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5.6.1.

Sociedades simples
O tipo de sociedade simples é um tipo societário subsidiário. As sociedades que não
desenvolvam atividade empresarial, como as que exerçam atividade intelectual, de
natureza cientifica, literária ou artística poderão escolher um tipo de sociedade
empresarial. Caso assim o façam, serão submetidas à disciplina do tipo societário
escolhido, do contrário, serão disciplinadas pelo tipo da sociedade simples.

Esse tipo da sociedade simples fora estabelecido como disciplina geral e suas regras
serão aplicáveis supletivamente aos demais tipos societários.
Quanto à sua formação, a sociedade simples exige contrato escrito, que identifique o
nome dos sócios, sua qualificação, o objeto e capital social e as obrigações dos
sócios. O contrato deverá ser inscrito no Registro Civil de Pessoas Jurídicas no local
de sua sede e deverá indicar a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas.
O sócio pode ser pessoa jurídica e física. O incapaz poderá ser sócio desde que não
exerça a administração da sociedade e o capital esteja totalmente integralizado.
Cada um desses sócios deve realizar as contribuições sociais, conforme determinado
no contrato. Na sociedade simples, os sócios podem integralizar as quotas com servi-
ços, bens ou dinheiro.
As contribuições devem ser realizadas no prazo determinado no contrato social.
Decorrido o prazo sem o adimplemento, a sociedade poderá notificar os sócios para a
realizarem em 30 dias. Não satisfeita a obrigação, o sócio será considerado remisso e
responderá pelos danos causados à sociedade. Em vez de responsabilizá-lo, a
sociedade poderá preferir excluir o sócio remisso ou reduzir suas quotas ao montante
já integralizado.
Caso o contrato social não discipline qual a participação dos sócios nos lucros e nas
perdas, os sócios participarão na proporção das respectivas quotas.
O sócio que contribuiu em serviços, entretanto, somente participará dos lucros na
proporção da média do valor das quotas (art. 1.007).
Na sociedade simples, os sócios respondem ilimitadamente com seus bens pessoais
pelas dívidas sociais. A execução dos bens dos sócios, contudo, exige que os bens
sociais já tenham sido previamente esgotados.

A responsabilidade dos sócios é ilimitada, mas sempre subsidiária em relação à


sociedade. A responsabilização dos sócios ocorre na proporção em que participem
das perdas sociais, exceto se for estabelecida a solidariedade no contrato (art.
1.023).
O sócio que se retira ou é excluido da sociedade permanece responsável pelos
débitos sociais existentes do período em que nela participou e dos débitos que
surgirem até a data da averbação no Registro Público da alteração contratual. Sua
responsabilidade pelos débitos perdura até dois anos após a averbação da
modificação do contrato social. Caso tenha cedido sua participação, o cessionário
responderá perante a sociedade e terceiros solidariamente com o cedente até dois
anos da averbação da modificação do contrato.
Na hipótese de falecimento do sócio, seus herdeiros não se eximem da
responsabilidade pelos débitos existentes até a morte do sócio. Os herdeiros
permanecem responsáveis pelas obrigações sociais anteriores à morte do sócio até
dois anos após a averbação da resolução da sociedade no Registro Público.
Qualquer alteração do contrato na sociedade simples exige a unanimidade de
aprovação dos sócios, pois a sociedade simples é sociedade de pessoas. Para que
haja a cessão das quotas, por exemplo, exige-se o consentimento unânime dos
demais sócios para a alteração contratual, sob pena de ter eficácia perante os sócios
e a sociedade (art.
1.003).
Como na sociedade de pessoas há importância para as qualidades dos sócios, o
credor particular do sócio não poderá ingressar na sociedade com a penhora da quota
do sócio devedor. O credor poderá executar apenas a proporção que caberia, ao
sócio devedor dos lucros da sociedade ou o montante resultante da liquidação da
quota. Da mesma forma os herdeiros do sócio somente podem concorrer à divisão
periódica dos lucros, até que se liquide a quota.

Os sócios têm o direito de participar dos lucros da sociedade, de participar das


deliberações sociais e de fiscalizar a administração da sociedade.
• 5.6.1.1. Deliberações sociais
Os sócios deverão deliberar em Assembleias Gerais, por maioria absoluta de votos
segundo o valor das quotas. A Lei ou o contrato social podem estabelecer quóruns
qualificados.
Determina a Lei que as modificações do contrato social, dentre as quais as que
alterarem os sócios, o objeto social, o capital a participação nos lucros e nas perdas
exigem o consentimento unânime dos sócios.
5.6.1.2. Administração da sociedade simples
A manifestação ordinária da vontade social é feita pelos administradores, aos quais
são atribuídos os poderes não apenas de representar a sociedade, mas a de gerir
seus fatores de produção.
Os administradores devem ser necessariamente pessoas físicas. É vedado
administrador pessoa jurídica. Podem ser sócios ou terceiros, desde que a pessoa
nomeada não tenha sido condenada à pena que vede o acesso a cargos públicos, ou
fora condenada por crime falimentar, prevaricação, corrupção ativa ou passiva,
concussão, peculato, crime contra a economia popular, contra o sistema financeiro
etc., enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
A nomeação do administrador poderá ocorrer por contrato social ou ato em separado.
Caso nada determine o contrato social, a administração da sociedade compete
isoladamente a cada um dos sócios.

Se nomeado no contrato social, o sócio não poderá ser destituído, pois se exige a
unanimidade para alteração do contrato. São irrevogáveis os poderes administrativos
atribuídos ao sócio por cláusula do contrato.
São revogáveis, a qualquer tempo, por maioria absoluta do capital social, os poderes
administrativos atribuídos aos sócios por ato separado, ou a quem não seja sócio.
5.6.1.3. Resolução e dissolução da sociedade simples
A dissolução da sociedade poderá ser total ou parcial. A dissolução parcial ou
resolução do sócio em relação à sociedade ocorre quando da retirada ou exclusão de
um dos sócios. Nesse caso, a sociedade continua a desenvolver sua atividade com os
sócios remanescentes. Liquida-se a quota apenas do sócio que se retira da
sociedade.
O valor da liquidação da quota deverá, a menos que haja disposição em contrato ao
contrário, ser aferido mediante balanço patrimonial à data da resolução, e o
pagamento deverá ocorrer em dinheiro em até 90 dias.
São hipóteses de resolução parcial:
a)falecimento de sócio, caso os sócios remanescentes não prefiram a dissolução
total ou o acordo com os herdeiros para a substituição do falecido;
b) exercício de direito de retirada dos sócios, nas hipóteses em que, se a sociedade
for por prazo indeterminado, o sócio notifique sua saída com 60 dias de antecedência.
Se prazo determinado, desde que prove judicialmente que tenha ocorrido uma justa
causa, como um ato que quebre sua confiança perante os demais;
c) exclusão do sócio. A exclusão poderá ser de pleno direito ou por maioria de votos.

Na exclusão de pleno direito, o sócio será excluído se for declarado falido ou houver
a liquidação de sua quota por credores particulares.

A exclusão também pode ocorrer por vontade da maioria dos demais sócios, caso
ocorra falta grave no cumprimento de suas obrigações, incapacidade superveniente,
ambas mediante ação judicial, ou caso o sócio seja considerado remisso.
Na dissolução total, por seu turno, ocorre o fim da atividade social, com a liquidação
das quotas de todos os sócios e a apuração do montante a ser distribuído. Com a
dissolução total, liquidam-se os bens para que o produto, após o pagamento dos
credores, possa ser distribuído proporcionalmente à participação do capital social
aos sócios.
A dissolução total pode ocorrer de pleno direito, sem que haja a apreciação pelo
Poder Judiciário. Ocorre, nos termos do art. 1.033 do Código Civil, com: a) o
vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não
entrar .. - a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo
indeterminado; b) o consenso unânime dos sócios; c) a deliberação dos sócios, por
maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; d) a falta de pluralidade de
sócios, não reconstituída no prazo de 180 dias; e) a extinção, na forma da lei, da
autorização para funcionar.
Judicialmente, a dissolução total pode ocorrer com a anulação do ato constitutivo da
sociedade, o exaurimento do seu fim social ou a impossibilidade do cumprimento
deste.

