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Olá, caro(a) estudante!
O período de dedicação e preparação para uma prova de concurso público é uma jornada
árdua e trabalhosa. Pensando nisso, elaboramos esta Apostila com toda dedicação e atenção
que você merece.
O seu conteúdo foi criado com todo o rigor necessário para sua utilização como material de
apoio ao estudo para todas as pessoas que almejam adentrar, por meio de concurso, nas
principais carreiras jurídicas. Os conteúdos citam fontes confiáveis, atualizadas e completas
sobre os mais variados temas em Direito e foram elaborados por profissionais com experiência
em ensino e prática jurídica.
O material está organizado hierarquicamente (em modo decrescente de hierarquia: Temas,
Tópicos e Subtópicos). Essa estrutura permite a exploração organizada dos conteúdos da
disciplina e agrupam os objetos do conhecimento que se relacionam, conferindo uma leitura
mais fluida e orgânica.
Além disso, Súmulas do STF e do STJ e importantes jurisprudências serão apresentadas ao
longo de todo o material, auxiliando a compreensão de aspectos práticos dos assuntos. Mapas
mentais, que são um método de memorização e organização do conhecimento adquirido,
foram desenvolvidos ao final de cada Tema com o objetivo de facilitar o aprendizado dos
conteúdos estudados.
A leitura tem início com o estudo dos conceitos iniciais da disciplina, adentrando no histórico,
nas Funções de Estado e nas Fontes do Direito Administrativo. Em seguida, a fim de
sedimentar a base do Direito Administrativo, será estudado o regime jurídico administrativo,
isto é, o conjunto de regras e princípios que lhe dão identidade e lhe conferem autonomia na
ciência jurídica.
Formada a base necessária para a compreensão da disciplina, será tratado o tema da
organização da Administração Pública, o qual é destinado à compreensão da estrutura interna
do Estado, englobando os seus agentes, órgãos e entidades que exercem atividade
administrativa. Nesse mesmo contexto, também serão estudados os poderes administrativos,
os quais, de forma sistematizada, buscam garantir à Administração Pública o desempenho de
suas atividades estatais.
Enfoque necessário será igualmente conferido às matérias tocantes aos atos administrativos,
com enfoque necessário às suas características e espécies. Posteriormente, serão
desenvolvidas análises acerca do Processo Administrativo, previsto na Lei 9.784/99, expondo
a sequência interligada de atividades por meio da qual a Administração Pública toma as suas
decisões.
Nesse contexto, será estudado de forma detalhada as licitações e a Lei 8.666 de 1993, com
a exposição pormenorizada dos pontos constantemente cobrados nos mais concorridos
concursos do Brasil. De igual forma, tendo por base legal ainda a Lei 8.666/93, será dedicado
espaço aos contratos administrativos, com todas as suas especificidades.
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Superado esse ponto, é feita a exposição acerca dos chamados bens públicos, bem como
sobre os serviços públicos. Nesse contexto, em sequência, será estudado o tema da
intervenção do Estado na propriedade privada, com a análise das modalidades e dos seus
respectivos requisitos para que nasça para a Administração, em termos gerais, o direito de
mitigar o direito individual à propriedade em prol do interesse público.
Em seguida, serão estudadas as questões atinentes à responsabilidade civil do Estado,
analisando desde a sua evolução histórica, passando por sua base constitucional e legal, até
a exposição de situações específicas a respeito do tema, com base no atual entendimento
jurisprudencial. Ademais, será tratado do tema controle administrativo, trazendo o seu
conceito e abordando as suas diversas formas de fiscalização de atos administrativos.
Será tratado, ainda, com igual enfoque, acerca da improbidade administrativa, regida pela Lei
8.429 de 1992, sendo a apostila encerrada com o estudo dos agentes públicos, nos termos
da Lei 8.112 de 1990, estudada à luz da mais atual jurisprudência dos Tribunais Superiores e
melhor doutrina nacional.
Dessa forma, com a compilação dos mais importantes temas que compõem o Direito
Administrativo, espera-se que essa apostila contribua desde a compreensão dos pressupostos
básicos até o estudo mais avançado da temática, permitindo-lhe uma ampla compreensão
acerca dessa disciplina tão importante no âmbito dos concursos públicos.
Desejamos bons estudos e uma excelente prova!
Atenciosamente,
Equipe pedagógica LFG
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Sumário
1. Conceitos Iniciais de Direito Administrativo 5
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1. Conceitos Iniciais de Direito Administrativo
Ao iniciar os estudos da disciplina Direito Administrativo, é indispensável conhecer a sua
origem, o conceito, as funções do Estado e as suas principais fontes, para que se tenha uma
ampla compreensão da matéria. Neste primeiro tema, serão abordados esses institutos.
1.1. Histórico
Com a Revolução Francesa de 1789, o Estado passou a ser limitado pelo direito e pela ordem
jurídica, em razão do princípio da legalidade, do princípio da separação dos poderes e do
reconhecimento de direitos fundamentais oponíveis em relação ao Estado. Nesse momento,
pode-se falar no surgimento do Estado de Direito e se passa a ter a existência do Direito
Administrativo como ramo autônomo do Direito Público.
A Lei do 28 pluviose, do ano VIII do ano 1800, é o primeiro instrumento normativo do Direito
Administrativo de que se tem conhecimento. Esse documento estabeleceu normas de
organização administrativa e de solução de conflitos contra a Administração Pública.
1.2. Conceito
O autor José dos Santos Carvalho Filho conceitua o Direito Administrativo como sendo
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conjunto de órgãos públicos e entidades que compõem sua estrutura
organizacional (CARVALHO, Matheus, 2017, p. 38).
O Estado é composto por três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, conforme previsto
expressamente no art. 2o da Constituição Federal de 1988: “Art. 20 São Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Cada um desses poderes possui uma função típica. O Poder Legislativo tem a função típica
normativa, de inovação originária na ordem jurídica, e de fiscalização do Poder Executivo; o
Poder Executivo exerce a função típica administrativa; o Poder Judiciário, por sua vez, possui
a função típica jurisdicional.
Entretanto, tais funções não são exercidas com exclusividade. Na verdade, o que existe é
uma preponderância de funções, de forma que os Poderes Estatais, apesar de terem suas
funções típicas, também desempenham funções atípicas.
1.4. Fontes
A maioria dos doutrinadores reconhece, como as principais fontes (fontes principais x fontes
secundárias x fontes indiretas → ambiguidade de sentidos) do direito administrativo, a lei, a
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doutrina, a jurisprudência, os costumes, os princípios gerais do Direito e os tratados
internacionais.
A lei é fonte formal do direito administrativo, devendo ser interpretada em sentido amplo, isto
é, abrangendo qualquer ato normativo do Estado, a exemplo da Constituição, de todos os atos
que derivam diretamente da Constituição e demais atos infralegais.
Os costumes, espécie de fonte material, são um conjunto não escrito de regras que é
observado pela coletividade de modo constante e uniforme. No âmbito do Direito
Administrativo, os costumes são as práticas reiteradas das autoridades administrativas, que
influenciam a edição de normas e a consolidação da jurisprudência.
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Mapa Mental
Conceitos Iniciais
Funções de
Histórico Fontes
Estado
Funções típicas e
Estado de Direito Doutrina
atípicas
Jurisprudência
Costumes
Princípios Gerais
do Direito
Tratados
Internacionais
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Referências Bibliográficas
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2. Regime Jurídico Administrativo
Regime Jurídico Administrativo é uma expressão doutrinária que se refere ao conjunto de
regras e princípios que dão identidade ao Direito Administrativo, cujos fundamentos são o
princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado e a
indisponibilidade do interesse público.
Esse regime confere poderes especiais à Administração, bem como impõe a ela restrições
especiais.
Cumpre esclarecer que “o Brasil adota o critério formal de administração pública. Portanto,
somente é administração pública, juridicamente, aquilo que nosso direito assim considera,
não importa a atividade que exerça” (ALEXANDRINO; PAULO, 2018, p. 22).
O art. 37, caput, da Constituição Federal consagra expressamente cinco princípios que regem
a Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
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Além disso, no art. 5o, LV, do texto constitucional, constam os princípios do contraditório e da
ampla defesa, que devem ser observados também na esfera administrativa.
O princípio da impessoalidade determina que a Administração Pública não pode agir com o
objetivo de beneficiar ou prejudicar pessoas determinadas, devendo manter uma postura de
imparcialidade e igualdade em relação aos administrados. São exemplos de concretizações
do princípio da impessoalidade as exigências constitucionais de concurso público e de
licitação.
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STF EM AÇÃO:
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
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O princípio da publicidade determina a atuação transparente da Administração Pública,
permitindo à coletividade o acesso e o conhecimento acerca da atuação administrativa.
Importante destacar que a Publicidade não se confunde com Publicação, pois esta é somente
uma das hipóteses de publicidade. Destaque-se que configura exceção ao princípio da
publicidade a hipótese em que o sigilo se mostra imprescindível para resguardar o interesse
público e a segurança nacional.
O princípio da eficiência foi incluído no caput do art. 37 da Constituição Federal pela Emenda
Constitucional n. 19/98 e orienta que a atuação da Administração Pública deve, ao mesmo
tempo, apresentar qualidade e ser executada com baixo custo. Assim, o princípio da eficiência
exige que atividade administrativa seja satisfatória, visando sempre a melhor atuação
possível, despendendo menos recursos para alcançar os objetivos propostos.
Os referidos princípios consistem na garantia de que o particular terá conhecimento dos atos
processuais, bem como a oportunidade de se manifestar e se defender efetivamente. Em
outras palavras, é a garantia da verdadeira informação e participação do interessado na
tramitação do procedimento, sendo-lhe oportunizado interagir de forma efetiva e capaz de
influenciar nas decisões da autoridade julgadora.
Por sua vez, o princípio da segurança jurídica significa a garantia conferida aos cidadãos
de não serem surpreendidos por repentinas mudanças na ordem jurídica. Nesse sentido, as
normas jurídicas que forem objeto de alteração não devem ser aplicadas retroativamente para
alcançar situações já consolidadas.
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2.4. Princípios da supremacia do interesse público sobre o privado,
indisponibilidade do interesse público, proporcionalidade, razoabilidade,
motivação, autotutela
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de atuar, a administração deve optar pela prática do ato menos gravoso aos direitos dos
cidadãos) e proporcionalidade em sentido estrito (ponderação entre o ônus e bônus da
atuação estatal).
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 346 do STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios
atos.
Súmula n. 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo
de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos
os casos, a apreciação judicial.
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Mapa Mental
Regime Jurídico
Contraditório
Ampla Defesa
Segurança jurídica
Contraditório
Ampla Defesa
Segurança jurídica
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Referências Bibliográficas
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3. Organização da Administração Pública
A Organização Administrativa consiste na estruturação interna do Estado. Nesse sentido, o
seu estudo é destinado à compreensão das pessoas, órgãos e entidades que exercem a
atividade administrativa.
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propiciará maior capacitação para o desempenho ótimo daquelas competências”
(ALEXANDRINO; PAULO, 2018, p. 27).
Existe, ainda, a chamada descentralização territorial, comum nos Estados Europeus, que
consiste na delimitação de uma área para a qual será reconhecida uma competência
administrativa. Assim, essa porção territorial será considerada uma pessoa jurídica de direito
público. Contudo, essa descentralização não existe no Brasil.
No mesmo sentido, o artigo 1º, § 2º, I, da Lei 9.784/99 conceitua o órgão como
a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da
estrutura da Administração indireta. Os órgãos públicos pertencem a pessoas
jurídicas, mas não são pessoas jurídicas. São divisões internas, partes de uma
pessoa governamental, daí receberem também o nome de repartições
públicas. Não tendo personalidade própria, os órgãos não podem ser
acionados judicialmente para responder por prejuízos causados por seus
agentes. Ação judicial equivocadamente dirigida contra órgão público deve
ser extinta sem julgamento de mérito por ilegitimidade da parte (MAZZA, 2019,
p. X).
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STJ EM AÇÃO:
Súmula n. 525 do STJ: A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas
personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais.
Os órgãos públicos são constituídos por pessoas físicas que exteriorizam a vontade da pessoa
jurídica, isto é, do Estado. Segundo a Teoria do Órgão, de Otto Gierke, tendo em vista que as
pessoas jurídicas são uma ficção, sem existência fática, sua manifestação de vontade só pode
ser concretizada por intermédio de pessoas físicas, de forma que essas vontades (da pessoa
física e da pessoa jurídica) se confundem.
A Administração Pública Indireta compreende as entidades administrativas criadas por lei (ou
que têm sua criação autorizada por lei) para exercerem funções administrativas vinculadas ao
Ente Federativo que as instituíram, concretizando, assim, o instituto da descentralização
administrativa.
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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua
atuação.
3.4.1. Autarquias
Por serem pessoas jurídicas de direito público, os seus bens são considerados bens
públicos, motivo pelo qual estão sujeitos à alienabilidade condicionada, impenhorabilidade,
imprescritibilidade (não podem ser adquiridos por usucapião) e não onerabilidade (não podem
ser dados em garantia). A responsabilidade civil das autarquias é objetiva, nos termos do
art. 37, § 6o, da CF/88.
As autarquias têm seus débitos cobrados por meio de execução fiscal e se submetem ao
regime de precatórios (com exceção dos Conselhos Profissionais, segundo o STF).
Também é estendida a elas a prerrogativa estatal da imunidade tributária recíproca.
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No que tange às prerrogativas processuais, as autarquias integram o conceito de
Fazenda Pública, possuindo, portanto, prazo em dobro para as manifestações processuais
e a garantia do duplo grau de jurisdição obrigatório (Reexame Necessário).
Neste ponto, vale destacar que, ao contrário do regramento das demais autarquias, o
Supremo Tribunal Federal possui o entendimento de que os Conselhos Profissionais não
se submetem ao regime de precatórios, porque não participam do orçamento público,
não integrando o conceito de Fazenda Pública.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
É importante destacar, por fim, que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), embora seja um
Conselho Profissional, não se caracteriza como autarquia, conforme entendimento já
manifestado pelo STF. Isso porque, segundo a Corte Suprema, a OAB é serviço público
independente, não sendo integrante da Administração Pública Indireta. Nesse sentido, a OAB
não necessita realizar concurso público e as anuidades pagas pelos advogados não têm
natureza jurídica de tributos, assim, o prazo prescricional para a cobrança dessas
verbas observará a disciplina do Código Civil, sendo, portanto, quinquenal.
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3.4.1.2. Agências reguladoras
As agências reguladoras são autarquias em regime especial que foram criadas para regular
atividades econômicas. Surgiram no Brasil no contexto da desestatização, cujo objetivo era
transformar o Estado patrimonialista em Estado gerencial.
As autarquias especiais recebem o título de agências reguladoras por meio da própria lei que
as cria.
Os dirigentes das agências reguladoras cumprem um mandato por tempo determinado e são
nomeados pelo Presidente da República, após aprovação pelo Senado Federal (art. 52, III, “f”,
da CF/88). Após o término do mandato, o ex-dirigente fica impedido de exercer a atividade
regulada pela respectiva agência reguladora por um período de quatro meses (denominado
quarentena).
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reguladoras se submetem sim à Lei n. 8.666/93, embora possam adotar a modalidade pregão
e a consulta. Nesse sentido, a modalidade específica de licitação utilizada pelas agências
reguladoras é a consulta.
As agências executivas são autarquias ou fundações que, por estarem sempre ineficientes,
celebraram um contrato de gestão com o Ministério supervisor e se submetem a um plano
de reestruturação.
Essas autarquias em regime especial são qualificadas como agências executivas por meio de
Decreto do Poder Executivo, e a referida nomenclatura se justifica, pois, além das atividades
tradicionais, tais entidades devem executar as metas adicionais previstas no contrato de
gestão celebrado.
O contrato de gestão das agências executivas encontra previsão constitucional (art. 37, § 8o
da Constituição Federal):
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I – o prazo de duração do contrato;
II – os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e
responsabilidade dos dirigentes;
III – a remuneração do pessoal.
Celebrado o contrato de gestão, o reconhecimento como agência executiva é feito por meio
de decreto. As agências executivas adquirem vantagens (mais independência, mais
orçamento...) e, em contrapartida, devem cumprir o plano de reestruturação, com o objetivo
de se tornarem mais eficientes, diminuindo seus custos e aprimorando seus serviços.
As fundações públicas são pessoas jurídicas sem fins lucrativos que possuem patrimônio
de afetação destacado para alcançar objetivos socialmente relevantes.
Quanto à natureza jurídica das fundações criadas pelo Poder Público, segundo o STF, estas
podem ser constituídas tanto como pessoas jurídicas de direito público, quanto como pessoas
jurídicas de direito privado, a depender da opção do Poder Público no momento de sua
criação.
As características das fundações estatais vão depender da natureza jurídica adotada. Assim,
tratando-se de fundação pública de direito público, por ser, em verdade, uma autarquia, esta
será criada por lei e, da mesma forma, será extinta por lei. Seus bens serão considerados
bens públicos, a sua responsabilidade civil será objetiva, terá as prerrogativas processuais da
Fazenda Pública, bem como a imunidade tributária recíproca, nos termos do art. 150, § 2 o, da
CF/88. Em suma, aplica-se o mesmo tratamento conferido às autarquias.
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Por outro lado, tratando-se de fundação pública de direito privado, é necessário que haja lei
autorizadora para a sua criação, bem como lei complementar que defina a sua respectiva área
de atuação. A personalidade jurídica, contudo, somente é adquirida após a inscrição, no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, de seus atos constitutivos. Da mesma forma, a sua
extinção será autorizada por lei. Os bens das fundações públicas de direito privado são
privados. O regime de pessoal é celetista, isto é, regido pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT). Por fim, registre-se que também é concedida a imunidade tributária recíproca
às fundações públicas de direito privado, por expressa previsão do art. 150, § 2 o, da CF/88.
Ademais, por ser pessoa jurídica de direito privado, não gozará das prerrogativas processuais
da Fazenda Pública.
1. Criação: são criadas após autorização legislativa, conforme art. 37, XIX, da CF/88.
A efetiva criação ocorre a partir do registro dos seus atos constitutivos no órgão
competente.
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DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
RE 589998 ED/PI: A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico
de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados. STF. Plenário. RE 589998 ED/PI,
Rel. Min. R oberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).
4. Patrimônio: por serem pessoas jurídicas de direito privado, os bens das estatais são
privados, conforme se depreende do art. 98 do Código Civil. Entretanto, podem incidir
sobre os seus bens algumas normas de direito público, como ocorre em relação às
regras para alienação, previstas nos arts. 49 e 50 da Lei n. 13.303/2016.
Em regra, seus bens podem ser penhorados, já que são privados. Contudo,
tratando-se de empresa estatal prestadora de serviços públicos, a doutrina, o
STF e o STJ entendem que os bens vinculados à prestação do serviço público
não podem ser penhorados, tendo em vista o princípio da continuidade do
serviço público. Da mesma forma, os tribunais superiores entendem que os bens
das estatais prestadoras de serviços públicos, afetos a esta atividade, não
podem ser adquiridos por usucapião.
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que desenvolvem atividade econômica, por estarem sujeitas ao mesmo regime das
empresas privadas, conforme art. 173, § 1o, II, da CF/88.
Só cabe fazer uma observação: a lei falhou ao dar tratamento igual a todas as
empresas estatais, sem distinguir as que prestam serviço público (com
fundamento no artigo 175 da Constituição) e as que exercem atividade
econômica a título de intervenção (com base no artigo 173 da Constituição).
Estas últimas não podem ter tratamento privilegiado em relação às empresas
do setor privado, porque o referido dispositivo constitucional, no § 1o, II,
determina que elas se sujeitem ao mesmo regime das empresas privadas,
inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e
tributárias.
Feita a abordagem das características comuns, passa-se, agora, às três principais diferenças
entre as empresas públicas e as sociedades de economia mista. São as seguintes:
1. Composição Societária
2. Forma Societária
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Sociedades de Economia Mista: somente podem ser constituídas sob a forma
de Sociedade Anônima (S.A.), conforme art. 235 da Lei n. 6.404/76 e arts. 4 o e
5o da Lei n. 13.303/16.
3. Foro Competente
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 556 do STF: É competente a Justiça Comum para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista.
Por fim, é importante fazer uma observação no que diz respeito à aplicação do regime de
precatórios especificamente às sociedades de economia mista. Isso porque, embora tenham
personalidade jurídica de direito privado e não integrem o conceito de Fazenda Pública, o STF
tem consagrado o entendimento de que as sociedades de economia mista prestadoras
de serviço público de natureza não concorrencial se submetem ao regime dos
precatórios.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
ADPF 275/PB: Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial
está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer
constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade
orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2 o c/c art. 60,
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§ 4o, III). STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018
(Info 920).
Decisão: Apregoada em conjunto as ADI 5.624 (MC-Ref), MC-ADI 5.846, MC-ADI 5.924 e MC-ADI
6.029. Preliminarmente, o Tribunal reconheceu a legitimidade ativa da Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro – CONTRAF/CUT e a ilegitimidade ativa da Federação Nacional
das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal – FENAEE. Votaram pelo referendo total da
cautelar os Ministros Ricardo Lewandowski (Relator), Edson Fachin e Marco Aurélio, referendavam
parcialmente a cautelar os Ministros Cármen Lúcia, Rosa Weber, Gilmar Mendes e Dias Toffoli
(Presidente) e não referendavam a medida cautelar os Ministros Alexandre de Moraes, Roberto
Barroso, Luiz Fux e Celso de Mello, nos termos e limites dos respectivos votos proferidos. No mérito,
em razão de voto médio, o Tribunal referendou, em parte, a medida cautelar anteriormente
parcialmente concedida pelo Ministro Ricardo Lewandowski (Relator), para conferir ao art. 29, caput,
inc. XVIII, da Lei nº 13.303/2016 interpretação conforme à Constituição Federal, nos seguintes termos:
i) a alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista exige
autorização legislativa e licitação; e ii) a exigência de autorização legislativa, todavia, não se aplica à
alienação do controle de suas subsidiárias e controladas. Nesse caso, a operação pode ser realizada
sem a necessidade de licitação, desde que siga procedimentos que observem os princípios da
administração pública inscritos no art. 37 da Constituição, respeitada, sempre, a exigência de
necessária competitividade. Redigirá o acórdão o Ministro-Relator. Plenário, 06.06.2019.
Os consórcios públicos têm previsão no art. 241 da Constituição Federal, que assim dispõe:
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dos entes federativos são convergentes, motivo pelo qual o consórcio público não é
contrato, haja vista que nos contratos as vontades dos celebrantes são distintas.
Criado o consórcio público, surge uma nova pessoa jurídica, distinta dos entes consorciados,
com direitos e obrigações próprias. Essa nova pessoa pode ter personalidade jurídica de
direito público ou de direito privado. Sendo um consórcio público de direito público, a
doutrina o denomina de Associação Pública e integrará a Administração Pública Indireta de
todos os entes consorciados, como espécie de autarquia.
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A alteração ou extinção do consórcio público depende de instrumento aprovado pela
assembleia geral e ratificado pelos entes consorciados, mediante lei, nos termos do art. 12 da
Lei n. 11.107/05.
Por fim, considerando que o consórcio público é uma pessoa jurídica que não se confunde
com os entes consorciados, o Superior Tribunal de Justiça consagrou a teoria da
"intranscendência das sanções”, segundo a qual um consórcio público não pode ser
prejudicado em razão de pendências no CAUC (Cadastro Único de Exigências para
Transferências Voluntárias) de um dos entes consorciados.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
REsp 1463921-PRPB: Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio do
qual estão previstos repasses federais, o fato de um dos entes integrantes
do consórcio possuir pendência inscrita no CAUC não pode impedir que o consórcio receba
os valores prometidos. Isso porque o consórcio público é uma pessoa jurídica distinta dos
entes federativos que o integram e, segundo o princípio da intranscendência das sanções, as
punições impostas não podem superar a dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja,
não podem prejudicar outras pessoas jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o ato.
Assim, o fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar
de Informações para Transferências Voluntárias (CAUC) não impede que o consórcio faça jus,
após a celebração de convênio, à transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC
101/2000. STJ. 2a Turma. REsp 1463921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
10/11/2015 (Info 577).
O Terceiro Setor é uma expressão que compreende as entidades da sociedade civil sem fins
lucrativos, criadas pela iniciativa privada, que formalizarão vínculos jurídicos (legais ou
negociais) com a Administração Pública para o desempenho de atividades socialmente
relevantes, como cultura, educação, meio ambiente etc.
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A doutrina aponta como fundamentos do terceiro setor o princípio da eficiência, o princípio
da subsidiariedade da atuação do Estado e a ideia de fomento (incentivo) expressa no
art.174 da CF/88: “Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo
este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado”.
Assim, entidades integrantes do terceiro setor, embora não integrem a Administração Pública
Indireta, recebem incentivos do Estado para realizar atividades de interesse social.
São algumas das qualificações jurídicas das entidades do terceiro setor existentes no
ordenamento jurídico brasileiro: Serviços Sociais Autônomos (Sistema S), Organizações
Sociais (OS), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), Organizações
da Sociedade Civil (OSC), Fundações de Apoio.
São entidades privadas criadas por meio de autorização legislativa. Conforme interpretação
doutrinária, o art. 240 da Constituição Federal faz menção à existência dos serviços sociais
autônomos: “Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais contribuições
compulsórias dos empregadores sobre a folha de salários, destinadas às entidades privadas
de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical”.
Não existe uma lei única que trate dos serviços sociais autônomos, ficando sua
regulamentação a cargo de legislações esparsas.
O termo “Sistema S” é utilizado porque a denominação dessas entidades se inicia com a letra
S. São exemplos: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Serviço Social da
Indústria (Sesi), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Social do
Comércio (Sesc).
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c) são mantidos por contribuições sociais de natureza tributária e por dotações
orçamentárias do poder público;
d) não são obrigados a contratar o seu pessoal (empregados privados regidos
pela legislação trabalhista) por meio de concurso público;
e) não estão sujeitos às normas de licitação pública para efetuar contratações
com terceiros, embora costumem adotar regulamentos próprios com o fim de
assegurar que estas observem critérios impessoais e objetivos;
f) como recebem e administram recursos de natureza pública, estão sujeitos a
certas normas de direito público, tais como a obrigação de prestar contas ao
TCU, o enquadramento dos seus empregados como funcionários públicos para
fins penais (CP, art. 327) e a sujeição à Lei de Improbidade Administrativa (Lei
8.429/1992) (ALEXANDRINO; PAULO, 2018, p. 153).
As Organizações Sociais (OS) são regidas pela Lei n. 9.637/98, que estabelece, no art. 1 o,
que o Poder Público poderá qualificar uma pessoa jurídica de direito privado como
Organização Social, motivo pelo qual se entende que esta qualificação é discricionária. A
autoridade que qualifica a OS é integrante do órgão responsável pela regulação da atividade
por ela desempenhada.
A parceria é formalizada por meio do contrato de gestão, instrumento que estipula metas e
prazos de execução das atividades e os benefícios concedidos à entidade, tais como a
transferência de recursos financeiros, bens e servidores públicos com ônus para a origem, o
que significa dizer que é o Estado quem arca com esses custos.
