Você está na página 1de 8

Atualizado em 2022-2

DIREITO EMPRESARIAL II. - PROF. RICARDO LUPION


SOCIEDADE ANÔNIMA

VALORES MOBILIÁRIOS

Tipos: ações, debêntures e nota comercial

Características
“Valores mobiliários são instrumentos de captação de recursos pelas sociedades anônimas emissoras e
representam, para quem os subscreve ou adquire, um investimento”. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de
Direito Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 161)

Empréstimo bancário x mercado de capitais/investidores: “... a sociedade anônima, necessitando obter os


recursos reclamados pelo desenvolvimento da sua atividade econômica circunscrita ao seu objeto social, tem
duas possibilidades a examinar: de um lado, contrair empréstimo bancário, de outro, apresentar-se aos
investidores, no mercado de capitais ou privadamente, como uma opção de investimento. [..] A sociedade
anônima ao tomar dinheiro emprestado de banco, encontra-se, basicamente, na mesma situação jurídica de
qualquer outro sujeito de direito mutuário. A segunda hipótese, é tratada no âmbito do direito societário e se
viabiliza pela emissão de valores mobiliários. Estes, aliás, são os meios de obtenção de recursos pela empresa
típicos das companhias, e se apresenta como alternativa ao financiamento bancário, normalmente mais
custoso”. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 160)
1
Atualizado em 2022-2

Capitalização x autofinanciamento: na capitalização “a sociedade anônima emite ações, e o investidor que


as subscreve torna-se sócio dela ou, se já o é, aumenta o patrimônio acionário; na outra (autofinanciamento)
são emitidos os demais tipos de valores mobiliários, e o investidor passa a titularizar, perante a companhia
emissora, alguns direitos, variáveis conforme o valor subscrito”. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito
Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 161)

AÇÕES: Já estudado na unidade CAPITAL SOCIAL

DEBÊNTURES:

Definição:

“As companhias, dada sua feição capitalista, podem obter autofinanciamento para o desenvolvimento de suas
atividades, recorrendo, como seu viu anteriormente, a aumentos de capital; emitem novas ações que são
subscritas, cujo preço passa, desde logo, a integrar seu patrimônio, sem necessidade de devolução futura. Já
no que se relaciona com a obtenção de recursos de terceiros, é-lhes aberta uma outra via, que lhes permite
angaria-los sem necessidade de recorrer a empréstimos bancários. [...] Isso se dá por meio da emissão de
debêntures, que são títulos representativos de um mútuo que a companhia contrai com pessoas que nela
queiram investir sem que sejam (necessariamente) seus acionistas. As debêntures são títulos de emissão da
companhia, que documentam uma fração do mutuo que ela contrai com as pessoas que os adquirem, contendo
uma promessa de pagamento de quantia determinada para uma data, remuneradas com s juros pactuados, com
ou sem atualização monetária e, eventualmente, com percentual do lucro da companhia emitente. [...] Os
mutuantes são os debenturistas, sendo mutuária (devedora) a companhia”. (GONÇALVES NETO, Alfredo de
Assis. Manual das Companhias, ou, Sociedades Anônimas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013,
p. 112)

“A lei não define debêntures, limitando-se a especificar que elas conferem aos seus titulares direito de crédito,
nas condições mencionadas pela escritura de emissão e certificado (LSA, art. 52). A doutrina, ressaltando
tratar-se a emissão de debêntures de uma operação de empréstimo, costuma apresenta-las como parcelas de
um contato de mútuo, em que a sociedade anônima emissora é a mutuária e os debenturistas os mutuantes
(Ferreira, 1962:240/241; Martins, 1977, 1:311). O conceito doutrinal é, sob o ponto de vista didático,
extremamente útil [...] estabelece os contornos básicos do instituto de forma correta. Vale a pena, por isso,
explorá-lo melhor. Normalmente, o contrato de mútuo envolve dois sujeitos de direito: de um lado, aquele que
necessita do dinheiro e o toma por empréstimo (devedor, mutuário), e, de outro, o que dispõe do dinheiro e o
empresta (credor, mutuante). O contrato de mútuo é o instrumento em que se especificam valores, garantias,
prazos e obrigações das partes em geral. Agora, se quem precisa do dinheiro é a sociedade anônima, ela pode
valer-se de um expediente específico de captação, que é a emissão de debêntures. Cada investidor, ao
subscrever esse valor mobiliário e pagar à sociedade emissora o preço correspondente, está como que
emprestando dinheiro a ela. No vencimento das debêntures, a companhia pagará o devido ao debenturista,
como que devolvendo o dinheiro emprestado. Isto é, os titulares das debêntures postam-se, perante a
companhia emissora, do mesmo modo que o mutuante diante do mutuário e vice-versa. Os valores, as
garantias, os prazos e as obrigações das partes são estabelecidos no certificado, quando houver, e na escritura
de emissão”. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 166)