5.6.2. Sociedade limitada


A sociedade limitada caracteriza-se como o tipo mais frequente de sociedade no
Brasil. Sua ampla adoção decorre da limitação da responsabilidade dos sócios.
A sociedade limitada é regulada pelos arts. 1.052 a 1.087 do Código Ci-vil. Na
omissão do capítulo, aplicam-se à sociedade limitada as normas da sociedade
simples. O contrato social, contudo, poderá substituir a aplicação suplementar das
normas da sociedade simples pelas normas da sociedade anônima.

Caracteriza-se por ser uma sociedade de natureza híbrida. A sociedade limitada não
pode nem ser caracterizada como sociedade totalmente de pessoa, em que
prevalecem as características pessoais dos sócios, nem como sociedade de capital,
em que é relevante apenas a contribuição social, mas não a pessoa do sócio.
Os sócios poderão disciplinar no contrato social quais características
preponderantes, ora de uma sociedade de pessoas, ora de uma sociedade de
capitais, regerão a vida societária. Podem assim determinar a regência supletiva
pelas normas das sociedades anônimas, como uma sociedade de capital, ou podem
permitir a livre cessão das quotas dos sócios a terceiros ou imporem maior restrição
etc.

5.6.2.1. Constituição

A constituição da sociedade limitada exige contrato escrito, o qual será inscrito no


Registro Público. Se unipessoal a sociedade limitada, a partir de 2019 uma
possibilidade conferida pela Lei, aplica-se ao documento de constituição do sócio
único o que couber para o contrato social.
O contrato social deverá estabelecer: I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão
e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação,
nacionalidade e a sede dos sócios, se pessoas jurídicas; II - nome empresarial,
objeto, sede e prazo da sociedade; III - capital social; IV - a quota de cada sócio no
capital social e o modo de realizá-la; V - os administradores da sociedade, seus
poderes e atribuições;
VI - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas.
Como contrato, exigia-se a pluralidade de sócios contratantes. Ao menos dois só-
cios, pessoas físicas ou pessoas jurídicas, deveriam contratar a sociedade.
A Lei n. 13.874, de 2019, entretanto, criou modalidade de sociedade unipessoal.
Por meio da alteração no art. 1.052, admitiu-se a sociedade limitada constituída por
uma única pessoa, hipótese em que se aplicarão ao documento de constituição do
sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato social.

5.6.2.2. Obrigações e direitos dos sócios


Como sociedade, os sócios se obrigam a contribuir com seus recursos para o
desenvolvimento de uma atividade comum com a partilha entre si dos resultados.
Essa contribuição permite a formação do capital social, o qual será dividido em
quotas, iguais ou desiguais.
Para essa formação do capital, o sócio poderá contribuir com bens ou com dinheiro. É
proibida, na sociedade limitada, a contribuição com serviços. Caso algum dos sócios
contribua com bens, todos os sócios respondem solidariamente, até o prazo de cinco
anos do registro da sociedade, pela exata estimação dos bens transferidos.
O sócio que não integralizar suas quotas será considerado remisso. Para ser re-
misso, entretanto, o sócio inadimplente nos termos do contrato social, deverá ser
notificado para integralizar a quota no prazo de 30 dias. Apenas após sua inércia é
que o sócio poderá ser responsável perante a sociedade pelos danos causados pela
sua mora.
Alternativamente à indenização pela mora, a sociedade poderá decidir, por maio-ria,
excluir o sócio remisso ou reduzir o capital ao montante efetivamente integralizado.
Na sociedade limitada, outrossim, a sociedade também poderá tomar para si as
quotas subscritas pelo sócio remisso ou transferi-las a terceiros, com a exclusão do
só-cio, mas sem a liquidação da quota. Devolve-se ao sócio remisso apenas aquilo
que houver pago, deduzidos juros, despesas e eventuais encargos estabelecidos no
contrato.
Além de contribuir, os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias
retiradas, a qualquer título, mesmo que autorizados pelo contrato social, quando tais
lucros ou quantia se distribuirem com prejuízo do capital social.
O principal direito dos sócios é o de participar dos lucros da sociedade e de, na
hipótese de dissolução, participar da partilha dos ativos e apuração de haveres. Além
dos direitos patrimoniais, possuem os sócios os direitos de fiscalizar a atividade
social, o de participar da administração da sociedade, o de votar nas deliberações.

O sócio tem ainda direito de preferência. Poderá participar, na proporção de suas


quotas, de eventual aumento do capital social, desde que exerça seu direito no prazo
de
30 dias da deliberação de aumento.
Também terão o direito de recesso.
O direito de recesso é o direito de se retirar da sociedade, com o pagamento do valor
de sua quota pela pessoa jurídica mediante a apuração de haveres.
Se a sociedade tiver prazo indeterminado, o sócio poderá se retirar da sociedade
mediante simples notificação da sociedade com prazo de 60 dias. Caso a sociedade
tenha prazo determinado, o direito de retirada ocorre apenas se houver modificação
do contrato social, fusão, incorporação de sociedade, e o sócio não tiver concordado
com a deliberação que determinou. Apenas diante desse justo motivo, o sócio poderá
se retirar da sociedade em 30 dias da deliberação.
Pelo exercício do direito de recesso, será apurado o valor da quota do sócio mediante
o levantamento de balanço patrimonial especial na data de sua retirada, exceto se
houver previsão em contrário no contrato social. Do mesmo modo, a menos que
estabelecido de modo diverso, o sócio deverá ser pago em dinheiro, no prazo de 90
dias, a contar da liquidação.

5.6.2.3. Responsabilidade dos quotistas na sociedade limitada


Na sociedade limitada, o sócio responde pelas obrigações sociais apenas
subsidiariamente. Seus bens pessoais poderão ser executados apenas após
esgotados os bens da sociedade. Além de subsidiária, a responsabilidade restringe-se
ao montante do capital social a ser integralizado por todos os sócios. Os sócios
respondem pela obrigação que contraíram perante a companhia de contribuir para a
integralização do capital social. Somente serão responsabilizados, nesse ponto, pela
diferença de valor entre o que prometeram (subscreveram) e o que faltou
satisfazerem (o que faltou ser integralizado).
Além de subsidiária em face da sociedade, ou seja, desde que não restem bens à
sociedade para satisfazer as dívidas, a responsabilidade dos sócios é solidária entre
si. Ainda que o sócio tenha integralizado todas as suas quotas, caso qualquer dos
outros sócios não tenha, todos os sócios ou qualquer deles poderão ser
responsabilizados com seus bens particulares pelas obrigações sociais na medida do
montante remanescente à integralização total do capital social.

5.6.2.4. Modificação do capital social


O capital social expressa a soma das contribuições dos sócios para o
desenvolvimento da atividade social, ao menos inicialmente. Durante o
desenvolvimento da atividade, embora o capital social seja fixo, ao contrário do
patrimônio, poderá ser reduzido ou aumentado.
Como o capital social procura garantir os credores da satisfação de suas obrigações
sociais, a alteração do capital social requer a modificação do contrato de sociedade.
Para majorá-lo, é necessário que já tenha ocorrido a integralização das quotas e que
haja deliberação dos sócios.
A redução do capital social poderá ocorrer se:
b) integralizadas as quotas, houver a necessidade de redução em razão de per-das. O
valor das quotas será reduzido na proporção da redução do capital social. Apenas é
eficaz perante terceiros após a averbação no Registro.
delibere-se que o capital social é excessivo em relação ao objeto social. O valor das
quotas será reduzido, mas a diferença será restituída aos sócios.
Somente será eficaz se não houver impugnação de credores no prazo de 90 dias da
publicação da ata da assembleia, ou desde que tenha havido o pagamento da dívida
do credor ou o depósito do valor do crédito em juízo.
• 5.6.2.5. Quotas sociais
O capital social é dividido em quotas sociais, as quais podem ser iguais ou desiguais.
As quotas são indivisíveis em relação à sociedade. Ainda que possa uma única quota
ser de propriedade de várias pessoas, os direitos em relação a essa quota são
exercidos pelo representante do condomínio dos proprietários, ou pelo inventariante
do sócio falecido. Entre os coproprietários, a responsabilidade pela contribuição é
solidária. Apenas em relação à transferência é que a quota não é indivisível em
relação à sociedade e o sócio poderá transferir a quota ou parte dela a terceiro.
Nos termos do art. 1.057 do Código Civil, a menos que o contrato estabeleça de modo
diverso, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente a quem seja sócio,
independentemente de consentimento dos demais só-
cios. Poderá também transferir a terceiros, estranhos à sociedade, mas desde que
não haja oposição de titulares de mais de um quarto do capital social.
Perante a sociedade e os terceiros, os efeitos da cessão ocorrerão apenas a partir da
averbação do instrumento no registro e desde que acompanhado da anuência dos
sócios.
5.6.2.6. Órgãos da sociedade limitada
São órgãos da sociedade limitada a assembleia geral de quotistas, os
administradores e o conselho fiscal.

