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18ª AULA – REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA Professora: Luciana Castro

TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E CISÃO


Uma sociedade pode sofrer inúmeras mudanças na sua estrutura no decorrer de sua vida.
Essas mudanças podem lhe alterar a disciplina legal (transformação), ou até dissolvê-la (fusão, incorporação e cisão).
Tais operações podem envolver qualquer tipo de sociedade.
Sua disciplina legal é dada pela Lei 6.404/76 e pelo Código Civil de 2002.

modificação do tipo societário1


1) TRANSFORMAÇÃO *Formalidades  art. 221 – deliberação
ex: Ltda. que se transforma em S.A [somente os sócios podem alterar a sociedade – competência da assemb. geral (unanimidade2)]

Não ocorre a extinção da PJ continua a mesma pessoa


só muda de roupa

A transformação é alteração do tipo societário de uma sociedade, independentemente de dissolução ou liquidação.


Se uma sociedade limitada quer se tornar uma sociedade anônima, ela pode lançar mão da transformação que implicará na alteração da disciplina do relacionamento entre os
sócios e das relações entre a sociedade e terceiros.

 Sucessão → art. 222, LSA e art. 1.115, CC – a sociedade nova se torna sucessora de todas as obrigações e direitos da sociedade anteriores à transformação.
 As relações com terceiros anteriores à transformação não são alteradas.
 Sua personalidade jurídica permanece a mesma. A transformação “não incide sobre a identidade da sociedade, que permanece, mesmo depois da transformação,
a mesma sociedade de antes”.
 A transformação não representa qualquer transferência de patrimônio para fins tributários, pois os bens continuam com a mesma pessoa jurídica.

2) INCORPORAÇÃO art. 227, LSA


uma ou várias sociedades são absorvidas por outra que lhe sucede em todos os direitos
obrigações
a nova sociedade terá novos sócios, novos bens, direitos e deveres que eram da sociedade que foi absorvida

 A incorporação é a operação pela qual uma sociedade absorve outra, que desaparece.

1
Esse instrumento não se aplica às sociedades despersonificadas, porquanto tais sociedades não são tipos societários autorizados por lei.
2
Os efeitos da transformação sobre a condição jurídica dos sócios ou acionistas a tornam extremamente importante, exigindo-se para a mesma a deliberação unânime de todos os sócios,
inclusive os sem direito a voto, salvo se prevista no estatuto ou contrato social. No caso de previsão no ato constitutivo, já houve o consentimento unânime anteriormente manifestado, mas,
ainda assim, será necessária a deliberação da maioria dos sócios para aprovar a transformação. Neste caso, o sócio dissidente pode exercer o direito de retirada (art. 221 da Lei 6.404/76 e art.
1.114 do Código Civil de 2002).
A sociedade incorporada deixa de operar, sendo sucedida em todos os seus direitos e obrigações pela incorporadora, que tem um aumento no seu capital social.
Tal tipo de operação está ligado ao fenômeno da expansão empresarial, sendo pouco usada nos últimos tempos.

A+B

A Sociedade A  Incorporadora
Sociedade B  Incorporada

A incorporadora absorve a incorporada e continua em atividade.


A B A incorporada será extinta.
Não há uma nova sociedade

2.1. PROCEDIMENTO
Numa primeira fase da incorporação, atuam, como sujeitos mais importantes, os administradores das sociedades envolvidas.
 Nos termos da Lei 6.404/76, para a efetivação da operação é necessária a elaboração de um protocolo, que é uma espécie de pré-contrato em relação à operação que
irá se realizar. É uma proposta de realização da incorporação.
Além do protocolo, impõe-se3, nos termos da Lei 6.404/76, a elaboração de uma justificação, isto é, de uma exposição de motivos para a realização da operação.
 No âmbito do Código Civil, devem ser elaboradas as bases da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo (art. 1.117, CC ), que, em última análise, traduzem a
mesma ideia. Vale dizer, é sempre necessária a aprovação de um projeto do que vai ocorrer com a operação de incorporação.

