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Justiça Constitucional

1. O que é?

Verificação da conformidade entre os atos


estaduais(normativos) e a Constituição

2. Surgimento?

2.1 Europa

A justiça constitucional trata-se de um fenómeno tardio no


constitucionalismo europeu. Teve o seu desenvolvimento iniciado
apenas em finais do século XIX, com o a ascensão dos estados
sociais e democráticos de direito, o que foi acompanhado, em
regra, pela criação de tribunais próprios

*Bem antes disto, como sabemos, predominavam os estados


absolutistas que:

-Não respeitavam direitos (quanto menos os fundamentais)


-Separação de poderes
- Poder arbitrário
Os estados absolutos não estavam nem um pouco
preocupados com limites nem garantias de fiscalização as
leis.

Assim se viveu desde o seu emergir em 1453 – Teorizações de


Thomas Hobbes, São Tomás de Aquino, Maquiavel Bodin, ideia
de Nação, lutas dos reis para emancipação progressiva face ao
papa, supressão dos privilégios feudais substituindo os “estados
medievais”, até seu fim com as revoluções liberais americana
francesa etc.

No entanto isto chegou ao fim. Todos os abusos provenientes da


não existência leis, de um verdadeiro estado de direito que fosse
subordinado na sua atuação (situação acrescida da ascensão do
iluminismo, que difundiu ideias distintas, contrárias à então ordem
social) levou com que revoluções de caráter burguês (=liberais)
se difundissem, num primeiro plano, nos estados unidos, depois
em França e assim em diante por todos os restantes países
europeus, pondo um fim nos regimes monárquicos abusivos.

Quem surge? Os estados de direito Liberais


*Primeiros estados de direito propriamente ditos – Isto é, estados
verdadeiramente limitados pelo direito na sua atuação,
organizados juridicamente (alguma separação de poderes) com
vista a garantia dos direitos fundamentais, indisponíveis,
anteriores aos detentores do poder.

Com os estados liberais:

Separação Direitos
de poderes Fundamentais

Poder Legislativo – Parlamento Pré e supra estaduais


Poder Executivo/adm - Rei e Ministros Originários
Poder Judicial – Juízes Negativos

*Foi neste tipo histórico de estado que surgiram as primeiras


constituições escritas - Constituições Utilitárias. Eram assim
chamadas pois foram constituições que, pelo seu conteúdo,
visaram garantir essencialmente as necessidades que mais se
sentiam naquela altura, pós absolutismo.

- Limitar os poderes dos governantes Sua principal


finalidade

1 Justificada pela necessidade de garantia da liberdade individual contra abusos do poder


Nesta acessão, foram constituições que preocuparam-se em
realizar uma organização do poder político, consagrando a
separação de poderes e os direitos fundamentais (negativos –
estado não atua para garantir)

No entanto, o constitucionalismo liberal não se preocupou


muito com a necessidade de garantia constitucional. E isto
porque, acreditava na força da constituição escrita
(consagradora da separação de poderes / direitos fundamentais
negativos) e na harmonia política. (as leis são sempre justas
/iguais e são atos sobrepostos a todos os demais do estado)

*Princípio do Império da Lei

Os liberais não consideravam o princípio da divisão de poderes


como um equilíbrio neutro entre os três poderes. Havia
supremacia da função legislativa sobre as outras, que
representava vontade de toda a sociedade.

O poder legislativo cabia ao parlamento. Deste saíam as leis. Os


liberais consideravam que as leis deveriam prevalecer sobre
todos os demais atos, como sendo um necessariamente justo =
cada um era legislador no parlamento, por isto ninguém seria
injusto para consigo mesmo / igualitário = participação igual de
cada um na vontade geral para formular normas gerais abstratas
excluí descriminação, privilégio, arbítrio individual.
Somente com império das leis se garantia a soberania popular e
não a tirania.

Assim sendo, era preciso apenas garantir seu cumprimento e


aplicação pelas demais funções do estado, ou seja, era preciso
garantir a subordinação dos outros atos estatais relativamente a
lei.

Por isto medidas foram tomadas tanto para o poder judicial tanto
para o executivo.

