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Entende-se que só
1. Caracterizar o direito de exoneração à luz dos seus principais elementos poderá ser utilizada a maioria de ¾ prevista no art.3º/5, em vez da maioria, quando
definidores e distintivos. tal esteja previsto no contrato de sociedade. Salvo esta situação, não podemos
Caráter unilateral – direito do sócio que se impõe à vontade da sociedade; falar em exoneração com base no art.3º/5 para as SNC.
corresponde a uma forma de o sócio abandonar a sociedade sem transmitir as art.120º, 135º e 137º - também estas causas de exoneração só valerão se previstas
participações sociais; nasce na esfera jurídica de um sócio mas depende de uma no contrato de sociedade.
determinada causa; o reembolso ao sócio que se exonera do valor real das suas Art.161º/5 – nada nos diz quanto ao sentido de voto. O legislador parece querer
participações socais (há aqui uma tutela do sócio – na medida em que este dizer que qualquer que seja o sentido de voto, o sócio poderá exonerar-se mais tarde.
recupera o seu investimento); o direito de exoneração garante a subsistência Crítica: Se o sócio votar a favor, não faz sentido que posteriormente venha a sair. Está
da sociedade; se o sócio tem direito ao reembolso, está em causa um direito que aqui em causa um abuso de direito – non venire contra factum proprium.
nasce sobre partes sociais liberadas; o exercício deste direito é feito de forma total Nota: partilha da quota de liquidação – art.156º: feita na proporção das suas
– ou o sócio sai totalmente ou não sai (não há exoneração parcial); é um direito participações sociais; a partilha das quotas de liquidação ocorre na sequência da
imperativo; direito de exercício individual (e não das minorias). dissolução da sociedade (arts.141º e 142º). Se depois da partilha da quota de
liquidação se verifica a extinção da sociedade.
2. Legitimidade para o exercício do direito de exoneração consagrado na parte geral SQ
do CSC por contraposição à legitimidade reconhecida no âmbito específico das Art.240º - compatibiliza-se com o art.45, com o art.120º, 105 e 137º; porém,
sociedades em nome coletivo e das SQ e das SA. colocam-se questões a propósito do art.3º/5. O art.240º prevê como causa
Na parte geral do CSC há um conjunto de normas que consagram causas de especifica de exoneração a transferência da sede para o estrangeiro. Contudo,
exoneração gerais. Estas aplicam-se a todas as sociedades, incluindo SA. aqui exige-se que o sócio tenha votado expressamente contra. Ao invés, do
Apesar de este direito não estar expressamente previsto para as SA, nos termos do art.3º/5 resulta que basta que os sócios não tenham votado a favor. Há quem
art.3º/5, os sócios de uma SA podem exercer o direito de exoneração. Contudo, para entenda que o art.3º/5 se aplica à sede efetiva e o art.240º à sede estatutária.
este tipo societário não está regulamentada a forma como deve ser exercido este Contudo, a professora não concorda com este entendimento. O art.240º (como
direito. Desta forma, colocar-se-iam um conjunto de questões que ficariam por norma especial) vem antes afastar o regime geral do art.3º/5 – no âmbito das SQ,
resolver. Tem-se entendido ter lugar a aplicação analógica, com as necessárias dada a sua natureza personalística, entende-se como uma obrigação dos sócios,
adaptações, do regime que está previsto para as SQ. em função de um dever de lealdade, de estarem presentes na tomada da
deliberação sobre a alteração da sede da sociedade.
Há normas específicas quanto à questão da legitimidade para as SNC e SQ. Porém, Como compatibilizar o art.240º com o art.161º/5? O art.240º determina que,
há também aqui questões que ficaram por resolver. Estas afastam todas as causas qualquer que seja o regresso à atividade, quer se tenha iniciado ou não a partilha, e
de exclusão que estão na parte geral? de o sócio ficar numa posição ou não inferior, se este tiver votado expressamente
contra, tem o direito de se exonerar. Se um sócio não tiver votado expressamente
SNC contra, já não poderá exonerar-se. O art.240º afasta a aplicação da norma geral do
art.161º/5.
Por exemplo, atendendo ao art.3º/5, este preceito não coincide com o art.194º,
3. Damos conta da existência de várias teorias a propósito do fundamento contrato de fim comum, a que corresponde uma organização económica com
jurídico do direito de exclusão: teoria da disciplina taxativa legal; teoria do certa estabilidade (uma empresa): a sociedade pode excluir um sócio que
poder corporativo disciplinar; teoria contratualista. prejudique a realização do fim comum ou não contribua para a sua prossecução,
Algumas teorias (já afastadas) sobre o fundamento do direito de exclusão: não cumprindo (com ou sem culpa) o dever geral de colaboração”.
