Você está na página 1de 99

-DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Conteúdo
1. O direito das obrigações – Introduções.........................................................................................1
2. Obrigação – Conceito, estrutura e função.....................................................................................3
3. Relações Jurídicas Creditórias e Outras Classes de Relações Jurídicas..............................32
1. O direito das obrigações – Introduções

A) O que é direito das obrigações? Duas diferentes noções!

Enquanto uma subdivisão do direito civil?

- É um dos cinco livros – integrantes daquela que é a sistematização germânica dos direitos 1 –
constituído pelo conjunto das normas jurídicas reguladoras das relações jurídicas de crédito, ou
também chamadas relações jurídicas creditórias!

Enquanto um ramo da doutrina?

- Aqui o direito das obrigações possui como finalidade essencial a elaboração sistemática, feita
com espírito científico, de todas as soluções facultadas pelas normas disciplinadoras das
relações de crédito.

*Já se sabe o conceito e importância de relações jurídicas! Mas e quando as relações


jurídicas creditórias? Qual sua definição, estrutura, elementos?

Ora as RJ creditórias, são todas aquelas em que ao direito subjetivo atribuído a parte ativa,
corresponde, por outro lado, um dever de prestar2, especificadamente imposto a parte
passiva.

*Ter em atenção: Noções preliminares relativamente a relação jurídica!

1
Sistematização que dividia em cinco livros, estes em títulos, os títulos em capítulos, os capítulos em secções e as
secções em subsecções! Apesar de que na parte geral (livro 1) o título 2 ainda divide-se em subtítulos. São
respetivamente: Livro I – PARTE GERAL / Livro II – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / Livro III – DIREITO DAS COISAS /
Livro IV – DIREITO DA FAMÍLIA / Livro V – DIREITO DAS SUCESSÕES

2
Dever este que como se verá, em nenhuma hipótese, pode ser tomado por equivalente aos chamados deveres
jurídicos!
B) E qual o objeto desta disciplina?

- Ora o “dever de prestar” corresponde a parte mais característica, individualizadora assim por
dizer, das relações obrigacionais (jurídico creditórias). É principalmente por conta dele que esta
relação se distingue das demais (relações nos direitos reais, das sucessões, na família etc). E
daí, que se tomarmos esta parte mais característica da relação, no seu todo, possamos afirmar
que o objeto fundamental do direito das obrigações traduz-se nos deveres de prestação!

C) Qual a relevância prática das do direito das obrigações?

A matéria das obrigações constitui objeto do livro II de nosso código civil, que se estende desde
o artigo 397º até ao 1250º.

As obrigações ainda constituem uma vasta parte das matérias disciplinadas por outros de
direito, como o direito comercial, passando pelos negócios bancários e pelos títulos de crédito.

De entre as espécies reguladas nos títulos II do livro II do código civil como fontes especiais de
obrigações, figuram-se além doutras de menor relevo, a compra e venda, a doação, o contrato
de sociedade, a locação (que compreende o arrendamento /e o aluguer) o mandato, o
depósito, o comodato, a empreitada, fazendo-se referência ainda ao contrato de trabalho
(regulamentado em legislação especial)

Do exposto resulta:

- Vastidão de matérias reguladas pelo direito das obrigações – quer no código civil – quer fora
dele!

- Extraordinária frequência com que em nossas vidas, no quotidiano, recorremos a algumas


das espécies contratuais típicas (veja-se compra e venda! Contrato de trabalho! Um seguro!
Uma locação! Empreitada!)

Tudo isto basta para demonstrar o quão grande é a relevância no plano prático, das relações
creditórias!
2. Obrigação – Conceito, estrutura e função

A. CONCEITO

O termo “Obrigação” é utilizado tanto na linguagem corrente como na própria literatura jurídica
em diversos sentidos3!

O que sucede é que a maior parte das obrigações, surge por conta de conceções, sentimentos
éticos ou morais (obrigação de respeitar a vida, propriedade, bom nome de outrem etc). Mas
juridicamente assim não pode ser!

Nos diversos sentidos que podem ser compreendidos, misturam-se figuras que por mais que
parecidas, não se confundem umas com as outras, mormente na sua expressão vinculativa,
e que por assim ser, cumpre a ciência jurídica distinguir!

a.1) Deveres Jurídicos4 - É uma noção extremamente ampla!

Necessidade imposta a uma pessoa (parte passiva) de observar um determinado


comportamento – positivo ou negativo – para satisfazer um direito.

Não se trata de uma simples advertência, conselho ou exortação! Trata-se de uma verdadeira
ordem, de uma injunção, que é em regra, acompanhada da cominação 5 de algum ou de alguns
meios coercitivos próprios, que poderão ser sempre mais ou menos fortes, consoante o grau de
exigibilidade social da conduta prescrita6!
Este dever jurídico, tutelado pelo direito, pode ser ditado no interesse de uma só pessoa, de
uma generalidade de pessoas (pessoa coletiva por exemplo), no interesse de toda a sociedade
ou mesmo no interesse do estado.

3
Inquilino é obrigado a pagar a renda! Eu tenho a obrigação de cumprir o serviço militar! O mandatário é obrigado
é aceitar a revogação do mandato! Temos a obrigação de pagar os impostos lançados pelo estado!

4
Ficam sempre de fora da categoria destes, os deveres morais, sociais ou religiosos (respeito pelos mais velhos,
defesa dos fracos, auxílio dos pobres, amar ao próximo como amamos a nós mesmos etc). Estes podem muito bem
ter relevância para o direito, em certas circunstâncias, no entanto não são sancionados pela ordem jurídica como
deveres jurídicos.

5
Ato ou efeito de cominar; ameaça de pena ou castigo / determinação ou aplicação de pena ou sanção por
infração ou incumprimento

6
Que foi oficialmente ordenado.
Sempre que a ordem jurídica confere, as pessoas em cujo o interesse o dever é instituído, o
poder de disporem dos meios coercitivos que as protegem, corresponderá ao dever um direito
subjetivo!

Todo sentido lógico! Noção de direitos 1”


subjetivos: Poder de exigir ou
pretender de outrem um determinado Exigir ou pretender!
comportamento positivo ou
negativo /ou de só de per si ….

O exigir na noção, deriva precisamente do poder que é concedido ao titular do direito subjetivo,
de ser juiz da vantagem do funcionamento, em cada caso concreto, da tutela jurídica do dever
jurídico!7
Também o dever jurídico, correspondente aos direitos subjetivos, não se mistura com o lado
passivo das obrigações que é sempre, um dever de prestar!

DEVER JURÍDICO DEVER DE PRESTAR

Direitos subjetivos públicos (tendo


CONTRAPÕE-SE em vista também o “Status Direitos Subjetivos de Crédito! Somente
NO LADO ATIVO? Passivus”) e ainda, mas no âmbito estes!
do direito privado, quer os direitos de
crédito, como os direitos reais, os
direitos de personalidade, os direitos
conjugais e os direitos de pais e
filhos.

Como se vê, o dever jurídico é algo muito mais amplo, muito mais abrangente do que o dever
de prestar!

a.2) Estado de sujeição8

7
Noutros termos! O titular ativo da RJ não é um mero vigilante interessado no comportamento prescrito!
Figura diferente do dever jurídico! Esta já equivale ao contrapolo dos chamados direitos
potestativos!

Poder que um senhor A proprietário de um prédio encravado tem, de constituir uma servidão de
passagem, ou então o poder que tem o Sr B de revogar livremente seu mandato ou mesmo o
poder que possui a Senhorita C de se divorciar.

Tanto o Sr A como o Sr B como a senhorita C, exercem seu direito sem carecer de qualquer
aprovação, consentimento, parecer ou algo similar de suas respetivas contrapartes! 9

Em ambos estes casos o que acontece é que não há dever jurídico da outra parte. Há um
estado de sujeição! A contraparte do Sr A do Sr B e da senhorita C sujeitam-se
inelutavelmente aos efeitos resultantes do exercício do direito potestativo
(constituição/modificação/extinção de direitos), quer queiram eles, quer não!

NOTA: Por vezes o titular do direito potestativo poderá atuar mediante recurso forçoso a
autoridades públicas (tribunais como seja)

A parte passiva da relação jurídica não tem de fazer nada de modo a cooperar na realização do
direito, mas também, nada poderá fazer para a impedi-la!

Situação de necessidade inelutável em que se encontra a contraparte do titular de um


direito potestativo, de ter de suportar em sua esfera jurídica a produção de
determinados efeitos – constituição, modificação, extinção – provenientes do exercício
daquele direito.

a.3) Ónus Jurídico

8
Muitos tem sido os autores que, a fim de distinguir os direitos potestativos das meras faculdades, acrescentam-
lhe dois elementos caracterizadores: 1) direito potestativo é inerente a uma relação jurídica pré-constituída entre
sujeitos determinados (veja-se o caso do divórcio, da servidão de passagem) 2) direitos potestativos se esgotam
com o ato de seu exercício!

9
Há quem diga (BOTTICHER) que é precisamente esta desnecessidade de consentimento a tónica dos direitos
potestativos.
Figura um tanto mais distinta dos deveres jurídicos e dos estados de sujeição!

O que está em causa aqui é a necessidade de adoção de um determinado comportamento,


para manutenção de um direito, de uma posição jurídica!

A ordem jurídica atribui certa vantagem pela prática de um determinado comportamento,


considerando-o indispensável para obtenção daquela, mas deixando, por outro lado, a total
descrição do interessado a opção por aquela mesma conduta, ou por outra que mais lhe
convenha!

Um clássico exemplo é a necessidade de inscrição de bens imóveis no livro do registo predial!

Esta necessidade não equivale:

- A nenhum estado de sujeição, dado que se exige do interessado, a prática de um


determinado ato (que ele é totalmente livre para executar ou não)

-A nenhum dever jurídico10, quer, pois, o sentido da lei não passa por impor a realização do ato
sob a cominação de uma sanção, quer porque o registo funciona no interesse de quem o
requer.

Assim, em termos claros:

- Os ónus correspondem na necessidade da observância de um determinado


comportamento, não por imposição legal, mas como um meio de obtenção ou de manutenção
de uma vantagem para o próprio onerado!

10
Supondo aqui que nao seja aplicável o caso do registo predial obrigatório (arts 14 e ss do código do registo
predial)
a.4) Poderes funcionais

Figura também distinta dos deveres de prestar, e de todas as anteriores situações (deveres
jurídicos, ónus estado de sujeição) são os chamados direitos-deveres ou poderes funcionais.

NOTA: Não raras vezes estes são confundidos com a figura dos direitos subjetivos!11

Os poderes funcionais são direitos conferidos aos seus titulares para que possam efetivamente
cumprir com a função a que estão adstritos (poder paternal /tutela), só sendo legitimamente
exercidos dentro dos limites desta função.

São direitos que possibilitam o seu titular a agir, e cumprir com as obrigações que possui para
com uma outra pessoa.

Exemplos clássicos aqui são os institutos do poder paternal e da tutela! Também os deveres
recíprocos dos cônjuges.

Direito da Família – Deveres de caráter pessoal nas relações


Jurídico familiares, imbuídos do espírito institucional da família.

a.5) Dever de Prestar /Deveres ditados pelos usos sociais


11
Assemelham-se muito com aqueles, consequentemente, com os direitos de crédito, na medida em que
conferem ao seu titular o poder de exigir um certo comportamento de outrem. Mas distinguem-se daqueles, no
exato ponto em que os seus titulares não os exercem com liberdade! Precisam exerce-los sempre em obediência a
função social a que se encontram adstritos.
Os primeiros não se confundem com os segundos! Os últimos são todos aqueles que estão na
base dos chamados donativos usuais e das doações remuneratórias (Artigo 941º). Aqui a
prestação efetuada é considerada como uma liberalidade enquanto que nas obrigações a
prestação é tratada como um cumprimento de dívida.

a.6) Dever de prestar /Deveres puramente morais sociais religiosos

a.7) Dever de prestar/ Simples deveres provenientes de relações de cortesia/obsequiosidade

Exemplos: Um convite para jantar, um convite para uma festa, promessa de acordar um
companheiro de viagem numa certa estação

*Aqui, são relações em que as partes não tem qualquer interesse em submeter ao império do
direito e que, por isto, não geram deveres legalmente tutelados como os deveres de prestar
típicos das obrigações.12

a.8) Deveres de Prestar/Dever geral de Abstenção

É uma distinção bastante nítida! Os deveres de prestar típicos das obrigações, não confundem-
se com os deveres gerais de abstenção, correlativos aos direitos subjetivos de domínio e de
personalidade.

*Ainda que haja em comum a todos estes, o traço do vínculo jurídico!

A distinção é ainda mais nítida quando falamos de obrigações cujo objeto é a prestação de
coisas ou mesmo a prestação de facto positivo!

Mas não deixará de ser nítida a distinção, mesmo que a obrigação tiver como objeto uma
prestação non facere – de facto negativa, dado que, como bem se sabe, por um lado, temos o

12
Nem sempre é fácil distinguir entre relações que as partes desejaram atribuir cunho jurídico e as outras que
constituíram por mera cortesia/obsequiosidade .
caráter relativo/específico do vínculo jurídico – típico das relações obrigacionais – e por outro
temos o caráter genérico do vínculo que envolve as relações jurídico reais.

b) Obrigação em sentido Técnico

Ora visto as diversas outras figuras, que podem misturar-se sempre que adentramos no
universo das obrigações, agora é preciso compreender o significado jurídico ou técnico do
termo obrigação, que nos será mais relevante!

Em sentido técnico, chama-se obrigação:

“O vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com
outra à realização de uma Prestação

*Nossa própria lei civil é que consagra esta definição no artigo 397º

Noutros termos, entender-se-á por obrigação, a relação jurídica13 em virtude da qual uma (ou
mais) pessoa (s) pode exigir de outra (ou outras) a realização de uma prestação.

Uma relação jurídica… Mas que tipo? Uma relação jurídica creditória/obrigacional!

Relações em que ao direito subjetivo de um (ou mais indivíduos) – direito de crédito –


contrapõe na parte passiva, um dever jurídico de prestar!

13
São exemplos de relações deste tipo, as relações constituídas entre um comprador (dever de pagar) e um
vendedor (direito de exigir a entrega), senhorio e arrendatário, vítima do atropelamento e o condutor
eventualmente responsável pelo acidente.

De realçar que quando falamos em obrigação no sentido técnico, isto vai abranger as relações na sua globalidade
e não apenas, como sucede muitas vezes na linguagem comum, a parte passiva! Compreende, portanto, o dever
de prestar, mas também, o poder de exigir da parte ativa!
NOTA: Quando se quer distinguir entre os dois lados desta mesma relação – ativo e passivo –
que são de facto duas faces da mesma moeda, da mesma realidade, chama-se crédito (ou
direito de crédito) ao lado ativo e débito (ou dívida) ao lado passivo!

QUID IURIS – DEVER DE PRESTAR?

Já sabemos que dever de prestar é diferente:


-Sujeições
-Ónus-
Deveres jurídicos14

O dever de prestar, nas obrigações, recai apenas sobre determinadas pessoas. É um dever
jurídico específico, que pesa sobre o património delas. Diferente do “dever geral de abstenção”
nos direitos reais.

O dever de prestar ainda se caracteriza por dois aspetos:


- Tal como ele recai apenas sobre pessoas determinadas, o próprio dever jurídico é imposto no
interesse de uma determinada pessoa!
-O objeto do dever de prestar traduz-se na PRESTAÇÃO!

Consiste na maioria esmagadora das vezes, uma ação, mas podendo também assumir a forma
de omissão! Isto é, pode ser uma conduta positiva ou negativa, “facere” ou “non facere”. Até
por isto, em termos práticos, com a finalidade de conceitualização de prestação, deva-se
considera-la não como uma ação, e sim, como uma conduta adotada pelo obrigado, um
comportamento.

14
É diferente quanto aos deveres jurídicos correspondentes da maioria dos DS: Os direitos reais, direitos de
personalidade etc. O dever jurídico correspondente ao lado passivo dos direitos reais, trata-se de um dever geral
de abstenção! É uma omissão generalizadamente imposta, a quem quer que não seja o titular do direito,
consistindo, portanto, num dever genérico, que não pesa especificadamente sobre o património de nenhuma das
pessoas.
À pessoa que possui o poder de exigir a prestação, chama-se genericamente: CREDOR15
À pessoa sobre a qual incide o correlativo dever de prestar, chama-se-lhe: DEVEDOR

c) R.J creditórias SIMPLES e/ou COMPLEXAS

Já foi estudo em teoria geral do direito civil – relações jurídicas simples e complexas!
As relações obrigacionais serão simples/ou unas, quando apenas abrangerem um direito
subjetivo pela parte ativa e um correspondente dever jurídico/ou sujeição na parte passiva.

Serão sempre complexas/ou múltiplas, quando abrangerem o conjunto de direitos e de


deveres ou mesmo de estados de sujeição, nascidos do mesmo facto jurídico.

Agora aplique-se tal distinção nos termos do direito das obrigações:

1ªs SITUAÇÕES

Veja-se relativamente a responsabilidade civil! Aqui neste caso, surgiria uma obrigação
(relação jurídica obrigacional) una ou simples!

Isto porque por um lado, teríamos o dever que indivíduo que lesa o direito do outro, tem de
pagar uma indemnização pelos danos causados, e por outro, o direito subjetivo da pessoa de
exigir o pagamento daquela. (dever de prestar /direito de exigir)

2ªs SITUAÇÕES (E muito frequentes, talvez a mais)

Contratos de compra e venda! A relação jurídica obrigacional nascida deles é complexa!16

15
A expressão toma aqui um significado muito mais amplo do que na terminologia comum, onde o credor é apenas
aquele que possui o direito de exigir de outrem a entrega de uma certa soma de dinheiro!
16
Isso praticamente sempre, na generalidade das compras e vendas, variando apenas o grau de complexidade!
Este grau poderá ser sempre maior, quando a aqueles dois direitos e seus respetivos deveres, acrescerem-se
outros direitos e deveres (direito a entrega de documentos, compensação das despesas feitas com a realização do
ato, reparação/substituição da coisa, indemnização de prejuízo causado por conta de mora do devedor ou do
comprador etc)
Ao lado do dever de entregar a coisa (que recai sobre o vendedor) e do correlativo direito de
exigir a entrega da coisa (que recai sobre o comprador), há ainda:

- Dever jurídico do comprador de entregar o preço e o correlativo direito subjetivo do vendedor


de exigir o seu pagamento!

Estes dois direitos e seus correspondentes deveres, são comuns a generalidade dos contratos
de compra e venda!
Algo idêntico ao que pode suceder com a relação jurídica nascida da compra e venda, pode
verificar-se na maioria das outras espécies contratuais!

Em muitos contratos bilaterais, ou mesmo nos plurilaterais, como a locação, sociedade,


contrato de trabalho, empreitada ou o mandato remunerado podem suceder coisas parecidas!

d) Obrigações não autónomas

d.1 Um grandioso contingente das obrigações (As provenientes dos contratos e negócios
jurídicos unilaterais) nascem, sem que hajam entre as partes quaisquer vínculos prévios!

d.2 Por outro lado, em muitas outras como as obrigações, surgidas da prática de um facto
ilícito, pressupõe já um vínculo jurídico preexistente! Mas um vínculo com caráter genérico! Tal
como o que liga o titular dos direitos reais e dos direitos de personalidade a todas as outras
pessoas.

Tanto no primeiro caso, quando se trata de obrigações que não assentam num vínculo jurídico
preexistente (por exemplo as nascidas dum contrato, não precedido de contrato-promessa)
como no segundo, quando fala-se de obrigações que pressupõe em sua constituição, um
simples vínculo de caráter genérico – tal como o vínculo que recai sobre a pessoa que danifica
coisa alheia, ou que usurpou o nome de outrem) a doutrina tem adotado o nome de
obrigações autónomas!

*A doutrina nunca duvidou que estas estivessem sujeitas às disposições legais, que nos vários
códigos civis, fixam a disciplina geral das obrigações! Livro II do código civil!

