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Letícia Ramos - 194/22

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


FACULDADE DE DIREITO
DES0223 - DIREITO CONSTITUCIONAL I -DIREITOS FUNDAMENTAIS
PROF. ASSOCIADO JOSÉ LEVI MELLO DO AMARAL JUNIOR

P1 - Aborda desde o conceito de Constitucionalismo até a introdução


dos Direitos Fundamentais (totalizando 7 aulas)

1. O que é o constitucionalismo?

Sem nenhuma especificação, a palavra constitucionalismo remete aos movimentos de limitação do poder que tiveram como objetivo superar e
prevenir o absolutismo, decorrentes de três grandes revoluções liberais: a Revolução Gloriosa inglesa (1688 - 1689), a Revolução Americana
(1776), e a Revolução Francesa (1789). O principal marco do constitucionalismo é a Declaração Universal dos Direitos do Homem e Cidadão
(1789), ainda vigente na França, destacando-se o art. 16: “Toda sociedade em que a garantia dos Direitos não esteja assegurada, nem a separação
dos Poderes determinada, não tem Constiuição”. O constitucionalismo, assim, é uma técnica de liberdade contra o poder arbitrário. Daí decorre
um conceito material de Constituição.

2. Quais são os ciclos do constitucionalismo? Como eles se caracterizam?

Uma exposição didática sobre a influência das Revoluções Liberais no Direito Comparado é feita por Paolo Biscaretti di Ruffia. Menciona dez
ciclos, divididos em dois grandes períodos que se distinguem:

O constitucionalismo clássico (1789 - 1918)

1.Constituições revolucionárias do século XVIII (1776 - 1799): inicia-se com a Declaração de Independência, de 1776, passa pelos Artigos da
Confederação, de 1777, e culmina com o primeiro texto constitucional moderno, a Constituição Americana de 1787.

2.Constituições napoleônicas (1799 a 1815): A Constituição de 1799 estabelece o Consulado, com três cônsules, tendo Napoleão a qualidade de
primeiro; segue-se o Senado-consulto, de 1802, com Napoleão feito cônsul vitalício; então, em 1804, é estabelecido o Império. As artimanhas de
Napoleão serviram de inspiração a regimes autoritários: Eleições substituídas por designações; Multiplicação de assembleias parlamentares com
o intuito de delimitá-las. Assim: O Conselho de Estado preparava as leis; o Tribunal discutia as leis, mas não as votava; o Conselho Legislativo
votava as leis, mas não as discutia; o Senado controlava-lhes unicamente a constitucionalidade; o Executivo era forte, apoiado em consultas
populares. Esse modo de atuação do Senado remete ao projeto de ‘júri constitucional’ elaborado por Sieyès, influenciado pela argumentação de
Alexander Hamilton. Por outro lado, são legados desse ciclo: Conselho de Estado, até hoje funcional na França (e replicado em outros textos
constitucionais, aí incluída a Constituição Política do Império do Brasil, de 25 de março de 1824); O Código Civil; A criação de juízes de carreira
independentes frente ao Executivo; A igualdade entre os cidadãos.

3.Constituições legitimistas da restauração (1815 a 1830): com a queda de Napoleão, algumas monarquias foram restabelecidas, porém, não
mais eram absolutas, mas, sim, limitadas, “primeiro como monarquias constitucionais puras e, depois, como parlamentares”. A igualdade entre
os cidadãos foi preservada.

4.Constituições liberais (1830 a 1848): impulsionadas porque o legitimismo não deixou satisfeita a burguesia, mas ficou definido que a
soberania era da Nação e o rei somente teria os poderes que lhe fossem atribuídos; às câmaras eram eletivas e o parlamentarismo foi implantado
(o Estatuto Albertino é deste período).

5.Constituições democráticas (1848 a 1919): o voto é ampliado até a universalização.