O poder judicial – Por conta da supremacia da lei, foi


extremamente vinculado aos comandos desta, visando impedir
que as decisões de juízes estivesse a sofrer influências de
fatores externos (meios não burgueses)

Atividade administrativa – Foi igualmente muito subordinada a lei,


por conta da criação do chamado princípio da legalidade da
administração. Este, partindo do império da lei, referia que todos
os atos administrativos deveriam ser subordinados a lei (já que
se identificava com a proteção dos direitos fundamentais, valores
como justiça e igualdade etc). Atuava em duas dimensões,
preferência da lei e reserva da lei (que depois veio evoluir para
reserva total)
Ainda relativamente a administração, e um mérito dos estados
liberais, foi a consagração da justiça administrativa, modalidade
institucional que visava garantir a vinculação legal da
administração ao oferecer aos particulares a possibilidade de
recorrerem aos tribunais para impugnar falhas do executivo,
repondo a legalidade. Com isto o cidadão poderia se defender
dos órgãos do estado.

Assim se viveu até o início do século XX com o iniciar da primeira


grande guerra mundial.

*Lembrar da crise do estado liberal:

Sobretudo a partir do século XIX, os pressupostos deste estado


começaram a deixar de funcionar.

Crise económica/social que antecede primeira guerra – Crença


na “mão invisível” supostamente oferta/procura iria levar vida
económica ao máximo de riqueza. = desemprego, descalabro
económico

Desenvolvimento industrial – substituição de homens por


máquinas – Contribuição ao desemprego

Êxodo rural, sem que haja estruturas suficientemente adequadas


para receber a massa populacional = descalabro social
Como a situação estava a se agravar, e o estado até então nada
fazia, ou não sabia o que fazer, isto deu espaço ao surgimento de
novas ideologias políticas, que reclamavam por mais intervenção
do estado na organização das atividades coletivas.

Até chega a existir e seguida uma fase de transição em que os


estados vão perdendo sua aparência inicial e vão tentando
intervir mais. Não há mudanças nos pressupostos liberais, o que
ocorreu é que a administração começou a falhar e diversos
campos, e o estado foi chamado a intervir minimamente.

No entanto, com primeira guerra mundial em 1914 – século XX =


Desastre completo

Somente a partir daqui o otimismo liberal terminou, dando lugar a


crença de que a constituição serve de garantia à validade das
leis, e como tal, precisa ser assegurada.

Em seguida, após o período de guerras, vieram os ESDD


Foi somente com a passagem ao estado social e democrático de
direito, que se consagrou pela primeira vez a chamada justiça
constitucional, o que foi acompanhado, em regra, pela criação
de tribunais comuns ou especialmente criados para o efeito.

A justiça constitucional e, por consequência, o surgimento dos


primeiros tribunais constitucionais, foi uma expressão do princípio
da separação de poderes destes estados, garantia da própria
democracia.

Os ESDD, possuíam as chamadas constituições ideológico-


programáticas. Assim eram chamadas, pois eram constituições
que obedeciam em regra, uma ideologia, que influenciava no
modo da sua elaboração e da fixação das matérias, e
estabeleciam como que um programa, que o estado deveria
seguir. Foram constituições que perderam a necessidade do
exclusivo de conteúdos de cariz liberal, passando a se
universalizar. Tornaram-se num conceito muito amplo e aberto a
uma pluralidade de conteúdo, dentre os quais, a Justiça
constitucional.
2.2 Em Portugal

Como sabemos Portugal teve na totalidade 6 constituições,


sendo 3 monárquicas e 3 republicanas.

- 1822 - 1911
- Carta consti 26 - 1933
- 1838 - 1976

A constituições monárquicas não previam qualquer forma de


fiscalização da constitucionalidade! Pelo menos não por
tribunais. A fiscalização era exclusivamente política, uma vez
que eram políticos os órgãos os encarregados de a realizar.

Atualmente, a justiça constitucional portuguesa está e encargo,


sobretudo, do tribunal constitucional.

O surgimento em Portugal de um tribunal constitucional (tal como


em vários outros países europeus) teve de aguardar a
restauração e consolidação do regime democrático, já na
segunda metade do século XX, o que nos comprova que apenas
em democracia é possível a existência de um tribunal
constitucional ou mesmo de uma jurisdição constitucional que
tenha por objeto o controlo da constitucionalidade das leis.
Mas e antes do tribunal constitucional? Como se verificava a
conformidade dos atos normativos e a constituição? Como
começou, efetivamente, a justiça constitucional em nosso país?

