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1. O direito das obrigações – Introduções.........................................................................................1
2. Obrigação – Conceito, estrutura e função.....................................................................................3
3. Relações Jurídicas Creditórias e Outras Classes de Relações Jurídicas..............................32
1. O direito das obrigações – Introduções
- É um dos cinco livros – integrantes daquela que é a sistematização germânica dos direitos 1 –
constituído pelo conjunto das normas jurídicas reguladoras das relações jurídicas de crédito, ou
também chamadas relações jurídicas creditórias!
- Aqui o direito das obrigações possui como finalidade essencial a elaboração sistemática, feita
com espírito científico, de todas as soluções facultadas pelas normas disciplinadoras das
relações de crédito.
Ora as RJ creditórias, são todas aquelas em que ao direito subjetivo atribuído a parte ativa,
corresponde, por outro lado, um dever de prestar2, especificadamente imposto a parte
passiva.
1
Sistematização que dividia em cinco livros, estes em títulos, os títulos em capítulos, os capítulos em secções e as
secções em subsecções! Apesar de que na parte geral (livro 1) o título 2 ainda divide-se em subtítulos. São
respetivamente: Livro I – PARTE GERAL / Livro II – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / Livro III – DIREITO DAS COISAS /
Livro IV – DIREITO DA FAMÍLIA / Livro V – DIREITO DAS SUCESSÕES
2
Dever este que como se verá, em nenhuma hipótese, pode ser tomado por equivalente aos chamados deveres
jurídicos!
B) E qual o objeto desta disciplina?
- Ora o “dever de prestar” corresponde a parte mais característica, individualizadora assim por
dizer, das relações obrigacionais (jurídico creditórias). É principalmente por conta dele que esta
relação se distingue das demais (relações nos direitos reais, das sucessões, na família etc). E
daí, que se tomarmos esta parte mais característica da relação, no seu todo, possamos afirmar
que o objeto fundamental do direito das obrigações traduz-se nos deveres de prestação!
A matéria das obrigações constitui objeto do livro II de nosso código civil, que se estende desde
o artigo 397º até ao 1250º.
As obrigações ainda constituem uma vasta parte das matérias disciplinadas por outros de
direito, como o direito comercial, passando pelos negócios bancários e pelos títulos de crédito.
De entre as espécies reguladas nos títulos II do livro II do código civil como fontes especiais de
obrigações, figuram-se além doutras de menor relevo, a compra e venda, a doação, o contrato
de sociedade, a locação (que compreende o arrendamento /e o aluguer) o mandato, o
depósito, o comodato, a empreitada, fazendo-se referência ainda ao contrato de trabalho
(regulamentado em legislação especial)
Do exposto resulta:
- Vastidão de matérias reguladas pelo direito das obrigações – quer no código civil – quer fora
dele!
Tudo isto basta para demonstrar o quão grande é a relevância no plano prático, das relações
creditórias!
2. Obrigação – Conceito, estrutura e função
A. CONCEITO
O termo “Obrigação” é utilizado tanto na linguagem corrente como na própria literatura jurídica
em diversos sentidos3!
O que sucede é que a maior parte das obrigações, surge por conta de conceções, sentimentos
éticos ou morais (obrigação de respeitar a vida, propriedade, bom nome de outrem etc). Mas
juridicamente assim não pode ser!
Nos diversos sentidos que podem ser compreendidos, misturam-se figuras que por mais que
parecidas, não se confundem umas com as outras, mormente na sua expressão vinculativa,
e que por assim ser, cumpre a ciência jurídica distinguir!
Não se trata de uma simples advertência, conselho ou exortação! Trata-se de uma verdadeira
ordem, de uma injunção, que é em regra, acompanhada da cominação 5 de algum ou de alguns
meios coercitivos próprios, que poderão ser sempre mais ou menos fortes, consoante o grau de
exigibilidade social da conduta prescrita6!
Este dever jurídico, tutelado pelo direito, pode ser ditado no interesse de uma só pessoa, de
uma generalidade de pessoas (pessoa coletiva por exemplo), no interesse de toda a sociedade
ou mesmo no interesse do estado.
3
Inquilino é obrigado a pagar a renda! Eu tenho a obrigação de cumprir o serviço militar! O mandatário é obrigado
é aceitar a revogação do mandato! Temos a obrigação de pagar os impostos lançados pelo estado!
4
Ficam sempre de fora da categoria destes, os deveres morais, sociais ou religiosos (respeito pelos mais velhos,
defesa dos fracos, auxílio dos pobres, amar ao próximo como amamos a nós mesmos etc). Estes podem muito bem
ter relevância para o direito, em certas circunstâncias, no entanto não são sancionados pela ordem jurídica como
deveres jurídicos.
5
Ato ou efeito de cominar; ameaça de pena ou castigo / determinação ou aplicação de pena ou sanção por
infração ou incumprimento
6
Que foi oficialmente ordenado.
Sempre que a ordem jurídica confere, as pessoas em cujo o interesse o dever é instituído, o
poder de disporem dos meios coercitivos que as protegem, corresponderá ao dever um direito
subjetivo!
O exigir na noção, deriva precisamente do poder que é concedido ao titular do direito subjetivo,
de ser juiz da vantagem do funcionamento, em cada caso concreto, da tutela jurídica do dever
jurídico!7
Também o dever jurídico, correspondente aos direitos subjetivos, não se mistura com o lado
passivo das obrigações que é sempre, um dever de prestar!
Como se vê, o dever jurídico é algo muito mais amplo, muito mais abrangente do que o dever
de prestar!
7
Noutros termos! O titular ativo da RJ não é um mero vigilante interessado no comportamento prescrito!
Figura diferente do dever jurídico! Esta já equivale ao contrapolo dos chamados direitos
potestativos!
Poder que um senhor A proprietário de um prédio encravado tem, de constituir uma servidão de
passagem, ou então o poder que tem o Sr B de revogar livremente seu mandato ou mesmo o
poder que possui a Senhorita C de se divorciar.
Tanto o Sr A como o Sr B como a senhorita C, exercem seu direito sem carecer de qualquer
aprovação, consentimento, parecer ou algo similar de suas respetivas contrapartes! 9
Em ambos estes casos o que acontece é que não há dever jurídico da outra parte. Há um
estado de sujeição! A contraparte do Sr A do Sr B e da senhorita C sujeitam-se
inelutavelmente aos efeitos resultantes do exercício do direito potestativo
(constituição/modificação/extinção de direitos), quer queiram eles, quer não!
NOTA: Por vezes o titular do direito potestativo poderá atuar mediante recurso forçoso a
autoridades públicas (tribunais como seja)
A parte passiva da relação jurídica não tem de fazer nada de modo a cooperar na realização do
direito, mas também, nada poderá fazer para a impedi-la!
8
Muitos tem sido os autores que, a fim de distinguir os direitos potestativos das meras faculdades, acrescentam-
lhe dois elementos caracterizadores: 1) direito potestativo é inerente a uma relação jurídica pré-constituída entre
sujeitos determinados (veja-se o caso do divórcio, da servidão de passagem) 2) direitos potestativos se esgotam
com o ato de seu exercício!
9
Há quem diga (BOTTICHER) que é precisamente esta desnecessidade de consentimento a tónica dos direitos
potestativos.
Figura um tanto mais distinta dos deveres jurídicos e dos estados de sujeição!
-A nenhum dever jurídico10, quer, pois, o sentido da lei não passa por impor a realização do ato
sob a cominação de uma sanção, quer porque o registo funciona no interesse de quem o
requer.
10
Supondo aqui que nao seja aplicável o caso do registo predial obrigatório (arts 14 e ss do código do registo
predial)
a.4) Poderes funcionais
Figura também distinta dos deveres de prestar, e de todas as anteriores situações (deveres
jurídicos, ónus estado de sujeição) são os chamados direitos-deveres ou poderes funcionais.
NOTA: Não raras vezes estes são confundidos com a figura dos direitos subjetivos!11
Os poderes funcionais são direitos conferidos aos seus titulares para que possam efetivamente
cumprir com a função a que estão adstritos (poder paternal /tutela), só sendo legitimamente
exercidos dentro dos limites desta função.
São direitos que possibilitam o seu titular a agir, e cumprir com as obrigações que possui para
com uma outra pessoa.
Exemplos clássicos aqui são os institutos do poder paternal e da tutela! Também os deveres
recíprocos dos cônjuges.
Exemplos: Um convite para jantar, um convite para uma festa, promessa de acordar um
companheiro de viagem numa certa estação
*Aqui, são relações em que as partes não tem qualquer interesse em submeter ao império do
direito e que, por isto, não geram deveres legalmente tutelados como os deveres de prestar
típicos das obrigações.12
É uma distinção bastante nítida! Os deveres de prestar típicos das obrigações, não confundem-
se com os deveres gerais de abstenção, correlativos aos direitos subjetivos de domínio e de
personalidade.
A distinção é ainda mais nítida quando falamos de obrigações cujo objeto é a prestação de
coisas ou mesmo a prestação de facto positivo!
Mas não deixará de ser nítida a distinção, mesmo que a obrigação tiver como objeto uma
prestação non facere – de facto negativa, dado que, como bem se sabe, por um lado, temos o
12
Nem sempre é fácil distinguir entre relações que as partes desejaram atribuir cunho jurídico e as outras que
constituíram por mera cortesia/obsequiosidade .
caráter relativo/específico do vínculo jurídico – típico das relações obrigacionais – e por outro
temos o caráter genérico do vínculo que envolve as relações jurídico reais.
Ora visto as diversas outras figuras, que podem misturar-se sempre que adentramos no
universo das obrigações, agora é preciso compreender o significado jurídico ou técnico do
termo obrigação, que nos será mais relevante!
“O vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com
outra à realização de uma Prestação
*Nossa própria lei civil é que consagra esta definição no artigo 397º
Noutros termos, entender-se-á por obrigação, a relação jurídica13 em virtude da qual uma (ou
mais) pessoa (s) pode exigir de outra (ou outras) a realização de uma prestação.
Uma relação jurídica… Mas que tipo? Uma relação jurídica creditória/obrigacional!
13
São exemplos de relações deste tipo, as relações constituídas entre um comprador (dever de pagar) e um
vendedor (direito de exigir a entrega), senhorio e arrendatário, vítima do atropelamento e o condutor
eventualmente responsável pelo acidente.
De realçar que quando falamos em obrigação no sentido técnico, isto vai abranger as relações na sua globalidade
e não apenas, como sucede muitas vezes na linguagem comum, a parte passiva! Compreende, portanto, o dever
de prestar, mas também, o poder de exigir da parte ativa!
NOTA: Quando se quer distinguir entre os dois lados desta mesma relação – ativo e passivo –
que são de facto duas faces da mesma moeda, da mesma realidade, chama-se crédito (ou
direito de crédito) ao lado ativo e débito (ou dívida) ao lado passivo!
O dever de prestar, nas obrigações, recai apenas sobre determinadas pessoas. É um dever
jurídico específico, que pesa sobre o património delas. Diferente do “dever geral de abstenção”
nos direitos reais.
Consiste na maioria esmagadora das vezes, uma ação, mas podendo também assumir a forma
de omissão! Isto é, pode ser uma conduta positiva ou negativa, “facere” ou “non facere”. Até
por isto, em termos práticos, com a finalidade de conceitualização de prestação, deva-se
considera-la não como uma ação, e sim, como uma conduta adotada pelo obrigado, um
comportamento.
14
É diferente quanto aos deveres jurídicos correspondentes da maioria dos DS: Os direitos reais, direitos de
personalidade etc. O dever jurídico correspondente ao lado passivo dos direitos reais, trata-se de um dever geral
de abstenção! É uma omissão generalizadamente imposta, a quem quer que não seja o titular do direito,
consistindo, portanto, num dever genérico, que não pesa especificadamente sobre o património de nenhuma das
pessoas.
À pessoa que possui o poder de exigir a prestação, chama-se genericamente: CREDOR15
À pessoa sobre a qual incide o correlativo dever de prestar, chama-se-lhe: DEVEDOR
Já foi estudo em teoria geral do direito civil – relações jurídicas simples e complexas!
As relações obrigacionais serão simples/ou unas, quando apenas abrangerem um direito
subjetivo pela parte ativa e um correspondente dever jurídico/ou sujeição na parte passiva.
1ªs SITUAÇÕES
Veja-se relativamente a responsabilidade civil! Aqui neste caso, surgiria uma obrigação
(relação jurídica obrigacional) una ou simples!
Isto porque por um lado, teríamos o dever que indivíduo que lesa o direito do outro, tem de
pagar uma indemnização pelos danos causados, e por outro, o direito subjetivo da pessoa de
exigir o pagamento daquela. (dever de prestar /direito de exigir)
15
A expressão toma aqui um significado muito mais amplo do que na terminologia comum, onde o credor é apenas
aquele que possui o direito de exigir de outrem a entrega de uma certa soma de dinheiro!
16
Isso praticamente sempre, na generalidade das compras e vendas, variando apenas o grau de complexidade!
Este grau poderá ser sempre maior, quando a aqueles dois direitos e seus respetivos deveres, acrescerem-se
outros direitos e deveres (direito a entrega de documentos, compensação das despesas feitas com a realização do
ato, reparação/substituição da coisa, indemnização de prejuízo causado por conta de mora do devedor ou do
comprador etc)
Ao lado do dever de entregar a coisa (que recai sobre o vendedor) e do correlativo direito de
exigir a entrega da coisa (que recai sobre o comprador), há ainda:
Estes dois direitos e seus correspondentes deveres, são comuns a generalidade dos contratos
de compra e venda!
Algo idêntico ao que pode suceder com a relação jurídica nascida da compra e venda, pode
verificar-se na maioria das outras espécies contratuais!
d.1 Um grandioso contingente das obrigações (As provenientes dos contratos e negócios
jurídicos unilaterais) nascem, sem que hajam entre as partes quaisquer vínculos prévios!
d.2 Por outro lado, em muitas outras como as obrigações, surgidas da prática de um facto
ilícito, pressupõe já um vínculo jurídico preexistente! Mas um vínculo com caráter genérico! Tal
como o que liga o titular dos direitos reais e dos direitos de personalidade a todas as outras
pessoas.