As Organizações Sociais não têm que realizar licitação; entretanto, conforme entendeu o STF,
devem observar critérios objetivos que respeitem a impessoalidade na contratação de dinheiro
público, empregados e uso de bens públicos.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
ADI 1923/DF: Foi ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também
contra o art. 24, XXIV, da Lei 8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de
organizações sociais.
34
O Plenário do STF não declarou os dispositivos inconstitucionais, mas deu interpretação
conforme a Constituição para deixar explícitas as seguintes conclusões:
As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) são regidas pela Lei n.
9.790/99. A qualificação conferida a essas entidades é vinculada, isto é, cumpridos os
requisitos previstos na lei, a entidade será qualificada como OSCIP pelo Ministério da
Justiça, órgão responsável pela qualificação.
É interessante notar que a qualificação de uma pessoa como OSCIP dá-se por
meio de um ato vinculado. Com efeito, a lei 9.790/1999 explicita, no § 2o do art.
1o e no § 3o do art. 6o, que o pedido só pode ser indeferido na hipótese de
a pessoa jurídica requerente desatender a algum dos requisitos legais.
Por outras palavras, a pessoa jurídica que satisfaça todas as exigências legais
tem direito, caso requeira, de ser qualificada como OSCIP (ALEXANDRINO;
PAULO, 2018, p. 165).
Uma das exigências para que a entidade se torne uma OSCIP é que esteja constituída e em
regular funcionamento há, no mínimo, 3 anos, conforme art. 1o da Lei n. 9.790/99.
35
O instrumento celebrado entre a OSCIP e a Administração Pública recebe o nome de termo
de parceria.
Importante destacar que a Lei n. 9.790/99 elenca, no art. 2o, algumas entidades privadas que
não poderão ser qualificadas como OSCIP. São exemplos desse impedimento as sociedades
comerciais, os sindicatos, as associações de classes, as instituições religiosas, as
organizações partidárias, as empresas que comercializam planos de saúde, entre outros.
As Organizações da Sociedade Civil (OSC) foram criadas pela Lei n. 13.019/14, que dispõe,
em seu art. 2o, quais entidades são consideradas Organizações da Sociedade Civil:
a) entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os seus sócios ou
associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais
resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, isenções
de qualquer natureza, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante
o exercício de suas atividades, e que os aplique integralmente na consecução do
respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo
patrimonial ou fundo de reserva;
b) as sociedades cooperativas previstas na Lei n. 9.867, de 10 de novembro de
1999; as integradas por pessoas em situação de risco ou vulnerabilidade pessoal ou
social; as alcançadas por programas e ações de combate à pobreza e de geração de
trabalho e renda; as voltadas para fomento, educação e capacitação de trabalhadores
rurais ou capacitação de agentes de assistência técnica e extensão rural; e as
capacitadas para execução de atividades ou de projetos de interesse público e de
cunho social.
c) as organizações religiosas que se dediquem a atividades ou a projetos de interesse
público e de cunho social distintas das destinadas a fins exclusivamente religiosos;
Como se vê, as cooperativas e as entidades religiosas podem ser qualificadas como OSC.
Acordo de cooperação: parceria entre a OSC e o Poder Público que não envolve o repasse
de recursos públicos.
36
Mapa Mental
Organização
Administrativa
______. Manual de Direito Administrativo. 32. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Atlas,
2018.
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2017.
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. 6. ed. rev., atual. e
ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018
37
4. Poderes Administrativos
Inicialmente, deve-se esclarecer que a expressão “Poder” pode abranger dois sentidos. O
primeiro diz respeito ao centro de imputação do poder estatal. Trata-se do Poder Executivo,
Poder Legislativo e Poder Judiciário. O segundo sentido, o qual será estudado neste capítulo,
define os poderes administrativos como sendo prerrogativas que a ordem jurídica
confere à Administração Pública para que esta possa desempenhar as atividades estatais
e alcançar os objetivos concernentes ao interesse público.
A expressão “abuso de poder” constitui gênero, que abrange duas espécies, quais sejam:
excesso de poder e desvio de poder (desvio de finalidade).
Excesso de poder: ocorre quando a atuação do agente vai além dos limites de sua
competência. Exemplo: atuação de um policial com força excessiva, desproporcional para
fiscalizar um particular ou um estabelecimento. Por agir com excesso de força, o agente será
punido.
38
atribuições cometidas a outro agente, ou se arroga o exercício de atividades
que a lei não lhe conferiu (CARVALHO FILHO, 2015, p. 48).
Desvio de poder (desvio de finalidade): consiste na atuação do agente que tem por
objetivo alcançar uma finalidade diversa do interesse público, distinta da finalidade que
foi determinada para aquela atuação. Exemplo: autoridade que concede licença com a
finalidade de beneficiar um parente, sem qualquer justificativa que atenda ao interesse público.
Sobre o tema, ensina José dos Santos Carvalho Filho:
Dessa forma, agindo com excesso de poder ou com desvio de poder, o agente estará
atuando com abuso de poder, sujeitando-se, portanto, à responsabilidade administrativa,
cível e penal, bem como o ato praticado estará sujeito à anulação por parte da autoridade
responsável pelo controle dos atos administrativos.
O Poder vinculado está presente em situações nas quais o legislador, ao estipular situações
que dão ensejo à prática de um ato administrativo, determinou todos os seus elementos de
forma objetiva, de modo que o administrador não tem liberdade, juízo de valor, conveniência
39
e oportunidade sobre a conduta a ser praticada. Nesse sentido, preenchidos todos os
requisitos legais, a autoridade tem o dever de praticar o ato previamente definido em lei.
Em relação ao Poder Discricionário, por sua vez, o agente administrativo também deve
observar a lei; contudo, existem situações em que o legislador conferiu margem de
liberdade à atuação do administrador, que poderá agir de acordo com a conveniência e a
oportunidade, escolhendo, assim, proceder da forma como entender mais adequada para
atender ao interesse público.
Com efeito, ainda que o ato administrativo seja discricionário, estará sujeito ao controle
jurisdicional no que diz respeito à sua legalidade, isto é, à sua adequação com a lei, bem
como ao respeito aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, ressalvada,
contudo, a análise do mérito do ato administrativo.
40
O poder discricionário tem como limites, além do próprio conteúdo da lei, os
próprios princípios jurídicos administrativos, sobretudo os da razoabilidade e
da proporcionalidade – os quais decorrem implicitamente do postulado do
devido processo legal, em sua acepção substantiva. A extrapolação dos limites
legais, assim como a atuação contrária aos princípios administrativos,
configuram a denominada arbitrariedade (arbitrariedade é sempre sinônimo
de atuação ilegal). (ALEXANDRINO, PAULO, 2018, p. 276).
O art. 84, IV, da CF/88 é o fundamento constitucional para o exercício do poder regulamentar
pela Administração Pública: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...)
IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos
para sua fiel execução.”
Assim, o exercício do Poder Normativo dá origem a normas de segundo grau, que não
podem inovar no ordenamento jurídico e são necessárias à interpretação e aplicação das
normas editadas pelo legislador (normas de primeiro grau),
Tome-se, como exemplo, a Lei n. 8.112/90, que é o Estatuto dos Servidores Públicos Federais,
norma de primeiro grau, que disciplina, dentre outros assuntos pertinentes aos servidores
públicos, o processo administrativo disciplinar. Tendo como base essa lei, no que tange ao
processo administrativo previsto, são editados regulamentos, normas administrativas pela
Administração, no exercício do seu poder normativo, para a fiel execução da lei, naquilo que
concerne às infrações disciplinares, a fim de permitir a concreta aplicação da sanção.
41
A primeira classificação diferencia regulamentos jurídicos/normativos (os quais têm
efeitos externos, para todos os administrados em geral) dos regulamentos administrativos
ou de organização (os quais, por seu turno, têm efeitos internos, atingindo apenas as
pessoas que mantêm relação jurídica específica com o estado).
Segundo essa distinção, os decretos autônomos são editados sem que haja lei tratando do
assunto, motivo pelo qual acabam por inovar no ordenamento jurídico. Há que se destacar
que essa espécie de decreto não é aceita pela maioria da doutrina.
Os decretos regulamentares, por sua vez, são editados com o objetivo de dar fiel execução
àquilo que a lei já previu, sem inovar na ordem jurídica.
42
anteriormente promulgada, que necessite do seu exercício para viabilizar a
efetiva aplicação de suas normas (CARVALHO FILHO, 2015, p. 63/64).
Todavia, existe uma exceção à regra de que não cabe decreto autônomo no Brasil. Trata-
se da previsão do art. 84, VI, a, da CF/88 (incluído pela Emenda Constitucional 32/01):
Como se vê, o texto constitucional utiliza o vocábulo “decreto”, estabelecendo, assim, ser o
decreto o meio apto para a organização da administração pública.
O exercício do poder hierárquico pelo agente se exterioriza, por exemplo, ao dar ordens,
fiscalizar o cumprimento dos atos praticados por seus subordinados, rever os atos praticados
pelos subordinados, bem como delegar e avocar funções.
43
perde a competência delegada. É designada cláusula de reserva dessa regra
de manutenção da competência pelo agente, mesmo após a delegação, e esta
cláusula está implícita nos atos administrativos de delegação (CARVALHO,
2017, p. 129).
STF EM AÇÃO:
Com efeito, conforme previsto na Súmula 510 do STF, a responsabilidade pelo ato é atribuída
a quem o praticou.
Destaque-se, por fim, que há três expressas proibições legais da delegação e avocação de
competência, quais sejam: no caso de competência exclusiva, definida em lei; para decisão
de recurso hierárquico; para edição de atos normativos.
O autor Matheus Carvalho defende que o Poder Disciplinar tem como função “aprimorar a
prestação do serviço público punindo a malversação do dinheiro público ou atuação em
desconformidade com a lei” (CARVALHO, 2017, p. 130).
Os particulares que não possuem vínculo especial com a Administração Pública não estão
sujeitos ao Poder Disciplinar.
44
margem de escolha entre aplicar ou não a sanção. A discricionariedade existe, portanto,
apenas quanto à extensão da sanção aplicada.
Outra característica do Poder Disciplinar, destacada por Alexandre Mazza, consiste no seu
caráter não permanente, porquanto somente se aplica se e quando o servidor cometer uma
falta funcional (MAZZA, 2019).
45
Para a doutrina majoritária, o Poder de Polícia tem como característica a discricionariedade,
de modo que o agente público pode definir a sua atuação da forma como entender mais
adequada, observando, sempre, os limites da lei. Contudo, nem sempre o poder de polícia
é discricionário, pois pode se manifestar por meio de atos vinculados, como no caso de
concessão de licenças para construção, hipótese em que, preenchidos os requisitos legais
pelo particular, este terá direito subjetivo à concessão da licença, não havendo análise da
conveniência e oportunidade para a concessão por parte do administrador.
A doutrina divide os atos do Poder de Polícia em ciclos. São os chamados Ciclos de Polícia,
quais sejam:
46
consentimento estatal pode se manifestar por meio de autorizações ou licenças. Exemplo:
autorização para porte de arma. Licença para dirigir veículo automotor.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
47
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO DJe-195 DIVULG 29-9-2015
PUBLIC 30-09-2015).
48
Mapa Mental
Poderes
Administrativos
Poder
Excesso de Poder Poder Hierárquico
Discricionário
Desvio de
Poder Disciplinar
Finalidade
Poder de Polícia
49
Referências Bibliográficas
50
5. Atos Administrativos
Neste capítulo, vamos estudar os Atos Administrativos, assunto de extrema importância no
Direito Administrativo. Para melhor compreensão do tema, é importante que se faça uma
breve introdução para a correta distinção entre termos que podem gerar equívocos.
Fato da Administração: é a expressão doutrinária que se refere aos acontecimentos que não
produzem consequências para o Direito Administrativo. (Obs.: esse conceito não deve ser
confundido com o fato da administração estudado nos contratos administrativos,
desdobramento da teoria da imprevisão, porque lá o fato da administração é um evento que
produz efeitos jurídicos).
É importante atentarmos também, para a classificação dos fatos jurídicos em sentido amplo:
51
5.2. Conceito e classificação de atos administrativos
a) atos gerais: são atos que se referem a um número indeterminado de pessoas. São
abstratos e impessoais, com finalidade normativa. Prevalecem sobre os atos individuais
Exemplos: regulamentos, instruções normativas.
Quanto ao alcance
a) internos: são atos que produzem efeitos dentro da Administração Pública, ditando normas
que obrigam os agentes públicos e órgãos de determinado ente. Em regra, não dependem de
publicação oficial, bastando a comunicação interna Exemplo: instruções de serviços;
a) atos vinculados: são os atos previstos em lei e que não deixam qualquer margem de
escolha ao agente administrativo. Nesse caso, a lei já regulamenta todos os elementos do ato,
com critérios objetivos. Assim, preenchidos os requisitos da lei, o agente tem o dever de
praticar o ato administrativo;
52
b) atos discricionários: são atos que também estão previstos em lei, mas que conferem ao
agente uma margem de escolha para a sua atuação, de acordo com a conveniência e
oportunidade, optando, assim, pela melhor maneira ou pelo melhor momento de atuação, mas
sempre observando os limites legais. É importante ressaltar que, mesmo nos atos
discricionários, os elementos “competência”, “finalidade” e “forma” são sempre vinculados.
Quanto à formação
a) ato simples: é o ato administrativo que depende de uma única manifestação de vontade
para sua formação. Essa manifestação pode ser singular, isto é, partir de uma única
autoridade, ou pode ser colegiada;
b) ato composto: é o que resulta da manifestação de dois ou mais órgãos, em que a vontade
de um é instrumental em relação a de outro, que edita o ato principal. Enquanto no ato
complexo fundem-se vontades para praticar um ato só, no ato composto, praticam-se dois
atos, um principal e outro acessório; este último pode ser pressuposto ou complementar
daquele.
c) ato complexo: é o ato administrativo que depende, para sua formação, de duas
manifestações de vontade, em órgãos diferentes, em patamar de igualdade, possuindo a
mesma força. A título de complemento, José dos Santos Carvalho Filho (2018) explica que
“Atos complexos são aqueles cuja vontade final da Administração exige a intervenção de
agentes ou órgãos diversos, havendo certa autonomia, ou conteúdo próprio, em cada uma
das manifestações” (p. 136).
53
puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o
interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial
de aposentadoria, reforma e pensão. Salienta-se, no entanto, que o
entendimento jurisprudencial e doutrinário é firme no sentido de que a inércia
do Tribunal de Contas por mais de 5 (cinco) anos enseja a aprovação tácita da
aposentadoria, razão pela qual, a anulação deste ato posterior depende de
processo com prévio contraditório (CARVALHO, 2017, p. 284).
Quanto ao objeto
c) atos de expediente: são atos que, em verdade, não são manifestação de vontade do
Estado, mas apenas se destinam a dar prosseguimento à atividade administrativa. Exemplo:
despacho que encaminha um processo administrativo para julgamento.
Quanto à estrutura
a) concretos: são atos administrativos praticados com o objetivo de atender a uma situação
específica. Seus efeitos se extinguem depois da sua prática. Exemplo: aplicação de multa de
trânsito;
b) abstratos: são atos administrativos que impõem regra a ser aplicada quando uma situação
efetivamente ocorrer. Esses atos são genéricos e possuem efeitos permanentes, pois serão
aplicados sempre que a situação descrita na regra ocorrer. Exemplo: decreto que define o
horário de funcionamento de determinada repartição pública.
54
a) constitutivos: “São aqueles que alteram uma relação jurídica, criando, modificando ou
extinguindo direitos. Exemplo: a autorização, a sanção disciplinar, o ato de revogação”
(CARVALHO FILHO, 2018, 137);
c) enunciativos: José dos Santos Carvalho Filho (2018) adverte que “tais atos não são
considerados como típicos atos administrativos por alguns autores” (p. 138). Contudo, é
importante trazer a lição do mesmo autor de que “temos os atos enunciativos, cuja
característica é a de indicarem juízos de valor, dependendo, portanto, de outros atos de
caráter decisório. O exemplo típico é o dos pareceres” (p. 138).
Embora exista divergência doutrinária, a maioria dos administrativistas, com base no art. 2 o,
da Lei n. 4.717/65, aponta os seguintes requisitos do ato administrativo: competência, forma,
objeto, motivo e finalidade.
Competência
55
Os vícios no elemento competência podem decorrer de excesso de poder ou do exercício
de função de fato. O excesso de poder, espécie do gênero abuso de poder, ocorre quando
o agente exorbita de suas atribuições legais, extrapolando os limites da lei. Por sua vez, a
função de fato ocorre quando o ato é praticado pelo agente público de fato, isto é, por aquele
que, embora tenha aparência de agente de direito, se encontra ilegalmente investido em suas
funções (exemplo: servidor que está de férias/licença/aposentado e mesmo assim pratica o
ato administrativo). Nesses casos, embora o ato seja ilegal em razão do vício de competência,
será válido perante terceiros de boa-fé, em virtude da “teoria da aparência” (quando a
situação tem aparência de legalidade).
Forma
A forma é o elemento do ato administrativo que se refere ao modo pelo qual o ato se
exterioriza. A ausência de forma significa a inexistência do ato administrativo, já o desrespeito
às formalidades específicas definidas em lei resulta na ilegalidade do ato.
Quanto aos efeitos do silêncio administrativo, tem-se que, na hipótese de a própria lei definir
prazo para atuação do agente, verificando-se a ausência de manifestação de vontade dentro
do prazo, será permitida a provocação do Poder Judiciário, pois a omissão estatal é abusiva
e passível de controle judicial. Por outro lado, se não existe na lei prazo para a manifestação
de vontade do poder público, mas constata-se demasiada demora na atuação estatal, esse
silêncio, igualmente, configurará irregularidade, permitindo a intervenção do Poder Judiciário,
56
tendo em vista o princípio da razoável duração dos processos, previsto no art. 5 o, LXXVIII, da
Constituição Federal.
Quanto ao vício no elemento forma, a doutrina majoritária entende que, em regra, trata-se
de um vício sanável quando não gerar prejuízo ao interesse público. Tem-se como
fundamento o princípio da instrumentalidade das formas, o qual estabelece que a forma
não é essencial à prática do ato, mas somente o meio, previsto em lei, pelo qual o poder
público conseguirá atingir seus objetivos. Contudo, há casos em que o vício será insanável,
quando a observância da forma for essencial à validade do ato.
Finalidade
A finalidade é o efeito jurídico mediato que o ato produz, isto é, é o objetivo legalmente
descrito para a prática do ato. A finalidade é um elemento vinculado.
Quando o Poder Público atua desvirtuando a finalidade definida em lei para a prática do
ato, configura-se o desvio de poder (ou desvio de finalidade), espécie do gênero abuso de
poder, gerando a nulidade do ato. Sobre o tema, Maria Sylvia Zanella Di Pietro ensina:
É o legislador que define a finalidade que o ato deve alcançar, não havendo
liberdade de opção para a autoridade administrativa; se a lei coloca a demissão
entre os atos punitivos, não pode ela ser utilizada com outra finalidade que não
a de punição; se a lei permite a remoção ex officio do funcionário para atender
a necessidade do serviço público, não pode ser utilizada para finalidade
diversa, como a de punição (DI PIETRO, 2021, p. 245).
Nesse sentido, não pode o agente público exonerar um servidor com a finalidade de puni-lo,
por exemplo, uma vez que a exoneração é forma de perda do cargo que não tem caráter
punitivo, ao contrário da demissão. Vê-se, portanto, o desvio de finalidade no ato de
exoneração mencionado.
Motivo
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Como exemplo, tem-se que a Lei n. 8.112/90 dispõe que se o agente intencionalmente se
ausentar do serviço público por mais de 30 dias, tal conduta ensejará a demissão. Esse é o
pressuposto de direito. Assim, vindo a ocorrer no plano fático a efetiva ausência intencional
do agente por mais de 30 dias, estará configurado o pressuposto fático que permitirá a
demissão.
Nesse sentido, para que seja válido o motivo do ato, o fato narrado deve ser verdadeiro
e deve ter ocorrido efetivamente da forma prevista na lei.
Assim, o administrador está vinculado ao motivo declarado, de forma que, mesmo que o ato
não necessite ser motivado, caso a administração o motive, esse ato ficará sujeito à
verificação da existência e da adequação do motivo exposto (exemplo: caso de servidor que
exerce cargo em comissão, exonerável ad nutum. A exoneração não precisa ser motivada,
mas, se o for, o agente ficará vinculado ao motivo que ensejou a exoneração, de forma que
se o motivo for, por exemplo, inexistente, o ato de exoneração estará viciado).
Contudo, existe uma exceção à aplicação da teoria dos motivos determinantes. Trata-se da
hipótese de tredestinação lícita, no âmbito da desapropriação. Assim, se um imóvel é
desapropriado para que lhe seja dada uma destinação de interesse público, como a
construção de uma escola, mas, na prática, for construído um hospital, estará configurada a
tredestinação lícita, não havendo vícios, haja vista que a construção de um hospital também
atende ao interesse público.
58
É importante destacar que motivo e motivação não se confundem.
Obs.: motivação aliunde (per relacionem): é a motivação que não está no próprio ato
administrativo, mas sim em outro ato.
Objeto
O elemento objeto é o efeito jurídico imediato que o ato administrativo produz. É, portanto, o
resultado produzido pelo ato. É o que o ato cria, extingue, modifica.
O objeto deve ser lícito (previsto/autorizado por lei), possível (material e juridicamente) e
determinado ou determinável.
Perfeição: diz respeito à formação do ato administrativo. Isto é, perfeito é o ato que completou
seu ciclo de formação, ou seja, cumpriu todos os trâmites dispostos em lei para a sua
constituição.
O ato imperfeito é aquele que ainda está em processo de formação, sem que tenha
completado todas as etapas para que exista juridicamente.
Importante destacar que a publicação não integra a formação do ato. A publicidade oficial
é apenas condição de eficácia do ato administrativo.
59
Obs.: ato anulável é um ato inválido cuja ilegalidade é sanável. Ato nulo é o ato inválido
cuja ilegalidade é insanável.
Ato irregular: são atos válidos que possuem defeitos/vícios materiais ligados à sua forma, não
sendo anulados nem invalidados.
Eficácia: diz respeito à aptidão do ato administrativo para produzir seus efeitos jurídicos
típicos.
Analisada a perfeição, a validade e a eficácia do ato, é possível que o ato administrativo seja:
a) perfeito, válido e eficaz: quando, cumpridas as etapas de sua formação, bem como
estando conforme a lei, o ato esteja pronto para produzir seus efeitos jurídicos típicos;
b) perfeito, válido e ineficaz: quando o ato cumpriu todas as etapas de sua formação, está
conforme à lei, mas não está apto a produzir seus efeitos jurídicos típicos, seja porque
depende de termo ou condição, seja porque falta publicidade;
c) perfeito, inválido e eficaz: o ato existe, não está em conformidade com a lei, mas produzirá
efeitos enquanto não for declarada a sua irregularidade. Isso decorre da presunção de
legitimidade do ato administrativo;
d) perfeito, inválido e ineficaz: o ato existe, não está de acordo com a lei, sua invalidade
restou demonstrada e, por tais razões, não poderá produzir efeitos contrários aos definidos na
lei que trata de sua edição.
60
5.5. Atributos do ato administrativo
Não há consenso na doutrina quanto aos atributos do ato administrativo. Para Celso Antônio
Bandeira de Mello, os atributos do ato administrativo são: 1. presunção de legitimidade; 2.
imperatividade; 3. exigibilidade; e 4. executoriedade.
Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro ensina que os atributos do ato administrativo são: 1.
presunção de veracidade e legitimidade; 2. imperatividade; 3. autoexecutoriedade, que
abrange exigibilidade e executoriedade; e 4. tipicidade.
Para fins didáticos, neste material será utilizado o critério adotado pela autora Maria Sylvia
Zanella Di Pietro.
Ressalte-se que essa presunção é relativa (juris tantum), admitindo, portanto, prova em
sentido contrário.
5.5.2. Imperatividade
61
Apenas atos que criam obrigações possuem esse atributo. Assim, nem todos os atos
administrativos possuem essa característica. Os atos que criam direitos, por exemplo, não
têm imperatividade.
5.5.3. Autoexecutoriedade
Esse atributo significa que a Administração Pública pode praticar seus atos sem ordem
judicial. Esse atributo só existe para aqueles atos que a lei expressamente prevê
(exemplo: alfândega, pedir para abrir a mala), ou quando as circunstâncias exigirem.
Exigibilidade: a Administração Pública pode praticar atos de correção indireta, sem ordem
judicial (aplicação de multa).
Executoriedade: a Administração Pública pode praticar atos de coerção direta sem ordem
judicial, equivalendo a uma execução forçada (exemplo: reboque de veículos, capina de lotes
vagos).
5.5.4. Tipicidade
A extinção do ato administrativo se dá quando o ato deixa de produzir seus efeitos regulares,
retirando-se do mundo jurídico. É o desfazimento do ato, que pode ocorrer das seguintes
formas:
1. Extinção natural: o ato se extingue porque cumpriu os seus efeitos ou porque sobreveio
termo ou condição.
62
3. Extinção objetiva: o ato se extingue com a perda do objeto da relação jurídica constituída
pelo ato.
5. Retirada: é o desfazimento do por meio da edição de outro ato. A retirada pode ocorrer
por meio de:
a) anulação ou invalidação: retirada do ato ilegal, ou seja, o ato é extinto por conter
vícios, por estar em desconformidade com a lei. A anulação possui efeitos ex tunc,
retroagindo à data de origem do ato;
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 346 do STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios
atos.
Súmula n. 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo
de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos
os casos, a apreciação judicial.
63
d) caducidade: retirada do ato legal em razão de norma superveniente com ele
incompatível (não confundir esse conceito de caducidade com a caducidade do art. 38
da Lei n. 8987/95, Lei das Concessões e Permissões de Serviços Públicos, pois lá
caducidade é a pena por descumprimento do contrato, por culpa do concessionário);
Existem duas principais teorias em relação à Teoria das Nulidades, quais sejam: teoria
monista e teoria dualista. A teoria monista preconiza não ser aplicável a distinção das
nulidades (nulidade e anulabilidade) no Direito Administrativo, de forma que o ato é nulo ou é
válido.
Por outro lado, segundo a teoria dualista, os atos administrativos podem ser nulos ou
anuláveis, conforme a gravidade do vício. Assim, é possível que existam efeitos da nulidade
e da anulabilidade, sendo reconhecida a possibilidade de convalidação dos atos
anuláveis.
Quanto à capacidade para invalidar um ato administrativo, esta pode ser exercida pelo
Poder Judiciário, por meio do Mandado de Segurança (art., 5o, LXIX, da CF/88), Ação
Popular (art. 5o, LXIII, da CF/88), Ação Civil Pública (art. 129, III, da CF/88), pelo instituto da
Reclamação ao STF, bem como pelo princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5 o, XXXV,
da CF/88) ou pela Própria Administração, por meio do poder-dever de autotutela.
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 346 do STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios
atos.
Súmula n. 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo
64
de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos
os casos, a apreciação judicial.
Contudo, ainda que a Administração Pública exerça o seu poder-dever de autotutela, deverá
respeitar o contraditório e a ampla defesa, conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
Sobre esse julgado do STF, são pertinentes os comentários retirados do Blog Dizer o Direito:
A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem
ilegais. No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo
de interesses individuais, faz-se necessária a instauração de procedimento
administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa. Assim,
a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não
dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito
administrativo (Dizer o Direito).