2.2.1 No regime Republicano

O primeiro sistema de controlo jurisdicional da fiscalização da


constitucionalidade das leis nasceu em Portugal com a
constituição de 1911 (artigo 63º) o que a nível europeu se tratou
de uma grande inovação.

Foi um sistema muito inspirado na constituição da república


Brasileira de 1891 e na experiência norte-americana do “judicial
review”2
Era inicialmente um sistema difuso de controlo da
constitucionalidade, confiado a generalidade dos tribunais
ordinários, no quadro dos casos concretos que tivessem que
dirimir.

Portanto, um sistema inicial de fiscalização - SUCESSIVA;


CONCRETA; POR VIA INCIDENTAL, levada a cabo pelos
tribunais = DE TIPO NORTE-AMERICANO; DIFUSA= por órgãos
do judiciário
2 Desde sempre a natureza do sistema jurídico permitiu que se reconhecesse aos tribunais em geral a faculdade de
apreciar a aplicação da constituição.
Este primeiro sistema não teve muito alcance prático. Quer
pela cultura judicial de extremo respeito pela lei (“magistratura
ferozmente legalista”) quer pela inconstitucionalidade não poder
ser de conhecimento oficioso, ou seja, os juízes apenas atuavam
neste domínio a requerimento das partes.

2.2.2 No estado Novo

Em 1933, com a ascensão de António Oliveira Salazar, foi criada


uma nova constituição, que institucionalizava Portugal como um
regime político-constitucional preponderantemente autoritário.

No seu todo, esta nova constituição manteve o sistema de


fiscalização anterior, procedendo apenas algumas alterações.
Era preciso abrir caminho para a possibilidade de através de lei,
se concentrar num só tribunal ou num órgão a competência para
exercer o controlo da constitucionalidade! O que demorou e
muito!

Foi apenas nos finais do regime, com a última revisão da CRP de


33 em 1971, tivemos a renumeração do artigo 122 para o 123, e
o aditamento a este de um nº 1 que dispunha sobre a
fiscalização:
123 N1
“A constitucionalidade de regra de direito, no que respeita à
competência da entidade de que dimana ou a forma de
elaboração, só poderá ser apreciada pela Assembleia
nacional e por sua inciativa ou do governo, determinando a
mesma assembleia os efeitos da inconstitucionalidade, sem
ofensa, porém, das situações criadas pelos casos julgados”

Algumas alterações foram feitas, embora não fossem assim tão


grandiosas.

Por um lado, avançou-se no sentido de que os tribunais


passaram a ter a faculdade de oficiosamente, sem necessidade
de arguição de quaisquer partes, conhecerem a
inconstitucionalidade das normas que tinham que aplicar aos
casos concretos.

Por outro lado, assistiu-se a um retrocesso, pois foi vedada aos


tribunais a possibilidade de se pronunciarem sobre questões de
inconstitucionalidade orgânica e formal dos diplomas
promulgados.

Para além disto, previu também um sistema de fiscalização


SUCESSIVA, ABSTRATA, POR VIA PRINCIPAL,
CONCENTRADO na Assembleia Nacional, órgão legislativo
(político) na altura do estado novo.
*Sistema este que atuava em conjunto com o anterior.
Apesar disto, a lei de revisão constitucional de 1971 nunca foi
publicada, e por isto, não se chegou a concretizar muito as ideias
de controlo concentrado da constitucionalidade.

PONTO DA SITUAÇÃO – QUE SITEMA TEMOS ATÉ ENTÃO?

Um sistema misto! Existem órgãos políticos e jurídicos a


proceder a fiscalização.

-Fiscalização abstrata por via principal – concentrada na


Assembleia nacional

-Fiscalização concreta por via incidental – difusa entre os


tribunais

25 de Abril de 1974
Fim do regime autoritário e começo da transição à
Após a revolução formou-se uma junta da salvação nacional,
democracia
surgindo logo no dia seguinte, o programa das forças armadas.

A junta determinou que num prazo de 12 meses seria eleita uma


assembleia constituinte, por sufrágio direto, secreto e universal.

Foram elaboradas as leis 1/74 e 2/74, relativas à destituição dos


órgãos de soberania existentes, e a lei 3/74 definidora da
organização do poder político. Todas estas possuindo valor
constitucional.

