhuma influência
sôbre a conceituação pròpriamente do delito, mas apenas quanto à gravidade do fato e a
periculosidade do autor. Podem tais circunstâncias ser gerais ou especiais, reais ou pessoais,
segundo se referem as cousas ou aos fatos, ou a condição das pessôas.
No crime há dois momentos bem distintos: o da ação do delinquente e o resultado ou efeito desta.
Em certos casos para que o crime se complete, basta a ação; em outros é necessário a produção
de certo resultado (delitos formais ou materiais). A lei (artigo 42 do Código Penal (LGL\1940\2))
não cuida porém, de efeito ou resultado do crime. Diz que o juiz para determinar a pena aplicavel
e fixar a sua quantidade, observa as consequências do crime, expressão bem mais ampla.
Efeito é o resultado necessário ou acidental de uma causa. Igualmente resultado. Consequência é
a dedução tirada de um princípio ou fato por meio do raciocínio. No nosso modo de ver, perquirindo
acerca das consequências do crime, deve o Juiz indagar não só das consequências materiais como
morais. Materiais - a situação de miséria, por exemplo, a que foi atirada a família da vítima. Morais
- o desequilíbrio a que foi levada em razão do crime. As próprias consequências sociais devem ser
tidas em conta. Crimes há que provocam um verdadeiro abalo.
32 - APLICAÇÃO DAS PENAS NO DIREITO DO TRABALHO.
As penas no direito do trabalho são as seguintes: multa, recisão automática do contrato de
trabalho, pagamento em dôbro, suspensão, perda do cargo, perda de vencimentos, perda do
direito de reclamar, revelia, confissão, perda do pátrio poder, destituição de tutela, desconto,
fechamento de sindicato, cassação de licença, expulsão, perda de remuneração.
Multa. O processo para aplicação de multas, segundo a Consolidação das Leis do Trabalho se rege
pelos artigos seguintes:
Artigo 627 - Afim de promover a instrução dos responsaveis no cumprimento das leis de proteção
do trabalho, a fiscalisação deverá observar o critério de dupla visita nos seguintes casos: A -
quando ocorrer promulgação ou expedição de novas leis etc.; B - em se realizando a primeira
inspeção dos estabelecimentos ou dos locais do trabalho, recentemente inaugurados ou
empreendidos.
Artigo 628 - A toda a verificação em que o fiscal concluir pela existência de violação de preceito
legal deve corresponder, com exceção do que se prevê no artigo anterior, e sob pena de
responsabilidade administrativa, a lavratura de auto de infração.
Artigo 829 - Auto de infração será lavrado em duplicata, sendo uma via entregue ao infrator,
contra recibo ou ao mesmo enviada dentro de cinco dias da lavratura, em registrado postal, com
franquia.
Artigo 630 - Nenhum fiscal deverá exercer as atribuições do seu cargo sem exibir a respectiva
carteira de identificação funcional visada pela autoridade competente.
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Artigo 634 - Na falta de disposição especial, a imposição das multas incumbe às autoridades
regionais, competentes em matéria de trabalho, na forma estabelecida por êste título (Título VII).
Parágrafo único - A aplicação da multa não eximirá o infrator da responsabilidade em que incorrer
por infração das leis penais.
As multas teem sempre um mínimo e um máximo. Em se tratando dos dispositivos que regulam a
duração do trabalho, poderá a multa atingir até o dôbro. E' o que se vê no artigo 75. Em todo
caso, na sua aplicação deve-se levar em conta a natureza da infração, sua extensão e a intenção
de quem praticou a infração. São competentes para impôr as penalidades por tais violações, no
Distrito Federal, a autoridade de primeira instância do Departamento Nacional do Trabalho, e, nos
Estados e no Território do Acre, as autoridades regionais do Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio (artigo 75 § único).
Por infração de qualquer disposição referente à férias a pena de multa será aplicada a juizo da
autoridade competente (artigo 146). Em se tratando de infração sôbre higiêne e segurança do
trabalho a autoridade competente para aplicá-la, seja no mínimo, no médio, ou no máximo, é a de
primeira instância do Departamento Nacional do Trabalho, no Distrito Federal, e nos Estados, e no
Território do Acre as autoridades regionais do Ministério do Trabalho. (artigo 223). O processo
para aplicação e cobrança é o já apontado atraz. Deve ser salientado, porém, que a pena será
sempre aplicada no máximo, havendo emprêgo de artifício ou simulação ou nos casos de
reincidência (artigo 223 § I).