Tanto no primeiro caso, quando se trata de obrigações que não assentam num vínculo jurídico
preexistente (por exemplo as nascidas dum contrato, não precedido de contrato-promessa)
como no segundo, quando fala-se de obrigações que pressupõe em sua constituição, um
simples vínculo de caráter genérico – tal como o vínculo que recai sobre a pessoa que danifica
coisa alheia, ou que usurpou o nome de outrem) a doutrina tem adotado o nome de
obrigações autónomas!
*A doutrina nunca duvidou que estas estivessem sujeitas às disposições legais, que nos vários
códigos civis, fixam a disciplina geral das obrigações! Livro II do código civil!
B. ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO
-Sujeitos – Credor / Devedor – titulares ativo e passivo da relação jurídica, ou, simultaneamente
ativo e passivo da relação, como sucede num contrato bilateral
-Objeto (Prestações debitórias)
-Vínculo jurídico
-Garantia*(Segundo este autor está incluído no vínculo jurídico)
(1) Sujeitos – Credor/Devedor
O primeiro elemento da relação jurídica obrigacional, até pelo papel fulcral que desempenha
dentro dela, é constituído pelos sujeitos: Do lado ativo – O CREDOR – e do lado passivo –
DEVEDOR
-As mais das vezes, apenas existem em cada relação jurídica obrigacional um credor e um
devedor, dizendo assim que a obrigação é singular! Mas a verdade é que podem existir R.J
chamadas plurais, isto quer do lado ativo – muitos credores – quer do lado passivo – muitos
devedores – quer de ambos os lados – Muitos credores e muitos devedores
(1.1) CREDOR17
17
Credor (“Creditor”) Porque acreditou no devedor – na sua lealdade e capacidade de pagamento – ou então
porque, como diz LARENZ, crê na pessoa do obrigado, no seu desejo de cumprir, por um lado, e em sua capacidade
para tal, noutro lado. Noções que não funcionariam tão bem assim, nas obrigações nascidas de factos ilícitos
extracontratuais
E ainda mais – O credor não somente é titular do interesse tutelado, como também é
amo/senhor da tutela de seu interesse 18! Ou seja: Esta tutela depende de sua vontade, seu
funcionamento subordina-se a sua iniciativa!
O credor pode dispor, pelas mais variadas formas, dos mecanismos coercitivos predispostos
pela ordem jurídica para reger a relação!
NOTAS:
A pessoa do CREDOR está determinada. Mas poderá não o ser no momento em que a
obrigação se constitui (Art. 511), tal como sucede nas promessas públicas (459º ss), nos
contratos para pessoa a nomear (Art. 452º e ss) etc
(1.2) DEVEDOR
Esta figura, equivale ao sujeito passivo da relação jurídica obrigacional! É sobre o devedor que
recairá o dever (específico) de efetuar a prestação!
É o devedor que se encontra adstrito ao cumprimento da obrigação para com a figura do
credor!
E em caso de incumprimento?
Será também sobre a pessoa do devedor que recairão as sanções fixadas na lei!
18
Diferente de ser titular de um interesse reflexamente protegido! Não é um interesse de ordem geral (como
dos comerciantes nacionais, dos industriais de um certo ramo, dos consumidores, dos habitantes de certa zona
afetada por epidemias etc) que a lei protege muitas das vezes mediante providencias pautais, aduaneiras ou
sanitárias adequadas, mas sem conferir aos titulares – dos interesses – o poder de dispor das medidas adotadas!
19
Atenção: Subordinação jurídica e não uma subordinação pessoal /social /política
Atualmente, é sobre o património do devedor, que recai a execução destinada a
indemnizar o dano causado ao credor, quando a obrigação não seja voluntária ou
judicialmente cumprida!20
Somente o credor (ou credores) tem direito a prestação! E esta apenas poderá ser exigida por
estes ao ou aos devedores!
Direitos de Crédito – Efeitos “Inter partes”. A obrigação somente vincula determinadas pessoas
– as que sejam parte no negócio!21 – daí seu caráter relativo.
A existência dos dois sujeitos, é de facto essencial à obrigação, como uma relação
intersubjetiva!23
No entanto, a permanência dos mesmos sujeitos – dos sujeitos originários – não é face ao
direito moderno24, condição essencial a persistência da obrigação.
20
Numa fase mais primitiva do direito romano, em virtude do laço de subordinação pessoal que se criava (por
meio do nexum, e posteriormente, da sponsio ou da stipulatio) entre o credor e o ob-ligatus, as sanções aplicáveis
iam da privação de liberdade (prisão como meio compulsivo de pagamento até redução a escravatura) até a
morte. Depois, com a Famosa “LEX POETELIA PAPIRIA” de (305 A.C) – completada no fim do período da república,
com a criação da bonorun venditio – A Sanção principal passou a ser a execução, não da pessoa, mas dos bens
pertencentes a ela = seu património. E isto mantém-se até os dias de hoje!
21
Esta é a regra do artigo 406º n2! Princípio da relatividade - Mas há exceções como se verá!
22
Modificação do sujeitos – Modificação de um direito subjetiva!
23
Embora se admita que no momento em que a obrigação se constitui, o credor não esteja não esteja
determinado, a lei no artigo 511º, exige que este seja no mínimo determinável, sob pena de nulidade do negócio
do qual a obrigação resultaria.
24
No direito romano não era assim! O caráter essencialmente pessoal do vínculo que prendia o “obligatus” ao
credor tornava completamente inconcebível a ideia da sua transmissão para outra pessoa, bem como da criação
de um crédito para terceiro.
A obrigação tem todas as condições de persistir, com todos os seus atributos essenciais
(garantias, juros, contagem do prazo prescricional etc) apesar de ser alterado um dos sujeitos
da relação ou de mudarem ambos eles!
E o que se diz quanto aos sujeitos originários, é igualmente válido, para todos aqueles que lhes
sucederem na titularidade da obrigação!
Exemplos práticos:
Com a intenção de frisar esta ideia, muitos são os autores, e junto deles a própria lei, fala
explicitamente em transmissão das obrigações! – Quer a propósito cessão de créditos, quer
da sub-rogação quer da assunção de dívida (Art. 577º e ss ) Ou seja:
- Na linguagem da doutrina e até da própria lei, tudo se passa como se fosse a mesma
obrigação, não obstante a natureza espiritual do vínculo, que materialmente se desloca do
património de um para o de outra pessoa!26
25
Dar como empréstimo.
26
Contrariamente a figura da novação (Arts 857º e ss), que implica a constituição de uma nova obrigação em
substituição da antiga!
(2) Objeto – As prestações debitórias
*Prestação – dever de prestar – Não se confunde em nada com o dever geral de abstenção!
Típico dos direitos de personalidade e dos direitos reais.
27
Entregar uma coisa, realizar uma obra, dar uma consulta, patrocinar alguém numa causa, transportar alguns
móveis, transmitir um crédito, dar um certo número de lições etc
28
Obrigação de não abrir estabelecimentos de determinado ramo de comércio na mesma rua ou localidade,
obrigação de não usar a coisa recebida em depósito etc
Tendo as obrigações, principalmente em vista, prestações de coisas 29, muitos são os autores
que costumam a distinguir entre:
-Num objeto Mediato da obrigação – Que traduz-se na própria coisa, em si mesma considerada
– Isto é, o objeto da prestação!30
Por exemplo:
Se A vende um prédio a B, e em virtude da venda, fica obrigado a entrega-lo, duas coisas são
completamente distintas:
A prestação debitória pode revestir as mais diversas modalidades, pelo que é da maior
importância conhecer ao menos as mais importantes
29
Apesar da distinção ser bem menos nítida no âmbito das prestações de facto!
30
Há vários objetos, como sejam coisas no sentido jurídico, um conjunto de coisas, coisas incorpóreas etc
31
Coisa que no caso vai constituir objeto mediato / e a prestação, o objeto imediato!
Distinguem-se conforme o seu objeto se esgote num FACTO (serviços/atividades) ou então se
refira a uma COISA32!
Foi durante um longo período de tempo que as prestações de coisas preponderaram nas
relações da vida económica (quer nas economias mais primitivas de fundo agrário quer até
depois da 1ª revolução industrial).
Principalmente após a segunda grande guerra, e com boom tecnológico processado, que aos
poucos a fisionomia das sociedades contemporâneas foi se alterando, e gradativamente foi se
acentuando a importância das prestações de serviços que as grandes empresas oferecem,
muitas vezes em massa, a um núcleo crescente de utentes!33
32
Coisa que no caso vai constituir objeto mediato / e a prestação, o objeto imediato!
33
Serviços de combate aéreo aos incêndios, distribuição aérea de pesticidas nas plantações, prestação em massa
dos serviços domésticos de lavagem e limpeza do vestuário e dos edifícios, serviços de investigação policial
particular, contratação de jogadores de futebol etc.
34
São prestações de facto típicas, por exemplo, as prestações do mandatário num contrato de mandato, as do
trabalhador num contrato de trabalho etc. Assumirão ainda especial configuração as prestações de facto positivas
resultantes dos contratos promessa (“pactas de contrahendo”), e os pactos de preferência
35
Por exemplo, não praticar determinados atos, não abrir estabelecimentos de determinado ramo de comércio, no
se abastecer de outro fornecedor, não fornecer produtos aos concorrentes do comprador, não fabricar algum
produto em concorrência com alguma empresa, não usar (no caso do contrato de depósito), não prestar serviço
durante um determinado período em determinada empresa
*Noutros casos, o devedor fica apenas obrigado a consentir /tolerar36 (“PATI”) que outrem –
CREDOR – pratique alguns atos a que, de contrário, não teria direito.
Nas prestações de facto, o facto em si, poderá sempre ser material ou jurídico! (Distinção
elementar, por exemplo, no âmbito do contrato de mandato! “uma das partes se obriga a
praticar um ou mais atos jurídicos por conta de outra! – Entre estes atos, avultam-se os
negócios jurídicos!)
-Material – Reparar uma viatura, pintar uma casa (Como temos no caso do contrato de
empreitada!)
-Jurídica – Emitir uma declaração de vontade, assumir certa dívida
No entanto, poderá por vezes suceder – embora sejam relativamente poucas - que o facto
devido se reporte a factos de um terceiro!
36
O sr. A obriga-se a permitir que o Sr B pesque em sua lagoa ou que cace em sua propriedade. Ou então, o Sr. C,
permite que os alunos de um colégio utilizem o logradouro de seu prédio como um campo de jogos, durante um
determinado número de meses ou anos.
Coisas – A este respeito – Vale artigo 202º e ss
Ainda no direito romano, quer as prestações tivessem por objeto uma coisa certa/determinada,
quer recaíssem sobre uma coisa indeterminada, o contrato de alienação/transferência da coisa,
não envolvia a translação do domínio, do direito de domínio sobre a coisa!
Em consequência do contrato de alienação, nascia uma obrigação, “de dare” destinada a
transferir o domínio sobre a coisa para o adquirente.
NOTA: No direito vigente português – Art. 408º CC, tal como na legislação anterior – Art. 715º
do código de Seabra), a constituição ou transferência de direitos reais sobre determinada coisa
dá-se – opera-se em regra – por mero efeito do contrato.
Ou seja?
Atualmente, em contraste com o direito romano, a prestação da coisa – e já que a
transferência/constituição do direito real dá-se por mera celebração do contrato –
corresponde a uma mera obrigação de entrega da coisa, tendo por finalidade a transmissão da
posse (visto que a transferência do domínio ou constituição doutro direito real já se obteve –
com uma “eficácia espiritual” da mera celebração do contrato!
Exemplos típicos – prestações de coisas – “de dare” – Entrega da coisa feita pelo mutuante ao
mutuário para a conclusão ou aperfeiçoamento do contrato de mútuo (Art. 1144º), a prestação
de coisa realizada pelo mandatário ao mandante, em cumprimento do mandato, no mandato
sem representação (1181º) a entrega da coisa ao legatário, feito pelo sucessor onerado nos
casos previstos no Art. 2251º nº 2.
Prestações de entrega, nas relações obrigacionais que visem facultar ao credor, não a
aquisição do direito de domínio, mas sim, a mera fruição ou uso da coisa ou a guarda e
conservação dela! (A entrega do bem pelo comodante ao comodatário por exemplo, Entrega da
quantia pelo depositante etc) – 1031º al. a)
E por último, bem semelhante às últimas, ligadas a elas, mas com independência,
temos também as PRESTAÇÕES DE COISA CORRESPONDENTES À OBRIGAÇÃO
DE RESTITUIR37
Por exemplo: A entrega ao comodante Art. 1135º al. h), ao locador (Artigo 1038º al. i) ao
depositante (Art. 1187º al. c) ou ao mandante (artigo 1161º al. e)), uma vez findo o contrato!
- Obrigação de dar (Prestações “de dare”) – Sempre que a prestação visar constituir ou
transferir um direito real definitivo sobre uma coisa
-Obrigação de entregar – Prestação visa apenas transferir a posse ou a detenção dela, para
permitir seu uso, guarda ou fruição (Art. 1031º do CC por exemplo)
-Obrigação de restituir – Através da prestação, o credor recupera a posse ou a detenção da
coisa ou o domínio sobre coisa equivalente, do mesmo género e qualidade.
No entanto, esta regra admite exceções! As prestações de coisas podem ainda, segundo nosso
ordenamento jurídico – artigo 399º do CC - referir-se a coisas futuras
Por exemplo: Um lavrador vende a outrem sua produção de vinho, de sua próxima colheita/
Ou ainda a produção do seu laranjal no ano posterior ao da celebração da convenção.
37
São no fundo, também um ato de entrega, por isto a ligação!
38
O artigo 211º confere uma definição daquilo que sejam consideradas “coisas futuras”, definição legal que é
bastante ampla, abrangendo as coisas que carecem de existência e as coisas que por mais que existam, o
disponente ainda não tem direito ao tempo da declaração negocial (mas que conta vir ter em momento posterior).
É importante esta classificação, já que apenas poderão existir prestações sobre coisas futuras mas nunca direitos
reais sobre coisas futuras!