65
Quanto ao prazo para a Administração Pública anular os atos que tenham produzido efeitos
favoráveis aos seus destinatários, dispõe a Lei n. 9.784/99:
Uma interessante discussão recai sobre a seguinte questão: a anulação do ato inválido é um
dever ou uma faculdade da Administração Pública? Para alguns autores, como José dos
Santos Carvalho Filho, se um ato é inválido, a Administração tem o dever de o anular, tendo
em vista o princípio da legalidade.
No que tange aos efeitos, como já salientado, a anulação do ato administrativo produz efeitos
ex tunc, isto é, retroativos.
Por fim, quanto à convalidação, os autores pertencentes à teoria dualista a conceituam como
uma forma de que a Administração Pública dispõe para aproveitar atos que possuem vícios
sanáveis, a fim de confirmá-los. Dessa maneira, a convalidação produzirá efeitos ex tunc
(retroativos). A convalidação pode ocorrer por meio de ratificação (convalidação de vícios
extrínsecos, como a competência e a forma), reforma (um novo ato suprime a parte inválida
do ato anterior, o qual mantém a parte válida) ou conversão (a parte inválida do ato é retirada
e substituída por uma nova parte).
Não há lei específica que trate das espécies de atos administrativos. Assim, para uma melhor
didática, foram elencadas as espécies de atos administrativos abordadas pela maioria dos
doutrinadores.
66
5.8.1. Atos Normativos
f) Resolução: ato dos órgãos colegiados utilizados pelo Poder Judiciário, Poder
Legislativo e Agências Reguladoras para tratar de matérias de sua competência.
b) Circular: ato expedido para estabelecer regras gerais à totalidade dos servidores
que estão subordinados a um órgão.
c) Ordem de Serviço: ato que tem por objetivo ordenar o serviço interno do órgão,
distribuindo entre os setores e servidores da entidade.
67
e) Memorando: ato de comunicação interna do órgão, para o melhor exercício da
atividade pública.
f) Ofício: ato utilizado para a comunicação externa entre autoridades públicas ou entre
estas e os particulares, assim como é utilizado para dar informações ou fazer
solicitações.
São atos utilizados pela Administração Pública para conceder direitos postulados pelos
particulares.
a) Autorização: existem duas espécies, a autorização para uso de bem público (ato
discricionário e precário, por meio do qual a Administração Pública autoriza o uso do
bem por um particular, no interesse exclusivo deste) e a autorização de polícia (ato
discricionário e precário por meio do qual a Administração Pública confere ao
particular o exercício de atividades que são fiscalizadas pelo Poder Público).
68
5.8.4. Atos enunciativos
a) Atestado: ato utilizado para comprovar uma ocorrência fática, por meio da
verificação de determinada situação de fato.
b) Certidão: ato por meio do qual a Administração Pública certifica determinado ato
já registrado no órgão.
d) Parecer: ato por meio do qual o órgão consultivo da Administração Pública emite
opinião acerca de assunto de sua competência. O parecer pode ser facultativo,
obrigatório ou vinculado.
O parecer obrigatório é aquele que a lei obriga a autoridade a solicitar, mas esta não é
obrigada a acatá-lo. A discordância do parecer deve ser fundamentada. Quem responde é a
autoridade que praticou o ato, exceto se o parecerista proceder com culpa ou erro grosseiro.
O parecer vinculado é aquele que a lei obriga a autoridade a solicitar, bem como a obriga
a acatá-lo. Nesse caso, o parecerista responde solidariamente com o administrador, não
sendo necessário demonstrar culpa ou erro grosseiro.
69
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
70
5.8.5. Atos punitivos
Atos administrativos por meio dos quais a Administração Pública aplica sanções aos
servidores públicos, em razão do Poder Disciplinar, ou aos particulares em geral, em razão do
Poder de Polícia.
71
Mapa Mental
Atos
Administrativos
Fases de
Requisitos Constituição do Ato Atributos
Administrativo
Presunção de
Competência Perfeição
Veracidade e
Legitimidade
Objeto Tipicidade
Finalidade
72
Referências Bibliográficas
73
6. Processo Administrativo: Lei n. 9.784/99
Muitos autores afirmam que, a partir da década de 1990, houve uma mudança de perfil da
Administração Pública, a qual deixou de ser burocrática para tornar-se uma Administração
Pública gerencial, isto é, de resultados.
Da mesma forma, afirma-se que a Administração Pública impositiva (imperativa), cuja atuação
baseava-se apenas na expedição de atos unilaterais, deu lugar à Administração Pública
consensual, participativa, democrática, havendo, assim, maior participação dos administrados
na atuação estatal, fator que promoveu a processualização das ações do Estado.
Assim, atualmente, o Estado cada vez mais busca adotar uma atuação processualizada, de
forma que a decisão administrativa se dará no âmbito do processo administrativo (série
encadeada de atos para a formação de uma decisão final), o que proporciona maior garantia
ao administrado, vez que possibilitada a defesa de seus direitos em casos de restrição.
O processo administrativo conceitua-se como a relação jurídica que envolve uma sucessão
dinâmica e encadeada de atos instrumentais e sucessivos para a obtenção da decisão
administrativa.
Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) editou vários precedentes aplicando a Lei
Federal n. 9.784/99, por analogia, aos entes que não têm a própria lei de processo
administrativo. É o caso, por exemplo, da aplicação supletiva do art. 54 da Lei n. 9.784/99,
que dispõe sobre o prazo para a Administração Pública anular um ato ilegal, aos Estados e
Municípios. Tais precedentes deram origem à recente Súmula n. 633 do STJ.
74
STJ EM AÇÃO:
Súmula n. 633 do STJ: A Lei n. 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo
decadencial para a revisão de atos administrativos no âmbito da Administração Pública
Federal, pode ser aplicada, de forma subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente
norma local e específica que regule a matéria.
Em relação aos interessados, a Lei n. 9.784/99, em seu art. 9o, assim estabelece:
75
de ordem técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Eis o teor do dispositivo da Lei n.
9.784/99, que trata da delegação de competências:
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes
não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de
circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de
competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes.
Importante destacar que, para ser válido, o ato de delegação deve definir, de forma
expressa e restrita, a matéria a ser delegada e o tempo de duração da delegação. Além
disso, a delegação é ato discricionário, podendo ser revogada a qualquer tempo.
A Lei n. 9.784/99 determina, ainda, no art. 4, § 3 o, que as decisões adotadas por delegação
devem mencionar explicitamente essa qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado.
Em razão disso, foi editada a Súmula 510 do STF.
STF EM AÇÃO:
Por fim, quanto à delegação, a Lei n. 9.784/99 a proíbe nas situações seguintes:
A avocação de competências está prevista no art. 15 da Lei n. 9.784/99: “Art. 15. Será
permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a
avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior”.
76
Assim, em certas situações, devidamente justificadas, é possível que o agente administrativo
tome para si, por tempo determinado, a competência inicialmente conferida a um agente
subordinado.
Como se observa, a lei traz a expressão “sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados”,
o que indica que o rol de direitos previstos no art. 3 o da Lei n. 9.784/99 é meramente
exemplificativo.
STF EM AÇÃO:
Por sua vez, os deveres dos administrados estão elencados no art. 4o da Lei n. 9.784/99:
77
III – não agir de modo temerário;
IV – prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o
esclarecimento dos fatos.
Da mesma forma, o rol dos deveres dos administrados é meramente exemplificativo, ante a
expressão “sem prejuízo de outros previstos em ato normativo”, contida no caput.
78
XIII – interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o
atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova
interpretação.
Não há um rol exaustivo dos princípios que se aplicam ao processo administrativo. Assim,
neste tópico serão destacados os princípios aplicáveis ao processo administrativo e os
princípios mais importantes consagrados no art. 2 o e demais dispositivos da Lei n. 9.784/99.
A aplicação desses princípios traduz a garantia de que o particular terá conhecimento dos atos
processuais, bem como a oportunidade de se manifestar e se defender efetivamente. Em
outras palavras, é a garantia da verdadeira informação e participação do interessado na
tramitação do procedimento, sendo-lhe oportunizado interagir de forma efetiva e capaz de
influenciar nas decisões da autoridade julgadora.
O princípio da oficialidade está previsto no inciso XII, do art. 2o, bem como no art. 5o da Lei
n. 9.784/99 (“Art. 5o: o processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a pedido de
interessado”). Esse princípio estabelece que o processo administrativo pode ser instaurado
de ofício. Aqui se verifica uma diferença entre o processo administrativo e o processo judicial,
uma vez que neste vigora o princípio da inércia da jurisdição, de forma que só há instauração
do processo judicial se houver provocação (por meio da petição inicial).
Contudo, esse informalismo não é absoluto, tendo em vista que os parágrafos do art. 22
trazem determinadas formalidades que devem ser observadas, como a necessidade de que
os atos sejam produzidos por escrito e em vernáculo, por exemplo.
79
testemunhal, a Administração Pública pode determinar a produção de prova documental, caso
entenda ser esta essencial à obtenção da verdade real.
O princípio da publicidade, previsto no art. 37 da CF/88, também está expresso no art. 2o, V,
da Lei n. 9.784/99: “V – divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses
de sigilo previstas na Constituição”. Assim, o princípio da publicidade exige transparência da
atuação administrativa.
O princípio da duração razoável do processo tem ligação com o princípio da eficiência. Está
previsto no art. 5o, LXXVIII, da CF/88, e estabelece: “A todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação”.
Vê-se, portanto, a estipulação de prazo razoável para que o processo administrativo seja
decidido.
80
Princípio da motivação. A motivação é a exteriorização do motivo, isto é, consiste em
expressar, por escrito, o motivo, exteriorizando-o.
No contexto do processo administrativo, no art. 2o, parágrafo único, inciso VII, está prevista a
necessidade de “indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão”.
Ademais, há um capítulo específico destinado à motivação, estabelecendo o art. 50, da Lei n.
9.784/99 o seguinte:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos
fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III – decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV – dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V – decidam recursos administrativos;
VI – decorram de reexame de ofício;
VII – deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem
de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII – importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato
administrativo.
§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em
declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres,
informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante
do ato.
§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio
mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não
prejudique direito ou garantia dos interessados.
§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de
decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.
81
STF EM AÇÃO:
STJ EM AÇÃO:
82
conferindo, assim, maior legitimidade ao processo administrativo. Essa participação está
prevista no art. 31 da Lei n. 9.784/99:
STJ EM AÇÃO:
Súmula n. 611 do STJ: Desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou
sindicância, é permitida a instauração de processo administrativo disciplinar com base em
denúncia anônima, em face do poder-dever de autotutela imposto à Administração.
83
c) fase decisória ou de julgamento: é a fase que põe fim ao processo, por meio da
prolação da decisão final. Os arts. 48 e 49 da Lei n. 9.784/99, sobre a fase decisória,
assim estipulam:
84
b) recurso hierárquico impróprio: é o recurso interposto para fora da pessoa jurídica
que proferiu a decisão recorrida. Esse recurso será dirigido a uma outra pessoa jurídica.
Nesse caso, conforme o entendimento do STJ e da doutrina majoritária, só cabe o
recurso se houver previsão legal, pois não é natural a interferência de uma pessoa
jurídica em outra, haja vista que cada uma possui autonomia;
Como se verifica, não só a parte pode interpor recurso administrativo, como também os
demais interessados.
Quanto ao prazo para a interposição do recurso, o art. 59 estabelece que será de 10 dias,
contados a partir da ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida.
Em relação aos efeitos, em regra, o recurso administrativo possui apenas efeito devolutivo.
Contudo, o parágrafo único do art. 61 permite a atribuição de efeito suspensivo em
determinadas situações. Veja-se:
85
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem efeito
suspensivo.
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta
reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida ou a imediatamente
superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso.
Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar,
anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for
de sua competência.
Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder decorrer
gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientificado para que formule
suas alegações antes da decisão.
Por fim, não se pode confundir a sistemática da reformatio in pejus, aplicável ao recurso em
sentido estrito, com o regramento conferido à revisão. Isso porque, diferentemente, na revisão
não pode haver agravamento da situação do recorrente, nos termos do art. 65, parágrafo
único, da Lei n. 9.784/99:
86
Todavia, o Processo Administrativo Disciplinar aplica-se não somente aos servidores públicos,
podendo também ser utilizado para aplicar sanção a particulares com vínculo especial
com a Administração Pública, como nos casos de particulares que celebram contratos
administrativos.
Cada ente federado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) pode editar suas normas
próprias sobre o processo administrativo disciplinar.
Em âmbito federal, a União editou a Lei n. 8.112/90, que prevê, dentre outras matérias, o rito
para apuração de faltas disciplinares e aplicação de sanção.
No que tange à distinção entre sindicância, inquérito e PAD, não há consenso na doutrina.
A maioria dos autores entende que a sindicância é um processo preliminar, no qual não há
possibilidade de aplicação de sanção, pois serve apenas para a coleta de provas. Por esse
motivo, não é necessária a observância do contraditório ou da ampla defesa. Contudo,
se da sindicância decorrer aplicação de sanção, nesse caso deverão ser garantidos o
contraditório e a ampla defesa.
Quanto à fase probatória, destaca-se que o Superior Tribunal de Justiça admite a prova
emprestada no Processo Administrativo Disciplinar, conforme a recente Súmula n. 591.
STJ EM AÇÃO:
87
Assim, o trâmite do Processo Administrativo Disciplinar pode ser sintetizado da seguinte
forma:
A autoridade responsável instaura o PAD e institui uma comissão composta por 3 (três)
servidores e um presidente, que deverá ter nível de escolaridade igual ou superior ao
do processado.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
AgInt no RMS 53.758/PR: A nulidade do processo administrativo disciplinar somente deve ser
declarada quando houver efetiva demonstração de prejuízo sofrido pela defesa do servidor. STJ.
2a Turma. AgInt no RMS 53.758/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/10/2017.
STJ EM AÇÃO:
88
Após a fase instrutória do PAD, será proferida decisão pela autoridade competente. Sendo
aplicada a penalidade, esta poderá ser executada imediatamente, ainda que haja recurso
por parte do servidor, conforme o entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
89
4. O reconhecimento de nulidade no Processo Administrativo Disciplinar pressupõe a efetiva e
suficiente comprovação do prejuízo ao direito da defesa, por força do princípio pas de nullité sans grief,
o que não evidenciada na espécie, porquanto as alegações da impetrante são destituídas de
elementos de prova a evidenciar a indispensabilidade e importância dos documentos em questão.
5. O termo inicial da prescrição da pretensão punitiva disciplinar estatal é a data do conhecimento do
fato pela autoridade competente para instaurar o Processo Administrativo Disciplinar (art. 142, § 1o, da
Lei 8.112/1990), a qual interrompe-se com a publicação do primeiro ato instauratório válido, seja a
abertura de sindicância ou a instauração de processo disciplinar (art. 142, § 3o, da Lei 8.112/1990).
Esta interrupção não é definitiva, visto que, após o prazo de 140 dias (prazo máximo para conclusão
e julgamento do PAD a partir de sua instauração (art. 152 c/c art. 167)), o prazo prescricional recomeça
a correr por inteiro (art. 142, § 4o, da Lei 8.112/1990).
6. No caso em análise, a infração disciplinar tornou-se conhecida pela Administração Pública em 2006,
hipótese que em 8 de julho de 2008 foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar a ensejar a
interrupção da contagem do prazo prescricional, que se reiniciou após 140 dias, ou seja, em 25 de
novembro de 2008, sendo que a demissão da impetrante poderia ter ocorrido até 25 de novembro de
2013. Assim não há como acolher a alegação da prescrição na medida em que a Portaria que cassou
a aposentadoria da impetrante foi publicada em 26 de setembro de 2012, dentro do prazo legal.
7. Segurança denegada. (MS 19.488/DF, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção,
julgado em 25/3/2015, DJe 31/3/2015).
90
Caso o servidor público seja absolvido em relação a esse crime funcional, por falta de provas
no processo penal, ele ainda poderá ser condenado na esfera administrativa (é o chamado
resíduo administrativo).
STJ EM AÇÃO:
Súmula n. 18 do STF: Pela falta residual, não compreendida na absolvição pelo juízo criminal,
é admissível a punição administrativa do servidor público.
Tratando-se do cometimento de um crime não funcional, isto é, sem relação com a função
pública, e a condenação consistir em pena privativa de liberdade por tempo superior a quatro
anos, o servidor poderá, como efeito reflexo, perder o cargo.
Por fim, se o servidor for absolvido por um crime não funcional, não será, em princípio,
sancionado na esfera administrativa.
91
Mapa Mental
Processo
Administrativo
Fases do
Princípios Processo Recursos
Administrativo
Motivação Revisão
Gratuidade
Participação
92
Referências Bibliográficas
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev., ampl.
e atual. São Paulo: Atlas, 2016.
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2017.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 34. ed. rev., atual e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2021.
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. 6. ed. rev., atual. e
ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018.
93
7. Licitações, Lei n. 8.666/93 e Lei n. 14.133/2021
Para que a Administração Pública celebre seus contratos, a Constituição Federal impõe, como
regra, a exigência de realização prévia de procedimento licitatório.
É importante ressaltar que estamos no momento de transição entre a Lei n. 8.666/93 e a Lei
14.133/2021, que modernizou o procedimento licitatório no Brasil. Ambas as leis encontram-
se vigentes, podendo o órgão público escolher o rito que sua licitação seguirá. Esta faculdade
se estenderá até 01º de Abril de 2023, quando a antiga lei perderá sua vigência.
94
Sujeitos: estão sujeitos à licitação todas as entidades e os órgãos públicos que pertencem
aos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como os fundos
especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de
economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 1 o, parágrafo único da Lei n. 8.666/93 e do
art. 1º da Lei n. 14.133/2021.
Finalidade: a licitação tem como finalidade promover a isonomia das contratações públicas,
bem como viabilizar a contratação da proposta mais vantajosa para a Administração Pública.
Contudo, a ideia de “vantajosidade” não se exaure apenas em critérios econômicos. Deve-se
observar a função regulatória da licitação, isto é, a licitação deve ser utilizada para alcançar
objetivos não só econômicos. Citem-se como exemplo os relativos à sustentabilidade
ambiental e social, promoção do mercado interno, dentre outros. Nota-se, atualmente, uma
forte tendência às chamadas “licitações verdes” e “contratações verdes”, as quais possuem
uma proposta voltada à preservação ambiental.
Princípio da competitividade: está previsto tanto no art. 3, § 1o, da Lei n. 8.666/93, quanto
no art. 5º da Lei n. 14.133/2021. Este princípio parte do pressuposto de que, quanto maior a
competição, maiores as chances de o Poder Público obter uma proposta mais vantajosa. Em
razão do princípio da competitividade, o TCU já invalidou uma licitação cujo edital restringia a
participação somente às empresas que não tivessem litígio contra a Administração Pública.
Princípio da isonomia: informa que o Poder Público deve dispensar tratamento igualitário
entre os licitantes durante o procedimento licitatório. Contudo, é possível estabelecer
tratamento diferenciado em determinadas situações se esse tratamento for proporcional. Isso
está em consonância com a igualdade material. Cite-se, como exemplo, a margem de
preferência para empresas que têm empregados portadores de deficiência ou para as
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte.
95
Princípio da vinculação ao instrumento convocatório: está contido tanto no art. 41 da Lei
n. 8.666/93 quanto na Lei n. 14.133/2021 e estabelece que a Administração Pública não pode
descumprir as normas previstas no edital.
Princípio do julgamento objetivo: está disposto no art. 45 da Lei n. 8.666/93 e informa que
o Poder Público somente poderá adotar um dos critérios que vêm definidos na legislação,
quais sejam: menor preço, maior lance, melhor técnica ou técnica e preço. Não se admite,
portanto, a utilização de outros critérios.
Princípio do sigilo das propostas: embora a licitação seja pública, certo é que as propostas
apresentadas pelos licitantes são sigilosas até a abertura dos envelopes, em sessão pública.
Isso ocorre para que não haja privilégio de alguns licitantes em detrimento de outros,
preservando-se o princípio da isonomia.
96
Como se vê, a Constituição Federal dispõe que, em regra, as contratações da Administração
Pública devem ser precedidas de licitação, ressalvados os casos previstos em lei.
Regulamentando esse dispositivo constitucional, foram editadas as Leis n. 8.666/93 e n.
14.133/2021, que estabeleceram as regras gerais de licitações e contratos e elencam algumas
situações em que o procedimento licitatório não será obrigatório. Tais situações, estudadas
em tópico específico, consistem na chamada contratação direta, que abrange a licitação
dispensada, dispensável e inexigível.
Licitação Dispensada
Esta hipótese é prevista tanto no art. 17 da Lei n. 8.666/93, quanto no art. 76 da Lei n.
14.133/2021, e se refere à alienação dos bens dominicais da Administração Pública. Como
regra geral, uma das exigências para a alienação desses bens é a realização de um
procedimento prévio de licitação; contudo, as legislações estabelecem as situações em que a
licitação estará dispensada. Nesses casos, o Poder Público não precisará licitar e poderá
alienar os bens diretamente a terceiros.
Importante destacar que o rol de hipóteses de licitação dispensada é taxativo. Isso porque a
Constituição Federal traz a regra (obrigatoriedade de licitação) e ressalva apenas as hipóteses
previstas em lei.
Outra característica importante é que a atuação do agente público, nas hipóteses de licitação
dispensada, é vinculada, segundo a doutrina majoritária, porque o legislador, ao redigir o
texto da lei, já decidiu que a licitação seria dispensada, eis que utilizou a expressão
“dispensada esta nos seguintes casos”. Por tais razões, alguns autores denominam a licitação
dispensada de “dispensa legislativa”. Assim, se a hipótese concreta se encaixa na lei, o agente
97
público tem que observar a ordem legal de não realizar a licitação. Esse é o entendimento da
doutrina majoritária, embora existam autores com posicionamento divergente.
Licitação Dispensável
Quanto à atuação do agente público, doutrina converge para o entendimento de que essa
atuação é discricionária, em razão da literalidade da expressão “dispensável”. Desse modo,
se a Administração Pública, em tais casos, puder e quiser licitar, poderá fazê-lo, mas, ainda
assim, poderá contratar diretamente. Contudo, todas as hipóteses de contratação direta
devem ser justificadas.
Nos dois primeiros incisos, a licitação é dispensável em razão do valor, porque, se for realizada
a licitação nesses casos, o gasto com o procedimento será maior do que o valor do objeto a
ser contratado.
Outra hipótese prevista nas legislações é quando verificada licitação deserta, que significa a
ausência de interessados. Nesse caso, poderá ser feita a contratação direta, desde que sejam
mantidas as condições iniciais da licitação deserta.
98
A licitação fracassada ou frustrada, consiste na situação em que apareceram interessados,
mas todos foram ou inabilitados ou desclassificados, não restando nenhum licitante apto a
participar da licitação.
Inexigibilidade de Licitação
Cabe ressaltar que não basta que o serviço seja técnico, devendo ser demonstradas a
natureza singular e a notória especialização daquele que será contratado.
Por fim, considera-se também inexigível a licitação para contratação de serviços artísticos,
casos em que não é possível pautar a escolha por meio de critérios objetivos.
99
7.5. Tipos e modalidades de licitação
De início, deve-se destacar que tipos de licitação e modalidade de licitação não se confundem.
São tipos de licitação, previstos no art. 45 da Lei n. 8.666/93 e art. 33 da Lei 14.133/2021:
Menor preço: critério utilizado quando o objeto a ser licitado não possui nenhuma
característica especial, de forma que a Administração Pública é orientada a selecionar
a proposta que apresente o melhor preço.
Técnica e preço: por meio deste tipo de licitação, são analisados, conjuntamente, o
preço e a qualidade do objeto a ser licitado.
Maior lance: é o tipo de licitação utilizado para a alienação dos bens e direitos da
Administração Pública e que adota como critério de seleção do vencedor aquele que
apresentar o maior lance, isto é, o maior valor a ser oferecido.
Embora muito similar, o rol de modalidades foi levemente alterado no art. 28 da Lei
14.133/2021, que limita-se ao pregão, concorrência, concurso, leilão e diálogo competitivo.
100
na Lei n. 14.133/2021, que manteve apenas a concorrência como modalidade aplicável
independentemente do valor.
Assim, a concorrência na Lei n. 8.666/93 é limitada para contratações de grande vulto. Nos
termos do art. 22, § 1o, da Lei n. 8.666/93, a concorrência é aberta a qualquer interessado, em
atenção ao princípio da universalidade. No regime da Lei n. 14.133/2021, de acordo com seu
art. 29, seu emprego não está relacionado ao valor da contratação, mas sim à natureza da
contratação: Quando se tratar de bens e serviços especiais, será a modalidade adotada, em
oposição ao pregão, que servirá para contratação de bens e serviços comuns.
O regime da Lei 8.666/93, a seu turno, prevê outras modalidades a serem selecionadas de
acordo com valor da contratação: A tomada de preços é utilizada para contratações de valor
médio. Na tomada de preços, conforme o art. 22, § 3o, da Lei n. 8.666/93, somente os
interessados devidamente cadastrados, ou que cumprirem todas as condições exigidas para
cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, poderão
participar, o que proporciona maior eficiência e agilidade na contratação.
Em relação aos valores utilizados como parâmetro, dispõe o art. 23 da Lei n. 8.666/93:
Ocorre que, atualmente, esses valores foram atualizados pelo Decreto n. 9.412/2018,
sendo fixados da seguinte forma:
101
b) na modalidade tomada de preços – até R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais); e
c) na modalidade concorrência – acima de R$ 3.300.000,00 (três milhões e
trezentos mil reais); e
II – para compras e serviços não incluídos no inciso I:
a) na modalidade convite – até R$ 176.000,00 (cento e setenta e seis mil reais);
b) na modalidade tomada de preços – até R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais); e
c) na modalidade concorrência – acima de R$ 1.430.000,00 (um milhão,
quatrocentos e trinta mil reais).
Cumpre destacar que a recente alteração na Lei n. 8.666/93 acrescentou o § 8 o ao art. 23,
determinando que, no caso de consórcios públicos formados por até três entes da Federação,
aplica-se o dobro dos valores utilizados para definir as faixas de preço das modalidades
licitatórias, e o triplo, quando formados por maior número.
Ressalte-se que nem tomada de preços, nem convite foram incorporados no regime da Lei n.
14.133/2021.
Já o concurso e o leilão são definidos em razão do objeto a ser contratado. São admitidos
tanto no regime da Lei n. 8.666/93 quanto na Lei n. 14.133/20211;
O leilão é a modalidade de licitação em que o Estado irá alienar os seus bens móveis
inservíveis. Se o bem for imóvel, a modalidade utilizada será a concorrência, ressalvada
a hipótese prevista no art. 19, III, da Lei n. 8.666/93, em que poderá ser utilizado o leilão.
Destaca-se que o art. 23, § 3o, da Lei n. 8.666/93 exigiu que, qualquer que seja o valor, a
concorrência deve ser a modalidade de licitação utilizada para a alienação e compra de
bens imóveis.
O art. 24, § 4o, da Lei n. 8.666/93 estabeleceu que, nos casos em que couber convite, poderá
ser utilizada a modalidade de tomada de preços e, em qualquer caso, poderá ser utilizada a
concorrência.