Os novos órgãos passaram a ser:

- Junta de salvação nacional


-Presidente
-Conselho de estado
-Governo provisório
-Tribunais

No entanto, o 25 de abril não fez desaparecer totalmente, no


período pós-revolucionário, o sistema de fiscalização da
constitucionalidade previsto na constituição de 1933, devido a
ressalva feita pela lei 3/74 de 14 de maio artigo 1º:

“A Constituição Política de 1933 mantém-se transitoriamente em


vigor naquilo que não contrariar os princípios expressos no
Programa do Movimento das Forças Armadas, cujo texto
autêntico se acha transcrito em anexo a esta lei e dela faz parte
integrante.”

Assim, num primeiro momento, a fiscalização da


constitucionalidade organizou-se da seguinte forma:

Manteve o sistema misto da constituição de 1933 – fiscalização


por órgãos políticos e jurisdicionais, só que com alterações!

- Aboliu-se o artigo 123 da CRP de 1933, por força do artigo 1 nº


3 da lei 1/74. Por consequência, competência para a fiscalização
abstrata, por via principal, agora difusa – passava para o
presidente da república, junta da salvação nacional e sobretudo,
conselho de estado (que poderia declarar inconstitucionalidade,
com força obrigatória geral de quaisquer normas)

- A fiscalização concreta, por via incidental e difusa, continua


pertencente aos tribunais.
As coisas foram assim até 14 de março de 1975, com a lei 5/75
de 14 de março. Esta lei, criadora do conselho da revolução
(artigo 2) , veio alterar e muito a situação anterior.

Em primeiro lugar, seu artigo 1º extinguiu a junta da salvação


nacional e o conselho de estado.

As competências destes órgãos, por força do artigo 6º n1


passaram ao conselho da revolução. Por consequência, as
competências de fiscalização política (presidente / junta da
salvação nacional / conselho de estado) se concentraram! Artigo
10º n1 e 13 nº3 da lei 3/74.

*O presidente da república não teve suas competências


concentradas neste novo órgão, mas era membro dele! (artigo 2º
n1 alínea a) da lei 5/75 de 14 de março.

Com isto, tudo apontava para uma concentração da competência


de controlo da constitucionalidade no conselho da revolução!
CRP DE 76 – 2 de abril foi formalmente
promulgada constituição /entra em vigor dia 25
do mesmo
Nossa primeira constituição mês
democrática depois de anos de um
regime ditatorial. Nossa atual CRP, embora tenha sido alvo de 7
revisões! Antes da primeira, de 1982:

Decreto-Lei n.º 503-F/76


Decreto-Lei n.º 503-F/76 – Estatuto da comissão constitucional

A comissão constitucional tratava-se de um órgão auxiliar do


conselho da revolução (art 1 n 1)

Era dirigido especialmente ao controlo da constitucionalidade,


competindo emitir pareceres no âmbito da fiscalização preventiva
e sucessiva abstrata, e da fiscalização por omissão.

Simultaneamente, a comissão atuava como órgão jurisdicional


supremo em matérias de fiscalização judicial da
constitucionalidade, cabendo-lhe decidir em última instância, sob
forma de acórdão, dos recursos interpostos das decisões dos
tribunais que recusassem a aplicação de normas com
fundamento em inconstitucionalidade, e das decisões dos
tribunais que aplicassem normas anteriormente julgadas
inconstitucionais pela comissão.3
3 A dupla natureza (orgao de consulta /jurisdicional) deixa dúvidas doutrinais quanto a caracterização deste órgão.
Não foi exatamente um TC, mas se prefigurou como um.
O sistema de fiscalização pré 1982, ficou:

- Sistema misto e difuso

- Fiscalização jurídica - concreta, por via incidental, difusa –


tribunais (com possibilidade de recurso para a comissão)
- Fiscalização política – Abstrata, por via principal preventiva
(pelo conselho da revolução, com parecer da comissão
constitucional) sucessiva (pelo conselho da revolução com
parecer da comissão), e fiscalização por omissão (por parte do
conselho da revolução com parecer da comissão)

Haviam algumas novidades: A fiscalização por omissão, a


fiscalização preventiva pela comissão, e a possibilidade de
recurso dos tribunais comuns.
3) O tribunal constitucional

A constituição de 1976, após a sua revisão de 1982(lei 1/82 de


30 de setembro), não prescreveu para Portugal um sistema
judicial unitário. Enumerou ordenadamente as categorias de
tribunais (212 a 219), entretanto, prevendo um novo: O tribunal
constitucional.