*Mas e quanto as chamadas obrigações não autónomas? – Ou seja, as obrigações que


pressupõe a existência de um vínculo jurídico especial – não genérico - entre as partes?
Nestas, a doutrina já discute algumas vezes se devem estar submetidas ao mesmo regime.
Por exemplo: Sempre que a lei obrigar
Um dono A, de um prédio que ameaça ruir abaixo, provocando danos previsíveis para o prédio
de seu vizinho, Sr B, a tomar, a requerimento de B, a providencias necessárias para o eliminar
do perigo. (1350º)
Quando a lei obriga determinadas pessoas a prestar alimentos, a outras que estão a elas
ligados por um vínculo de caráter familiar!
Quando a lei obriga um herdeiro a cumprir, com forças da herança, os legados feitos pelo
testador
Quando a lei confere o direito de prémio ao achador de animais ou outras coisas perdidas,
contra o dono delas

NOTA: As obrigações nestes casos, carecem de autonomia, e isto porque pressupõe a


existência (prévia) entre as partes, de um vínculo especial de outra natureza (uma relação de
posse, parentesco, de sucessão hereditária, de ocupação da coisa)

B. ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

Perguntar-se-ia? Qual a estrutura das relações jurídicas creditórias? Quais elementos a


constituem?

B.1 Elementos constitutivos


Importa aqui detalhar quais os elementos constitutivos da relação jurídica obrigacional, como
se podem definir e ainda como se relacionam logicamente entre si. Assim sendo, são eles:

-Sujeitos – Credor / Devedor – titulares ativo e passivo da relação jurídica, ou, simultaneamente
ativo e passivo da relação, como sucede num contrato bilateral
-Objeto (Prestações debitórias)
-Vínculo jurídico
-Garantia*(Segundo este autor está incluído no vínculo jurídico)
(1) Sujeitos – Credor/Devedor

O primeiro elemento da relação jurídica obrigacional, até pelo papel fulcral que desempenha
dentro dela, é constituído pelos sujeitos: Do lado ativo – O CREDOR – e do lado passivo –
DEVEDOR

-As mais das vezes, apenas existem em cada relação jurídica obrigacional um credor e um
devedor, dizendo assim que a obrigação é singular! Mas a verdade é que podem existir R.J
chamadas plurais, isto quer do lado ativo – muitos credores – quer do lado passivo – muitos
devedores – quer de ambos os lados – Muitos credores e muitos devedores
(1.1) CREDOR17

*O CREDOR, ou os credores, correspondem ao lado ativo da relação jurídica creditória!


*São as pessoas (ou a) a quem se proporciona a vantagem resultante da prestação!
*São os titulares dos direitos subjetivos de crédito! (que conferem o direito a uma prestação!)
*Titulares do interesse (que poderá ser patrimonial /moral /espiritual) legalmente protegido,
que o dever de prestar visa satisfazer!
E o que envolve a noção de titular de um interesse protegido? Três aspetos:

-Se é credor – ou melhor portador – de uma situação de carência ou de uma necessidade


- Existem bens (coisas/serviços etc) capazes de preencher essa necessidade
-Há um desejo de obter esses mesmos bens de modo a suprir a necessidade

17
Credor (“Creditor”) Porque acreditou no devedor – na sua lealdade e capacidade de pagamento – ou então
porque, como diz LARENZ, crê na pessoa do obrigado, no seu desejo de cumprir, por um lado, e em sua capacidade
para tal, noutro lado. Noções que não funcionariam tão bem assim, nas obrigações nascidas de factos ilícitos
extracontratuais
E ainda mais – O credor não somente é titular do interesse tutelado, como também é
amo/senhor da tutela de seu interesse 18! Ou seja: Esta tutela depende de sua vontade, seu
funcionamento subordina-se a sua iniciativa!

O credor pode dispor, pelas mais variadas formas, dos mecanismos coercitivos predispostos
pela ordem jurídica para reger a relação!

NOTAS:
A pessoa do CREDOR está determinada. Mas poderá não o ser no momento em que a
obrigação se constitui (Art. 511), tal como sucede nas promessas públicas (459º ss), nos
contratos para pessoa a nomear (Art. 452º e ss) etc

(1.2) DEVEDOR
Esta figura, equivale ao sujeito passivo da relação jurídica obrigacional! É sobre o devedor que
recairá o dever (específico) de efetuar a prestação!
É o devedor que se encontra adstrito ao cumprimento da obrigação para com a figura do
credor!

Enquanto parte passiva, o devedor ocupa na RJ creditória uma posição de subordinação!19

E em caso de incumprimento?

Será também sobre a pessoa do devedor que recairão as sanções fixadas na lei!

18
Diferente de ser titular de um interesse reflexamente protegido! Não é um interesse de ordem geral (como
dos comerciantes nacionais, dos industriais de um certo ramo, dos consumidores, dos habitantes de certa zona
afetada por epidemias etc) que a lei protege muitas das vezes mediante providencias pautais, aduaneiras ou
sanitárias adequadas, mas sem conferir aos titulares – dos interesses – o poder de dispor das medidas adotadas!

19
Atenção: Subordinação jurídica e não uma subordinação pessoal /social /política
Atualmente, é sobre o património do devedor, que recai a execução destinada a
indemnizar o dano causado ao credor, quando a obrigação não seja voluntária ou
judicialmente cumprida!20
Somente o credor (ou credores) tem direito a prestação! E esta apenas poderá ser exigida por
estes ao ou aos devedores!

Direitos de Crédito – Efeitos “Inter partes”. A obrigação somente vincula determinadas pessoas
– as que sejam parte no negócio!21 – daí seu caráter relativo.

(1.3) Persistência da Obrigação não obstante a alteração de sujeitos22

A existência dos dois sujeitos, é de facto essencial à obrigação, como uma relação
intersubjetiva!23

No entanto, a permanência dos mesmos sujeitos – dos sujeitos originários – não é face ao
direito moderno24, condição essencial a persistência da obrigação.

20
Numa fase mais primitiva do direito romano, em virtude do laço de subordinação pessoal que se criava (por
meio do nexum, e posteriormente, da sponsio ou da stipulatio) entre o credor e o ob-ligatus, as sanções aplicáveis
iam da privação de liberdade (prisão como meio compulsivo de pagamento até redução a escravatura) até a
morte. Depois, com a Famosa “LEX POETELIA PAPIRIA” de (305 A.C) – completada no fim do período da república,
com a criação da bonorun venditio – A Sanção principal passou a ser a execução, não da pessoa, mas dos bens
pertencentes a ela = seu património. E isto mantém-se até os dias de hoje!

21
Esta é a regra do artigo 406º n2! Princípio da relatividade - Mas há exceções como se verá!
22
Modificação do sujeitos – Modificação de um direito subjetiva!

23
Embora se admita que no momento em que a obrigação se constitui, o credor não esteja não esteja
determinado, a lei no artigo 511º, exige que este seja no mínimo determinável, sob pena de nulidade do negócio
do qual a obrigação resultaria.

24
No direito romano não era assim! O caráter essencialmente pessoal do vínculo que prendia o “obligatus” ao
credor tornava completamente inconcebível a ideia da sua transmissão para outra pessoa, bem como da criação
de um crédito para terceiro.
A obrigação tem todas as condições de persistir, com todos os seus atributos essenciais
(garantias, juros, contagem do prazo prescricional etc) apesar de ser alterado um dos sujeitos
da relação ou de mudarem ambos eles!

E o que se diz quanto aos sujeitos originários, é igualmente válido, para todos aqueles que lhes
sucederem na titularidade da obrigação!

Exemplos práticos:

Um sujeito A é credor de B. Se o A eventualmente morre, e lhe sucede um único herdeiro, C,


este vai ocupar a posição de A na relação creditória! Sendo que o correto entendimento, é que
não houve constituição de uma nova obrigação! É a mesma que havia sido constituída, embora
tenha sido repassada!

O mesmo sucede relativamente às coisas – No caso da cessão de créditos, em que o credor Sr


A, cede seu crédito sobre uma coisa a outrem (vendendo, doando, trocando) ou no caso de um
terceiro – que na veste de fiador25 – paga em vez do devedor e a lei o investe (sub-roga), em
virtude do pagamento efetuado.

Tudo isto para chamar a atenção que: A obrigação permanece a mesma!

Com a intenção de frisar esta ideia, muitos são os autores, e junto deles a própria lei, fala
explicitamente em transmissão das obrigações! – Quer a propósito cessão de créditos, quer
da sub-rogação quer da assunção de dívida (Art. 577º e ss ) Ou seja:

- Na linguagem da doutrina e até da própria lei, tudo se passa como se fosse a mesma
obrigação, não obstante a natureza espiritual do vínculo, que materialmente se desloca do
património de um para o de outra pessoa!26

25
Dar como empréstimo.
26
Contrariamente a figura da novação (Arts 857º e ss), que implica a constituição de uma nova obrigação em
substituição da antiga!
(2) Objeto – As prestações debitórias

O objeto das obrigações, das relações jurídico-creditórias, consiste na prestação devida ao


credor!
As prestações, consistem em regra, num comportamento/atividade, que poderá revestir,
tanto a forma de ação27, como a de omissão /permissão/abstenção28!

A prestação é o fulcro/alicerce da obrigação! É através delas que é satisfeito o interesse da


parte ativa da relação jurídico-obrigacional!

*Prestação – dever de prestar – Não se confunde em nada com o dever geral de abstenção!
Típico dos direitos de personalidade e dos direitos reais.

27
Entregar uma coisa, realizar uma obra, dar uma consulta, patrocinar alguém numa causa, transportar alguns
móveis, transmitir um crédito, dar um certo número de lições etc

28
Obrigação de não abrir estabelecimentos de determinado ramo de comércio na mesma rua ou localidade,
obrigação de não usar a coisa recebida em depósito etc
Tendo as obrigações, principalmente em vista, prestações de coisas 29, muitos são os autores
que costumam a distinguir entre:

- Um objeto imediato da obrigação – Que consiste na atividade/no comportamento devido

-Num objeto Mediato da obrigação – Que traduz-se na própria coisa, em si mesma considerada
– Isto é, o objeto da prestação!30

Por exemplo:
Se A vende um prédio a B, e em virtude da venda, fica obrigado a entrega-lo, duas coisas são
completamente distintas:

-O ato da entrega – Prestação devida

-Prédio – Objeto da prestação!

(2.1) Modalidades de Prestações

A prestação debitória pode revestir as mais diversas modalidades, pelo que é da maior
importância conhecer ao menos as mais importantes

a) Prestações de COISAS31/ Prestações de FACTOS (talvez a mais importante)

29
Apesar da distinção ser bem menos nítida no âmbito das prestações de facto!

30
Há vários objetos, como sejam coisas no sentido jurídico, um conjunto de coisas, coisas incorpóreas etc
31
Coisa que no caso vai constituir objeto mediato / e a prestação, o objeto imediato!
Distinguem-se conforme o seu objeto se esgote num FACTO (serviços/atividades) ou então se
refira a uma COISA32!

Foi durante um longo período de tempo que as prestações de coisas preponderaram nas
relações da vida económica (quer nas economias mais primitivas de fundo agrário quer até
depois da 1ª revolução industrial).
Principalmente após a segunda grande guerra, e com boom tecnológico processado, que aos
poucos a fisionomia das sociedades contemporâneas foi se alterando, e gradativamente foi se
acentuando a importância das prestações de serviços que as grandes empresas oferecem,
muitas vezes em massa, a um núcleo crescente de utentes!33

A. As prestações de FACTO, podem por sua vez, serem subdivididas em positivas e


negativas:

-Positivas – Caso se traduzirem numa ação – comportamento positivo34


-Negativas

Estas subdividem-se ainda em, pelo menos, dois outros tipos:

*Nuns casos, o devedor se compromete apenas a não fazer35 (“non facere”) –


Abstenção/Omissão

32
Coisa que no caso vai constituir objeto mediato / e a prestação, o objeto imediato!
33

Serviços de combate aéreo aos incêndios, distribuição aérea de pesticidas nas plantações, prestação em massa
dos serviços domésticos de lavagem e limpeza do vestuário e dos edifícios, serviços de investigação policial
particular, contratação de jogadores de futebol etc.
34
São prestações de facto típicas, por exemplo, as prestações do mandatário num contrato de mandato, as do
trabalhador num contrato de trabalho etc. Assumirão ainda especial configuração as prestações de facto positivas
resultantes dos contratos promessa (“pactas de contrahendo”), e os pactos de preferência

35
Por exemplo, não praticar determinados atos, não abrir estabelecimentos de determinado ramo de comércio, no
se abastecer de outro fornecedor, não fornecer produtos aos concorrentes do comprador, não fabricar algum
produto em concorrência com alguma empresa, não usar (no caso do contrato de depósito), não prestar serviço
durante um determinado período em determinada empresa
*Noutros casos, o devedor fica apenas obrigado a consentir /tolerar36 (“PATI”) que outrem –
CREDOR – pratique alguns atos a que, de contrário, não teria direito.

Nas prestações de facto, o facto em si, poderá sempre ser material ou jurídico! (Distinção
elementar, por exemplo, no âmbito do contrato de mandato! “uma das partes se obriga a
praticar um ou mais atos jurídicos por conta de outra! – Entre estes atos, avultam-se os
negócios jurídicos!)

-Material – Reparar uma viatura, pintar uma casa (Como temos no caso do contrato de
empreitada!)
-Jurídica – Emitir uma declaração de vontade, assumir certa dívida

A.1 Prestações de Factos de Terceiros?

As prestações de facto, em regra, correspondem a um facto do devedor – contraparte da


relação jurídica obrigacional.

No entanto, poderá por vezes suceder – embora sejam relativamente poucas - que o facto
devido se reporte a factos de um terceiro!

Assim, por exemplo: A é dono de um posto de abastecimento. Promete que os futuros (e


eventuais) adquirentes do posto manterão o direito de exclusivo concedido à companhia
fornecedora!
B, casado, obriga-se a vender um prédio a C, prometendo que a mulher lhe dará o
consentimento necessário a validade da venda.
As promessas de facto de terceiro são admitidas em nosso ordenamento jurídico. Já o eram
inclusivamente no âmbito do código de 1867, à sombra do princípio da liberdade contratual!

B. Prestações de coisas (Prestações de “Dare”)

36
O sr. A obriga-se a permitir que o Sr B pesque em sua lagoa ou que cace em sua propriedade. Ou então, o Sr. C,
permite que os alunos de um colégio utilizem o logradouro de seu prédio como um campo de jogos, durante um
determinado número de meses ou anos.
Coisas – A este respeito – Vale artigo 202º e ss

Ainda no direito romano, quer as prestações tivessem por objeto uma coisa certa/determinada,
quer recaíssem sobre uma coisa indeterminada, o contrato de alienação/transferência da coisa,
não envolvia a translação do domínio, do direito de domínio sobre a coisa!
Em consequência do contrato de alienação, nascia uma obrigação, “de dare” destinada a
transferir o domínio sobre a coisa para o adquirente.
NOTA: No direito vigente português – Art. 408º CC, tal como na legislação anterior – Art. 715º
do código de Seabra), a constituição ou transferência de direitos reais sobre determinada coisa
dá-se – opera-se em regra – por mero efeito do contrato.

Ou seja?
Atualmente, em contraste com o direito romano, a prestação da coisa – e já que a
transferência/constituição do direito real dá-se por mera celebração do contrato –
corresponde a uma mera obrigação de entrega da coisa, tendo por finalidade a transmissão da
posse (visto que a transferência do domínio ou constituição doutro direito real já se obteve –
com uma “eficácia espiritual” da mera celebração do contrato!

 Noutros casos, porém, quando a transmissão/constituição de direitos reais depender,


por força de lei ou convenção das partes, do ato da entrega da coisa (por exemplo,
Art. 409º nº 2) a prestação desta constituirá uma PRESTAÇÃO “DE DARE” no sentido
romanista do termo.

Exemplos típicos – prestações de coisas – “de dare” – Entrega da coisa feita pelo mutuante ao
mutuário para a conclusão ou aperfeiçoamento do contrato de mútuo (Art. 1144º), a prestação
de coisa realizada pelo mandatário ao mandante, em cumprimento do mandato, no mandato
sem representação (1181º) a entrega da coisa ao legatário, feito pelo sucessor onerado nos
casos previstos no Art. 2251º nº 2.

 Haverá ainda, as chamadas SIMPLES PRESTAÇÕES DE ENTREGA

Prestações de entrega, nas relações obrigacionais que visem facultar ao credor, não a
aquisição do direito de domínio, mas sim, a mera fruição ou uso da coisa ou a guarda e
conservação dela! (A entrega do bem pelo comodante ao comodatário por exemplo, Entrega da
quantia pelo depositante etc) – 1031º al. a)
 E por último, bem semelhante às últimas, ligadas a elas, mas com independência,
temos também as PRESTAÇÕES DE COISA CORRESPONDENTES À OBRIGAÇÃO
DE RESTITUIR37
Por exemplo: A entrega ao comodante Art. 1135º al. h), ao locador (Artigo 1038º al. i) ao
depositante (Art. 1187º al. c) ou ao mandante (artigo 1161º al. e)), uma vez findo o contrato!

Portanto, a prestação de coisa pode constituir – face ao direito vigente – 3 modalidades


fundamentais:

- Obrigação de dar (Prestações “de dare”) – Sempre que a prestação visar constituir ou
transferir um direito real definitivo sobre uma coisa
-Obrigação de entregar – Prestação visa apenas transferir a posse ou a detenção dela, para
permitir seu uso, guarda ou fruição (Art. 1031º do CC por exemplo)
-Obrigação de restituir – Através da prestação, o credor recupera a posse ou a detenção da
coisa ou o domínio sobre coisa equivalente, do mesmo género e qualidade.

 Prestação de coisas futuras? (Art. 211º CC38/ 399º)

Em via de regra, as prestações de coisas, referem-se a coisas que já existem!

No entanto, esta regra admite exceções! As prestações de coisas podem ainda, segundo nosso
ordenamento jurídico – artigo 399º do CC - referir-se a coisas futuras

Desde que a lei não proíba!

Por exemplo: Um lavrador vende a outrem sua produção de vinho, de sua próxima colheita/
Ou ainda a produção do seu laranjal no ano posterior ao da celebração da convenção.

37
São no fundo, também um ato de entrega, por isto a ligação!
38
O artigo 211º confere uma definição daquilo que sejam consideradas “coisas futuras”, definição legal que é
bastante ampla, abrangendo as coisas que carecem de existência e as coisas que por mais que existam, o
disponente ainda não tem direito ao tempo da declaração negocial (mas que conta vir ter em momento posterior).
É importante esta classificação, já que apenas poderão existir prestações sobre coisas futuras mas nunca direitos
reais sobre coisas futuras!
O artigo 211º confere uma definição daquilo que sejam consideradas “coisas futuras”, definição
legal que é bastante ampla, abrangendo as coisas que carecem de existência – no sentido
naturalístico – e as coisas que por mais que existam, o disponente ainda não tem direito ao
tempo da declaração negocial (mas que conta vir ter em momento posterior).

b) Prestações Instantâneas/Prestações duradouras

Quanto ao tempo da sua realização, as prestações poderão ser instantâneas / Fracionadas /


Duradouras39

b.1 PRESTAÇÕES INSTANTÂNEAS

Prestações em que o comportamento exigível do devedor, se esgota num só momento ou num


período de tempo de duração praticamente irrelevante! Prestações – “QUAE UNICO ACTU
PEFICIUNTUR” – realizadas num único ato

Exemplo: Temos a entrega de uma coisa, o pagamento do preço em uma só prestação etc

b.2 OBRIGAÇÕES DURADOURAS

39
Ao lado delas, ainda se consideram as chamadas prestações intermitentes/ou desgarradas, que também se
prolongam no tempo, mas sem a periodicidade e homogeneidade próprias das prestações reiteradas. É o caso das
prestações que recaem sobre o mandatário judicial!
Não sucede tal como nas prestações instantâneas, nos casos das obrigações
fundamentais/típicas dos contratos de arrendamento, do depósito, do contrato de trabalho, dos
contratos de prestação de serviços – fornecimentos de água, gás, eletricidade etc!
Nestas relações, o que acontece é que as prestações se protelam no tempo, tendo a duração
temporal da relação jurídica creditória, uma influência decisiva na conformação global da
prestação (na definição de seu objeto entre outros aspetos) 40 – Por isto são designadas
prestações duradouras!