102
técnica, para buscar soluções que dependam de adaptação das opções que se encontram
disponíveis no mercado, bem como que envolvam especificações que a Administração não
consegue definir de modo objetivo e precisa elaborar junto com os interessados.
O segundo ato consiste na definição do objeto, por meio do projeto básico (termo de
referência), que é um documento que define as características do objeto a ser contratado.
Nesse momento, é feita uma pesquisa de mercado acerca do valor, com o objetivo de saber
se o Poder Público possui disponibilidade orçamentária.
103
A qualificação técnica visa aferir as condições técnicas do interessado, como a inscrição no
conselho profissional, por exemplo.
É importante perceber que a Lei n. 14.133/2021 houve uma inversão nas etapas durante o
processo licitatório. O art. 17 estabelece uma ordem: (a) Preparatória; (b) Divulgação do edital;
(c) Propostas e lances, quando for o caso; (d) Julgamento; (e) Habilitação; (f) Recursos; (g)
Homologação.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
104
4. Inexistindo autorização legislativa, incabível a automática inabilitação de empresas submetidas à
Lei n. 11.101/2005 unicamente pela não apresentação de certidão negativa de recuperação judicial,
principalmente considerando o disposto no art. 52, I, daquele normativo, que prevê a possibilidade de
contratação com o poder público, o que, em regra geral, pressupõe a participação prévia em licitação.
5. O escopo primordial da Lei n. 11.101/2005, nos termos do art. 47, é viabilizar a superação da
situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora,
do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da
empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
6. A interpretação sistemática dos dispositivos das Leis n.
8.666/1993 e n. 11.101/2005 leva à conclusão de que é possível uma ponderação equilibrada dos
princípios nelas contidos, pois a preservação da empresa, de sua função social e do estímulo à
atividade econômica atendem também, em última análise, ao interesse da coletividade, uma vez que
se busca a manutenção da fonte produtora, dos postos de trabalho e dos interesses dos credores.
7. A exigência de apresentação de certidão negativa de recuperação judicial deve ser relativizada a
fim de possibilitar à empresa em recuperação judicial participar do certame, desde que demonstre, na
fase de habilitação, a sua viabilidade econômica.
8. Agravo conhecido para dar provimento ao recurso especial.
(AREsp 309.867/ES, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/6/2018,
DJe 8/8/2018).
A regularidade fiscal tem como objetivo saber se a empresa está regular perante o fisco, por
meio da Certidão Negativa de Débitos (CND) ou Certidão Positiva com efeitos de Negativa.
Em relação à amplitude quanto à regularidade fiscal, há divergência de entendimentos
doutrinários. Há uma corrente que defende que a exigência de regularidade fiscal se restringe
aos tributos de competência do ente federado licitante. Assim, se é o Município que está
realizando a licitação, somente poderá ser exigida a regularidade fiscal relativa aos tributos
municipais (IPTU, ITBI e ISSQN). Por outro lado, há o posicionamento segundo o qual a
regularidade fiscal deve ser exigida em relação aos tributos que incidem sobre o objeto licitado.
Contudo, a literalidade do art. 29, III, da Lei n. 8.666/93 prevê que a regularidade fiscal é
ampla, incluindo todos os entes federados.
105
ou, mesmo que haja a condenação, se esta ainda não é exigível. Outro requisito da
regularidade trabalhista diz respeito ao cumprimento do art. 7 o, XXXIII, da CF/88, devendo a
empresa comprovar que não contrata irregularmente trabalhador menor de idade.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
1. A igualdade de condições dos concorrentes em licitações, embora seja enaltecida pela Constituição
(art. 37, XXI), pode ser relativizada por duas vias: (a) pela lei, mediante o estabelecimento de condições
de diferenciação exigíveis em abstrato; e (b) pela autoridade responsável pela condução do processo
licitatório, que poderá estabelecer elementos de distinção circunstanciais, de qualificação técnica e
econômica, sempre vinculados à garantia de cumprimento de obrigações específicas.
106
proteção do consumidor é motivo suficiente para justificar o impedimento de contratar com a
Administração local.
4. Ao dispor nesse sentido, a Lei Estadual 3.041/05 se dissociou dos termos gerais do
ordenamento nacional de licitações e contratos, e, com isso, usurpou a competência privativa da
União de dispor sobre normas gerais na matéria (art. 22, XXVII, da CF).
5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 3735, Relator(a): Min. TEORI
ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 8/9/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-168 DIVULG 31-
7-2017 PUBLIC 1-8-2017).
Por fim, a adjudicação é o ato final do procedimento licitatório. O Poder Público publicará no
órgão oficial um despacho informando que o objeto da licitação está adjudicado, isto é,
concedido à empresa vencedora, a qual será convocada para assinar o contrato.
107
No regime da Lei n. 8.666/93, o recurso hierárquico deve ser interposto no prazo de cinco dias
úteis, contra os atos previstos em lei. O prazo é de três dias úteis no regime da Lei n.
14.133/2021.
A representação deve ser interposta também em cinco dias, para impugnar decisão sobre o
objeto da licitação, da qual não seja cabível o recurso hierárquico. A Lei n. 14.133/2021 não
incorporou a representação em seu regime recursal.
Quando existir vício na licitação, esta deverá ser anulada; trata-se, pois, de um ato vinculado.
Há vício quando for desrespeitado algum dos princípios das licitações ou alguma de
suas normas específicas.
Nos termos do art. 49 da Lei n. 8.666/93 ou do art. 71 da Lei n. 14.133/2021, a anulação pode
ser decretada pela própria Administração, por ser expressão do princípio da autotutela.
108
administrado, tendo em vista que o licitante vencedor não tem direito subjetivo à
contratação, mas mera expectativa de que, caso a Administração Pública venha a
contratar, essa contratação se dê com o vencedor da licitação.
A Seção III da Lei n. 8.666/93 trata dos crimes e das penas relacionadas à licitação. A Lei
14.133/2021, por sua vez, preferiu por tratar dessa matéria incorporando os crimes ao Código
Penal.
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou
deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena – detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente
concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou
inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.
109
convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou,
ainda, pagar fatura com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade,
observado o disposto no art. 121 desta Lei:
Pena – detenção, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide na mesma pena o contratado que, tendo
comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, obtém
vantagem indevida ou se beneficia, injustamente, das modificações ou
prorrogações contratuais.
Art. 95. Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo:
Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena
correspondente à violência.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém ou desiste de licitar,
em razão da vantagem oferecida.
Com efeito, tais condutas somente configurarão crime se forem praticadas com dolo.
110
Sobre o tema e, especificamente em relação ao crime previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/93,
o STF possui o entendimento no sentido de que se exige o elemento subjetivo, o especial fim
de agir, consistente na intenção específica do agente de lesar o erário ou de obter vantagem
indevida.
Por sua vez, a Lei n. 14.133/2021 passou a inserir os crimes contra licitações e contratos
públicos no Código Penal, inserindo um capítulo no Título XI da Parte Especial. Elenca esses
novos crimes:
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta fora das
hipóteses previstas em lei:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 337-F. Frustrar ou fraudar, com o intuito de obter para si ou para outrem
vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação, o caráter
competitivo do processo licitatório:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
111
contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem cronológica de
sua exigibilidade:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
Afastamento de licitante
Art. 337-K. Afastar ou tentar afastar licitante por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo:
Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos, e multa, além da pena
correspondente à violência.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém ou desiste de licitar
em razão de vantagem oferecida.
112
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
Contratação inidônea
Impedimento indevido
113
Art. 337-P. A pena de multa cominada aos crimes previstos neste Capítulo
seguirá a metodologia de cálculo prevista neste Código e não poderá ser
inferior a 2% (dois por cento) do valor do contrato licitado ou celebrado com
contratação direta.”
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
INQ 3962: PENAL. CRIME LICITATÓRIO. DEPUTADO FEDERAL. ARTIGO 89 DA LEI 8.666/93,
SEGUNDA PARTE. FORMALIDADES. DESCUMPRIMENTO. TIPICIDADE OBJETIVA E
SUBJETIVA. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. DENÚNCIA NÃO RECEBIDA. 1. O artigo 89,
segunda parte, da Lei 8.666/93, é norma penal em branco, a qual, quanto às formalidades a que
alude, é complementada pelo art. 26 da mesma Lei. 2. O delito em questão tutela bem jurídico
voltado aos princípios da administração pública (CF, artigo 37). O descumprimento das
formalidades só tem pertinência à repressão penal quando involucrado com a violação substantiva
àqueles princípios. 3. No caso, as justificativas do preço, da escolha do fornecedor e a ratificação
do procedimento atenderam às formalidades legais, no que diz com perspectiva do denunciado.
Conduta do gestor lastreada em Pareceres Técnicos e Jurídicos razoavelmente justificados, e não
identificados conluio ou concertamento fraudulento entre o acusado pareceristas, nem intenção
de fraudar o erário ou de enriquecimento ilícito. 4. Ausência constatável ictu oculi de indícios
mínimos de tipicidade objetiva e subjetiva, a inviabilizar um prognóstico fiável de confirmação da
hipótese acusatória. Denúncia não recebida. (Inq 3962, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira
Turma, julgado em 20/2/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-191 DIVULG 11-9-2018 PUBLIC
12-9-2018).
O Pregão é uma modalidade de licitação que não está expressamente previsto na Lei n.
8.666/93, sendo regulado em lei própria, a Lei n. 10.520/02. É utilizado por todos os entes
federativos para a aquisição de bens e serviços comuns. Assim, não é possível a utilização
do pregão para locação e concessão de serviços públicos, bem como não é possível a sua
utilização para a alienação de bens móveis e imóveis. Sua regulamentação foi acolhida pela
Lei 14.133/2021, passando a ser a regra geral pela qual recomenda-se a realização de
procedimentos licitatórios.
114
Inicialmente, a utilização da modalidade pregão é opcional, de forma que a Administração
sempre poderá optar pelo emprego de outra modalidade licitatória apropriada em função do
valor do objeto. Entretanto, o art. 4o do Decreto n. 5.450/2005 tornou obrigatório o uso do
pregão em âmbito federal, devendo ser adotada, preferencialmente, a modalidade eletrônica.
A principal característica do pregão, e que virou uma tendência nas leis de licitações mais
recentes, consiste na inversão de fases da licitação.
A regra geral, na fase externa da licitação, é que seja seguida a seguinte ordem: edital,
habilitação, julgamento, homologação e adjudicação.
115
A utilização do Regime Diferenciado de Contratações tem por objetivo proporcionar
simplificação e celeridade nas contratações realizadas. A opção por esse procedimento
deve estar prevista expressamente no instrumento convocatório e afastará a aplicação
da Lei n. 8.666/93, uma vez que esta lei só será aplicada subsidiariamente nos casos em
que a Lei n. 12.462/11 determinar.
116
identificar fornecedores que possuem as condições de habilitação exigidas para o
fornecimento do bem ou a execução do serviço de acordo com os prazos e condições
estabelecidos previamente e que atendam às exigências técnicas e de qualidade
buscadas pela Administração Pública. A pré-qualificação pode ser parcial ou integral e
terá validade de um ano.
O art. 173, § 1o, III, da CF/88 dispõe sobre a necessidade de elaboração do estatuto das
empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias, o qual discipline as
regras de licitações de tais entidades. Contudo, essa lei só foi editada em 2016, tratando-se
da Lei n. 13.303/16 – Estatuto Jurídico da Empresa Pública e Sociedade de Economia Mista.
Antes dessa lei, a doutrina majoritária e o TCU entendiam que as estatais que desenvolvem
atividade econômica deveriam fazer uma distinção entre atividade-fim e atividade-meio, de
forma que deveriam licitar apenas os objetos relacionados à atividade-meio, restando a
atividade-fim desobrigada da realização de licitação.
117
A Lei n. 13.303/16, em seu art. 28, § 3o, consagrou a referida distinção entre a atividade-fim e
atividade-meio, determinando a inaplicabilidade da licitação quando as estatais forem
contratar as atividades mencionadas no seu estatuto social, isto é, a atividade-fim da estatal.
De forma inversa, haverá necessidade de licitação para a atividade-meio.
Nos termos do art. 1o, a Lei n. 13.303/16 se aplica às estatais federais, estaduais e municipais,
independentemente da atividade desenvolvida, seja em regime de monopólio ou
concorrencial.
O Estatuto das Estatais estabelece, no art. 29, que a licitação será dispensável nos
seguintes casos:
118
IX – na contratação de associação de pessoas com deficiência física, sem fins
lucrativos e de comprovada idoneidade, para a prestação de serviços ou
fornecimento de mão de obra, desde que o preço contratado seja compatível
com o praticado no mercado;
X – na contratação de concessionário, permissionário ou autorizado para
fornecimento ou suprimento de energia elétrica ou gás natural e de outras
prestadoras de serviço público, segundo as normas da legislação específica,
desde que o objeto do contrato tenha pertinência com o serviço público.
XI – nas contratações entre empresas públicas ou sociedades de economia
mista e suas respectivas subsidiárias, para aquisição ou alienação de bens e
prestação ou obtenção de serviços, desde que os preços sejam compatíveis
com os praticados no mercado e que o objeto do contrato tenha relação com a
atividade da contratada prevista em seu estatuto social;
XII – na contratação de coleta, processamento e comercialização de resíduos
sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta
seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas formadas
exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda que tenham como
ocupação econômica a coleta de materiais recicláveis, com o uso de
equipamentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de saúde
pública;
XIII – para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou prestados no País,
que envolvam, cumulativamente, alta complexidade tecnológica e defesa
nacional, mediante parecer de comissão especialmente designada pelo
dirigente máximo da empresa pública ou da sociedade de economia mista;
XIV – nas contratações visando ao cumprimento do disposto nos arts. 3o, 4o,
5o e 20 da Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004, observados os princípios
gerais de contratação dela constantes;
XV – em situações de emergência, quando caracterizada urgência de
atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a
segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos
ou particulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da
situação emergencial e para as parcelas de obras e serviços que possam ser
concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e
ininterruptos, contado da ocorrência da emergência, vedada a prorrogação dos
respectivos contratos, observado o disposto no § 2o ;
XVI – na transferência de bens a órgãos e entidades da administração pública,
inclusive quando efetivada mediante permuta;
XVII – na doação de bens móveis para fins e usos de interesse social, após
avaliação de sua oportunidade e conveniência socioeconômica relativamente
à escolha de outra forma de alienação;
XVIII – na compra e venda de ações, de títulos de crédito e de dívida e de bens
que produzam ou comercializem.
119
II – contratação dos seguintes serviços técnicos especializados, com
profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade
para serviços de publicidade e divulgação:
a) estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;
b) pareceres, perícias e avaliações em geral;
c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
g) restauração de obras de arte e bens de valor histórico.
A contratação direta, seja por dispensa ou por inexigibilidade, será instruída com a
caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa, quando for o
caso, com a razão da escolha do fornecedor ou do executante e com a justificativa do preço.
Em relação à modalidade de licitação, o art. 32, IV, da Lei n. 13.303/16 determina que o
pregão deverá ser a modalidade licitatória preferencialmente (e não obrigatoriamente)
utilizada.
● menor preço;
● maior desconto;
● melhor combinação de técnica e preço;
● melhor técnica;
● melhor conteúdo artístico;
● maior oferta de preço;
● maior retorno econômico;
● melhor destinação dos bens alienados.
O intervalo mínimo entre a publicação do edital e o início da licitação varia conforme o objeto
e o tipo de licitação.
120
Nos casos de contratação de obras e serviços, o prazo será de 15 dias úteis se o critério de
julgamento for o menor preço ou o maior desconto. Nas demais hipóteses, será de 30 dias
úteis.
Quando o critério utilizado for a melhor técnica ou a melhor combinação de técnica e preço, e
para licitação em que haja contratação integrada ou semi-integrada, o prazo será de 45 dias
úteis.
Procedimento da licitação
Art. 55. Em caso de empate entre 2 (duas) propostas, serão utilizados, na ordem em
que se encontram enumerados, os seguintes critérios de desempate:
I – disputa final, em que os licitantes empatados poderão apresentar nova proposta
fechada, em ato contínuo ao encerramento da etapa de julgamento;
II – avaliação do desempenho contratual prévio dos licitantes, desde que exista sistema
objetivo de avaliação instituído;
III – os critérios estabelecidos no art. 3o da Lei n. 8.248, de 23 de outubro de 1991, e
no § 2o do art. 3o da Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993;
IV – sorteio.
6. Negociação: será feita sempre que a proposta vencedora for desclassificada, sendo
negociados os valores com os licitantes que ofertaram as propostas subsequentes.
121
7. Habilitação: será apreciada a partir dos parâmetros de habilitação jurídica,
qualificação técnica, capacidade econômica e financeira e recolhimento de quantia a
título de adiantamento (quando o critério utilizado for o de maior oferta de preço).
9. Adjudicação.
10. Homologação ou revogação: sobre esta última fase, ensina Matheus Carvalho:
Pré-qualificação permanente
Cadastramento de Licitantes
122
O sistema de registro de preços da Lei n. 13.303/16 deve atender às condições previstas no
art. 66, sobretudo à pesquisa de mercado, à seleção de acordo com os procedimentos
previstos, à rotina de controle e atualização periódica dos preços, à validade do registro e à
inclusão do registro dos licitantes que aceitaram cotar os bens ou serviços com preços iguais
ao do licitante vencedor:
123
I – atender ao princípio da padronização, que imponha compatibilidade de
especificações técnicas e de desempenho, observadas, quando for o caso, as
condições de manutenção, assistência técnica e garantia oferecidas;
II – ser processadas através de sistema de registro de preços;
III – submeter-se às condições de aquisição e pagamento semelhantes às do
setor privado;
IV – ser subdivididas em tantas parcelas quantas necessárias para aproveitar
as peculiaridades do mercado, visando economicidade;
V – balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos órgãos e entidades da
Administração Pública.
§ 1o O registro de preços será precedido de ampla pesquisa de mercado.
§ 2o Os preços registrados serão publicados trimestralmente para orientação
da Administração, na imprensa oficial.
§ 3o O sistema de registro de preços será regulamentado por decreto,
atendidas as peculiaridades regionais, observadas as seguintes condições:
I – seleção feita mediante concorrência;
II – estipulação prévia do sistema de controle e atualização dos preços
registrados;
III – validade do registro não superior a um ano.
§ 4o A existência de preços registrados não obriga a Administração a firmar as
contratações que deles poderão advir, ficando-lhe facultada a utilização de
outros meios, respeitada a legislação relativa às licitações, sendo assegurado
ao beneficiário do registro preferência em igualdade de condições.
§ 5o O sistema de controle originado no quadro geral de preços, quando
possível, deverá ser informatizado.
§ 6o Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar preço constante do
quadro geral em razão de incompatibilidade desse com o preço vigente no
mercado.
§ 7o Nas compras deverão ser observadas, ainda:
I – a especificação completa do bem a ser adquirido sem indicação de marca;
II – a definição das unidades e das quantidades a serem adquiridas em função
do consumo e utilização prováveis, cuja estimativa será obtida, sempre que
possível, mediante adequadas técnicas quantitativas de estimação;
III – as condições de guarda e armazenamento que não permitam a
deterioração do material.
§ 8o O recebimento de material de valor superior ao limite estabelecido no art.
23 desta Lei, para a modalidade de convite, deverá ser confiado a uma
comissão de, no mínimo, 3 (três) membros.
Como se vê, a Lei n. 8.666/93 estabelece algumas condições para a manutenção do sistema
de registro de preços, quais sejam: a utilização de concorrência pública, exceto quando couber
o pregão; a necessidade de sistema de controle e atualização dos preços; a validade do
registro não pode superar um ano; e a exigência de que os registros devem ser publicados
trimestralmente na imprensa oficial.
124
Durante o prazo de validade do registro de preços, a proposta vencedora fica à disposição do
ente público, que poderá adquirir o bem quantas vezes for necessário, desde que não
ultrapasse o limite máximo do quantitativo licitado.
Nos termos do art. 22, § 4o, do Decreto n. 7.892/13, o instrumento convocatório deverá prever
que o quantitativo decorrente das adesões à ata de registro de preços não poderá exceder,
na totalidade, ao quíntuplo do quantitativo de cada item registrado na ata de registro de preços
para o órgão gerenciador e órgãos participantes, independentemente do número de órgãos
não participantes que aderirem.
125
quando a licitação tiver sido realizada pela Administração Pública Estadual,
Municipal ou do Distrito Federal” (MAZZA, 2019, n.p.).
126
Mapa Mental
Licitações e
Lei nº 8.666/93
Vinculação ao
Instrumento Técnica e Convite Julgamento
Convocatório Preço
Procedimento
Maior Lance Concurso Homologação
formal
Pregão
127
Referências Bibliográficas
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28. ed. rev., ampl.
e atual. São Paulo: Atlas, 2016.
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2017.
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. 6. ed. rev., atual. e
ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018.
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 31. ed. rev., atual e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2018.
128
8. Contratos Administrativos
O Poder Público, no exercício da função administrativa, pode desenvolver as suas atividades
por meio de atos unilaterais ou bilaterais de vontade, sempre em prol do interesse público.
Com efeito, nem todo contrato celebrado pela Administração Pública pode ser
classificado como sendo um contrato administrativo.
8.1.1. Conceito
129
isto é, de igualdade, visto que as partes possuem o mesmo conjunto de direitos e de
obrigações, não havendo, usualmente, cláusula em favor da Administração. A esses contratos
aplica-se, em regra, o disposto no Código Civil, porém o Estado continua obrigado a atender
determinadas exigências baseadas nas disposições de direito público.
Nesse sentido, conforme previsto no artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal, as
contratações realizadas pela Administração são, de forma geral, vinculadas a anterior
processo licitatório. Há, contudo, por exceção, as modalidades de contratação direta, nas
quais, por autorização da legislação vigente, ocorrem as chamadas dispensa e inexigibilidade
de licitação. Desse modo, tem-se que os contratos privados celebrados pelo Estado também
possuem influência de direito público.
Nesse sentido, há uma relação de verticalidade entre as partes, decorrente de uma série
de direitos e prerrogativas conferidas à Administração, colocando-a em uma situação
privilegiada frente à parte contratada. A essas cláusulas dá-se o nome de cláusulas
exorbitantes, que serão detalhadas adiante.
De toda forma, o particular não é obrigado a contratar com o Estado. Apesar de os contratos
administrativos possuírem natureza de contrato de adesão, em que as cláusulas contratuais
são estabelecidas unilateralmente pela Administração Pública, eles não possuem
imperatividade. Isto é, é necessário que o contratado também tenha interesse na contratação,
dando o seu “aceite” para a formação da relação jurídica.
Importa destacar, porém, que, embora haja um encontro de vontades, trata-se de interesses
e finalidades opostos. É o que ocorre, por exemplo, na concessão de serviço público: enquanto
a Administração Pública busca atender algum interesse público, o particular visa o seu próprio
interesse, qual seja, o de auferir lucro.
As normas gerais aplicáveis aos contratos administrativos estão previstas na Lei n. 8.666/93,
chamada Lei de Licitações e Contratos Administrativos, notadamente do artigo 54 ao 89. Frisa-
130
se, porém, a aplicação supletiva dos princípios da teoria geral dos contratos e das disposições
de direito privado, conforme disposto no artigo 54, caput, do referido texto legal: “Art. 54. Os
contratos administrativos de que trata esta Lei regulam-se pelas suas cláusulas e pelos
preceitos de direito público, aplicando-se-lhes, supletivamente, os princípios da teoria geral
dos contratos e as disposições de direito privado”.
8.1.2. Características
131
Importa ressaltar que eventual transferência da execução a terceiro não isenta o
contratado das suas responsabilidades legais e contratuais.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
132
7. Comutatividade: o contrato comutativo é todo contrato em que as prestações são
estabelecidas e equivalentes entre si, isto é, cada parte recebe da outra prestação
equivalente à sua.
8. Presença de cláusulas exorbitantes: segundo a doutrina, essa é a principal
característica dos contratos administrativos.
As cláusulas exorbitantes são as responsáveis pela relação de verticalidade
estabelecida entre as partes nos contratos administrativos. Isso porque, conforme
detalharemos a seguir, tais cláusulas conferem prerrogativas de direito público à
Administração, conferindo a ela supremacia.
“As cláusulas exorbitantes são disposições contratuais que definem poderes especiais para a
Administração Pública dentro do contrato, projetando-a para uma posição de superioridade
em relação ao contratado” (MAZZA, 2021, n.p.).
Leciona Di Pietro (2021) que tais cláusulas se dizem exorbitantes por não serem comuns,
sendo ilícitas em contratos de direito privado por concederem uma série de privilégios somente
a uma das partes da relação, visto que nestes deve haver uma relação marcada pela
igualdade.
133
contratado. Assim, como exemplo, um contrato de locação entre a União (locadora) e um
particular (locatário), no qual haja cláusula de tolerância de atraso no pagamento, em favor da
Administração, será legal desde que o contratado a tenha aceitado.
O artigo 65 da Lei n. 8.666/93 e o artigo 104 da Lei n. 14.133/2021 preveem que a alteração
de um contrato administrativo pode se dar por acordo entre as partes ou pode ser uma
alteração unilateral pela Administração. É um exemplo de cláusula exorbitante, pois confere
um privilégio à Administração Pública, já que ao contratado não é dada a mesma prerrogativa.
A alteração unilateral pode ser qualitativa, que objetiva uma adequação técnica do projeto
inicial, ou quantitativa , que é utilizada para realizar acréscimos ou supressões, no limite legal
de até 25% do valor inicial atualizado. Essa modificação não se refere apenas ao valor
contratual: há uma mudança na quantidade, de modo que a alteração no objeto contratado,
para mais ou para menos, será proporcional ao valor pago pela Administração.
Importante destacar que, nos casos de reformas de edifícios ou equipamentos, o limite para
acréscimos é ampliado, podendo chegar a até 50% do valor inicial atualizado, permanecendo
a supressão no limite de 25%.
Logo, o contratado não é obrigado a aceitar alterações contratuais abaixo ou acima dos
percentuais legais, ou seja, nesses casos a modificação não poderá ser feita de forma
unilateral. Isso não quer dizer que ela não possa ocorrer; porém, para que ocorra, será
necessário um acordo entre as partes, com a consequente elaboração de um aditivo
contratual. Na hipótese de uma alteração abaixo dos percentuais, tal exigência se justifica pela
possibilidade de gerar prejuízos ao contratado. Já quando da modificação que ultrapasse os
134
limites legais, é vedada a unilateralidade por imposição da Administração, tendo em vista a
necessidade de organização e planejamento do contratado.
Ademais, por se tratar de uma cláusula exorbitante, quando a Administração Pública efetua
uma alteração contratual de forma unilateral, não há, em regra, o dever de indenizar o
contratado. No entanto, como exceção, a lei prevê que, em se tratando de supressão
contratual unilateral pela Administração, na hipótese de o contratado já ter comprado os
materiais e os colocado no local da obra, este será indenizado pelo valor de custo de
aquisição.
Logo, conforme estipulado no artigo 79, inciso I, da Lei n. 8.666/93, a rescisão do contrato
administrativo poderá ser feita de forma unilateral, pela Administração Pública, nos casos
previstos nos incisos I a XII e no inciso XVII do artigo 78 desse diploma legal, hipóteses que
serão detalhadas no tópico “extinção do contrato administrativo”. Esta possibilidade segue
sendo resguardada à administração no regime da Lei n. 14.133/2021, haja vista teor de seu
artigo 90.