São competentes para aplicação das penalidades nos casos de violação de dispositivos sôbre
duração e condições do trabalho as de primeira instância incumbidas da fiscalisação. Na aplicação
a autoridade deverá levar em consideração a natureza da infração e a intenção de quem a
praticou. Em se tratando porém de reincidente ou de indivíduo que se opôz à fiscalisação ou
desacatou a autoridade a pena deverá ser aplicada em dôbro (artigo 351).
As infrações contra os dispositivos acerca da nacionalisação do trabalho podem ser punidas com
prisão, multa e cassação de concessão ou autorização para funcionar (artigo 363). O processo,
quanto à pena de prisão é o prescrito no Código Penal (LGL\1940\2). O da multa é o estabelecido
na Consolidação das Leis do Trabalho. A pena de cassação de autorização para funcionar é uma
pena adicional nos casos de desobediência (artigo 362 § único).
A lei protege de modo especial o trabalho da mulher. A violação de qualquer das regras impostas
em lei ocasionará a penalidade de multa que será aplicada, no máximo ou no mínimo, ou entre
êstes dois extremos, conforme a hipótese. Há, porém, uma forma agravada da mencionada
violação. Tem ela lugar quando o agente usar de artifício ou simulação para fraudar a lei ou
quando reincidente. Nêste caso a pena será sempre aplicada no máximo (artigo 401).
No que se refere ao trabalho do menor a multa é fixa, mas de caráter progressivo, aplicada tantas
vezes quantas forem as violações. Não poderá ir, porém, além de mil cruzeiros, salvo em caso de
reincidência (forma agravada), onde a pena será elevada ao dôbro e o limite máximo a quatro mil
cruzeiros (artigos 434 e 435). A autoridade competente para aplicação da multa é a determinada
no artigo 438 da Consolidação das Leis do Trabalho.
As infrações sôbre a instituição sindical serão punidas de vários modos, inclusive pecuniariamente.
Na forma agravada, que é a da reincidência, a pena será cobrada em dôbro. A autoridade
competente para aplicá-la deverá levar em conta o carater da infração e a gravidade, havendo
recurso para o Ministro (artigos 553 e 557). A gradação da multa atenderá a natureza da infração
e às condições sociais e econômicas do infrator (artigo 598 § único).
No caso de violação de acôrdo estabelecido em contrato coletivo a lei manda que se aplique uma
multa e variável de caso em caso, cabendo sempre recurso com efeito suspensivo para o Ministro
do Trabalho (artigo 624 e §§).
O exercício da função de vogal constitue munus público. Recusar-se a exercê-la dará lugar a
aplicação de uma penalidade de multa, além de outras prefixadas em lei. A própria falta às
reuniões, sem motivo justificado, poderá ocasionar a aplicação da aludida penalidade.
Também dará lugar a imposição de multa de que variará entre um mínimo e um máximo o
empregador que deixar de cumprir decisão passada em julgado sôbre readmissão ou reintegração
de empregado. Deve ser salientado que se trata de multa progressiva, além do mais (artigo 729).
Também uma pena de multa será aplicada, aqui sem carater progressivo, ao empregador que
obstar ou tentar obstar, sirva empregado seu como vogal, o dispense por tal motivo ou impeça
que preste depoimento como testemunha (artigo 729 e seus §§). A simples recusa em depôr póde
levar o indivíduo a incorrer na mencionada penalidade (artigo 730). A aplicação nêste caso,
parece-nos, deve ser imposta pela autoridade processante no litígio. Saliente-se, porém, que as
violações do título da Consolidação das Leis do Trabalho sôbre a Justiça do Trabalho (título VIII)
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para as quais não haja penalidades cominadas serão punidas com a multa de cincoenta cruzeiros a
cinco mil cruzeiros, elevada ao dôbro em caso de reincidência.
Pena de recisão automática do contrato de trabalho. A pena de recisão automática do contrato
de trabalho será aplicada pela autoridade competente para conhecer do litígio, na forma da
legislação vigente. Com ela póde concorrer a pena corporal, se criminoso o ato ocasionador da
recisão, aplicada pelas autoridades criminais.