O artigo 211º confere uma definição daquilo que sejam consideradas “coisas futuras”, definição
legal que é bastante ampla, abrangendo as coisas que carecem de existência – no sentido
naturalístico – e as coisas que por mais que existam, o disponente ainda não tem direito ao
tempo da declaração negocial (mas que conta vir ter em momento posterior).
Exemplo: Temos a entrega de uma coisa, o pagamento do preço em uma só prestação etc
39
Ao lado delas, ainda se consideram as chamadas prestações intermitentes/ou desgarradas, que também se
prolongam no tempo, mas sem a periodicidade e homogeneidade próprias das prestações reiteradas. É o caso das
prestações que recaem sobre o mandatário judicial!
Não sucede tal como nas prestações instantâneas, nos casos das obrigações
fundamentais/típicas dos contratos de arrendamento, do depósito, do contrato de trabalho, dos
contratos de prestação de serviços – fornecimentos de água, gás, eletricidade etc!
Nestas relações, o que acontece é que as prestações se protelam no tempo, tendo a duração
temporal da relação jurídica creditória, uma influência decisiva na conformação global da
prestação (na definição de seu objeto entre outros aspetos) 40 – Por isto são designadas
prestações duradouras!
Dentro destas, muitos são os autores que realizam uma subdivisão entre:
-Prestações de execução continuada
São todas aquelas prestações cujo cumprimento se prolonga ininterruptamente no tempo -
quotidie et singulis momentis debetur – todos os dias e todos os minutos!
Exemplos típicos: As prestações dos fornecedores de serviços, prestação do depositário, do
comodante – de um modo geral as prestações de facto negativas (que muito raramente
deixarão de ter natureza continuada)
-Prestações de reiteradas/periódicas /com trato sucessivo
São todas aquelas prestações que se renovam, em prestações singulares sucessivas, em
regra, ao fim de períodos consecutivos. (semanais/mensais)
Exemplos: As prestações dos consumidores dos serviços de água, energia, gás, internet, do
devedor de renda perpétua ou vitalícia etc
40
Não é suficiente que a relação se protele no tempo, para que existe uma relação duradoura.
Diferente das obrigações duradouras é o caso das obrigações fracionadas ou repartidas!
Nestas obrigações, o que acontece, é que o seu cumprimento se protela no tempo através de
sucessivas prestações instantâneas, mas o objeto da prestação está previamente fixado, sem
qualquer dependência da duração da relação contratual (do factor tempo)41
NOTA: No caso das obrigações duradouras, a prestação depende do factor tempo, o qual tem
uma influência decisiva na fixação do seu objeto!
Nas prestações fracionadas/repartidas, o factor tempo não influi na determinação do seu
objeto! Ele está desde o início determinado. O factor tempo apenas relaciona-se com o modo
de execução da prestação
1) Quanto a resolução
Ou seja, esquematicamente:
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
41
A duração temporal da relação jurídica creditória, não influência decisivamente na conformação global da
prestação! Influencia sim, no modo de execução!
2) Quanto ao cumprimento
42
Na doutrina, é uma distinção muito colocada no âmbito da empreitada
As prestações dizem-se fungíveis, quando podem ser realizadas por pessoa diferente da do
devedor, sem qualquer prejuízo aos interesses – la está, juridicamente titulado - do credor!
São exemplos: Lavar um terreno, pagar uma determinada quantia, pintar uma casa, caiar um
muro etc
São prestações que precisam necessariamente ser efetuadas pela figura do devedor! Este
não pode ser substituído no cumprimento por um terceiro – sem que os interesses do credor
saiam prejudicados! Aqui, tratam-se de obrigações em que ao credor interessa mais do que
simplesmente o prestar pelo devedor! Interessa, sobretudo, aspetos como sua habilidade,
saber, destreza, força, bom nome, outras muitas mais qualidades pessoais que possa ter!
Exemplos aqui: Tenho um quadro muito especial, e contrato um pintor conhecido. Precisa ser
ele a o fazer. É de total e exclusivo interesse do credor que o seja, ficando este interesse
afetado caso contrário!
Paralela a esta classificação, no âmbito do direito das obrigações, temos nos direitos reais a
noção de coisas fungíveis/infungíveis – Artigo 207º - Coisas que podem ser determinadas pelo
seu género, qualidade, quantidade
NOTA: Em regra, quando se trate de prestação de coisa, a prestação será fungível, quer a
coisa em si seja ou não fungível. Em ambos os casos o interesse do credor não será lesado
com a substituição do devedor.
A questão da fungibilidade, atinge seu maior relevo prático no âmbito das prestações de facto!
Encontram nesta o seu principal campo de aplicação.
Tendo a prestação por objeto um facto fungível, poderá o credor requerer, no processo de
execução, que o facto seja prestado por outrem as custas do devedor! (Art. 828º)
Sendo o facto não fungível, o credor apenas poderá exigir o cumprimento do devedor (Art.
817º) e, na hipótese de este não cumprir, terá de contentar-se com a indemnização do prejuízo
sofrido, resultante do não cumprimento (indemnização por equivalente).
43
Ver o artigo 1230º do código civil relativo a empreitada. O contrato de empreitada extingue-se por morte ou
incapacidade do empreiteiro, no caso de terem sido tomadas em consideração pelo credor as qualidades pessoais.
Como opera-se a ligação entre os sujeitos da R.J creditória – neste caso, o devedor - e a
prestação?
Como sabemos que é a prestação a satisfazer o interesse do credor?
Como é que sabemos que a coisa, direito ou facto, aptos a satisfazer o interesse do credor, são
postos ao serviço do titular do crédito?
Este vínculo, constituído pelo enlace dos poderes conferidos ao credor com os correlativos
deveres impostos ao titular passivo da relação, forma o cerne, o núcleo central da obrigação!
Muitos autores e também o código civil Português, voltam a bater na mesma tecla,
quando vieram a definir a obrigação como – Artigo 397º CC – O vínculo jurídico por virtude
do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação!
*A própria etimologia da palavra45 – Obrigar (de obligare) aponta para o vínculo que prende um
ao outro!
O credor tem um direito a prestação46 a qual poderá ser exigida, apenas por ele, ao seu/ou
seus devedores (Ou seja, tem seu interesse juridicamente tutelado!)
E mais que isto! O credor é o amo/o senhor desta tutela! O ordenamento jurídico confere as
medidas de proteção, e fica a total e exclusiva e disposição do credor/da sua vontade, a
entrada em cena daqueles, seu funcionamento – como por exemplo o mecanismo da
execução!
*Somente o credor, poderá exigir a prestação ao devedor! Independentemente da forma! 47 –
Até pela relatividade das R.J obrigacionais. Sem prejuízo do disposto no Art. 606 e ss –
Institutos da Impugnação pauliana e sub-rogação!
Mas e se o devedor cumprir de forma voluntária com a obrigação a que está adstrito?
46
E não um direito sobre a prestação! Para acentuar que a obrigação tem caráter pessoal – exige o concurso da
vontade do devedor (ainda que esta vontade encontre-se sujeita as medidas coercitivas) diferentemente dos
direitos reais que, pela sua natureza erga omnes, não dependem da aceitação, ou concurso de vontades.
47
Que poderá ser extra-judicialmente (mediante interpelação ao devedor) ou por via judicial (socorrendo-se da
citação para ação de cumprimento ou de execução / ou por meio de notificação judicial avulsa: Art. 805º do código
civil e Arts. 228º, 234º, 811º e 261º do código de processo civil)
-O credor vai poder reter a prestação, e retê-la:
- Devedor não poderá exigir nesta altura a restituição, não goza de “Condictio Indebiti” 49 – Esta
é a regra!
Mas e se não cumprir de forma voluntária?
Visto não ser lícito – em regra50 – fazer justiça pelas próprias mãos (justiça privada) o credor
será forçado a recorrer aos mecanismos dispostos – jurídicos ou extra-jurídicos.
48
O credor tinha direito a prestação, ainda que tenha sido cumprida voluntariamente, sem necessidade de
jurídicos ou extra-jurídicos para exigi-la.
49
O condictio indebiti é uma ação na lei civil (romana) pela qual um autor pode recuperar o que pagou ao réu por
engano; esse pagamento equivocado é conhecido como solutio indebiti.
50
O ordenamento jurídico condena por via de regra – apesar de admitir exceções raras – o recurso ao sistema de
justiça privada – Art. 1º do código de processo civil
Jurídicos: Citação para ação51 - de cumprimento ou execução de património52 / notificação
judicial avulsa (Arts. 256º e ss do código de proc civil
Em regra, o credor terá de recorrer à execução forçada, que vai agredir não a pessoa do
devedor, mas sim, o património deste! A execução terá por objetivo proporcionar ao credor a
realização do interesse que a prestação visava facultar-lhe, ou então, uma satisfação tao
próxima quanto possível! E se o credor tem direito a agredir o património, isto acontece porque
os bens do devedor respondem pelo cumprimento das obrigações – Garantindo-a.
A lei somente vai permitir a execução do património do devedor se o credor estiver já munido
de um TÍTULO EXECUTIVO (Um documento que constitua um mínimo de prova sobre os
pontos referidos – considerado suficiente para servir de base a ação executiva)
-Não possuindo um deste, ao que parece o credor terá de começar por propor uma ação
declarativa53 – destinada a averiguar a existência e falta de cumprimento da obrigação e a
obter uma sentença de condenação – do devedor – que é a ordem de cumprimento dada em
concreto pelo estado – representado por seus órgãos judiciários – ao devedor.
51
A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra ele determinada ação e se
chama ao processo para se defender; emprega-se ainda para chamar, pela primeira vez, ao processo alguma
pessoa interessada na causa.
52
Numa fase mais primitiva do direito romano, em virtude do laço de subordinação pessoal que se criava (por
meio do nexum, e posteriormente, da sponsio ou da stipulatio) entre o credor e o ob-ligatus, as sanções aplicáveis
em caso de incumprimento iam da privação de liberdade (prisão como meio compulsivo de pagamento até
redução a escravatura) até a morte! Depois, com a Famosa “LEX POETELIA PAPIRIA” de (326 A.C) – completada no
fim do período da república, após a criação da bonorun venditio – A Sanção principal passou a ser a execução, não
da pessoa, mas dos bens pertencentes a ela = seu património. Foi um diploma contra o exercício da “manus
injecto” sobre a pessoa do devedor! – Manus Injecto Era um meio de fiscalização contra um devedor que não
havia cumprido seu compromisso. Esse procedimento, previsto na Lei das Doze Tabelas (450 a.C.), permitiu ao
credor, após 30 dias sem ter sido pago, ir até seu devedor a fim de forçá-lo a comparecer perante um pretor
(Procedimento é marcado pelo formalismo ritual: o credor teve que colocar a mão em seu devedor, pronunciar
uma fórmula com as palavras certas (sob pena de nulidade do procedimento), então ele poderia acorrentar o
devedor e levá-lo à força para uma prisão de sua casa onde o manteve prisioneiro por 60 dias. Se ao final desses 60
dias, o devedor ainda não tinha encontrado uma maneira de executar seu compromisso, o credor exibiu-o em 3
mercados e depois vendeu-o como um escravo além do Tibre para receber suas dívidas pagas, ou colocá-lo à
morte. E isto mantém-se até os dias de hoje! Art 601º de nosso código civil - Pelo cumprimento da obrigação
respondem todos os bens do devedor suscetíveis de penhora, sem prejuízo dos regimes especialmente
estabelecidos em consequência da separação de patrimónios.
53
Esta possibilidade – e necessidade num certo sentido – de obter uma ação que, certificando a falta de
cumprimento, apenas condene o devedor a cumprir, reservando-se a execução para um segundo e eventual
procedimento judicial, constitui um progresso do direito moderno.
Por outro lado, se o credor tiver o título executivo, é a partir dele que se instaura a execução
forçada, a qual poderá revestir diversas formas, consoante a natureza da prestação devida e
ainda com outras circunstâncias:
-Execução para pagamento de quantia certa
-Execução para entrega de coisa determinada
-Execução para prestação de facto
A execução vai atravessar nestes casos, três diferentes momentos: PENHORA dos bens do
devedor, VENDA JUDICIAL (dos bens penhorados) e o PAGAMENTO AOS CREDORES!
54
O mesmo acontecerá ainda no caso da prestação ter objeto a entrega de coisa certa e esta haver sido
apreendida judicialmente
-VENDA JUDICIAL: É através da venda judicial que o estado – representado pelos tribunais –
prescinde da vontade do proprietário para alienar os bens penhorados e, a custa da alienação
forçada, obter o dinheiro necessário aos fins da execução.
-PAGAMENTO DE CREDORES: O dinheiro obtido pela venda judicial, será distribuído aos
credores, até ao limite do montante de seus créditos, tendo sempre em atenção as regras de
preferência que a lei civil estabeleça entre eles!55
NOTA: Em qualquer que seja o momento do processo, quer o executado – devedor – quer
algum terceiro, pode extinguir a execução, pagando a dívida exequenda e as custas da ação
(como ditam o Art. 916 do código de processo civil)
Apesar, e como já visto, da não licitude da justiça privada como regra – tal como era no antigo
direito romano – para efeitos de garantia das obrigações, não é nem um pouco correto dizer-
se que o credor é apenas livre de optar:
E ainda que a aquela mesma parte caiba, numa primeira fase da R.J creditória, não um poder
de exigir a prestação, mas uma simples expetativa do cumprimento!
Mas não deixam de refletir-se noutros aspetos, à margem desta faculdade, que demonstram o
poder que tem o credor relativamente a prestação!
55
Como os bens do Credor respondem de forma igualitária perante todos os credores, independentemente da
data, do montante da constituição do crédito ou da natureza da dívida, diz-se que o património é a garantia
comum dos credores. A não existir causas legítimas de preferência, o Artigo 604º refere que os credores tem
direito a ser pagos de forma proporcional pelo preço dos bens do devedor, quando ele não chegue para a integral
satisfação dos débitos.