 Dentro destas, muitos são os autores que realizam uma subdivisão entre:
-Prestações de execução continuada
São todas aquelas prestações cujo cumprimento se prolonga ininterruptamente no tempo -
quotidie et singulis momentis debetur – todos os dias e todos os minutos!
Exemplos típicos: As prestações dos fornecedores de serviços, prestação do depositário, do
comodante – de um modo geral as prestações de facto negativas (que muito raramente
deixarão de ter natureza continuada)
-Prestações de reiteradas/periódicas /com trato sucessivo
São todas aquelas prestações que se renovam, em prestações singulares sucessivas, em
regra, ao fim de períodos consecutivos. (semanais/mensais)

Exemplos: As prestações dos consumidores dos serviços de água, energia, gás, internet, do
devedor de renda perpétua ou vitalícia etc

 Portanto, do exposto, dentro das relações jurídicas obrigacionais duradouras – tal


como a locação, o arrendamento, mandato, depósito, contrato de trabalho entre outras,
vão surgir a cada passo:

-Obrigações de prestação instantânea (como por exemplo, o pagar da renda vencida, a


indemnização por despesas feitas pelo comodatário ou depositário ou pelo patrão ao
trabalhador acidentado)
-Obrigações de prestação continuada / ou periódicas

Tudo isto imprime um certo caráter a relação considerada na sua globalidade!

b.3 OBRIGAÇÕES FRACIONADAS OU REPARTIDAS

40
Não é suficiente que a relação se protele no tempo, para que existe uma relação duradoura.
Diferente das obrigações duradouras é o caso das obrigações fracionadas ou repartidas!
Nestas obrigações, o que acontece, é que o seu cumprimento se protela no tempo através de
sucessivas prestações instantâneas, mas o objeto da prestação está previamente fixado, sem
qualquer dependência da duração da relação contratual (do factor tempo)41

Exemplos: Casos de vendas à prestações, fornecimento de certa quantia de mercadoria a


efetuar em várias partidas.

NOTA: No caso das obrigações duradouras, a prestação depende do factor tempo, o qual tem
uma influência decisiva na fixação do seu objeto!
Nas prestações fracionadas/repartidas, o factor tempo não influi na determinação do seu
objeto! Ele está desde o início determinado. O factor tempo apenas relaciona-se com o modo
de execução da prestação

b.4 Diferenças principais de regime – Obrigações Duradouras VS Obrigações Fracionadas

1) Quanto a resolução

Ou seja, esquematicamente:

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

*Na 7º Prestação o contrato é resolvido! O que acontece:

- Todas as anteriores, em regra, são asseguradas (não serão retroativamente resolvidas)


-As prestações futuras, resolvem-se
-A prestação em curso – na sua duração futura (tudo que ela ainda durar)

41
A duração temporal da relação jurídica creditória, não influência decisivamente na conformação global da
prestação! Influencia sim, no modo de execução!
2) Quanto ao cumprimento

Relações Duradouras Relações fracionadas/repartidas

Prestações se protelam no tempo, Seu cumprimento se protela no tempo


Quid iuris tendo a duração temporal da relação através de sucessivas prestações
jurídica creditória, uma influência instantâneas, mas o objeto da prestação
decisiva na conformação global da está previamente fixado, sem qualquer
prestação dependência da duração da relação
contratual

NOTA: Em todos os casos, nestas classificações de prestações quanto ao tempo de duração,


não deverá se confundir os atos de preparação da prestação com o cumprimento!42

c) Prestações Fungíveis / Prestações não fungíveis

c.1 ) Prestações fungíveis

42
Na doutrina, é uma distinção muito colocada no âmbito da empreitada
As prestações dizem-se fungíveis, quando podem ser realizadas por pessoa diferente da do
devedor, sem qualquer prejuízo aos interesses – la está, juridicamente titulado - do credor!

São exemplos: Lavar um terreno, pagar uma determinada quantia, pintar uma casa, caiar um
muro etc

c.2) Prestações não fungíveis/infungíveis

São prestações que precisam necessariamente ser efetuadas pela figura do devedor! Este
não pode ser substituído no cumprimento por um terceiro – sem que os interesses do credor
saiam prejudicados! Aqui, tratam-se de obrigações em que ao credor interessa mais do que
simplesmente o prestar pelo devedor! Interessa, sobretudo, aspetos como sua habilidade,
saber, destreza, força, bom nome, outras muitas mais qualidades pessoais que possa ter!

Exemplos aqui: Tenho um quadro muito especial, e contrato um pintor conhecido. Precisa ser
ele a o fazer. É de total e exclusivo interesse do credor que o seja, ficando este interesse
afetado caso contrário!

A questão da fungibilidade das prestações encontra-se no código civil! – É o que dispõe o


artigo 767º nº 2
*Notar que esta disposição faz ressalva, apenas para os casos em que expressamente se
tenha acordado que a prestação deva ser feita pelo devedor (chamada não fungibilidade
convencional) ou então, para os casos em que a substituição vá prejudicar o credor (não
fungibilidade fundada em natureza de prestação)

Paralela a esta classificação, no âmbito do direito das obrigações, temos nos direitos reais a
noção de coisas fungíveis/infungíveis – Artigo 207º - Coisas que podem ser determinadas pelo
seu género, qualidade, quantidade
NOTA: Em regra, quando se trate de prestação de coisa, a prestação será fungível, quer a
coisa em si seja ou não fungível. Em ambos os casos o interesse do credor não será lesado
com a substituição do devedor.

 A importância da questão da fungibilidade nas prestações de Facto

A questão da fungibilidade, atinge seu maior relevo prático no âmbito das prestações de facto!
Encontram nesta o seu principal campo de aplicação.

Por exemplo: Nos contratos de trabalho, de mandato, de depósito, de empreitada 43, de


prestação de serviços etc
Em todas estas espécies contratuais, pode – com grandes chances – ocorrer que não seja
indiferente para o interesse do credor, que as prestações do mandatário, do depositário, do
trabalhador, do empreiteiro, do médico/advogado etc, sejam efetuadas por uma outra pessoa!

 Importância da questão no regime da ação executiva

Tendo a prestação por objeto um facto fungível, poderá o credor requerer, no processo de
execução, que o facto seja prestado por outrem as custas do devedor! (Art. 828º)

Sendo o facto não fungível, o credor apenas poderá exigir o cumprimento do devedor (Art.
817º) e, na hipótese de este não cumprir, terá de contentar-se com a indemnização do prejuízo
sofrido, resultante do não cumprimento (indemnização por equivalente).

(3) Vínculo Jurídico44 – O núcleo central da relação jurídica creditória

43
Ver o artigo 1230º do código civil relativo a empreitada. O contrato de empreitada extingue-se por morte ou
incapacidade do empreiteiro, no caso de terem sido tomadas em consideração pelo credor as qualidades pessoais.
Como opera-se a ligação entre os sujeitos da R.J creditória – neste caso, o devedor - e a
prestação?
Como sabemos que é a prestação a satisfazer o interesse do credor?
Como é que sabemos que a coisa, direito ou facto, aptos a satisfazer o interesse do credor, são
postos ao serviço do titular do crédito?

Através do Vínculo, que a ordem jurídica estabelece entre o credor e o devedor!

Este vínculo, constituído pelo enlace dos poderes conferidos ao credor com os correlativos
deveres impostos ao titular passivo da relação, forma o cerne, o núcleo central da obrigação!

NOTA: Atenta a possibilidade de alteração dos sujeitos da relação – o que frequentemente


ocorre – e ponderadas as transformações que passo a passo vão sofrendo as próprias
prestações, o vínculo jurídico, corresponde verdadeiramente no único elemento
irredutível/inalterável das relações jurídicas creditórias
Já os romanos tinham conhecimento da essencialidade deste elemento! Nas “institutiones” do
imperador justiniano definiram obrigação como sendo um vínculo….

Muitos autores e também o código civil Português, voltam a bater na mesma tecla,
quando vieram a definir a obrigação como – Artigo 397º CC – O vínculo jurídico por virtude
do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação!

*A própria etimologia da palavra45 – Obrigar (de obligare) aponta para o vínculo que prende um
ao outro!

IMPORTA: Vínculo jurídico nas relações obrigacionais – Vínculo de caráter relativo/específico!


Dever de prestar/direito de crédito
(3.1) Vínculo Jurídico – Análise descritiva dos principais poderes e deveres que advém da
obrigação, para cada um dos lados
44
Já os romanos tinham conhecimento da essencialidade deste elemento! Nas “institutiones” do imperador
justiniano definiram obrigação como sendo um vínculo….
45
Estudo gramatical da origem e história das palavras, de onde surgiram e como evoluíram ao longo dos anos.
A relação de subordinação entre os titulares da R.J creditória, traduz-se logo:
- No poder que tem o credor de exigir a prestação
-No dever que tem o devedor de efetua-la
-Na sanção aplicável ao devedor inadimplente ou em mora, a requerimento do credor lesado
(Garantia = Segundo este autor, não será um 4º elemento estruturante)

I. Direito do credor a prestação + Garantia

É um poder! Não um qualquer! Mas um poder juridicamente tutelado de exigir a prestação ao


devedor!

O credor tem um direito a prestação46 a qual poderá ser exigida, apenas por ele, ao seu/ou
seus devedores (Ou seja, tem seu interesse juridicamente tutelado!)

E mais que isto! O credor é o amo/o senhor desta tutela! O ordenamento jurídico confere as
medidas de proteção, e fica a total e exclusiva e disposição do credor/da sua vontade, a
entrada em cena daqueles, seu funcionamento – como por exemplo o mecanismo da
execução!
*Somente o credor, poderá exigir a prestação ao devedor! Independentemente da forma! 47 –
Até pela relatividade das R.J obrigacionais. Sem prejuízo do disposto no Art. 606 e ss –
Institutos da Impugnação pauliana e sub-rogação!

Mas e se o devedor cumprir de forma voluntária com a obrigação a que está adstrito?

46
E não um direito sobre a prestação! Para acentuar que a obrigação tem caráter pessoal – exige o concurso da
vontade do devedor (ainda que esta vontade encontre-se sujeita as medidas coercitivas) diferentemente dos
direitos reais que, pela sua natureza erga omnes, não dependem da aceitação, ou concurso de vontades.
47
Que poderá ser extra-judicialmente (mediante interpelação ao devedor) ou por via judicial (socorrendo-se da
citação para ação de cumprimento ou de execução / ou por meio de notificação judicial avulsa: Art. 805º do código
civil e Arts. 228º, 234º, 811º e 261º do código de processo civil)
-O credor vai poder reter a prestação, e retê-la:

(1) A título de cumprimento soluti retentio – retenção desvinculada

*Diferente de uma retenção a título de liberalidade48

- Devedor não poderá exigir nesta altura a restituição, não goza de “Condictio Indebiti” 49 – Esta
é a regra!
Mas e se não cumprir de forma voluntária?

Visto não ser lícito – em regra50 – fazer justiça pelas próprias mãos (justiça privada) o credor
será forçado a recorrer aos mecanismos dispostos – jurídicos ou extra-jurídicos.

Extra-jurídicos: Interpelação do devedor – não judicial (feita pelo credor)

48
O credor tinha direito a prestação, ainda que tenha sido cumprida voluntariamente, sem necessidade de
jurídicos ou extra-jurídicos para exigi-la.

49
O condictio indebiti é uma ação na lei civil (romana) pela qual um autor pode recuperar o que pagou ao réu por
engano; esse pagamento equivocado é conhecido como solutio indebiti.

50
O ordenamento jurídico condena por via de regra – apesar de admitir exceções raras – o recurso ao sistema de
justiça privada – Art. 1º do código de processo civil
Jurídicos: Citação para ação51 - de cumprimento ou execução de património52 / notificação
judicial avulsa (Arts. 256º e ss do código de proc civil
Em regra, o credor terá de recorrer à execução forçada, que vai agredir não a pessoa do
devedor, mas sim, o património deste! A execução terá por objetivo proporcionar ao credor a
realização do interesse que a prestação visava facultar-lhe, ou então, uma satisfação tao
próxima quanto possível! E se o credor tem direito a agredir o património, isto acontece porque
os bens do devedor respondem pelo cumprimento das obrigações – Garantindo-a.

NOTA: As afirmações do CREDOR sobre (A existência da R.J, a titularidade e objeto da


obrigação – prestação bem como do não cumprimento pelo devedor) necessitam de ser
devidamente comprovadas!

A lei somente vai permitir a execução do património do devedor se o credor estiver já munido
de um TÍTULO EXECUTIVO (Um documento que constitua um mínimo de prova sobre os
pontos referidos – considerado suficiente para servir de base a ação executiva)

-Não possuindo um deste, ao que parece o credor terá de começar por propor uma ação
declarativa53 – destinada a averiguar a existência e falta de cumprimento da obrigação e a
obter uma sentença de condenação – do devedor – que é a ordem de cumprimento dada em
concreto pelo estado – representado por seus órgãos judiciários – ao devedor.

51
A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra ele determinada ação e se
chama ao processo para se defender; emprega-se ainda para chamar, pela primeira vez, ao processo alguma
pessoa interessada na causa.

52
Numa fase mais primitiva do direito romano, em virtude do laço de subordinação pessoal que se criava (por
meio do nexum, e posteriormente, da sponsio ou da stipulatio) entre o credor e o ob-ligatus, as sanções aplicáveis
em caso de incumprimento iam da privação de liberdade (prisão como meio compulsivo de pagamento até
redução a escravatura) até a morte! Depois, com a Famosa “LEX POETELIA PAPIRIA” de (326 A.C) – completada no
fim do período da república, após a criação da bonorun venditio – A Sanção principal passou a ser a execução, não
da pessoa, mas dos bens pertencentes a ela = seu património. Foi um diploma contra o exercício da “manus
injecto” sobre a pessoa do devedor! – Manus Injecto Era um meio de fiscalização contra um devedor que não
havia cumprido seu compromisso. Esse procedimento, previsto na Lei das Doze Tabelas (450 a.C.), permitiu ao
credor, após 30 dias sem ter sido pago, ir até seu devedor a fim de forçá-lo a comparecer perante um pretor
(Procedimento é marcado pelo formalismo ritual: o credor teve que colocar a mão em seu devedor, pronunciar
uma fórmula com as palavras certas (sob pena de nulidade do procedimento), então ele poderia acorrentar o
devedor e levá-lo à força para uma prisão de sua casa onde o manteve prisioneiro por 60 dias. Se ao final desses 60
dias, o devedor ainda não tinha encontrado uma maneira de executar seu compromisso, o credor exibiu-o em 3
mercados e depois vendeu-o como um escravo além do Tibre para receber suas dívidas pagas, ou colocá-lo à
morte. E isto mantém-se até os dias de hoje! Art 601º de nosso código civil - Pelo cumprimento da obrigação
respondem todos os bens do devedor suscetíveis de penhora, sem prejuízo dos regimes especialmente
estabelecidos em consequência da separação de patrimónios.
53
Esta possibilidade – e necessidade num certo sentido – de obter uma ação que, certificando a falta de
cumprimento, apenas condene o devedor a cumprir, reservando-se a execução para um segundo e eventual
procedimento judicial, constitui um progresso do direito moderno.
Por outro lado, se o credor tiver o título executivo, é a partir dele que se instaura a execução
forçada, a qual poderá revestir diversas formas, consoante a natureza da prestação devida e
ainda com outras circunstâncias:
-Execução para pagamento de quantia certa
-Execução para entrega de coisa determinada
-Execução para prestação de facto

Tratando-se de prestações de coisas certas, o tribunal vai procura apreende-la, utilizando


força, se necessário, para entregar ao credor.
Se estivermos diante de uma prestação de facto fungível – podem ser realizadas por pessoa
diferente da do devedor, sem prejuízo aos interesses do credor – então, o tribunal poderá, a
requerimento do próprio credor, mandá-la realizar por outrem às custas do devedor! (Como dita
o Art. 828º do código civil e ainda o 933º e ss do código de processo civil)

 POR OUTRO LADO: Se estivermos diante de prestações que envolvam uma


determinada quantia de dinheiro ou ainda, um facto não fungível, se não encontrar-se a
soma devida no património do devedor, ou se mesmo houver a necessidade de pagar a
realização da prestação de facto fungível por terceiro, a execução terá necessariamente
de seguir por outro caminho!54
Vai ser preciso sacrificar os bens do devedor que forem necessários para, com o produto –
dinheiro de sua alienação, pagar-se:

-A indemnização devida ao credor pelo prejuízo derivado do não cumprimento da obrigação


-Pagar as despesas com a prestação do facto fungível

A execução vai atravessar nestes casos, três diferentes momentos: PENHORA dos bens do
devedor, VENDA JUDICIAL (dos bens penhorados) e o PAGAMENTO AOS CREDORES!

-PENHORA: Traduz-se na apreensão – por parte do tribunal – dos bens considerados


necessários para cobrir, através de seu valor, a indemnização devida, retirando esses bens da
disponibilidade do devedor e afetando-os aos fins próprios da execução. Em regra, esta
apreensão possui eficácia absoluta (Art. 819º CC) – visto que a penhora é um direito real de
garantia.

54
O mesmo acontecerá ainda no caso da prestação ter objeto a entrega de coisa certa e esta haver sido
apreendida judicialmente
-VENDA JUDICIAL: É através da venda judicial que o estado – representado pelos tribunais –
prescinde da vontade do proprietário para alienar os bens penhorados e, a custa da alienação
forçada, obter o dinheiro necessário aos fins da execução.

-PAGAMENTO DE CREDORES: O dinheiro obtido pela venda judicial, será distribuído aos
credores, até ao limite do montante de seus créditos, tendo sempre em atenção as regras de
preferência que a lei civil estabeleça entre eles!55
NOTA: Em qualquer que seja o momento do processo, quer o executado – devedor – quer
algum terceiro, pode extinguir a execução, pagando a dívida exequenda e as custas da ação
(como ditam o Art. 916 do código de processo civil)

Apesar, e como já visto, da não licitude da justiça privada como regra – tal como era no antigo
direito romano – para efeitos de garantia das obrigações, não é nem um pouco correto dizer-
se que o credor é apenas livre de optar:

-Entre o livre cumprimento da obrigação (voluntário)


-Sujeição ao direito de execução

E ainda que a aquela mesma parte caiba, numa primeira fase da R.J creditória, não um poder
de exigir a prestação, mas uma simples expetativa do cumprimento!

É um facto que, a juridicidade do poder conferido ao credor – de exigir a prestação ao devedor


– manifesta-se principalmente, com maior vigor, mais força, mais aparato, no direito de
agressão ao património do devedor!

Mas não deixam de refletir-se noutros aspetos, à margem desta faculdade, que demonstram o
poder que tem o credor relativamente a prestação!

55
Como os bens do Credor respondem de forma igualitária perante todos os credores, independentemente da
data, do montante da constituição do crédito ou da natureza da dívida, diz-se que o património é a garantia
comum dos credores. A não existir causas legítimas de preferência, o Artigo 604º refere que os credores tem
direito a ser pagos de forma proporcional pelo preço dos bens do devedor, quando ele não chegue para a integral
satisfação dos débitos.
- A mora56 (Arts. 804º e ss)

A mora transfere para o devedor o risco do perecimento ou deterioração da coisa, mesmo que
não tenha culpa (Art. 807) – Como um sinal de que a coisa está onde, segundo o direito, não
deveria estar (807º n2)
O devedor constituído em mora passa a responder por todos os danos que o não cumprimento
da obrigação possa acarretar para o credor!

A lei recusa ao devedor constituído em mora – Art. 438 – o direito de obter a resolução ou
modificação do contrato
-Obrigações com objeto pecuniário (Prestação de uma certa quantia de dinheiro) passam a
vencer juros, a contar do dia da constituição em mora, ainda que anteriormente os não
vencesse (Art. 806)

Em suma – Dir-se-á que o credor tem o poder de exigir a prestação! Ou que tem o direito à
prestação!

