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14ª AULA – SOCIEDADES LIMITADAS (continuação) Professora: Luciana Castro

A VONTADE DA SOCIEDADE
A sociedade limitada regular é uma pessoa jurídica e como tal, tem vontade própria, expressada pelos sócios em reuniões ou assembleias.
Quem exprime e põe em prática a vontade da sociedade são os administradores que têm capacidade gerencial.
Para as matérias de maior relevância, exige-se um encontro formal dos sócios para a deliberação.
Tais matérias são aquelas indicadas nos artigos 1.071 e 1.068, como, por exemplo, a aprovação de contas, modificações do contrato, fusões, nomeação de administradores e
fixação de sua remuneração, dentre outras matérias relevantes. Nesses casos, as deliberações dos sócios serão tomadas em reuniões ou assembleias.
Todavia, em qualquer caso, dispensa-se a assembleia ou a reunião se houver pronunciamento por escrito de todos os sócios (art. 1.072, § 3º, CC).
Qualquer que seja a forma para a deliberação, o Código Civil estabelece certos quóruns mínimos (art. 1.071 c.c. art. 1.076) que só podem ser aumentados pelos sócios, pois
tem o objetivo de proteger os minoritários.

REUNIÕES
 Formas mais simples de encontro dos sócios, podendo seguir as regras que sejam estabelecidas por eles;
 Utilizada em sociedades dotadas de poucos sócios, até 10 sócios;
 Grande margem de liberdade para sua disciplina no contrato social;
 Não há a necessidade de impor os requisitos e formalidades de uma assembleia, que são obrigatórias para as sociedades com mais de 10 sócios.

ASSEMBLEIA DE SÓCIOS
 Deve ser convocada pelos administradores e, subsidiariamente, pelos sócios ou pelo conselho fiscal, se houver (art. 1.073);
 A convocação da assembleia pelos sócios, individualmente falando, pressupõe o retardamento da convocação pelos administradores por mais de dois meses;
 Também poderá haver a convocação por sócios que representem 20% do capital social, no caso de não atendimento, em 8 (oito) dias, a pedido de convocação com
a indicação das matérias a serem tratadas;
 A convocação pelo conselho fiscal, se houver, se dará apenas no caso de retardamento da convocação anual, por mais de 30 (trinta) dias ou no caso de motivos graves
e urgentes (art. 1.069, V);
 A convocação deve ser realizada de forma a dar ciência inequívoca aos sócios da data, hora, local e relação das matérias a serem tratadas, para que eles compareçam
e possam defender seus interesses na formação da vontade social.
 Deve haver um procedimento legal para sua convocação:
Será realizada por meio de publicações na imprensa (art. 1.152, § 3º;
Há a dispensa da publicação se todos os sócios comparecerem ou se todos derem a ciência por escrito da realização da assembleia1.

Instalação da Assembleia: Regularmente convocada, a assembleia deve ser instalada, isto é, deve iniciar seus trabalhos, e para tanto se exige a presença de titulares de três
quartos do capital social, em primeira convocação2. Entrando em funcionamento, irá deliberar sobre as matérias constantes da ordem do dia, devendo ser presidida e
secretariada por sócios, escolhidos entres os presentes (art. 1.075).
1
Não havendo a ciência escrita da realização da assembleia, deve haver a publicação por três vezes de editais na imprensa oficial e em jornal de grande circulação, com antecedência mínima de
8 (oito) dias, contada da primeira publicação.
2
Não atingido tal quórum, haverá uma segunda convocação, pelo mesmo modo, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias, contada da primeira publicação, e a assembleia poderá funcionar
com qualquer número.
Deliberações: As deliberações da sociedade serão tomadas pelos votos dos sócios, contados de acordo com a participação no capital social (art. 1.010). O exercício do direito
de voto poderá ser efetivado pessoalmente ou por meio de procurador, exigindo-se que tal procurador seja outro sócio, ou um advogado3.
-Para a modificação do contrato social, a fusão, a incorporação, sua dissolução, ou a cessação do estado de liquidação, exige-se a aprovação de três quartos do capital social.
-Para a nomeação, destituição ou fixação de remuneração dos administradores, bem como ao pedido de recuperação judicial, exige-se mais da metade de todo o capital
social.
-Para a designação de administrador não sócio, enquanto o capital não estiver integralizado, exige-se a unanimidade.
-Para a destituição de administrador sócio, nomeado pelo contrato social e para a nomeação de administrador não sócio, quando o capital já estiver totalmente integralizado
exige-se o quórum de maioria de votos4 do capital social. Art. 1.063, § 1°, CC.
-Para as demais deliberações, exige-se a maioria dos votos dos presentes à assembleia, salvo quórum maior exigido pelo contrato social.

ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE
Esse órgão é o órgão administrativo da sociedade, que pode ser composto por uma ou por várias pessoas físicas, que tem como função interna administrar a sociedade
e, como função externa, manifestar, por meio de representação, a vontade da mesma. Pode ainda ter um regime complexo, similar ao que ocorre nas sociedades anônimas. A
administração da sociedade limitada pode denominar-se diretoria.
Segundo Rubens Requião: “o órgão executa a vontade da pessoa jurídica, assim como o braço, a mão, a boca executam a da pessoa física”. Assim, qualquer problema, como
a incapacidade ou a morte da pessoa física (órgão da sociedade que praticou o ato), não afeta sua existência e validade, porquanto se trata de ato da sociedade, simplesmente
manifestado por meio de seu órgão.

1 ou mais pessoas contrato social escolhidas ou


Cabe designadas destituídas número máximo de
sócios ou não (Art.1061) ato em separado pelos sócios em assembleia ou reunião de sócios 4 pessoas

Administrador é a pessoa que age em nome da sociedade (representante)


a lei não estabelece os limites da atuação, porém o contrato social pode limitar
ex: crio três cargos de administrador dentro da sociedade e por meio do contrato social estabeleço a função de cada um.
Aqui o próprio contrato limitou os poderes do administradores, que terão atribuições determinadas.

O administrador da sociedade limitada não pode ser pessoa jurídica, o que pode ser extraído do disposto no art. 997, VI, do Código Civil, que se aplica à limitada por força do
art. 1.054 do mesmo diploma legal.
Não havendo restrição no contrato social, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade, limitados às fronteiras do objeto social.
Os administradores devem atuar sempre no interesse social e não no individual.

Mandato do administrador prazo determinado fixado pelo pode ser retirado antes do tempo exceto adm. pública
Indeterminado contrato social podem ser reeleitos inúmeras vezes

3
Haverá aqui a constituição de um mandatário, que deve ter poderes especiais, para votar todas as matérias da ordem do dia, ou apenas algumas, tal qual se entende em relação às sociedades
anônimas.
4
A lei 13.792 alterou o então vigente parágrafo primeiro do artigo 1.063, inserido no capítulo da Administração das Sociedades Empresárias do Código Civil, assegurando a possibilidade de o
sócio, que represente mais da metade do capital da sociedade, destituir isoladamente o sócio minoritário do cargo de administrador, salvo se houver previsão diversa no contrato social. Antes
da vigência da nova lei, a destituição de administrador sócio eleito no contrato social dependia de aprovação de sócios ou sócio que representassem 2/3 do capital social.
Além da averbação no registro competente, quando a nomeação do
Junta comercial dever ser arquivados os atos condução do exercício do
administrador for feita em ato separado, seu termo de posse deverá constar do
recondução cargo de livro de atas da administração. Quando seus poderes cessarem, deverá haver
cessação administradores nova averbação, no prazo de 10 dias. Art. 1.062 e 1.063, § 2°, CC.

Atribuições dos administradores devem anualmente prestar contas aos sócios prazo: 4 meses após o término do exercício social.
apresentar balanço patrimonial e de resultados

Deveres 1 – Diligência – art. 1.011,CC Limites a serem respeitados


2 – Lealdade – art. 1.017, CC
3 – Obediência – art. 1.015, CC Lei
Contrato
Deliberação dos sócios

Responsabilidade dos Administradores (Teoria dos Atos Ultra Vires)


A regra geral é que o administrador da sociedade limitada não é responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão que
vier a ser praticado. Contudo, os administradores poderão ser civilmente responsáveis perante a sociedade e terceiros prejudicados, quando:
 ultrapassarem os atos regulares de gestão ou
 procederem com excesso de poder e/ou violação do contrato social ou da lei, causando prejuízos àqueles.