- A mora56 (Arts. 804º e ss)
A mora transfere para o devedor o risco do perecimento ou deterioração da coisa, mesmo que
não tenha culpa (Art. 807) – Como um sinal de que a coisa está onde, segundo o direito, não
deveria estar (807º n2)
O devedor constituído em mora passa a responder por todos os danos que o não cumprimento
da obrigação possa acarretar para o credor!
A lei recusa ao devedor constituído em mora – Art. 438 – o direito de obter a resolução ou
modificação do contrato
-Obrigações com objeto pecuniário (Prestação de uma certa quantia de dinheiro) passam a
vencer juros, a contar do dia da constituição em mora, ainda que anteriormente os não
vencesse (Art. 806)
Em suma – Dir-se-á que o credor tem o poder de exigir a prestação! Ou que tem o direito à
prestação!
56
O incumprimento contratual ocorre sempre que o devedor não realiza a prestação a que está adstrito.
Incumprimento definitivo, mora e cumprimento defeituoso:
Em sentido amplo, o incumprimento contratual ou não cumprimento abrange:
- O incumprimento definitivo;
- A mora do devedor, que consiste no atraso da realização da prestação, sendo esta ainda possível;
- O cumprimento defeituoso ou imperfeito, que ocorre quando há uma violação do direito de crédito que não
integra a hipótese de mora nem de incumprimento definitivo, nomeadamente quando o devedor realiza a
prestação a que está adstrito com irregularidades ou deficiências.
*NOTA: Dado o caráter essencial da GARANTIA para a exequibilidade prática da obrigação, a
lei faculta aos credores meios de a conservar, reagindo contra determinados atos que possam
diminuir o património ou mesmo impedir o aumento de seu valor! – Institutos da sub-rogação,
impugnação pauliana, Arresto, declaração de nulidade Artigos 605º e ss.
De forma similar, costuma a falar-se muitas vezes, nos direitos subjetivos, de um poder de
pretender!
Poder de PRETENDER57 este, que caracteriza muito o direito do credor a prestação no âmbito
das obrigações naturais!
-Existe igualmente a “soluti retentio” mas falta a ação creditória, ou seja, o direito de exigir
judicialmente o cumprimento (Artigo 402º).
*Em casos de obrigações que já nascem naturais, ou em obrigações que prescrevem, o seu
cumprimento não poderá ser exigido, perde a exigibilidade – Ação creditória – tutela jurídica.
*Como já visto, o dever jurídico de prestar é um dever específico que não se confunde com
diversas outras figuras!
57
O autor considera a expressão, “poder de pretender” equívoca e de certo modo desnecessária, se considerar-se
que as obrigações naturais não são obrigações civis, não constituem deveres jurídicos, mas sim, simples deveres
morais, sociais que são juridicamente reconhecidos como tais. Este reconhecimento pelo direito traduz-se
essencialmente no facto de a lei os considerar como causa bastante da atribuição patrimonial realizada por influxo
deles!
Dentro deste polo da RJ obrigacional, existem os chamados deveres jurídicos de
prestar principais/primários ou típicos e secundários/Acidentais
-Entrega da coisa vendida pelo vendedor/Entrega do preço pelo comprador (879º alº b; c)
-Cedência do gozo da coisa / Pagamento da renda /Aluguer
-Realização de determinada atividade intelectual ou manual sob a direção e autoridade do
credor /Pagamento desta atividade
-Obrigação de indemnizar, nascida de responsabilidade civil extracontratual!58
E podem existir ainda, ao lado destes deveres principais, primários ou típicos, outros a que, por
contraste, podemos chamar deveres secundários (ou acidentais) de prestação. Dentro
desta categoria cabem:
-Deveres acessórios das prestações principais (destinados no fundo a preparar o seu
cumprimento ou então assegurar a perfeita execução)
Estes, não interessando diretamente à prestação principal, nem dando origem a qualquer ação
autónoma de cumprimento, são, todavia, essenciais ao correto processamento da relação
obrigacional em que a prestação se integra.
EXEMPLOS:
58
Já que a relação obrigacional nasce direta ou originariamente deste facto!
O locatário, por exemplo, tem como dever principal/típico, o pagamento da renda – Art. 1038º
al. a)
Mas além desta, e outras mais, tem o dever acessório de conduta, de avisar imediatamente o
locador, sempre que tenha conhecimento de vícios na coisa, ou quando saiba que algum
perigo a ameaça ou mesmo quando terceiros estejam a arrogar direitos em relação a ela
(desde que estes aspetos sejam desconhecidos pelo locador)
Aqui, não estamos nem diante de deveres primários nem de secundários. São deveres
acessórios de conduta, que interessam ao regular/correto processamento da relação jurídica
locatícia, nos exatos termos em que ela deve desenvolver-se entre contraentes que agem
honestamente e de boa-fé nas suas relações recíprocas.
OUTRO EXEMPLO:
Situação do depositário que é privado da detenção da coisa por causa não imputável!
A lei neste caso impõe ao depositário o dever acessório de conduta de avisar imediatamente o
depositante do ocorrido (Art. 1188º nº1) e concede a faculdade de recorrer aos meios
possessórios adequados (1188º nº2)
*Este dever não é, um dever de prestação cujo cumprimento possa o depositante exigir através
de ação judicial prevista no Art. 817º. É um dever acessório de conduta cuja violação pelo
depositário poderá desencadear obrigação de indemnizar os danos dela resultantes.
E AINDA:
Na própria situação da compra e venda, existem múltiplos deveres acessórios de conduta que
poderão recair sobre os contraentes!
Se a venda for sobre animais, que não sejam imediatamente entregues, o vendedor terá ainda
o dever de cuidar deles, com toda diligência e cuidado, enquanto permaneçam em seu poder,
preservando sua saúde e acautelando sua vida.
Se a venda for de géneros alimentícios, caberá ao devedor tomar todas as medidas de higiene,
limpeza e segurança necessárias, para que estes não se estraguem ou percam suas
qualidades!
Tratando-se de imóveis, o vendedor estará obrigado a entregar todos os documentos que
interessem à transmissão do prédio e a prestar todas as informações necessárias sobre a
aquisição do transmitente!
NOTA: Dum modo geral, é possível dizer-se sobre os deveres acessórios de conduta, que nas
relações obrigacionais bilaterais (de onde eles mais avultam), cada um dos contraentes deverá
tomar todas as medidas necessárias – ou razoavelmente exigíveis – pra que a obrigação a seu
cargo satisfaça o interesse do credor na prestação.
III. Garantia
Muito mais do que isto, procura também assegurar a realização coativa da prestação!
Sem prejuízo do direito que possui o credor de resolver o contrato ou de recusar legitimamente
o cumprimento da obrigação que recaia sobre ele próprio, até que o devedor se decida a
cumprir.
E como para este efeito o ordenamento jurídico não admite – em regra – o recurso a auto-
defesa (Artigo 1º do Código de Processo Civil), abre-se ao credor eventualmente lesado o
recurso à ação em tribunais.
O elemento que mais imprime juridicidade ao vínculo estabelecido entre credor e devedor, é
precisamente a AÇÃO CREDITÓRIA!
É uma distinção com muita relevância! Estas duas categorias apesar de possuírem suas
particularidades, contem muitos pontos de contato fundamentais! Juntas elas formam aquele
que é chamado o DIREITO CIVIL PATRIMONIAL, sendo que:
O direito das obrigações – relações jurídicas creditórias – regulam a chamada dinâmica
patrimonial! Tramitação legal até que já tenha adquirido a coisa, o direito)
E o direito das coisas/Reais – Relações jurídicas reais– regula a chamada estática patrimonial!
(momento em que a coisa já foi adquirida – e agora?)
A parte da comparação que mais interessa, é a das relações jurídico-reais, visto ser esta
categoria que, considerando seu lado estrutural, diretamente se contrapõe as relações jurídico-
creditórias.
*Importa apenas dizer que, na doutrina, os termos exatos da distinção entre estas duas
categorias está longe de ser encontrado, aceite por todos os autores! Há muitas opiniões!
59
Em regra, apenas produzem efeitos entre as partes - Credor e devedor – princípio da relatividade (406 nº2)
60
Caráter absoluto, isto é, seus efeitos impõe-se relativamente a todos os outros – obrigação passiva universal –
efeitos “erga omnes”.
61
Sendo que o adquirente, Sr A, tem o direito de exigir a separação da coisa perante a massa falida ou insolvente,
no caso de o transmitente vir a cair em falência ou insolvência! Segundo o código dos processos especiais de
-A todos os possuidores ou detentores da coisa (1311º do CC)
-A quemquer que se apodere da coisa, a danifique, a use em seu proveito ou conteste o direito
do titular.
Tudo isto conclui-se, mormente do artigo 1305º do CC, segundo qual o proprietário goza de
modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem!
Imaginemos que o mesmo Sr. A, fosse apenas credor. Tivesse direito a um crédito –
Prestação. Este seu crédito, pelo menos em regra, valerá somente como pretensão contra o
devedor, destinada a obter deste a concessão do uso, fruição ou a detenção da coisa, ou se
assim quisermos, o domínio da coisa!
-Os direitos reais versam sobre coisas determinadas e certas! 62 Já as obrigações podem incidir
sobre coisas indeterminadas, tal como sucede nas obrigações genéricas, pecuniárias e
facultativas.
-Direitos reais não poderiam mesmo, segundo alguns autores, abranger mais do que uma coisa
(segundo o princípio da especialidade)
-Instituto da usucapião, aquisição de direitos reais. Não tem nenhuma aplicação no âmbito das
obrigações.
I) Fonte comum – Atualmente ambos podem nascer por mero efeito do contrato63.
62
Apesar de que, segundo Manuel de andrade, poderia não ser bem assim no caso das universalidades de facto!
63
No tempo dos Romanos não era assim
II) Violação dos direitos reais, tal como os direitos de crédito, dá lugar a criação de um
vínculo entre o titular do direito violado e o autor da lesão. Embora nos primeiros, se
dê lugar a responsabilidade civil extracontratual, e nos segundos, à
responsabilidade civil contratual!
64
Para viver em sociedade o homem precisa de instituições! E estas podem ser definidas como “um conjunto de
fatores na realidade que, como estruturas de organizações sociais, possuem regras de conduta ou de
comportamento e que têm deste modo o seu aspeto normativo e normador (norma = regra), garantindo assim a
segurança nas relações entre os homens, ao mesmo tempo que permitem a cada homem encontrar-se e definir-se
num contexto ou universo significativo”.
É nas instituições (familiares, educativas, económicas, culturais, desportivas, políticas, etc.) com as suas regras
próprias, que o homem aprende viver regradamente em sociedade com os outros.
– a instituição família! Cujos fins vão sempre exercer uma influência vincada no seu regime
jurídico!65
Porém, já não é tao bem assim relativamente aos direitos/deveres de caráter pessoal!
(relações pessoais entre os cônjuges, poder paternal, tutela). Estes não podem ser objeto de
qualquer relação jurídico obrigacional, fora do círculo das pessoas ligadas pelo vínculo familiar.
São direitos/deveres exclusivos da instituição familiar! Não pertencem ao comércio jurídico!
E ainda:
-Os direitos pessoais familiares, apenas podem ser exercidos dentro dos limites de uma
determinada função! Não são exercidos com liberdade, tal como um próprio direito subjetivo, e
tal como ocorre nos direitos subjetivos de crédito!
-Os deveres pessoais familiares, ao contrário dos deveres de prestar, próprios das obrigações,
não são impostos único e exclusivamente no interesse da outra parte! Contrariamente, estes
são verdadeiros deveres morais que se impõe também, se não principalmente, no interesse da
própria pessoa vinculada, e ainda no interesse superior da comunidade familiar como um todo!
Muitas vezes, as regras de convivência nem são sentidas como tais porque na consciência das pessoas já estão
completamente interiorizadas. A primeira instituição em que o homem está inserido e começa a ser socializado é a
família, em que é exposto ao ambiente social em que começa a sua aprendizagem do mundo. E, obviamente,
também as regras ou normas jurídicas são parte da realidade social dos homens
65
Não é a toa que o livro 4 do código civil, seja um dos que mais tenha sido alvo, e que seja o mais suscetível de
alterações legislativas!
*Outra grande e notável diferença, é que o direito da família, é um ramo muito permeável as
diversas modificações estruturais a nível político, económico, social e principalmente, religioso!
Estas diversidades nacionais já não possuem tanta influencia assim – ou quase nada – no
domínio das obrigações!
Nascem na sucessão “mortis causa” relações obrigacionais (legados ou encargos que oneram
o herdeiro ou o legatário, obrigações do cabeça de casal ou do testamenteiro; obrigações do
fiduciário etc) cujo regime terá, na falta de disposição especial, de ser procurado no livro das
obrigações.
4. Fontes das Obrigações
Do que se trata? Dá-se o nome de fonte das obrigações, a todo facto jurídico de onde nasce o
vínculo obrigacional. Todos os factos jurídicos que originam relações jurídicas creditórias!
NOTA: Importância das fontes no âmbito obrigacional! Enquanto que muitos direitos reais (A
propriedade, o usufruto, enfiteuse o direito de superfície) tem em princípio o mesmo conteúdo,
independendo do facto que lhes origina, o conteúdo das relações jurídicas creditórias pode
alterar-se conforme a fonte de onde promanam!
A. Contratos
É a primeira fonte das obrigações não só na sistematização legal, mas na sucessão histórica
dos factos, devido até sua grande importância prática.
Os princípios fundamentais em que assentam toda a disciplina legislativa dos contratos são:
O princípio da autonomia privada (ou autonomia da vontade), tem sua mais importante
dimensão no princípio da liberdade contratual. Também tem seus fundamentos consagrados
constitucionalmente nos artigos 26 n1 e 61.
Segundo Prof. Doutor Pinto Monteiro, o princípio da autonomia privada consiste no poder
que é reconhecido aos particulares de autorregulamentarem a sua esfera jurídica conforme os
interesses que bem lhes aprouverem.
Nos termos de Antunes Varela, seria concebida como o poder que tem os particulares de fixar
por si próprios, a disciplina juridicamente vinculativa dos seus interesses.
-Os negócios jurídicos(principalmente) – São atos, cujos seus efeitos são produzidos por
força da manifestação da vontade e em coincidência com o teor declarado de tal intenção.