Como funciona:

“Por exemplo, se a companhia quer contrair um empréstimo de 1.000 dinheiros, emite 100 debêntures de 10
(cada uma) e as distribui entre os interessados em investir nesses papéis que, normalmente, são mais atrativos
2
Atualizado em 2022-2

do que as aplicações financeiras” (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Manual das Companhias, ou,
Sociedades Anônimas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 113)

“O autofinanciamento da empresa por meio de emissão de debêntures, em sua formatação corriqueira,


pressupõe um prazo determinado de vencimento do valor mobiliário, época em que a sociedade anônima
emissora reembolsa o debenturista, finalizando a operação. Imagine-se que a companhia pretenda ampliar seu
parque industrial, com a construção e a equipagem de nova unidade fabril, e, para captar os recursos necessários
a esse empreendimento, emita debêntures com vencimento para 8 anos, período que ela considera suficiente
para concluir a obra, pôr em funcionamento a nova fábrica e já contar, em caixa, com recursos gerados pela
ampliação”. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 172)

Características

Art. 52. A companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus titulares direito de crédito contra ela,
nas condições constantes da escritura de emissão e, se houver, do certificado.

São valores mobiliários que conferem direito de crédito perante a sociedade anônima.

Empréstimo: Credor/devedor/prazo(carência e pagamento)/condições/remuneração

O investidor, ao subscrever esse valor mobiliário e pagar à sociedade emissora o preço correspondente, está
emprestando dinheiro à sociedade. No vencimento, a sociedade pagará o valor recebido do debenturista,
acrescido da remuneração estabelecida.

Ações x debêntures. Semelhanças e diferenças. “As debêntures distinguem-se das ações, porquanto estas (as
ações) são a contrapartida dos aportes que os acionistas fazem para a formação do patrimônio da sociedade,
enquanto as primeiras (as debentures) têm por causa de emissão um empréstimo contraído pela companhia; as
ações conferem aos acionistas os direitos inerentes ao estado de sócio, ao passo que as debentures outorgam
aos respectivos titulares (debenturistas) um direito de crédito contra a companhia; de resto, as ações têm caráter
permanente, ao passo que as debêntures são emitidas com prazo de duração determinado, findo o qual
extinguem-se pelo resgate ou pela sua conversão em ações”. (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis.
Manual das Companhias, ou, Sociedades Anônimas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p.
114)

Circulação: As debêntures são negociáveis. “o debenturista pode alienar seus direitos creditórios perante a
sociedade para outro investidor, pelo preço que as duas partes consideraram adequado ao negócio, inferior ou
superior ao valor nominal”. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2, direito de
empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 167).

Resgate: Direito unilateral da sociedade anônima de pagar antecipadamente. Condições. “poderá a companhia,
também, reserva-se o direito de resgatar as debêntures, fixando, na escritura de emissão e no certificado, as
condições e os critérios de definição do valor do resgate. Trata-se de ato unilateral da emissora, no exercício
de uma prerrogativa, com a qual manifesta sua concordância o debenturista, ao subscrever ou adquirir as
debêntures. Assim, tendo aderido às condições de resgate, ele não pode opor-se ao pagamento, na
oportunidade, de montante eventualmente inferior ao valor que o investimento alcança no mercado secundário.
Por evidente, se as condições estabelecidas para o resgate, na escritura de emissão e no certificado, forem
altamente desvantajosas, a sociedade tenderá a enfrentar dificuldades na colocação das debêntures junto aos
investidores; por isso, é-lhe conveniente estabelecer critérios de resgate que aproximem o respectivo valor ao