5.6.2.6.1. Assembleia geral de quotistas


As principais decisões da sociedade podem ser tomadas pelos sócios. Na sociedade
limitada, as deliberações poderão ocorrer na forma de assembleia ou de reunião,
conforme disponha o contrato social. A faculdade de escolha, entretanto, ocorrerá
apenas se a quantidade de sócios for inferior a dez. A deliberação em assembleia
será obrigatória se o número de sócios for superior a dez.
As reuniões possuem menos formalidades de instalação e o próprio contrato social
poderá estabelecer as formas de convocação e quórum de instalação. Na assembleia
geral, entretanto, as formalidades são as descritas na própria lei. Exige-se a
convocação .. por publicação de anúncio por três vezes, com ao menos oito dias
entre a data da assembleia e a data da primeira publicação e de cinco dias para a
segunda convocação.
As publicações devem ocorrer em jornal de grande circulação e no órgão oficial.
Em virtude da alteração promovida pela Lei n. 14.030/2020, nas sociedades limitadas
poderá haver reunião ou assembleia geral digital ou eletrônica. O quotista poderá
participar e votar à distância, desde que respeite os direitos legalmente previstos de
participação e de manifestação dos sócios, nos termos do regulamento do órgão
competente do Poder Executivo Federal (art. 1.080-A do CC).
As formalidades para as convocações são dispensáveis e suas falhas são supridas se
todos os sócios comparecerem ou se declararem cientes.
As deliberações vinculam todos os sócios, ainda que não tenham comparecido ou
tenham discordado. Caso a deliberação seja contra a Lei ou o contrato social, as
deliberações tornarão ilimitadamente responsáveis os sócios que a aprovaram.
Poderão os sócios deliberar, além das matérias previstas no contrato social, sobre:
I - a aprovação das contas da administração; II - a designação dos administradores,
quando feita em ato separado; III - a destituição dos administradores; IV - o modo de
sua remuneração, quando não estabelecido no contrato; V - a modificação do
contrato social; VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a
cessação do estado de liquidação; VII - a nomeação e destituição dos liquidantes;
VIII - o pedido de recuperação; IX - a remuneração dos membros do conselho fiscal.
A assembleia instala-se com quórum, em primeira convocação, de três quartos do
capital social e, nas convocações posteriores, com qualquer número. O quórum de
votação é de maioria relativa, ou seja, maioria do capital social presente na
assembleia, exceto se o contrato exigir prazo maior.
Exigem quórum qualificado a modificação do contrato social, a incorporação, fusão,
dissolução da sociedade e a cessação do estado de liquidação.
Pela alteração realizada pela Lei n. 14.451/2022, a modificação do contrato social e
as operações societárias de incorporação, fusão, dissolução da sociedade ou a
cessação do estado de liquidação não mais exigem quórum de três quartos do capital
social.
O quórum passou a ser de maioria absoluta, ou seja, mais da metade do capital
social.
Para a designação de administradores não sócios, o quórum de aprovação será de
dois terços, enquanto o capital não estiver integralizado e será de maioria absoluta
após a sua integralização (art. 1.061 do Código Civil).
O quórum de votação também será de maioria absoluta, ou metade mais um do
capital social, para a designação dos sócios administradores, seja pelo contrato
social, seja em ato separado. O quórum também é o de maioria absoluta para a
destituição dos administradores, sócios ou não sócios, quer sejam nomeados em ato
separado ou no próprio contrato social (conforme alteração da Lei n. 13.792/2019 no
art. 1.063 do Código Civil), o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no
contrato e o pedido de recuperação judicial.
A assembleia deverá ocorrer ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes
ao término do exercício social. A assembleia deverá tomar as contas do administra-
dor, deliberar sobre o balanço de resultados e designar os administradores, se for o
caso.

A ação anulatória da deliberação de aprovação dos balanços extingue-se em dois


anos.
A deliberação dos sócios será convocada pelos administradores, nos casos previstos
na lei e no contrato. Caso não o façam no prazo de 60 dias, poderá ser convocada
pelos sócios. Poderá ser convocada também por quaisquer titulares de mais de um
quinto do capital social, quando não atendido em oito dias pedido de convocação
fundamentado. Pode ainda ser convocada pelo Conselho Fiscal, se a diretoria
retardar por mais de 30 dias a convocação anual ou sempre que houver graves
motivos.

5.6.2.6.2. Administração da sociedade limitada


Embora tenham sido atribuídas as principais decisões da sociedade à deliberação
dos sócios, as decisões ordinárias da sociedade são tomadas pelos administradores,
aos quais compete a prática dos atos de gestão e da representação da sociedade
perante terceiros.
Os administradores terão poderes para praticar atos de gestão, administração da
sociedade internamente, bem como atos de representação, e manifestar a vontade da
sociedade perante terceiros. Caso o contrato social nada estabeleça, os
administradores poderão atuar isoladamente e cada qual terá poder para representar
a sociedade perante terceiros. No exercício dessa função, eles respondem
solidariamente entre si pelos prejuízos que causarem a terceiros ou à própria
sociedade, desde que tenham agido com culpa.
Os administradores serão sempre pessoas físicas. Não se admite na lei a nomeação
de uma pessoa jurídica como administradora. Os administradores podem ser sócios
ou não sócios.

Caso o contrato social atribua a administração a todos os só-cios, a determinação


não se estende aos sócios que ingressarem na sociedade posteriormente.
A nomeação de terceiros, como administradores, é permitida para aumentar a
especialização de funções da administração da sociedade. A nomeação de terceiro,
contudo, deve estar aprovada no contrato social. Os quóruns, entretanto, são
diversos se o administrador for sócio, ou não sócio.
Podem os administradores, ainda, serem nomeados no contrato social ou em ato em
separado. Se for sócio, o administrador nomeado em ato em separado ou no contrato
social exige aprovação de maioria absoluta do capital social. A nomeação deve ser
averbada no Registro Público no prazo de 10 dias da investidura sob pena de não ter
eficácia perante terceiros.
A cessação das funções do administrador ocorre pela destituição, em qualquer
tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou em ato separado,
não houver recondução.
A destituição do administrador, independentemente se sócio ou não sócio, salvo
disposição contratual em contrário, exige quórum de maioria absoluta do capital (art.
1.063, $ 1° e art. 1.071, ambos do CC).

A cessação das funções do administrador deverá ser averbada no registro público em


10 dias ao da ocorrência.
Além da destituição e do término do prazo, poderá cessar a função do administrador
pela renúncia. A renúncia do administrador torna-se eficaz, em relação à sociedade,
desde o momento em que esta toma conhecimento da comunicação escrita do
renunciante; e, em relação a terceiros, após a averbação e publicação.

5.6.2.6.3. Conselho fiscal da sociedade limitada

O conselho fiscal tem a atribuição de supervisionar os administradores da sociedade.