-Também através do poder de livre exercício de direitos subjetivos- Poder ou faculdade que
é atribuído aos indivíduos de exigirem um comportamento positivo ou negativo por parte de
outrem. (com limites artigo 334 CC).
O que este artigo nos diz, ou pelo menos, a tradução de seu significado, é que os contratos
possuem efeitos relativos! Relativos as partes – aos contraentes! Esta é a regra, que
comporta, por sua vez, a admissão de exceções, logo no artigo 406º nº 2!
- Muita doutrina costuma a estudar contratos para pessoa a nomear*/ Contratos com cláusula a
favor de terceiro* como exceções, apesar de apenas ser uma exceção de facto, o contrato com
cláusula a favor de terceiro
-Direitos pessoais de gozo (407 – comodato, arrendamento) Os titulares destes podem exercer
ações contra terceiros. Ações de restituição de posse.
- Meios conservatórios do património do devedor. 606 e ss. ação sub-rogatória…. /
impugnação pauliana (610 e ss) – nestes dois o credor opõe seu direito de crédito a terceiro.
Opõe um crédito a terceiro.
-Artigo 495º - Relacionado a indemnizações a terceiros no caso de morte ou lesão corporal!
- Teoria do terceiro cúmplice (é uma exceção de cariz mais jurisprudencial – doutrina não
aceita muito) – baseada no artigo 490 CC – Responsabilidade extracontratual por factos
ilícitos66
-Contratos com eficácia real (contratos-promessa, pactos de preferência com eficácia real etc)
Aqui, a lei recorre a boa fé em inúmeras situações. No artigo 243 n2 ao referir que boa fé
consiste na ignorância da simulação, no 291 n3 ao considerar de boa fé o terceiro que
desconhecia sem culpa o vício do negócio nulo ou anulável no 612 ao entender por má fé a
consciência do prejuízo que o ato causa ao credor no 1260 1 ao dizer que a posse é de boa fé
quando o possuidor ignorava ao adquiri-la que lesava o direito de outrem etc.
66
Muito difícil provar que alguém instigou outrem a violação de um direito de crédito!!
Em sentido Objetivo?67 – É neste sentido que o princípio da boa fé se manifesta com potencial
máximo. Se traduz numa regra jurídica de conduta, num princípio normativo para o qual o
legislador é remetido.
Aplicado no âmbito dos contratos, este princípio consiste numa norma de conduta, que diz que
as partes devem agir de modo honesto, correto e leal, impondo assim deveres de colaboração
e evitando comportamentos desleais entre as partes.
O princípio da confiança, por seu turno, é por muitos autores, considerado ainda como uma
manifestação do princípio da boa fé! É no fundo uma discussão doutrinal saber se há
autonomia ou não!68
Este princípio está muito associado a boa fé! É um princípio que muito explica sobre a força
vinculativa dos contratos e sobre a regra da imodificabilidade do contrato por vontade unilateral
de uma das partes (Art. 406º).
A sua consagração, nada mais representa, do que ordenamento jurídico a proteger a legítima
expetativa/confiança, criada pelo recebimento da proposta contratual (tal como ela é) no
espírito do destinatário, que explica a irrevogabilidade dela pelo proponente durante o período
razoavelmente reservado à reflexão e decisão deste (Artigo 230º nº1).
Exemplos:
Um indivíduo ao realizar a compra de um pacote de serviços da MEO por exemplo, esta a
confiar que receberá ao assinar os termos e pagar a quantia acordada, aquilo que deseja.
A confiança é justificada? Recebe tutela jurídica? Para isso respondemos com outra pergunta:
Imaginemos que eu aceitasse os termos, e pagasse o preço acordado e deixasse tudo pronto
na loja oficial com o comprador. No entanto, ao passar dos dias em casa, acaba que não
recebo por nada que foi acordado.
67
227 n1 – regras de boa fé 239 que fala sobre os ditames da boa fé 334- limites impostos pela boa fé como
critério do abuso de direi 437n1 – princípios da boa fé como exigência a ponderar em caso de alteração anormal
das circunstâncias 762n2 – contraentes procederem de boa fé no cumprimento de suas obrigações e no exercício
de direitos correspondentes.
68
atualmente vem adquirindo cada vez mais espaço
Neste caso, minha confiança seria justificada, e receberia tutela jurídica pelos termos do artigo
227 do CC, uma vez que, eu não tive culpa alguma! Fui a loja oficial, falei com um funcionário
oficial da loja, realizei meu contrato corretamente em todos os termos, e ainda assim, não
recebi pelo produto acordado. Confiei que ao pagar, receberia. Mas não ocorreu.
Esta tutela jurídica da confiança, pode conduzir não apenas a atribuição de efeitos jurídicos a
uma situação tão só aparente (como é o caso do dolo dos menores, e do contrato de agência),
como também pode criar a obrigação de indemnização pela frustração da confiança criada (tal
como ocorre no 227)
Este princípio significa que, nos contratos a título oneroso 69 – que são de longe os mais
frequentes no comércio jurídico – à prestação de cada um dos contraentes deverá
corresponder a uma prestação de valor objetivo (ou mesmo subjetivo) sensivelmente
equivalente da parte do outro contraente!
-Artigo 437º - Direito a resolução ou modificação do contrato por alteração anormal das
circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar.
-Direito a redução do preço no caso da venda de coisas defeituosas (Art. 913) ou da venda de
bens onerados, nas circunstâncias previstas no Art. 911º
69
Negócios jurídicos onerosos – Há atribuições patrimoniais de ambas as partes, e em regra, como dita alias este
princípio, uma deverá ser o pagamento da outra.
Liberdade Contratual (Artigo 405)70 – O preceito basilar, trave-mestra na teoria dos
contratos
Ao lado desta, e também de forma implícita, cabe igualmente a liberdade de escolha do outro
contraente!73
70
Antunes Varela a define como o poder de auto-regulamentação dos interesses concretos e contrapostos das
partes, mediante acordos vinculativos!
71
São livres ao contratar, na medida em que, podem seguir os impulsos da sua razão, sem estarem totalmente
aprisionadas pela jaula das normas legais
72
Liberdade de contratar = Faculdade reconhecida as pessoas de criarem entre si, guiadas pela sua própria
razão/vontade, acordos destinados a regular seus interesses recíprocos.
NOTA: Em qualquer destas liberdades, não estamos diante de uma liberdade total/plena! Aliás
como refere o Art. 405º, “dentro dos limites da lei”. Assim sendo, todas estas liberdades estão
sujeitas sim, a um rigoroso respeito aos diversos limites traçados na lei ( à capacidade
negocial, a forma para celebração de determinados negócios, a ordem pública, bons costumes,
etc.)
Como se sabe, a liberdade contratual é um corolário fundamental do princípio – muito mais
vasto – da autonomia privada!
I. EXCEÇÕES A LIBERDADE DE CONTRATAR?
- Deveres de Contratar
Há múltiplos casos em que sejam as pessoas singulares sejam as pessoas coletivas, tem o
dever jurídico de contratar, logo que se verifiquem determinados pressupostos. Isso pode advir
de convenção entre as partes ou poderá ser a própria lei a impor!
Quando assim é, a pessoa que se recusa voluntariamente a contratar estará não só a praticar
um ato ilícito, mas também um ato que pode constituí-la em responsabilidade civil perante a
outra pessoa que deseja contratar.
Há muitos casos semelhantes, em que se permite inclusive obter a execução coerciva do
contrato!
EXEMPLOS:
a) Contratos-promessa (Promessas negociais de contratar)
Aqui, tratam-se de casos em que a obrigação de contratar resulta de convenção entre partes!
Por se tratarem de espécies de auto-limitações, não são, em bom rigor, restrições a liberdade
contratual!
Sempre quando existir uma convenção deste género, o/ou os promitentes já não será mais livre
de contratar, pelo contrário. Terá o dever de o fazer, sob pena da contraparte poder exigir
73
Faculdade de livremente escolher com quem desejo fechar contrato! Caso ela também esteja disposta a fechar
conosco é claro
judicialmente o cumprimento da promessa ou mesmo uma indemnização pelo dano
proveniente da violação desta.
Restrição semelhante ainda sucede no âmbito destas profissões. Há certas pessoas que
desempenham profissões liberais cujo exercício está condicionado a posse de um determinado
título de habilitação (Mestrado/Carteira da ordem) ou á inscrição em certos organismos (A
própria ordem)
Os médicos por exemplos, não podem, salvo em caso de força maior, recusar-se a prestação
de assistência, relativamente aos socorros de extrema urgência a um doente ou sinistrado em
perigo imediato (Art. 13º al. b) Estatuto da Ordem dos Médicos.
São igualmente obrigados a prestar seus serviços sempre que não haja outro médico a quem o
doente possa facilmente recorrer.
74
Instituído pelo decreto-lei nº 522/85 de 31 de dezembro, já modificado algumas vezes
75
Impostos aqui em Portugal, após o 25 de abril, pelo decreto-lei nº 445º/74 de 12 de setembro
76
Concessão = Transferência temporária do direito de exploração de um serviço público, feita por uma pessoa
coletiva de direito público (Estado, empresas) para uma entidade privada, passando aquele exercício a correr por
conta e risco da concessionária
Imposições semelhantes dão – embora com um pouco menos de intensidade – no âmbito dos
advogados, solicitadores etc
e) Venda de bens essenciais a vida das pessoas? Tem sido doutrinalmente discutido! Nos
casos, por exemplo, de estabelecimentos que fornecem bens destinados a satisfazer
necessidades vitais dos clientes. Ou então, relativamente a uma empresa que seja
proprietária da única sala de espetáculos/ou restaurante duma certa localidade?
Exemplos:
Artigo 877º, relativamente à venda feita por pais a filhos ou por avós a netos, sem o devido
consentimento dos outros filhos ou netos!
Artigos 579º e 876º, relativamente a cessão e venda de direitos ou coisas litigiosas!
Artigo 953º relativamente a doação a favor de pessoas abrangidas pelas indisponibilidades
relativas
É o caso típico dos cônjuges, que carecem de consentimento mútuo para alienação de algum
bem compreendido no nº 3º alínea a) do artigo 1682º, e nos nºs 1 e 2 do artigo 1682º-A
77
Para além das restrições que já existem para certas pessoas: como a proibição de menores de frequentarem
certos locais
Também no caso dos maiores acompanhados, que carecem da autorização do acompanhante
para celebração de alguns atos.
Depois de decidir se vai ou não contratar, a pessoa ainda goza – em regra, e nos limites da lei -
no âmbito da liberdade contratual, de liberdade para escolher o outro contraente, ou seja, com
quem celebrará o contrato!
Esta faculdade reveste especial importância nos negócios jurídicos (“intuitu personae 78”), nos
contratos à crédito/de crédito ou ainda, nos contratos destinados a criar relações de
cooperação entre os contraentes.
São exemplos típicos do interesse que reveste esta escolha, os contratos de mandato, doação,
de empreitada, de sociedade e acima de todos, naturalmente, o contrato de casamento
(gerador de relações familiares)
78
Tipos negociais que uma das partes com quem eu contrato, a que eu escolhi, é particular! Se não for eu não
contrato (acontece muito nas doações e principalmente no contrato de casamento!)
Entre os limites derivados da lei, destacam-se:
- Os resultantes dos chamados direitos legais de preferência79
-Os impostos pelas normas que reservam para determinadas categorias profissionais
(advogados, corretores da bolsa etc) a realização de determinados tipos de prestação de
serviços. (= Os médicos, na urgência, não tem o direito de escolher quem oferecem seu
serviço!)
III. EXCEÇÕES A LIBERDADE DE FIXAÇÃO/MODELAÇÃO DO CONTEÚDO
CONTRATUAL
Além das duas anteriores liberdades, implícitas no Artigo 405º, é facultado as partes ainda – e
agora de forma expressa – a liberdade de fixação/modelação do conteúdo contratual.
Tomando por referência os contratos especialmente regulados na lei, no código civil, e o
próprio conteúdo explícito do Artigo 405º, pode se dizer que esta liberdade se desdobra:
b) Por outro lado, na faculdade de aditar a qualquer destes contratos típicos, as cláusulas
que melhor convierem aos interesses prosseguidos pelas partes80
79
Esta tipologia de direito, bastante pródiga em nosso ordenamento jurídico, possui uma eficácia limitativa da
liberdade contratual ainda mais forte do que a resultante dos pactos de preferência!
80
Celebrar uma compra e venda, e sujeitar a sua eficácia a verificação dum acontecimento futuro e incerto,
estipulando um prazo para a produção dos efeitos do negócio ou de alguns deles, sujeitando o contrato a uma
cláusula penal etc
81
Poder-se-ia mesmo dizer que, uma vez destruídos os pressupostos do liberalismo económico, e afastada pelo
intervencionismo-económico toda a relutância do aparelho estatal em se intrometer nas relações do comércio
privado, estas mesmas limitações cresceram/multiplicaram-se e tem crescido de forma muito acentuada nas
modernas legislações, principalmente em alguns tipos contratuais (como o arrendamento, contrato de trabalho,
seguro, negócios bancários, transportes etc). É certo que as limitações são menos frequentes no campo das
obrigações do que noutro campo do direito privado.
- Requisitos do Artigo 280º - Objeto negocial
-Negócios Usurários Limites no plano legal!
Conteúdo da prestação – 398º
-Contratos normativos e contratos coletivos
-Normas imperativas
-Cláusulas contratuais gerais Limite no plano factual!
Poderia questionar-se, porque a lei restringe a liberdade de fixação/modelação do conteúdo
contratual? Qual a finalidade?
- A primeira das limitações, abrange os requisitos do Art. 280 - Requisitos do objeto negocial –
dentre os quais se destaca a não contrariedade a bons costumes e ordem pública (Mas ainda,
o negócio jurídico deverá atender aos requisitos mínimos de determinabilidade, possibilidade e
conformidade a lei)
-A segunda das restrições, está no Art. 283 – Negócios Usurários!
-A terceira grande restrição, deriva do Art. 398º nº2, relativamente ao objeto da prestação, que
não necessitará de ter valor pecuniário, mas, há de corresponder a um interesse do credor,
dgino de proteção legal.
