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Atualizado em 2022-1

DIREITO EMPRESARIAL II. - PROF. RICARDO LUPION.


SOCIEDADE ANÔNIMA

ACIONISTAS

DIREITOS ESSENCIAIS

Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembléia-geral poderão privar o acionista dos direitos de:
I - participar dos lucros sociais;
II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;
III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;
IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures
conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172;
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.

Participar dos lucros sociais: “possuindo a sociedade anônima fim lucrativo, não pode o acionista,
não pode o acionista ser privado do direito de participar dos lucros sociais. Trata-se de direito
individual e inatingível. Mas o estatuto pode estabelecer o modo pelo qual os acionistas da sociedade
participarão dos lucros, havendo de se observar igualdade de tratamento para todos os acionistas da
mesma classe ou categoria. De fato, dentro de uma mesma classe ou categoria de ações, o estatuto
não pode criar diferenças, sob pena de violação do princípio da igualdade de tratamento”
(LAZZARESCHI NETO, Alfredo Sérgio. Lei das Sociedades por Ações Anotada. São Paulo:
Societatis Edições, 2017, vol. I, p. 295)

Fiscalização: “Os acionistas podem fiscalizar a administração da sociedade anônima fazendo uso
apenas dos instrumentos referidos na lei. Eles não são livres para definir o meio pelo qual exercerão
esse direito essencial. São instrumentos pelos quais o acionista exerce o seu direito de fiscalização:
a) funcionamento do conselho fiscal; b) acesso aos livros da sociedade; c) prestação de contas anual
dos administradores; d) votação das demonstrações financeiras pela assembleia geral; e) auditora
independente. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2, direito de empresa.
São Paulo: Saraiva, 2012, p. 324)

Exibição de livros: “A companhia não é legalmente obrigada a exibir, sempre e a qualquer momento,
os seus livros aos acionistas, nem tem a CVM competência para ordenar tal exibição, que entretanto,
pode ser reivindicada judicialmente, nos termos do artigo 105 da lei 6404/76” (Parecer CVM/SJU
037/81). Art. 105. A exibição por inteiro dos livros da companhia pode ser ordenada judicialmente
sempre que, a requerimento de acionistas que representem, pelo menos, 5% (cinco por cento) do
capital social, sejam apontados atos violadores da lei ou do estatuto, ou haja fundada suspeita de
graves irregularidades praticadas por qualquer dos órgãos da companhia.

Fiscalização de contratos: “O acionista não pode invocar o direito de fiscalizar a gestão dos negócios
sociais para ajuizar, em nome próprio, demanda a respeito de direito pertencente à sociedade”. (STJ.
Resp 87919, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j, 24.5.1999)

Direito de preferência: “O acionista tem direito de manter seu percentual de participação no capital
social [...] Por isso, é preciso garantir seu estado de sócio nas condições em que se encontra perante
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a sociedade e os demais acionistas. Nos aumentos de capital com entrada de novos valores, isto é,
naqueles em que há subscrição de novas ações, o acionista tem assegurado o direito de a eles acorrer
com novos aportes de numerário, não permitindo, assim, que ocorra a diluição do percentual de sua
participação no capital social da companhia. Isso se dá pelo direito de preferência. Havendo aumento
de capital por subscrição de novas ações, o acionista tem o direito de subscrever tantas ações quantas
lhes garantam permanecer com o mesmo percentual de participação na sociedade antes de verificado
o aumento.” (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Manual das Companhias, ou, Sociedades
Anônimas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 135)

O direito de preferência para a subscrição de ações


Quando alguém adquire ações, passa a ser titular de uma fração do capital social de uma companhia.
Por exemplo, se uma companhia possui 1.000.000 de ações emitidas, e um investidor compra 100
ações, ele terá então 0,01% de participação na companhia.
Todavia, quando o capital é aumentado e novas ações são emitidas, as ações até então detidas por tal
acionista passam a representar uma fração menor do capital, ainda que o valor em moeda seja o
mesmo. Supondo que essa companhia tenha emitido 200.000 novas ações, a quantidade total de ações
passará a ser de 1.200.000, mas a participação do acionista, caso ele permaneça apenas com as 100
ações adquiridas originalmente, cairá para 0,008% (100/1.200.000).
Para evitar que ocorra essa diminuição na participação percentual detida pelo acionista no capital da
companhia, a lei assegura a todos os acionistas, como um direito essencial, a preferência na subscrição
das novas ações que vierem a ser emitidas em um aumento de capital (art. 109, inciso IV, da Lei das
S.A.), na proporção de sua participação no capital, anteriormente ao aumento proposto. Seguindo o
exemplo, nesse aumento de capital hipotético esse acionista teria o direito de adquirir o equivalente
a 0,01% das novas 200.000 ações emitidas. Se exercer esse direito, passará a ter 120 ações (100 que
já tinha mais as 20 adquiridas no aumento de capital). Dessa forma, manteria a sua participação de
0,01% (120/1.200.000) na companhia. No entanto, o direito de subscrição só pode ser exercido dentro
de um prazo limitado, que deverá ser fixado pelo estatuto social da companhia ou na Assembleia em
que for deliberado o aumento do capital social ou a emissão do título conversível em ações da
companhia, e não poderá ser inferior a 30 (trinta) dias (art. 171 da Lei das S.A.). Neste período, o
acionista deverá manifestar sua intenção de subscrever as novas ações emitidas no âmbito do aumento
de capital ou dos títulos conversíveis em ações, conforme o caso. Caso não o faça, o direito de
preferência caducará. CVM. Portal do Investidor.
Disponível em https://www.investidor.gov.br/menu/Menu_Investidor/acionistas/direito_subscricao