Mesmo na incorporadora é necessária a aprovação dos documentos relativos à operação, sendo diferenciado o quórum para cada tipo societário.
 Nas sociedades limitadas, exige-se a aprovação de 75% do capital social (art. 1.076 c.c. art. 1.071 do Código Civil de 2002),
 Nas sociedades anônimas, basta a aprovação da maioria simples do capital votante.
Em qualquer caso, a deliberação da incorporadora compreenderá a nomeação de peritos, para a avaliação do patrimônio da incorporada.
Na sociedade incorporada, também será necessária a aprovação dos documentos relativos à operação, pelo quórum peculiar ao tipo societário em análise.
 Nas sociedades anônimas, o quórum é de pelo menos 50% do capital votante (art. 136 da Lei 6.404/76),
 Nas sociedades limitadas o quórum é de 75% do capital social (art. 1.076 c.c. art. 1.071 do Código Civil de 2002)
Além dessas assembleias, é necessária ainda a aprovação pela incorporadora do laudo de avaliação do patrimônio da incorporada e do aumento de capital social.
Tal nova assembleia, embora não prevista explicitamente pelo Código Civil, decorre da necessidade, em qualquer sociedade, de uma deliberação para aprovar o aumento do
capital social e a avaliação dos bens entregues como forma de integralização.
Aprovada a incorporação, desse modo, extingue-se a incorporada, podendo ser tomadas todas as medidas necessárias junto ao registro competente.

2.2. AUMENTO DO CAPITAL SOCIAL DA INCORPORADORA


Na incorporação, a sociedade incorporada desaparece e a incorporadora tem um aumento de capital social, na proporção do patrimônio líquido incorporado.

3
Ainda que não fosse uma imposição legal, na prática já se faria tal exposição para facilitar a aprovação da nova operação.
3) FUSÃO art. 228, LSA
união de 2 ou + sociedades (PJ) para formar uma sociedade nova  extinguindo as que se uniram
a nova sociedade sucederá as demais em todos direitos
obrigações

Tal operação também está ligada ao processo de concentração empresarial, estando sujeita, praticamente, à mesma disciplina da incorporação no direito brasileiro.
Nesta operação, surge uma nova pessoa jurídica, e todas as envolvidas deixam de existir.

A+B
C

A B
Serão extintas

3.1. PROCEDIMENTO

Na fusão, em primeiro lugar, atuam como protagonistas os administradores, que devem elaborar um projeto do que ocorrerá com a fusão, definindo-se inclusive a

distribuição do capital social da nova companhia entre os sócios das sociedades fundidas.
Diante desse projeto, serão realizadas assembleias gerais em todas as sociedades envolvidas para aprovação da operação, e nomeação de peritos para avaliação do
patrimônio destas.
O quórum é diferenciado de acordo com o tipo de sociedade.
 Nas sociedades anônimas o quórum é de pelo menos 50% do capital votante (art. 136 da Lei 6.404/76).
 Nas limitadas, o quórum é de 75% do capital social. Aprovada a operação, serão nomeados os peritos para avaliação do patrimônio das sociedades envolvidas.
As avaliações resultantes de tal procedimento deverão ser aprovadas por uma assembleia conjunta, na qual o sócio está impedido de votar a avaliação do patrimônio da
sociedade da qual ele faz parte.
Para aprovar a avaliação, a assembleia é uma só, mas os sócios de cada sociedade só votam para aprovar a avaliação do patrimônio da outra.
Aprovada a avaliação, segue-se o procedimento normal de constituição da nova sociedade.
Se a operação envolver uma sociedade anônima que tenha emitido debêntures, a aprovação da fusão depende de aprovação de assembleia especial dos debenturistas.
Não se trata, em verdade, de uma aprovação da operação, mas tão somente da aceitação da novação subjetiva da obrigação, que ocorre com a fusão de uma companhia.
Não será necessária tal aprovação se for assegurado aos debenturistas o direito de resgate dos seus títulos no prazo mínimo de seis meses.