A ele compete examinar os livros e papéis da sociedade, lavrar no livro de atas do
conselho fiscal o resultado dos exames, fornecer parecer sobre os negócios e as
operações sociais, denunciar erros, fraudes ou crimes que descobrir, convocar a
assembleia dos sócios se a diretoria retardar.
Ele não é obrigatório nas sociedades limitadas, apenas nas sociedades anônimas. A
facultatividade de sua instalação é não exigir que a onerosidade de sua criação seja
imposta a sociedades limitadas de pequena dimensão e que não exigiriam um
controle maior do administrador.
O conselho fiscal deve ser concebido pelo contrato social. Deverá ser composto por,
no mínimo, três membros, sócios ou não sócios, desde que residentes no país. Não
podem ser administradores da sociedade, nem de sociedades controladas, nem
empregados de quaisquer delas ou de seus administradores.
São eleitos pela assembleia geral por quórum de votação de maioria relativa.
Os sócios minoritários poderão, desde que tenham pelo menos um quinto do capital
social, eleger em separado um dos
membros.

As atribuições do conselho fiscal não podem ser outorgadas a outro órgão da


sociedade. Seus membros respondem apenas por culpa no desempenho de suas
funções, quer perante a sociedade, quer perante terceiros.
• 5.6.2.7. Dissolução da sociedade
A sociedade limitada pode se dissolver total ou parcialmente.
A dissolução parcial é conhecida também por resolução da sociedade em relação a
um sócio. Ela pode ocorrer pela retirada do sócio em razão de seu direito de recesso
ou pela exclusão, a qual pode ser judicial ou extrajudicial.
A exclusão judicial pode ocorrer nas hipóteses de incapacidade superveniente do
sócio ou em razão da demonstração de falta grave desse. Ambas as hipóteses exigem
aprovação da maioria dos demais sócios e pedido judicial. Nessa hipótese, poderá
ocorrer a exclusão do próprio sócio majoritário, pois a deliberação é dos demais
sócios.
Para que a exclusão possa ser extrajudicial, ela precisa ter sido estabelecida no
contrato social. Caso exista a possibilidade no contrato, exige-se deliberação da
maioria absoluta do capital social, que poderá determinar a exclusão do sócio em
razão da prática de um ato de inegável gravidade.
Em razão do quórum, apenas o sócio minoritário poderá ser excluído da sociedade.
Exige-se que se demonstre que o comportamento do sócio minoritário coloca em
risco a continuidade da empresa.

A deliberação da assembleia sobre a exclusão do sócio em razão da falta grave,


entretanto, exige prévia possibilidade de o sócio exercer o contraditório. Para tanto,
o sócio deve ser previamente cientificado, com tempo hábil para comparecer e se
defender, de que deliberação apreciará sua exclusão.
A hipótese de existirem apenas dois sócios na sociedade excetua a necessidade de
assembleia ou reunião de sócios especialmente convocada para a exclusão. Se
existirem apenas dois sócios, desde que o sócio possua mais da metade do capital
social e a possibilidade esteja prevista no contrato social, o sócio majoritário poderá
excluir o minoritário em razão de ato de inegável gravidade que ponha em risco a
continuidade da empresa mesmo sem qualquer deliberação societária (art. 1.085,
parágrafo único, alterado pela Lei n. 13.792/2019).
Excluído da sociedade, o sócio terá direito à apuração de seus haveres. A menos que
estabelecido de modo diverso no contrato, será levantado balanço especial para
apuração. A quota do sócio será liquidada com base na situação patrimonial da
sociedade, à data da resolução, e seu valor será pago em dinheiro no prazo de
noventa dias, salvo estipulação em contrário (arts. 1.086 c/c 1.031 do CC).
Persistirá a responsabilidade do excluído por dois anos após a averbação da
resolução pelas dívidas contraídas até o momento da averbação.

A dissolução total, por seu turno, tem as mesmas hipóteses da sociedade simples.
Poderá a sociedade ser dissolvida se vencer o seu prazo de duração, a menos que se
prorrogue automaticamente por não ter ocorrido oposição de sócios; pelo consenso
dos sócios; por deliberação da maioria absoluta dos sócios, na hipótese de sociedade
por prazo indeterminado; pela falta de pluralidade de sócios, caso não seja
reconstituída em 180 dias (o que deve ser considerado tacitamente revogado em
razão da nova possibilidade estabelecida de sociedade limitada com sócio único -
alteração realizada no art. 1.052, parágrafo único, pela Lei n. 13.874/2019), e pela
extinção da autorização para funcionar.

5.6.3. Sociedade anônima


A sociedade anônima é disciplinada pela Lei n. 6.404/64. Caracteriza-se por ter
personalidade jurídica e ser necessariamente empresarial, independentemente da
natureza da atividade desenvolvida.
A sociedade anônima caracteriza-se, ainda, por ser sociedade tipicamente de capital,
em que é mais relevante o montante da contribuição dos acionistas do que suas
características pessoais. Nesses termos, seu capital social é dividido em ações,
títulos de livre circulação pelos proprietários, independentemente do consentimento
dos demais acionistas.
As ações representam frações idênticas do capital social e são livremente
circuláveis. Sua circulação não poderá ser restrita de qualquer forma. Em razão de
sua natureza como sociedade de capital, a ação das companhias poderá ser objeto
de penhora pelos credores particulares dos acionistas, pode ser transferida a
terceiros, inclusive mortis causa aos herdeiros.
Os acionistas são responsáveis apenas pelo valor das ações por eles subscritas e
ainda não integralizadas. Subscrição identifica a promessa de pagamento pelo
adquirente do valor das ações à companhia, e esse pagamento é concebido como
integralização.
Ainda que os demais acionistas não tenham integralizado, satisfeito, o montante ao
qual se vincularam a contribuir para o capital social, o acionista responde apenas
pela integralização do valor de sua ação. Caso já o tenha integralizado, ainda que os
demais não, e mesmo que não existam bens sociais suficientes para a satisfação das
obrigações sociais, o acionista não será responsabilizado.
A lei determina que o objeto social da companhia deve estar definido de modo
preciso. O objeto social é a atividade econômica a ser desenvolvida pela companhia,
e que não poderá ser contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes (art. 2° da
Lei n. 6.404/76).
O objeto social limita a responsabilidade da companhia pelas obrigações contraídas.
Isso porque restringe os poderes dos administradores à atividade previamente
delimitada. Apenas dentro dessa atividade especificada no objeto social os
administradores possuem poderes para fazer presente a companhia e, nesse caso,
para vinculá-la pela obrigação contraída perante terceiros.

5.6.3.1. Classificação das Sociedades Anônimas


As sociedades anônimas podem ser fechadas ou abertas. A diferenciação entre
ambas refere-se à possibilidade ou não de negociação dos títulos por elas emitidos
no mercado de capitais.
As sociedades anônimas abertas são as sociedades cujos valores mo-biliários, títulos
de emissão pela companhia que fornecem direitos aos adquirentes, são livremente
negociados no mercado de capitais, composto pela Bolsa de Valores e Mercado de
Balcão.
A Bolsa de Valores poderá ser associação ou sociedade anônima e é integrada por
sociedades de corretores. Constitui um mercado secundário, pois não negocia novas
ações, mas apenas negocia as ações já titularizadas por acionistas com os
adquirentes.
O Mercado de Balcão consiste no conjunto de operações com valores mobiliários
realizadas por intermediários do sistema de distribuição. Pode consistir tanto em um
mercado primário, em que os títulos são adquiridos diretamente da companhia, como
em mercado secundário, em que os títulos são adquiridos de um outro proprietário.
As sociedades anônimas fechadas não possuem seus títulos negociados no mercado
de capitais. A negociação dos títulos faz-se diretamente entre o proprietário e o
adquirente.

Nas companhias fechadas, o estatuto pode impor limitações à circulação das ações
nominativas, contanto que não impeça a
negociação das ações e não sujeite o acionista ao arbítrio dos órgãos de
administração da companhia ou da maioria dos acionistas (art. 36 da
LSA).
Caso essa limitação ocorra por alteração estatutária, a limitação somente será
aplicável às ações cujos titulares expressamente tenham concordado com ela.