Ressalta-se: apenas a Administração pode fazer a rescisão unilateral. Nas hipóteses previstas
nos incisos XIII a XVI do referido artigo 78, por exemplo, resta ao contratado a tentativa de
celebrar um acordo com a contratante, não podendo agir unilateralmente. No entanto, para se
chegar a esse consenso deve haver conveniência para a Administração. Assim, não sendo
possível a rescisão amigável, a solução se dará pela via judicial (artigo 79, inciso III, da Lei n.
8.666/93).
135
8.2.1.3. Fiscalização
Quanto aos demais encargos contratuais, o artigo 71 da Lei n. 8.666/93 prevê: “O contratado
é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da
execução do contrato” (BRASIL, 93). No entanto, no que se refere aos débitos previdenciários,
o § 2o do referido dispositivo legal amplia a responsabilização prevista no caput, impondo à
Administração responsabilidade solidária com o contratado. Assim, ambas as partes são
igualmente responsáveis pelo pagamento dos débitos previdenciários. Esta mesma lógica foi
transposta ao regime da Lei 14.133/2021, como extra-se de seu artigo 103.
Por fim, é necessária uma atenção especial quanto aos encargos trabalhistas decorrentes dos
contratos administrativos. Isso porque, apesar de a lei não atribuir qualquer tipo de
responsabilidade trabalhista à Administração, conforme o § 1 o do artigo supracitado, que aduz
que “A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e
136
comerciais não transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento (...)”
(BRASIL, 93), a Justiça do Trabalho vinha responsabilizando a Administração Pública pelos
encargos trabalhistas.
STF EM AÇÃO:
137
legal, além da possibilidade de rescindir o contrato de forma unilateral, poderá, ainda, proceder
à aplicação de alguma sanção ao contratado. São espécies de sanções:
1. Advertência
2. Multa
3. Suspensão
4. Declaração de inidoneidade
Convém observar que este sistema fora ligeiramente alterado com o advento da Lei n.
14.133/2021, tendo mantido as sanções de advertência, multa e declaração de inidoneidade,
mas incluindo em seu art. 156, III, a penalidade de declaração de impedimento de licitar e
contratar.
São importantes breves considerações sobre algumas dessas espécies. Quanto à multa,
convém destacar que é a única sanção que pode ser aplicada de forma cumulativa. No que
tange à suspensão, o contratado fica proibido de contratar com a Administração Pública por
até dois anos, enquanto na declaração de inidoneidade, sanção mais grave, o contratado não
poderá contratar com a Administração pelo prazo mínimo de dois anos (no regime da Lei n.
8.666/93), ou três anos (caso o contrato seja regulamentado pela Lei n. 14.133/2021).Caso
haja tal condenação, fica também o contratado, obrigado a ressarcir todo o prejuízo causado
ao ente público.
Por fim, conforme bem disciplinado por Mazza (2021), “as referidas penas somente podem
ser aplicadas após a instauração de processo administrativo, com garantia de contraditório e
ampla defesa” (n.p). Nesse sentido, desde que haja garantia dos citados direitos do contratado
138
e havendo justa causa, nada impede que a Administração aplique uma sanção mais grave
antes de uma mais leve.
2. Seguro garantia
3. Fiança bancária
Nos casos de contratação de grande vulto, isto é, quando o contrato supera em 25 vezes o
valor de R$ 1.500.000,00, ou quando se tratar de contrato de alta complexidade técnica, a lei
permite que a garantia para a contratação chegue até o percentual de 10% do valor do
contrato.
Ademais, quando houver entrega de bens pela Administração Pública, deve haver a prestação
de uma garantia adicional no valor dos bens.
139
os efeitos já produzidos são desconstituídos e há impedimento na produção de novos, ou seja,
a anulação possui efeito ex tunc, ou seja, retroativo.
Uma vez anulado o contrato, o contratado deverá ser indenizado pelo que houver executado
até o momento da anulação, bem como por outros eventuais prejuízos que tiver sofrido, salvo
nos casos em que tiver dado causa à anulação. O referido artigo já foi objeto de análise pelo
Superior Tribunal de Justiça, que entendeu pela sua validade e conformidade com a
Constituição Federal.
Nos termos do artigo 58, inciso V, da Lei n. 8.666/93, em caso de anulação do contrato
administrativo, para não interromper a prestação de um serviço indispensável à sociedade, a
Administração Pública poderá proceder à ocupação temporária dos bens, serviços e pessoas
da empresa contratada. Esta, por sua vez, não possui a faculdade de se opor à referida
ocupação, devendo a Administração, porém, pagar pela utilização. Esta sistemática acabou
sendo modificada pelo regime da Lei n. 14.133/2021, que estabeleceu formas de seguro para
evitar que rescisões contratuais sejam traumáticas à prestação de serviços indispensáveis.
Sempre se discutiu se a cláusula poderia ser aplicada aos contratos administrativos, até que
a Lei n. 8.666/93 positivou a prerrogativa conferida à Administração Pública de atrasar o
pagamento ao contratado em até 90 dias sem que reste configurada a mora contratual por
parte desta. Nesse caso é vedado ao contratado interromper a execução do contrato. No
140
entanto, caso o atraso seja superior a 90 dias, o contratado poderá fazer uso da cláusula de
exceção ao contrato não cumprido.
Nesse sentido, conclui-se que a cláusula não possui aplicação integral aos contratos
administrativos, sendo aplicada de modo relativizado, restritivo.
141
3. Fato da administração: é qualquer comportamento da Administração, por meio de
ação ou omissão, como parte contratual, que retarda ou torna impossível a execução
do contrato.
Como regra, conforme previsão legal, o contrato administrativo terá duração enquanto
durarem os créditos orçamentários que forem repassados para o órgão. Assim, a forma natural
de extinção da relação jurídica contratual ocorre em razão do advento do prazo final ou devido
à conclusão do objeto contratado. No entanto, a lei prevê, por exceção, casos em que o
contrato poderá extrapolar o prazo estipulado, assim como prevê outros meios de extinção do
vínculo contratual, os quais podem estar relacionados a hipóteses de inexecução do contrato,
o que eventualmente dará causa à sanção e à responsabilização do contratado.
Alguns desses itens já foram explanados em tópicos anteriores. Dessa forma, quanto às
sanções, vide subtópico 8.2.1.4 desta apostila e, quanto à responsabilidade, vide item 8.2.1.3.
142
duração de um ano. Logo, pode-se afirmar que, em regra, os contratos terão o prazo
determinado de um ano.
No entanto, nos incisos do artigo 57 da Lei 8.666/93 estão previstos contratos que, por
exceção, poderão ultrapassar o referido prazo de um ano, sendo relativos:
4. Às hipóteses previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24, cujos
contratos poderão ter vigência por até 120 meses, caso haja interesse da
administração.
A Lei n. 14.133/2021 trouxe uma profunda modificação neste regramento. Importante salientar
que em seu artigo 109, passou a permitir contratos com prazo indeterminado, nos contratos
em que seja usuária de serviço público oferecido em regime de monopólio, desde que
143
comprovada, a cada exercício financeiro, a existência de créditos orçamentários vinculados à
contratação.
Pela nova lei, os contratos poderão ter duração superior a um ano desde que observem a
disponibilidade orçamentária, sendo expressamente previstas hipóteses em que contratos
podem ter duração de até cinco anos (artigo 106) e dez anos (artigo 108).
Dessa forma, pela ausência de culpa, nas hipóteses das causas justificadoras de inexecução
do contrato, não haverá a imposição de sanção ao contratado, podendo ser feita uma revisão
contratual ou a sua rescisão. Essas causas justificadoras de inexecução possibilitam a
144
renegociação do contrato, por serem fatos supervenientes e que quebram a relação inicial
formada, gerando um desequilíbrio econômico-financeiro. Essas causas foram trabalhadas no
subtópico 8.2.2.
2. Rescisão:
A rescisão é uma forma de extinção contratual, não natural, em que o contrato é extinto
antes do seu prazo final. Pode se dar de três formas:
3. Rescisão:
A rescisão é uma forma de extinção contratual, não natural, em que o contrato é extinto
antes do seu prazo final. Pode se dar de três formas:
145
a) amigável: decorre de um acordo de vontades celebrado entre o contratado e
a Administração Pública. Alguns dos casos que justificam a celebração desse
acordo estão previstos nos incisos XIII a XVI do artigo 78 da Lei n. 8.666/93:
146
I ؘo não cumprimento de cláusulas contratuais, especificações, projetos ou
prazos;
II – o cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especificações, projetos
e prazos;
III – a lentidão do seu cumprimento, levando a Administração a comprovar a
impossibilidade da conclusão da obra, do serviço ou do fornecimento, nos
prazos estipulados;
IV – o atraso injustificado no início da obra, serviço ou fornecimento;
V – a paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento, sem justa causa e
prévia comunicação à Administração;
VI – a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do
contratado com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como
a fusão, cisão ou incorporação, não admitidas no edital e no contrato;
VII – o desatendimento das determinações regulares da autoridade designada
para acompanhar e fiscalizar a sua execução, assim como as de seus
superiores;
VIII – o cometimento reiterado de faltas na sua execução, anotadas na forma
do § 1o do art. 67 desta Lei;
IX – a decretação de falência ou a instauração de insolvência civil;
X – a dissolução da sociedade ou o falecimento do contratado;
XI – a alteração social ou a modificação da finalidade ou da estrutura da
empresa, que prejudique a execução do contrato;
XII – razões de interesse público, de alta relevância e amplo conhecimento,
justificadas e determinadas pela máxima autoridade da esfera administrativa a
que está subordinado o contratante e exaradas no processo administrativo a
que se refere o contrato.
XVII – a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, regularmente
comprovada, impeditiva da execução do contrato.
XVIII – descumprimento do disposto no inciso V do art. 27, sem prejuízo das
sanções penais cabíveis (BRASIL, 2019).
“Helly Lopes Meirelles menciona ainda a rescisão de pleno direito, que independe da vontade
das partes e produz efeitos automaticamente pela ocorrência de fato extintivo previsto em lei,
regulamento ou contrato. Exemplos: falência, insolvência ou falecimento do contratado”
(MAZZA, 2021, n.p.).
147
Por fim, ressalta-se que, em alguns casos, a extinção contratual pode conferir ao contratado
o direito à indenização. Para tanto, é necessária a ocorrência simultânea de três condições,
sendo elas: extinção não natural, isto é, antecipada; relação jurídica não precária; e boa-fé do
contratado, não podendo este ter concorrido para o fim da relação contratual.
148
Mapa Mental
Contratos
Administrativos
Fiscalização Contrato de
Judicial adesão
Aplicação de
Pessoal
penas
Garantias Mutabilidade
Exceção ao
contrato não Formalismo
cumprido
Comutatividade
149
Referências Bibliográficas
150
9. Bens Públicos
No ordenamento jurídico brasileiro, os bens podem ser classificados em públicos ou privados.
Em termos gerais, um bem será privado quando não for público e, assim, estará sujeito a um
regime diferente, visto que um bem público possui um regime especial, composto por um
conjunto de prerrogativas e restrições. Nesse sentido, resta clara a importância da
compreensão do conceito de bens públicos.
No entanto, muito se discute acerca da concepção de bem público. Segundo Mazza (2021),
entre os administrativistas, o conceito apresentado pela legislação não é amplamente aceito
por todos os autores, ensejando uma grande divergência doutrinária e jurisprudencial.
9.1.1. Conceito
Nos termos do artigo 98 do Código Civil, “são públicos os bens do domínio nacional
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares,
seja qual for a pessoa a que pertencerem” (BRASIL, 2002). Nota-se que a legislação
brasileira adota um critério baseado na titularidade dos bens para classificá-los como
públicos ou privados, sendo exigido que pertençam à pessoa jurídica de direito público interno
para serem um bem público, isto é, que sejam de propriedade da União, Estados, Distrito
Federal, Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas de direito público.
Esse conceito, porém, não é aceito por todos os autores, na medida em que alguns
consideram a definição legal insatisfatória e restritiva. Logo, não há na doutrina uma
151
unanimidade na conceituação de bens públicos. Nesse sentido, Mazza (2021) apresenta três
correntes principais acerca das diferentes conceituações:
2. Corrente inclusivista: composta por autores como Hely Lopes Meirelles e Maria
Sylvia Zanella Di Pietro, essa corrente defende que são bens públicos todos aqueles
pertencentes à Administração pública direta e indireta.
A corrente inclusivista peca por não tornar clara a diferença de regime jurídico
entre bens afetados à prestação de serviços públicos (pertencentes ao domínio
das pessoas estatais de direito público e ao das pessoas privadas prestadoras
de serviços públicos) e aqueles destinados à simples exploração de atividades
econômicas, como os que fazem parte do patrimônio das empresas públicas e
sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica (MAZZA,
2021, n.p).
152
Vistos os diferentes posicionamentos existentes, nota-se que, à exceção da corrente
exclusivista, que defende a concepção legal, as demais correntes ampliam o conceito de bens
públicos. Nesse sentido, muitas vezes o conceito dado pelo legislador brasileiro é afastado
em prol de conceituação doutrinária, notadamente, da corrente mista, que é adotada pelos
Tribunais Superiores.
No entanto, importa destacar que, segundo Mazza (2021), “para concursos públicos tem
sido preponderantemente aceita a corrente baseada no art. 98 do Código Civil, denominada
exclusivista, que considera públicos somente os bens pertencentes às pessoas jurídicas de
direito público” (n.p.).
9.1.2. Classificação
Quanto ao seu titular, um bem público pode ser classificado em federal, estadual, distrital ou
municipal, conforme o ente federativo a que pertença. No caso de bens de autarquias e
fundações públicas, a classificação se dará nos mesmos termos, conforme for a vinculação
destas com as entidades políticas.
1. Os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos: esse
inciso deixa claro o caráter meramente exemplificativo do rol apresentado nesse
dispositivo legal, podendo a União vir a adquirir outros bens.
153
ambiental, definidas em lei: trata-se de uma exceção. Terra devoluta é aquela
“devolvida ou a ser devolvida ao Estado”, sendo, em todo caso, terra pública. Como
regra, porém, essas terras pertencem ao Estado. Assim, apenas as especificadas neste
inciso pertencem à União.
Nesse sentido, é necessário atenção quando um rio, por exemplo, passar por uma
propriedade particular: o curso d’água, bem como o seu terreno marginal, continuará
sendo um bem público e, assim, em caso de desapropriação, estas partes não entrarão
no cálculo da indenização.
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 479 do STF: As margens dos rios navegáveis são de domínio público, insuscetíveis
de expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização.
Quanto às praias fluviais, as chamadas praias de rios, cumpre destacar que serão de
domínio da União apenas se o rio também o for. Por outro lado, sendo o rio de domínio
do Estado, a praia fluvial também pertencerá a este.
4. As ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias
marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que
contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço
154
público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II: nota-se que
nesse inciso não há ressalva apenas quanto às ilhas oceânicas e às praias marítimas,
ou seja, toda ilha em alto mar e toda praia de mar pertencem à União.
Quanto às ilhas costeiras, isto é, localizadas próximas da costa, é preciso muita atenção
na interpretação do inciso. Nesse sentido, tem-se que, como regra, as ilhas costeiras
pertencem à União. Por exceção, porém, as ilhas costeiras que contenham a sede
de Município serão de propriedade do respectivo Município, excluídas desse
domínio as áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as
referidas no art. 26, II. Essas áreas excluídas serão bens públicos federais, tratando-
se, portanto, de uma exceção da exceção.
É o que ocorre, por exemplo, com Florianópolis: essa ilha é sede do município, sendo,
portanto, de sua propriedade. No entanto, eventuais hospitais federais ou parques
nacionais que lá existam continuam sendo da União.
Por fim, importa destacar que as ilhas oceânicas que formam Fernando de Noronha
pertencem ao estado de Pernambuco por uma exceção, baseada em questões
históricas, constando do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em seu art.
15, que aduz: “Fica extinto o Território Federal de Fernando de Noronha, sendo sua
área reincorporada ao Estado de Pernambuco” (BRASIL, 1988).
155
artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos
de marinha”.
No que se refere aos pertencentes aos Estados, a Constituição Federal enumera em seu artigo
26, mais uma vez de forma exemplificativa, os seguintes bens:
Nota-se que, em regra, os bens elencados como sendo estaduais, pela Constituição, possuem
caráter residual em relação aos bens de titularidade da União. Isto é, o bem público fora do
rol de bens federais será um bem estadual. Um exemplo são as terras devolutas: se elas não
156
forem indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das
vias federais de comunicações e à preservação ambiental, elas serão de propriedade do
Estado.
Não há disposição constitucional que estabeleça quais bens são de propriedade do Município.
No entanto, isso não quer dizer que os municípios não os possuam. Assim como ocorre com
os estados em relação à União, os bens municipais também possuem caráter residual: se o
bem não for de titularidade da União, será do Estado e, não sendo do Estado, será do
Município.
Como regra, as ruas, praças e os jardins públicos são pertencentes ao Município. Ademais,
importante lembrar a exceção referente às ilhas costeiras: aquelas que contenham sede de
Município serão de propriedade da respectiva urbe (vide item 4 do subtópico 9.1.1.1.1).
“Devem ser assim considerados todos os bens onde estão instaladas as repartições públicas
distritais, tanto quanto os indispensáveis para prestação dos serviços públicos de atribuição
do Distrito Federal” (MAZZA, 2021, n.p.).
1. Bens de uso comum do povo: também conhecidos como bens do domínio público,
são aqueles destinados ao uso comum e geral de toda a comunidade, tais como os
rios, os mares, as estradas, ruas e praças.
157
da administração pública. Um exemplo rotineiro de utilização remunerada de
bem de uso comum do povo é a cobrança de estacionamento rotativo
(cobrança por horas de uso) em áreas públicas (ruas e praças) pelos
municípios (ALEXANDRINO; PAULO, 2018, p. 1126).
1. Bens indisponíveis por natureza: são aqueles que não são passíveis de alienação
ou oneração, em razão da sua condição não patrimonial. Compõem essa classe os
bens de uso comum do povo. Assim, conforme bem ilustrado por Mazza (2021), “é o
caso do meio ambiente, dos mares e do ar” (n.p.).
158
que estão voltados. Significa, ainda, que o Poder Público tem o dever de
conservá-los, melhorá-los e mantê-los ajustados a seus fins, sempre em
benefício da coletividade (CARVALHO FILHO, 2018, p. 1226).
Os bens de uso comum e de uso especial são bens públicos com destinação específica,
chamados de bens afetados. Enquanto mantiverem essa qualificação, esses bens são
inalienáveis. Por outro lado, os bens dominicais, pela ausência de destinação específica, são
classificados como desafetados e, uma vez preenchidas todas as condições legais, podem
ser objeto de alienação. Nota-se que tais institutos se referem à presença ou não da
destinação pública específica, sendo possível, portanto, a mudança de categoria.
Carvalho Filho traz o conceito de afetação: “Se um bem está sendo utilizado para determinado
fim público, seja diretamente do Estado, seja pelo uso dos indivíduos em geral, diz-se que
está afetado a determinado fim público” (p. 1227). E contrapõe: “Ao contrário, o bem se diz
desafetado quando não está sendo usado para qualquer fim público” (CARVALHO FILHO,
2018, p. 1227).
159
Nesse ponto, importa destacar que José dos Santos Carvalho Filho, citando que comungam
do seu entendimento Maria Sylvia Di Pietro e Diógenes Gasparini, aponta que “deve destacar-
se que a afetação e a desafetação constituem fatos administrativos, ou seja, acontecimentos
ocorridos na atividade administrativa independentemente da forma com que se apresentam”
(CARVALHO FILHO, 2018, p. 1228). Acrescenta que, “embora alguns autores entendam a
necessidade de haver ato administrativo para consumar-se a afetação ou a desafetação, não
é essa realmente a melhor doutrina em nosso entender” (CARVALHO FILHO, 2018, p. 1228).
Importa dizer, por fim, que o “fato administrativo tanto pode ocorrer mediante a prática do ato
administrativo formal, como através de fato jurídico de diversa natureza” (CARVALHO FILHO,
2018, p. 1228).
Os bens públicos se sujeitam ao regime jurídico de direito público, que é especial pela série
de prerrogativas, garantias e restrições, diferenciando-se dos bens sujeitos a regime jurídico
de direito privado. Nesse sentido, são características dos bens públicos:
9.2.1. Inalienabilidade
Por isso, CARVALHO FILHO (2018) fala em “Alienabilidade condicionada” (p. 1229). O autor
explica, citando os dispositivos correspondentes do Código Civil de 2002:
No artigo 100, dispõe o novo diploma: “Os bens públicos de uso comum do
povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua
qualificação, na forma que a lei determinar”. O artigo 101, a seu turno, consigna:
160
“Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências
da lei”. Emana de tais preceitos que a regra é a alienabilidade na forma em que
a lei dispuser a respeito, atribuindo-se a inalienabilidade somente nos casos do
art. 100, e assim mesmo enquanto perdurar a situação específica que envolve
os bens (CARVALHO FILHO, 2018, p. 1230).
Assim, fala-se em inalienabilidade quanto aos bens de uso comum e aos de uso especial,
enquanto conservarem essa natureza, ou seja, enquanto estiverem afetados. Já no que
concerne aos bens dominicais, preenchidas as exigências legais, estes podem ser objeto de
alienação.
Nesse sentido, são condições para a alienação de um bem público desafetado (dominical):
9.2.2. Impenhorabilidade
A penhora é um processo especial de execução, por meio do qual um bem é submetido a uma
venda forçada e, com o valor obtido, é feito o pagamento de uma dívida não paga de forma
espontânea. Esse instituto não se aplica aos bens públicos, sendo estes, portanto,
impenhoráveis. Isso porque, se a penhora de bens públicos fosse admitida, a sociedade
seria, na verdade, a principal prejudicada.
161
Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital
e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na
ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos
respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
9.2.3. Imprescritibilidade
Nos termos do § 3o do artigo 183 da Constituição Federal, “os imóveis públicos não serão
adquiridos por usucapião” (BRASIL, 1988). Nesse sentido, Mazza (2021) diz ser característica
dos bens públicos a imprescritibilidade, pelo fato de eles não estarem submetidos à
possibilidade de prescrição aquisitiva. Em regra, essa é uma característica de todos os bens
públicos. No entanto, há no artigo 2o da Lei n. 6.869/81 uma exceção: é admitida a usucapião
especial de terras devolutas rurais.
Ressalta-se que, quanto aos bens de empresa pública, aos bens de sociedade de economia
mista, a usucapião é possível. Isso se dá não como uma exceção à regra, visto que se trata
de bens privados.
Por fim, importante destacar que o STJ entende pela impossibilidade de usucapião dos bens
da TERRACAP.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
162
Precedentes. 3. É inviável o agravo interno que deixa de atacar especificamente os
fundamentos da decisão agravada. Incidência, por analogia, do obstáculo de que trata a
Súmula n. 182/STJ. 4. Não se conhece de questão jurídica ventilada tão somente em sede de
agravo interno, que revela inadmissível inovação recursal. 5. O dispositivo legal que não fora
previamente analisado na instância ordinária não preenche o requisito do prequestionamento.
Aplicação analógica da Súmula n. 282/STF. 6. Agravo regimental a que se nega provimento
(g.n.).
1. Na ocupação de bem público, duas situações devem ter tratamentos distintos: i) aquela em
que o particular invade imóvel público e almeja proteção possessória ou indenização/retenção
em face do ente estatal e ii) as contendas possessórias entre particulares no tocante a imóvel
situado em terras públicas. 2. A posse deve ser protegida como um fim em si mesmo,
exercendo o particular o poder fático sobre a res e garantindo sua função social, sendo que o
critério para aferir se há posse ou detenção não é o estrutural e sim o funcional. É a afetação
do bem a uma finalidade pública que dirá se pode ou não ser objeto de atos possessórios por
um particular. 3. A jurisprudência do STJ é sedimentada no sentido de que o particular tem
apenas detenção em relação ao Poder Público, não se cogitando de proteção possessória. 4.
É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público
dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse. 5. À luz do texto constitucional e
da inteligência do novo Código Civil, a função social é base normativa para a solução dos
conflitos atinentes à posse, dando-se efetividade ao bem comum, com escopo nos princípios
da igualdade e da dignidade da pessoa humana. 6. Nos bens do patrimônio disponível do
Estado (dominicais), despojados de destinação pública, permite-se a proteção possessória
pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social. 7. A ocupação por
particular de um bem público abandonado/desafetado – isto é, sem destinação ao uso público
em geral ou a uma atividade administrativa –, confere justamente a função social da qual o
163
bem está carente em sua essência. 8. A exegese que reconhece a posse nos bens dominicais
deve ser conciliada com a regra que veda o reconhecimento da usucapião nos bens públicos
(STF, Súm. 340; CF, arts. 183, § 3oº; e 192; CC, art. 102); um dos efeitos jurídicos da posse
– a usucapião – será limitado, devendo ser mantida, no entanto, a possibilidade de invocação
dos interditos possessórios pelo particular. 9. Recurso especial não provido.
Significa dizer que um bem público não pode ser gravado com os direitos reais de garantia.
Nesse sentido, tais bens não podem ser hipotecados nem podem ser objeto de penhor, por
exemplo.
No direito público, não podem bens públicos ser gravados com esse tipo de
direitos reais em favor de terceiros. E por mais de uma razão. Primeiramente,
é a própria Constituição que contemplou o regime de precatórios para o
pagamento dos créditos de terceiros contra a Fazenda, excluindo, desse modo,
o sistema da penhora processual. Ora, se aqueles direitos reais se
caracterizam pela possibilidade de execução direta e penhora, como conciliar
essa garantia com o princípio da impenhorabilidade dos bens públicos?
(CARVALHO FILHO, 2018, p. 1233).
O Poder Público pode adquirir um bem, tornando-o, portanto, público, assim como pode
aliená-lo das mais diversas formas.
1. Contrato: quando há o objetivo de adquirir bens, o Estado pode celebrar, com esse
intuito, entre eles, contratos de compra e venda, de doação, de permuta e de dação em
pagamento.
2. Usucapião: regido pelo artigo 1.238 do CC, importa destacar que o instituto da
usucapião é vedado no que diz respeito aos bens públicos. Contudo, é perfeitamente
possível que o Estado, preenchidas as condições legais, adquira um bem privado pela
prescrição aquisitiva.
164
3. Desapropriação: com base no artigo 5o, XXIV, da CF, o Poder Público pode,
compulsoriamente, transferir para si a propriedade pertencente a terceiro, desde que
fundado na necessidade pública, utilidade pública ou interesse social.
5. Aquisição causa mortis: a partir das hipóteses constantes nos artigos 1.822 e
1.844, ambos do Código Civil, tem-se, notadamente, que, na ausência de herdeiros, os
bens passarão ao patrimônio público.
7. Adjudicação: com base no artigo 876 do CPC, o Estado na figura de credor adquire
bens penhorados e praceados.
8. Resgate na enfiteuse: nos termos do artigo 693 do antigo CC, após dez anos o
enfiteuta poderá consolidar a propriedade por meio do devido pagamento ao senhorio
direto.