3.2. DIREITO DE RETIRADA NA FUSÃO E NA INCORPORAÇÃO


 Na incorporadora, o acionista não faz jus ao direito de retirada.
 Na fusão envolvendo sociedade anônima, o acionista dissidente poderá exercer o direito de retirada, desde que não tenha facilidade para negociar suas ações no
mercado (art. 137, II, da Lei 6.404/76), isto é, desde que suas ações não tenham liquidez e dispersão.
Em se tratando de incorporação ou fusão, envolvendo controladoras e controladas, cabe ao dissidente a opção entre o valor do reembolso pelo patrimônio líquido contábil
das ações ou pelo valor do patrimônio líquido a preço de mercado.
Nas sociedades limitadas há o direito de retirada para qualquer sócio que discorde da operação de incorporação, seja da sociedade incorporada, seja da incorporadora, bem
como do sócio que discorde da fusão, diante dos termos do artigo 1.077 do Código Civil de 2002.
Mesmo após a aprovação da incorporação ou da fusão, podem surgir fatos que ensejam o direito de retirada.
Se a operação envolver uma sociedade aberta, a sucessora tem que ser uma sociedade aberta, competindo a esta admitir as novas ações para negociação no mercado no
prazo de 120 dias. Desobedecido tal prazo, os acionistas prejudicados podem exercer o direito de retirada (art. 223, §§ 3º e 4º da Lei 6.404/76).
Trata-se de uma hipótese excepcional, na qual o direito de retirada não decorre da divergência em face de uma deliberação da assembleia geral.

3.3. DIREITO DOS CREDORES NA FUSÃO E NA INCORPORAÇÃO


A incorporação e fusão podem prejudicar os direitos dos credores das sociedades envolvidas, na medida em que o patrimônio da sociedade passa a suportar um concurso de
mais credores, podendo prejudicar a preferência que o credor possuía, ou até dificultar o recebimento do seu crédito, por representar uma redução da liquidez da sociedade.
Em função disso, a lei protege os interesses dos credores, assegurando-lhes faculdades em defesa dos seus direitos.
Os credores prejudicados têm o prazo decadencial de 90 dias para pleitear a anulação da operação, prazo este contado da publicação dos atos relativos a esta. (Art. 1.122, CC)
Atenção: os credores devem demonstrar o prejuízo para poder pleitear a anulação da operação; tal prejuízo decorre da possível ou concreta diminuição do patrimônio do
devedor, em proporção ao seu passivo.
Tal anulação pode ser obstada pelo pagamento do crédito, que acaba com o interesse de agir do autor da ação, ou pode ser suspensa pela garantia da dívida no caso de
obrigação ilíquida.
Em caso de falência da incorporadora ou da sociedade resultante da fusão, nos 90 dias seguintes à operação, os credores, anteriores à operação, podem requerer a separação
dos patrimônios das sociedades envolvidas, de modo que se formem massas separadas para o pagamento dos credores.
Tal medida garante aos credores as mesmas garantias usufruídas antes da efetivação da operação.

4) CISÃO

A cisão é o desmembramento total ou parcial da sociedade, que transfere seu patrimônio para uma ou várias sociedades já existentes ou constituídas para esse fim.
Se a versão do patrimônio for para uma sociedade nova, a absorção do patrimônio é feita pela assembleia de sua constituição.
De outro lado, se a sociedade que recebe o patrimônio já existe, a absorção do patrimônio obedece às regras da incorporação.