Constitucionalismo mais recente:

(assinalado por textos inspirados em concepções políticas notoriamente distintas, cinco ciclos que sobrepõem-se no tempo)

1.Constituições democráticas racionalizadas (1919 a 1937): Com o fim da I Guerra Mundial, desapareceram vários grandes Impérios, o que
deu lugar à formação de numerosos pequenos Estados nacionais, que surgiram das suas ruínas, Estados que adotaram geralmente governos
republicanos de democracia radical. Buscavam “racionalizar”, em especial, o sistema de governo parlamentar. Ruffìa expõe a principal crítica a
essas Constituições: várias delas foram consideradas “excessivamente teóricas, ou seja, foram mais fruto de elaborações doutrinárias de gabinete
do que resultado de apreensões concretas realizadas com apoio nas exigências dos diversos Estados em que deveriam ser aplicadas
posteriormente”. Por isso foram ditas “Constituições dos professores”;
2.Constituições democrático-sociais (1946 aos dias atuais): os esquemas constitucionais clássicos sofrem atualização substancial “e uma
racionalização mais equilibrada das respectivas formas de governo parlamentar”. Se insere neste ciclo a Constituição brasileira de 1988, inclusive
com norma constitucional que bem sintetiza os valores constitucionais que animam e protegem a democracia brasileira, a saber, o seu art. 17: “É
livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana [...]”;

3.Constituições autoritárias do entreguerras: este ciclo, em geral, não levou à elaboração de novos textos constitucionais “precisamente em
virtude de que os mesmos princípios políticos e jurídicos que estavam em sua base conduziram a uma desvalorização das garantias inerentes às
normas formalmente constitucionais”. Em suma, havia “notável separação [...] entre os preceitos escritos e a realidade da vida constitucional”;

4.Constituições socialistas: a queda da União Soviética – e do respectivo bloco de influência no leste europeu – As Constituições eram
“reproduções visíveis dos diferentes graus de desenvolvimento, primeiro até a realização do socialismo e depois da sociedade comunista”. A
Constituição soviética de 1977 exibia um sistema de governo assembleísta, sem separação de poderes, pois todo o poder seria, em tese, da classe
proletária, porém, na prática, em face da “breve duração das sessões parlamentares”, o poder era exercido pela comissão diretora do Soviet
Supremo. Ademais, estruturas estatal e partidária confundiam-se. Por fim, a negação da “doutrina burguesa” da separação dos poderes resulta,
“como corolário, a inadmissibilidade, pelos ordenamentos do tipo socialista, de um controle de constitucionalidade que seja exercido por órgãos
extra- -parlamentares”;

5.Constituições adotadas nos Estados do chamado “Terceiro Mundo”: são textos constitucionais, sobretudo do pós-Segunda Guerra Mundial,
“em sua maioria imitados de modelos ocidentais específicos”, o que resulta “uma existência em grande parte teórica ou livresca”, em geral de
caráter presidencial. Com efeito, Robert Dahl anota: “Talvez impressionados pela estabilidade e poder americanos, países em desenvolvimento
têm muitas vezes adotado alguma versão do sistema presidencial.

3. Quais são os tipos de constituição? Como eles se caracterizam?

Costumeira [Common Law] ou escrita [Civil Law];


Material (matéria constitucional), formal (forma específica; sua modificação exige um processo complexo) ou documental. Rígida (escrita e
formal), flexível (sua revisão acontece por lei comum) e semirrígida (parte rígida e parte flexível - ex: Constituição de 1824) Garantia (garante a
liberdade pela limitação do poder), balanço (equilíbrio para o novo estágio de organização política - URSS) ou dirigente (constituição dirigida
para a construção de alguma coisa/visa ao futuro - tradição portuguesa)
Sintética (aspectos gerais da matéria constitucional - EUA) ou analítica (muitas normas apenas formalmente constitucionais) Promulgada
(derivam de uma Assembleia Nacional Constituinte) ou outorgada (imposta por uma autoridade) Histórica (formação lenta a partir das
tradições de um povo) ou dogmática (escrita e sistematizada por órgão constituinte). Nominal (traje fica pendurado por um tempo e será
colocado em prática), semântica (traje como disfarce) ou normativa (traje que cai bem e se usa realmente)

4. Como se caracterizam as espécies de poder constituinte?

Poder Constituinte Originário → seu único limite seria o Direito Natural (extrapola os limites postos pelo direito positivo - para os positivistas
teria limite nenhum, pois se não há Direito positivado antes da manifestação desse Poder, não existe limite). Características: (i) inicial (funda a
ordem jurídica): (ii) ilimitado (aspecto material: toma decisões político-fundamentais); (iii) incondicionado (aspecto formal: não tem uma forma
pré-definida para se manifestar → Assembleia Constituinte, referendo popular, Congresso Nacional investido desse poder, etc.). Toda
Constituição que funda uma nova ordem jurídica ⇒ Poder Constituinte Originário (acima dos demais poderes, que são constituídos por esse
poder constituinte)