56
O incumprimento contratual ocorre sempre que o devedor não realiza a prestação a que está adstrito.
 
Incumprimento definitivo, mora e cumprimento defeituoso:
 
Em sentido amplo, o incumprimento contratual ou não cumprimento abrange:
- O incumprimento definitivo;
- A mora do devedor, que consiste no atraso da realização da prestação, sendo esta ainda possível;
- O cumprimento defeituoso ou imperfeito, que ocorre quando há uma violação do direito de crédito que não
integra a hipótese de mora nem de incumprimento definitivo, nomeadamente quando o devedor realiza a
prestação a que está adstrito com irregularidades ou deficiências.
 
*NOTA: Dado o caráter essencial da GARANTIA para a exequibilidade prática da obrigação, a
lei faculta aos credores meios de a conservar, reagindo contra determinados atos que possam
diminuir o património ou mesmo impedir o aumento de seu valor! – Institutos da sub-rogação,
impugnação pauliana, Arresto, declaração de nulidade Artigos 605º e ss.

De forma similar, costuma a falar-se muitas vezes, nos direitos subjetivos, de um poder de
pretender!

Poder de PRETENDER57 este, que caracteriza muito o direito do credor a prestação no âmbito
das obrigações naturais!

-Existe igualmente a “soluti retentio” mas falta a ação creditória, ou seja, o direito de exigir
judicialmente o cumprimento (Artigo 402º).

*Em casos de obrigações que já nascem naturais, ou em obrigações que prescrevem, o seu
cumprimento não poderá ser exigido, perde a exigibilidade – Ação creditória – tutela jurídica.

II. Dever correlativo de Prestar

O dever de prestar traduz-se no contrapolo da relação jurídica obrigacional! Se por um lado


temos a parte ativa, Credor – direito à prestação, por outro lado temos a parte passiva,
Devedor – Dever de prestar.
O dever jurídico de prestar, traduz-se pela necessidade imposta – pelo direito – ao devedor de
realizar a prestação, sob a cominação das sanções aplicáveis à inadimplência!

*Como já visto, o dever jurídico de prestar é um dever específico que não se confunde com
diversas outras figuras!

57
O autor considera a expressão, “poder de pretender” equívoca e de certo modo desnecessária, se considerar-se
que as obrigações naturais não são obrigações civis, não constituem deveres jurídicos, mas sim, simples deveres
morais, sociais que são juridicamente reconhecidos como tais. Este reconhecimento pelo direito traduz-se
essencialmente no facto de a lei os considerar como causa bastante da atribuição patrimonial realizada por influxo
deles!
 Dentro deste polo da RJ obrigacional, existem os chamados deveres jurídicos de
prestar principais/primários ou típicos e secundários/Acidentais

Existem em muitas relações obrigacionais, as chamadas prestações principais – que definem


o tipo da relação! Dentro desta categoria estão a título exemplificativo:

-Entrega da coisa vendida pelo vendedor/Entrega do preço pelo comprador (879º alº b; c)
-Cedência do gozo da coisa / Pagamento da renda /Aluguer
-Realização de determinada atividade intelectual ou manual sob a direção e autoridade do
credor /Pagamento desta atividade
-Obrigação de indemnizar, nascida de responsabilidade civil extracontratual!58

E podem existir ainda, ao lado destes deveres principais, primários ou típicos, outros a que, por
contraste, podemos chamar deveres secundários (ou acidentais) de prestação. Dentro
desta categoria cabem:
-Deveres acessórios das prestações principais (destinados no fundo a preparar o seu
cumprimento ou então assegurar a perfeita execução)

-Deveres relativos às prestações substitutivas ou complementares da prestação principal


(Deveres indemnizatórios resultantes do cumprimento defeituoso da obrigação)

 Deveres acessórios de conduta

Ao lado dos últimos, existem ainda os chamados deveres acessórios de conduta!

Estes, não interessando diretamente à prestação principal, nem dando origem a qualquer ação
autónoma de cumprimento, são, todavia, essenciais ao correto processamento da relação
obrigacional em que a prestação se integra.

EXEMPLOS:

58
Já que a relação obrigacional nasce direta ou originariamente deste facto!
O locatário, por exemplo, tem como dever principal/típico, o pagamento da renda – Art. 1038º
al. a)

Mas além desta, e outras mais, tem o dever acessório de conduta, de avisar imediatamente o
locador, sempre que tenha conhecimento de vícios na coisa, ou quando saiba que algum
perigo a ameaça ou mesmo quando terceiros estejam a arrogar direitos em relação a ela
(desde que estes aspetos sejam desconhecidos pelo locador)

Aqui, não estamos nem diante de deveres primários nem de secundários. São deveres
acessórios de conduta, que interessam ao regular/correto processamento da relação jurídica
locatícia, nos exatos termos em que ela deve desenvolver-se entre contraentes que agem
honestamente e de boa-fé nas suas relações recíprocas.

OUTRO EXEMPLO:

Situação do depositário que é privado da detenção da coisa por causa não imputável!
A lei neste caso impõe ao depositário o dever acessório de conduta de avisar imediatamente o
depositante do ocorrido (Art. 1188º nº1) e concede a faculdade de recorrer aos meios
possessórios adequados (1188º nº2)

*Este dever não é, um dever de prestação cujo cumprimento possa o depositante exigir através
de ação judicial prevista no Art. 817º. É um dever acessório de conduta cuja violação pelo
depositário poderá desencadear obrigação de indemnizar os danos dela resultantes.

E AINDA:

Na própria situação da compra e venda, existem múltiplos deveres acessórios de conduta que
poderão recair sobre os contraentes!

Se a venda for sobre animais, que não sejam imediatamente entregues, o vendedor terá ainda
o dever de cuidar deles, com toda diligência e cuidado, enquanto permaneçam em seu poder,
preservando sua saúde e acautelando sua vida.

Se a venda for de géneros alimentícios, caberá ao devedor tomar todas as medidas de higiene,
limpeza e segurança necessárias, para que estes não se estraguem ou percam suas
qualidades!
Tratando-se de imóveis, o vendedor estará obrigado a entregar todos os documentos que
interessem à transmissão do prédio e a prestar todas as informações necessárias sobre a
aquisição do transmitente!

NOTA: Dum modo geral, é possível dizer-se sobre os deveres acessórios de conduta, que nas
relações obrigacionais bilaterais (de onde eles mais avultam), cada um dos contraentes deverá
tomar todas as medidas necessárias – ou razoavelmente exigíveis – pra que a obrigação a seu
cargo satisfaça o interesse do credor na prestação.
III. Garantia

O ordenamento jurídico não se limita a impor um dever de prestar ao obrigado e atribuir ao


credor um correlativo direito a prestação.

Muito mais do que isto, procura também assegurar a realização coativa da prestação!
Sem prejuízo do direito que possui o credor de resolver o contrato ou de recusar legitimamente
o cumprimento da obrigação que recaia sobre ele próprio, até que o devedor se decida a
cumprir.

E como para este efeito o ordenamento jurídico não admite – em regra – o recurso a auto-
defesa (Artigo 1º do Código de Processo Civil), abre-se ao credor eventualmente lesado o
recurso à ação em tribunais.

O elemento que mais imprime juridicidade ao vínculo estabelecido entre credor e devedor, é
precisamente a AÇÃO CREDITÓRIA!

Poder de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação, quando o devedor não cumpra


voluntariamente, e de executar o património deste (Art. 817º)

 Vista do lado do devedor: A garantia traduz-se fundamentalmente na


responsabilidade de seu património pelo cumprimento da obrigação (Artigo 601º) e na
consequente sujeição dos bens que o integram aos fins específicos da execução
forçada.
(3.2)

3. Relações Jurídicas Creditórias e Outras Classes de Relações


Jurídicas

a. Obrigações vs Direitos Reais – Diferenças e pontos de contato

É uma distinção com muita relevância! Estas duas categorias apesar de possuírem suas
particularidades, contem muitos pontos de contato fundamentais! Juntas elas formam aquele
que é chamado o DIREITO CIVIL PATRIMONIAL, sendo que:
O direito das obrigações – relações jurídicas creditórias – regulam a chamada dinâmica
patrimonial! Tramitação legal até que já tenha adquirido a coisa, o direito)

E o direito das coisas/Reais – Relações jurídicas reais– regula a chamada estática patrimonial!
(momento em que a coisa já foi adquirida – e agora?)

A parte da comparação que mais interessa, é a das relações jurídico-reais, visto ser esta
categoria que, considerando seu lado estrutural, diretamente se contrapõe as relações jurídico-
creditórias.

*Importa apenas dizer que, na doutrina, os termos exatos da distinção entre estas duas
categorias está longe de ser encontrado, aceite por todos os autores! Há muitas opiniões!

-Mas desconsiderando por um momento a doutrina e observando objetivamente a lei, quais


podem ser os termos da distinção?

I) Relações jurídico creditórias, envolvem os direitos subjetivos de crédito, que são


direitos relativos!59 Enquanto que as relações jurídico reais, envolvem direitos
subjetivos de domínio, com caráter absoluto60! Este é o traço mais forte e
evidente!

Com efeito, resulta deste traço que:


Se um Sr. A adquire o direito de propriedade (direito subjetivo de domínio – “erga omnes”) de
uma coisa imóvel, seu novo direito impor-se-á:

-A todos os adquirentes posteriores a quem o antigo proprietário transmita o domínio ou


conceda outro direito real sobre a coisa.
-A todos os titulares de algum direito pessoal de gozo sobre a coisa (comodatários,
arrendatários)
-Aos credores do antigo proprietário61

59
Em regra, apenas produzem efeitos entre as partes - Credor e devedor – princípio da relatividade (406 nº2)

60
Caráter absoluto, isto é, seus efeitos impõe-se relativamente a todos os outros – obrigação passiva universal –
efeitos “erga omnes”.
61
Sendo que o adquirente, Sr A, tem o direito de exigir a separação da coisa perante a massa falida ou insolvente,
no caso de o transmitente vir a cair em falência ou insolvência! Segundo o código dos processos especiais de
-A todos os possuidores ou detentores da coisa (1311º do CC)
-A quemquer que se apodere da coisa, a danifique, a use em seu proveito ou conteste o direito
do titular.

Tudo isto conclui-se, mormente do artigo 1305º do CC, segundo qual o proprietário goza de
modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem!

Por outro lado…

Imaginemos que o mesmo Sr. A, fosse apenas credor. Tivesse direito a um crédito –
Prestação. Este seu crédito, pelo menos em regra, valerá somente como pretensão contra o
devedor, destinada a obter deste a concessão do uso, fruição ou a detenção da coisa, ou se
assim quisermos, o domínio da coisa!

II) Diferenças de menor relevo?

-Os direitos reais versam sobre coisas determinadas e certas! 62 Já as obrigações podem incidir
sobre coisas indeterminadas, tal como sucede nas obrigações genéricas, pecuniárias e
facultativas.

-Direitos reais não poderiam mesmo, segundo alguns autores, abranger mais do que uma coisa
(segundo o princípio da especialidade)

-Instituto da usucapião, aquisição de direitos reais. Não tem nenhuma aplicação no âmbito das
obrigações.

*E quais podem ser as semelhanças entre ambas as categorias?

I) Fonte comum – Atualmente ambos podem nascer por mero efeito do contrato63.

recuperação da empresa e da falência)

62
Apesar de que, segundo Manuel de andrade, poderia não ser bem assim no caso das universalidades de facto!

63
No tempo dos Romanos não era assim
II) Violação dos direitos reais, tal como os direitos de crédito, dá lugar a criação de um
vínculo entre o titular do direito violado e o autor da lesão. Embora nos primeiros, se
dê lugar a responsabilidade civil extracontratual, e nos segundos, à
responsabilidade civil contratual!

b. Obrigações vs Direitos de Família – Relações Jurídico-Familiares

Principais pontos de diferença?

*Relativamente a estas duas categorias, as principais diferenças a serem apontadas, provêm


essencialmente do facto das relações jurídico-familiares se integrarem numa instituição social 64

64
Para viver em sociedade o homem precisa de instituições! E estas podem ser definidas como “um conjunto de
fatores na realidade que, como estruturas de organizações sociais, possuem regras de conduta ou de
comportamento e que têm deste modo o seu aspeto normativo e normador (norma = regra), garantindo assim a
segurança nas relações entre os homens, ao mesmo tempo que permitem a cada homem encontrar-se e definir-se
num contexto ou universo significativo”.
É nas instituições (familiares, educativas, económicas, culturais, desportivas, políticas, etc.) com as suas regras
próprias, que o homem aprende viver regradamente em sociedade com os outros.
– a instituição família! Cujos fins vão sempre exercer uma influência vincada no seu regime
jurídico!65

A este mesmo propósito, chama-se aos direitos familiares, direitos “Institucionais”!


Precisamente pelo fato das normas que compõe o direito da família, não serem criadas pelo
direito, “ex nihilo” (=do nada), mas sim, segregadas da instituição familiar.

Reside precisamente nisto, a distinção entre os deveres de prestar abrangidos pelas


obrigações e os deveres de caráter patrimonial surgidos no seio das relações jurídico familiares
(dívidas dos cônjuges entre si, dívidas dos cônjuges relativamente a terceiros, deveres de
administrar os bens dos filhos, obrigação de alimentar)

Porém, já não é tao bem assim relativamente aos direitos/deveres de caráter pessoal!
(relações pessoais entre os cônjuges, poder paternal, tutela). Estes não podem ser objeto de
qualquer relação jurídico obrigacional, fora do círculo das pessoas ligadas pelo vínculo familiar.
São direitos/deveres exclusivos da instituição familiar! Não pertencem ao comércio jurídico!

E ainda:

-Os direitos pessoais familiares, apenas podem ser exercidos dentro dos limites de uma
determinada função! Não são exercidos com liberdade, tal como um próprio direito subjetivo, e
tal como ocorre nos direitos subjetivos de crédito!

Poderes funcionais! Ou poderes-deveres!

-Os deveres pessoais familiares, ao contrário dos deveres de prestar, próprios das obrigações,
não são impostos único e exclusivamente no interesse da outra parte! Contrariamente, estes
são verdadeiros deveres morais que se impõe também, se não principalmente, no interesse da
própria pessoa vinculada, e ainda no interesse superior da comunidade familiar como um todo!

Muitas vezes, as regras de convivência nem são sentidas como tais porque na consciência das pessoas já estão
completamente interiorizadas. A primeira instituição em que o homem está inserido e começa a ser socializado é a
família, em que é exposto ao ambiente social em que começa a sua aprendizagem do mundo. E, obviamente,
também as regras ou normas jurídicas são parte da realidade social dos homens

65
Não é a toa que o livro 4 do código civil, seja um dos que mais tenha sido alvo, e que seja o mais suscetível de
alterações legislativas!
*Outra grande e notável diferença, é que o direito da família, é um ramo muito permeável as
diversas modificações estruturais a nível político, económico, social e principalmente, religioso!
Estas diversidades nacionais já não possuem tanta influencia assim – ou quase nada – no
domínio das obrigações!

*Ainda uma consequência prática interessante, resultante da diversidade de natureza entre as


duas categorias!
Advém do facto da violação dos deveres pessoais familiares não determinar uma simples
obrigação de indemnizar a contraparte – pelo menos não apenas patrimonialmente! Como os
interesses lesados são bem mais amplos, são diferentes os efeitos que a lei vai extrair da
infração!

c. Obrigações vs Direitos Sucessórios – Relações Jurídico-Sucessórias -


Diferenças e eventuais pontos de contato

A verdade é que não existem, entre as obrigações, e as relações jurídicas correspondentes,


integrados no fenómeno sucessório, diferenças estruturais ou intrínsecas.

Nascem na sucessão “mortis causa” relações obrigacionais (legados ou encargos que oneram
o herdeiro ou o legatário, obrigações do cabeça de casal ou do testamenteiro; obrigações do
fiduciário etc) cujo regime terá, na falta de disposição especial, de ser procurado no livro das
obrigações.
4. Fontes das Obrigações

Do que se trata? Dá-se o nome de fonte das obrigações, a todo facto jurídico de onde nasce o
vínculo obrigacional. Todos os factos jurídicos que originam relações jurídicas creditórias!

Exemplos: Contratos (Mais vulgares) negócios jurídicos unilaterais (testamentos, resoluções


anulações ou revogações unilaterais dos contratos etc) factos jurídicos ilícitos – originam
responsabilidade civil (morte de alguém, ofensa corporal, ofensa ao bom nome, a honra)

NOTA: Importância das fontes no âmbito obrigacional! Enquanto que muitos direitos reais (A
propriedade, o usufruto, enfiteuse o direito de superfície) tem em princípio o mesmo conteúdo,
independendo do facto que lhes origina, o conteúdo das relações jurídicas creditórias pode
alterar-se conforme a fonte de onde promanam!
A. Contratos

É a primeira fonte das obrigações não só na sistematização legal, mas na sucessão histórica
dos factos, devido até sua grande importância prática.

Definição – Acordo vinculativo, assente em duas ou mais declarações de vontade,


contrapostas, mas perfeitamente harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma
composição unitária de interesses.
Ou ainda… “Acordo de vontades distintas que visa a obtenção de uma regulamentação unitária
de interesses diversos, porventura contrapostos, mas que têm a propriedade de se
harmonizarem ou ajustarem entre si
Nota: Contratos são negócios jurídicos bilaterais/ou plurilaterais, isto é, integrados por duas ou
mais declarações de vontade. (o mesmo que contrato). Sendo que ainda poderão existir entre
contratos, bilaterais e contratos unilaterais!

 Vale retomar alguns princípios fundamentais que norteiam a disciplina contratual!

Os princípios fundamentais em que assentam toda a disciplina legislativa dos contratos são:

-Autonomia privada (Liberdade contratual)


-Princípio da relatividade dos contratos
-Princípio da confiança
-Princípio da justiça comutativa/ou equivalência objetiva
I. Autonomia privada

O princípio da autonomia privada (ou autonomia da vontade), tem sua mais importante
dimensão no princípio da liberdade contratual. Também tem seus fundamentos consagrados
constitucionalmente nos artigos 26 n1 e 61.

Segundo Prof. Doutor Pinto Monteiro, o princípio da autonomia privada consiste no poder
que é reconhecido aos particulares de autorregulamentarem a sua esfera jurídica conforme os
interesses que bem lhes aprouverem.
Nos termos de Antunes Varela, seria concebida como o poder que tem os particulares de fixar
por si próprios, a disciplina juridicamente vinculativa dos seus interesses.

Este princípio, manifesta-se ou atua através de 3 elementos, manifestando-se sempre na


soberania do querer:

-Os negócios jurídicos(principalmente) – São atos, cujos seus efeitos são produzidos por
força da manifestação da vontade e em coincidência com o teor declarado de tal intenção.

Como? Numa compra e venda em certas condições de preço por exemplo

-Também através do poder de livre exercício de direitos subjetivos- Poder ou faculdade que
é atribuído aos indivíduos de exigirem um comportamento positivo ou negativo por parte de
outrem. (com limites artigo 334 CC).

Como? Consumo ou destruição de algo que me pertence, exigência ou não de um direito de


crédito etc

-Livre gozo dos bens pelos particulares

Os negócios jurídicos, são com certeza um fundamental meio de atuação da autonomia


privada. Como se sabe, estes podem ser classificados de duas diferentes formas, em
conformidade o número e o modo pelo qual estão dispostas as declarações de vontade que
os integram. Assim:
- Negócios jurídicos unilaterais – Perfazem-se com uma só declaração de vontade num único
sentido, destinada a produção de determinado efeito. (testamentos, denúncia do arrendamento
etc)

-Negócios jurídicos bilaterais(=contratos) – É constituído por duas ou mais declarações de


vontade, convergentes, mas tendentes a produção de um resultado jurídico unitário, um
contrato (compra e venda, doação, arrendamento, aluguer, empreitada)
Para os interesses da autonomia privada, os negócios jurídicos unilaterais embora não sejam
descartados logo, sofrem muitas limitações!! Princípio da tipicidade ou do numerus clausus
(artigo 457 CC) - Os particulares apenas podem celebrar negócios jurídicos previstos pela lei.
Tem a sua liberdade limitada.
Por outro lado, relativamente aos negócios jurídicos bilaterais(contratos), é precisamente
nestes que a autonomia da vontade vai encontrar a sua maior expressividade, através de um
outro importantíssimo princípio chamado princípio da liberdade contratual. (artigo 405 CC)

É um princípio consagrado no Artigo 405º do código civil e possui um área relativamente


menos dilatada do que a autonomia privada! Basta reparar-se:

Autonomia De âmbito mais restrito!