4.1. TIPOS DE CISÃO


Diz-se que a cisão é total quando todo o patrimônio é transferido para outras sociedades, extinguindo-se a sociedade cindida. Dentro da cisão total, podemos distinguir a cisão
pura e a cisão absorção.
 Na cisão pura, opera-se a ideia geral da cisão, onde uma sociedade transfere seu patrimônio para duas ou mais sociedades novas, que serão constituídas a partir do
patrimônio transferido.
Tal operação, normalmente, tem por função atender a uma exigência de uma organização mais racional das atividades exercidas pela sociedade, mediante a
atuação separada em relação a cada atividade exercida.
 Na cisão absorção, a sociedade transfere seu patrimônio para duas ou mais sociedades já existentes, pois a transferência para uma sociedade seria uma
incorporação. Tal tipo de cisão se assemelha e muito à incorporação, obedecendo inclusive às suas regras (art. 229, § 3º, da Lei 6.404/76). Nesta espécie de
operação, pode-se dizer que há uma concentração empresarial, na medida em que as sociedades que recebem as parcelas do patrimônio da cindida poderão ter um
acréscimo de patrimônio e, consequentemente, um acréscimo de poder de mercado.
 Na cisão parcial, é transferida apenas parte do patrimônio, subsistindo a sociedade cindida. A subsistência pura e simples da sociedade, ou sua subsistência como
uma holding pura, isto é, como uma sociedade, cuja única atividade é participar no capital de outras, nos permite subdividir a cisão parcial, respectivamente em
falsa cisão e cisão holding.
bens
sócios
Cisão parcial art. 229, LSA direitos e obrigações
operação pela qual a companhia transfere parcela do seu patrimônio para 1 ou + sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes,
extinguindo a companhia cindida se houver versão de todo o patrimônio ou dividindo-se o capital se parcial à versão
movimento de descontração societária  ao final da alteração haverá um número maior de PJ

PARCIAL TOTAL
reorganização societária
AeB *Ás vezes necessário em razão reorganização de sócios
A C
TOTAL  sociedade cindida dará origem a novas sociedades e a original deixa de existir
(contrário da fusão – inverteu o sentido das setas)

A B PARCIAL  sociedade será dividida e dará origem a novas sociedades, mas a original continua existindo.
A B

 A cisão é um negócio jurídico peculiar, podendo implicar a extinção de uma sociedade, a constituição de outras, ou apenas o aumento do capital social.

4.2. FORMAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL


O principal traço distintivo da cisão, sobretudo da cisão parcial em relação à mera cessão de ativo, é o fato de que a sociedade que recebe o patrimônio deve realizar um
aumento de capital social, na proporção do patrimônio recebido.
O patrimônio transferido é, pois, moeda de pagamento da subscrição das novas ações e não objeto de uma compra e venda pura e simples.
As ações integralizadas, com o patrimônio da cindida, serão atribuídas aos acionistas da cindida, na proporção que possuíam anteriormente, podendo haver a alteração de
tal proporção, mediante aprovação da unanimidade dos titulares das ações da sociedade cindida.

4.3. SUCESSÃO NAS OBRIGAÇÕES DA CINDIDA


 Havendo cisão total, as sociedades que recebem o patrimônio da sociedade são solidariamente responsáveis pelas obrigações anteriores à cisão, relacionadas ou não
no ato da cisão.
Tal responsabilidade, embora solidária, é limitada ao valor do patrimônio recebido, isto é, o credor pode demandar qualquer sociedade que tenha recebido o
patrimônio da cindida, mas receberá desta, no máximo, o equivalente ao patrimônio vertido.
Neste caso, há uma sucessão a título universal,29 que em muito se assemelha a uma sucessão causa mortis e, por isso,
deve haver a limitação da responsabilidade, apesar da solidariedade. Na cisão parcial, há solidariedade entre a sociedade cindida e as sociedades
que receberam parte do seu patrimônio pelas obrigações anteriores à data da operação. Mais uma vez, há o limite do valor do patrimônio transferido. Todavia,
pode haver estipulação no sentido de determinar em quais obrigações haverá a sucessão. Neste caso, os credores podem se opor, em até 90 dias da publicação
dos atos, notificando a sociedade, por qualquer meio. Embora se trate de regra constante da Lei 6.404/76, entendemos que ela continua sendo aplicada às demais
sociedades, ante a disciplina incompleta dada pelo Código Civil de 2002.
Fusão – extinção de todas as que se uniram
Quais são os casos de extinção? Incorporação – extinção da incorporadora
Cisão – extinção só se for cisão total

REFERÊNCIAS:
BECHO, Renato Lopes. Elementos de direito cooperativo. São Paulo: Dialética, 2002.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa – volume 1 – 17. ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Lições de direito societário. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.
ROCHA FILHO. José Maria. Curso de Direito Comercial. vol. 1 - Parte Geral. Ed. Del Rey, Belo Horizonte, 1994.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria Geral e Direito Societário – volume 1 - 9.ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

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