Pena de pagamento em dôbro. A pena de pagamento em dôbro será aplicada pela autoridade
competente para a aplicação da penalidade simples. O dôbro de que fala a lei, é o dôbro do
mínimo, do médio, ou do máximo? Parece-nos que a lei quando fala em dôbro tem sempre em vista
o máximo da pena.
Pena de suspensão. A pena de suspensão terá como seu aplicador uma autoridade hierárquica
superior ou não, e várias são elas, conforme a espécie em análise. Com ela póde concorrer, as
vezes, a pena pecuniária ou outra de natureza diversa. A suspensão obedece a prazo certo, pois
se por tempo indefinido, vale por demissão, ou privação permanente de um direito. Quando se diz
que deve ter prazo certo não se quer dizer deva ser prefixado dantemão o dia em que deva
terminar. Nos casos, por exemplo, de suspensão do empregado para procedimento de inquérito
administrativo, ela durará até a decisão final do processo (artigo 494 § único). Nêste caso a
autoridade capaz para impôr a suspensão é o empregador.
Perda do cargo. Perda do cargo ou dispensa do cargo é a mesma cousa. A dispensa de que fala o
artigo 723, letra a, por exemplo, é uma verdadeira perda do cargo. Qual a autoridade competente
para impôr a alguém a perda do c argo? Evidentemente aquela que capacidade teve para a
nomeação. A perda do cargo póde ser com ou sem inhabilitação para exercer outro.
Pena de perda de vencimentos. Vencimentos, já vimos o que seja anteriormente, diante dos
Estatutos dos Funcionários Públicos. A perda dos vencimentos de que fala a lei (Consolidação das
Leis do Trabalho, artigo 727 § único) é uma adicional à pena de perda do cargo. Quem a póde
aplicar? Só e tão só a autoridade a quem a lei confira poderes para poder demitir alguém de um
cargo.
Perda do direito de reclamar. Ao interessado assiste o direito de reclamar se ferido nos seus
interêsses. Tem, porém, prazo certo para fazê-lo. E' possível que o fazendo dêle se descure.
Nêste caso uma pena lhe é imposta. Não se trata, entretanto, de pena em caráter definitivo, mas
por tempo determinado em lei. E' o que prescreve a Consolidação das Leis do Trabalho nos artigos
731 e 372. Qual a autoridade competente para aplicá-la? A encarregada por lei de tomar
conhecimento do litígio.
Pena de revelia. A pena de revelia tem consequências graves, como se vê do artigo 844 da
Consolidação das Leis do Trabalho. Quem a pode aplicar? A lei o diz: a autoridade encarregada de
conhecer e julgar o feito.
Pena de confissão quanto a matéria de fato. Esta pena é uma pena adicional à revelia. Aplica-a,
como aplica esta, a autoridade encarregada da instrução e julgamento do processo.
Pena de privação do pátrio poder e destituição de tutela. A lei declara que em certos casos,
havendo violação de normas traçadas sôbre a proteção ao trabalho do menor (artigo 437) poderá
o responsável por êste ser privado do pátrio poder ou se tutor, destituido da tutela. E acrescenta:
que são competentes para impôr tais penalidades no Distrito Federal, a autoridade de primeira
instância do Departamento Nacional do Trabalho e nos Estados e Territórios do Acre os delegados
regionais do Ministério do Trabalho ou os funcionários por êles designados para tal fim. Sabido que
o pátrio poder é regido pelo Código Civil (LGL\2002\400), que também regula o instituto da tutela,
pergunta-se: a simples declaração das autoridades de que fala o artigo 438 da Consolidação das
Leis do Trabalho, basta para que tal se opere em definitivo? Pensamos que não. E' indispensavel a
coordenação entre as autoridades trabalhistas e as que por lei teem competência para interpretar
e aplicar o Código Civil (LGL\2002\400).
Pena de destituição. A pena de destituição, quando imposta ao tutor, afeta interêsses protegidos
pela legislação civil e tem fatalmente de ser pronunciada em coordenação com as autoridades
competentes na Justiça comum. Quando a destituição é imposta a diretores ou membros de
conselho (artigo 553 da Consolidação das Leis do Trabalho), a autoridade competente para aplicá-
la é o diretor geral do Departamento Nacional do Trabalho, com recurso para o ministro.