5.6.3.2. Constituição da sociedade anônima


Para que ocorra a constituição da sociedade anônima, imprescindível que ocorra a
subscrição de pelo menos duas pessoas de todas as ações em que se divide o capital
social; pagamento de, no mínimo, 10% em dinheiro do valor do preço de emissão das
ações subscritas, com o depósito da referida entrada em estabelecimento bancário
pelo fundador no prazo de 5 dias do recebimento das quantias.
A partir do depósito no banco pelo fundador, a companhia terá o prazo de seis meses
para se constituir, sob pena de o Banco restituir as quantias depositadas diretamente
aos subscritores. Caso adquira a personalidade jurídica, apenas a sociedade poderá
levantar os recursos.
O requisito da subscrição de todas as ações poderá ser feito de duas formas:
subscrição pública ou subscrição particular.

A subscrição pública é exigência para as sociedades anônimas abertas. Requer o


intermédio de instituição financeira e o prévio registro da emissão na Comissão de
Valores Mobiliários, de modo a disponibilizar as ações para a subscrição pelo público.
Por ocasião dessa subscrição, o adquirente pagará o valor mínimo de 10% do preço
de emissão das ações em dinheiro à instituição financeira.
Caso ocorra a subscrição de todo o capital social, os fundadores convocarão a
assembleia geral e os subscritores constituirão a companhia desde que não haja
votos contrários por mais da metade do capital social ao projeto de estatuto social.
Na assembleia de constituição serão eleitos os administradores e fiscais.
Em vez da subscrição pública, poderá ocorrer uma subscrição particular para a
constituição da companhia. A subscrição particular é realizada sem maiores
formalidades pelas sociedades anônimas fechadas e não exige a intermediação de
instituição financeira ou prévio registro na CVM. Faz-se por deliberações dos
subscritores em assembleia geral ou por escritura pública.
Em assembleia, o projeto de estatuto deve ser entregue à assembleia com a
assinatura de todos os subscritores do capital. Se realizado por escritura pública, ele
precisa ser assinado por todos os subscritores e deverá conter a identificação
destes, o estatuto da companhia, a relações das ações, o recibo do depósito das
entradas das contribuições ao capital social, nomeação dos primeiros
administradores e fiscais, se o caso.

Para adquirir personalidade jurídica, os atos constitutivos devem ser inscritos no


Registro Público de empresa mercantil e deverão ser publicados na imprensa oficial
do local da sede da companhia.

• 5.6.3.3. Capital social da sociedade anônima


O capital social é o valor expresso no estatuto social e, inicialmente, refere-se ao
valor da contribuição dos sócios com bens para o desenvolvimento da atividade
empresarial. O capital social permitirá aos terceiros que pretendam contratar com a
sociedade aferir um montante aproximado de seu patrimônio, pois o capital social
será fixo, estável, enquanto o patrimônio é variável. Permite a determinação da
posição do acionista na sociedade também, pois o capital social será dividido em
ações atribuídas a cada um dos sócios, os quais, diante do montante por eles detido,
poderão exercer determinados direitos.
Compõe-se o capital social, portanto, pela soma das contribuições dos sócios. A
integralização das ações subscritas, além da entrada que deve ser feita
necessariamente em dinheiro, poderá ser realizada em bens.
A Lei n. 6.404/76 proibiu a integralização das ações por serviços, mas permitiu que os
acionistas conferissem bens para a
integralização.

Para que o capital social seja conforme a realidade efetiva dos bens conferidos pelos
acionistas ao integralizarem suas ações, a lei determinou que os bens deverão ser
avaliados por três peritos ou por empresa especializada, ambos nomeados na
assembleia geral de subscritores. O laudo será apresentado à assembleia que, caso o
aprove, permitirá a incorporação dos bens ao patrimônio da companhia.
Caso referidos bens sejam imóveis, a transferência dos bens não exige escritura
pública. A certidão de arquivamento dos atos constitutivos no Registro Público de
Empresas Mercantis é suficiente para a transferência, por transcrição no Cartório de
Registro de Imóveis, dos bens que o subscritor tiver contribuído para a formação do
capital social (art. 98, § 2°,
da LSA).
A responsabilidade civil dos subscritores que contribuírem com bens para a formação
do capital social será idêntica à do vendedor. Eles respondem, juntamente com os
avaliadores, com culpa ou dolo na avaliação dos bens pelo prejuízo que causarem à
companhia ou a terceiros.
Embora o capital social seja fixo, poderá ser reduzido ou aumentado.
O capital poderá ser aumentado por deliberação da assembleia geral ordinária para a
correção monetária de seu valor; por deliberação da Assembleia Geral ou do
Conselho de Administração para emissão de ações dentro do limite autorizado no
estatuto; por conversão de debêntures, partes beneficiárias e bônus de subscrição,
em ações; por deliberação da Assembleia Geral Extraordinária, mediante subscrição
pública ou particular, desde que depois de três quartos do capital social ter sido
integralizado; por capitalização dos lucros e das reservas.
O capital social poderá ser reduzido se a Assembleia Geral aprovar a redução em
razão de perdas sociais ou em razão de julgar o capital social excessivo (art. 173 da
ISA). Essa redução somente poderá ser eficaz após 60 dias da publicação da ata da
assembleia que a tiver deliberado, pois, no prazo, os credores poderão se opor à
redução e, caso o façam, o arquivamento da ata apenas poderá ser feita na Junta
Comercial caso o pagamento dos credores tenha sido realizado. Caso a companhia
tenha emitido debêntures, a redução de capital exige que os debenturistas aprovem a
redução.

5.6.3.4. Acionistas da sociedade anônima


O acionista é o proprietário de ações emitidas pela companhia. Como contrato, a
sociedade anônima deve possuir ao menos dois acionistas para a sua constituição.
Excepcionalmente, entretanto, permite-se que a sociedade anônima possua
temporariamente apenas um único acionista.

A pluralidade de acionistas, todavia, deve ser recomposta da assembleia que


constatou que havia apenas um acionista até a assembleia do ano seguinte, sob pena
de dissolução da companhia.

A única exceção a essa regra ocorre com a sociedade anônima subsidiária integral.
Essa pode ser constituída por escritura pública e pode ter um único acionista
consistente numa sociedade brasileira.
Ao se tornar proprietário de ações, o acionista passa a obter direitos e a contrair
obrigações perante a companhia. Dentre as obrigações, a principal do acionista é o
seu dever de integralizar as ações por ele subscritas, conforme o previsto no estatuto
ou no boletim de subscrição.
Caso o acionista não faça o pagamento na data prevista, ficará de pleno direito
constituído em mora e se sujeitará ao pagamento de juros, correção e de multa que o
estatuto determinar, a qual não poderá ser superior a 10% (art. 106 da LSA). O
acionista em mora é considerado re-
misso.
Em face do remisso, a companhia poderá cobrar as importâncias devidas e/ou mandar
vender as ações em Bolsa de Valores. Caso ainda assim não consiga a integralização
das ações, poderá declará-las caducas e fazer suas as entradas realizadas.
Em relação aos direitos, os acionistas são titulares de direitos essenciais que não
poderão ser suprimidos nem pela Assembleia Geral, nem pelo próprio estatuto social.
Dentre esses direitos, os acionistas deverão participar nos lucros sociais. Os
acionistas têm direito a um dividendo obrigatório, consistente em um montante de
lucro estabelecido no estatuto social e, em sua omissão, será a de metade do lucro
líquido do exercício, com a dedução daquilo destinado às reservas sociais.

Têm direito os acionistas, ainda, de participar no acervo da companhia em caso de


liquidação. Podem fiscalizar a gestão dos negócios sociais e, nesse ponto, poderão
requerer a exibição dos livros sociais desde que possuam ao menos 5% do capital
social, apontem violações à lei ou ao estatuto ou caso haja suspeita de
irregularidades. Terão os acionistas, ainda, direito de preferência para a subscrição
de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis e
bônus de subscrição.
Garante-se aos acionistas, ademais, direito de retirada.
O direito de retirada consiste em ter suas ações reembolsadas pela companhia, caso
discorde de deliberação social que deter-
mine a criação de ações preferenciais ou aumento sem guardar proporção com as
demais classes de ações preferenciais; alteração nas preferências; criação de classe
mais favorecida; redução de dividendo obrigatório; fusão, incorporação, cisão;
participação em grupo de sociedade; mudança de objeto da companhia.
As ações conferem, em regra, também direito de voto, o qual, entre-tanto, poderá ser
restrito pela companhia com a emissão de ações preferenciais. Pela alteração da Lei
n. 14.195/2021, não é mais proibido o voto plural, ou seja, a atribuição de mais de um
voto para cada ação. O voto plural poderá ser atribuído a classes de ações ordinárias.

