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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

O QUE É O DIREITO?

O Direito é uma ordem normativa, isto é, um conjunto de regras, com valores subjacentes que
são transpostos para casos concretos, procurando compatibilizar as expectativas e os interesses
diferentes dos Homens. É essencial à vida humana pois, sem este iria prevalecer a Lei da
Força/do mais forte e a sociedade viveria em constante conflito, por isto, o Direito permite-nos
viver em sociedade (não prescinde do Direito).

A principal função do Direito é resolver conflitos, mediante as suas regras e instrumentos. Para
além disso, este não é um fim em si mesmo. Para além disso, podemos ainda dizer que o Direito
é constituído pelo Calo Jurídico (bom senso) e por leis (soluções justas para um certo
problema).

Nem todas as pessoas têm capacidade de exercer direito pois, todos somos diferentes e, para
além disso, a lei aplica-se a todos tendo em conta as suas diferenças.

NORMAS JURÍDICAS

Normas Imperativas/ Normas Proibitivas


Obrigatórias ("jus cogens") (Direito Penal)

Dispositivas Facultativas

No Direito são utilizadas muitas expressões em Latim, pois este teve várias influências que são
originárias do Direito Romano.

IMPORTÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES

O conceito de instituição diz respeito a um conjunto de regras (além das jurídicas, existem
também as religiosas, as de cortesia, as familiares) que dizem aos indivíduos como se devem
comportar em sociedade.

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

As instituições são importantes, visto que servem de base para o Homem, indicando-lhe um
certo rumo, criando um consenso à volta de alguns valores (como o da justiça) e libertando-nos
do caos. Proporcionam, portanto, um contexto de ordem, direção e estabilidade.

Permitem, ainda, que o Homem interiorize e conheça as regras a seguir, por isso, contribui para
o bom funcionamento social – Função De Estabilidade Normativa.

Para além disso, são uma forma de relacionar os diferentes papéis de cada indivíduo. O papel
que temos em casa é diferente daquele que temos na faculdade, mas correlacionam-se – Função
De Integração Entre As Unidades.

Como as instituições implementam normas e criam “papéis”, o Homem não precisa de estar
constantemente a refletir sobre o que fazer, visto que, há, de certa forma, um plano que lhe é
dado pelas instituições – libertar as pessoas das decisões constantes.

NECESSIDADE DO DIREITO

As três Funções do Direito:

ORDENADORA
O Direito ordena a liberdade individual, criando normas que regulam o comportamento dos
indivíduos e das comunidades. Regula as situações de tensão, com ordem, permitindo que os
indivíduos e a sociedade se possam desenvolver.
ESTABILIZADORA
O Direito cria segurança e certeza jurídica, ou seja, com a positivação das normas os indivíduos
podem criar expectativas, pois sabem que elas se aplicam a si e a todos os outros.
CONFORMADORA
Também pode ser chamada função transformadora, modeladora, educativa, pedagógica ou
formadora. Aqui o Direito não olha para os indivíduos como eles são efetivamente, mas como
eles deviam ser. Neste caso, o Direito tem um papel ativo e impulsionador na evolução social,
pois procura alterar as conceções, os valores e as condutas dos indivíduos e, consequentemente,
a realidade social, com a finalidade de passar para um “patamar” de desenvolvimento mais
justo, realizar a ideia de justiça.

O Homem é um ser social que apenas na convivência com os outros pode evoluir e realizar-se.
É esta natureza ambivalente como indivíduo autónomo e ser social que explica a diversidade de
interesses, a “sociabilidade não social” segundo Kant.

Sem a Função Ordenadora e Disciplinadora do Direito estes conflitos poderiam conduzir a um


estado de desordem em que iria prevalecer a violência.

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A Sociedade muda, mas a Norma não é atualizada (o Direito é o espelho da Sociedade).

Carruagem (tenta alterar a


Puxa o Comboio
sociedade “puxando-a “)

Os valores da Sociedade mudam e o Direito obrigatoriamente tem de mudar, contudo ao longo


da história houve diferentes soluções.

Como foi visto até agora, o Direito tem como principal objetivo prevenir e resolver conflitos
(LIBERDADE DE AUTODETERMINAÇÃO (autonomia)).

Exemplo: contratos; ferramentas jurídicas; relações físicas (compra de um café,


transportes públicos)

As Regras Jurídicas são aplicadas quando há um choque de interesses (escolha de valores).

PROTEÇÃO DOS MAIS FRACOS

Na sociedade somos todos diferentes, sendo que uns possuem mais capacidades que outros, uns
são mais fortes e outros são mais fracos. Quem não respeitar esta lei poderá ter consequências a
nível jurídico.

Perante a Lei, um indivíduo é maior de idade (tem capacidade de reger o seu poder /património
sozinho) a partir do momento que atinge os 18 anos. Antigamente, só a partir dos 21 anos e que
eram considerados maiores de idade.

LEI DO CONTRATO NUPCIAL (1977)

Nos dias de hoje, a idade aceite para casar é aos 16 anos, mas antigamente era mais cedo. Isto
origina uma contradição em relação à idade mínima de 21 anos para atingir o dito maior de
idade.