Crítica: mais uma vez esta solução é entendida como uma sanção; o ato
Teoria da disciplina taxativa legal: o direito de exclusão é um poder disciplinar que constitutivo da sociedade é um contrato, mas este faz nascer uma pessoa jurídica
a sociedade tem. Esta teoria teve alguns apoiantes, mas foi afastada com base nos nova. A sociedade em si não é nenhum contrato.
seguintes argumentos:
1
não existe um dever de obediência do sócio à sociedade (pelo que esta não pode Teorias institucionalistas: reconhecimento da pessoa jurídica que nasce do
aplicar-lhe uma sanção); contrato, a qual merece tutela. Os interesses da sociedade sobrepõem-se aos
2
nem todas as causas de exclusão têm que ver com comportamentos de sócios (p.ex, interesses dos sócios. Se há um sócio que, com o seu comportamento grave e
o sócio quese torneincapaz podeserexcluídode umasociedade de pessoas–ratio: desleal, coloca em causa a conservação e funcionamento da sociedade, este
o interesse da sociedade sobrepõe-se aos interesses dos sócios; os sócios têm que deveria ser afastado.
poder confiar uns nos outros, já que colocam uns nos outros o risco do seu
património; se houver uma incapacidade, o incapaz vai passar a ser representado; 4. Principais diferenças entre regime de exoneração e de exclusão:
seria uma pessoa estranha a assistir às AG, a ter informações, etc – o que poderia
perturbar gravemente o funcionamento da sociedade). Um é um direito que o sócio exerce contra a sociedade; o outro é um direito
que a sociedade exerce contra o sócio;
Teoria do poder corporativo disciplinar: segundo esta teoria, a sociedade tinha um Em comum: saída do sócio, reembolso, e subsistência da sociedade; ambos
poder disciplinar sobre o sócio, porque, mais do que proteger o seu interesse28 recorrem frequentemente ao regime da amortização para a efetivação
(garantia da sua subsistência), estava a proteger um interesse público da saída.
(funcionamento da própria economia). Críticas:
Mais uma vez, não pode estar em causa uma sanção, já que há causas de exclusão que 5. Sociedade por quotas
não têm que ver com comportamentos do sócio; Desde logo, refira-se não faz muito sentido que a sociedade transfira a sua sede
A ideia de que a sociedade estaria a proteger um interesse público cai por terra já estatutária para o estrangeiro, mantendo cá a sua sede efetiva.
que, se assim fosse, então, em qualquer contrato económico, sempre que uma das A deliberação da transferência da sede da sociedade para o estrangeiro está sujeita ao
partes pusesse em causa a sua execução, teríamos de reconhecer à outra parte um quórum previsto no art.265º.
poder para a sancionar (fundamentando num interessepúblico). Nos termos do art.240º, o sócio somente pode exonerar-se com fundamento
na transferência da sede da sociedade para o estrangeiro quando, na deliberação
Teorias contratualistas: há um contrato, tendo os sócios que cumprir determinados para essa transferência, este tenha votado expressamente contra. Ora, in casu, o
deveres (p.ex, dever de boa fé). Quando essa boa fé não esteja a ser cumprida, há um sócio nem sequer participou nessa deliberação, pelo que, à luz do referido
incumprimento contratual, logo, a sociedade poderia excluir o sócio. preceito, parece não ter o direito de seexonerar.Estepreceitoafastaanormageral
O direito de exclusão fundamentado na natureza da sociedade “… como
do art.3º/5, nos termos da qual bastaria que o sócio não tivesse votado a favor da Nesses casos, a questão que se coloca é a de saber que regime se aplica: o que está
deliberação. Mesmo segundo quem entende que o art.3º/5 se aplica à sede efetiva previsto para essa exoneração (ex. art.240º) ou o art.105º?
e o art.240º à sede estatutária, não poderíamos, in casu, aplicar o art.3º/5, já que A própria fusão absorve essas causas de exoneração? A grande modificação está na
está em causa a transferência da sede estatutária. própria fusão, e não nas consequentes modificações que correspondem a causas de
Ademais, nos termos do art.240º/3, a comunicação da sua intenção de exonerar teria exoneração. Neste sentido, há muitos autores que entendem que deve ter
que ser feita por carta registada à gerência da sociedade. aplicação o regime da fusão (o normal de uma fusão é ser heterogénea), não
Causas de exclusão do sócio nas SQ: art.241º. Nos termos do art.242º, um sócio pode podendo os sócios pedir a sua exoneração com base nas causas
ser excluído da sociedade quando, com o seu comportamento desleal ou (consequências) que decorrem dessa fusão.
gravemente perturbador do funcionamento da sociedade, lhe tenha causado ou A pretende exonerar-se. O direito de exoneração permite a saída dos sócios, mas
possa vir a causar prejuízos relevantes. Desde logo, está aqui em causa uma causa de apenas nos casos previstos na lei. Nas SNC (sociedades fechadas, familiares), a saída
exclusão judicial, pelo que a exclusão do sócio não podia ser deliberada em AG. dos sócios está mais limitada.