Poder Constituído Instituído → (i) derivado da própria Constituição; (ii) limitado (aspecto material); (iii) condicionado (aspecto formal - modo
de se manifestar) - (a) Poder Constituído de Revisão (1994) - (b) Poder Constituído de Reforma (Emendas Constitucionais) - apenas para
constituições rígidas (que exigem um procedimento formal específico e burocrático para sua alteração) - (c) Poder Constituído Decorrente:
permite a elaboração de constituições estaduais e municipais (federalismo) - Poder Constituinte é poder de fato ou de direito? Poder de fato
(visão positivista - limitação material ampla) ou poder de direito (visão jusnaturalista - direito anterior e superior determina de algum modo o
poder constituinte originário).
5. O art. 60, § 4º, da Constituição pode ser revogado?

Não, pois se constitui em cláusula pétrea: Existem, no entanto, controvérsia: Há aqueles que defendem a tese da dupla revisão (você modifica o
caput do art. 60 (já que ele em si não está elencado nas matérias imutáveis), de modo a modificar, em seguida o § 4o). Manoel Gonçalves
Ferreira Filho defende essa tese. Virgílio refuta essa tese: não precisa estar explícito falando que o caput do 60 também não poderá ser mudado =
é lógico (se as matérias elencadas pelo artigo não poderão ser passíveis de modificação, obviamente o artigo em si também não poderá). Mudar
os pilares que estruturam a Constituição é desconsiderar a escolha política do Poder Constituinte (dotado desse poder, pois a nação soberana
assim concordou) ⇒ flexibilizar o procedimento de emenda à Constituição é aceitar a possibilidade de destruí-la. - Se há um poder derivado que
pode modificar a Constituição (pelo menos, parte dela), isso existe porque o poder originário lhe permitiu essa competência.
6. O que são princípios constitucionais?

Princípios constitucionais são aqueles que, considerando a realidade fática, englobam a forma como interpretaremos os dispositivos
constitucionais - resultando nas normas constitucionais. - São os valores fundamentais do ordenamento jurídico, que funcionam como o
fundamento de validade de todo o sistema. - Debate: Regra vs. Princípios - Os focos dos princípios constitucionais são a organização do Estado e
o status da norma (ou seja, se as normas são ou não materialmente constitucionais; se estão de acordo com o parâmetro constitucional)

7. Quais são os princípios do Estado de Direito?

1) legalidade: ninguém é obrigado a fazer algo ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei. 2) igualdade: tratamento igualitário de todos
perante a lei - esse princípio está delineado pelo da legalidade, tendo em vista que a lei tem um aspecto geral, ou seja, de ser destinada e aplicada
para todos. OBS: É preciso tratar desigualmente os desiguais (ex: cotas nas universidades - justiça distributiva/social). 3) judicialidade:
Judiciário autônomo e de funcionamento pleno; controle de constitucionalidade; é preciso haver um procedimento litigioso para solução de
controvérsias. Esse princípio demonstra a essencialidade de que aquele que diz o Direito não pode ser o mesmo que edita e executa o Direito,
pois caso haja essa identidade, o Direito perde seu papel de limitador do poder. Há autores que também consideram mais 2 princípios ⇒
prospectividade (nenhuma lei retroagirá, apenas se for em prol do cidadão) e razoabilidade. Conclusão: os princípios do Estado de Direito
estão interligados com os princípios constitucionais. É interessante refletir que em Estados autoritários, será possível identificar princípios
constitucionais, tendo em vista que estão ligados às questões de organização da sociedade. Contudo, não encontraremos princípios de Estado de
Direito, por conta destes estarem mais relacionados à salvaguarda de direitos e garantias fundamentais.

PROVAS V/F

15. No constitucionalismo antigo, dos Gregos, a Democracia era vista como o governo de todos, mas que buscam o bem próprio,
enquanto a Politéia era o governo de alguns, mas que buscava o bem comum.