- A quarta limitação, é relativa aos chamados contratos-normativos e contratos-coletivos, cujo
conteúdo, fixado em termos muito genéricos, se impõe, em determinadas circunstâncias, como
um padrão que os contraentes são obrigados a observar nos seus contratos individuais de
natureza correspondente. A título exemplificativo, temos as convenções coletivas de trabalho
(CCT)82.
82
Quid iuris? As CCT São acordos celebrados entre associações de empregadores e de trabalhadores, com o
objetivo de definir condições de trabalho! Ao abrigo das CCT podem ser estipulados, por exemplo, salários, férias
ou questões relacionadas com saúde e segurança.
Os contratos de trabalho (=individuais) dos trabalhadores abrangidos por estas convenções, são obrigados a
respeitar as regras ali definidas. Isto significa que quem vai trabalhar num determinado setor ou empresa tem por
garantidas estas condições.
Divide-se em dois tipos:
-Se o contrato tipo/ou padrão, destina-se a servir de paradigma dos contratos individuais que
as partes venham, futuramente, celebrar entre si, chama-se usualmente contrato-tipo!
-Se, por outro lado, aquela convenção destina-se a servir de modelo (obrigatório) a contratos
individuais realizados entre pessoas que não participaram na elaboração do modelo, chama-
se-lhe preferentemente contrato-normativo
- A quinta limitação, refere-se à existência de normas imperativas que se refletem no
conteúdo dos contratos!
Umas delas aplicadas a generalidade dos contratos, outras, privativas de determinados tipos
contratuais.
(2) Aplicado a apenas alguns? São inúmeras, mas a título exemplificativo pode-se referir
disposições que fixam prazos de duração máxima ou mínima de certos contratos (Arts.
1025º, 1240º etc) disposições que estipulam prazos para resolução, no caso de vendas
a retrô (Art. 929º), normas que limitam taxas de juro no contrato de mútuo (Art. 1146º),
que estabelecem um horário de trabalho no exercício de atividades profissionais, as que
vem fixar um preço determinado ou que limitam o preço máximo/mínimo de
determinados produtos etc
83
modo como se distribuem e se coordenam os diversos elementos de um todo; organização, estrutura
- A sexta limitação, é referente as chamadas cláusulas contratuais gerais (que integram os
conhecidos contratos de adesão ou por adesão)
São contratos em que um dos contraentes – o cliente/consumidores – tal como sucede por
exemplo na generalidade dos contratos de seguro, de transporte, nos contratos bancários ou
mesmo nos contratos de prestação de serviços (Água, energia, gás) não tendo a menor
participação na preparação e redação das respetivas clausulas, se limita a aceitar/ou não o
texto que o outro contraente oferece, em massa, ao público interessado.85
84
Precisamente por isto o nome contratos de adesão – de modo a caracterizar este tipo de convenção
85
Apesar dos aspetos expostos, nos dias de hoje é muito eficiente para muitas empresas, que vendem seus
produtos em larga escala. Não seria colaborativo para com a celeridade do tráfico jurídico que as empresas
andassem a celebrar contrato por contrato, era até impensável!
a) Seja porque a empresa que elabora as cláusulas contratuais gerais, detém o monopólio
da atividade que explora
b) Seja porque igual atitude é tomada por todas as empresas concorrentes
NOTA: Relativamente aos contratos de adesão, importante detalhar que a limitação existe
apenas no domínio dos FACTOS.
No entanto, como na vida, nem tudo se faz com a lei, a desigualdade real entre os contraentes
não pode ser ignorada muito menos subestimada pelo legislador.
A disciplina contratual reparte-se, no direito português constituído, por três locais distintos:
-PARTE GERAL – Normas que, regulando os negócios jurídicos em geral, não só os contratos,
valem naturalmente para a mais importante categoria de negócio que são os contratos.
-LIVRO II – Capítulo referente as fontes das obrigações (405º e ss), há regras aplicáveis ao
comum dos contratos ou a certas categorias de contratos
-Título ii do livro II (874º e ss) – Normas reguladoras dos contratos em especial Estes
correspondem ao que na doutrina e, também na jurisprudência se chama contratos
típicos/nominados + acresce-lhes os contratos regulados em legislação extravagante
a) Contratos nominados/típicos
São todos aqueles que, além de possuírem um nome próprio, que os distingue dos demais,
constituem objeto de uma regulamentação/ disciplina legal específica! (CUMULATIVO ISTO!!)
O facto de termos um “nomen iuris”, ou seja, de os contratos serem nominados, não significa
que eles sejam típicos! Temos vários casos de contratos que são nominados e que não são
típicos, como por ex.: contrato de hospedagem, transporte, jogo e aposta não têm um regime
legal! O mesmo acontece em contratos em que não há “nomen iuris”, mas há um regime legal
suficientemente preciso para se considerar como contrato típico, embora esta situação seja
bem menos comum!
Um contrato será típico ou não, conforme o seu regime esteja ou não previsto na lei (tipicidade
legal). Muito frequentemente também se fala em tipicidade social!
Por vezes, acontece que determinado contrato não é legalmente típico, não está na lei, mas
corresponde a um tipo social, seja porque é socialmente reconhecido por todos como tendo
um determinado conteúdo seja porque é frequentemente celebrado na prática e há um
consenso quanto ao que é o núcleo essencial. O contrato pode remeter para esta tipicidade
social e a tipificação dos contratos pode partir dos tipos sociais.
Raramente o legislador quando cria um contrato o inventa do nada. Tendo em conta a
necessidade de regular a prática e de regular algo que levanta problemas, cria-se um tipo legal.
Mas há situações em que o legislador diz que não precisa de intervir tipificando, bastando a
tipificação social acrescida da aplicação do regime geral dos contratos – ex.: cartas de conforto,
contrato de trespasse, contrato de hospedagem.
Este grupo de contratos, que a lei chama para disciplinar juridicamente, são naturalmente às
espécies mais importantes no comércio jurídico!
b) Contratos Atípicos/Inominados
São todos aqueles que as partes, ao abrigo de sua liberdade contratual, criam fora dos
modelos traçados e regulados na lei!
Os contratos atípicos podem ser:
-Completamente novos, ou seja, contratos atípicos puros, ou “sui generis”, totalmente
diferentes dos que existem, sendo raros no tráfego negocial,
-Ou podem ser contratos que têm a sua base nos tipos legais existentes, e a estes nós
chamamos contratos mistos. Chamamos contratos mistos, não a um tertium genus entre os
típicos e atípicos, mas a uma modalidade de contratos atípicos, que resultam da combinação
de tipos legais, de contratos típicos! Muitas vezes os próprios tipos legais surgem com base em
contratos mistos – ex.: O contrato de leasing! surgiu com as necessidades do tráfego negocial
e só depois é que foi tipificado pelo legislador, na sua base misturando vários tipos legais,
como a locação, a compra e venda e o financiamento. Neste caso, na base deste contrato
estão tipos legais combinados que geraram um contrato atípico e misto e que depois o
legislador veio consagrar legalmente e transformar o tipo legal, criando um novo tipo legal
b) Faculdade de aditar a qualquer destes contratos típicos do CC, as cláusulas que melhor
convierem aos interesses prosseguidos pelas partes86
c) E ainda, na possibilidade de se realizar contratos diferentes dos que a lei prevê e regula
no CC
Mas é preciso ainda saber… Quando será que as cláusulas aditadas pelas partes respeitam
ainda o tipo contratual fixado em lei, e quando a adição destas mesmas vai implicar o
86
estipulando um prazo para a produção dos efeitos do negócio ou de alguns deles, sujeitando o contrato a uma
cláusula penal etc
abandono dos tipos negociais legalmente previstos, com a consequente formação dum contrato
atípico!
Qual o limite/ A fronteira?
Ora a resposta a esta delicada questão esta no conhecimento dos esquemas essenciais, de
cada contrato típico!
Exemplos:
A causa/esquema essencial do contrato de compra e venda, por exemplo, é a transmissão de
um direito mediante um determinado preço
-LEASING
Uma das primeiras figuras alvo dessa corrente migratória, foi o contrato de leasing, que com a
sua designação de origem ou com uma tradução adequada, acabaram por se naturalizar
nalgumas legislações europeias, aí adquirindo o estatuto de contratos típicos ou nominados!
Foi o que aconteceu com PT, com o decreto-lei nº 171/79 de 6 de junho, que inseriu no
ordenamento jurídico português uma das modalidades do leasing, sob a denominação de
locação financeira, e que hoje encontra-se substituído pelo decreto-lei nº 149/95 de 24 de
junho!
Art. 1 do respetivo decreto - Contrato pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição,
a ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por
indicação desta, e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado, por um preço
nele determinado ou determinável mediante simples aplicação dos critérios nele fixados
Entre os vários afloramentos práticos da liberdade contratual, destacam-se ainda, pela relativa
frequência e particularidade dos problemas suscitados, dentro da vasta categoria dos
contratos inominados/atípicos, os chamados contratos mistos!
NOÇÃO88 – Todo o contrato no qual são reunidos elementos de dois ou mais negócios,
total ou parcialmente (contrato de trabalho) regulados na lei.
Ao invés de realizarem apenas um contrato dos previstos na lei – os típicos – com aquelas
características típicas, as partes celebram um contrato – o misto - que poderá ter prestações de
natureza diversa dos típicos ou ainda com uma articulação de prestação diferente da prevista
na lei, mas encontrando-se ambas as prestações, compreendidas em espécies contratuais
típicas, reguladas na lei.
Há a fusão, num só tipo negocial de elementos contratuais distintos que, além de perderem sua
autonomia no esquema negocial – do contrato misto, fazem parte do conteúdo deste.
EXEMPLOS:
Um indivíduo se inscreve num cruzeiro pelo mediterrâneo – A empresa organizadora obriga-se
a dar-lhe transporte, alojamento em cabine e alimentação. (PACOTES DE VIAGENS)
87
É a este tipo de contratos que se refere o nº2 do artigo 405, que não tem outra finalidade sem ser a de tornar
explícita esta fundamental categoria! Já que eles já estão admitidos no nº 1 do 405!
88
Prof. Doutora Mónica Martinez: Partes vão buscar elementos tipificados na lei, depois elementos de fora,
extravagantes, juntam, e constituem seu próprio contrato, podendo acrescentar eventualmente cláusulas.
Um indivíduo arrenda um apartamento para dois meses de praia! O Senhorio obrigar-se-á
mediante o pagamento de uma renda estipulada, não somente a ceder (temporariamente) o
gozo da coisa, mas também, a fornecer mobília, louças, roupas e a prestar múltiplos serviços
(lavagem e arranjo de roupas)
Elementos do contrato de arrendamento para habitação com clausulas do contrato de
prestação de serviços e também do de aluguer
-CONTRATOS GERMINADOS/DUPLOS: Noutros casos, uma das partes vai obrigar-se a uma
prestação de certo tipo contratual, e a outra vai obrigar-se, como contraprestação, a uma
prestação de tipo contratual diferente!
A cede a B, uma casa para habitação, em troca das obrigações emergentes de um contrato de
trabalho! Imagine nessa situação que B trabalha na oficina do Sr A, e por isto, A deixou com
que ficasse com uma fração autónoma logo acima de sua oficina!
C obriga-se a fazer uma obra para determinada empresa, e esta, como contraprestação,
promete-lhe uma quota na sociedade que vai explorar economicamente a obra.
-CONTRATOS MISTOS STRICTU SENSU/ou MODIFICADOS: Por último, existem ainda casos
em que um contrato de certo tipo é o instrumento de realização de um outro! Isto é:
Na raiz temos um determinado tipo contratual (imagine-se uma compra e venda) que depois,
por sofrer uma alteração, é assimilado/aproveitado por um outro, para cumprir funções desse
outro tipo contratual visado pelas partes (uma compra e venda que cumpre funções de
doação!)
É algo típico dos contratos de doação mista!
Nestes, o contrato que serve de instrumento/meio – é a mais das vezes uma compra e venda!
Inicialmente vai conservar sua estrutura própria! No entanto, esta mesma é
aperfeiçoada/modificada/ de modo a que sirva, ao lado da função que lhe compete, a função de
um outro contrato.
Diz-se doação mista, o contrato em que segundo a vontade dos contraentes, a prestação de
um deles (em regra a transmissão de uma coisa) só é em parte coberta pelo valor da
contraprestação, para que a diferença de valor entre ambas beneficie gratuitamente o outro
contraente!
Exemplo:
O Sr. A vende ao Sr. B um prédio cujo valor é 100.000, pelo valor de 30.000, tendo um “animus
beneficiandi” relativamente ao Sr B, com a diferença de valor entre as duas prestações.
Aqui não existe, como consideram muitos defensores da teoria da separação, uma compra e
venda por 30.000 seguida de uma doação pelo valor de 70.000!
89
não consiste em reaver o doador-vendedor da importância de 70.000 (a pretexto de ser este o valor por ele
doado) ou mesmo, em haver no doador-vendedor o direito 7/10 do prédio (com o fundamento de ser esta a parte
doada do imóvel)
E como esta, consistiu na realização da venda “viliore pretio” (menor preço), a sua destruição,
operar-se-á antes demais, mediante a restituição do prédio, por um lado, e depois, pela
correspondente restituição do preço
+ É possível que muitas outras modalidades existam na prática, que sejam defendidas por
outros autores! Mas esta sistematização feita pelos autores alemães já facilita bastante o
entendimento das diversas modalidades que, sob este espectro da liberdade contratual, podem
os contraentes criar
Os autores defensores desta conceção, referem que é preciso procurar-se no contrato misto o
elemento dominante, aplicando-se-lhe o regime do elemento dominante.
É preciso procurar-se qual seja, dentre as diversas prestações contidas no contrato misto,
aquela que prepondera na economia do negócio, para que assim se defina, com base nesta, e
com as necessárias adaptações, o regime geral do contrato misto!
NOTA: O problema aqui é que eventualmente podemos ir contra a vontade das partes! As
partes poderiam não ter querido, ainda que aquele fosse o elemento preponderante, a
absorção total de um só regime!