Privada Autonomia da vontade
(+ dilatada) aplicada no âmbito dos
Liberdade negócios jurídicos
bilaterais/ou
plurilaterais reveste
Contratual a forma de liberdade
contratual – É aí que a A.V
tem maior expressividade
Compreende ainda a outros
aspetos como a liberdade de
associação (constituição de P.C),
liberdade de tomar deliberações
nos órgãos colegiais, liberdade de
testar, liberdade de celebrar acordos
que não são contratos (como os que existem na vida conjugal)
Liberdade para praticar vários atos unilaterais etc

II. Princípio da Relatividade Contratual – Artigo 406º nº2 - Implícito

Tal como o princípio da liberdade contratual – manifestação da autonomia privada –


também o princípio da relatividade contratual encontra-se consagrado expressamente na
lei!

O que este artigo nos diz, ou pelo menos, a tradução de seu significado, é que os contratos
possuem efeitos relativos! Relativos as partes – aos contraentes! Esta é a regra, que
comporta, por sua vez, a admissão de exceções, logo no artigo 406º nº 2!

Relativamente a terceiros, o contrato apenas produz efeitos nos casos e termos


especialmente previstos na lei

Quais? Exemplos a citar

- Muita doutrina costuma a estudar contratos para pessoa a nomear*/ Contratos com cláusula a
favor de terceiro* como exceções, apesar de apenas ser uma exceção de facto, o contrato com
cláusula a favor de terceiro
-Direitos pessoais de gozo (407 – comodato, arrendamento) Os titulares destes podem exercer
ações contra terceiros. Ações de restituição de posse.
- Meios conservatórios do património do devedor. 606 e ss. ação sub-rogatória…. /
impugnação pauliana (610 e ss) – nestes dois o credor opõe seu direito de crédito a terceiro.
Opõe um crédito a terceiro.
-Artigo 495º - Relacionado a indemnizações a terceiros no caso de morte ou lesão corporal!
- Teoria do terceiro cúmplice (é uma exceção de cariz mais jurisprudencial – doutrina não
aceita muito) – baseada no artigo 490 CC – Responsabilidade extracontratual por factos
ilícitos66
-Contratos com eficácia real (contratos-promessa, pactos de preferência com eficácia real etc)

III. Princípio Boa-fé /confiança

A boa-fé é princípio geral de direito civil, fundamental na realidade, em todo o ordenamento


jurídico, quer no campo das relações civis quer no das relações privadas, e estando ligado ao
princípio da confiança, e que por isto, importa relembrar.
Este princípio exprime uma preocupação social pelos valores étnico-jurídicos da sociedade,
pelas particularidades da situação concreta a regular etc.

A consagração deste princípio se ajusta ou contribui para uma visão do direito em


conformidade com o estado social e democrático de direito, intervencionista e preocupado em
corrigir desequilíbrios e injustiças
Tem um âmbito muito vasto, invadindo todas as áreas do direito. No entanto, assume uma
importância muito grande no âmbito dos contratos, onde entra em contato permanente com o
outro princípio da autonomia privada.

Mas, no que consiste?


Em sentido subjetivo? – Consiste no estado em que se encontra um indivíduo, que julga estar a
atuar em conformidade com o direito por desconhecer ou ignorar vícios anteriores a realização
de seus negócios.

Aqui, a lei recorre a boa fé em inúmeras situações. No artigo 243 n2 ao referir que boa fé
consiste na ignorância da simulação, no 291 n3 ao considerar de boa fé o terceiro que
desconhecia sem culpa o vício do negócio nulo ou anulável no 612 ao entender por má fé a
consciência do prejuízo que o ato causa ao credor no 1260 1 ao dizer que a posse é de boa fé
quando o possuidor ignorava ao adquiri-la que lesava o direito de outrem etc.

66
Muito difícil provar que alguém instigou outrem a violação de um direito de crédito!!
Em sentido Objetivo?67 – É neste sentido que o princípio da boa fé se manifesta com potencial
máximo. Se traduz numa regra jurídica de conduta, num princípio normativo para o qual o
legislador é remetido.

Aplicado no âmbito dos contratos, este princípio consiste numa norma de conduta, que diz que
as partes devem agir de modo honesto, correto e leal, impondo assim deveres de colaboração
e evitando comportamentos desleais entre as partes.
O princípio da confiança, por seu turno, é por muitos autores, considerado ainda como uma
manifestação do princípio da boa fé! É no fundo uma discussão doutrinal saber se há
autonomia ou não!68

Este princípio está muito associado a boa fé! É um princípio que muito explica sobre a força
vinculativa dos contratos e sobre a regra da imodificabilidade do contrato por vontade unilateral
de uma das partes (Art. 406º).

A sua consagração, nada mais representa, do que ordenamento jurídico a proteger a legítima
expetativa/confiança, criada pelo recebimento da proposta contratual (tal como ela é) no
espírito do destinatário, que explica a irrevogabilidade dela pelo proponente durante o período
razoavelmente reservado à reflexão e decisão deste (Artigo 230º nº1).
Exemplos:
Um indivíduo ao realizar a compra de um pacote de serviços da MEO por exemplo, esta a
confiar que receberá ao assinar os termos e pagar a quantia acordada, aquilo que deseja.

A confiança é justificada? Recebe tutela jurídica? Para isso respondemos com outra pergunta:

-Eu tive motivos razoáveis que me induzissem a acreditar, confiar na pessoa?

Imaginemos que eu aceitasse os termos, e pagasse o preço acordado e deixasse tudo pronto
na loja oficial com o comprador. No entanto, ao passar dos dias em casa, acaba que não
recebo por nada que foi acordado.

67
227 n1 – regras de boa fé 239 que fala sobre os ditames da boa fé 334- limites impostos pela boa fé como
critério do abuso de direi 437n1 – princípios da boa fé como exigência a ponderar em caso de alteração anormal
das circunstâncias 762n2 – contraentes procederem de boa fé no cumprimento de suas obrigações e no exercício
de direitos correspondentes.

68
atualmente vem adquirindo cada vez mais espaço
Neste caso, minha confiança seria justificada, e receberia tutela jurídica pelos termos do artigo
227 do CC, uma vez que, eu não tive culpa alguma! Fui a loja oficial, falei com um funcionário
oficial da loja, realizei meu contrato corretamente em todos os termos, e ainda assim, não
recebi pelo produto acordado. Confiei que ao pagar, receberia. Mas não ocorreu.
Esta tutela jurídica da confiança, pode conduzir não apenas a atribuição de efeitos jurídicos a
uma situação tão só aparente (como é o caso do dolo dos menores, e do contrato de agência),
como também pode criar a obrigação de indemnização pela frustração da confiança criada (tal
como ocorre no 227)

IV. Princípio da Justiça Comutativa/ou equivalência objetiva das prestações

Este princípio significa que, nos contratos a título oneroso 69 – que são de longe os mais
frequentes no comércio jurídico – à prestação de cada um dos contraentes deverá
corresponder a uma prestação de valor objetivo (ou mesmo subjetivo) sensivelmente
equivalente da parte do outro contraente!

É um princípio que se encontra latente em diversas disposições de nosso código civil:

-Artigo 437º - Direito a resolução ou modificação do contrato por alteração anormal das
circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar.

-Direito a redução do preço no caso da venda de coisas defeituosas (Art. 913) ou da venda de
bens onerados, nas circunstâncias previstas no Art. 911º

-Anulação ou modificação dos negócios usurários (Arts. 282º e ss)

69
Negócios jurídicos onerosos – Há atribuições patrimoniais de ambas as partes, e em regra, como dita alias este
princípio, uma deverá ser o pagamento da outra.
 Liberdade Contratual (Artigo 405)70 – O preceito basilar, trave-mestra na teoria dos
contratos

Nos termos do Artigo 405º, temos de compreender por liberdade contratual:


A faculdade que as partes tem, dentro dos limites da lei, de fixar de acordo com a sua
vontade71 o conteúdo dos contratos que realizarem, celebrar contratos diferentes dos previstos
no código ou incluir nestes as cláusulas que lhes bem aprouver.

A regra fundamental contida nesta disposição é a liberdade de fixação/modelação do


conteúdo contratual

*As outras proposições são meras aplicações, desenvolvimentos do pensamento anterior!

No entanto, antes mesmo da liberdade de fixação/modelação do conteúdo contratual, encontra-


se no mesmo artigo, ainda que de forma implícita:
a liberdade de contratar72! (Há exceções)

Ao lado desta, e também de forma implícita, cabe igualmente a liberdade de escolha do outro
contraente!73

70
Antunes Varela a define como o poder de auto-regulamentação dos interesses concretos e contrapostos das
partes, mediante acordos vinculativos!

71
São livres ao contratar, na medida em que, podem seguir os impulsos da sua razão, sem estarem totalmente
aprisionadas pela jaula das normas legais

72
Liberdade de contratar = Faculdade reconhecida as pessoas de criarem entre si, guiadas pela sua própria
razão/vontade, acordos destinados a regular seus interesses recíprocos.
NOTA: Em qualquer destas liberdades, não estamos diante de uma liberdade total/plena! Aliás
como refere o Art. 405º, “dentro dos limites da lei”. Assim sendo, todas estas liberdades estão
sujeitas sim, a um rigoroso respeito aos diversos limites traçados na lei ( à capacidade
negocial, a forma para celebração de determinados negócios, a ordem pública, bons costumes,
etc.)
Como se sabe, a liberdade contratual é um corolário fundamental do princípio – muito mais
vasto – da autonomia privada!
I. EXCEÇÕES A LIBERDADE DE CONTRATAR?

- Deveres de Contratar

Há múltiplos casos em que sejam as pessoas singulares sejam as pessoas coletivas, tem o
dever jurídico de contratar, logo que se verifiquem determinados pressupostos. Isso pode advir
de convenção entre as partes ou poderá ser a própria lei a impor!

Quando assim é, a pessoa que se recusa voluntariamente a contratar estará não só a praticar
um ato ilícito, mas também um ato que pode constituí-la em responsabilidade civil perante a
outra pessoa que deseja contratar.
Há muitos casos semelhantes, em que se permite inclusive obter a execução coerciva do
contrato!

EXEMPLOS:
a) Contratos-promessa (Promessas negociais de contratar)
Aqui, tratam-se de casos em que a obrigação de contratar resulta de convenção entre partes!
Por se tratarem de espécies de auto-limitações, não são, em bom rigor, restrições a liberdade
contratual!

Uma ou ambas as partes tenham assumido (previamente) em contrato-promessa (Art.410 e ss)


a obrigação de celebrar um determinado contrato.

Sempre quando existir uma convenção deste género, o/ou os promitentes já não será mais livre
de contratar, pelo contrário. Terá o dever de o fazer, sob pena da contraparte poder exigir

73
Faculdade de livremente escolher com quem desejo fechar contrato! Caso ela também esteja disposta a fechar
conosco é claro
judicialmente o cumprimento da promessa ou mesmo uma indemnização pelo dano
proveniente da violação desta.

b) Seguro obrigatório da responsabilidade civil do automóvel 74 e dos contratos de


arrendamento impostos ao dono do imóvel75 nalguns países estrangeiros, logo após o
término da guerra ou durante ela
Aqui tratam-se de alguns dos casos de obrigatoriedade de contratar por força da própria lei!
c) Dever de contratar relativo a Serviços Públicos76

São obrigadas a contratar muitas vezes também, e em certos termos, as empresas


concessionárias de serviços públicos (transportes, comunicações, abastecimento de água,
fornecimento de energia elétrica, gás etc) sempre que o ato constitutivo da concessão ou os
regulamentos aplicáveis lhes não permitam recusar a celebração do contrato, sem especial
justificativa.

d) Profissões de exercício condicionado (=contrato de prestação de serviço!)

Restrição semelhante ainda sucede no âmbito destas profissões. Há certas pessoas que
desempenham profissões liberais cujo exercício está condicionado a posse de um determinado
título de habilitação (Mestrado/Carteira da ordem) ou á inscrição em certos organismos (A
própria ordem)

É o caso clássico dos médicos, advogados, solicitadores, e suas respetivas ordens


profissionais!

Os médicos por exemplos, não podem, salvo em caso de força maior, recusar-se a prestação
de assistência, relativamente aos socorros de extrema urgência a um doente ou sinistrado em
perigo imediato (Art. 13º al. b) Estatuto da Ordem dos Médicos.

São igualmente obrigados a prestar seus serviços sempre que não haja outro médico a quem o
doente possa facilmente recorrer.

74
Instituído pelo decreto-lei nº 522/85 de 31 de dezembro, já modificado algumas vezes
75
Impostos aqui em Portugal, após o 25 de abril, pelo decreto-lei nº 445º/74 de 12 de setembro
76
Concessão = Transferência temporária do direito de exploração de um serviço público, feita por uma pessoa
coletiva de direito público (Estado, empresas) para uma entidade privada, passando aquele exercício a correr por
conta e risco da concessionária
Imposições semelhantes dão – embora com um pouco menos de intensidade – no âmbito dos
advogados, solicitadores etc

e) Venda de bens essenciais a vida das pessoas? Tem sido doutrinalmente discutido! Nos
casos, por exemplo, de estabelecimentos que fornecem bens destinados a satisfazer
necessidades vitais dos clientes. Ou então, relativamente a uma empresa que seja
proprietária da única sala de espetáculos/ou restaurante duma certa localidade?

- Proibição de contratar com determinadas pessoas

Restrições a liberdade de contratar, mas de sinal contrário as do grupo anterior, são as


provenientes de normas que proíbem a realização de alguns contratos com determinadas
pessoas!77

Exemplos:
Artigo 877º, relativamente à venda feita por pais a filhos ou por avós a netos, sem o devido
consentimento dos outros filhos ou netos!
Artigos 579º e 876º, relativamente a cessão e venda de direitos ou coisas litigiosas!
Artigo 953º relativamente a doação a favor de pessoas abrangidas pelas indisponibilidades
relativas

- Necessidade do consentimento, assentimento ou aprovação de outrem, para a celebração do


contrato

Estão aqui englobados:


*Todos os casos em que para celebrar-se um negócio, certas pessoas carecem do
consentimento ou do assentimento de outrem, e ainda,
*Os casos em que a validade do negócio livremente celebrado entre as partes, dependerá de
certa entidade

É o caso típico dos cônjuges, que carecem de consentimento mútuo para alienação de algum
bem compreendido no nº 3º alínea a) do artigo 1682º, e nos nºs 1 e 2 do artigo 1682º-A

77
Para além das restrições que já existem para certas pessoas: como a proibição de menores de frequentarem
certos locais
Também no caso dos maiores acompanhados, que carecem da autorização do acompanhante
para celebração de alguns atos.

-Renovação ou transmissão do contrato imposta a um dos contraentes +

II. EXCEÇÕES A LIBERDADE DE ESCOLHA DO OUTRO CONTRAENTE

Depois de decidir se vai ou não contratar, a pessoa ainda goza – em regra, e nos limites da lei -
no âmbito da liberdade contratual, de liberdade para escolher o outro contraente, ou seja, com
quem celebrará o contrato!

Esta faculdade reveste especial importância nos negócios jurídicos (“intuitu personae 78”), nos
contratos à crédito/de crédito ou ainda, nos contratos destinados a criar relações de
cooperação entre os contraentes.

São exemplos típicos do interesse que reveste esta escolha, os contratos de mandato, doação,
de empreitada, de sociedade e acima de todos, naturalmente, o contrato de casamento
(gerador de relações familiares)

O facto é que mesmo no âmbito desta liberdade existem limites!


Alguns deles, resultantes da mera vontade das partes (1) (E que por isto mesmo, por se
tratarem de “auto-limitações”, não constituem em bom rigor limites a esta liberdade)
Outros provenientes diretamente da lei (2)

(1) Entre os limites derivados da vontade, avultam-se:

- Os pactos de preferência! Um dos contraentes (o obrigado a preferência) se compromete a


escolher o outro (em condições de igualdade) como sua contraparte, na hipótese de se ter
decidido realizar um contrato.

78
Tipos negociais que uma das partes com quem eu contrato, a que eu escolhi, é particular! Se não for eu não
contrato (acontece muito nas doações e principalmente no contrato de casamento!)
Entre os limites derivados da lei, destacam-se:
- Os resultantes dos chamados direitos legais de preferência79
-Os impostos pelas normas que reservam para determinadas categorias profissionais
(advogados, corretores da bolsa etc) a realização de determinados tipos de prestação de
serviços. (= Os médicos, na urgência, não tem o direito de escolher quem oferecem seu
serviço!)
III. EXCEÇÕES A LIBERDADE DE FIXAÇÃO/MODELAÇÃO DO CONTEÚDO
CONTRATUAL

Além das duas anteriores liberdades, implícitas no Artigo 405º, é facultado as partes ainda – e
agora de forma expressa – a liberdade de fixação/modelação do conteúdo contratual.
Tomando por referência os contratos especialmente regulados na lei, no código civil, e o
próprio conteúdo explícito do Artigo 405º, pode se dizer que esta liberdade se desdobra:

a) Por um lado, na possibilidade de celebrar qualquer dos contratos típicos/ou nominados


previstos na lei

b) Por outro lado, na faculdade de aditar a qualquer destes contratos típicos, as cláusulas
que melhor convierem aos interesses prosseguidos pelas partes80

c) E ainda, na possibilidade de se realizar contratos diferentes dos que a lei prevê e


regula.

*Este é o conteúdo da liberdade de fixação/ou modelação do conteúdo contratual! A qual,


por seu turno, comporta igualmente, tal e qual as anteriores liberdades, alguns limites.81
As limitações reconduzem-se a três, que podem considerar-se englobadas, muito
genericamente, nas palavras introdutórias do Art. 405º: DENTRO DOS LIMITES DA LEI!
Quais?

79
Esta tipologia de direito, bastante pródiga em nosso ordenamento jurídico, possui uma eficácia limitativa da
liberdade contratual ainda mais forte do que a resultante dos pactos de preferência!
80
Celebrar uma compra e venda, e sujeitar a sua eficácia a verificação dum acontecimento futuro e incerto,
estipulando um prazo para a produção dos efeitos do negócio ou de alguns deles, sujeitando o contrato a uma
cláusula penal etc

81
Poder-se-ia mesmo dizer que, uma vez destruídos os pressupostos do liberalismo económico, e afastada pelo
intervencionismo-económico toda a relutância do aparelho estatal em se intrometer nas relações do comércio
privado, estas mesmas limitações cresceram/multiplicaram-se e tem crescido de forma muito acentuada nas
modernas legislações, principalmente em alguns tipos contratuais (como o arrendamento, contrato de trabalho,
seguro, negócios bancários, transportes etc). É certo que as limitações são menos frequentes no campo das
obrigações do que noutro campo do direito privado.
- Requisitos do Artigo 280º - Objeto negocial
-Negócios Usurários Limites no plano legal!
Conteúdo da prestação – 398º
-Contratos normativos e contratos coletivos
-Normas imperativas
-Cláusulas contratuais gerais Limite no plano factual!
Poderia questionar-se, porque a lei restringe a liberdade de fixação/modelação do conteúdo
contratual? Qual a finalidade?