3
Atualizado em 2022-2

de negociação, como forma de tornar frutífera a emissão”. (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito
Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 168)

Compra e venda x resgate: “entre compra e venda e o resgate, há uma diferença essencial: naquela, a
sociedade emissora entabula negociações com o debenturista e paga ou recebe o preço definido de comum
acordo entre eles; no resgate, ela, por ato unilateral, retira o valor mobiliário de circulação, mediante o
pagamento ao debenturista de montante previamente estipulado” (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito
Comercial, volume 2, direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 168)

Debêntures conversíveis em ações: emissão deve especificar o momento (prazo) em que o debenturista
poderá exercer o direito à conversão e as suas condições. Convertidas em ações, os debenturistas passam à
condição de acionistas (ordinarialistas ou preferencialistas), conforme estabelecido na emissão. Neste
momento, ocorre o aumento do capital social.
Art. 57. A debênture poderá ser conversível em ações nas condições constantes da escritura de emissão, que
especificará:
I - as bases da conversão, seja em número de ações em que poderá ser convertida cada debênture, seja como
relação entre o valor nominal da debênture e o preço de emissão das ações;
II - a espécie e a classe das ações em que poderá ser convertida;
III - o prazo ou época para o exercício do direito à conversão;
IV - as demais condições a que a conversão acaso fique sujeita.

Emissão: privada ou pública. CVM.

Competência para aprovar emissão:


Art. 59. A deliberação sobre emissão de debêntures é da competência privativa da assembléia-geral, que deverá
fixar, observado o que a respeito dispuser o estatuto:
I - o valor da emissão ou os critérios de determinação do seu limite, e a sua divisão em séries, se for o caso;
II - o número e o valor nominal das debêntures;
III - as garantias reais ou a garantia flutuante, se houver;
IV - as condições da correção monetária, se houver;
V - a conversibilidade ou não em ações e as condições a serem observadas na conversão;
VI - a época e as condições de vencimento, amortização ou resgate;
VII - a época e as condições do pagamento dos juros, da participação nos lucros e do prêmio de reembolso, se
houver;
VIII - o modo de subscrição ou colocação, e o tipo das debêntures.
§ 1º. Na companhia aberta, o conselho de administração pode deliberar sobre a emissão de debêntures não
conversíveis em ações, salvo disposição estatutária em contrário.

Agente Fiduciário: ocupa função intermediária entre a sociedade anônima e os debenturistas. É escolhido
pela sociedade, mas representa os direitos dos debenturistas. Obrigatório na Companhia Aberta. Facultativo
na fechada.
Art. 66. O agente fiduciário será nomeado e deverá aceitar a função na escritura de emissão das debêntures.

Assembléia de Debenturistas
Art. 71. Os titulares de debêntures da mesma emissão ou série podem, a qualquer tempo, reunir-se em
assembléia a fim de deliberar sobre matéria de interesse da comunhão dos debenturistas.
§ 1º A assembléia de debenturistas pode ser convocada pelo agente fiduciário, pela companhia emissora, por
debenturistas que representem 10% (dez por cento), no mínimo, dos títulos em circulação, e pela Comissão de
Valores Mobiliários.

4
Atualizado em 2022-2

§ 2º Aplica-se à assembléia de debenturistas, no que couber, o disposto nesta Lei sobre a assembléia-geral de
acionistas.
§ 3º A assembléia se instalará, em primeira convocação, com a presença de debenturistas que representem
metade, no mínimo, das debêntures em circulação, e, em segunda convocação, com qualquer número.
§ 4º O agente fiduciário deverá comparecer à assembléia e prestar aos debenturistas as informações que lhe
forem solicitadas.
§ 5º A escritura de emissão estabelecerá a maioria necessária, que não será inferior à metade das debêntures
em circulação, para aprovar modificação nas condições das debêntures.
§ 6º Nas deliberações da assembléia, a cada debênture caberá um voto.