Quando muito, podia serdeliberada a propositura de uma ação de exclusão judicial Em caso de fusão, o art.105º determina que apenas por estipulação da lei ou
do sócio, mas a própria exclusão não poderia ser deliberada pelos sócios. Uma vez contrato de sociedade, pode o sócio exonerar-se. Portanto, este preceito, por si só,
que estamos perante uma situação de conflito de interesses, o sócio estaria não consagra qualquer causa de exoneração. É ainda necessário que o sócio tenha
impedido de votar, mas não de participar na AG (art.248º/5). votado contra o projeto de fusão. Desta forma, uma vez que o sócio (A) votou a
Ora, o facto de o sócio ter comunicado ao gerente da sociedade a intenção de a favor do projeto de fusão, mesmo perante a existência de disposição em outra
abandonar (embora não tivesse direito de exoneração) não parece ser suscetível lei ou contrato de sociedade, o sócio (A) nunca poderia exonerar-se, mesmo
de causar prejuízos relevantes à sociedade, pelo que não faz sentido falar aqui do que( A) simplesmente não tivesse votado a favor (por exemplo, não tivesse votado),
direito de exclusão. não teria este direito, já que, nos termos do art.194º, se exige unanimidade. Nas
Em suma, uma vez que o sócio não tem o direito a exonerar-se nem a sociedade tem SNC os sócios estão mais protegidos pela regra da unanimidade (art.194º/1).
o direito de excluir o sócio, este não terá direito a qualquer reembolso da sua
participação social. Não obstante, o sócio tinha razão no facto de o reembolso ser Podem estabelecer-se cláusulas no contrato de sociedade sobre o direito de
feito nos termos do art.105º. exoneração. Contudo, in casu, a cláusula estabelecida no contrato de sociedade
seria nula (pela violação de uma norma imperativa – art.294º CC), já que não pode
6. Sociedade em nome coletivo haver uma desvinculação do sócio da sociedade sem qualquer motivo (art?). Este
Nota: O art.105º, por si só, não consagra nenhuma causa de exoneração. No entanto, regime é algo que podemos retirar de todo o regime da exoneração.
prevê que, caso a lei ou estatutos prevejam essa causa, a exoneração deve ser feita de Se existisse o direito de exoneração, o sócio teria, efetivamente, direito ao
acordo com o regime nele previsto. reembolso, calculado nos termos do art.105º, com referência ao momento da
A propósito da fusão, pode haver uma outra modificação (que ocorre por causa da deliberação de fusão.
fusão) que, essa sim, é já uma causa de exoneração – situações de fusões Em relação ao facto de A ser sócio da sociedade há mais de 20 anos, teríamos aqui uma
heterogéneas. causa de exoneração, nos termos art.185º/1/a). Só não seria assim se a sociedade
Ex.art.240º (para as SQ). tivesse previsto um tempo determinado para a sua exoneração (art.15º). portanto,
o sócio deveria invocar este facto, comunicando a sua intenção à sociedade, sociedade, ao ponto de esta entender que deve excluí-lo. Há, portanto, aqui uma
tornando-se a exoneração efetiva nunca antes de decorridos 3 meses sobre a causadeexclusão.
comunicação. Contudo, a exclusão pressupõe sempre uma deliberação da AG. Art.373º não o
consagra, mas cabe à AG a competência para todas as matérias que não são da
7. Sociedade anónima competência do conselho de administração. A decisão não poderia, portanto, ser
Art.45º/1 CSC – aplica-se às SA. Nos termos do art.45º/1, a coação pode ser invocada tomada pelo conselho de administração. Esta deliberação seria inválida –
como justa causa de exoneração pelo sócio atingido ou prejudicado, desde que se arts.410º e 411º.