(F) A Politeia era o governo de todos, mas que buscava o bem comum. Era a versão virtuosa da Democracia.

16. Um dos motivos que pode ter levado ao fim do que se conhece por "Democracia Grega" é o desuso da Graphe Paranomon, que abriu
espaço para a demagogia na Ágora Grega.

(V) A Graphe Paranomon servia como um bom instrumento para a decantação dos excessos da democracia popular.

17. Era da crença dos antigos, que, para impedir que uma forma pura de Governo se degenerasse em uma forma impura, era preciso
combinar cada uma das formas puras. Isso seria um governo moderado. Também se usa a expressão regime misto. Dessa forma, na
República Romana, o Senado era a representação do princípio (forma pura) democrático, enquanto o Cônsul era a representação
do princípio (forma pura) monárquico.

(F) A Representação do princípio democrático na República Romana eram os Comícios da Plebe.

18. A democracia grega, apesar de ser reconhecida como o grande primeiro exemplo de democracia direta, limitava a participação
política na Ágora a uma pequena parcela da população.

(V) Estavam excluídos da participação na Ágora os estrangeiros, as mulheres, os escravos e os menores.


19. Para Aristóteles, a Constituição de uma Cidade (Cidade-Estado) é o modo como são organizadas as magistraturas (cargos públicos)
e qual a finalidade desse Estado.

(V) Esse é conceito explorado por Aristóteles nas obras “A Política” e “A Constituição de Atenas”.

20. A Constituição Federal de 1988, diferentemente das anteriores, não pratica a restrição direta de direitos fundamentais pelo próprio
texto constitucional, senão, indiretamente, em previsão na qual o constituinte remete à legislação infraconstitucional a
regulamentação da matéria.

(F) Há diversos exemplos de restrição de direitos fundamentais na própria Constituição, como a pena de morte em caso de guerra declarada,
tipificada na parte de penalidades proibidas (art.5°, XLVII, da CF/88), exemplo de limitação ao direito à vida.

21. A restrição a direitos fundamentais pode decorrer de reserva legal simples ou qualificada, sendo, naquele caso, objeto de
regulamentação pelo legislador em forma de lei ordinária, e, neste, determinando processo específico para a votação, como
mediante lei complementar ou por outro quórum eleito pelo constituinte.

(F) A reserva legal não tem a ver com quórum ou espécie normativa. A reserva legal simples é aquela em que a CF autoriza a restrição, sem falar
como deve ser feita, ao contrário da qualificada em que há uma restrição autorizada pela CF, mas a CF dita os meios de como fazer, ou os fins a
que se servirão as restrições.

22. Mesmo inexistindo previsão de reserva legal expressa como restrição a determinado direito fundamental, é possível a intervenção do
legislador infraconstitucional a fim de delimitar o alcance daquele, por exemplo, com fundamento em direitos de terceiros, no
próprio ambiente de outro direito fundamental, ou, ainda, na quase inexistência de direitos absolutos no sistema constitucional
pátrio.

(V) Direitos fundamentais são constantemente restringidos pela legislação, mesmo que não haja previsão Constitucional. As leis de trânsito, por
exemplo, são restritas à liberdade de locomoção.

23. Os direitos fundamentais não sofrem concorrência entre si, não se cogitando, pois, de uma classificação que imputasse a alguns a
categoria de geral e, a outros, de especial.

(F) Os direitos fundamentais constantemente sofrem concorrência entre si (Ex. Liberdade de locomoção vs Liberdade

privada). 24. Os direitos fundamentais são absolutos, em razão da importância dada a eles pelo constituinte de 1988.

(F) Os direitos fundamentais não são absolutos, como o direito à vida, que pode ser limitado em razão da legítima defesa ou mesmo da pena de
morte em caso de guerra (Art. 5o, XLVII, CF. O Prof. Levi admite que há um direito fundamental absoluto no ordenamento brasileiro: a vedação
à tortura (Art. 5o, III, CF)

25. O rol de direitos e garantias fundamentais previsto pela Constituição é taxativo, ou seja, aceita a inclusão de novos direitos
fundamentais, como aconteceu com os direitos de pessoas com deficiência nos últimos anos.

(F) O rol de direitos e garantias fundamentais não é taxativo. É exemplificativo.