Exclusão do direito de preferência


Apesar do direito de preferência ser considerado um direito essencial do acionista, a Lei das S.A.
permite, em certas situações excepcionais, que esse direito seja excluído, como por exemplo, na
conversão de debêntures e outros títulos em ações, posto que, nestas hipóteses, o direito de preferência
deve ser exercido no momento da emissão do título. CVM. Portal do Investidor.
Disponível em https://www.investidor.gov.br/menu/Menu_Investidor/acionistas/direito_subscricao

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Direito de recesso: “O sócio pode, por vontade própria, desligar-se da sociedade empresária por dois
modos: alienando sua participação societária, ou exercendo o direito de retirada. [..] As duas formas
de desligamento por vontade do sócio diferem pela natureza do ato e pela estrutura correspondente.
A venda é negócio bilateral, do qual a sociedade não participa. A retirada é manifestação unilateral
de vontade do sócio, à qual se submete a sociedade. [...] Na sociedade anônima, o direito de retirada
decorre da dissidência do acionista quanto à deliberação adotada pela assembleia na apreciação de
determinadas matérias, especificamente definidas na lei. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito
Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 330-331).

Conceito e Finalidade
O direito de recesso ou de retirada consiste na faculdade assegurada aos acionistas minoritários de,
caso discordem de certas deliberações da Assembleia Geral, nas hipóteses expressamente previstas
em Lei, retirar-se da companhia, recebendo o valor das ações. (art. 137, caput, LSA).
A função do direito de recesso é a de proteger o acionista minoritário contra determinadas
modificações substanciais na estrutura da companhia ou contra a redução nos direitos assegurados
por suas ações, desobrigando-o de permanecer sócio de uma companhia substancialmente diversa
daquela à qual se associou ao adquirir as ações. CVM. Portal do Investidor.
Disponível em https://www.investidor.gov.br/menu/Menu_Investidor/acionistas/direito_subscricao

Hipóteses de Exercício do Direito de Recesso


As hipóteses em que o acionista minoritário pode exercer o direito de recesso são apenas aquelas
expressamente previstas pela Lei das S.A.. De fato, como o exercício do direito de recesso pode
colocar em risco a saúde financeira da companhia, já que é ela própria que deve arcar com o
pagamento do respectivo reembolso, o acionista minoritário não pode pretender exercer tal direito em
situações nas quais a Lei das S.A. não o prevê expressamente.
Algumas situações previstas no artigo 136 da LSA: mudança de objeto da companhia, cisão, fusão
ou incorporação da companhia, entre outros. CVM. Portal do Investidor.
Disponível em https://www.investidor.gov.br/menu/Menu_Investidor/acionistas/direito_subscricao

Direito de voto: “Não foi inserido entre os direitos essenciais do acionista o direito de voto, na
consideração de a companhia, muitas vezes, abrigar acionistas (especuladores e investidores) que não
demonstram interesse nos seus destinos, mas nela buscam, exclusivamente, investir suas economias,
confiando em sua performance, no prestígio de que goza no mercado e na sua boa administração.”
(GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Manual das Companhias, ou, Sociedades Anônimas.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 143)

Direito de voto: “É preciso esclarecer que o direito de voto não é um direito essencial dos acionistas.
Ele não está entre aqueles eleitos pelo ar. 109 da Lei 6404/76, e a lei, em inúmeras oportunidades, o
utiliza com flexibilidade, como um instrumento de governança e composição de interesses dentro das
companhias. A começar, a lei permite a emissão de ações preferenciais sem direito de voto”.
(Colegiado da CVM. Proc. RJ-2013/10913, Relatora Luciana Dias, j. 25.03.2014)

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PERFIS DOS ACIONISTAS


Empreendedor: ordinarialista. Controlador e minoritários.

Investidor: preferencialista. Rendeiro e especulador

“Os acionistas são divididos, segundo o maior ou menor interesse com o cotidiano da atividade
empresarial da companhia, em empreendedores e investidores. Entre estes últimos, cabe distinguir os
rendeiros dos especuladores” (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2,
direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 304)

Conflitos: “As relações entre o controlador e a minoria acionária nem sempre são conflituosas. Se a
empresa se desenvolve bem, sob o comando do controlador, que a dirige com competência e
regularidade, e está, assim, gerando aos minoritários rendimentos satisfatórios, não há ensejos para
tensões no interior da companhia. Cada acionista respeita, no outro, a contribuição diferenciada à
realização do objeto social e as relações de poder reproduzem o justo equilíbrio da diferença. O
conflito entre acionistas deriva, normalmente, das tentativas de desequilibrar a relação. Se o
controlador (empreendedor) aprecia a contribuição do minoritário (rendeiro ou especulador), mas não
a remunera como poderia (aprovando, em assembleia, retenção de lucros desnecessária), ou, por
considerar a companhia propriedade exclusiva dele, apropria-se abusivamente de recursos sociais
(elegendo-se administrador e atribuindo-se remuneração elevada, por exemplo), essas condutas
geram conflitos. Por outro lado, se um minoritário (com espírito empreendedor) quer ampliar sua
ingerência na administração da sociedade, ou mesmo tomas o controle para suas mãos, isso também
desequilibra as relações de poder, e gera conflitos. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito
Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 394)

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