Este, desde sua criação, não sofreu grandiosas mudanças


estruturais, nem a Justiça constitucional

O tribunal constitucional era competente para apreciar a


inconstitucionalidade e ilegalidade, nos termos do artigo 277 e ss.

Cada um dos outros tribunais era estanque, o que significava que


não existia recurso de um para um outro de categoria diferente,
salvo no caso especial do tribunal constitucional, que no domínio
específico de sua competência, jugava os recursos vindos de
todos os demais tribunais. (Artigo 1º LOTC)

Instituiu-se assim uma jurisdição constitucional autónoma para


Portugal!
*Mesmo antes da entrada e vigor da lei de revisão, o governo já
preparava diversas leis que viriam a lhe dar sequência. Por um
lado, a lei da defesa nacional (que veio a ser a lei da defesa
nacional e das forças armadas nº 29/82 de 11 de dezembro), por
outro a Lei da Organização, funcionamento e processo do
Tribunal Constitucional (lei nº 28/82 de 15 de novembro).

A lei de organização, funcionamento e processo do tribunal


constitucional, foi ao longo do tempo sendo alvo de muitas
alterações.

Sofreu no total 9 alterações por via de lei, acrescidas das


revisões constitucionais, dentre as quais destacam-se:

Com a revisão constitucional de 1989 (2ª), o tribunal


constitucional passou a estar contemplado num Título próprio –
Título VI – artigos 221.º a 224.º da CRP, mantendo-se indicado
no artigo 209.º n.º 1 sobre as categorias dos Tribunais.

Com a Revisão constitucional de 1997 (4ª), foi alterada a duração


do mandato dos juízes do TC. Inicialmente era de 6 anos com
possibilidade de renovação, a partir dessa data, passou a 9 anos
não renovável - artigo 222.º n.º 3 CRP

A última das alterações à lei do tribunal constitucional ocorreu


com a lei orgânica nº 4/2019 de 13 de setembro. Corresponde a
versão atual.

O Tribunal Constitucional tem como principal competência


administrar a justiça nas matérias de natureza jurídico
constitucional – artigo 221.º CRP e artigo 6.º da LOTC

Composição – artigo 222.º CRP e 163.º al. h) e 12.º a 19.º da


LOTC

Competências – artigo 223.º da CRP e 6.º a 11.º- A da


LOTC
Organização e funcionamento - artigo 224.º da CRP e 36.º
e ss. da LOTC

Eleição do PR do TC – artigos 222.º, n.º 4 da CRP e 37.º e 38.º


da LOTC
Mandato- artigo 222.º n.º 3 da CRP
O PR do TC é membro do Conselho de Estado - artigo 142.º
al. c) CRP

Garantias dos Juízes do TC- artigos 222.º n.º 5 e 6 da CRP e


22.º, 24.º, 27.º e 28.º da LOTC
Inconstitucionalidade

1. O que é?

- Desconformidade de uma norma ou ato praticado por órgãos do


poder político com o texto da constituição.

*No sistema português atual, somente a desconformidade de


atos normativos é relevante! 112º

*Atos políticos podem ser fiscalizados quanto ao aspecto formal.


Se um decreto governamental não estiver assinado pelo
presidente, e nele contiver um ato político, sofrerá de
inconstitucionalidade formal.

*Atos administrativos podem ser apreciados pelos tribunais


comuns em caso de ilegalidade de acordo com o princípio da
legalidade da administração.
*Não são suscetíveis de apreciação da constitucionalidade os
atos de entidade privadas vinculadas ao cumprimento da
constituição.

Inconstitucionalidade # Ilegalidade

Norma ordinária ou/ ordinária de valor reforçado viola a


constituição – Inconstitucionalidade

Norma ordinária comum viola norma ordinária de valor reforçado,


indo contra a constituição pelo facto de ser ela a atribuir o valor
reforçado das normas interpostas – Ilegalidade ou
inconstitucionalidade indireta

*Ambos são vícios apreciados pelo tribunal constitucional

Se houver um dos casos, a parte interessada poderá sempre


invocar o mais gravoso ou o cuja a arguição seja mais favorável.
A fiscalização da constitucionalidade pode-se fazer tanto quanto
a atos normativos anteriores como posteriores a constituição em
vigor (artigo 290º).