10. Por força de lei (ex vi legis): são formas não usuais de aquisição de bens, com
previsão em normas de direito público, sendo elas: loteamentos, em que algumas áreas
serão automaticamente reservadas ao Poder público para a formação de ruas, por
exemplo; perdimento de bens, sendo exemplo os bens produtos de crimes; reversão
nas concessões de serviços públicos pela transferência, após conclusão do contrato,
dos bens utilizados na execução; e o abandono, conforme artigos 1.276, caput e § 1o
do Código Civil.
Quanto à alienação de bens públicos, inicialmente deve-se lembrar que, conforme o subtópico
9.1.3, apenas os bens dominicais, isto é, desafetados, sem destinação pública específica,
podem ser alienados.
Nesse sentido, os bens dominicais podem ser alienados por meio de:
165
de domínio (art. 17, § 2o, da Lei n. 8.666/93); f) investidura (art. 17, § 3o, da
Lei n. 8.666/93); g) incorporação; h) retrocessão (art. 519 do CC); i)
legitimação de posse (art. 1o da Lei n. 6.383/76) (MAZZA, 2021, n.p.).
Os bens públicos podem ser utilizados tanto pelo seu titular, quanto por outras pessoas
jurídicas de direito público às quais sejam cedidos, assim como podem ser utilizados por
particulares. Nesse sentido, a doutrina identifica quatro formas por meio das quais se dá a
utilização por particulares, sendo elas:
166
9.4.1. Utilização privativa dos bens públicos afetados
No que tange ao uso privativo de bens públicos por particulares, tem-se que ele pode ser tanto
dos bens afetados, ou seja, de uso comum e especial, desde que não conflite com o interesse
da coletividade, quanto dos bens desafetados, isto é, dominicais.
No entanto, a doutrina destaca que os bens públicos afetados só podem ter o seu uso
delegado a particulares por meio de instrumentos de outorga de direito público, dentre os
quais:
167
Mapa Mental
Bens Públicos
Utilização pelo
Classificação Características
particular
Normal X Anormal
Titularidade: Inalienabilidade
federais, Comum X Privativo
estaduais,
distritais ou
municipais
Impenhorabilidade Uso privativo –
bem afetado:
Destinação: AUTORIZAÇÃO
comum, PERMISSÃO
especial ou Imprescritibilidade
CONCESSÃO
dominical
168
Referências Bibliográficas
169
10. Serviços Públicos
A Constituição Federal de 1988 separou duas esferas de atividades: o domínio econômico
(artigos 170 a 174) e os serviços públicos (artigos 175 e 176). A principal diferença entre essas
duas esferas está na titularidade das atividades prestadas: enquanto o serviço público é
próprio do Estado, a atividade econômica, também chamada de comercial, é campo de
atuação próprio dos particulares.
Ao classificar uma atividade como serviço público, ela é automaticamente retirada do particular
e atribuída ao Estado, cabendo a este o dever de prestá-la. No entanto, isso não significa dizer
que o particular não poderá desempenhá-la: a restrição está em quem detém a titularidade,
podendo o Estado delegar ao particular, seja por meio de concessão, permissão ou ato de
autorização, a prestação do serviço.
Nesse sentido, não sendo serviço público, a atividade será classificada como de domínio
econômico, isto é, própria de particulares, ocupando o Estado a posição de mero agente
normativo e regulador. Por exceção, porém, nos termos do artigo 173 do diploma
Constitucional, o Estado poderá atuar na atividade econômica diretamente em
concorrência com o particular quando houver motivo de segurança nacional ou relevante
interesse coletivo da sociedade, o que ocorre por meio das chamadas empresas estatais,
sendo elas as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.
10.1.1. Conceito
A Constituição Federal de 1988 não apresenta, de forma expressa, um conceito para serviço
público, limitando-se a incumbi-lo ao Poder Público, na forma da lei, direta ou indiretamente.
A doutrina pátria, por sua vez, apresenta dificuldades para conceituar tal instituto. Os
doutrinadores acabam apresentando elementos conceituais distintos.
Em termos gerais, conforme disciplinado por Mazza (2021), a partir da análise dos conceitos
apresentados pelos principais doutrinadores pátrios, o serviço público é uma atividade
material, de natureza ampliativa, prestada diretamente pelo Estado ou por seus delegados,
170
sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais ou
secundárias da coletividade. Explica-se, respectivamente:
1. Material por ser uma atividade que se desenvolve no plano concreto, não sendo
meramente intelectual ou normativa.
Nesse sentido, atualmente, para conceituar o serviço público adota-se a chamada teoria
formal ou formalista, a partir da qual será serviço público tudo aquilo que a lei vier a definir
como tal, independentemente de ser uma atividade fruível de forma individual pelo usuário,
171
essenciais, como abastecimento de água, ou para a sua mera comodidade, tais como a
desempenhada no serviço de telefonia e de transporte público. Logo, restou superada a
teoria essencialista, a qual definia como serviço público apenas as atividades que
fossem essenciais para a população.
10.1.2. Classificação
Existem várias classificações doutrinárias dos serviços públicos, feitas a partir de vários
critérios. As mais aceitas e comumente cobradas, porém, são as a seguir expostas.
172
entidades descentralizadas, ou delega sua realização a particulares
(concessionários, permissionários ou autorizatários). Esse é o caso do serviço de
telefonia fixa.
3. Serviços sociais: são aqueles que, como o próprio nome já diz, atendem às
necessidades coletivas de ordem social, tais como saúde, educação e cultura.
173
10.1.2.4. Quanto à maneira como ocorrem para satisfazer o interesse geral:
serviços uti universi e uti singuli
2. Serviços não exclusivos do Estado: são atividades sociais que também podem
ser prestadas por particular, cabendo ao Estado, porém, fiscalizar. Assim ocorre,
por exemplo, com o serviço de saúde, educação e previdência, os quais também são
prestados na esfera privada.
Nesse sentido, conforme alerta Di Pietro, os serviços classificados como não exclusivos
podem ser tanto serviços próprios quanto impróprios, a depender do seu prestador:
quando prestados pelo Estado, serão próprios; quando prestados por particulares,
serão impróprios.
174
10.2. Princípios dos serviços públicos
A partir de tal preceito legal é possível extrair os princípios que regem os serviços públicos, os
quais devem ser observados tanto pelo Estado, quanto pelo particular delegatário que recebe
a execução do serviço. Nota-se, ainda, que, conforme disposto, um serviço público é tido como
adequado quando prestado em conformidade com todos os citados princípios, a seguir
detalhados.
Em conformidade com esse princípio, tem-se que o usuário do serviço público deve ser tratado
com educação, polidez e urbanidade.
Significa dizer que o serviço público deve ser contínuo, sem intervalos, isto é, não deve
sofrer interrupções. No entanto, tal princípio não é absoluto, tendo o seu alcance disciplinado
no § 3o do art. 6o da Lei n. 8.987/95, o qual permite, por exceção, a suspensão na prestação
do serviço:
175
Nesse sentido, em caso de inadimplência, desde que mediante prévio aviso, poderá haver
o corte de energia. No entanto, nesse contexto, o STJ, excepcionando tal regra, entende que,
se for inadimplente pessoa jurídica de direito público (por exemplo, se algum Município deixar
de efetuar o pagamento junto à concessionária de energia elétrica), o corte de energia
implicará prejuízo para toda a sociedade, ou se a interrupção do serviço for apta a causar
dano irreversível ao usuário (por exemplo, usuário inadimplente sobrevive ligado a aparelhos
elétricos), ela não poderá ocorrer.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
176
o corte da energia elétrica não traria apenas desconforto ao usuário inadimplente, mas
verdadeiro risco à vida de dependentes dos serviços médicos e hospitalares daquele hospital
público. O art. 6o, § 3o, inciso II, da Lei n. 8.987/95, estabelece que é possível o corte do
fornecimento de energia desde que considerado o interesse da coletividade. Logo, não há
que se proceder ao corte de utilidades básicas de um hospital, como requer o recorrente,
quando existem outros meios jurídicos legais para buscar a tutela jurisdicional.
Esse princípio está relacionado ao preço cobrado do usuário a título de remuneração pelo
serviço prestado. Não é sempre que há a incidência de tarifas para a prestação do
serviço, mas, quando houver, deve ser por um preço módico, isto é, acessível. Nesse
sentido, a fim de beneficiar a maior quantidade de usuários possível, deve ser cobrado o
menor valor possível, visto que a onerabilidade elevada acabaria por excluir aqueles com
piores condições financeiras.
Conforme disciplinado por Mazza (2021), a fim de reduzir ao máximo o valor da tarifa, a
legislação brasileira prevê alguns mecanismos jurídicos especiais, tais como as fontes
alternativas de receita para o prestador do serviço, as quais devem, porém, refletir na tarifa
cobrada, isto é, com a entrada de uma fonte extra, deve ocorrer a redução do valor cobrado
pelo serviço. É o que ocorre, por exemplo, com uma rodovia sob concessão em que o contrato
177
permite ao concessionário celebrar instrumentos de locação de espaços públicos ao longo da
via, embolsando o valor obtido.
Outro mecanismo é “a definição do menor valor da tarifa como um dos critérios para decretar
o vencedor da concorrência pública que antecede a outorga a concessão de serviços públicos”
(arts. 9o e 11 da Lei n. 8.987/95)” (MAZZA, 2021, n.p.).
Ademais, nos termos do artigo 13 do mesmo diploma legal, “as tarifas poderão ser
diferenciadas em função das características técnicas e dos custos específicos provenientes
do atendimento aos distintos segmentos de usuários” (BRASIL, 2019). Em observância a esse
dispositivo, algumas leis estipulam a incidência de tarifa mais baixa ou até mesmo a isenção
desta para pessoas de baixa renda.
“A prestação do serviço não pode colocar em risco a integridade dos usuários ou a segurança
da coletividade” (MAZZA, 2021, n.p.).
178
compatível com o estágio de desenvolvimento tecnológico vigente à época da prestação”
(MAZZA, 2021, n.p.).
Apesar de não estar previsto no artigo 6o da Lei n. 8.987/95, o princípio da mutabilidade incide
sobre os serviços públicos, possibilitando a alteração dos contratos durante a sua execução
para adequá-los às variações sofridas ao longo da sua vigência. Isso é devido ao fato de os
contratos de serviços públicos normalmente possuírem longa durabilidade, a depender da
relação contratual, do valor investido pelo contratado, do preço do serviço etc.
Nos termos do artigo 175 da Constituição Federal, “incumbe ao Poder Público, na forma da
lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos” (BRASIL, 1988). Desse dispositivo constitucional extrai-se que
o serviço público pode ser prestado diretamente pelo Estado, assim como a prestação pode
ocorrer de forma indireta. Ressalta-se: é a mera prestação, visto que a titularidade do serviço
público, bem como o poder de fiscalização, em qualquer caso, é do Estado.
Quanto à prestação de forma direta pelo Estado, conforme disciplinado por Mazza (2021),
pode ocorrer de duas formas: o serviço pode ser prestado pessoalmente pelo Estado, bem
como pode ocorrer com o auxílio de particulares. No primeiro caso, a atividade é promovida
por órgãos públicos da Administração Direta, como ocorre, por exemplo, com o serviço de
varrição de ruas. No segundo caso, por sua vez, ocorre uma seleção, por meio de
procedimento licitatório, de um particular prestador; no entanto, a prestação ainda assim se
179
dará em nome do Estado. Este é o caso de contratação de empresa terceirizada para a
prestação do serviço de coleta de lixo, por exemplo.
180
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
181
demais formas de delegação pelo Poder Público, as quais serão apresentadas nos subtópicos
seguintes:
1. Natureza contratual.
2. Prazo determinado: significa dizer que todo contrato de concessão deve ter um
prazo final, não sendo este, porém, estipulado em lei, e sim definido caso a caso.
Nos termos do artigo 2o da Lei n. 8.987/95, existem dois tipos de concessão, quais sejam, a
concessão de serviço público e a concessão de serviço público precedida da execução de
obra pública:
Ademais, a lei das concessões dispõe acerca das cláusulas essenciais desses contratos,
quais sejam:
182
procedimentos para o reajuste e a revisão das tarifas; V – aos direitos, garantias
e obrigações do poder concedente e da concessionária, inclusive os
relacionados às previsíveis necessidades de futura alteração e expansão do
serviço e consequente modernização, aperfeiçoamento e ampliação dos
equipamentos e das instalações; VI – aos direitos e deveres dos usuários para
obtenção e utilização do serviço; VII – à forma de fiscalização das instalações,
dos equipamentos, dos métodos e práticas de execução do serviço, bem como
a indicação dos órgãos competentes para exercê-la; VIII – às penalidades
contratuais e administrativas a que se sujeita a concessionária e sua forma de
aplicação; IX – aos casos de extinção da concessão; X – aos bens reversíveis;
XI – aos critérios para o cálculo e a forma de pagamento das indenizações
devidas à concessionária, quando for o caso; XII – às condições para
prorrogação do contrato; XIII – à obrigatoriedade, forma e periodicidade da
prestação de contas da concessionária ao poder concedente; XIV – à exigência
da publicação de demonstrações financeiras periódicas da concessionária; e
XV – ao foro e ao modo amigável de solução das divergências contratuais.
Parágrafo único. Os contratos relativos à concessão de serviço público
precedido da execução de obra pública deverão, adicionalmente: I – estipular
os cronogramas físico-financeiros de execução das obras vinculadas à
concessão; e II – exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessionária, das
obrigações relativas às obras vinculadas à concessão (BRASIL, 2019) (g.n.).
O inciso X desse dispositivo legal faz menção a bens reversíveis. Nesse ponto, importante
esclarecer: a reversão é o retorno ao poder concedente de todos os bens e poderes
transferidos ao concessionário, bem como de todos os bens que foram amortizados, nesse
caso, desde que previsto no contrato. Não se trata, portanto, da extinção da concessão.
O mesmo diploma legal prevê, ainda, deveres tanto do poder concedente (artigo 29) quanto
do concessionário (artigo 31).
Em face da natureza do contrato por prazo determinado, a concessão, como regra, deve ser
respeitada até o seu prazo final. Por exceção, porém, existem formas extraordinárias capazes
de extingui-la. Nos termos do artigo 35 da Lei n. 8.987/95, o contrato de concessão extingue-
se por:
183
específica autorizativa, isto é, o Poder Legislativo precisa aprovar lei extinguindo
a concessão. Por fim, o Poder Público ficará obrigado a indenizar previamente o
concessionário por todos os prejuízos que este tiver.
184
descumprimento de alguma cláusula contratual pelo concessionário cinco anos após o
início de um contrato de concessão com prazo certo de trinta anos: o contratado só
receberia pelos valores investidos nesses cinco anos após cerca de dez, quinze anos
de concessão; logo, a extinção do contrato, antes desse prazo, gera prejuízo ao
concessionário. Assim, a falta de indenização pode caracterizar, inclusive,
enriquecimento ilícito do Poder Público.
185
O artigo 2o, inciso IV da Lei n. 8.987/95, conceitua permissão de serviço público como “a
delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo
poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu
desempenho, por sua conta e risco” (BRASIL, 1995). A partir desse conceito, extraem-se as
principais características de tais contratos:
2. Caráter precário: significa dizer que o contrato de permissão pode ser revogado a
qualquer momento.
Conforme já mencionado, apesar do artigo 175 da Constituição não prever a autorização como
forma de delegação do serviço público, em outros dispositivos constitucionais, bem como na
legislação infraconstitucional, há a previsão de delegação mediante autorização. É o que
ocorre, por exemplo, no artigo 21, inciso XI da CF, o qual permite a delegação de serviço de
telecomunicação por autorização.
186
Oriunda de uma manifestação unilateral de vontade, a autorização é um ato
administrativo, precário por natureza, feita para pessoa física ou jurídica, em regra sem
a exigência de processo licitatório, para a delegação de serviço, não havendo obra
agregada.
A Lei n. 8.987/95, nos artigos 7o e 7o-A, estabelece direitos e obrigações dos usuários de
serviço público, além das já previstas no Código de Defesa do Consumidor.
3. Contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos por meio dos
quais lhes são prestados os serviços.
Ademais, em 2017 foi publicada a Lei n. 13.460, instituindo o Código de Defesa do Usuário de
Serviços Públicos, o qual estabeleceu, segundo disciplinado por Mazza (2021), “normas
básicas para participação, proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos
187
prestados direta ou indiretamente pela administração pública, sem prejuízo da incidência do
Código de Defesa do Consumidor (art. 1o)” (n.p.).
Regida pelas Leis n. 11.079/04, 8.987/95 e 8.666/93, a Parceria Público-Privada é uma forma
especial de concessão de serviço público. Ou seja, em termos gerais, "Parceria Público-
Privada é a delegação de serviços para pessoa jurídica ou consórcio de empresas, precedida
de licitação, na modalidade concorrência” (ROSSI, 2019, n.p.). A PPP se difere da chamada
concessão comum (vide subtópico 10.3.1.1), notadamente pelo fato de aquela possuir uma
contraprestação pecuniária do Poder Público, ao passo que nesta última a remuneração do
concessionário se dá pelo valor pago pelos usuários. Por essa razão, o Poder Público só
pode celebrar uma PPP quando não for possível a delegação mediante concessão comum.
Nos termos do artigo 2o da Lei n. 11.079/04, existem duas modalidades de PPP, quais sejam,
a patrocinada e a administrativa:
Ademais, em análise da Lei n. 11.079/04, conforme relacionado por Rossi (2019), são
características das PPP:
188
1. As concessões especiais necessariamente têm investimento privado: esse valor será
recuperado pelo parceiro privado por meio das tarifas pagas pelos usuários e da
contraprestação estatal.
3. Responsabilidade solidária entre o parceiro privado e público: nos termos do artigo 5o,
inciso III, da Lei n. 11.079/04, o risco do negócio é compartilhado, devendo eventual
prejuízo ser repartido entre as partes, inclusive os referentes a caso fortuito, força maior, fato
do príncipe e álea econômica extraordinária.
6. Diretrizes: conforme o artigo 4o do mesmo diploma legal, são diretrizes das PPP’s:
189
Mapa Mental
Serviços Públicos
Essencialidade Cortesia
Direta Delegação
Adequação Modicidade
Pessoal Concessão
Finalidade Continuidade
Auxílio Permissão
particular
Ocorrência Generalidade
Autorização
Exclusividade Segurança
Atualidade
Eficiência
Mutabilidade
190
Referências Bibliográficas
191
11. Intervenção do Estado na Propriedade Privada
Nos termos do artigo 5o, inciso XXII, da Constituição Federal, “é garantido o direito de
propriedade”. No entanto, apesar de previsto constitucionalmente, não se trata de um direito
absoluto. Desde o período do Estado do bem-estar social, passou-se a conferir maior proteção
aos interesses da coletividade, tornando necessária a compatibilização do exercício do
interesse individual com o interesse público. Ou seja, tendo em vista o princípio da
supremacia do interesse público sobre o particular, o direito individual à propriedade
pode ser mitigado em prol do interesse público.
Nesse sentido, o inciso XXIII do referido dispositivo constitucional dispõe que “a propriedade
atenderá a sua função social”. No caso de propriedade urbana, conforme preleciona o artigo
182, § 2o, da CF, a função social é cumprida quando atende às exigências fundamentais
da cidade, as quais são dispostas no plano diretor. Já a propriedade rural cumpre a sua
função social quando atende, simultaneamente, os requisitos previstos no artigo 186 da
CF. Por fim, sendo a propriedade pública, além dos requisitos gerais de qualquer propriedade,
exige-se que esteja afetada a uma finalidade específica.
Nesse sentido, a intervenção na propriedade privada pode ocorrer de duas formas básicas:
192
limitação administrativa, tombamento, servidão administrativa, requisição
administrativa e ocupação temporária.
11.1. Desapropriação
193
A desapropriação por necessidade pública decorre de situações de emergência em que é
imprescindível a transferência de bem de terceiro ao domínio público para a utilização imediata
pela Administração.
194
p) os demais casos previstos por leis especiais (g.n.).
Por fim, a desapropriação por interesse social, nos termos do artigo 1 o da Lei n. 4.132/62,
“será decretada para promover a justa distribuição da propriedade ou condicionar o seu uso
ao bem-estar social, na forma do art. 147 da Constituição Federal”. Nesse sentido, esse
instituto está diretamente relacionado à função social da propriedade, ocorrendo, portanto,
exclusivamente sobre bens imóveis. Tal modalidade possui caráter sancionatório, isto é,
funciona como uma espécie de punição ao proprietário que descumpre a função social. No
entanto, os bens objeto dessa desapropriação “não são destinados à Administração Pública,
mas, sim, à coletividade ou a determinados destinatários legalmente definidos” (MAZZA, 2021,
n.p.).
Nesse sentido, pode-se afirmar que as desapropriações para a política urbana (art. 182, §
4o, III, da CF), bem como para fins de reforma agrária (art. 184 da CF), são fundadas no
interesse social. A primeira é de competência privativa do Município, enquanto a segunda é
privativa da União. Esses dois tipos são classificados como extraordinários, de caráter
sancionatório, sendo a prévia indenização paga em títulos da dívida pública. Ocorre que a
doutrina e a jurisprudência admitem a desapropriação de bens imóveis por interesse
195
social para dar à propriedade uso que melhor atenda ao interesse público. Essa é a
chamada desapropriação por interesse social ordinária ou geral, a qual é de competência
comum de todos os entes e deve ser previamente indenizada em dinheiro.
Nos termos do artigo 2o da Lei n. 3.365, “mediante declaração de utilidade pública, todos os
bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e
Territórios”. Dentre os diversos bens que podem ser objeto da força expropriante do Estado,
Mazza (2021) destaca: bens imóveis; móveis (por exemplo, quadro famoso para exposição
em museu); semovente (por exemplo, touro conhecido para atração de rodeio); posse (bem
na posse de indivíduo, sendo o proprietário desconhecido); usufruto; domínio útil; subsolo e
espaço aéreo quando da sua utilização resultar prejuízo patrimonial do proprietário do solo;
águas; ações de determinada empresa; bens públicos; cadáveres (para viabilizar estudos de
anatomia humana em faculdades públicas de medicina).
1. Desapropriação para fins de reforma agrária: nos termos do artigo 184 da CF,
compete à União a desapropriação de imóvel rural que não atenda à função social. Tal
função é atendida quando possui, simultaneamente, os requisitos previstos no artigo
2o, § 1o da Lei n. 4.504/64, bem como aqueles previstos no artigo 186 da CF. Nessa
modalidade, a indenização ocorre mediante título da dívida agrária, com preservação
196
do valor real, podendo ser resgatado em 20 anos contados do segundo ano da sua
emissão. Importa dizer que, conforme o § 1o do artigo 184 da CF, as benfeitorias úteis
e necessárias serão indenizáveis em dinheiro. Por fim, o § 5o desse mesmo dispositivo
constitucional confere imunidade tributária na transferência de imóvel desapropriado
para fins de reforma agrária.
2. Desapropriação para política urbana: com base constitucional no artigo 182, § 4o,
III, da CF, essa modalidade desapropriação recai sobre imóvel urbano que desatende
às exigências fundamentais do plano diretor, descumprindo, assim, a sua função
social. Nesse sentido, possui caráter sancionatório, sendo indenizada em títulos da
dívida pública, resgatáveis em até dez anos.
197
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
5. Desapropriação por zona: é aquela que ocorre sobre área maior do que a
necessária, a fim de absorver valorização na vizinhança decorrente da obra realizada.
Mazza (2021) destaca, porém, não se tratar propriamente de uma desapropriação e sim de
confisco ou perdimento de bens, visto não haver indenização.
Com fundamento constitucional nos artigos 5o, inciso XXIII, e 170, inciso III, a limitação
administrativa é uma intervenção na propriedade decorrente do Poder de Polícia do
Estado, o qual, conforme disciplinado por Di Pietro (2021), tem o poder de limitar e
condicionar o exercício de direitos individuais a fim de instaurar o bem-estar social,
priorizando o interesse público.
198
Nesse sentido, a Limitação Administrativa se caracteriza pela imposição, pelo Poder Público,
através de lei ou de ato normativo, de restrições gerais no uso e gozo da propriedade,
as quais podem ser de caráter positivo (obrigação de fazer algo, como de limpar o terreno),
negativo (obrigação de não fazer, como a proibição de construir além do limite vertical imposto
pela Administração) e permissivo (por exemplo, tolerar a entrada de agente da vigilância
sanitária). Nota-se que se trata de um direito pessoal e não real, visto que não se manifesta
sobre o bem em si, mas por meio de obrigações.
Marcada por sua generalidade, isto é, por suas limitações que atingem pessoas
indeterminadas e, portanto, não geram danos específicos, a limitação, por essa razão, em
regra, não acarreta o dever de indenizar o proprietário, sendo devida a indenização
apenas em decorrência de dano que extrapole o simples exercício do poder de polícia, como
quando um vigilante sanitário destrói parte do estoque alegando a impossibilidade de separar
os produtos com prazo de validade vencido daqueles dentro da validade (MAZZA, 2021, n.p.).
11.2.2. Tombamento
Nos termos do artigo 216 da Constituição Federal é dever do Estado proteger o patrimônio
cultural brasileiro, sendo o tombamento um desses meios de proteção:
199
Tombo. Tal ato deve ser sempre precedido de processo administrativo em que se
garantam a ampla defesa e o contraditório ao proprietário.
De natureza pessoal, podendo recair tanto sobre bens móveis quanto imóveis, privados
ou até mesmo públicos, o tombamento é disciplinado normativamente pelo Decreto-lei n.
25/37, sendo classificado em:
200
1. São inalienáveis por natureza as coisas tombadas pertencentes à União, Estados e
Municípios.
2. Nos termos do artigo 14 do Decreto-lei n. 25/37, “a coisa tombada não poderá sair
do país, senão por curto prazo, sem transferência de domínio e para fim de intercâmbio
cultural, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional”. Tentada a exportação fora dessas hipóteses, o bem será sequestrado (art.
15).
4. “As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum, ser destruídas, demolidas ou
mutiladas. E só poderão ser reparadas, pintadas ou restauradas se houver prévia
autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.”
Importante destacar que, com o advento do Código de Processo Civil de 2016, o capítulo
sobre direito de preferência no Decreto-lei n. 25/37 foi revogado. Não há mais, portanto,
quando da aquisição da coisa tombada, direito de preferência a União, Estados e
Municípios, tendo o proprietário liberdade na alienação. No entanto, conforme artigo 892,
§ 3o, do CPC, nos casos de alienação judicial, esses entes possuem preferência na
arrematação, na ordem apresentada, devendo ser notificados da alienação com pelo menos
cinco dias de antecedência.
Ademais, o tombamento não transfere o domínio do bem, isto é, tombado um bem privado,
ele continua sendo de propriedade do particular, mas passa a ser considerado de interesse
público e, por isso, são impostas restrições ao seu uso. Nesse sentido, em regra, não dá direito
à indenização. Para isso, é necessário prova de efetivo e significativo prejuízo.
201
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
A servidão administrativa, também conhecida como servidão pública, é um direito real de uso
público, a partir do qual a Administração restringe o uso de bem determinado em prol de
interesse público. Ressalta-se: nesses casos não há a transferência da propriedade para o
Estado, passando este a ter o mero direito de uso daquele imóvel. É o que ocorre, por
exemplo, na colocação de placa com nome da rua na fachada do imóvel, na passagem de fios
pela propriedade; na instalação de torres de transmissão de energia em terreno privado, etc.