26. Os direitos e garantias fundamentais não podem ser ampliados pelos Estados federados, em suas Constituições estaduais.

(F) Como o rol é exemplificativo, ele pode ser ampliado, desde que observados os limites previstos pela Constituição Federal.

27. Os direitos e garantias fundamentais previstos pela Constituição têm aplicação imediata, devendo ser regulamentados por lei
ordinária.

(F) Tem aplicação imediata, conforme previsto no Art. 5o, §1o da CF. Dessa forma, nem todos necessitam de regulamentação
infraconstitucional.

28. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por 3/5 dos votos, serão equivalentes às emendas constitucionais.
(V) Art. 5o, § 3o Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

29. Os direitos e garantias fundamentais previstos pela Constituição podem ser objeto de emenda constitucional que implique sua
redução ou cancelamento.

(F) Art. 60. (...) § 4o Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...) IV - os direitos e garantias individuais.

30. Os direitos humanos da 1.a dimensão marcam a passagem de um Estado autoritário para um Estado de Direito e, nesse contexto, o
respeito às liberdades individuais, em uma verdadeira perspectiva de participação do Estado.

(F) Os direitos de 1o geração marcam o absenteísmo do Estado e não sua participação.

31. O início do século XX é marcado pela Primeira Grande Guerra e pela fixação de direitos sociais (direitos de 2o dimensão). Essa
perspectiva de evidenciação dos direitos sociais, culturais e econômicos, bem como dos direitos coletivos, ou de coletividade,
correspondem aos direitos de igualdade.

(V) Basta ver a fixação dos direitos sociais pela Constituição Mexicana de 1917 e pela Constituição de Weimar em 1919.
32. Os direitos da 4.a dimensão são direitos transindividuais, isto é, direitos que vão além dos interesses do indivíduo; pois são
concernentes à proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e universalidade.

(F) Não há consenso doutrinário sobre a existência de direitos de 4o dimensão. Os “direitos que vão além dos interesses do indivíduo; pois são
concernentes à proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e universalidade” são os de terceira geração, que tem como valor
a fraternidade.

33. Os direitos fundamentais de 3o geração são as liberdades positivas, ou seja, é a consagração dos direitos sociais tais como educação.

(F) Os direitos de 3o geração são os Direitos de Solidariedade. Para Canotilho são direitos (i) ao desenvolvimento; (ii) ao patrimônio comum da
humanidade; (iii) à autodeterminação; (iv) ao meio-ambiente saudável e sustentável; (v) à comunicação; e (vi) à paz. Todos são direitos que
pressupõem o dever de colaboração de todos os estados e não apenas o atuar ativo de cada um e transportam uma dimensão coletiva justificadora
de um outro nome dos direitos em causa: direitos dos povos”. Os direitos sociais foram consagrados pela 2o geração de direitos.

34. Os direitos fundamentais de 1o geração sofreram profunda influência da teoria marxista.

(F) Os direitos fundamentais de 1o geração surgiram no contexto das Revoluções Liberais do Séc. XVIII, muito anteriores ao surgimento da
teoria marxista.

35. O Poder Constituinte é exercido para criação de uma Constituição escrita.

(F) A constituição pode ser escrita ou não escrita.

36. A nação é titular do Poder Constituinte, sendo exercido pela Assembleia Constituinte.

(V) A nação é titular do Poder Constituinte. Também será considerado correto caso o aluno tenha marcado como Falso, mas justificado que o
povo é titular do Poder Constituinte.

37. As Constituições escritas podem ser objeto de alteração unicamente através de emendas constitucionais.

(F) Ainda que as Constituições escritas rígidas possam ser alteradas, formalmente, apenas através de emendas, há Constituições escritas
semirrígidas e flexíveis que permitem a alteração por meio de espécies normativas hierarquicamente inferiores, a exemplo, por meio de leis
ordinárias.

38. Para Sieyès, o Poder Constituinte Originário é inicial, sendo somente condicionado e limitado pelo Direito Natural. (V)

Sieyès é jusnaturalista, entendendo que acima da nação, logo, do Poder Constituinte Originário, existe apenas o Direito Natural. 39.

O Poder Constituinte, responsável pela elaboração de uma nova Constituição, extingue- se com a conclusão de sua obra.