A fiscalização de atos normativos anteriores pode fazer-se


quanto ao aspecto material pela nova constituição e quanto ao
aspecto formal e orgânico pela anterior constituição.

2. Tipos de inconstitucionalidade

DIRETA / INDIRETA ou (ilegalidade)

POR AÇÃO / OMISSÃO

MATERIAL / FORMAL / ORGÂNICA

TOTAL / PARCIAL

ORIGINÁRIA / SUPERVENIENTE

Será direta quando uma norma infra-constitucional violar


diretamente a constituição (artigo 277º)
Será indireta quando uma norma viola normas interpostas cujo
valor reforçado é conferido pela constituição.

Será por ação, quando a desconformidade do ato resulta de uma


atuação de um órgão do poder.

Será por omissão quando resulta da não atuação de um órgão


ou pela sua atuação insuficiente.

Por ação serão ainda:

-Inconstitucionalidade material: (ou substancial) Resulta da


contradição entre o conteúdo do ato normativo e o conteúdo de
uma norma ou princípios constitucionais.

- Inconstitucionalidade Formal: Resulta do ato normativo


adotar uma forma ou processo de feitura diferente dos previstos.
-Inconstitucionalidade Orgânica: Ocorre quando o ato
normativo provém de um órgão constitucionalmente
incompetente para o efeito.

Inconstitucionalidade Total: Abrange todo o ato normativo?

Inconstitucionalidade Parcial: Abrange apenas uma parte?


Alguns artigos, números?
Inconstitucionalidade originária: Norma infra-constitucional
vem contrariar uma norma de uma constituição que lhe é anterior.

Inconstitucionalidade superveniente: Ocorre quando uma


norma ordinária, inicialmente constitucional, passa a ser
inconstitucional por ter entrado em vigor uma norma
constitucional que a contraria. (Neste caso, só releva se for
material)

*NOTA: Por regra, a inconstitucionalidade material é parcial


3. Sistemas de Fiscalização da constitucionalidade

Os sistemas de fiscalização da constitucionalidade (ou modelos


de Justiça constitucional), observando o número e natureza dos
órgãos de fiscalização da constitucionalidade, podem se
distinguir:

- Sistemas difusos: Competência de fiscalização atribuída a


vários órgãos

- Sistemas concentrados: Competência de fiscalização é


atribuída a um órgão
*Sistema norte americano: Todo e qualquer juiz e qualquer
tribunal se pode recusar a aplicar uma norma que considere
inconstitucional
* Sistema austríaco (de tribunal constitucional): Só um tribunal
constitucional aprecia a constitucionalidade das normas,
decidindo definitivamente.

*Sistema Francês (de fiscalização por órgão político):


fiscalização é feita por um órgão político
*Sistema misto (de órgão político e jurisdicional): Fiscalização é
feita por um órgão político em certas matérias e por um
jurisdicional em outras.
4. Classificação da Fiscalização

4.1 Quanto ao modo de impugnação do ato?

A) Fiscalização por via principal: Único processo a ser dirimido


é o da fiscalização da constitucionalidade (não há processos a
decorrer em paralelo). É permitido aos cidadãos ou a certas
entidades a impugnação de um certo ato considerado
inconstitucional, independentemente da existência de qualquer
litígio.

Fiscalização por via incidental: Já existe um processo em


tribunal, quando sendo levantada a questão da
inconstitucionalidade de alguma norma, o processo principal fica
suspenso, até que esta questão seja decidida, que corre em
processo incidental (fiscalização incidental). É sucessiva.

B) Fiscalização em abstrato: Realiza-se independentemente de


qualquer processo a correr em tribunal.

Fiscalização em concreto: Realiza-se em relação a um


processo já decorrente em tribunal. – É sempre sucessiva

4.2 Quanto ao momento em que é feita?

A) Fiscalização preventiva: Feita antes que a norma venha


ser publicada no jornal oficial (diário da república). Quando a
norma vai para promulgação pelo presidente ou assinatura
pelo representante d república.

B) Fiscalização Sucessiva: Feita depois da norma ser


publicada em diário da republica, independente da sua
entrada em vigor.