Com base normativa nos artigos 1.378 a 1389 do Código Civil, a servidão pública possui
características comuns às servidões privadas; no entanto, difere-se destas pela incidência das
normas de direito administrativo e primazia no atendimento ao interesse coletivo. Uma
característica comum é a perpetuidade da servidão, o seu caráter permanente enquanto
houver necessidade de utilização, podendo, porém, ser extinta em casos excepcionais, como
quando ocorre o desaparecimento do bem ou a incorporação deste ao patrimônio público.
Essa forma de intervenção normalmente recai sobre bens imóveis privados. No entanto, é
possível a restrição no uso de bem móvel e serviço, assim como sobre bens públicos, desde
que observado o princípio da hierarquia e havendo autorização legislativa; por exemplo, o
Município não pode instituir servidão sobre um imóvel do Estado, mas o Estado pode instituir
sobre o do Município se houver autorização legislativa.
Conforme disciplinado por Mazza (2021), a servidão pode ser instituída de diversas formas:
por acordo administrativo, por sentença judicial ou por lei específica. Ou seja, não há
autoexecutoriedade. A primeira, modalidade típica, ocorre por acordo de vontades entre o
202
Poder Público e o proprietário, devendo ser precedida de declaração de necessidade pública
feita por meio de Decreto pelo Chefe do Executivo. A segunda ocorre quando da ausência de
acordo, sendo adotado o procedimento do Decreto-lei n. 3.365/41. Qualquer das hipóteses,
porém, “em regra, independe de registro para produzir seus efeitos regulares, pois sua eficácia
resulta diretamente do ato de instituição” (MAZZA, 2021, n.p.).
Por fim, a servidão não é intervenção em regra indenizável. A indenização será cabível, por
exceção, quando da ocorrência de significativo prejuízo decorrente da limitação
imposta. Nos termos do artigo 10, parágrafo único, da Lei n. 3.365/41, o particular possui o
prazo prescricional de cinco anos para pleitear a indenização. Além disso, importante
destacar que nos casos de excessiva limitação pode ocorrer, ainda, a desapropriação
indireta do bem.
STJ EM AÇÃO:
Nos termos do artigo 5o, inciso XXV, da Constituição Federal, “no caso de iminente perigo
público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao
proprietário indenização ulterior, se houver dano” (BRASIL, 1988). Esse preceito constitucional
é a base da requisição administrativa, forma de intervenção do Estado na propriedade.
203
A requisição administrativa pode ser civil ou militar. A primeira visa evitar danos à vida, à
saúde e à coletividade no geral. A segunda, por sua vez, ocorre nos casos de guerra e
perturbação da ordem, com o fim de resguardar a segurança interna e soberania nacional.
204
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
205
11.2.5. Ocupação temporária
É o caso, por exemplo, das situações em que o Estado necessita de local para depósito de
máquinas e materiais destinados à realização de obra pública, utilizando-se para tanto de
propriedade particular na vizinhança da obra. Outro exemplo muito comum é a utilização de
escolas privadas como locais de votação nas eleições.
A ocupação temporária, a qual pode ser remunerada ou gratuita, não tem natureza de direito
real, sendo um direito pessoal público, manifestado por ato unilateral da Administração,
ou seja, possui utilização discricionária e autoexecutável. No entanto, a formalização desse
ato pode se dar de duas formas, a depender da vinculação da ocupação: quando vinculada à
desapropriação (hipótese prevista no artigo 36 do Decreto-lei n. 3.365/41), deverá ser
instituída mediante ato formal, enquanto que, quando se tratar de mera ocupação material,
são dispensadas maiores formalidades.
Ademais, conforme disciplinado por Rossi (2019), essa prerrogativa estatal pode, desde
que autorizado pela Administração Pública, ser transferida a concessionárias e
empreiteiros.
206
Mapa Mental
Intervenção do Estado
na Propriedade
Supressiva Restritiva
207
Desapropriação Requisição
208
Referências Bibliográficas
209
12. Organização dos Poderes
12.1. Princípio da separação dos poderes
O princípio da separação dos poderes tem, sobretudo, origem histórica. Conforme leciona
BONAVIDES (2000, n.p.). O princípio da separação dos poderes é pujante dentro da leitura
constitucionalista liberal, com a quebra do Estado Absolutista e a emergência da estrutura
liberal de Estado.
O mais notório nome ligado ao princípio é Montesquieu, o qual o aplicou em sua sistemática
tripartite, com os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, estrutura essa reproduzida por
diversos Estados.
210
a) Poder Executivo: de modo típico, administrar o Estado e executar os desígnios
legais, como o Orçamento e as Políticas Públicas; de modo atípico, a edição de atos
normativos, como Medidas Provisórias e Decretos;
Enquanto freios e contrapesos, os poderes interagem para reprimir abusos de poder e conter
uns aos outros frente a eventuais ilegalidades. Exemplo clássico ao sistema de freios e
contrapesos é o controle jurisdicional, especialmente o controle de constitucionalidade.
Nesse caso, o Poder Judiciário atua ao conter ilegalidades das autoridades públicas no
exercício das suas funções, garantindo remédios constitucionais como o Mandado de
Segurança, ou especialmente no controle de constitucionalidade, garantindo a higidez
constitucional a partir da análise da capacidade daquela norma de compor o ordenamento
jurídico ou não, com base na parametricidade do texto da Constituição.
211
Referências Bibliográficas
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.
E-book. Não paginado.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
212
13. Controle da Administração Pública
Nos termos do art. 6o do Decreto-lei n. 200/1967, “as atividades da Administração Federal
obedecerão aos seguintes princípios fundamentais: I – Planejamento; II – Coordenação; III –
Descentralização; IV – Delegação de Competência; V – Controle”. Apesar de dispor acerca
da organização da Administração Federal, esse normativo fixa diretrizes gerais para os demais
entes da Federação (Estados, Distrito Federal e Municípios). Nesse sentido, a atividade de
controle alcança toda a esfera administrativa, de todos os Poderes, possuindo natureza
jurídica de princípio fundamental da Administração (MAZZA, 2021).
13.1. Conceito
Tal fiscalização se justifica pelo fato de os gestores públicos (tais como os agentes políticos)
não serem os proprietários dos recursos financeiros e patrimoniais dos quais o Estado se vale.
Esses recursos advêm dos tributos pagos pelo povo, seu verdadeiro titular. Os gestores
públicos, como o próprio nome já diz, são meros administradores que agem por meio da
delegação conferida pelo povo.
Nesse sentido dispõe o artigo 70, parágrafo único, da Constituição Federal: “Prestará contas
qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie
ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em
nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária”.
13.2. Classificação
213
Poderes Legislativo e Judiciário, nem do Tribunal de Contas e do Ministério Público (órgãos
autônomos).
214
Administração Pública (autotutela), bem como pelo Poder Judiciário. Desse
controle resulta a confirmação da validade do ato ou a anulação, quando
constatado se tratar de ato ilegal. No entanto, em se tratando de defeitos
sanáveis, é permitido que a Administração proceda à convalidação do ato ilegal;
4. Quanto ao âmbito:
215
Senado Federal de empréstimos externos feitos pelos entes federativos. Outro
exemplo é a aprovação pelo Tribunal de Contas do edital de licitação para a
concessão de serviço público na esfera federal. Esse é apenas um dos casos
em que o Tribunal de Contas exerce controle prévio, no entanto é preciso
cuidado: na vigência das Constituições de 1946 e 1967 era exigido, como
requisito de eficácia, que todo e qualquer ato administrativo fosse homologado,
previamente, pelo Tribunal de Contas, contudo essa exigência não mais existe;
6. Quanto à iniciativa:
Nesse sentido, tendo por base as classificações acima apresentadas, nota-se que se trata de
um controle interno, isto é, o Poder Executivo e os órgãos administrativos dos demais Poderes
fiscalizarão suas próprias condutas administrativas.
216
Essa espécie de controle decorre, notadamente, do poder de autotutela conferido à
Administração, o qual permite que esta anule os seus atos ilegais ou revogue aqueles
inconvenientes ou inoportunos. Quanto à anulação, importante destacar que incide prazo
decadencial de cinco anos sobre os atos favoráveis ao administrado, salvo quando
comprovada má-fé (Lei n. 9.784/99).
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo
de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos
os casos, a apreciação judicial.
Esse poder de autotutela está relacionado à sujeição hierárquica entre os órgãos de uma
mesma estrutura do Poder, tanto no âmbito da Administração direta quanto da indireta. Um
exemplo é o controle exercido pelo Conselho de Administração de um banco público sobre as
diretorias da entidade, enquanto estas, por sua vez, controlam suas gerências executivas.
Por outro lado, o controle administrativo também ocorre entre entes sem relação de
subordinação. Conforme já mencionado, não há hierarquia entre a Administração Direta e a
Indireta, apenas vinculação. Nesse sentido, o controle da primeira sobre a segunda configura
uma tutela administrativa.
Tendo por base a destinação desse recurso, ele poderá ser classificado em:
217
modalidade de recurso só pode ser interposta mediante expressa previsão legal”
(MAZZA, 2021, n. p.).
Conforme destacado por Mazza (2021), porém, “no direito brasileiro, não existe necessidade
de esgotamento da via administrativa para ser possível recorrer ao Poder Judiciário (art. 5 o,
XXXV, da CF). A exceção diz respeito às questões envolvendo direito desportivo” (art. 217, §
1o, da CF). (n. p.).
Tendo por base o sistema de freios e contrapesos, bem como o art. 5 o, inciso XXXV, da CF,
que dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”, o controle judicial (ou jurisdicional) é aquele por meio do qual o Poder Judiciário julga
os seus próprios atos administrativos, bem como os dos Poderes Executivo e Legislativo.
Segundo Mazza (2021), são importantes ações judiciais para o controle da Administração
Pública:
218
O Mandado de Segurança individual (art. 5o, inciso LXIX, da CF) é uma ação judicial de caráter
residual que visa à proteção de direito líquido e certo, desde que não amparado por habeas
corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica de direito privado no exercício de atribuições
do Poder Público.
Nesse sentido, diz-se que o MS é cabível em face de “ato de autoridade” (coatora), sendo este
um ato administrativo específico, praticado de forma ilegal ou em ofensa a direito líquido e
certo do interessado. Admite-se MS, também, em face de omissões administrativas que
ensejem ofensa a direito líquido e certo.
O MS pode ser preventivo ou repressivo: o primeiro visa afastar ameaça de lesão a direito
líquido e certo, enquanto o último é utilizado quando a ilegalidade ou o abuso de poder já
foram praticados, tendo por fim, portanto, a reparação do direito lesado. Em todo caso, incide
sobre o MS prazo decadencial de 120 dias para a sua impetração, contados da ciência do ato.
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 632 do STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração
de mandado de segurança.
O Mandado de Segurança Coletivo (art. 5o, inciso LXX, da CF), por sua vez, visa à proteção
de direito subjetivo, líquido e certo de um grupo, categoria ou classe, sendo os legitimados
para a sua impetração: partido político com representação no Congresso Nacional e
organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados.
219
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 630 do STF: A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança
ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria.
Súmula n. 266 do STF: Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.
Súmula n. 267 do STF: Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de
recurso ou correição.
Súmula n. 268 do STF: Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito
em julgado.
Nos termos do art. 5o, inciso LXVIII, da CF, “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção,
por ilegalidade ou abuso de poder”.
Com base constitucional no art. 5o, inciso LXXIII, a ação popular é um instrumento social de
controle da Administração Pública, visto ser o cidadão o legitimado para a sua propositura,
atuando na defesa de direitos difusos, isto é, na defesa do interesse público, sem titular
determinado. Nesse sentido,
qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
220
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e
do ônus da sucumbência (Constituição Federal de 1988, art. 5o, inciso LXXIII).
Para o ajuizamento da ação popular, exige-se que o ato comissivo ou omissivo tenha
produzido efeitos concretos, não se admitindo a propositura em face de lei em tese. No
entanto, o STF possui entendimento no sentido de que não é necessária a comprovação
de prejuízo financeiro, sendo a ilegalidade do ato suficiente para configurar a lesão ao
patrimônio público.
Por fim, importante ressaltar que a ação popular também poderá ser preventiva ou
repressiva, demandando a anulação do ato lesivo (sentença desconstitutiva). A
sentença poderá ainda, subsidiária e eventualmente, ser condenatória, cominando aos
responsáveis o pagamento de perdas e danos, se houver, bem como a restituição de bens e
valores obtidos ilicitamente.
Julgado procedente, deverá ser expedida lei regulamentadora ou qualquer outro ato
administrativo que viabilize o exercício do direito ou garantia constitucional não
regulamentados.
221
13.4.5. Habeas Data
Com base constitucional no art. 5o, inciso LXXII, da CF, visa “assegurar o conhecimento,
retificação ou contestação de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público” (MAZZA,
2021, n.p).
Prevista no art. 129, inciso III, da CF, a Ação Civil Pública visa à proteção do patrimônio público
e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, tendo como legitimados
ativos: o Ministério Público (§ 1o), bem como a Defensoria Pública, os entes federativos, suas
autarquias, fundações ou sociedades de economia mista, e associação constituída há pelo
menos um ano, nos termos da lei civil, e que inclua, entre suas finalidades institucionais, a
proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (art. 5o da Lei n. 7.347/85).
A ação civil pública também pode ser preventiva ou repressiva; no entanto, diferentemente
da ação popular, possui sentença, em regra, condenatória, podendo ser tanto em
obrigação de fazer quanto de não fazer. Lembre-se: a ação popular visa à anulação e
apenas de forma subsidiária, à condenação.
Considerada uma espécie de ação civil pública, a ação de improbidade é prevista na Lei n.
8.429/92. Vide Tema 14 – Improbidade administrativa – Lei n. 8.429/92.
Regulado pela Lei n. 13.869/19, conforme disciplinado por Mazza (2021), poderá representar,
por meio de petição enviada à autoridade competente para aplicar à autoridade civil ou militar
222
culpada, a respectiva sanção, ou poderá ser dirigido ao Ministério Público competente para
iniciar o processo-crime.
Em termos gerais, “o controle legislativo é realizado no âmbito dos parlamentos e dos órgãos
auxiliares do Poder Legislativo. Sua abrangência inclui o controle político sobre o próprio
exercício da função administrativa e o controle financeiro sobre a gestão dos gastos públicos
dos três Poderes” (MAZZA, 2021, n. p.).
Expressamente previsto e consagrado pelo art. 70 da CF, o controle legislativo ocorrerá tanto
de forma externa, quanto interna, visando à fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial da Administração Pública. Apesar de o referido dispositivo
constitucional tratar da Administração Pública Federal, pelo princípio da simetria, no que
couber, deverá ser adotado para os demais entes federados.
Nos termos do art. 74 da CF, o controle interno ocorre na esfera de cada Poder, sendo mantido
um sistema de controle interno integrado. O controle externo, por sua vez, nos termos do art.
71, da CF, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas
da União.
O controle parlamentar direto ou controle político é aquele exercido pelo próprio Poder
Legislativo, nas hipóteses e nos limites diretamente previstos na Constituição. Nesse sentido,
destaca-se:
223
IX – julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e
apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;
X – fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos
do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;
(...)
Art. 58.
(...)
§ 3o As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos
regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados
e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante
requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato
determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil
ou criminal dos infratores.
(...)
Art. 71.
(...)
§ 1o No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo
Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as
medidas cabíveis.
224
e Congresso Nacional) e o Tribunal de Contas da respectiva esfera da federação (TCU, TCEs,
TCDF e TCMs).
Nos termos dos arts. 71, 72 e 74 da CF, bem como da Súmula 347 do STF, compete
(privativamente) ao Tribunal de Contas da União:
225
6. Prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas
Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e
inspeções realizadas.
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 347 do STF: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar
a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.
A Comissão mista permanente a que se refere o art. 166, § 1o, diante de indícios
de despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não
programados ou de subsídios não aprovados, poderá solicitar à autoridade
governamental responsável que, no prazo de cinco dias, preste os
esclarecimentos necessários.
226
§ 1o Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes insuficientes, a
Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no
prazo de trinta dias.
§ 2o Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão, se julgar que o
gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública,
proporá ao Congresso Nacional sua sustação.
227
Mapa Mental
Controle da
Administração Pública
Órgão Tribunal de
Contas
Extensão
Natureza
Âmbito
Momento
Iniciativa
228
Referências Bibliográficas
229
14. Improbidade Administrativa – Lei n. 8.429/92
A Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/92) originou-se da necessidade de
regulamentar o § 4o do art. 37 da Constituição Federal, norma de eficácia limitada, que assim
dispõe: “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos,
a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma
e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível” (BRASIL, 1988).
Nesse sentido, a lei objeto de estudo tem por escopo o dever de punição dos agentes
públicos que praticam atos de improbidade administrativa, elencando os atos ímprobos
em categorias, ampliando o rol de sanções originariamente previstas na Constituição Federal
e dando outras providências.
A Lei foi profundamente reformulada na recente reforma promovida pela Lei n. 14.230/2021.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
Mas, afinal, o que são atos de improbidade administrativa? Primeiramente, importa dizer que
estão diretamente associados aos princípios constitucionais que regem o Direito
Administrativo (art. 37, caput, da CF), notadamente aos princípios da moralidade e da
legalidade. O ato de improbidade administrativa diz respeito a uma ação ou omissão de agente
público que, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública
direta, indireta ou fundacional, gera enriquecimento ilícito, causa lesão ao erário ou atenta
contra princípio administrativo.
Os atos de improbidade são comumente associados a atos imorais. Essa associação não está
errada, no entanto é preciso cuidado: nem sempre um ato imoral é considerado ímprobo.
Em termos gerais, o ato de improbidade é caracterizado por uma imoralidade qualificada
230
especialmente pela desonestidade, pela má-fé, possuindo punições mais severas do que um
ato meramente imoral.
Por outro lado, não se deve associar ato de improbidade administrativa a crime, ou seja, não
existe crime de improbidade. Um ato administrativo é um ilícito de ordem civil (ou civil-
política), podendo, de fato, corresponder a algum tipo criminal definido em lei, mas não
necessariamente. Nas palavras de Mazza:
Com efeito, um ato de improbidade pode corresponder também a um crime, bem como a uma
infração administrativa, havendo uma cumulação de instâncias, as quais são, porém, em
regra, independentes, isto é, o resultado de uma ação não influencia no resultado da outra. A
título de exceção, o resultado na esfera penal tem o condão de influir nas demais instâncias,
condicionando o resultado destas.
Nesse sentido, na lei de improbidade são previstas sanções de natureza administrativa, civil
e política, havendo a previsão de um único crime, com a sua respectiva sanção penal, o qual
recai sobre o representante e não sobre o agente público:
Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente
público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
Parágrafo único: Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar
o denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que houver
provocado (BRASIL, 1992).
231
Inicialmente, importante ressaltar que o referido diploma legal possui caráter nacional,
abrangendo toda a Administração, de todos os Poderes, de todos os entes federativos.
Ademais, desse dispositivo legal é possível extrair três elementos do ato de improbidade: o
sujeito ativo, o sujeito passivo e a ocorrência do ato de improbidade propriamente dito.
Em termos gerais, sujeito ativo é aquele que pratica o ato de improbidade. Conforme se extrai
do dispositivo legal acima transcrito, a Lei de Improbidade define como tal, de forma expressa,
o agente público, servidor ou não. Em seguida, em seu art. 2o, traz a definição de agente
público para os efeitos da referida Lei:
Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público o agente político, o servidor
público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
entidades referidas no art. 1º desta Lei.
Nota-se que se trata de um conceito bastante amplo, o qual vai além dos servidores e
empregados públicos propriamente ditos e engloba todos aqueles que exercem função
pública (transitória ou não, remunerada ou não e por qualquer forma de investidura), inclusive
particulares em colaboração com o Poder Público, como mesários e conscritos.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
1. São sujeitos ativos dos atos de improbidade administrativa, não só os servidores públicos,
mas todos aqueles que estejam abrangidos no conceito de agente público, insculpido no art.
2o, da Lei n. 8.429/92: “a Lei Federal n. 8.429/92 dedicou científica atenção na atribuição da
sujeição do dever de probidade administrativa ao agente público, que se reflete internamente
232
na relação estabelecida entre ele e a Administração Pública, superando a noção de servidor
público, com uma visão mais dilatada do que o conceito do funcionário público contido no
Código Penal (art. 327)”. 2. Hospitais e médicos conveniados ao SUS que além de
exercerem função pública delegada, administram verbas públicas, são sujeitos ativos
dos atos de improbidade administrativa. 3. Imperioso ressaltar que o âmbito de cognição
do STJ, nas hipóteses em que se infirma a qualidade, em tese, de agente público passível de
enquadramento na Lei de Improbidade Administrativa, limita-se a aferir a exegese da
legislação com o escopo de verificar se houve ofensa ao ordenamento (grifo nosso).
Apesar da amplitude do conceito, sendo expressamente previsto como agente público aquele
investido por eleição para o exercício de mandato, ainda não há entendimento consolidado
acerca da aplicação da lei de improbidade administrativa aos agentes políticos.
233
O Superior Tribunal de Justiça, porém, por sua vez, admite a responsabilização do
Governador por ato de improbidade administrativa, além dos agentes políticos não previstos
na lei de responsabilidade (Reclamação n. 2.790).
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
234
Nessa mesma temática, outro aspecto não pacificado no STF e no STJ é o foro competente
para processar e julgar ações de improbidade praticadas por agentes políticos com foro
privilegiado na esfera penal. A posição que tem prevalecido estabelece ser da competência
do juízo de primeiro grau.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
235
responsabilidade. A única exceção ao duplo regime sancionatório em matéria de improbidade
se refere aos atos praticados pelo Presidente da República, conforme previsão do art. 85, V,
da Constituição.
Ademais, para além dos agentes públicos, a Lei de Improbidade Administrativa, em seu art.
3o, prevê a extensão dos efeitos a terceiro que induza ou concorra para prática de ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta ou indireta. Nesses termos, o
terceiro, em hipótese alguma, pratica ato de improbidade sozinho, sendo indispensável a
participação de algum agente público, nos termos do entendimento consolidado no REsp
1171017-PA, veiculado no Informativo 535 do Superior Tribunal de Justiça. A título de
exemplificação, compare as seguintes situações: 1a) três empresas privadas combinam de
fraudar licitação, SEM a participação de agente público; 2 a) as mesmas três empresas,
juntamente com servidor, combinam de fraudar licitação. No primeiro caso, não há que se falar
em ato de improbidade, mas podem responder a ação penal pela fraude a licitação. Já no
236
segundo caso, todos respondem por ato de improbidade (ação civil) e, também, responderão
na esfera penal, podendo o servidor, ainda, ser responsabilizado no âmbito administrativo.
STJ EM AÇÃO:
Súmula n. 634 do STJ: Ao particular aplica-se o mesmo regime prescricional previsto na Lei
de Improbidade Administrativa para o agente público. STJ. 1a Seção. Aprovada em 12/6/2019,
DJe 17/6/2019.
Segundo o STJ (REsp n. 1.038.762/RJ), é possível que pessoa jurídica seja sujeito ativo do
ato de improbidade, na condição de terceiro, respondendo dentro das suas possibilidades, isto
é, são aplicáveis apenas sanções compatíveis com a sua personalidade jurídica.
Por fim, importante ressaltar que os sucessores dos agentes ativos também podem ser
responsabilizados com as sanções patrimoniais da Lei de Improbidade Administrativa, até o
limite do valor da herança.
Sujeito passivo é aquele que é lesado pelo ato de improbidade, isto é, a sua “vítima”. Nesse
sentido, tendo a Lei n. 8.429/92 caráter nacional e, conforme o disposto em seu art. 1 o, caput
e parágrafo único (transcrito acima), podem ser sujeitos passivos dos atos de improbidade:
237
5. Entidade privada da qual o erário participe com menos de 50% do patrimônio ou da
receita anual: nesses casos, há a limitação da sanção patrimonial à repercussão do
ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
Para cada uma dessas espécies a referida lei estabelece as respectivas sanções que podem
incidir sobre o sujeito ativo do ato de improbidade, de acordo com a gravidade da conduta.
Conforme já dito, algumas dessas sanções advêm da Constituição Federal enquanto outras
foram definidas pela própria lei. Nesse sentido, a Constituição Federal, no § 4 o do art. 37,
prevê as seguintes sanções:
1. Suspensão dos direitos políticos: o sujeito fica impedido de votar, bem como de
ser votado por prazo determinado, estabelecido na sentença judicial, podendo variar de
três a dez anos. A suspensão somente se efetiva após o trânsito em julgado da
sentença que a determinou. Cuidado com a pegadinha de prova: a Constituição fala
em suspensão em decorrência de ato de improbidade, não é em perda ou cassação
dos direitos políticos.
2. Perda da função pública: importante lembrar que nem todo sujeito ativo do ato de
improbidade necessariamente possui função pública. Por exemplo, o terceiro que
concorre com um servidor para a prática do ato não possui. Nesse sentido, por óbvio,
essa cominação só poderá recair sobre aqueles que exercem função pública. Ademais,
a perda só se efetiva após o trânsito em julgado da sentença; no entanto, pode haver
238
o afastamento preventivo das funções mediante determinação judicial, pelo prazo que
o juiz vier a fixar.
239
do ato de improbidade, a Lei 8.429/92 exige a presença do elemento subjetivo da conduta
do agente, isto é, dolo ou culpa. De forma mais específica, o STJ possui jurisprudência
consolidada no sentido de que as condutas dos arts. 9o e 11 só configuram ato de
improbidade se praticadas de forma dolosa. Distintamente, para a caracterização
daquelas previstas no art. 10, exige-se dolo ou culpa.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
Para cada categoria de atos de improbidade administrativa a Lei n. 8.429/92, além das
sanções que podem incidir sobre o sujeito ativo, previstas no art. 12, apresenta um rol de
condutas exemplificativas.
240
14.2.1. Atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento
ilícito
Essa categoria de ato de improbidade descreve, segundo Mazza (2021), as condutas mais
graves, sendo, portanto, apenada com as sanções mais rigorosas. Em termos gerais, o ato de
improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito é aquele em que o sujeito ativo,
direta ou indiretamente, aufere vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,
mandato, função, emprego ou atividade pública. De forma exemplificativa, nos incisos do
art. 9o da Lei de Improbidade Administrativa são dispostas as seguintes condutas:
241
XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas
ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no
art. 1o desta Lei;
XII – usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do
acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1o desta Lei (BRASIL,
2019) (grifos nossos).
Nota-se que as situações que se enquadram nesta categoria são marcadas pelo
recebimento de vantagens pessoais, sem necessariamente ocorrer prejuízo ao erário.
Destaca-se que apenas nos incisos I e VII fala-se em vantagem “para outrem”.
Nesses casos, o agente do ato de improbidade está sujeito às cominações dispostas no art.