Se atribuído à classe, o voto plural não poderá ser superior a 10 votos por ação
ordinária e deverá ter prazo de vigência de até sete anos, prorrogável por deliberação
dos demais acionistas. Na companhia aberta, a criação do voto plural somente pode
ocorrer previamente à negociação de qualquer valor mobiliário conversível em ações
em mercados organizados.
As ações com voto plural serão convertidas em ações ordinárias sem
voto plural se forem transferidas a terceiros.
As ações de cada classe conferirão iguais direitos aos seus titulares, os quais
poderão ser tutelados, inclusive judicialmente. Nada impede que o estatuto da
sociedade estabeleça que as divergências entre os acionistas e a companhia ou
entre os acionistas não sejam submetidas ao judiciário, mas sejam solucionadas
mediante arbitragem.
O penhor da ação não impede o voto pelo acionista, mas o estatuto poderá exigir o
consentimento do credor pignoratício. O credor garantido por alienação fiduciária não
poderá exercer o direito de voto, apenas o devedor - e nos termos do contrato. Caso a
ação seja gravada com usufruto, o direito somente poderá ser exercido se houver
prévio acordo entre o proprietário e o usufrutuário.
A assembleia poderá suspender o direito de voto dos acionistas, se o acionista não
realizar suas obrigações, como, por exemplo, efetuar suas contribuições sociais.

5.6.3.5. Acionista controlador


A lei atribuiu deveres diferentes ao acionista controlador, em razão dos poderes por
esse exercidos. É considerado controlador aquele que seja titular de direitos de sócio
que lhe assegurem, de modo permanentemente, maioria dos votos nas deliberações
sociais, desde que use efetivamente desse poder para dirigir as atividades sociais.
Pode ser acionista totalitário, que possui todas as ações com direito de voto da
companhia. Pode ser majoritário, que possui a maioria das ações com direito a voto.
Basta, para sua definição, que tenha a maioria efetiva das ações que compareçam à
assembleia, ou seja, ainda que minoritário, pode ser controlador desde que suas
ações sejam suficientes para predominar na assembleia, de modo não transitório.
Ao controlador foi imposto o dever de agir para proteger os interesses dos demais
acionistas e dos interesses das demais pessoas envolvidas.com a empresa. Será
responsável se orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou promover
a liquidação de companhia próspera ou operação societária com o fim de obter
vantagem indevida ou de causar prejuízo aos acionistas minoritários; eleger
administrador que sabe inapto; contratar com a companhia em condições não
equitativas; aprovar contas irregulares de administradores ou não apurar denúncia.

5.6.3.6. Acordo de acionistas


Poderão ser celebrados acordos entre os acionistas para que eles possam exercer
maiores poderes na companhia.
Os acordos de acionistas podem versar sobre compra e venda das ações entre os
acionistas; a preferência para aquisição de
ações; o exercício do direito de voto e o exercício do poder de controle.
Os acordos de acionistas serão eficazes perante a companhia quando forem
arquivados em sua sede social. Para serem eficazes também quanto a terceiros, o
que ocorre nos acordos que versam sobre a transferência das ações, os acordos de
acionistas deverão ser averbados no livro de registro e nos certificados das ações.
Caso sejam eficazes perante a companhia, a infringência do acordo de voto, com a
votação ao contrário do convencionado, exigirá que o presidente da Assembleia ou
do órgão colegiado de deliberação não compute o voto proferido.
O acordo de acionistas garante, outrossim, a vinculação dos administradores eleitos
nos termos do acordo à convenção. O presidente do Conselho de Administração ou a
diretoria, assim como faz o presidente da Assembleia Geral, devendo desconsiderar o
voto proferido pelos administradores contrários aos termos do acordo, desde que
tenham sido eleitos nos termos desse. Para que possa ser computado o voto a favor
do acordo, e não haja simplesmente a desconsideração do voto em contrário, os
contratantes do acordo poderão se valer da execução judicial específica do acordo
de acionistas.

Caso ocorra a abstenção do voto ou a ausência do acionista ou do administrador à


votação, os contratantes do acordo de acionistas poderão exercer diretamente o voto
nos termos contratados. Desnecessária a tutela judicial nesse caso.

5.6.3.7. Valores mobiliários


Valores mobiliários são títulos emitidos pelas sociedades anônimas para captarem
recursos para o desenvolvimento de suas atividades. Define-se valor mobiliário de
modo amplo como todos os títulos ou contratos de investimento ofertados
publicamente, que gerem direito de participação ou remuneração, inclusive
resultante de prestação de serviços.
Os principais valores mobiliários emitidos pelas sociedades anônimas são as ações,
as partes beneficiárias, as debêntures, os bônus de subscrição e o commercial paper.

5.6.3.7.1. Ações
Ações são bens representativos do capital social da companhia. Consideradas bens
móveis, as ações conferem ao proprietário direitos e deveres como acionista da
companhia.
As ações poderão ter valor nominal, preço de emissão e valor patrimonial.

O estatuto determinará se as ações possuirão valor nominal, que é o montante


representativo daquela ação em face do valor do capital social.
Caso o estatuto social não estabeleça o valor nominal, as ações continuam a conferir
os mesmos direitos e deveres, apenas não terão um valor expresso em moeda no
título.
Caso tenham expresso o valor nominal, todas as ações deverão ter o mesmo valor.
Ainda que a companhia não tenha ações com valor nominal, o estatuto poderá criar
uma ou mais classes de ações preferenciais com valor nominal.
O preço de emissão da referida ação, contudo, não se identifica com o seu valor
nominal. O preço de emissão é o valor pago como contribuição pelo subscritor e que
será fixado pela assembleia na constituição da companhia ou no aumento de seu
capital social. Caso o preço de emissão seja superior ao valor nominal, a diferença
não formará o capital social, mas constituirá reserva de capital.
O valor patrimonial, por seu turno, é a parcela do patrimônio da companhia. Como o
capitar social não varia, mas o patrimônio sim, o valor patrimonial da ação poderá ser
superior ou inferior ao valor nominal da ação.
Quanto à forma, as ações poderão ser nominativas ou escriturais. Estão proibidas as
ações ao portador, cujos proprietários não eram identificados. Todas as ações devem
ser nominativas.
.
Na primeira forma de ação nominativa, o nome do acionista encontra-se inscrito no
livro de Registro de Ações Nominativas. A transferência nessa ocorre mediante termo
no livro de transferência de ações nominativas.
As ações escriturais são formas também de ações nominativas, pois identificam os
acionistas. Não há emissão de certificados. São mantidas as ações escriturais em
contas de depósito em nome dos titulares, numa instituição financeira. Prescinde-se,
portanto, do livro de transferência, pois a instituição financeira fará o controle de
quem é o proprietário das ações. A propriedade é presumida pelo registro na conta de
depósito das ações.
As ações podem se diferenciar, também, quanto aos direitos conferidos aos
acionistas. Podem ser ações ordinárias, ações preferenciais ou ações de fruição. As
ações ordinárias são as ações que conferem direitos comuns aos acionistas.
Garantem a esses o direito de voto nas deliberações e o direito de participar dos
lucros e das perdas.
As ações podem ser divididas em classes diversas, sejam elas preferenciais ou
ordinárias.
As ações ordinárias podem ser de classes diversas em função de permitirem a
conversão em ações preferenciais, exigirem nacionalidade brasileira, permitirem
direito de voto em separado para eleger membros dos órgãos de administração ou
atribuírem a seus acionistas o voto plural, observados os limites e as condições do
art. 110-A da Lei n. 6.404/76.
O voto plural somente pode ser conferido às ações ordinárias.
Nas companhias abertas, as ações ordinárias também poderão ser divididas em
classes, mas apenas no tocante à adoção do voto plural (art. 16-A da Lei n. 6.404/76).