1. Classificação dos efeitos da inconstitucionalidade


Efeitos gerais (com força obrigatória geral) – Norma declarada
inconstitucional deixa de produzir efeitos “erga omnes”. O ato é
eliminado por completo do ordenamento jurídico, deixando de
vincular casos e pessoas.

-Efeitos Particulares – Norma declarada inconstitucional não irá


se aplicar mais ao caso concreto que lhe é submetido. No
entanto, continuará em vigor para outros casos, até que seja
revogada, suspensa, ou anulada pelos órgãos competentes.

Efeitos retroativos – Quando a declaração de


inconstitucionalidade faz com que a norma inconstitucional deixe
de produzir efeitos “ex tunc”(retroativos). Simultaneamente
determina efeitos repristinatórios para tudo o que ela tiver
realizado.

-Efeitos prospetivos – Declaração de inconstitucionalidade faz


com que a norma inconstitucional deixe de produzir efeitos “ex
nunc”, ou seja, a partir do momento da declaração.

Inexistência – Ato normativo simplesmente inexiste. Não vai


produzir nenhum efeito desde sua origem, ainda que publicado.
Não é vinculativo a nenhum indivíduo ou entidade. Não é
obrigatório. Cidadão podem opor-se por resistência defensiva
(não execução) ou desobediência.

Nulidade – Norma declarada inconstitucional deixa de produzir


efeitos desde a data de sua entrada em vigor.

Anulabilidade – Norma declarada inconstitucional deixa de


produzir efeitos a partir do momento da declaração.

2. Fiscalização da constitucionalidade na CRP

O sistema português de fiscalização da constitucionalidade:

A)
- É Difuso em relação a fiscalização concreta (todos os nossos
tribunais podem levar a cabo – artigo 204º). O que acontece ou,
“Ex officio” ou por impugnação das partes (280º)

- Concentrado em relação a fiscalização abstrata (preventiva ou


sucessiva) pois somente o tribunal constitucional a pode efetuar
como órgão judicial (artigos 209º n 1; 278 e 281)
B) Fiscalização é efetuada por órgãos judiciais, embora, muitas
das vezes, seja atribuído um caráter político, mais do que o
jurisdicional, em relação a decisão de controlo preventivo da
constitucionalidade e a fiscalização abstrata.

C) O sistema de fiscalização preventiva (neste caso, apenas


da constitucionalidade) está previsto nos artigos 278º e 279º.
Trata-se de uma fiscalização abstrata, realizada unicamente pelo
tribunal constitucional, a pedido do presidente da república, ou do
representante da república (este quanto a diplomas regionais).
Sua finalidade é evitar “ab initio” violações grosseiras na
constituição. Ser capaz de detectar desde o princípio, antes que
os diplomas pudessem entrar em vigor e causar problemas.

*Tal aspecto não torna excluído o direito a posterior apreciação


de outras normas do mesmo diploma, ou então, das mesmas,
com outros fundamentos.

Fiscalização preventiva:
Um diploma vai para PR/RR para os devidos fins
Estes ao analisarem o respetivo, podem considera-lo
inconstitucional (ter dúvidas quanto a sua constitucionalidade) por
algum motivo, e por isso, o remetem ao tribunal constitucional

O tribunal constitucional irá dar o seu parecer, que não é


publicado em qualquer local, apenas comunicado ao presidente e
representante.
Parecer positivo a inconstitucionalidade? (tribunal pronuncia-se?)
PR obrigado a vetar o diploma (veto jurídico ou por
inconstitucionalidade – Veto suspensivo). É recusada a
promulgação e o diploma é enviado de volta ao órgão
responsável por sua elaboração (Gov/AR/ALRs) para que este
expurgue a inconstitucionalidade.

Parecer negativo a inconstitucionalidade? PR poderá vetar o


diploma politicamente ou então promulgar.

Caso os órgãos corrijam a inconstitucionalidade, por regra, o


presidente da república irá promulga-lo / assiná-lo, embora possa
ainda voltar a requerer mais uma fiscalização preventiva.

Por outro lado:

GOV não corrige o problema no diploma? PR converte seu veto


suspensivo (quanto aos diplomas do governo) em veto definitivo.
AR ou ALRS não corrigem o problema do diploma? E o
confirmam pela maioria prevista no nº 2 do artigo 279, o PR e o
RR poderão promulgar ou vetar definitivamente. Funcionarão
como árbitros entre o parecer do tribunal constitucional e a
reapreciação dos órgãos competentes.