Entre os fins visados pelas diferentes restrições legais apontadas, destacam-se:


-Assegurar a lisura e correção com que as partes devem agir na preparação e execução dos
contratos
-Garantir o tanto quanto possível, a justiça comutativa!
-Proteger a parte que dentro da relação jurídica considera-se social/economicamente mais
fraca
-Preservar certos valores essenciais à vida da relação – Ordem pública, bons costumes,
segurança e certeza jurídica etc

- A primeira das limitações, abrange os requisitos do Art. 280 - Requisitos do objeto negocial –
dentre os quais se destaca a não contrariedade a bons costumes e ordem pública (Mas ainda,
o negócio jurídico deverá atender aos requisitos mínimos de determinabilidade, possibilidade e
conformidade a lei)
-A segunda das restrições, está no Art. 283 – Negócios Usurários!
-A terceira grande restrição, deriva do Art. 398º nº2, relativamente ao objeto da prestação, que
não necessitará de ter valor pecuniário, mas, há de corresponder a um interesse do credor,
dgino de proteção legal.
- A quarta limitação, é relativa aos chamados contratos-normativos e contratos-coletivos, cujo
conteúdo, fixado em termos muito genéricos, se impõe, em determinadas circunstâncias, como
um padrão que os contraentes são obrigados a observar nos seus contratos individuais de
natureza correspondente. A título exemplificativo, temos as convenções coletivas de trabalho
(CCT)82.

82
Quid iuris? As CCT São acordos celebrados entre associações de empregadores e de trabalhadores, com o
objetivo de definir condições de trabalho! Ao abrigo das CCT podem ser estipulados, por exemplo, salários, férias
ou questões relacionadas com saúde e segurança.
Os contratos de trabalho (=individuais) dos trabalhadores abrangidos por estas convenções, são obrigados a
respeitar as regras ali definidas. Isto significa que quem vai trabalhar num determinado setor ou empresa tem por
garantidas estas condições.
Divide-se em dois tipos:
-Se o contrato tipo/ou padrão, destina-se a servir de paradigma dos contratos individuais que
as partes venham, futuramente, celebrar entre si, chama-se usualmente contrato-tipo!
-Se, por outro lado, aquela convenção destina-se a servir de modelo (obrigatório) a contratos
individuais realizados entre pessoas que não participaram na elaboração do modelo, chama-
se-lhe preferentemente contrato-normativo
- A quinta limitação, refere-se à existência de normas imperativas que se refletem no
conteúdo dos contratos!
Umas delas aplicadas a generalidade dos contratos, outras, privativas de determinados tipos
contratuais.

(1) Aplicadas a generalidade? Temos a título exemplificativo – o princípio da boa-fé (Artigo


762º nº 2). Comportamento das partes, tanto no cumprir da obrigação como no
exercício do direito correspondente deve pautar-se na boa-fé!
É princípio que se reflete em toda a economia83 do contrato, na sua formação – Artigo 227-
e durante todo seu período de execução!

(2) Aplicado a apenas alguns? São inúmeras, mas a título exemplificativo pode-se referir
disposições que fixam prazos de duração máxima ou mínima de certos contratos (Arts.
1025º, 1240º etc) disposições que estipulam prazos para resolução, no caso de vendas
a retrô (Art. 929º), normas que limitam taxas de juro no contrato de mútuo (Art. 1146º),
que estabelecem um horário de trabalho no exercício de atividades profissionais, as que
vem fixar um preço determinado ou que limitam o preço máximo/mínimo de
determinados produtos etc

NOTA: Aqui na quinta limitação a liberdade de modelação/fixação do conteúdo contratual é


preciso ainda chamar atenção para a existência de numerosas disposições, dispersas pela
legislação civil/penal/administrativa/fiscal/comercial etc, que proíbem, sob pena de nulidade, a
celebração de negócios com determinado conteúdo! Destacam-se aqui:

- Proibição da doação de coisas futuras (942º)


-Proibição da subordinação do casamento ou da perfilhação termo ou condição (Arts. 1618º nº
2 e 1852º)
-Proibição dos pactos sucessórios (Artigo 946º nº 1 2028º nº2)

83
modo como se distribuem e se coordenam os diversos elementos de um todo; organização, estrutura
- A sexta limitação, é referente as chamadas cláusulas contratuais gerais (que integram os
conhecidos contratos de adesão ou por adesão)

Na formulação teórica tradicional, o contrato é um instrumento precedido de uma livre


discussão entre os particulares, sobre o teor de cada cláusula! Inclusivamente,
pressuposto deste debate, é a igualdade entre partes, típica do direito privado!

No entanto, com o desenvolvimento do capitalismo e do grande comércio, acompanhado do


crescimento das populações, a atividade das empresas foi se diversificando cada vez mais e a
oferta de produtos em massa se foi alargando, tudo para conseguir suportar, de modo a que
começaram a surgir e multiplicar-se no comércio jurídico alguns casos de contratos que são
apenas elaborados por um dos contraentes – no caso a empresa – sem que haja
qualquer debate prévio acerca do conteúdo!84

Exatamente isto, dá-se o nome de contratos de adesão/ou por adesão

São contratos em que um dos contraentes – o cliente/consumidores – tal como sucede por
exemplo na generalidade dos contratos de seguro, de transporte, nos contratos bancários ou
mesmo nos contratos de prestação de serviços (Água, energia, gás) não tendo a menor
participação na preparação e redação das respetivas clausulas, se limita a aceitar/ou não o
texto que o outro contraente oferece, em massa, ao público interessado.85

*C`est à prendre ou à laisser – É pegar ou largar!


Efetivamente isto ocorre. E depois, o que acontece ainda é que os particulares, necessitados
de celebrar o contrato, são “forçados” “empurrados” pelas circunstâncias, a aceitar o modelo
contratual que de certo modo lhes é oferecido:

84
Precisamente por isto o nome contratos de adesão – de modo a caracterizar este tipo de convenção

85
Apesar dos aspetos expostos, nos dias de hoje é muito eficiente para muitas empresas, que vendem seus
produtos em larga escala. Não seria colaborativo para com a celeridade do tráfico jurídico que as empresas
andassem a celebrar contrato por contrato, era até impensável!
a) Seja porque a empresa que elabora as cláusulas contratuais gerais, detém o monopólio
da atividade que explora
b) Seja porque igual atitude é tomada por todas as empresas concorrentes
NOTA: Relativamente aos contratos de adesão, importante detalhar que a limitação existe
apenas no domínio dos FACTOS.

No plano da LEI, nada impede que os particulares e as empresas estipuladoras, fixem


livremente o conteúdo/as cláusulas do contrato ou que se afastem dos modelos de negociação
usualmente seguidos!

No entanto, como na vida, nem tudo se faz com a lei, a desigualdade real entre os contraentes
não pode ser ignorada muito menos subestimada pelo legislador.

NOTA: Cláusulas destes contratos só obrigam porque e na medida em que, apesar de


elaboradas por outra parte, são aceites pela outra!
 Contratos Típicos (Nominados) e Contratos Atípicos (Inominados)

A disciplina contratual reparte-se, no direito português constituído, por três locais distintos:
-PARTE GERAL – Normas que, regulando os negócios jurídicos em geral, não só os contratos,
valem naturalmente para a mais importante categoria de negócio que são os contratos.
-LIVRO II – Capítulo referente as fontes das obrigações (405º e ss), há regras aplicáveis ao
comum dos contratos ou a certas categorias de contratos
-Título ii do livro II (874º e ss) – Normas reguladoras dos contratos em especial Estes
correspondem ao que na doutrina e, também na jurisprudência se chama contratos
típicos/nominados + acresce-lhes os contratos regulados em legislação extravagante

a) Contratos nominados/típicos

São todos aqueles que, além de possuírem um nome próprio, que os distingue dos demais,
constituem objeto de uma regulamentação/ disciplina legal específica! (CUMULATIVO ISTO!!)

O facto de termos um “nomen iuris”, ou seja, de os contratos serem nominados, não significa
que eles sejam típicos! Temos vários casos de contratos que são nominados e que não são
típicos, como por ex.: contrato de hospedagem, transporte, jogo e aposta não têm um regime
legal! O mesmo acontece em contratos em que não há “nomen iuris”, mas há um regime legal
suficientemente preciso para se considerar como contrato típico, embora esta situação seja
bem menos comum!
Um contrato será típico ou não, conforme o seu regime esteja ou não previsto na lei (tipicidade
legal). Muito frequentemente também se fala em tipicidade social!
Por vezes, acontece que determinado contrato não é legalmente típico, não está na lei, mas
corresponde a um tipo social, seja porque é socialmente reconhecido por todos como tendo
um determinado conteúdo seja porque é frequentemente celebrado na prática e há um
consenso quanto ao que é o núcleo essencial. O contrato pode remeter para esta tipicidade
social e a tipificação dos contratos pode partir dos tipos sociais.
Raramente o legislador quando cria um contrato o inventa do nada. Tendo em conta a
necessidade de regular a prática e de regular algo que levanta problemas, cria-se um tipo legal.
Mas há situações em que o legislador diz que não precisa de intervir tipificando, bastando a
tipificação social acrescida da aplicação do regime geral dos contratos – ex.: cartas de conforto,
contrato de trespasse, contrato de hospedagem.

Este grupo de contratos, que a lei chama para disciplinar juridicamente, são naturalmente às
espécies mais importantes no comércio jurídico!
b) Contratos Atípicos/Inominados

São todos aqueles que as partes, ao abrigo de sua liberdade contratual, criam fora dos
modelos traçados e regulados na lei!
Os contratos atípicos podem ser:
-Completamente novos, ou seja, contratos atípicos puros, ou “sui generis”, totalmente
diferentes dos que existem, sendo raros no tráfego negocial,
-Ou podem ser contratos que têm a sua base nos tipos legais existentes, e a estes nós
chamamos contratos mistos. Chamamos contratos mistos, não a um tertium genus entre os
típicos e atípicos, mas a uma modalidade de contratos atípicos, que resultam da combinação
de tipos legais, de contratos típicos! Muitas vezes os próprios tipos legais surgem com base em
contratos mistos – ex.: O contrato de leasing! surgiu com as necessidades do tráfego negocial
e só depois é que foi tipificado pelo legislador, na sua base misturando vários tipos legais,
como a locação, a compra e venda e o financiamento. Neste caso, na base deste contrato
estão tipos legais combinados que geraram um contrato atípico e misto e que depois o
legislador veio consagrar legalmente e transformar o tipo legal, criando um novo tipo legal

Como sabemos, da faculdade de livre fixação/modelação do conteúdo contratual emergem:


a) Por um lado, na possibilidade de celebrar qualquer dos contratos típicos/ nominados
previstos no código civil (CV, mandato, comodato, mútuo, empreitada)

b) Faculdade de aditar a qualquer destes contratos típicos do CC, as cláusulas que melhor
convierem aos interesses prosseguidos pelas partes86

c) E ainda, na possibilidade de se realizar contratos diferentes dos que a lei prevê e regula
no CC

Mas é preciso ainda saber… Quando será que as cláusulas aditadas pelas partes respeitam
ainda o tipo contratual fixado em lei, e quando a adição destas mesmas vai implicar o

86
estipulando um prazo para a produção dos efeitos do negócio ou de alguns deles, sujeitando o contrato a uma
cláusula penal etc
abandono dos tipos negociais legalmente previstos, com a consequente formação dum contrato
atípico!
Qual o limite/ A fronteira?
Ora a resposta a esta delicada questão esta no conhecimento dos esquemas essenciais, de
cada contrato típico!

QUID IURIS – Esquemas essenciais?

- Todo contrato típico/nominado do código civil, possui uma função económico-social


própria, que se reflete numa estrutura/esquema jurídica a que a doutrina italiana chama de
causa do contrato.

A causa do contrato constitui


como um cartão de identidade
dos contratos típicos!

Exemplos:
A causa/esquema essencial do contrato de compra e venda, por exemplo, é a transmissão de
um direito mediante um determinado preço

A causa da locação é a conceção do gozo temporário duma coisa mediante retribuição

A causa da empreitada, é a realização de uma obra a troco de um determinado preço

Assim sendo, sempre que num contrato celebrado entre as partes:


-Se instale um dos esquemas previstos na lei (=da compra e venda por exemplo)
-As cláusulas acessórias, eventualmente acrescentadas pelas partes, não venham a destruir o
núcleo essencial do esquema contratual (Contratos complementares – É inserido uma cláusula
acessória que o torna atípico)
- E sempre que não venha a ser introduzido pelas partes outros esquemas legalmente
autonomizados (misture-se o da empreitada por exemplo)
O contrato permanecerá o mesmo! Continuará a pertencer ao tipo correspondente ao seu
respetivo esquema. Continuará, mesmo com a adição de cláusulas, um contrato
nominado/típico
Por outro lado, sempre que assim não aconteça, o contrato seguirá como um contrato atípico!

 Novas figuras contratuais?

O desenvolvimento grandioso da economia norte-americana revela resultados muito positivos,


nos mais variados aspetos! Um deles, muito interessante, é o da criação de novos tipos
contratuais que, de forma muito significativa, com relativa facilidade, foram se implantando nos
sistemas jurídicos do continente europeu.

-LEASING

Uma das primeiras figuras alvo dessa corrente migratória, foi o contrato de leasing, que com a
sua designação de origem ou com uma tradução adequada, acabaram por se naturalizar
nalgumas legislações europeias, aí adquirindo o estatuto de contratos típicos ou nominados!

Foi o que aconteceu com PT, com o decreto-lei nº 171/79 de 6 de junho, que inseriu no
ordenamento jurídico português uma das modalidades do leasing, sob a denominação de
locação financeira, e que hoje encontra-se substituído pelo decreto-lei nº 149/95 de 24 de
junho!

Art. 1 do respetivo decreto - Contrato pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição,
a ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por
indicação desta, e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado, por um preço
nele determinado ou determinável mediante simples aplicação dos critérios nele fixados

Há ainda muitos outros, como é o caso do FRANCHISING, FACTORING, JOINT VENTURE,


KNOW HOW, ENGINEERING ETC
 Contratos Mistos87

Entre os vários afloramentos práticos da liberdade contratual, destacam-se ainda, pela relativa
frequência e particularidade dos problemas suscitados, dentro da vasta categoria dos
contratos inominados/atípicos, os chamados contratos mistos!

NOÇÃO88 – Todo o contrato no qual são reunidos elementos de dois ou mais negócios,
total ou parcialmente (contrato de trabalho) regulados na lei.
Ao invés de realizarem apenas um contrato dos previstos na lei – os típicos – com aquelas
características típicas, as partes celebram um contrato – o misto - que poderá ter prestações de
natureza diversa dos típicos ou ainda com uma articulação de prestação diferente da prevista
na lei, mas encontrando-se ambas as prestações, compreendidas em espécies contratuais
típicas, reguladas na lei.

Há a fusão, num só tipo negocial de elementos contratuais distintos que, além de perderem sua
autonomia no esquema negocial – do contrato misto, fazem parte do conteúdo deste.

EXEMPLOS:
Um indivíduo se inscreve num cruzeiro pelo mediterrâneo – A empresa organizadora obriga-se
a dar-lhe transporte, alojamento em cabine e alimentação. (PACOTES DE VIAGENS)

Elementos de vários tipos-contratuais: Locação (arrendamento), contrato de transporte,


contrato de compra e venda etc

87
É a este tipo de contratos que se refere o nº2 do artigo 405, que não tem outra finalidade sem ser a de tornar
explícita esta fundamental categoria! Já que eles já estão admitidos no nº 1 do 405!

88
Prof. Doutora Mónica Martinez: Partes vão buscar elementos tipificados na lei, depois elementos de fora,
extravagantes, juntam, e constituem seu próprio contrato, podendo acrescentar eventualmente cláusulas.
Um indivíduo arrenda um apartamento para dois meses de praia! O Senhorio obrigar-se-á
mediante o pagamento de uma renda estipulada, não somente a ceder (temporariamente) o
gozo da coisa, mas também, a fornecer mobília, louças, roupas e a prestar múltiplos serviços
(lavagem e arranjo de roupas)
Elementos do contrato de arrendamento para habitação com clausulas do contrato de
prestação de serviços e também do de aluguer

a) Modalidades de contrato misto


A conjugação de elementos contratuais heterogéneos, dentro da mesma espécie/esquema
contratual – contrato misto - pode operar-se de várias formas!

-CONTRATOS COMBINADOS: Existem casos – como no exemplo do turista - em que a


prestação global (a quantia total de prestação) de uma das partes, se compõe de uma ou mais
prestações integradoras de contratos (típicos) diferentes, enquanto a outra parte se vincula a
uma contraprestação unitária de um certo contrato.
Outro exemplo: Uma obriga-se a prestar 200.000. A empreiteira obriga-se a construção de uma
vivenda, pedido de licenciamento, venda do terreno!
Casos dos contratos realizados entre o campista e a entidade proprietária do parque de
campismo
Casos dos contratos celebrados um passageiro, com instalação reservada num trem de longas
viagens, e a empresa transportadora!

-CONTRATOS GERMINADOS/DUPLOS: Noutros casos, uma das partes vai obrigar-se a uma
prestação de certo tipo contratual, e a outra vai obrigar-se, como contraprestação, a uma
prestação de tipo contratual diferente!
A cede a B, uma casa para habitação, em troca das obrigações emergentes de um contrato de
trabalho! Imagine nessa situação que B trabalha na oficina do Sr A, e por isto, A deixou com
que ficasse com uma fração autónoma logo acima de sua oficina!
C obriga-se a fazer uma obra para determinada empresa, e esta, como contraprestação,
promete-lhe uma quota na sociedade que vai explorar economicamente a obra.

-CONTRATOS MISTOS STRICTU SENSU/ou MODIFICADOS: Por último, existem ainda casos
em que um contrato de certo tipo é o instrumento de realização de um outro! Isto é:
Na raiz temos um determinado tipo contratual (imagine-se uma compra e venda) que depois,
por sofrer uma alteração, é assimilado/aproveitado por um outro, para cumprir funções desse
outro tipo contratual visado pelas partes (uma compra e venda que cumpre funções de
doação!)
É algo típico dos contratos de doação mista!
Nestes, o contrato que serve de instrumento/meio – é a mais das vezes uma compra e venda!
Inicialmente vai conservar sua estrutura própria! No entanto, esta mesma é
aperfeiçoada/modificada/ de modo a que sirva, ao lado da função que lhe compete, a função de
um outro contrato.

- DOAÇÃO MISTA – CONTEXTO

Diz-se doação mista, o contrato em que segundo a vontade dos contraentes, a prestação de
um deles (em regra a transmissão de uma coisa) só é em parte coberta pelo valor da
contraprestação, para que a diferença de valor entre ambas beneficie gratuitamente o outro
contraente!

Exemplo:
O Sr. A vende ao Sr. B um prédio cujo valor é 100.000, pelo valor de 30.000, tendo um “animus
beneficiandi” relativamente ao Sr B, com a diferença de valor entre as duas prestações.

Aqui não existe, como consideram muitos defensores da teoria da separação, uma compra e
venda por 30.000 seguida de uma doação pelo valor de 70.000!

Aqui, a estrutura do negócio é muito diferente! Há um contrato! O contrato de doação fez-se


através do contrato de compra e venda! Um fez-se através do outro! O contrato de compra e
venda, mediante a alteração de um de seus elementos fundamentais – o preço – foi
assimilado/aproveitadao pela doação! Não temos, portanto, dois contratos, temos um contrato
Misto combinado!

NOTAS: Em casos como estes, se posteriormente à celebração do contrato, houver


fundamento para revogar a doação por ingratidão do donatário, a forma correta 89 de o fazer
consiste em desfazer-se o contrato de doação!

89
não consiste em reaver o doador-vendedor da importância de 70.000 (a pretexto de ser este o valor por ele
doado) ou mesmo, em haver no doador-vendedor o direito 7/10 do prédio (com o fundamento de ser esta a parte
doada do imóvel)
E como esta, consistiu na realização da venda “viliore pretio” (menor preço), a sua destruição,
operar-se-á antes demais, mediante a restituição do prédio, por um lado, e depois, pela
correspondente restituição do preço
+ É possível que muitas outras modalidades existam na prática, que sejam defendidas por
outros autores! Mas esta sistematização feita pelos autores alemães já facilita bastante o
entendimento das diversas modalidades que, sob este espectro da liberdade contratual, podem
os contraentes criar

 REGIME (Saber a posição da Prof. Doutora Mónica)

Compreender bem as diversas modalidades de contratos mistos, releva especialmente para o


outro quesito, de teor mais prático, de saber qual o regime específico que será aplicável
para cada um!

