Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
3. Explique a razão pela qual se considera ter o direito internacional surgindo (apenas)
no séc.XVI.
O direito internacional moderno forma-se na convivência entre os estados europeus
após a reforma protestante, a característica principal do sistema é o facto de este ser
composto por sujeitos que reclamam soberanos. O advento da ideia de soberania
marcará definitivamente o Estado moderno, modelo esse que viria a ser
universalizado, constituindo por isso o elemento central de toda a estrutura politica
das relações internacionais e do direito internacional. Essa universalização vai afirmar-
se sobretudo a partir da independência americana e mais tarde, com a afirmação
progressiva do Oriente. Neste quadro será desenvolvido o direito internacional
clássico, elaborado e posto em prática pelos Estados europeus durante séculos,
modelo esse assumido integralmente pelo resto do mundo, trata-se no essencial do
modelo a que se chega no séc. XIX.
Lição III
3. Diga o que entende por sociologismo e explique criticamente em que termos esta
corrente doutrinal reage à questão do fundamento da obrigatoriedade do Direito
Internacional.
Segundo o sociologismo o fundamento da obrigatoriedade das normas jurídicas reside
nas necessidades sociais de onde procede o seu conteúdo (na sociabilidade
internacional). Neste caso não importa tanto perceber o porquê da obrigatoriedade,
mas sim observar a sua existência/ ou não existência. Porém, é de referir que esta
perspetiva sofre uma limitação nos termos em que a existência de uma regra social
não justifica o reconhecimento do seu carácter jurídico, até porque subsistirá sempre a
questão de a norma ser justa ou não.
9. Diga o que entende por direito natural e explique os termos segundo os quais esta
corrente secular justifica o fundamento da obrigatoriedade do direito internacional.
O Direito natural procura fundamentar o direito no bom senso, na racionalidade, na
justiça. Considera-se que este constitui uma parte da moral universal. A teoria do
direito natural tem como objetivo avaliar as opções humanas com o propósito de agir
de modo razoável e bom. Isto alcança-se através da fundamentação de determinados
princípios do direito natural que são considerados bens humanos evidentes em si
mesmos. Segundo esta corrente o fundamento da obrigatoriedade do direito reside na
própria natureza humana, sendo que todo o Homem tem uma noção de justiça e
dispõe também da razão que lhe permite descortinar o conjunto de princípios e regras
segundo as quais essa justiça pode ser atingida (ordem natural).
10. Refira-se às mais recentes justificações doutrinais para o cumprimento das regras
internacionais.
Cada vez mais se analisa ao invés do fundamento da obrigatoriedade das normas, o
fenómeno do cumprimento, descortinando as razões do mesmo. Assim perspetiva-se o
valor jurídico da norma (em geral) na conjugação da legitimação (processual) e da
capacidade de ser sentida como justa ou equitativa. Essa conjugação conduz a uma
vinculação natural dos destinatários das normas, aos seus conteúdos e, portanto ao
seu cumprimento (sejam eles indivíduos ou estados), mesmo não existindo meios
coercivos suficientemente fortes para forçar esse cumprimento.
No que diz respeito ao monismo, não existe dualidade entre ordens, mas sim
unidade, assim não ocorre distinção da natureza das ordens jurídicas. Este permite
a vigência da regra internacional na ordem interna, porém coloca-se a questão de
saber qual das regras deve permanecer em caso de conflito, existindo duas
vertentes, o monismo como primado do direito internacional (quando se entenda
que deve prevalecer a regra internacional) e o monismo como primado do direito
interno (quando se entende que deve prevalecer a regra interna). Porém é ainda
de referir que atualmente se acolhe melhor a primeira vertente na prática
diplomática. A doutrina tende portanto a considerar o primado do direito
internacional inquestionável, por se tratar de uma condição de existência desse
mesmo direito.
6. Explique qual o regime de vigência da Carta das Nações Unidas na ordem jurídica
nacional.