NOTA COMERCIAL – Lei 14.195, de 26 de agosto de 2021

Características

Art. 45. A nota comercial, valor mobiliário, é título de crédito não conversível em ações, de livre negociação,
representativo de promessa de pagamento em dinheiro, emitido exclusivamente sob a forma escritural por meio
de instituições autorizadas a prestar o serviço de escrituração pela Comissão de Valores Mobiliários.

Quem pode emitir

Art. 46. Podem emitir a nota comercial as sociedades anônimas, as sociedades limitadas e as sociedades
cooperativas.
Parágrafo único. A deliberação sobre emissão de nota comercial é de competência dos órgãos de administração,
quando houver, ou do administrador do emissor, observado o que dispuser a respeito o respectivo ato
constitutivo.

Requisitos
Art. 47. A nota comercial terá as seguintes características, que deverão constar de seu termo constitutivo:
I - a denominação “Nota Comercial”;
II - o nome ou razão social do emitente;
III - o local e a data de emissão;
IV - o número da emissão e a divisão em séries, quando houver;
V - o valor nominal;
VI - o local de pagamento;
VII - a descrição da garantia real ou fidejussória, quando houver;
VIII - a data e as condições de vencimento;
IX - a taxa de juros, fixa ou flutuante, admitida a capitalização;
X - a cláusula de pagamento de amortização e de rendimentos, quando houver;
XI - a cláusula de correção por índice de preço, quando houver; e
XII - os aditamentos e as retificações, quando houver.
§ 1º As notas comerciais de uma mesma série terão igual valor nominal e conferirão a seus titulares os mesmos
direitos.

§ 2º A alteração das características a que se refere o caput deste artigo dependerá de aprovação da maioria
simples dos titulares de notas comerciais em circulação, presentes em assembleia, se maior quórum não for
estabelecido no termo de emissão.

§ 3º Aplica-se à convocação e ao funcionamento da assembleia prevista no § 2º deste artigo, entre outros


aspectos, o disposto na Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sobre assembleia geral de debenturistas.

5
Atualizado em 2022-2

Art. 48. A nota comercial é título executivo extrajudicial, que pode ser executado independentemente de
protesto, com base em certidão emitida pelo escriturador ou pelo depositário central, quando esse título for
objeto de depósito centralizado.

Parágrafo único. A nota comercial poderá ser considerada vencida na hipótese de inadimplemento de obrigação
constante do respectivo termo de emissão.

Art. 49. A titularidade da nota comercial será atribuída exclusivamente por meio de controle realizado nos
sistemas informatizados do escriturador ou no depositário central, quando esse título for objeto de depósito
centralizado.

Art. 50. A Comissão de Valores Mobiliários poderá estabelecer requisitos adicionais aos previstos nesta Lei,
inclusive a eventual necessidade de contratação de agente fiduciário, relativos à nota comercial que seja:
I - ofertada publicamente; ou
II - admitida à negociação em mercados regulamentados de valores mobiliários.

“CROWDFUNDING” INVESTIMENTO COLETIVO (VAQUINHA VIRTUAL)