verifiquem as circunstâncias, incluindo o tempo, de que, segundo a lei civil, A sociedade não pode excluir o sócio sem lhe entregar o valor das suas participações
resultaria a sua relevância para efeitos de anulação do negócio jurídico. Portanto, os sociais. O contrato de sociedade não pode fixar valor inferior àquele que é
requisitos a averiguar são os previstos na lei civil. estipulado pelo art.105º. O sócio tem sempre direito ao reembolso das
Pressupondo que esta causa existiu, o sócio tem um direito de se exonerar. Qual o participações sociais (por analogia iuris). O direito de exclusão não corresponde a
regime do exercício deste direito? Pode ser exercido no prazo de 1 ano, desde a uma medida sancionatória.
cessação do vício (art.287º CC). O sócio deixou passar 1 ano e meio. Contudo, não Neste caso, a lei não prevê para o acionista qualquer meio de reação contra a inércia
sabemos se este ano e meio decorreu desde o conhecimento do vício ou da sua da sociedade.
cessação – pelo que temos de colocar as duas hipóteses.
Atentemos, agora, ao facto de o sócio ter dirigido uma carta ao conselho de 9. Sociedade por quotas
administração. Tem aqui lugar a aplicação do art.50º/1, nos termos do qual a O regresso à atividade da sociedade dissolvida corresponde a uma causa de
exoneração tem que ser exercida judicialmente. Seria o tribunal a verificar se estaria exoneração expressamente prevista para as SQ no art.240º/1/a). Contudo, para
preenchida a causa de exoneração ou não. Não bastaria, por isso, que o sócio que o sócio possa exercer o seu direito, é necessário que tenha votado
dirigisse a carta ao conselho de administração. expressamentecontraadeliberaçãonaqualé aprovado o regresso à atividade. O
A lei não diz o que a SA pode fazer quando está em causa um direito de exoneração sócio R absteve-se de votar.
com base noart.45º.Contudo,oart.51ºdizquepode haveraquisição daquota pela
sociedade(asSA podem ter ações próprias – art.316 e ss). Coloca-se aqui a questão de saber como compatibilizar o art.240º com o art.161º/5.
O art.240º determina que, qualquer que sejaoregressoà atividade, quer se tenha
8. Sociedade anónima iniciadoou não a partilha, e de o sócio ficar numa posição ou não inferior, se
Desde logo, nas SA não podem ser realizadas entradas em indústria (Art.277º/1). este tiver votado expressamente contra, tem o direito de se exonerar38.
Contudo, o contrato de sociedade pode estipular obrigações acessórias, podendo Se um sócio não tiver votado expressamente contra, já não poderá exonerar-se.
já estas ser obrigações de prestações de serviço/conhecimento. Contudo, o Contudo, o art.161º/5 determina que se a deliberação foi tomada depois de
art.287º/4 determina que a falta de cumprimento não poderá pôr em causa a iniciada a partilha, o sócio poderá exonerar-se se a sua participação ficar
posição do sócio, a menos que tal seja previsto no contrato de sociedade (como relevantemente reduzida em relação à que anteriormente detinha. Mesmo que se
sucede in casu). entendesse que este artigo prevaleceria sobre o art.240º, não teria, in casu,
Ao incumprir a sua obrigação, o sócio pode prejudicar o funcionamento da aplicação, já que a partilha ainda não havia sido iniciada.
O art.240º afasta a aplicação da norma geral do art.161º/5. Desta forma, o sócio 11. Sociedade em nome coletivo
não poderia exonerar-se com base neste fundamento. Art.186º. Nas SNC podem ser realizadas entradas em indústria (art.20º e 178º). Quanto
O sócio invoca aqui a prorrogação do risco do seu investimento. Contudo, a outra ao diferimento das entradas (art.26º), as entradas em espécie nunca podem ser diferidas,
causa de exoneração prevista no art.240º/1/a) é a prorrogação da sociedade. em nenhum tipo societário. Quanto às entradas em dinheiro, só podem ser diferidas nas SA
Ademais, esta causa teria lugar apenas também se ele tivesse votado e SQ.
expressamente contra. Poderia estar aqui em causa o fundamento de exclusão previsto no art.186º/1/c).
Quanto ao facto de a sociedade nada ter feito, não se coloca qualquer problema. A ser esta a causa, a exclusão teria que ser deliberada pela AG, nos termos do
Como não há qualquer direito de exoneração, a sociedade pode nada fazer. Assim, art.186º/2. Cfr. art.186º/4 e 187º/2.
não faz sentido a pretensão de R requerer a dissolução administrativa da A estas deliberações aplica-se o disposto para as SQ (art.189º/1), pelo que P teria
sociedade. Esta pretensão só faria sentido se existisse um direito de exoneração, direito a star presente e participar em AG, mas não teria direito de votar
nos termos do art.240º/7. Cf. arts.240º/4 a 6. (art.251º/1/d) e 246º/1/c)).