(F) Trata-se de um poder permanente e imanente na própria Constituição, inclusive no que permite o emendamento constitucional confiado
(delegado) que é ao Congresso Nacional

Em razão de uma pandemia, julgou-se necessária a decretação de intervenção federal em um dado Estado membro de uma dada federação
apenas na área da saúde, sendo o secretário estadual de saúde substituído por um interventor indicado pelo Governo central. O decreto de
intervenção foi aprovado por ampla maioria no Congresso do país. Durante a vigência da intervenção federal, um grupo de 27 senadores
apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição para incluir, no rol dos direitos fundamentais, a ampla imunidade tributária em favor
de quaisquer medicamentos, inclusive vacinas, sendo aprovada por unanimidade na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Neste
contexto, e considerada a Constituição brasileira de 1988 como parâmetro, assinale a(s) alternativa(s) incorreta(s):

(F) A Emenda é constitucional pois não pretende abolir a forma federativa de Estado, a separação dos poderes, os direitos e garantias
individuais e o voto direto, secreto, universal e periódico.

R: Falso. A Emenda é inconstitucional, pois viola o Art. 60, §1o da Constituição Federal.

(F) A Emenda Constitucional observou os limites e condições impostas pela Constituição.

R: Falso. Apesar de materialmente em acordo com a Constituição, não violando as limitações materiais impostas no Art. 60, §4o, a Emenda
contraria o Art. 60, §1o da Constituição Federal, que impossibilita mudanças no texto constitucional durante a intervenção federal.
(F) O Poder Constituinte Derivado pode ser exercido nesse caso pois o Congresso Nacional aprovou a decretação da intervenção federal e
essa se deu apenas na área da saúde do ente federado e não no governo estadual como um todo.

R: Falso. A Constituição veda a reforma constitucional durante vigência de intervenção federal, independentemente do âmbito da intervenção.
Em 2018, a intervenção no Estado do RJ se deu apenas na área da segurança pública e mesmo assim ficou proibida a aprovação de emendas
constitucionais.

(F) A Emenda é constitucional, nesse caso, por se tratar de ampliação do rol de direitos fundamentais.

R: Falso. A Emenda é inconstitucional, pois viola o Art. 60, §1o da Constituição Federal.

(V) A Emenda é inconstitucional pois não observou os limites circunstanciais.

R: Verdadeiro. A Emenda é inconstitucional, pois viola o Art. 60, §1o da Constituição Federal.

(F) Se tivesse sido declarado o Estado de Sítio, ficaria vedada a apresentação de Propostas de Emenda à Constituição enquanto durassem as
condições excepcionais.

R: Falso. O Art. 60, §1o veda que a Constituição seja emendada durante o Estado de Sítio. Ou seja, que sejam promulgadas emendas à
Constituição. Não há vedação à apresentação de PECs.

(V) Segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho, toda norma constitucional é passível de regulamentação e, portanto, de restrição.

R: Verdadeiro. Apesar de algumas normas já serem imediatamente aplicáveis, por terem eficácia plena, todas são passíveis de regulamentação
infraconstitucional.

(F) A norma constitucional de eficácia limitada surte efeito desde logo, porém, por expressa disposição, pode ter sua eficácia restringida por
outra norma.

R: Falso. As normas constitucionais de eficácia limitada são aquelas que não receberam do constituinte normatividade suficiente para sua
aplicação. São normas incompletas. Um exemplo é o Art. 33: “A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios”.

(V) Uma norma só é eficaz se possui condições normativas de produzir efeitos.

R: Verdadeiro. A eficácia consiste “na capacidade de atingir os objetivos nela traduzidos, que vêm a ser, em última análise, realizar os ditames
jurídicos objetivados (...)” (JAS, p. 66)

(F) As normas programáticas são dotadas de eficácia plena e independem de programas ou providências estatais para a sua concretização.
R: Falso. As normas programáticas são aquelas que preveem uma política pública, uma legislação específica (não raro predeterminando aspectos
desta). Para forçar a implementação dessas normas, foi prevista a Ação de Inconstitucionalidade por Omissão. Um exemplo de norma
programática é a participação dos empregados nos lucros da empresa – Art. 7o, XI). (MGFF, 419).

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