É natural que de tempos em tempos novas ideias e novos produtos e serviços sejam desenvolvidos no mercado
financeiro. O próprio mercado de capitais surgiu e se desenvolveu em ciclos como esses, em um movimento
que tem permitido às empresas buscar financiamento alternativo à captação bancária, e que democratizou o
acesso ao capital, possibilitou a diversificação e a distribuição de risco entre os aplicadores, e reduziu o custo
global de captação. Hoje, ao que parece, em especial devido ao surgimento de novas tecnologias, estamos
vivendo nova fase deste ciclo, do qual o equity crowdfunding, objeto de estudo desta cartilha, faz parte.
É verdade que a maioria dos financiamentos coletivos realizados hoje em dia nas plataformas especializadas
em crowdfunding ainda ocorre nas modalidades de doações ou recompensas, e não apresentam características
de mercado financeiro. O financiamento funciona simplesmente como uma espécie de “vaquinha” virtual
para a idealização de projetos, em que os contribuintes disponibilizam seus recursos sem interesse em obter
retorno financeiro.
No entanto, esse modelo evoluiu, encontrou novas aplicações, e tem sido cada vez mais comum o
financiamento coletivo baseado na estrutura do chamado equity crowdfunding. Nessa nova modalidade, as
empresas, para captar recursos, se utilizam das plataformas na internet para apresentar seu negócio a potenciais
“contribuintes”, oferecendo, em troca dos recursos aportados, participação societária no negócio. O equity
crowdfunding é, portanto, uma evolução do crowdfunding, mas agora com características marcantes de
mercado financeiro.
Na prática, tem sido utilizado para atender a uma lacuna na captação de recursos de um segmento bem
específico de empresas nascentes, em especial as baseadas em tecnologia, ligadas à pesquisa e ao
desenvolvimento de ideias inovadoras, as chamadas startups. Essas empresas, principalmente nos estágios
iniciais do desenvolvimento de seu produto, precisam de capital financeiro de terceiros, mas, dadas as suas
características, não são atendidas por bancos ou pelas opções tradicionais do mercado de capitais, como a
emissão de ações e debêntures. (Cadernos FGVDIREITORIO Série Clínicas. Tema: “Cartilha do
Investimento Coletivo: Orientações a Investidores e Gestores. Equity Crowdfunding no Brasil Hoje Educação
e Direito” - Volume 06 – 2016, p. 28)

O que é? “Crowdfunding, um termo incorporado da língua inglesa, é a arrecadação de recursos financeiros


(funding) por meio de um grande número de pessoas (crowd) que, em geral, contribuem investindo pequenas
quantias. Essa modalidade de captação de recursos inovadora (não tradicional) pode ser caracterizada como
um financiamento colaborativo, por meio da oferta pública de valores mobiliários. Compreende, de um lado,
pequena e médias empresas que visam captar recursos para financiar e viabilizar a realização de suas ideias,
6
Atualizado em 2022-2

projetos e/ou empreendimentos — em sua grande maioria em estágio inicial — e, de outro lado, investidores
interessados em adquirir eventual participação societária. O ambiente de negociação se dá por meio de uma
nova modalidade de prestador de serviços, chamada de plataforma, que faz a ligação entre os projetos e aqueles
que desejam investir remotamente. Esse fenômeno virtual de captação de recursos via web começou em 2000;
contudo, ganhou ampla visibilidade em 2008 quando diversas pessoas doaram pequenas quantias para a
campanha presidencial do então candidato Barack Obama, totalizando US$ 272 milhões. Embora o
Crowdfunding esteja ganhando cada vez mais espaço e atenção no mercado de capitais, a possibilidade de
retorno financeiro para os investidores é considerada arriscada e de médio prazo.
O equity crowdfunding é uma modalidade de captação de recursos realizada na internet, que objetiva viabilizar
o financiamento de projetos por meio de contribuições captadas pela internet, geralmente feitas por pessoas
físicas. Caso o empreendimento consiga obter os recursos necessários para atingir sua meta de financiamento,
os investidores ganharão participação ou títulos conversíveis em participação no negócios, e os idealizadores
poderão acessar os recursos obtidos para colocar em prática o projeto. Uma vez detentor de participação na
sociedade realizadora do empreendimento, o investidor passa a ser sócio dessa sociedade e participar dos
lucros, se existentes. (Cadernos FGVDIREITORIO Série Clínicas. Tema: “Cartilha do Investimento
Coletivo: Orientações a Investidores e Gestores. Equity Crowdfunding no Brasil Hoje Educação e Direito” -
Volume 06 – 2016, p. 45)