As ações preferenciais, por seu turno, podem conferir direito de voto, voto restrito ou
não conferirem direito de voto. Não podem ter voto plural, restrito este às ações
ordinárias.
Caso possuam voto restrito, as ações preferenciais não podem ultrapassar 50% do
valor total das ações. Independentemente se companhia aberta ou fechada, as ações
preferenciais podem ser de uma ou mais classes, de forma a diferenciar os direitos e
limitações conferidos a cada classe de ações preferenciais.
Podem garantir prioridade na distribuição de dividendo, prioridade no reembolso do
capital ou ambos. Caso as ações limitem o direito de voto do acionista, elas precisam
garantir a eles um privilégio. Se limitar o direito de voto, a ação preferencial deve
garantir o direito de participar do dividendo a ser distribuído e que deve corresponder
a, pelo menos, 25% do lucro líquido do exercício; ou direito de recebimento de
dividendo por ação preferencial pelo menos 10% maior do que o atribuído a cada
ação ordinária; ou direito de serem incluídas na oferta pública de aquisição de
controle.
Se a companhia deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos, por prazo previsto
no estatuto, mas que não pode ser superior a três exercícios consecutivos, as ações
preferenciais com limitação de voto passarão a ter esse direito.
Ações de fruição são as em que já houve a amortização do valor que seria atribuído
numa partilha. Os acionistas já foram pagos em relação ao montante a que teriam
direito em uma liquidação da companhia. A ação de fruição garante os demais
direitos com exceção de participação no acervo por ocasião da partilha dos bens.

5.6.3.7.2. Partes beneficiárias


Não representam fração do capital social e serão de um único tipo.
Somente podem ser emitidas pelas companhias fechadas e conferem direito aos
titulares para participarem nos lucros anuais. A participação nos lucros não pode
ultrapassar 10% do total dos lucros.
Podem ser utilizadas pela companhia para captar recursos ou entregues a
fundadores, acionistas ou terceiros como remuneração por serviços prestados.

5.6.3.7.3. Debêntures
Debêntures são valores mobiliários emitidos pela companhia para captação de
recursos de longo e médio prazos. Não confere direitos de acionista, mas apenas
direitos de crédito em face da companhia.
Podem ser de quatro espécies: com garantia real (o empréstimo tem uma garantia
real de pagamento), com garantia flutuante (garantem um crédito com privilégio geral
sobre o ativo), quirografárias (não garantem nenhum privilégio aos titulares),
debêntures subordinadas (os titulares somente têm preferência sobre os acionistas
para receber partilha do ativo, em liquidação, mas menos privilegiada do que os
demais acionistas).

O estatuto social poderá garantir que as debêntures possam ser ou não conversíveis
em ações, caso o titular prefira, em vez de receber o que lhe fora garantido, converter
seu crédito em ação da companhia.
Os debenturistas podem se fazer representar, nas relações com a companhia, por um
agente fiduciário. Esse agente terá poderes para proteger os interesses dos
debenturistas.

5.6.3.7.4. Bônus de subscrição


São valores mobiliários emitidos apenas pelas sociedades anônimas de capital
autorizado, aquelas que já têm um aumento de capital social aprovado. Os bônus de
subscrição garantem aos titulares o direito de subscrever ações da companhia por
determinado preço. Ficam os bônus limita-dos ao aumento do capital social.

5.6.3.7.5. Nota comercial


Também chamados de comercial papers, são títulos emitidos para a captação de
recursos e conversíveis em ações, de livre negociação. Representam promessa de
pagamento em dinheiro.
Podem ser emitidos de forma exclusivamente escritural por meio de instituições
autorizadas a prestar o serviço de escrituração pela Comissão de Valores Mobiliários.

Não são de emissão mais restrita às sociedades anônimas. Podem emitir os títulos as
sociedades anônimas, as sociedades limitadas e as sociedades cooperativas.
São promessas de pagamento conferidas aos titulares para pagamento entre 30 e 180
dias pelas companhias fechadas e entre 30 e 360 pelas companhias abertas,
conforme art. 7° da Instrução Normativa n. 134 da CVM,

5.6.3.8. Órgãos sociais


Quatro são os órgãos sociais das sociedades anônimas: a assembleia geral, a
Diretoria, o Conselho de Administração e o Conselho Fiscal.

5.6.3.8.1. Assembleia geral de acionistas


À assembleia geral foi conferido o poder de decidir sobre as principais decisões da
companhia. Nos termos do art. 121 da Lei n. 6.404/76, a Assembleia Geral poderá
deliberar sobre todos os negócios relativos ao objeto da companhia.
A assembleia é formada por todos os credores que possuam direito de voto e é órgão
hierarquicamente superior a todos os demais da companhia.
Compete exclusivamente à Assembleia Geral o poder de: reformar o estatuto social;
eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da companhia;
tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as
demonstrações financeiras por eles apresentadas; autorizar a emissão de
debêntures; suspender o exercício dos direitos do acionista; deliberar sobre a
avaliação dos bens com que o acionista concorrer para a formação do capital social;
autorizar a emissão e partes beneficiárias; deliberar sobre transformação, fusão,
incorporação e cisão da companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir
liquidantes e julgar-lhes as contas; autorizar os administradores a confessar falência
e pedir recuperação.
Na hipótese de urgência, a confissão de falência ou o pedido de recuperação judicial
poderá ser formulado pelos administradores, com a concordância do acionista
controlador, se houver, hipótese em que a assembleia geral será convocada
imediatamente para deliberar sobre a matéria; e deliberar, nas companhias abertas,
sobre a celebração de transações com partes relacionadas, a alienação ou a
contribuição para outra empresa de ativos, caso o valor da operação corresponda a
mais de 50% do valor dos ativos totais da companhia constantes do último balanço
aprovado.
A assembleia poderá ser ordinária ou extraordinária, conforme a deliberação. Nada
impede que haja a cumulação de ambas em uma mesma deliberação.
A assembleia gerar ordinária é a que ocorre anualmente, até quatro meses do término
do exercício social. Compete à assembleia geral ordinária: apreciação das contas dos
administradores; exame das demonstrações financeiras; deliberação sobre a
destinação do lucro líquido do exercício; distribuição dos dividendos; eleição dos
administradores e membros do Conselho Fiscal.

A assembleia geral extraordinária é a que pode se realizar em qualquer época e


apreciará qualquer matéria que não seja atribuição da assembleia geral ordinária.
Poderão convocar a assembleia geral os administradores, o Conselho Fiscal, ou
qualquer acionista se os administradores retardarem a convocação por mais de 60
dias nos casos previstos no estatuto ou na lei. Podem ainda convocar a assembleia
os acionistas que representem ao menos 5% do capital social, se os administradores
não atenderem ao pedido feito por eles no prazo de oito dias, ou 5% do capital
votante ou 5% do capital sem direito a voto, se os administradores não atenderem a
convocação do Conselho Fiscal.
A convocação se fará por publicação por três vezes, ao menos. Nas companhias
fechadas, a primeira publicação deverá ser de ao menos. oito dias de antecedência
da assembleia e a segunda convocação com no mínimo cinco dias. Se a companhia
for aberta, 21 dias de antecedência para a primeira convocação e ao menos oito dias
para a segunda convocação.