D) Sistema de fiscalização sucessiva4 vem previsto nos artigos


280º e 281º, e verifica-se tanto para a inconstitucionalidade
como para a ilegalidade.

 Poderá ser uma fiscalização abstrata classificada como por


via principal (artigo 281º)

Quando uma norma é publicada no DR, qualquer indivíduo,


fazendo uso do seu direito de petição(52º), pode solicitar em
carta devidamente fundamentada a qualquer uma das entidades
com legitimidade ativa (281º n 2) que requeira ao tribunal
constitucional a inconstitucionalidade ou ilegalidade da norma.

*Máxime ao provedor de justiça!

4 Não sai para o teste. Estudar por segurança


Se a inconstitucionalidade ou ilegalidade é originária, a norma
que assim for declarada deixa de produzir efeitos desde o
momento em que entrou em vigor. Deixa de produzir efeitos para
todos os casos e opera a repristinação das normas que
eventualmente tenham sido revogadas por ela. (artigo 282 n 1)

Se a inconstitucionalidade ou ilegalidade é superveniente, a


norma declarada inconstitucional ou ilegal só vai deixar de
produzir efeitos desde o momento em que entra em vigor esta
declaração (publicada nos termos do artigo 119º nº 1 alínea g))
artigo 282 n 2.

 Poderá ser uma fiscalização em concreto feita por via


incidental (artigo 280º)

Neste caso, no decurso de um processo judicial, pode suceder


que o juiz:

- Se recuse a aplicar uma norma, por a considerar


inconstitucional ou ilegal

- Aplique uma norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade


tenha sido suscitada por uma das partes (artigo 280º n1 alíneas
a) e b))
Quanto ao primeiro caso:
*Se o juiz tiver se negado a aplicar norma constante de
CONVENÇÃO INTERNACIONAL; LEI; DECRETO-LEI;
DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL OU DECRETO
REGULAMENTAR, o ministério público será obrigado a recorrer
diretamente para o tribunal constitucional (artigo 280 nº 3).

*Por outro lado, se a norma a não ser aplicada constar de um


diploma de qualquer outra forma, o recurso do ministério público
não é obrigatório e não tem de ser diretamente realizado para o
tribunal constitucional. Se é que recorre, só o fará para o TC
depois de esgotadas as medidas ordinárias (se um litígio está a
ser julgado na 1ª instância, existem os tribunais da relação e o
supremo).

*Ministério público é ainda obrigado a recorrer diretamente para o


TC, das decisões de juízes que apliquem uma norma
anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo TC. ( 280 nº
5)

Em relação ao segundo caso:


*Se o juiz aplicar uma norma cuja inconstitucionalidade ou
ilegalidade tenha sido suscitada durante o processo, só poderá
recorrer para o tribunal constitucional a parte que tenha suscitado
a questão e depois de ter recorrido a todos os meios ordinários.

O processo principal fica suspenso quando é suscitada a questão


da inconstitucionalidade ou ilegalidade, e então, o juiz do tribunal
terá que conformar a sua decisão com o acórdão que o tribunal
de recurso, por regra, o TC, proferir sobre a questão.

Se a norma for declarada inconstitucional ou ilegal, vai o ser com


efeitos particulares, ou seja, não será aplicada ao caso concreto
em julgamento, mas continuará em vigor para os restantes casos,
até ser anulada, revogada ou suspensa.

*No entanto, se o tribunal constitucional já tiver julgado a mesma


norma inconstitucional ou ilegal, em três casos, pode declarar
então a sua inconstitucionalidade ou ilegalidade com força
obrigatória geral (artigo 281º nº3). Deste modo, passa-se da
fiscalização sucessiva concreta para a fiscalização sucessiva
abstrata. É precisamente, O único caso em que o TC atua de
forma autónoma e não por requerimento.

E) Fiscalização da constitucionalidade por omissão vem prevista


no artigo 283º. É realizada pelo tribunal constitucional, mas a
requerimento do presidente da república, do provedor de justiça
ou dos presidentes das assembleias legislativas das regiões
autónomas.

Se o tribunal constitucional verifica a existência deste tipo de


inconstitucionalidade, limita-se a dar conhecimento ao órgão
legislativo competente, limita-se a recomendar, não impõe nem
atua em nome do órgão.

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