Pena de desconto. O desconto no salário é uma pena aplicável pelo empregador ao empregado em
caso de dano. Basta a vontade do empregador para que sua aplicação se torne definitiva? Cremos
que não, principalmente quando fundada ela em ter sido doloso o dano praticado, figura crime
punida pelo Código Penal (LGL\1940\2). Nêste caso o desconto, (figura diversa da retenção), só
se tornará lícito quando provado o fato delituoso praticado pelo empregado em juizo competente.
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Pena de fechamento de sindicato. O sindicato para organisar-se e entrar a funcionar tem que
obedecer a certas regras, e assim como a lei lhe concede determinadas prerrogativas, também lhe
impõe correlatos deveres. Seu reconhecimento tem que obedecer a determinadas condições. E'
possível que o sindicato infrinja a lei, e quando tal ocorre várias penalidades podem ser impostas
(artigo 553). Entre elas se encontra o seu fechamento por determinação do Ministro do Trabalho,
não definitivamente, mas por prazo certo, nunca superior a seis meses. O número de dias ou
meses compete ao Ministro do Trabalho, fixar, não lhe vedando a lei a revogação da penalidade
imposta, antes do tempo prefixado.
Pena de cassação de carta de reconhecimento. O reconhecimento de um sindicato ou melhor, de
associações como sindicatos, obedece as normas prescritas na Consolidação das Leis do Trabalho
na Secção II do capítulo I do Título V. A carta de reconhecimento será assinada pelo Ministro do
Trabalho, a quem compete também aplicar a penalidade de cassação da licença. Cassação da
licença, diz a lei, não importa em cancelamento do registro.
Pena de expulsão. A pena de expulsão só pode ser aplicada a estrangeiro (Consolidação das Leis
do Trabalho, artigo 725 § 2). Para que ela tenha lugar deverão ser observados os dispositivos da
legislação comum (Decreto-lei n. 479 de 8 de junho de 1938). A expulsão é ato puramente
governamental e de atribuição exclusiva do Presidente da República (Lacerda de Almeida, Ludlow,
Willoughby). O estrangeiro expulso não mais poderá tornar ao país enquanto durar ou subsistir o
decreto de expulsão, e se o fizer incorrerá em pena de prisão.
Perda da remuneração. A perda da remuneração será aplicada pelas autoridades fiscalizadoras do
serviço de estiva. Ela, porém, se deverá circunscrever ao tempo da paralização por causas
devidas aos estivadores ou as entidades estivadoras.
33 - ACUMULAÇÃO DE PENAS.
A aplicação de uma pena, segundo a legislação do trabalho não exclue automàticamente a de
outra que caiba na espécie. E' o que prescreve a Consolidação das Leis do Trabalho nos artigos
598 e 634 § único.
34 - CULPA RECÍPROCA.
Prescreve o artigo 484 da Consolidação das Leis do Trabalho o seguinte:
Artigo 484 - Havendo culpa recíproca no ato que determinou a recisão do contrato de trabalho, o
tribunal de trabalho reduzirá a indenização a que seria devida em caso de culpa exclusiva do
empregador, por metade.
O Código Penal (LGL\1940\2) divide os crimes em dolosos e culposos. Quanto à culpa penal em
sentido estrito, diz bem Raul Machado, (A Culpa no Direito Penal), numerosas e diferentes são as
formas por que se póde manifestar, sendo de se por à margem as distinções do direito civil da
culpa in agendo, in vigilando, in elegendo, que não teem cabimento no direito penal. A
compensação na culpa era admitida no direito romano. (V. Manzini - Trattato di Diritto Penale), em
alguns delitos privados. Acrescenta, porém, na sua obra: Istituzioni di Diritto Penale: o direito
penal, entretanto, attesa na natura degli interessi che esso tutela, esclude assolutamente ogni
idea di compensazione di colpe. Assim também E. Gomez, (Tratado de Derecho Penal). A legislação
trabalhista vem de traçar uma norma diferente. Havendo culpa recíproca (compensação de culpa
portanto), nem pune, nem absolve os culpados. E' o que se vê do artigo acima transcrito, na sua
parte final.
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