Ainda que haja irregularidades na convocação, o vício será suprido caso todos os
acionistas tenham comparecido à assembleia.
A Assembleia Geral será realizada, preferencialmente, no edifício onde a companhia
tiver sede ou, por motivo de força maior, em outro lo-cal, desde que seja no mesmo
município da sede e seja indicado com clareza nos anúncios (art. 124, § 2°, da Lei n.
6.404/76).
Em virtude da alteração promovida pela Lei n. 14.030/2020, nas companhias, tanto
fechadas quanto abertas, poderá haver assembleia geral digital ou eletrônica. O
acionista poderá participar e votar à distância, nos termos do regulamento da
Comissão de Valores Mobiliários e do órgão competente do Poder Executivo Federal.
Os quóruns de instalação são de um quarto do total de votos em primeira convocação
e de qualquer número na segunda convocação. Se a deliberação for de alteração do
estatuto, o quórum de instalação é de dois terços do total de votos em primeira
convocação e a segunda convocação tem o quórum de qualquer quantidade de
acionistas com direito a voto.
Em regra, o quórum de votação é de maioria do total de votos dos acionistas
presentes. Nas sociedades anônimas fechadas, o estatuto pode aumentar o quórum
de algumas matérias.
Exige-se quórum qualificado de maioria absoluta do total de votos existentes e não
presentes exclusivamente à assembleia geral, se número maior não for exigido pelo
estatuto social, para as deliberações sobre: criação de ações preferenciais ou
aumento de classe dessas, alteração nas preferências, casos em que o quórum de
aprovação será de maioria absoluta de cada classe de ações preferenciais
prejudicadas; redução do dividendo obrigatório; fusão da companhia, incorporação e
cisão; participação em grupo de sociedade; mudança de objeto da companhia;
cessação do estado de liquidação da companhia; criação de partes beneficiárias;
dissolução da companhia.

m5.6.3.8.2. Administradores
São administradores das sociedades anônimas os membros do conselho de
administração e os diretores, ou somente os diretores.
Aos administradores, de modo geral, foi atribuído o dever de agir com diligência,
lealdade e sem conflito de interesses.
Com base no dever de diligência, o administrador deve empregar a diligência que
todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios
negócios. De modo que não pode praticar ato de liberalidade à custa da companhia,
salvo autorização da assembleia ou do conselho de administração, tomar por
empréstimo recursos ou bens da companhia, usar em proveito próprio os bens ou
serviços da sociedade, nem poderá receber de terceiros qualquer vantagem em razão
do exercício de seu cargo.
Pelo devedor de lealdade, deve manter reserva sobre os negócios sociais. Não poderá
usar em benefício próprio oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em
razão do cargo nem poderá omitir-se no exercício ou proteção dos direitos da
companhia visando à obtenção de vantagens pessoais.
Terá ainda o dever de informar e de sigilo. O administrador deverá comunicar
imediatamente à bolsa de valores e divulgar pela imprensa fatos relevantes.
São fatos relevantes qualquer acontecimento que possa influir na decisão dos
investidores de comprar ou vender seus valores
mobiliários.
Caso a informação possa comprometer a estratégia da companhia, deverá manter
sigilo sobre o fato relevante e comunicar à Comissão de Valores Mobiliários sobre a
prestação de informações.
É o administrador responsável se violar suas atribuições ou poderes, com culpa ou
dolo ou com violação da lei ou do estatuto. Entretanto, o administrador não responde
pessoalmente pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de
ato regular de gestão, pois nesse caso age como órgão da companhia, obrigando-a
perante terceiros.

• 5.6.3.8.2.1. Conselho de administração


A lei garantiu uma estrutura administrativa dúplice facultativa. Isso significa que o
conselho de administração foi previsto como de adoção apenas facultativa pelas
sociedades anônimas.

O conselho de administração será de existência obrigatória apenas nas sociedades


anônimas abertas, nas sociedades anônimas de capital autorizado (aquelas em que o
aumento de capital já fora aprovado) e nas sociedades anônimas de economia mista.
Os membros do conselho de administração serão eleitos e destituídos pela
assembleia geral de acionistas. O estatuto fixará o número de membros do conselho
de administração, que deve ser de, no mínimo, três membros, e o prazo de gestão,
que não poderá ser superior a três anos.
Na composição do conselho de administração das companhias abertas, é obrigatória
a participação de conselheiros independentes, nos termos e nos prazos definidos
pela Comissão de Valores Mobiliários.
O estatuto poderá prever a participação de representantes dos empregados no
conselho de administração. Os membros do conselho de administração poderão ser
acionistas ou não acionistas, desde que sejam pessoas naturais.
Para que se garanta a representação das minorias nesse órgão administrativo, a
eleição poderá ocorrer por voto múltiplo, desde que requerido por acionistas que
representem no mínimo 10% do valor do capital social com direito a voto. Nesse
caso, são atribuídos tantos votos quantos sejam os membros do conselho de
administração. A destituição de qualquer membro do conselho de administração
eleito por voto múltiplo implica a destituição de todos os demais eleitos por essa
forma.

Os minoritários poderão, ademais, eleger um dos membros por eleição em separado


nas companhias abertas. O direito de votação em separado é atribuído aos titulares
de, ao menos, 15% do total das ações com direito a voto. Também poderão eleger um
membro em separado os titulares de, ao menos, 10% de ações preferenciais com voto
restrito ou sem direito a voto.
Se os percentuais não forem atingidos, os minoritários poderão somar suas
participações com os preferencialistas para elegerem um membro do conselho de
administração, desde que a soma resulte em 10% ao menos de participação no
capital social.
O Conselho de Administração é órgão deliberativo a quem foram atribuídos os
poderes de gestão. Não possuem poderes de representar a companhia perante
terceiros, o que cabe exclusivamente aos diretores. Foram atribuídos poderes ao
conselho de administração para a fixação da orientação geral dos negócios da
companhia; a eleição e destituição dos diretores da companhia e a fixação das
atribuições destes, conforme dispuser o esta-tuto; a fiscalização da gestão dos
diretores; a manifestação prévia sobre os atos ou contratos; e a autorização para a
alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e a prestação de
garantias e obrigações de terceiros.

5.6.3.8.2.2. Diretores

Os diretores são órgãos administrativos que diferem do conselho de administração. A


diretoria é sempre obrigatória, enquanto o conselho de administração é facultativo,
exceto nas hipóteses legais. Os diretores têm poderes de atuação isolada, salvo se o
contrário for estabelecido no estatuto, enquanto o conselho de administração é
sempre órgão deliberativo.
Salvo se no contrário for estabelecido no estatuto social, a todos os diretores são
atribuídos poderes de representação da companhia, enquanto nunca os terão os
membros do conselho de administração.
O estatuto estabelecerá a quantidade de diretores, embora a lei imponha o limite
mínimo de dois, bem como o prazo de gestão, o qual, todavia, não poderá ser superior
a três anos, permitida a reeleição. Poderá o estatuto, ainda, estabelecer quais são as
funções de cada um dos diretores.
Na existência do conselho de administração, os diretores serão eleitos pelo
Conselho. Caso não exista o conselho de administração, os diretores serão eleitos
diretamente pela assembleia geral de acionistas.
Os diretores deverão obrigatoriamente ser pessoas naturais. Pela alteração do art.
146 da Lei n. 6.404/76, não precisam mais ser residentes no país. Se residente no
exterior, a posse do diretor fica condicionada à constituição de representante
residente no Brasil, com poderes para receber citações no mínimo até 3 anos após o
término do prazo de gestão do administrador.
Podem ou não ser acionistas. Poderão ser eleitos como diretores até um terço dos
membros do conselho de administração da companhia.
Se companhia aberta, porém, é vedada a acumulação do cargo de presidente do
conselho de administração e do cargo de diretor presidente ou de principal executivo
da companhia (art. 138, § 3°).

5.6.3.8.3. Conselho fiscal


O conselho fiscal é de existência obrigatória nas sociedades anônimas, embora a sua
instalação seja facultativa, a depender do que dispuser o estatuto social. Caso o
estatuto determine que o funcionamento do conselho fiscal não seja permanente,
poderão requerer seu funcionamento os acionistas que representem, ao menos, 10%
das ações com direito a voto ou 5% das ações sem direito a voto.
Ao conselho fiscal foi atribuído o poder de: fiscalizar os administra-dores; opinar
sobre o relatório anual da administração; denunciar aos demais órgãos os erros e
fraudes que descobrirem; examinar o balancete e demais demonstrações financeiras;
convocar a assembleia geral ordinária se os órgãos de administração retardarem a
convocação por mais de 30 dias ou convocar a assembleia extraordinária sempre que
houver motivos graves e urgentes.
Os membros do conselho fiscal devem ser pessoais naturais, residentes no Brasil,
acionistas ou não acionistas, e deverão ter curso universitário ou deverão ter
exercido no mínimo por três anos o cargo de administrador de empresa. Estão
impedidos de exercer a função os membros dos órgãos administrativos da companhia
ou de sociedade controlada, ou ainda os cônjuges ou parentes do administrador da
companhia.

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