Sendo que a CNU é parte integrante do Direito internacional geral ou comum
tratando-se de uma convenção universal, o regime que lhe é aplicável é o do art.8º/1
CRP, neste caso um mecanismo de receção automática.
As disposições dos tratados que regem a União Europeia e as normas emanadas das suas
instituições, no exercício das respetivas competências, são aplicáveis na ordem interna,
nos termos definidos pelo direito da União Europeia, com respeito pelos princípios
fundamentais do Estado de direito democrático. Esta norma consagra definitivamente o
regime da aplicabilidade direta.
5. Explique qual a consequência jurídica da falta de qualidade de sujeito por uma das
partes de uma convenção internacional.
A falta de qualidade das partes (o facto de uma delas não ser sujeito de direito
internacional) não afeta a validade dos atos convencionais, os quais poderão manter o
seu valor a outro título (enquanto atos de outra natureza que não convenções
internacionais propriamente ditas). O facto de uma ou mais partes não ser um sujeito
afeta portanto a qualidade convencional mas não necessariamente a sua validade.
6. Explique em que situações e com que finalidade os Estados celebram acordos entre
si, sem no entanto agirem nessa qualidade (estadual).
Os sujeitos de direito internacional podem estabelecer entre si acordos sem que,
todavia ajam nessa qualidade, a sua posição nesses acordos é de mero privado e não a
de sujeito de direito internacional, não se tratando de uma convenção mas de um
mero contrato.
7. Explique em que situações e com que finalidade os Estados, agindo nessa qualidade
podem celebrar acordos sem carácter vinculativo.
Os sujeitos de direito internacional, podem, nessa qualidade, concluir acordos aos
quais não pretendem atribuir efeitos vinculativos, é o caso dos chamados atos
concertados não convencionais (tais como as declarações politicas, os gentlemen
agreements, as comunicações, os modi Vivendi, os códigos de conduta, etc). Nestes
casos encontramos termos que pretendem regular as relações mútuas mas sem que
todavia se pretenda atribuir a esses compromissos efeitos vinculativos, ficando
portanto o seu cumprimento apenas dependente da boa-fé das partes.
5. Caracterize a ratificação.
A ratificação assume simultaneamente uma natureza politica (na medida em que é
insusceptivel de controlo jurisdicional); é não vinculada/ livre (não há sequer uma
presunção de ratificação- o que torna legítimas as ratificações tardias e as recusas de
ratificação); é formal (porque está dependente de um instrumento formal: a carta ou
instrumento de ratificação); e é internacional (já que visando a produção de efeitos
internacionais é regulado pelo direito internacional) e não retroativa (esses efeitos
apenas se produzem para o futuro, uma vez que não se trata de mera confirmação).
3. Diga o que entende por reservas, identifique os seus efeitos, as suas vantagens e os
seus inconvenientes.
Uma reserva corresponde a uma declaração unilateral feita por um Estado quando
assina, ratifica, aceita ou aprova um tratado ou a ele adere (ou seja, no momento da
sua vinculação), pela qual visa excluir ou modificar o efeito jurídico de certas
disposições do tratado, ou da convenção no seu todo, na sua aplicação a esse mesmo
estado (art.2º/1 d) CV69).
As reservas têm como efeito condicionar a vinculação, o estado faz depender a sua
vinculação da aceitação dessa mesma reserva. O segundo efeito decorre da aceitação,
sendo a modificação do efeito jurídico de certas disposições dessa convenção ou da
convenção no seu todo, na sua aplicação ao sujeito que a formula. A aceitação de uma
reserva terá sempre como efeito o acolhimento de um regime especial no seio do
regime geral.
Em termos de vantagens deve assinalar-se, desde logo, o facto de facilitarem a
vinculação (a flexibilização certamente que permite obter a vinculação de um número
mais alargado de Estados), favorecendo assim a extensão dos regimes, apoiando a sua
generalização. A segunda vantagem prende-se com o funcionamento das conferências
intergovernamentais, a admissão das reservas evita o prolongamento excessivo dos
trabalhos destas, na medida em que torna menos importante o consenso sobre os
textos já que eventuais divergências de pormenor poderão ser posteriormente
contornadas.