A fixação do regime destas espécies contratuais híbridas, derivadas da intensa floração


contratual, não é algo fácil! Tem desde o princípio dado lugar a inúmeras dúvidas na
jurisprudência e na doutrina! No entanto, existem 3 diferentes conceções que se avultam sobre
a matéria.

A) TEORIA DA ABSORÇÃO (Qual o regime aplicável ao contrato misto? – O regime do


elemento preponderante do contrato misto!)

Os autores defensores desta conceção, referem que é preciso procurar-se no contrato misto o
elemento dominante, aplicando-se-lhe o regime do elemento dominante.
É preciso procurar-se qual seja, dentre as diversas prestações contidas no contrato misto,
aquela que prepondera na economia do negócio, para que assim se defina, com base nesta, e
com as necessárias adaptações, o regime geral do contrato misto!

O elemento principal/preponderante do contrato misto, absorveria os restantes elementos!

NOTA: O problema aqui é que eventualmente podemos ir contra a vontade das partes! As
partes poderiam não ter querido, ainda que aquele fosse o elemento preponderante, a
absorção total de um só regime!
Exemplo: A antiga lei do arrendamento rural! Mandava aplicar aos contratos mistos de
arrendamento rural e outro ou outros negócios, as normas próprias de cada um deles! Quando
isto não fosse possível, referia que funcionava o regime do negócio jurídico que, dados os
termos do contrato misto, devesse se considerar predominante!

B) Teoria da combinação (qual o regime a aplicável ao Contrato misto? Vamos misturar os


regimes de seus vários elementos integrantes!)

Segundo esta teoria, o que seria feito é harmonizar/ou combinar, na regulamentação do


contrato misto, as normas aplicáveis a cada um dos elementos típicos que o integram!
O fundamento dos autores, é o de que muitas vezes, não é possível determinar o elemento
principal do contrato misto, e o de que não é justificado, estender indiscriminadamente o regime
que corresponde ao tal elemento preponderante, as demais partes da relação!
Exemplo: Se o contrato misto comportar elementos de trabalho e do contrato de locação,
deverá o juiz aplicar as regras do contrato de trabalho, aos elementos do primeiro, e as regras
da locação, aos elementos do segundo.

C) Teoria da Aplicação Analógica

Outros autores, apelam para o poder de integração das lacunas dos negócios, que o sistema
confere ao julgador. Estes autores consideram os contratos mistos verdadeiros casos
omissos/lacunas – uma vez que não há na lei um regime específico para eles!
Em primeiro lugar, defendem ser preciso procurar saber, se as partes previamente escolheram
um regime preferível a aplicar ao contrato misto. De acordo com a sua vontade!
Se assim for segue-se a vontade das partes! Problema resolvido!

Se as partes não remeteram a nenhum regime particular, haverá uma lacuna convencional
(ponto omisso que as partes não regularam). Como, através desta teoria não é possível o
recurso a analogia (se não estaríamos no âmbito da teoria da combinação) socorremo-nos do
artigo 239º.

Regime aplicável será a vontade hipotético-conjetural das partes! Ou boa-fé!


Se ainda assim, através do regime do 239º não conseguirmos, então aí sim, para além de
lacuna convencional estaremos perante uma lacuna legal 90 – porque a lei não prevê regime
específico para contratos mistos!

90
Lacuna legal apenas será quando de facto, não houver a possibilidade do recurso a qualquer norma na qual um
caso possa ser subsumido!
E então iremos para o Art. 8º nº3 – direto para a norma ad hoc – pois não existe um regime
específico de contratos mistos no código civil.

Posição adotada pela doutora Mónica: Tanto a Teoria da absorção como a da combinação,
no estabelecer do regime jurídico aplicável, são preferíveis a elaboração de normas ad hoc!
É preciso atender ter atenção a vontade das partes! As normas Ad Hoc elaboradas pelos juízes
nem sempre podem ser precisamente sensíveis as realidades do caso!

Podemos sempre percorrer as várias teorias, verificando sua adequação no caso concreto!

 Junção, União e coligação de contratos

A figura dos contratos mistos, é diferente, quer da JUNÇÃO DE CONTRATOS, quer da


COLIGAÇÃO OU UNIÃO DE CONTRATOS!

Nestes outros dois casos particulares, estamos diante de dois ou mais contratos que, SEM
PERDA DE SUA INDIVIDUALIDADE, se acham ligados por determinado nexo!

NOTAR BEM A DIFERENÇA: Nos contratos mistos, temos a fusão, num mesmo negócio, de
elementos contratuais distintos que, além de perderem sua autonomia – no “esquema negocial
do contrato misto” – fazem parte do conteúdo deste.

EXEMPLOS:
a) Junção de contratos (também chamadas de uniões de contratos EXTERNAS – Não tem
muito relevo jurídico))
Por vezes – no caso da junção de contratos – o tal nexo/vínculo que prende os contratos é
meramente exterior ou acidental, como quando provém do simples facto de terem sido
celebrados ao mesmo tempo, ou entre as mesmas pessoas ou de constarem do mesmo título
(escritura/documento particular autenticado)

EXEMPLOS:
O Sr. A compra um relógio no relojoeiro, Sr. B Depois vende um outro relógio antigo ao mesmo
Sr. B
Sr. B contrata o Sr. A para trabalhar em sua fábrica, comprando-lhe ao mesmo tempo o direito
de usar certas patentes de sua invenção!
Sempre que assim seja, como os contratos não são apenas distintos, mas também
completamente autónomos, aplicar-se-á a cada um deles o regime que lhe compete!

b) Coligações/Uniões de contratos91(Uniões de contratos INTERNAS!)

Em casos como estes, sucede que os contratos, ainda que mantendo a sua individualidade,
estão ligados entre si, as vezes por conta da lei, as vezes vontade das partes 92, por um
verdadeiro nexo funcional, que cria uma forte relação de interdependência entre os contratos,
influindo nas suas respetivas disciplinas jurídicas!
Não é um nexo meramente exterior/acidental como ocorre nas junções de contratos! Nestes
casos, trata-se dum nexo funcional, capaz mesmo de alterar o regime normal de um dos
contratos ou de ambos eles, por virtude da relação de interdependência, que eventualmente
se crie entre eles.

Esta relação de interdependência criada, entre os dois ou mais contratos, poderá revestir as
mais variadas formas (não sendo taxativas as citadas!):

-Pode ser que um dos contratos, funcione como condição do outro!


-Pode ser que um contrato funcione como contraprestação do outro! (Nexo de
correspectividade)
-Pode mesmo ser, que um contrato funcione como o real motivo do outro! (Nexo de motivação)
-Pode ser que, a opção por um ou por outro, esteja dependente da verificação ou não
verificação da mesma condição (Uniões alternativas!)

91
STJ, no processo 07A2104 de 09/11/2007 – “Na união de contratos há dois contratos autónomos e distintos, que
mantém uma relação de interdependência, embora não percam a sua individualidade”

Ainda, o STJ no processo 08B074 de 14 de fevereiro de 2008 - União de contratos, em que existe entre estes, um
nexo funcional que influi na respetiva disciplina, que cria entre eles uma relação de interdependência bilateral ou
unilateral, em que um deles pode funcionar como condição, contraprestação, base negocial do outro, ou outra
forma de dependência criada por cláusulas acessórias ou pela relação de correspectividade ou de motivação que
afectam um deles ou ambos.

92
Quando a lei não obriga, temos vantagens também em criar ligações de contratos!
Em todo o caso, nas coligações existe uma forte relação de interdependência entre os
contratos (há um nexo funcional/não meramente acessório que os liga!) criada quer pelas
cláusulas acessórias (a condição) quer pela relação de correspectividade ou de motivação que
afetam um ou ambos eles!
NOTAR: Nenhum destes aspetos, que prendem um contrato ao outro, destroem a respetiva
individualidade! Eles estão muito ligados um ao outro, mas mantém sua individualidade!

EXEMPLOS:

A encomenda refeições ao restaurante de B, só as querendo, se se o Sr. B lhe puder reservar


aposentos num hotel ou motel próximo! (Um é a condição do outro!)

C cede em arrendamento um prédio urbano a D, que em troca, promete que o Sr. F venderá ao
C um muro divisório do jardim! (Nexo de correspectividade)

c) Uniões alternativas de contratos (São ainda Uniões internas de contratos, mas são
uniões de contratos temporárias!)

Existem dois contratos, um em alternativa ao outro, dois diferentes, e autónomos! Vou celebrar
um dos dois consoante se verifique uma certa condição.
É uma união em que existe pelo menos 1 condição. Verificando-se esta, tem-se celebrado
apenas 1 contrato. Celebramos vários contratos autónomos submetidos a uma mesma
condição, que se verificar-se, celebramos apenas um!

Exemplo:
Ex: O sr. A vende a B/e doa-lhe uma coisa, subordinado estes dois contratos, a verificação ou
não de uma mesma condição (situação económica). Se a situação económica de A for boa,
doa-lhe, se for má, ele vende, consoante a condição tenha ou não se verificado!
Portanto, são contratos que estão dependentes um do outro, são alternativos, só um vai
funcionar, só um será celebrado em alternativa ao outro, não são para vigorar em simultâneo,
mas em alternativa.

d) Uniões processuais/E Uniões não processuais (Não releva muito para aqui!)

Consoante estivermos perante vários contratos ligados, todos eles e com um fim comum
se não tiverem todos um fim comum, será não processual.

e) Uniões horizontais/ Uniões Verticais


Horizontais – Os Contratos que integram a união tem objetivos semelhantes /Uniões
Verticais - Contratos estão numa posição hierárquica, pelo que dependem uns dos outros.
Chamados subcontratos – sempre que há estes, haverá união vertical. Sem arrendamento
nunca existiria subarrendamento
f) Uniões homogéneas/não homogêneas

Contratos que fazem parte da mesma união sejam ou não do mesmo tipo contratual!

NOTA: Invalidade do contrato – Importante no caso das Uniões internas (coligações de


contratos), já que os contratos estão ligados entre si por um verdadeiro nexo funcional! Então
como uma eventual invalidade poderá afetar?

-Há autores que seguem o regime do erro (o que doutora não concorda!) O erro é problema
da formação dos contratos, o agente não errou. Estamos na fase de cumprimento do contrato!

-Outros (e a própria professora) seguem o regime da impossibilidade de cumprimento (790


e ss) - Impossibilidade de cumprimento dos restantes contratos, dada nulidade de um deles,
porque eles estão ligados!

 -Contratos comutativos / Aleatórios (Outra categorização de contratos referida pela


doutora Mónica) – A diferença essencial, funda-se no conhecimento do resultado!

Contratos aleatórios
Aleatórios, são os contratos em que uma prestação pode deixar de existir em virtude de um
acontecimento incerto e futuro (que não é uma cláusula condicional 93!). Relaciona-se mais
com a imprevisibilidade das prestações de coisas futuras, admitidas em nosso ordenamento
jurídico – Art. 399º - com algumas particularidades – Art. 408º nº2
Exemplos:

93
Um dos requisitos para a existência da clausula condicional, é a subordinação do negócio jurídico a um
acontecimento incerto e futuro feita pelas partes – sua vontade!
-São os casos, nos contratos de compra e venda, quando se compra coisa incerta
(indeterminada) ou futura (Art. 408º nº2) - a produção do ano que vem de um campo de trigo/de
um laranjal etc, que pode eventualmente existir, se o campo produzir o trigo/laranja, ou deixar
de existir, caso não produza. Não se sabe! A prestação poderá existir ou não, é aleatório94!
-É ainda o caso dos contratos de seguro, em que não se tem certeza sobre a contraprestação
do segurador! Ela só será efetuada na ocorrência de um evento futuro (no seguro contra
incendio, por mais que já tenha sido contratado, a indenização só será paga se a coisa se
incendiar)
Contratos comutativos
São os contratos em que os contraentes já sabem, desde o momento da sua celebração, os
riscos envolvidos e os desdobramentos do negócio. (Locação – Senhorio já sabe que terá de
proporcionar o gozo da coisa, e o arrendatário sabe que terá de pagar uma quantia
determinada)

 Contratos com clausula a favor de terceiro (Uma das exceções ao princípio da


relatividade contratual)

Noção – São espécies contratuais em que um dos contraentes (o promitente) atribui, por
conta e à ordem do outro (promissário), uma vantagem a um terceiro (o beneficiário), estranho
a relação contratual!95

É uma das modalidades contratuais que, nalguns aspetos, mais interesse teórico reveste.

Enquanto que a maioria dos contratos, produzindo efeitos relativos, apenas entre os
contraentes, podem ser representados esquematicamente por uma linha, onde nas
extremidades encontram-se cada uma das partes, o contrato a favor de terceiro, tem de ser
necessariamente expresso por uma figura triangular, ficando em cada vértice os intervenientes
na relação contratual.

NOTA: Embora os contraentes sejam apenas dois, cada um dos intervenientes se depara com
dois outros interessados.

94
depende do acaso ou de circunstâncias imprevisíveis
95
Os dois contraentes – temos o promitente, a pessoa que promete atribuir uma vantagem/ O estipulas ou
promissário – pessoa a quem, perante quem ou a ordem da qual a promessa é feita / E por último, muito
importante neste tipo contratual, apesar de já fora dos contraentes, temos o terceiro beneficiário da vantagem,
que adquire o benefício, em regra desde a celebração do contrato, de forma direta!
EXEMPLOS:
Contratos de seguro!
A é o maior amparo de B. Quer assegurar o futuro deste para além de sua morte.
No entanto, não possui muito dinheiro e então, celebra com uma companhia de seguros, um
contrato de seguro a favor de B

*Neste caso, os contraentes de facto são A – o segurado – e a companhia de seguros C


O beneficiário do contrato, é o B!
Ou ainda:
Sr. C doa um prédio ao Sr. D, com o encargo do donatário pagar ao sr. E, uma pequena
pensão vitalícia. (renda vitalícia/ou ainda temporária)
*Contraentes de facto, são o Sr. C e o Sr. D
O beneficiário é o Sr. E – do direito de reclamar o pagamento da pensão
Ou ainda:

Sr. E, está obrigado para com o Sr. F a entregar determinada mercadoria. Então o que faz é
celebrar um contrato com uma empresa transportadora, para levar a mercadoria até o domicílio
do credor.

Contraentes de facto – Sr. E e empresa transportadora


Beneficiário – Sr. F, credor do Sr. E

IMPORTANTE SALIENTAR: Não é um contrato regulado! É uma cláusula! Contratos de que


podem eventualmente constar uma cláusula a favor de terceiro! (não confundir com a epígrafe
de subsecção)

Em regra, a “VANTAGEM” que é atribuída nestes contratos, ao terceiro beneficiário estranho a


relação contratual, traduz-se numa prestação assente sobre o respetivo direito de crédito
(gerado entre os contraentes – ele ganha o direito de crédito)! No entanto, poderá consistir
ainda na libertação de um débito, na constituição, modificação ou extinção de um direito real,
na liberação de algo que onere sua propriedade etc
Em todo o caso, o essencial da figura dos contratos a favor de terceiro, é que:
-Os contraentes procedam com a intenção de atribuir, através dele, uma vantagem a
terceiro, independentemente de qual seja, desde que gere uma atribuição patrimonial imediata
para o beneficiário.

- Terceiro - não poderá ser APENAS, um mero destinatário da vantagem ou o seu beneficiário
indireto! O terceiro precisa necessariamente ser o titular do direito a vantagem, o beneficiário
direto da atribuição nascida do contrato.

 Contratos para pessoa a nomear – Artigos 452º e ss

DEFINIÇÃO: Espécie contratual em que uma das partes (“Amicus elegendo”) se reserva a
faculdade de designar uma outra pessoa (“Amicus electus”) que assuma sua posição na
relação contratual, como se o contrato tivesse sido celebrado com esta última.

EXEMPLO:
O senhor C possui uma procuração do senhor D, para poder adquirir um determinado quadro
precioso. (D tem assim poderes para comprar, adquirir
Sucede que o Senhor C não deseja ir, não quer aparecer ostensivamente na celebração do
negócio, por receio justificado.
Ora neste caso, D poderá celebrar incluir uma cláusula para pessoa a nomear

Esta tipologia de contratos constitui dentro da legislação portuguesa, uma grande inovação
introduzida pelo código civil! É extremamente útil e necessário na vida prática!

Não há nestes, contrariamente ao que acontece nos contratos com clausula a favor de terceiro,
nenhum desvio ao princípio da relatividade contratual!

Os contratos para pessoa a nomear produzem todos os seus efeitos apenas entre as
partes, entre os contraentes! A única coisa que acontece é que:
-Enquanto não houver designação por parte do “amicus elegendo” do amicus electus”, os
contraentes serão apenas os primeiros outorgantes do contrato.

-Depois da designação do “Amicus electus”, o contraente passa a ser o anterior e este.


Isto para realçar que: Os efeitos serão sempre relativos! “Inter Partes”. A única coisa a alterar
serão as partes contratuais!

a) Regime aplicável

Desde que um dos contraentes se reserve, perante a outra parte, a faculdade de nomear um
terceiro como titular do contrato, seguir-se-á neste acordo (contratos com cláusula para pessoa
a nomear) para a declaração de nomeação/ou reserva de nomeação!

Artigo 452º nº2 – Reserva de nomeação – que as mais das vezes será utilizada no âmbito da
compra e venda – não é admitida nos casos em que a lei afasta a representação, nem
naqueles em que é indispensável a determinação dos contraentes96.

Artigo 453º - A declaração de nomeação deverá, para ser considerada válida, ser feita por
documento escrito97 e emitida dentro do prazo convencionado ou, na falta estipulação das
partes, dentro dos 5 dias subsequentes à celebração do contrato.98

Feito isto, para que o ciclo contratual se feche novamente, precisa ainda a declaração de
nomeação ser integrada, sob pena de ineficácia, do instrumento escrito de ratificação ou pela
procuração anterior à celebração do contrato (Artigos 453º e 454º)

96
Nestes últimos, avultam-se oc casos de contratos que por sua própria natureza, são efetuados “intuitu personae”
(contratos que são realizados levando-se em consideração a pessoa da parte contratada. Baseiam-se, geralmente,
na confiança que o contratante tem no contratado. Só ele pode executar sua obrigação ex. doações, contratos
gratuitos em geral, negócios jurídicos familiares etc)

97
Documento escrito que se exige aliás, tanto para a declaração de nomeação (453º nº1) como para a ratificação
por parte da pessoa nomeada (Artigo 454º). Atenção ao 454º nº 2 que atenta para o facto de a ratificação
acompanhar, em regra, o regime de formalidade do contrato

98
Um prazo supletivo um tanto curto!
Feita a nomeação nos termos acima prescritos, os efeitos do negócio vão processar-se tal
como se a pessoa nomeada fosse o contraente originário, adquirindo o nomeado, com eficácia
retroativa, todos os direitos e obrigações emergentes do contrato para o lado da relação em
que fica investido!

Na falta de nomeação, os efeitos do negócio vão produzir-se relativamente ao contraente


originário, desde que não haja estipulação das partes em contrário (Artigo 455º)

A fim de que a nomeação da pessoa possa produzir efeitos relativamente a terceiros, e estando
o contrato sujeito a registo, admite-se a inscrição em nome do contraente originário, com
indicação da cláusula para pessoa a nomear, e a inscrição subsequente

 Contratos com eficácia Real

a) – Princípio da Transmissão imediata do direito real – A regra do Art. 408º

É um facto que os CONTRATOS, constituem a fonte mais importante de obrigações! Apesar de


não ser a única!
Também é preciso notar que com a celebração e eventual cumprimento do contrato, não se
constituem apenas direitos obrigacionais! O contrato não é responsável apenas, pela
constituição, modificação ou extinção de relações jurídico-obrigacionais!

São também por força dos contratos que nascem relações jurídico-familiares (Arts. 1576º e
1577º) direitos sucessórios (Arts. 1700º e ss) e ainda, direitos reais!

*A este respeito: Artigo 408º CC: Constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa
determinada dá-se por mero efeito do contrato!99

- Com a exceção colocada pelo nº 2 do mesmo artigo! Contratos de alienação de coisas


futuras ou indeterminadas!