Exemplo: A antiga lei do arrendamento rural! Mandava aplicar aos contratos mistos de
arrendamento rural e outro ou outros negócios, as normas próprias de cada um deles! Quando
isto não fosse possível, referia que funcionava o regime do negócio jurídico que, dados os
termos do contrato misto, devesse se considerar predominante!
Outros autores, apelam para o poder de integração das lacunas dos negócios, que o sistema
confere ao julgador. Estes autores consideram os contratos mistos verdadeiros casos
omissos/lacunas – uma vez que não há na lei um regime específico para eles!
Em primeiro lugar, defendem ser preciso procurar saber, se as partes previamente escolheram
um regime preferível a aplicar ao contrato misto. De acordo com a sua vontade!
Se assim for segue-se a vontade das partes! Problema resolvido!
Se as partes não remeteram a nenhum regime particular, haverá uma lacuna convencional
(ponto omisso que as partes não regularam). Como, através desta teoria não é possível o
recurso a analogia (se não estaríamos no âmbito da teoria da combinação) socorremo-nos do
artigo 239º.
90
Lacuna legal apenas será quando de facto, não houver a possibilidade do recurso a qualquer norma na qual um
caso possa ser subsumido!
E então iremos para o Art. 8º nº3 – direto para a norma ad hoc – pois não existe um regime
específico de contratos mistos no código civil.
Posição adotada pela doutora Mónica: Tanto a Teoria da absorção como a da combinação,
no estabelecer do regime jurídico aplicável, são preferíveis a elaboração de normas ad hoc!
É preciso atender ter atenção a vontade das partes! As normas Ad Hoc elaboradas pelos juízes
nem sempre podem ser precisamente sensíveis as realidades do caso!
Podemos sempre percorrer as várias teorias, verificando sua adequação no caso concreto!
Nestes outros dois casos particulares, estamos diante de dois ou mais contratos que, SEM
PERDA DE SUA INDIVIDUALIDADE, se acham ligados por determinado nexo!
NOTAR BEM A DIFERENÇA: Nos contratos mistos, temos a fusão, num mesmo negócio, de
elementos contratuais distintos que, além de perderem sua autonomia – no “esquema negocial
do contrato misto” – fazem parte do conteúdo deste.
EXEMPLOS:
a) Junção de contratos (também chamadas de uniões de contratos EXTERNAS – Não tem
muito relevo jurídico))
Por vezes – no caso da junção de contratos – o tal nexo/vínculo que prende os contratos é
meramente exterior ou acidental, como quando provém do simples facto de terem sido
celebrados ao mesmo tempo, ou entre as mesmas pessoas ou de constarem do mesmo título
(escritura/documento particular autenticado)
EXEMPLOS:
O Sr. A compra um relógio no relojoeiro, Sr. B Depois vende um outro relógio antigo ao mesmo
Sr. B
Sr. B contrata o Sr. A para trabalhar em sua fábrica, comprando-lhe ao mesmo tempo o direito
de usar certas patentes de sua invenção!
Sempre que assim seja, como os contratos não são apenas distintos, mas também
completamente autónomos, aplicar-se-á a cada um deles o regime que lhe compete!
Em casos como estes, sucede que os contratos, ainda que mantendo a sua individualidade,
estão ligados entre si, as vezes por conta da lei, as vezes vontade das partes 92, por um
verdadeiro nexo funcional, que cria uma forte relação de interdependência entre os contratos,
influindo nas suas respetivas disciplinas jurídicas!
Não é um nexo meramente exterior/acidental como ocorre nas junções de contratos! Nestes
casos, trata-se dum nexo funcional, capaz mesmo de alterar o regime normal de um dos
contratos ou de ambos eles, por virtude da relação de interdependência, que eventualmente
se crie entre eles.
Esta relação de interdependência criada, entre os dois ou mais contratos, poderá revestir as
mais variadas formas (não sendo taxativas as citadas!):
91
STJ, no processo 07A2104 de 09/11/2007 – “Na união de contratos há dois contratos autónomos e distintos, que
mantém uma relação de interdependência, embora não percam a sua individualidade”
Ainda, o STJ no processo 08B074 de 14 de fevereiro de 2008 - União de contratos, em que existe entre estes, um
nexo funcional que influi na respetiva disciplina, que cria entre eles uma relação de interdependência bilateral ou
unilateral, em que um deles pode funcionar como condição, contraprestação, base negocial do outro, ou outra
forma de dependência criada por cláusulas acessórias ou pela relação de correspectividade ou de motivação que
afectam um deles ou ambos.
92
Quando a lei não obriga, temos vantagens também em criar ligações de contratos!
Em todo o caso, nas coligações existe uma forte relação de interdependência entre os
contratos (há um nexo funcional/não meramente acessório que os liga!) criada quer pelas
cláusulas acessórias (a condição) quer pela relação de correspectividade ou de motivação que
afetam um ou ambos eles!
NOTAR: Nenhum destes aspetos, que prendem um contrato ao outro, destroem a respetiva
individualidade! Eles estão muito ligados um ao outro, mas mantém sua individualidade!
EXEMPLOS:
C cede em arrendamento um prédio urbano a D, que em troca, promete que o Sr. F venderá ao
C um muro divisório do jardim! (Nexo de correspectividade)
c) Uniões alternativas de contratos (São ainda Uniões internas de contratos, mas são
uniões de contratos temporárias!)
Existem dois contratos, um em alternativa ao outro, dois diferentes, e autónomos! Vou celebrar
um dos dois consoante se verifique uma certa condição.
É uma união em que existe pelo menos 1 condição. Verificando-se esta, tem-se celebrado
apenas 1 contrato. Celebramos vários contratos autónomos submetidos a uma mesma
condição, que se verificar-se, celebramos apenas um!
Exemplo:
Ex: O sr. A vende a B/e doa-lhe uma coisa, subordinado estes dois contratos, a verificação ou
não de uma mesma condição (situação económica). Se a situação económica de A for boa,
doa-lhe, se for má, ele vende, consoante a condição tenha ou não se verificado!
Portanto, são contratos que estão dependentes um do outro, são alternativos, só um vai
funcionar, só um será celebrado em alternativa ao outro, não são para vigorar em simultâneo,
mas em alternativa.
d) Uniões processuais/E Uniões não processuais (Não releva muito para aqui!)
Consoante estivermos perante vários contratos ligados, todos eles e com um fim comum
se não tiverem todos um fim comum, será não processual.
Contratos que fazem parte da mesma união sejam ou não do mesmo tipo contratual!
-Há autores que seguem o regime do erro (o que doutora não concorda!) O erro é problema
da formação dos contratos, o agente não errou. Estamos na fase de cumprimento do contrato!
Contratos aleatórios
Aleatórios, são os contratos em que uma prestação pode deixar de existir em virtude de um
acontecimento incerto e futuro (que não é uma cláusula condicional 93!). Relaciona-se mais
com a imprevisibilidade das prestações de coisas futuras, admitidas em nosso ordenamento
jurídico – Art. 399º - com algumas particularidades – Art. 408º nº2
Exemplos:
93
Um dos requisitos para a existência da clausula condicional, é a subordinação do negócio jurídico a um
acontecimento incerto e futuro feita pelas partes – sua vontade!
-São os casos, nos contratos de compra e venda, quando se compra coisa incerta
(indeterminada) ou futura (Art. 408º nº2) - a produção do ano que vem de um campo de trigo/de
um laranjal etc, que pode eventualmente existir, se o campo produzir o trigo/laranja, ou deixar
de existir, caso não produza. Não se sabe! A prestação poderá existir ou não, é aleatório94!
-É ainda o caso dos contratos de seguro, em que não se tem certeza sobre a contraprestação
do segurador! Ela só será efetuada na ocorrência de um evento futuro (no seguro contra
incendio, por mais que já tenha sido contratado, a indenização só será paga se a coisa se
incendiar)
Contratos comutativos
São os contratos em que os contraentes já sabem, desde o momento da sua celebração, os
riscos envolvidos e os desdobramentos do negócio. (Locação – Senhorio já sabe que terá de
proporcionar o gozo da coisa, e o arrendatário sabe que terá de pagar uma quantia
determinada)
Noção – São espécies contratuais em que um dos contraentes (o promitente) atribui, por
conta e à ordem do outro (promissário), uma vantagem a um terceiro (o beneficiário), estranho
a relação contratual!95
É uma das modalidades contratuais que, nalguns aspetos, mais interesse teórico reveste.
Enquanto que a maioria dos contratos, produzindo efeitos relativos, apenas entre os
contraentes, podem ser representados esquematicamente por uma linha, onde nas
extremidades encontram-se cada uma das partes, o contrato a favor de terceiro, tem de ser
necessariamente expresso por uma figura triangular, ficando em cada vértice os intervenientes
na relação contratual.
NOTA: Embora os contraentes sejam apenas dois, cada um dos intervenientes se depara com
dois outros interessados.
94
depende do acaso ou de circunstâncias imprevisíveis
95
Os dois contraentes – temos o promitente, a pessoa que promete atribuir uma vantagem/ O estipulas ou
promissário – pessoa a quem, perante quem ou a ordem da qual a promessa é feita / E por último, muito
importante neste tipo contratual, apesar de já fora dos contraentes, temos o terceiro beneficiário da vantagem,
que adquire o benefício, em regra desde a celebração do contrato, de forma direta!
EXEMPLOS:
Contratos de seguro!
A é o maior amparo de B. Quer assegurar o futuro deste para além de sua morte.
No entanto, não possui muito dinheiro e então, celebra com uma companhia de seguros, um
contrato de seguro a favor de B
Sr. E, está obrigado para com o Sr. F a entregar determinada mercadoria. Então o que faz é
celebrar um contrato com uma empresa transportadora, para levar a mercadoria até o domicílio
do credor.
- Terceiro - não poderá ser APENAS, um mero destinatário da vantagem ou o seu beneficiário
indireto! O terceiro precisa necessariamente ser o titular do direito a vantagem, o beneficiário
direto da atribuição nascida do contrato.
DEFINIÇÃO: Espécie contratual em que uma das partes (“Amicus elegendo”) se reserva a
faculdade de designar uma outra pessoa (“Amicus electus”) que assuma sua posição na
relação contratual, como se o contrato tivesse sido celebrado com esta última.
EXEMPLO:
O senhor C possui uma procuração do senhor D, para poder adquirir um determinado quadro
precioso. (D tem assim poderes para comprar, adquirir
Sucede que o Senhor C não deseja ir, não quer aparecer ostensivamente na celebração do
negócio, por receio justificado.
Ora neste caso, D poderá celebrar incluir uma cláusula para pessoa a nomear
Esta tipologia de contratos constitui dentro da legislação portuguesa, uma grande inovação
introduzida pelo código civil! É extremamente útil e necessário na vida prática!
Não há nestes, contrariamente ao que acontece nos contratos com clausula a favor de terceiro,
nenhum desvio ao princípio da relatividade contratual!
Os contratos para pessoa a nomear produzem todos os seus efeitos apenas entre as
partes, entre os contraentes! A única coisa que acontece é que:
-Enquanto não houver designação por parte do “amicus elegendo” do amicus electus”, os
contraentes serão apenas os primeiros outorgantes do contrato.
a) Regime aplicável
Desde que um dos contraentes se reserve, perante a outra parte, a faculdade de nomear um
terceiro como titular do contrato, seguir-se-á neste acordo (contratos com cláusula para pessoa
a nomear) para a declaração de nomeação/ou reserva de nomeação!
Artigo 452º nº2 – Reserva de nomeação – que as mais das vezes será utilizada no âmbito da
compra e venda – não é admitida nos casos em que a lei afasta a representação, nem
naqueles em que é indispensável a determinação dos contraentes96.
Artigo 453º - A declaração de nomeação deverá, para ser considerada válida, ser feita por
documento escrito97 e emitida dentro do prazo convencionado ou, na falta estipulação das
partes, dentro dos 5 dias subsequentes à celebração do contrato.98
Feito isto, para que o ciclo contratual se feche novamente, precisa ainda a declaração de
nomeação ser integrada, sob pena de ineficácia, do instrumento escrito de ratificação ou pela
procuração anterior à celebração do contrato (Artigos 453º e 454º)
96
Nestes últimos, avultam-se oc casos de contratos que por sua própria natureza, são efetuados “intuitu personae”
(contratos que são realizados levando-se em consideração a pessoa da parte contratada. Baseiam-se, geralmente,
na confiança que o contratante tem no contratado. Só ele pode executar sua obrigação ex. doações, contratos
gratuitos em geral, negócios jurídicos familiares etc)
97
Documento escrito que se exige aliás, tanto para a declaração de nomeação (453º nº1) como para a ratificação
por parte da pessoa nomeada (Artigo 454º). Atenção ao 454º nº 2 que atenta para o facto de a ratificação
acompanhar, em regra, o regime de formalidade do contrato
98
Um prazo supletivo um tanto curto!
Feita a nomeação nos termos acima prescritos, os efeitos do negócio vão processar-se tal
como se a pessoa nomeada fosse o contraente originário, adquirindo o nomeado, com eficácia
retroativa, todos os direitos e obrigações emergentes do contrato para o lado da relação em
que fica investido!
A fim de que a nomeação da pessoa possa produzir efeitos relativamente a terceiros, e estando
o contrato sujeito a registo, admite-se a inscrição em nome do contraente originário, com
indicação da cláusula para pessoa a nomear, e a inscrição subsequente
São também por força dos contratos que nascem relações jurídico-familiares (Arts. 1576º e
1577º) direitos sucessórios (Arts. 1700º e ss) e ainda, direitos reais!
*A este respeito: Artigo 408º CC: Constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa
determinada dá-se por mero efeito do contrato!99
EXEMPLO PRÁTICO:
Por força do contrato – surgem as obrigações imediatas – tanto para A – entregar a coisa –
como para B – pagar o preço.
99
Não era assim ao tempo dos romanos, e não é ainda no direito Brasileiro, no direito espanhol e nem no direito
Alemão. No direito romano, quer as prestações tivessem por objeto uma coisa certa/determinada, quer recaíssem
sobre uma coisa indeterminada, o contrato de alienação/transferência da coisa, não envolvia a translação do
domínio, do direito de domínio sobre a coisa!