O Código Civil de 2002, consagrou no art. 1.015, parágrafo único, a Teoria dos Atos Ultra Vires (aqueles atos praticados “para além das forças”). Neste sentido, o excesso por
parte dos administradores enseja a responsabilidade pessoal do administrador que contratou em nome da sociedade, isto é, ele terá responsabilidade pelo ato e não a
sociedade.
De acordo com o artigo 1.015, parágrafo único do Código Civil, o excesso por parte dos administradores pode ser oposto a terceiros se ocorrer uma das seguintes hipóteses:
(i) se a limitação dos poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;
(ii) provando-se que era conhecida do terceiro; ou Além disso, defende-se que o ato ultra vires não é nulo,
(iii) tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade. ele apenas perde a sua eficácia.

A responsabilidade pela obrigação contraída é transferida da sociedade para o administrador, que passará a suportar esse ônus. Assim, essa teoria afirma que a sociedade não
se vincula se os atos foram evidentemente estranhos ao objeto social, ou seja, qualquer ato praticado em nome da pessoa jurídica, por seus sócios ou administradores, que
ultrapassasse seus poderes, é nulo. Ao terceiro, caberia apenas mover ação contra aquele que extrapolou os limites sociais.

O Enunciado 219, criado na III Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal determina que: “Está positivada a Teoria Ultra Vires no Direito brasileiro,
com as seguintes ressalvas:
(a) o ato ultra vires não produz efeitos apenas em relação à sociedade;
(b) sem embargo, a sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo;
(c) o Código Civil amenizou o rigor da Teoria Ultra Vires, admitindo os poderes implícitos dos administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os
quais não constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade (...)”.
CONSELHO FISCAL
O Conselho Fiscal é um órgão colegiado cuja competência é fiscalizar, supervisionar os atos da administração.
É elemento de apoio aos integrantes da sociedade, notadamente na identificação de eventuais falhas ou desvios de finalidades da administração.
Pela regra posta no artigo 1.066, sem prejuízo dos poderes da assembleia dos sócios, pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos
suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembleia anual prevista no art. 1.078.
De acordo com o diploma legal, não é obrigatório à instituição de um conselho fiscal na sociedade limitada. O legislador facultou e não obrigou. Porém, na hipótese de criação
do órgão, algumas condições devem ser atendidas:
a) no mínimo de três membros;
b) nomeação dos suplentes;
c) podem participar do conselho tanto sócios quanto não sócios, observando que os sócios que participam da administração da sociedade não poder compor o conselho;
d) os membros deverão ser residentes no País;
e) devem ser eleitos em assembleia.

ATENÇÃO: O conselho fiscal é órgão Facultativo na Sociedade Limitada


Obrigatório na Sociedade Anônima

Não podem participar do quadro de conselheiros: (art. 1.066, § 1º,CC)


a) os membros de órgão da sociedade e respectivos empregados;
b) os membros de sociedade por ela controlada e os respectivos empregados;
c) os empregados dos respectivos administradores;
d) o cônjuge;
e) os parentes dos administradores, até o 3º. grau.

Deveres 1-Deve primordialmente examinar os livros e papéis da sociedade trimestralmente, lavrando os pareceres que se fizerem necessários.
2-Deve opinar sobre a regularidade da gestão dos negócios no exercício social, em parecer que servirá de fundamento para a aprovação ou rejeição das
Art. 1069,CC contas dos administradores pela assembleia anual.
3-Deve denunciar as irregularidades que apurar para que sejam tomadas medidas necessárias, como por exemplo, a eventual destituição do administrador.
4-Deve convocar a assembleia dos sócios, nos casos de retardamento da convocação pelos administradores, ou nos casos de motivos graves e urgentes.

REFERÊNCIAS:
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa – volume 1 – 17. ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 1.
ROCHA FILHO. José Maria. Curso de Direito Comercial. vol. 1 - Parte Geral. Ed. Del Rey, Belo Horizonte, 1994.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria Geral e Direito Societário – volume 1 - 9.ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

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