No Brasil, os altos custos envolvidos nos tradicionais meios de captação do mercado de capitais, tais como as
ofertas públicas de valores mobiliários, decorrem da obrigatoriedade de atendimento de determinados
requisitos para sua consumação, tais como o registro da oferta na Comissão de Valores Mobiliários – CVM, a
elaboração de prospecto e a contratação de prestadores de serviço devidamente autorizados, que atuam nas
atividades relacionadas à emissão dos valores mobiliários. Referidos custos acabam por impedir que
sociedades de pequeno porte, inclusive as startups, possam viabilizar as suas atividades por meio de
investimento direto proveniente do público em geral. Ficam, assim, à mercê̂ dos financiamentos bancários, que
envolvem taxas significativamente altas [..] Diante desse cenário e como alternativa a tais modelos tradicionais
de financiamento e de investimento, portanto, surgiu, entre as várias modalidades de crowdfunding, o
financiamento participativo de investimento, que, ao fazer uso de plataformas constituídas em ambiente digital,
permitem a captação de recursos do mercado em geral, ao intermediarem, de maneira simples, rápida e pouco
onerosa, o investimento desse mercado na empresa beneficiária, por meio da emissão e subscrição de valores
mobiliários. (CARVALHO. Cesar Augusto Rodrigues de. “Equity crowdfunding: regime jurídico e sua nova
regulamentação”. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais | vol. 78/2017 | p. 47)

Resolução CVM nº 88, de 27 de abril de 2022

Crowdfunding de investimento: captação de recursos por meio de oferta pública de distribuição de valores
mobiliários dispensada de registro, realizada por emissores considerados sociedades empresárias de pequeno
porte nos termos desta Instrução, e distribuída exclusivamente por meio de plataforma eletrônica de
investimento participativo, sendo os destinatários da oferta uma pluralidade de investidores que fornecem
financiamento nos limites previstos na Instrução;

Plataforma eletrônica de investimento participativo: pessoa jurídica regularmente constituída no Brasil e


registrada na CVM com autorização para exercer profissionalmente a atividade de distribuição de ofertas
públicas de valores mobiliários de emissão de sociedades empresárias de pequeno porte, realizadas com
dispensa de registro conforme esta Instrução, exclusivamente por meio de página na rede mundial de
computadores, programa, aplicativo ou meio eletrônico que forneça um ambiente virtual de encontro entre
investidores e emissores;

7
Atualizado em 2022-2

Sociedade empresária de pequeno porte: sociedade empresária constituída no Brasil e registrada no registro
público competente, com receita bruta anual de até R$ 40.000.000,00 apurada no exercício social encerrado
no ano anterior à oferta e que não seja registrada como emissor de valores mobiliários na CVM;

Renda bruta anual: soma dos rendimentos recebidos pelo investidor durante o ano-calendário e constantes
da sua declaração de ajuste anual do imposto de renda, incluindo os rendimentos tributáveis, isentos e não
tributáveis, tributáveis exclusivamente na fonte ou sujeitos à tributação definitiva;

Requisitos para a dispensa do registro na CVM

Existência de valor alvo máximo de captação não superior a R$ 15.000.000,00, e de prazo de captação não
superior a 180 (cento e oitenta) dias, que devem ser definidos antes do início da oferta;

Deve ser garantido ao investidor um período de desistência de, no mínimo, 5 dias contados a partir da
confirmação do investimento, sendo a desistência por parte do investidor isenta de multas ou penalidades
quando solicitada antes do encerramento deste período;

O emissor deve ser sociedade empresária de pequeno porte nos termos da Instrução; e

O montante total aplicado por investidor em valores mobiliários ofertados com dispensa de registro nos termos
desta Instrução fica limitado a R$ 20.000,00 ou 10% da sua renda anual ou 10% do montante dos seus
investimentos, prevalecendo o que for maior.

Resolução CVM 88/22 - CROWDFUNDING DE INVESTIMENTO


• captação de recursos por meio de oferta pública de distribuição de valores mobiliários
• dispensada de registro
• realizada por emissores considerados sociedades empresárias de pequeno porte nos termos da
Resolução
• distribuída exclusivamente por meio de plataforma eletrônica de investimento participativo
• sendo os destinatários da oferta uma pluralidade de investidores que fornecem financiamento nos
limites previstos na Resolução;

Ver plataformas em

https://captable.com.br/entenda-mais

https://divihub.com.br/

Você também pode gostar