Em consequência do contrato de alienação, nascia uma obrigação, “de dare” destinada a transferir o domínio
sobre a coisa para o adquirente.
NOTA: No direito vigente português – Art. 408º CC, tal como na legislação anterior – Art. 715º do código de
Seabra), a constituição ou transferência de direitos reais sobre determinada coisa dá-se – opera-se em regra – por
mero efeito do contrato.
Ou seja?
A todos os contratos com este efeito, dá a doutrina o nome de contratos com eficácia real ou,
de forma mais simples, contratos reais.
O princípio da transferência imediata do direito real constitui a regra no âmbito dos contratos de
alienação de coisa determinada/presente, como dita o Art. 408º nº1.
Mas é preciso ter em atenção que esta não é uma disposição imperativa. É uma mera regra
supletiva, que as partes podem sim afastar, por exemplo, socorrendo-se do uso de uma
cláusula de reserva da propriedade!100
Tendo a alienação por objeto coisas móveis não sujeitas a registo, a reserva vai valer, ainda
que relativamente a terceiros, por simples convenção das partes.
100
Naturalmente, é um elemento acessório dos negócios jurídicos que será de considerável utilidade em vendas a
prestações ou vendas com espera de preço.
Contratos-Promessa
Noção Genérica – Convenção pela qual ambas as partes, ou apenas uma delas, se obrigam,
dentro de certo prazo ou verificados determinados pressupostos, a celebrar determinado
contrato.
E porque isto?
Poderia questionar-se o porque da existência desta figura! Ora, pode suceder, e não raras
vezes realmente sucede, que as partes desejam celebrar um contrato, mas por eventualidades,
quaisquer factos da vida, não podem celebra-lo no exato momento! Então realizam a promessa
contratual e, durante o certo período, conseguem o que precisam, para que assim celebrem
seu contrato-definitivo!101
Exemplo:
Estão à espera do consentimento da outra parte (A pensar no caso dos cônjuges)
Carecem de um determinado documento (Uma licença por exemplo)
Falta capital! (Escrituras públicas custam! Ou então A contraparte não está interessada a
vender a crédito)
Portanto, a obrigação assumida por um –no caso da promessa unilateral - ou por ambos os
contraentes, nos contratos-promessa, tem por objeto uma prestação de facto positiva – um
facere
101
Sem contar que a promessa-contratual ainda leva a vantagem de se poder voltar atrás – ainda que com
consequências!
E o direito correspondente, traduz-se numa legítima pretensão (que é tutelada!)
Ainda sobre os contratos-promessa, de referir que, tal como sucede na maioria dos outros
contratos, há uma nomenclatura específica para as partes:
-PROMITENTES102
NOTA: Promitentes que cumprem com os contratos, com a obrigação são chamados
promitentes FIÉIS! Contrariamente, quando estes não cumprem, são chamados promitentes
FALTOSOS!
a) Modalidades de Contratos-Promessa
-Formais/consensuais – formais (os que possuem eficácia real –precisam seguir sempre forma
– 413) há outros que não exigem forma!
-Com eficácia meramente obrigacional – só produz efeitos inter partes /-Com eficácia real –
Produz efeitos relativamente a terceiros – é oponível
102
No âmbito da compra e venda, diz-se promitente vendedor e promissário comprador
b) Requisitos de Forma – O princípio da Equiparação
-CONTRATO-PROMESSA de contratar
-CONTRATO-PROMETIDO ou definitivo
Valem para o contrato promessa assim, além das normas comuns relativamente aos contratos
em geral, estipuladas na parte geral (capacidade civil, vícios de vontade, resolução etc)
algumas das normas específicas do contrato em específico – o contrato definitivo!103
Pode-se dizer, em síntese, que por força do princípio da equiparação, aplicam-se ao contrato-
promessa as disposições gerais aplicáveis a todos os contratos e o regime do contrato
definitivo, tendo duas grandes exceções!
(1) Forma
Através deste pedido à Câmara, onde deverá detalhar a localização do terreno, bem como o que pretende
construir, irá obter um documento informativo da parte desta autoridade, que lhe comunica se está ou não
autorizada a construção no terreno em questão, bem como eventuais condicionamentos ou restrições à
construção.
De acordo com o Decreto-Lei nº 555/99, “a realização de operações urbanísticas depende de licença, comunicação
prévia com prazo, adiante designada abreviadamente por comunicação prévia ou comunicação, ou autorização de
utilização, nos termos e com as exceções constantes da presente secção”.
Para que a Câmara considere que há viabilidade de construção, o terreno para construção tem de estar classificado
como terreno com permissão para construção de imóveis de habitação no Plano Diretor Municipal. O impresso a
entregar na Câmara está disponível no próprio município. O tempo de resposta demora entre 20 a 30 dias.
Projeto de arquitetura
Após ter autorização de construção da Câmara, passa-se ao levantamento topográfico e a um projeto de
arquitetura, que também têm de ser, mais uma vez, aprovados pela autarquia.
Aprovados estes documentos, seguem-se os projetos de especialidades para os esgotos, água, gás, eletricidade e
comunicações. A Câmara analisa os projetos de obras de edificação e atribui (ou não) a licença de construção.
Livro de obra
NOTAS A FAZER RELATIVAMENTE A ESTE PONTO:
É preciso ter muita atenção quando a lei se refere aos prédios. Encaixam-se no âmbito deste
artigo sim, os prédios construídos, os prédios em construção, mas já não os prédios a
construir!
PRÉDIOS A CONSTRUIR = NÃO SÃO PRÉDIOS AINDA! É um terreno que simplesmente tem
viabilidade para construir! Não há qualquer construção! futuramente se pretende construir – E
mais do que isto: No momento em concreto não existe licença de construção/quanto menos de
utilização e portanto, não se aplicará o nº 3 do 410.
410º º3 – Aplicável a terrenos com projeto aprovado! Já construídos em construção. Impõe dois
requisitos: reconhecimento presencial das assinaturas dos outorgantes105 (1), bem como a
certificação notarial da existência da licença de utilização ou de construção (2)
A tão desejada licença de construção da Câmara é o cartão verde para avançar com a construção. É então hora de
procurar um empreiteiro que ficará responsável pela obra e pelo Livro de Obra. Cabe ao engenheiro civil a função
de supervisionar a obra e atualizar o Livro de Obra com todas as informações atualizadas sobre a construção.
Licença de utilização
Terminada a construção, falta ainda regressar à Câmara para uma última licença, a mais importante de todas: a
licença de utilização. Só com esta autorização na mão, poderá mudar-se para a casa nova.
Caso a obra tenha terminado sem alterações ao projeto inicial, pode pedir a licença de habitação, juntando as
vistorias e as certificações de água e esgotos. Para obter esta última licença tem de dirigir-se aos serviços de
urbanismo da Câmara Municipal. E, claro, tudo isto tem custos.
105
Outorgante é o interveniente como interessado com escritura pública, promessa, ou qualquer outro contrato.
Outorgante é aquele que concede, enquanto que outorgado é quem recebe.
1.2 Se o contrato-prometido estiver subordinado a qualquer outra formalidade, que não seja a
redução a documento106, vale para a respetiva promessa a regra geral da liberdade de
forma (Art. 219º CC)
Mas há ainda, por outro lado, casos de contratos-promessa em que apenas um dos
contraentes obriga-se, compromete-se a contratar futuramente, e ao outro apenas interessa,
compreensivelmente o estabelecimento de tal vínculo. Nestes casos, estamos diante das
chamadas promessas-unilaterais, ou contratos-promessa unilaterais!
Exemplo:
Sr. A está bem disposto para negociar/vender uma joia ao Sr. B por um determinado preço.
O sr. B naquele momento ainda não sabe se poderá ou se lhe convirá comprar, no entanto,
interessa-lhe por fundadas razões (as vezes para acautelar-se de subidas de preço) vincular
desde já o proprietário da coisa para a hipótese do contrato lhe convir!
NOTA: Nos termos do Artigo 411º, sempre que o contrato-promessa vincular apenas uma das
partes, e não se fixar o prazo dentro do qual o vínculo é eficaz, pode o tribunal, a
106
Importante o código do notariado e as disposições do código civil, artigos 362º e ss. Os documentos escritos
lavrados pelo notário, ou em que ele intervém, podem ser autênticos, autenticados ou ter apenas o
reconhecimento notarial.
2 - São autênticos os documentos exarados pelo notário nos respetivos livros, ou em instrumentos avulsos, e os
certificados, certidões e outros documentos análogos por ele expedidos. (De encontro com artigo 363º nº2)
4 - Têm reconhecimento notarial os documentos particulares cuja letra e assinatura, ou só assinatura, se mostrem
reconhecidas por notário. (Atualmente também advogados reconhecem assinaturas!)
requerimento do promitente, fixar à outra parte um prazo para o exercício do direito, findo o
qual este caducará.
Em regra, o contrato promessa, tal como a generalidade dos outros tipos contratuais tipificados
na lei, apenas produz efeitos relativos ou se assim quisermos – “inter partes”. (Indo de acordo
com o princípio da relatividade contratual Art. 406º n2)
No entanto, o artigo 413º do código civil admite a possibilidade das promessas – quer
unilaterais quer bilaterais – de constituição ou transmissão de direitos reais sobre bens imóveis
ou móveis sujeitos a registo, obterem eficácia real! (novamente inovando relativamente ao
anterior código que apenas admitia a possibilidade de obter efeitos relativos)
As partes podem sim o fazer mediante declaração expressa e inscrição no registo! Desde
que observados os pressupostos:
107
Relativamente estes. Os direitos do beneficiário de um contrato-promessa com eficácia real, são direitos reais
de aquisição – conferem ao seu titular a possibilidade de pelo seu exercício, vir a adquirir um direito real sobre
determinada coisa.
-Quando a lei não exija estas formalidades para o contrato prometido, será suficiente um
documento particular com reconhecimento da assinatura da parte que se vincula (no caso de
promessa unilateral) ou de ambas (se for promessa bilateral) – Segunda parte
Na falta de qualquer dos requisitos exigidos, o contrato-promessa ainda que válido, terá
eficácia meramente obrigacional!
São em casos como estes, que mais acentua-se sua eficácia relativa. Sendo obrigacional, os
direitos nascidos emergentes do contrato-promessa não valem contra terceiros, não são
oponíveis, muito menos pode ser lhes exigido alguma indemnização pelo facto de sua violação.
Por outro lado, se os requisitos forem todos observados, a promessa-contratual, enquanto não
for revogada, declarada nula ou anulada ou não caducar, vai prevalecer sobre todos os outros
direitos (de crédito ou reais) que venham a ser constituídos posteriormente relativamente à
coisa, tudo isto se passando relativamente a terceiros.
DEFINIÇÃO – O sinal consiste na coisa (poderá ser dinheiro ou outra coisa fungível ou não
fungível) que um dos contraentes entrega ao outro, no momento da celebração do contrato
ou em momento posterior, como:
Podendo esta mesma coisa coincidir, ou não, no todo ou em parte, com o objeto da prestação
devida.
- No primeiro dos casos chama-se o sinal de confirmatório (ou as “arras” como antigamente)
108
108
sinal dado para segurança de um contrato;
-No segundo caso, o sinal chama-se penitencial, para significar que representa a penitência ou
castigo do arrependimento faltoso!
Conceito: Contratos pelos quais alguém assume a obrigação de, em igualdade de condições,
escolher determinada pessoa (a outra parte ou terceiro) como o seu contraente, no caso de se
ter decidido celebrar determinado negócio!
Deste contrato nasce – De um lado uma obrigação à preferência e de outro lado um direito de
preferência!
Em termos simples, é o acordo através do qual alguém (o obrigado) se obriga a dar preferência
a alguém (o preferente) na venda de uma determinada coisa, no arrendamento de um imóvel, o
aluguer de um carro, etc.
Exemplo: Sujeito A, está imprevistamente necessitado de dinheiro. Sucede que decide vender
um prédio.
No entanto, estando muito confiante das melhoras de sua situação, apenas deseja faze-lo no
caso do comprador, Sr B (o comprador atual), lhe prometer que, no caso de mais tarde este
decidir alienar, preferirá o A na compra, em igualdade de preço, a qualquer outro comprador!
Os pactos de preferência são figuras muito vulgares nos contratos de compra e venda! Mas
também poderão ter como objeto outros tipos contratuais tais como o arrendamento, o aluguer,
contrato de sociedade etc
Dum modo geral poderá se dizer que os pactos de preferência são figuras admitidas
relativamente a compra e venda (Art. 414º) e relativamente a todos os contratos onerosos
em que tenha sentido a opção por certa pessoa sobre quaisquer outros concorrentes (Artigo
423º)
a) Requisitos e efeitos
Para os pactos de preferência, como legítimos contratos que são, valem as regras fixadas na
parte geral do código civil relativamente os requisitos de validade dos negócios jurídicos!
(Ordem pública, bons costumes etc, requisitos previstos no 280º/281º/282º)
Quanto a forma, dependerá dos casos. Se a preferência disser respeito a um contrato para cuja
celebração a lei exija documento (autêntico/ou particular), como seja no caso da venda de
imóveis, o pacto apenas será considerado válido se constar de documento escrito109,
assinado pelo obrigado (Quem se obriga a dar preferência)
Tudo isto trata-se das soluções decorrentes do disposto no Art. 415º1 manda aplicar – em
termos de forma – ao pacto de preferência, o disposto no artigo 410º nº2.
109
A este respeito, Artigos 362º e ss
No entanto, nada obsta que uma preferência venha a ter eficácia “erga omnes”, efeitos
absolutos – relativamente a terceiros!
É o que acontece por exemplo, nas preferências que reportam-se a um contrato que incide
sobre bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo, desde claro, que se verifiquem os
requisitos exigidos para o caso paralelo do contrato-promessa, como consta do Art. 421º nº 1.
Sempre que assim suceda, a preferência vai se tornar num verdadeiro direito real de
aquisição!110
110
Desde que, a preferência se destine à aquisição de um direito real!