No que toca às desvantagens, em primeiro lugar, estas podem conduzir a uma
alteração indireta dos regimes, já que muitos dos participantes podem solicitar a
modificação do mesmo efeito jurídico, tornando assim regra geral aquilo que
supostamente deveria ser mera exceção. Outra desvantagem revela-se do facto de a
formulação sistemática de reservas retirar a clareza ao regime, já que passa a ser difícil
aferir quando em relação a quem e em que termos o regime se aplica.
4. Diga o que entende por assinatura diferida e explique a relevância deste mecanismo.
A assinatura diferida consiste em transformar a cerimónia de assinatura (que por
norma se restringe aos estados que participaram na negociação) num período aberto
durante o qual os Estados que estejam em condições de o fazer decidam nesse
sentido, podem praticar esse ato.
A assinatura diferida apresenta diversas vantagens, sendo a mais importante o facto
de permitir logo após a negociação integrar no processo de conclusão da convenção os
Estados que não puderam ou não quiseram participar na negociação. No caso de
convenções multilaterais gerais este expediente não permite apenas alargar desde
cedo o número de Estados envolvidos (o que dá mais consistência ao regime) como
ainda frequentemente facilita a entrada em vigor se esta depender do depósito de um
dado número de instrumentos de ratificação.
3. Diga o que entende por ius cogens referindo-se à formação deste conceito no plano
internacional.
O conceito cuja introdução pela CDI não foi pacifica levanta dificuldades a vários níveis
que devem ser analisados desde o inicio. A primeira dificuldade surgiu quanto à
determinação do âmbito do ius cogens, primeiro procurou-se determiná-lo
materialmente por referência às regras internacionais de âmbitos especiais, mas isso
tornou-se impossível/ impraticável; depois defendeu-se a referência ao direito natural
mas também essa via padecia da indefinição dos próprios limites.
O regime acolhido na CV69 define o ius cogens como o conjunto de normas às quais
nenhuma derrogação é permitida (e que só podem ser modificadas por uma nova
norma de direito internacional geral com a mesma natureza) de direito internacional
geral aceites e reconhecidas como tal pela comunidade internacional. A definição
constituiu um marco na evolução do ius cogens, cuja existência deixaria de ser
questionada.
O ius cogens trata-se de um direito cujo grau de imperatividade o distingue das
restantes regras de direito internacional, dito positivo, tratam-se de regras perentórias
indisponíveis, ou seja, que as partes de uma convenção não podem afastar nas suas
relações mútuas (derrogar), nem modificar. As convenções cujas normas violem este
tipo de normas incorrerão numa nulidade absoluta.
7. Refira-se ao erro e explique em que termos este afeta a validade das convenções.
Por erro deve entender-se uma prefiguração incorreta da realidade, este só releva se
incidir sobre um elemento essencial e, nessa medida, insuscetivel de obrigar as partes
à luz do principio da boa-fé. O erro não pode ser invocado quando o estado tenha
contribuído para o mesmo ou se tivesse apercebido dele, o erro dá origem a uma
nulidade relativa, podendo ser invocado apenas pelo interessado afetado pelo mesmo.
2. Refira-se às exigências típicas das ordens internas dos estados para o inicio de
execução das convenções internacionais.
A execução das convenções na ordem interna inicia-se com uma introdução na ordem
interna (ou seja pelo preenchimento das condições de aplicabilidade existentes nessa
ordem), trata-se de uma obrigação de resultado resultante do principio da boa fé. O
processo tradicional de inicio da execução na ordem interna consiste na prática de um
ou mais atos especialmente destinados a efetuar essa introdução (ex. promulgação).
A execução dos tratados supõe também a adoção de medidas internas de execução. A
doutrina vem defendendo que deve reconhecer-se em principio o efeito direto às
disposições das convenções que criam direitos a particulares (sem o que lhes estaria a
retirar o seu efeito principal).