12, I, da LIA, quais sejam:
Classificada por Mazza (2021) como de gravidade intermediária, nos termos do art. 10 da LIA,
constitui ato de improbidade, que causa lesão ao erário, qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que resulte em perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou
dilapidação dos bens ou haveres de órgão ou entidade pública. São exemplos de condutas
que se enquadram nessa categoria (incisos do art. 10):
242
III – doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda
que de fins educativos ou assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do
patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1o desta Lei, sem
observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
IV – permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante
do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1o desta Lei, ou ainda
a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;
V – permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço
por preço superior ao de mercado;
VI – realizar operação financeira sem observância das normas legais e
regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII – conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração
de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente,
acarretando perda patrimonial efetiva;
IX – ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou
regulamento;
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, bem como no que diz
respeito à conservação do patrimônio público;
XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou
influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça
ilicitamente;
XIII – permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à
disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1o desta Lei, bem
como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por
essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação
de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as
formalidades previstas na lei;
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia
dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei;
XVI – facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao
patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou
valores públicos transferidos pela administração pública a entidades privadas
mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais
ou regulamentares aplicáveis à espécie;
XVII – permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize
bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração
pública a entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
XVIII – celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas
sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie;
XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fiscalização e na análise das
prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades
privadas;
XX – liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com
entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir
de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
243
Nota-se que, ao contrário dos atos de improbidade administrativa que implicam
enriquecimento ilícito, os que causam prejuízo ao erário não importam necessariamente em
obtenção de vantagem pelo sujeito ativo e, como o próprio nome diz, exigem a existência de
prejuízo patrimonial efetivo. Apesar de não ser um tema pacífico no âmbito doutrinário, o
STJ possui jurisprudência consolidada nesse sentido, entendendo não ser suficiente o
prejuízo apenas presumido.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
Ao responsável pela prática desses atos podem ser cominadas as seguintes sanções,
conforme inciso II do art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa:
244
14.2.3. Atos de improbidade administrativa que atentam contra os
princípios da Administração Pública
Ao sujeito ativo dessas condutas podem ser impostas as seguintes sanções, conforme o inciso
III do art. 12 do mesmo diploma legal:
245
1. Ressarcimento integral do dano, se houver.
Essa declaração, que pode ser substituída por cópia da declaração anual de bens
apresentada à Receita Federal, será arquivada no serviço de pessoal competente, devendo
ser atualizada anualmente, bem como na data em que o agente público deixar o exercício do
mandato, cargo, emprego ou função.
246
14.3.2. Procedimento administrativo e processo judicial
Nesse sentido, nos termos da Lei n. 8.429/92, qualquer pessoa, ao tomar ciência da prática
de ato de improbidade administrativa, pode representar à autoridade administrativa
competente, a qual será responsável pela apuração dos fatos mediante a instauração de
procedimento administrativo.
Nesse ponto é necessário especial atenção. Apesar dessas previsões legais, que levam a
concluir pela existência de vedação à representação anônima, o STJ admite a instauração de
procedimento investigatório quando a denúncia anônima for verossímil.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
247
órgãos, a requerimento, designar representantes para acompanhar o procedimento
administrativo.
Nos termos do art. 16, nos casos em que houver fundados indícios de responsabilidade, com
lesão ao patrimônio público ou enriquecimento ilícito, na ação por improbidade administrativa
poderá ser formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indisponibilidade de bens dos
réus, a fim de garantir a integral recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de
enriquecimento ilícito.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
248
Tendo como legitimados ativos o Ministério Público e a pessoa jurídica prejudicada (isto
é, sujeito passivo do ato de improbidade), a ação deverá ser proposta na primeira instância,
visto que, nos termos da ADI 2.860, o STF entendeu não haver foro por prerrogativa de função
na ação de improbidade. No entanto, a jurisprudência prevê algumas exceções:
1. STJ – AgRg na Sd 208/AM: sendo sujeito ativo juiz integrante de tribunal, será
competente para processar e julgar a ação o tribunal imediatamente superior àquele
vinculado ao indiciado.
2. STF – Pet 3.211/DF: o STF entendeu ter competência nas ações de improbidade
contra um de seus membros.
Proposta a ação, fica vedada a realização de transação, acordo ou conciliação, ou até mesmo
de delação premiada. As partes deverão ser notificadas para a apresentação de defesa prévia
no prazo de 15 dias, sem que a ausência dessa notificação gere nulidade da citação. No
entendimento do STJ, porém, trata-se de uma nulidade relativa, haja vista a necessidade de
ser comprovado prejuízo para a decretação da nulidade (AgRg no AREsp 604.949/RS).
O juízo terá o prazo de 30 dias para a análise da defesa prévia, podendo receber ou rejeitar a
denúncia. Nos casos em que entender pelo recebimento, deverá ordenar a citação do
denunciado para contestar o feito.
Em qualquer fase do processo, o juiz poderá extinguir o feito sem resolução do mérito, em
decisão fundamentada, quando entender pela inadequação da ação. No entanto, julgando
procedente a ação de improbidade, o juiz deverá fixar a pena dentre as previstas na LIA, tendo
por base a extensão do dano e o proveito patrimonial.
Nos termos do art. 18 da LIA, “A sentença que julgar procedente a ação fundada nos arts. 9º
e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à perda ou à reversão dos bens e
valores ilicitamente adquiridos, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo
ilícito.” (BRASIL, 1992)
249
Importante lembrar: a perda da função pública, assim como a suspensão dos direitos políticos,
são medidas que apenas podem ser efetivadas após o trânsito em julgado da sentença. Antes
disso, porém, em sede de medida cautelar, a autoridade administrativa, ou judiciária, pode
determinar o afastamento do agente público, sem prejuízo da remuneração, por até 180 dias,
a fim de não comprometer a instrução processual (STJ – MC n. 19.214/PE).
14.3.3. Prescrição
Nos termos do art. 23 da LIA, a ação de improbidade administrativa poderá ser proposta em
até oito anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes,
do dia em que cessou a permanência.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
Por fim, importante destacar que, nos termos do art. 37, § 5 o, da CF, as ações civis de
ressarcimento ao erário são imprescritíveis, sendo os prazos prescricionais aplicáveis apenas
em relação às demais penalidades previstas na Lei n. 8.429/92. Apesar de alguns autores
apresentarem resistência a essa tese, Mazza (2021) orienta que, em concursos públicos, é o
entendimento mais seguro a se seguir, tendo por base decisão do STJ (REsp n. 1.069.779) e
do STF (RE n. 852.475).
250
251
Mapa Mental
Improbidade
Administrativa
Lesão ao Suspensão
PJ dos direitos
erário Terceiro
interessada políticos
Concessão Perda da
indevida de função
ISS pública
Viola princípio
Ressarcimento
administrativo
Proibição de
contratar/
receber
Multa
252
Referências Bibliográficas
253
15. Agentes públicos – Lei n. 8.112/90
Para a realização dos seus fins, o Estado, pessoa jurídica, depende da atuação humana, isto
é, as atividades públicas, imputadas ao Poder Público, são exercidas por pessoas físicas,
chamadas de agentes públicos. Nesse sentido, com base constitucional nos artigos 37 a 41,
a expressão “agente público” é utilizada em sentido amplo e genérico, englobando todo aquele
que exerce função pública, nos três poderes das três esferas de governo, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração.
Todo agente público exerce uma função pública. No entanto, para esse exercício os agentes
podem ocupar cargos ou empregos, ou então meramente exercer uma função.
Cargo público é o lugar, no âmbito da Administração Pública, a ser ocupado pelo agente
público, o qual pode ser de provimento efetivo, por meio de aprovação em concurso público,
sendo-lhe atribuídas funções e responsabilidades, conforme a estrutura organizacional do
órgão ou entidade de direito público ao qual esteja vinculado, ou em comissão, de livre
nomeação e exoneração, destinado apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento. Em todos os casos, porém, o cargo público deverá ser criado por lei
específica, definindo a relação jurídica que será estabelecida, razão pela qual o regime
jurídico adotado em ambos os casos é o estatutário (no âmbito federal, o regime está
disciplinado na Lei n. 8.112/90). Por outro lado, o regime previdenciário não é o mesmo: aos
agentes em comissão aplica-se o regime de previdência geral, aplicável aos empregados
celetistas, enquanto aos servidores efetivos aplica-se o regime previdenciário especial.
No que diz respeito à criação de cargos em comissão, é importante destacar que, segundo o
STF, trata-se de uma exceção à regra de exigibilidade de concurso público. Para esses
cargos, a nomeação é, obrigatoriamente, ato discricionário da autoridade competente, assim
como a exoneração, razão pela qual, nesses casos, não é necessária a observância ao
contraditório e à ampla defesa. Ademais, a liberdade na nomeação possui limitações: em
determinadas condições e percentuais, os cargos em comissão devem ser preenchidos por
servidores de carreira (art. 37, inciso V, da CF). Em tais circunstâncias, quando nomeado para
um cargo em comissão, o servidor de carreira deixará de exercer as funções do seu cargo
254
efetivo para exercer a do novo cargo e, caso exonerado deste, voltará a exercer as atribuições
do seu cargo efetivo.
Função pública, por sua vez, refere-se às situações em que as atribuições conferidas ao
agente não correspondem a um cargo ou emprego. Nos termos da Constituição Federal,
existem duas situações em que isso ocorre:
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
255
II – Para que se efetue a contratação temporária, é necessário que não apenas seja estipulado
o prazo de contratação em lei, mas, principalmente, que o serviço a ser prestado revista-se
do caráter da temporariedade. III – O serviço público de saúde é essencial, jamais pode-se
caracterizar como temporário, razão pela qual não assiste razão à Administração estadual
capixaba ao contratar temporariamente servidores para exercer tais funções. IV – Prazo de
contratação prorrogado por nova lei complementar: inconstitucionalidade. V – É pacífica a
jurisprudência desta Corte no sentido de não permitir contratação temporária de servidores
para a execução de serviços meramente burocráticos. Ausência de relevância e interesse
social nesses casos. VI – Ação que se julga procedente.
256
restar demonstrada a falta de qualificação do indivíduo nomeado, ficando evidente que a
contratação se deu exclusivamente pela relação de parentesco.
STF EM AÇÃO:
1. Agentes políticos: são as pessoas físicas que, em regra, por meio de eleição,
ingressam no Poder Público para o exercício de função pública de alta direção do
Estado, com liberdade funcional e, à exceção dos ministros e secretários estaduais e
municipais, não hierarquizados. São eles: os chefes do Poder Executivo, seus
auxiliares imediatos e os membros do Poder Legislativo.
Alguns doutrinadores, tal qual Hely Lopes Meirelles, incluem nesse rol, ainda, os
membros da magistratura, do Ministério Público, dos Tribunais de Contas e os
representantes diplomáticos, sob o fundamento de que esses agentes também
exercem uma parcela da soberania estatal. Apesar de ser uma corrente minoritária,
esse entendimento tem sido adotado em alguns concursos públicos. No âmbito do
Supremo Tribunal Federal, quanto aos magistrados, existe decisão nesse sentido (RE
228.977/SP). Por outro lado, no que diz respeito aos Ministros e Conselheiros dos
257
Tribunais de Contas, o STF manifestou-se classificando-os como agentes
administrativos (Reclamação 6.702/PR).
3. Contratados temporários.
5. Empregados públicos.
Nos termos do art. 37, inciso I, da CF “os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis
aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos
estrangeiros, na forma da lei”. Nesse sentido, à exceção dos cargos privativos de brasileiro
nato (art. 12, § 3o, da CF), em termos gerais a Constituição não estabelece diferenciação para
o preenchimento por brasileiro nato ou naturalizado. Quanto aos estrangeiros, por se tratar de
uma norma de eficácia limitada, compete aos Estados-membros a elaboração da sua própria
lei que discipline tal acesso.
258
STF EM AÇÃO:
Súmula n. 683 do STF: O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima
em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das
atribuições do cargo a ser preenchido.
Nesse sentido, importante destacar que, conforme jurisprudência do STF, não pode haver
restrição no acesso às pessoas com tatuagens, salvo se o conteúdo da mesma violar valores
constitucionais, tais quais as que contenham ideologia terrorista ou que representem conteúdo
discriminatório.
STF EM AÇÃO:
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
259
a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de
livre nomeação e exoneração (BRASIL, 1988).
Nesse sentido, em termos gerais, conforme disciplinado por Mazza (2021), o concurso público
é um procedimento administrativo, o qual é exigido para a nomeação em qualquer cargo de
provimento efetivo, bem como em emprego público, a fim de garantir o amplo acesso da
população ao serviço público. Para tanto, a realização desse concurso deve observar os
princípios da isonomia, impessoalidade, moralidade, legalidade e meritocracia.
3. Contratação temporária – art. 37, IX, CF: na esfera federal, devem-se admitir
mediante processo seletivo simplificado.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
260
almejada pelo concurso público o empréstimo de pontos a desempenho profissional anterior
em atividade relacionada com o concurso público. CONCURSO PÚBLICO – CRITÉRIOS DE
DESEMPATE – ATUAÇÃO ANTERIOR NA ATIVIDADE – AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE.
Mostra-se conflitante com o princípio da razoabilidade eleger como critério de desempate
tempo anterior na titularidade do serviço para o qual se realiza o concurso público.
No que diz respeito ao prazo de validade do concurso público, o inciso II do mesmo dispositivo
constitucional dispõe que será de até dois anos, contados a partir da homologação do
concurso, prorrogável uma vez, por igual período, prorrogação essa que deve ser feita antes
da expiração do prazo inicial. Tal é, portanto, o prazo máximo que a Administração possui
para nomear ou contratar os aprovados, podendo ser estabelecido prazo menor (ato
discricionário). Em regra, esse prazo é previsto de forma expressa no edital; se este, porém,
for omisso, aplicar-se-á o prazo máximo previsto na Constituição.
O STF fixou tese, em sede de repercussão geral, no sentido de que o candidato aprovado
dentro do número de vagas possui direito subjetivo, líquido e certo à nomeação, observada a
validade do concurso.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
261
convocados, ou mesmo a sua desclassificação em razão do não preenchimento de
determinados requisitos, gera para os seguintes na ordem de classificação direito subjetivo à
nomeação, observada a quantidade das novas vagas disponibilizadas.
STF EM AÇÃO:
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
262
No âmbito federal, o art. § 2o, da Lei n. 8.112/90 define que “para tais pessoas serão
reservados até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso”. Nota-se que esse é
um limite máximo. O Decreto n. 3.298/99, art. 37, § 1 º, por sua vez, prevê o limite mínimo de
5%, o qual deverá ser elevado até o primeiro número inteiro subsequente quando resultar em
número fracionado. E se houver conflito entre o limite mínimo e o máximo? A jurisprudência
do STF fixou entendimento de que se deve respeitar o limite máximo (RE n. 440.988/DF).
STJ EM AÇÃO:
Súmula n. 377 do STJ: O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso
público, às vagas reservadas aos deficientes.
Ainda no que diz respeito à reserva de vagas, em 2014 foi editada a Lei n. 12.990, que destina
20% das vagas para negros nos concursos públicos, na esfera federal, com três ou mais
vagas. O STF declarou a constitucionalidade dessa lei e fixou entendimento pela possibilidade
de adoção de critérios de heteroidentificação, além da autodeclaração, para verificação do
enquadramento do candidato na cota para negros.
O Supremo Tribunal admite, ainda, a previsão no edital das chamadas cláusulas de barreira,
as quais limitam o número de candidatos que participarão da etapa seguinte, conforme a nota
obtida na anterior (nota de corte).
Outra manifestação importante do Supremo diz respeito à ausência de direito com previsão
constitucional que garanta a remarcação de provas de aptidão física nos casos de
impossibilidade de realização por circunstâncias pessoais do candidato, salvo se no edital
houver previsão em sentido contrário. No entanto, tal entendimento não é aplicado à candidata
gestante, que poderá realizar a prova em segunda chamada.
Por fim, nos termos do § 2o do art. 37 da CF, a não realização de concurso público nos casos
exigidos, bem como a não observância do seu prazo de validade, implicará a nulidade do ato
e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei. Ressalta-se, porém, que nos casos
em que chegar a ser efetivamente prestado serviço público, a remuneração recebida não
263
precisará ser devolvida, visto que tal ato poderia caracterizar enriquecimento ilícito por parte
do Estado.
“Para ocupar cargo público, o ordenamento jurídico exige que ocorra o provimento, isto é, que
seja praticado um ato administrativo constitutivo hábil a promover o ingresso no cargo”
(MAZZA, 2021, n.p.). O provimento ocorre, portanto, antes da investidura no cargo, a qual se
dá com a posse.
O provimento poderá ser, quanto à durabilidade do cargo, de caráter efetivo, o qual garante
estabilidade quando preenchidos os requisitos legais, ou em comissão, de livre nomeação e
exoneração; e, ainda, quanto à preexistência de vínculo jurídico com o Estado, pode ser
originário (ausência de vínculo anterior) ou derivado (relação jurídica anterior).
2. Promoção: forma derivada, pois, conforme Mazza (2021), “só pode favorecer os
servidores públicos que já ocupam cargos públicos em caráter efetivo” (n.p.);
4. Reversão: forma derivada, visto que consiste no retorno de servidor aposentado por
invalidez ao serviço público.
264
estágio probatório relativo a outro cargo; II – reintegração do anterior ocupante”.
Estando o cargo de origem provido, o servidor será aproveitado em outro.
Por fim, importa dizer que ocorrerá o provimento, com posterior investidura, desde que haja
cargo vago para tal. Nos termos do art. 33 da Lei n. 8.112/90, “a vacância do cargo público
decorrerá de: I – exoneração; II – demissão; III – promoção; VI – readaptação;
VII – aposentadoria; VIII – posse em outro cargo inacumulável; IX – falecimento”.
A Constituição Federal veda expressamente (incisos XVI e XVII do art. 37) a acumulação
remunerada de cargos, empregos e funções públicas na Administração direta e indireta, de
todos os Poderes, de todas as esferas de governo. Nesse sentido, como regra, desde que
não haja incompatibilidade, é permitido que o agente público acumule atribuições públicas não
remuneradas (em regra, apenas uma pode ser remunerada), bem como exerça atividade
privada. Ademais, Mazza (2021) destaca que, apesar de a Lei n. 8.112/90 ser aplicável aos
servidores da esfera federal, o seu art. 118 estende a proibição de acúmulo de cargos,
empregos e funções públicas em autarquias, fundações públicas, empresas públicas,
sociedades de economia mista da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios e
dos Municípios.
Essa regra, porém, não é absoluta. A Constituição prevê hipóteses (taxativas) em que será
permitido tal acúmulo, no limite máximo de dois cargos, e desde que haja compatibilidade de
horários:
1. De dois cargos de professor (art. 37, inciso XVI, alínea “a”, CF).
2. De um cargo de professor com outro técnico ou científico (art. 37, inciso XVI, alínea
“b”, CF).
265
formação específica (em nível superior ou médio técnico), esta poderá ser classificada
como técnica ou científica.
DE OLHO NA JURISPRUDÊNCIA:
4. De cargo de vereador com outro cargo, emprego ou função pública (art. 38, III, CF)
Nesse ponto, importante destacar que, em relação aos mandatos eletivos, apenas aos
vereadores é conferida a possibilidade de acumulação, quando houver compatibilidade.
Conforme o art. 38 da CF, nos casos em que o servidor for eleito para mandato federal,
estadual ou distrital, deverá ser afastado do seu cargo, emprego ou função pública,
percebendo apenas a remuneração do cargo eletivo. Por outro lado, caso investido em
mandato de prefeito (ou de vice-prefeito, conforme jurisprudência do STF), apesar de
também ser afastado de sua função inicial, poderá optar pela remuneração que receberá.
266
cada cargo isoladamente e não no somatório dos ganhos do agente público (RE
612.975/MT).
Nos termos do art. 41 da CF, “são estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores
nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público”, desde que
aprovado em avaliação especial de desempenho feita por comissão instituída para essa
finalidade (§ 4o). Esses são os requisitos para a aquisição de estabilidade pelo servidor.
Ressalta-se: apenas servidor público efetivo pode adquiri-la, ficando excluídos, portanto, os
empregados públicos, contratados temporários e ocupantes de cargo em comissão.
No que diz respeito à hipótese de redução de gastos, cumpre destacar que esta medida
apenas deve ser adotada após esgotadas as demais alternativas previstas no artigo 169 da
CF. Nesse sentido, quando ultrapassado o limite previsto na LRF com gasto com pessoal,
devem ser adotadas, sucessivamente, as seguintes medidas: 1. Redução em pelo menos 20%
das despesas com cargos em comissão e funções de confiança. 2. Exoneração dos servidores
não estáveis. 3. Exoneração dos servidores estáveis, mediante ato normativo motivado.
267
declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com
remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em
outro cargo”. Não sendo estável, o servidor perderá o cargo.
Existe, ainda, uma garantia constitucional de permanência mais ampla, que apenas admite,
como hipótese de perda do cargo, a existência de sentença judicial transitada em julgado. Na
forma do inciso I do art. 95 e do artigo 128, § 5 o, inciso I, “a”, ambos da CF, a vitaliciedade
pode ser adquirida por magistrado, membro do Ministério Público e membro do Tribunal
de Contas, após dois anos de exercício em primeiro grau. “Ressalta-se que, em segundo
grau, a vitaliciedade é adquirida com a posse” (COUTO, 2019, n.p.).
Ademais, além de possuir lei orgânica própria, com aplicação meramente subsidiária da Lei
n. 8.112/90, a nomenclatura do cargo público ocupado pelo servidor vitalício o acompanha
mesmo após aposentado, não lhe sendo retirada a qualidade de servidor (a aposentação de
servidor estável retira essa qualidade).
A Constituição Federal disciplina, em seus incisos X a XVII do art. 37, o sistema remuneratório
dos agentes públicos. Pode-se extrair desses dispositivos:
1. É necessária lei específica, que deve ser editada no âmbito do respectivo poder
(iniciativa privativa), para a fixação ou alteração da remuneração dos servidores
públicos, bem como do subsídio dos membros de quaisquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo, dos
Ministros de Estado e dos Secretários Estaduais e Municipais. Nota-se que não
abrange o salário de empregado público e os vencimentos dos militares. Ademais, com
o fim meramente compensatório da inflação, é assegurada revisão anual da
remuneração e do subsídio, comumente chamada pela doutrina de aumento impróprio,
que deve ocorrer sempre na mesma data e sem distinção de índices (inciso X).
268
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos
e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos
Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o
subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio
dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o
subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa
inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos
Procuradores e aos Defensores Públicos.
Nesse sentido, o teto remuneratório geral, aplicável a todas as esferas de Poder de todos os
entes federados, corresponde à remuneração dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
“Além do teto geral, a Constituição Federal fixou tetos parciais, ou subtetos, aplicáveis às
demais esferas federativas” (MAZZA, 2021, n.p.).
Por fim, no que diz respeito às empresas públicas, sociedades de economia mista e
subsidiárias, o § 9o do art. 37 da CF dispõe que incidirá o teto remuneratório quando estas
“receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para
pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral”.
269
cargo inferior, menos complexo e com menos atribuições, a um cargo superior” (ROSSI,
2019, n.p.).
STF EM AÇÃO:
O direito à aposentadoria do servidor público efetivo está, nesse sentido, condicionado a sua
efetiva contribuição e não apenas ao tempo em que prestou o serviço. O valor recolhido,
diferentemente do que ocorre no RGPS (Regime De Capitalização Individual Coletiva), é
utilizado para a gestão do sistema, realizando o pagamento das obrigações correntes (regime
de repartição simples).
Nos termos da CF, art. 40, § 1o, são três as modalidades de aposentadoria que podem
decorrer do regime próprio:
270
acidente de serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, os
proventos serão definidos na forma da lei. Nesses casos, na esfera federal, fará jus a
proventos integrais.
3. Voluntária: poderá se dar por tempo de contribuição ou por idade, devendo ser
preenchidos os requisitos previstos em lei do respectivo ente federativo. No que diz
respeito ao cálculo dos proventos, Mazza (2021) ensina que, se preenchidos os
requisitos antes da EC 41/2003, poderá ser integral ou proporcional, a depender da
legislação vigente antes da emenda; no entanto, se preenchidos depois, não poderá
receber proventos integrais.
Importante destacar, ainda, que a Constituição confere uma aposentadoria especial aos
professores, com redução de idade mínima de cinco anos, desde que comprovem tempo de
efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio fixado em lei complementar do respectivo ente federativo (art. 40, § 5 o, CF).
STF EM AÇÃO:
271
15.8. Associação sindical e direito de greve
Nos termos do art. 37, inciso VI, da CF, é garantido ao servidor público civil o direito à livre
associação sindical. O inciso VII do mesmo dispositivo constitucional, por sua vez, assegura
o direito de greve. Apesar de o inciso VII não trazer, expressamente, a limitação desse direito
aos servidores públicos civis, é possível concluir que existe essa restrição, com base na
vedação disposta no art. 142, § 3o, IV, da CF (“ao militar são proibidas a sindicalização e a
greve”). Ademais, aos policiais militares ou civis ou federais, bem como aos servidores que
atuam na área de segurança pública, também é vedada a realização de greve.
No que diz respeito ao direito de greve, o dispositivo constitucional em análise, que traz a sua
previsão, possui eficácia limitada, isto é, faz-se necessária a edição de uma lei para a
produção de seus efeitos. Ocorre que até a presente data ainda não foi editada lei a sua
regulamentação. Nesse sentido, ante a inércia do legislador e o desamparo dos servidores
públicos, em sede de mandado de injunção, o STF determinou que seja aplicada a lei de greve
da iniciativa privada ao setor público até que o Congresso Nacional edite a norma
disciplinadora.
Essa regra da independência das instâncias, porém, comporta exceção prevista no próprio
Estatuto: quando, na esfera criminal, o servidor for absolvido pela negativa da existência do
fato ou da autoria, as responsabilidades administrativa e civil deverão ser afastadas.
Modernamente, a doutrina tem incluído mais três espécies de responsabilidade que podem
ser imputadas aos servidores públicos: por improbidade administrativa; política por crimes de
responsabilidade; e decorrente de processos de controle de órgãos internos e externos
(MAZZA, 2021, n.p.).
272
15.10. Regime jurídico dos servidores públicos federais
Não há na Constituição, porém, uma definição do regime a ser adotado. Nesse sentido, no
âmbito federal, a Lei n. 8.112/90 instituiu o regime jurídico estatutário aos servidores públicos
federais. Trata-se de um regime especial, com situação jurídica já estabelecida e
regulamentada pela referida lei, com regras específicas, conforme o cargo em questão, que
não são passíveis de alteração.
Importante, desde já, destacar que essa é a redação originariamente dada pelo constituinte,
bem como é a redação atualmente vigente no ordenamento jurídico brasileiro. A EC n. 19/98,
que introduziu nova redação ao dispositivo constitucional, retirando a obrigatoriedade da
instituição de regime único e de planos de carreira, teve a sua eficácia suspensa em 2007 em
face de uma inconstitucionalidade formal na tramitação da EC (ADI 2.135/DF). No entanto, o
STF conferiu efeito ex nunc à decisão, mantendo a validade dos atos praticados quando da
vigência da EC 19/98, razão pela qual, ainda hoje, é possível encontrar, por exemplo,
empregado público federal celetista, pela incidência da Lei n. 9.962/00, editada à época da
emenda em comento.
273
Mapa Mental
Agentes Públicos
Regime
Função Responsabilidades
estatutário
Emprego
Cargo
Comissão Efetivo
Estabilidade Vitaliciedade
274
Referências Bibliográficas
275