EXEMPLO PRÁTICO:

Se o Sr. A vende ao Sr. B um bem móvel ou imóvel – contrato de compra e venda!

Por força do contrato – surgem as obrigações imediatas – tanto para A – entregar a coisa –
como para B – pagar o preço.

99
Não era assim ao tempo dos romanos, e não é ainda no direito Brasileiro, no direito espanhol e nem no direito
Alemão. No direito romano, quer as prestações tivessem por objeto uma coisa certa/determinada, quer recaíssem
sobre uma coisa indeterminada, o contrato de alienação/transferência da coisa, não envolvia a translação do
domínio, do direito de domínio sobre a coisa!
Em consequência do contrato de alienação, nascia uma obrigação, “de dare” destinada a transferir o domínio
sobre a coisa para o adquirente.

NOTA: No direito vigente português – Art. 408º CC, tal como na legislação anterior – Art. 715º do código de
Seabra), a constituição ou transferência de direitos reais sobre determinada coisa dá-se – opera-se em regra – por
mero efeito do contrato.

Ou seja?

Atualmente, em contraste com o direito romano, a prestação da coisa – e já que a transferência/constituição do


direito real dá-se por mera celebração do contrato – corresponde a uma mera obrigação de entrega da coisa,
tendo por finalidade a transmissão da posse (visto que a transferência do domínio ou constituição doutro direito
real já se obteve – com uma “eficácia espiritual” da mera celebração do contrato!
No entanto, independentemente do cumprimento das obrigações, o livre acordo das partes –
mera celebração do contrato – é transmitido do vendedor para o comprador o domínio sobre a
coisa!

A todos os contratos com este efeito, dá a doutrina o nome de contratos com eficácia real ou,
de forma mais simples, contratos reais.

b) A reserva de propriedade – enquanto exceção ao princípio!

O princípio da transferência imediata do direito real constitui a regra no âmbito dos contratos de
alienação de coisa determinada/presente, como dita o Art. 408º nº1.

Mas é preciso ter em atenção que esta não é uma disposição imperativa. É uma mera regra
supletiva, que as partes podem sim afastar, por exemplo, socorrendo-se do uso de uma
cláusula de reserva da propriedade!100

Artigo 409º do Código civil – A reserva da propriedade, consiste na possibilidade, conferida


ao alienante de coisa determinada, de manter na sua titularidade o domínio da coisa, até ao
cumprimento (total ou parcial) das obrigações que recaiam sobre a outra parte ou até a
verificação de outro qualquer acontecimento.
Para que a cláusula tenha efeito relativamente a terceiros, quer se trate de coisas imóveis ou
móveis sujeitas a registo, será necessário que o direito emergente da cláusula tenha sido
inscrito em registo (Art. 2º nº1 alínea v) )

Tendo a alienação por objeto coisas móveis não sujeitas a registo, a reserva vai valer, ainda
que relativamente a terceiros, por simples convenção das partes.

100
Naturalmente, é um elemento acessório dos negócios jurídicos que será de considerável utilidade em vendas a
prestações ou vendas com espera de preço.
 Contratos-Promessa

Noção Genérica – Convenção pela qual ambas as partes, ou apenas uma delas, se obrigam,
dentro de certo prazo ou verificados determinados pressupostos, a celebrar determinado
contrato.

E porque isto?

Poderia questionar-se o porque da existência desta figura! Ora, pode suceder, e não raras
vezes realmente sucede, que as partes desejam celebrar um contrato, mas por eventualidades,
quaisquer factos da vida, não podem celebra-lo no exato momento! Então realizam a promessa
contratual e, durante o certo período, conseguem o que precisam, para que assim celebrem
seu contrato-definitivo!101

Exemplo:
Estão à espera do consentimento da outra parte (A pensar no caso dos cônjuges)
Carecem de um determinado documento (Uma licença por exemplo)
Falta capital! (Escrituras públicas custam! Ou então A contraparte não está interessada a
vender a crédito)

O contrato promessa cria – para um ou as duas partes – a obrigação de celebrar um contrato,


de emitir uma declaração negocial correspondente ao que se chama contrato-prometido!

Portanto, a obrigação assumida por um –no caso da promessa unilateral - ou por ambos os
contraentes, nos contratos-promessa, tem por objeto uma prestação de facto positiva – um
facere

101
Sem contar que a promessa-contratual ainda leva a vantagem de se poder voltar atrás – ainda que com
consequências!
E o direito correspondente, traduz-se numa legítima pretensão (que é tutelada!)

De contratar! Celebrar um contrato!

Ainda sobre os contratos-promessa, de referir que, tal como sucede na maioria dos outros
contratos, há uma nomenclatura específica para as partes:

-PROMITENTES102

NOTA: Promitentes que cumprem com os contratos, com a obrigação são chamados
promitentes FIÉIS! Contrariamente, quando estes não cumprem, são chamados promitentes
FALTOSOS!

a) Modalidades de Contratos-Promessa

-Formais/consensuais – formais (os que possuem eficácia real –precisam seguir sempre forma
– 413) há outros que não exigem forma!

-Monovinculativos(unilaterais)/bivinculativos – Monovinculativos, os que apenas um dos


promitentes fica obrigado a contratar. Obriga a celebrar o contrato definitivo. Bivinculativo
(bilateral) os que ambos os promitentes vinculam-se a celebrar contrato definitivo.

-Com eficácia meramente obrigacional – só produz efeitos inter partes /-Com eficácia real –
Produz efeitos relativamente a terceiros – é oponível

102
No âmbito da compra e venda, diz-se promitente vendedor e promissário comprador
b) Requisitos de Forma – O princípio da Equiparação

ATENÇÃO - Duas coisas diferentes:

-CONTRATO-PROMESSA de contratar

-CONTRATO-PROMETIDO ou definitivo

QUID iuris quanto as diferenças de regime aplicável entre uns e outros?

Art. 410º Fixa o chamado princípio da equiparação!

Segundo este princípio, deve-se aplicar como regra ao contrato-promessa as disposições


relativas ao contrato-prometido.

Valem para o contrato promessa assim, além das normas comuns relativamente aos contratos
em geral, estipuladas na parte geral (capacidade civil, vícios de vontade, resolução etc)
algumas das normas específicas do contrato em específico – o contrato definitivo!103

Pode-se dizer, em síntese, que por força do princípio da equiparação, aplicam-se ao contrato-
promessa as disposições gerais aplicáveis a todos os contratos e o regime do contrato
definitivo, tendo duas grandes exceções!

-Uma delas, respeitante as disposições sobre a forma do negócio definitivo


103
Por exemplo, no caso mais comum de contrato definitivo – uma compra e venda – iriam valer as normas
relativas a capacidade dos contraentes, proibições de aquisições, relativamente a interpretação e integração do
negócio, quanto a disponibilidade dos direitos etc
-A outra, refere-se a todas as disposições que por sua razão de ser, não se podem considerar
extensíveis ao contrato-promessa.

(1) Forma

Relativamente a forma, a solução aplicável ao contrato-promessa traduz-se nos seguintes


termos:

1.1 Se para o contrato prometido/definitivo, a lei exigir documento (autêntico ou particular),


como acontece na compra e venda ou na doação de bens imóveis (Art. 875º e 947º) o
contrato-promessa apenas será considerado válido se constar de um documento escrito,
devidamente assinado pelos promitentes (nos termos do Artigo 410º nº 2)

1.2 Se o contrato-promessa for relativo a celebração de contrato oneroso de transmissão ou


de constituição de direito real sobre edifício (ou de fração autónoma) já construído, em vias de
construção ou que deva vir a ser construído*, o documento escrito vai necessitar de ter o
reconhecimento presencial das assinaturas dos outorgantes (1), bem como a certificação
notarial da existência da licença de utilização ou de construção (2).104 (410º nº 3)
104
Licença de construção em Portugal: Plano de Informação Prévia
Antes de avançar com a construção de uma casa nova em Portugal, deve começar por pedir um plano de
informação prévia (PIP) à Câmara Municipal onde comprou o seu terreno, de modo a garantir a viabilidade de
construção. 

Através deste pedido à Câmara, onde deverá detalhar a localização do terreno, bem como o que pretende
construir, irá obter um documento informativo da parte desta autoridade, que lhe comunica se está ou não
autorizada a construção no terreno em questão, bem como eventuais condicionamentos ou restrições à
construção.

De acordo com o Decreto-Lei nº 555/99, “a realização de operações urbanísticas depende de licença, comunicação
prévia com prazo, adiante designada abreviadamente por comunicação prévia ou comunicação, ou autorização de
utilização, nos termos e com as exceções constantes da presente secção”.

Para que a Câmara considere que há viabilidade de construção, o terreno para construção tem de estar classificado
como terreno com permissão para construção de imóveis de habitação no Plano Diretor Municipal. O impresso a
entregar na Câmara está disponível no próprio município. O tempo de resposta demora entre 20 a 30 dias.

Projeto de arquitetura
Após ter autorização de construção da Câmara, passa-se ao levantamento topográfico e a um projeto de
arquitetura, que também têm de ser, mais uma vez, aprovados pela autarquia. 
Aprovados estes documentos, seguem-se os projetos de especialidades para os esgotos, água, gás, eletricidade e
comunicações. A Câmara analisa os projetos de obras de edificação e atribui (ou não) a licença de construção.

Livro de obra
NOTAS A FAZER RELATIVAMENTE A ESTE PONTO:

É preciso ter muita atenção quando a lei se refere aos prédios. Encaixam-se no âmbito deste
artigo sim, os prédios construídos, os prédios em construção, mas já não os prédios a
construir!

PRÉDIOS A CONSTRUIR = NÃO SÃO PRÉDIOS AINDA! É um terreno que simplesmente tem
viabilidade para construir! Não há qualquer construção! futuramente se pretende construir – E
mais do que isto: No momento em concreto não existe licença de construção/quanto menos de
utilização e portanto, não se aplicará o nº 3 do 410.

*É uma pegadinha frequente em obrigações!

410º º3 – Aplicável a terrenos com projeto aprovado! Já construídos em construção. Impõe dois
requisitos: reconhecimento presencial das assinaturas dos outorgantes105 (1), bem como a
certificação notarial da existência da licença de utilização ou de construção (2)

A tão desejada licença de construção da Câmara é o cartão verde para avançar com a construção. É então hora de
procurar um empreiteiro que ficará responsável pela obra e pelo Livro de Obra. Cabe ao engenheiro civil a função
de supervisionar a obra e atualizar o Livro de Obra com todas as informações atualizadas sobre a construção.

Licença de utilização
Terminada a construção, falta ainda regressar à Câmara para uma última licença, a mais importante de todas: a
licença de utilização. Só com esta autorização na mão, poderá mudar-se para a casa nova. 
Caso a obra tenha terminado sem alterações ao projeto inicial, pode pedir a licença de habitação, juntando as
vistorias e as certificações de água e esgotos. Para obter esta última licença tem de dirigir-se aos serviços de
urbanismo da Câmara Municipal. E, claro, tudo isto tem custos.

105
Outorgante é o interveniente como interessado com escritura pública, promessa, ou qualquer outro contrato.
Outorgante é aquele que concede, enquanto que outorgado é quem recebe.
1.2 Se o contrato-prometido estiver subordinado a qualquer outra formalidade, que não seja a
redução a documento106, vale para a respetiva promessa a regra geral da liberdade de
forma (Art. 219º CC)

(2) Artigo 411º - A promessa Unilateral

Há casos de contratos-promessa, em que ambos os contraentes se obrigam, comprometem-se


a celebrar futuramente um contrato! Em casos como estes, diz-se que são contratos-promessa
bilaterais, ou de forma abreviada, promessas bilaterais.

Mas há ainda, por outro lado, casos de contratos-promessa em que apenas um dos
contraentes obriga-se, compromete-se a contratar futuramente, e ao outro apenas interessa,
compreensivelmente o estabelecimento de tal vínculo. Nestes casos, estamos diante das
chamadas promessas-unilaterais, ou contratos-promessa unilaterais!

Exemplo:
Sr. A está bem disposto para negociar/vender uma joia ao Sr. B por um determinado preço.

O sr. B naquele momento ainda não sabe se poderá ou se lhe convirá comprar, no entanto,
interessa-lhe por fundadas razões (as vezes para acautelar-se de subidas de preço) vincular
desde já o proprietário da coisa para a hipótese do contrato lhe convir!

Artigo 411º Estipula claramente a validade dos contratos-promessa unilaterais (contrariamente


ao código de Seabra 67, que fazia alusão apenas aos casos de promessas bilaterais de
compra e venda.

NOTA: Nos termos do Artigo 411º, sempre que o contrato-promessa vincular apenas uma das
partes, e não se fixar o prazo dentro do qual o vínculo é eficaz, pode o tribunal, a

106
Importante o código do notariado e as disposições do código civil, artigos 362º e ss. Os documentos escritos
lavrados pelo notário, ou em que ele intervém, podem ser autênticos, autenticados ou ter apenas o
reconhecimento notarial.

2 - São autênticos os documentos exarados pelo notário nos respetivos livros, ou em instrumentos avulsos, e os
certificados, certidões e outros documentos análogos por ele expedidos. (De encontro com artigo 363º nº2)

3 - São autenticados os documentos particulares confirmados pelas partes perante notário.

4 - Têm reconhecimento notarial os documentos particulares cuja letra e assinatura, ou só assinatura, se mostrem
reconhecidas por notário. (Atualmente também advogados reconhecem assinaturas!)
requerimento do promitente, fixar à outra parte um prazo para o exercício do direito, findo o
qual este caducará.

(3) Artigo 413º Admissão de eficácia real ao contrato-promessa107

Em regra, o contrato promessa, tal como a generalidade dos outros tipos contratuais tipificados
na lei, apenas produz efeitos relativos ou se assim quisermos – “inter partes”. (Indo de acordo
com o princípio da relatividade contratual Art. 406º n2)

No entanto, o artigo 413º do código civil admite a possibilidade das promessas – quer
unilaterais quer bilaterais – de constituição ou transmissão de direitos reais sobre bens imóveis
ou móveis sujeitos a registo, obterem eficácia real! (novamente inovando relativamente ao
anterior código que apenas admitia a possibilidade de obter efeitos relativos)

As partes podem sim o fazer mediante declaração expressa e inscrição no registo! Desde
que observados os pressupostos:

Nº1 – Primeiramente será preciso que se encaixe/enquadre no âmbito deste número

Nº2 - Enquadrado o nº1, o nº2 manda observar:

-Deverá constar de escritura pública/ou documento particular autenticado a promessa a que as


partes atribuam eficácia real, salvo disposição especial em contrário! – Primeira Parte

107
Relativamente estes. Os direitos do beneficiário de um contrato-promessa com eficácia real, são direitos reais
de aquisição – conferem ao seu titular a possibilidade de pelo seu exercício, vir a adquirir um direito real sobre
determinada coisa.
-Quando a lei não exija estas formalidades para o contrato prometido, será suficiente um
documento particular com reconhecimento da assinatura da parte que se vincula (no caso de
promessa unilateral) ou de ambas (se for promessa bilateral) – Segunda parte

Na falta de qualquer dos requisitos exigidos, o contrato-promessa ainda que válido, terá
eficácia meramente obrigacional!
São em casos como estes, que mais acentua-se sua eficácia relativa. Sendo obrigacional, os
direitos nascidos emergentes do contrato-promessa não valem contra terceiros, não são
oponíveis, muito menos pode ser lhes exigido alguma indemnização pelo facto de sua violação.

Por outro lado, se os requisitos forem todos observados, a promessa-contratual, enquanto não
for revogada, declarada nula ou anulada ou não caducar, vai prevalecer sobre todos os outros
direitos (de crédito ou reais) que venham a ser constituídos posteriormente relativamente à
coisa, tudo isto se passando relativamente a terceiros.

(4) Sinal – Artigo 440/441/442

DEFINIÇÃO – O sinal consiste na coisa (poderá ser dinheiro ou outra coisa fungível ou não
fungível) que um dos contraentes entrega ao outro, no momento da celebração do contrato
ou em momento posterior, como:

a) Prova da seriedade do seu propósito negocial e garantia do seu cumprimento


b) Como antecipação da indemnização devida ao outro contraente (na hipótese do autor do
sinal ter se arrependido de realizar o negócio e decidido voltar atrás)

Podendo esta mesma coisa coincidir, ou não, no todo ou em parte, com o objeto da prestação
devida.

- No primeiro dos casos chama-se o sinal de confirmatório (ou as “arras” como antigamente)
108

108
sinal dado para segurança de um contrato;
-No segundo caso, o sinal chama-se penitencial, para significar que representa a penitência ou
castigo do arrependimento faltoso!

 Pactos de Preferência (Artigos 414º e ss)

Conceito: Contratos pelos quais alguém assume a obrigação de, em igualdade de condições,
escolher determinada pessoa (a outra parte ou terceiro) como o seu contraente, no caso de se
ter decidido celebrar determinado negócio!

Deste contrato nasce – De um lado uma obrigação à preferência e de outro lado um direito de
preferência!

Em termos simples, é o acordo através do qual alguém (o obrigado) se obriga a dar preferência
a alguém (o preferente) na venda de uma determinada coisa, no arrendamento de um imóvel, o
aluguer de um carro, etc.

Exemplo: Sujeito A, está imprevistamente necessitado de dinheiro. Sucede que decide vender
um prédio.
No entanto, estando muito confiante das melhoras de sua situação, apenas deseja faze-lo no
caso do comprador, Sr B (o comprador atual), lhe prometer que, no caso de mais tarde este
decidir alienar, preferirá o A na compra, em igualdade de preço, a qualquer outro comprador!

Os pactos de preferência são figuras muito vulgares nos contratos de compra e venda! Mas
também poderão ter como objeto outros tipos contratuais tais como o arrendamento, o aluguer,
contrato de sociedade etc
Dum modo geral poderá se dizer que os pactos de preferência são figuras admitidas
relativamente a compra e venda (Art. 414º) e relativamente a todos os contratos onerosos
em que tenha sentido a opção por certa pessoa sobre quaisquer outros concorrentes (Artigo
423º)

Dos pactos de preferência nascerá uma obrigação típica:

Para uns, a obrigação de não contratar com um terceiro

Para outros, a obrigação de, querendo contratar, o obrigado escolher a contraparte, de


preferência a qualquer outra pessoa.

a) Requisitos e efeitos

Para os pactos de preferência, como legítimos contratos que são, valem as regras fixadas na
parte geral do código civil relativamente os requisitos de validade dos negócios jurídicos!
(Ordem pública, bons costumes etc, requisitos previstos no 280º/281º/282º)

Quanto a forma, dependerá dos casos. Se a preferência disser respeito a um contrato para cuja
celebração a lei exija documento (autêntico/ou particular), como seja no caso da venda de
imóveis, o pacto apenas será considerado válido se constar de documento escrito109,
assinado pelo obrigado (Quem se obriga a dar preferência)

Não é necessária assinatura da outra parte (Preferente)

Tudo isto trata-se das soluções decorrentes do disposto no Art. 415º1 manda aplicar – em
termos de forma – ao pacto de preferência, o disposto no artigo 410º nº2.

Relativamente aos efeitos. O contrato promessa apenas produz, em regra, e aliás, em


conformidade com o princípio da relatividade contratual, efeitos relativos ou melhor, “inter
partes”.

109
A este respeito, Artigos 362º e ss
No entanto, nada obsta que uma preferência venha a ter eficácia “erga omnes”, efeitos
absolutos – relativamente a terceiros!

É o que acontece por exemplo, nas preferências que reportam-se a um contrato que incide
sobre bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo, desde claro, que se verifiquem os
requisitos exigidos para o caso paralelo do contrato-promessa, como consta do Art. 421º nº 1.

Sempre que assim suceda, a preferência vai se tornar num verdadeiro direito real de
aquisição!110

A preferência passará a ser oponível a eventuais terceiros adquirentes e será igualmente


atendível nos casos de processos de execução, ou liquidação tal como a falência e a
insolvência.

b) Exercício de direitos de preferência

110
Desde que, a preferência se destine à aquisição de um direito real!

Você também pode gostar