É possível realizar emancipação somente em relação ao casamento ( não tem 18 anos, mas já
tem capacidade de exercício) e não em relação ao maior de idade. Esta emancipação não
desaparece com o divórcio nem com a morte de um dos cônjuges, mas se for inválido, ou seja,
se for coagido a casar, este contrato poderá ser anulado- a emancipação desaparece.

Aos 16 anos o jovem pode-se casar sem a autorização dos pais, mas continua a não exercer, ou
seja, continuam a ser os pais a representar o menor de idade até este atingir os 18 anos. A
fixação da idade poderá ser injusta, pois o indivíduo pode-se tornar maior mesmo que não tenha
maturidade para tal.

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PRECRISÇÃO vs. CADUCIDADE

Desde já, é necessário salientar que estes dois conceitos têm significados distintos. A Prescrição
é a consequência fora do tempo (esse direito já prescreveu), sendo que a exigência deste direito
já não pode recorrer a tribunal, mas continua com o direito. A Caducidade, por outro lado, é
quando um direito acaba, “morre”.

Exemplo: Direito de Crédito (ajuda o indivíduo que deve dinheiro e não o credor)

O António deve 100€ ao Bento (credor). SE não pagar poem a ação em tribunal, mas ao deixar
prescrever o Direito (prazo de 20 anos), o Bento já não pode recorrer ao tribunal para pedir
novamente o Direito. Somente o António é quer pode ir novamente a tribunal pedir o Direito.

A solução justa era não dever prescrever, mas ao haver a prescrição e a caducidade existe
segurança jurídica.

25 ABRIL 1974
A primeira preocupação foi fazer uma Constituição (organização
fundamental do Estado Português) sendo que, tal aconteceu somente em 1976.

LEI DA LIBERDADE

Nos contratos não existe, perante a Lei, uma validade fixa, ou seja, basta as duas partes estarem
de acordo.

Exceções: compra e venda de imóveis tem de ser por escrito (por exemplo por um
advogado). Caso isso não aconteça o contrato é dado como nulo (negócio é nulo). Esta
nulidade do contrato é declarada pelo tribunal.

TRIBUNAIS DA RELAÇÃO (2ª INSTÂNCIA)

Funcionam como tribunais de recurso, ou seja, em regra o cidadão dirige-se a um tribunal de 2ª


instância quando não concorda com a decisão final do tribunal da 1ª instância.

CONTRATO DE COMPRA E VENDA

Se o contrato for válido e se um dos sujeitos não pagar ou não entregar o que foi comprado, o
contrato mantem-se válido.

LEIS ATENDEM À DESIGUALDADE

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Quem tem a arte de bem falar e persuadir o outro, está a aproveitar-se das suas fraquezas para
seu próprio proveito.

SOLIDARIEDADE SOCIAL

Tem como principal objetivo igualar a população (ser justo).

DEUSA DA JUSTIÇA:

 Espada
 Balança
 Venda nos olhos (a Romana tem venda por isso é que se afirma que esta cria injustiças,
pois aplica o mesmo castigo a todos de igual modo. Por oposição temos a Deusa Grega
que não tem venda)

“ A Justiça é Dura” ---- “ Duralex Sadex”

“Summum Jus, Summa Injuria” ---- “ O Máximo do Direito, o Máximo da Injustiça”

FALAR DA IMPORTABILIDADE ≠ INIMPUTABILIDADE

Por causa da sua condição a justiça não pode “castigar” porque não estava consciente dos seus
atos.

Quem é “maluco” e tem atitudes violentas são internados num hospício (estabelecimento
psiquiátrico).

Exemplo: Uma criança com 2 anos verte um copo de vinho noutra pessoa os pais serão os
responsáveis. Mas, se a criança tiver mais de 7 anos esta será responsabilizada a nível civil.

RESPONASIBILIDADE CIVIL

Criança com mais de 7 anos (impotável)

DIREITO E COAÇÃO

VISÃO SOCIOLÓGICA DO DIREITO

O que distingue o Direito das restantes ordens normativas é o facto de este apresentar
coercibilidade (é a força de se fazer impor à força. O Estado serve-se de meios coercivos para
impor a observância das normas) e, portanto, as suas regras têm de ser respeitas, caso contrário,
é-se sancionado. É um instrumento de controlo social eficaz.

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VISÃO JURÍDICA DO DIREITO

O Direito é uma ordem orientada pela ideia de Justiça, este valor é lhe uma referência intrínseca
e, portanto, é errado não o ter em conta na definição. A coercibilidade no Direito só existe para
assegurar a Justiça.

Para o Homem se realizar precisa de estar inserido numa sociedade, para a sociedade prevalecer
é preciso haver Direito vigente, a vigência do Direito é dada pela coercibilidade. Se não
houvesse coercibilidade ninguém obedeceria às normas e instalar-se-ia a Lei Do Mais Forte e a
Anarquia. Desta forma, o recurso a meios de coação para repor a Justiça não só é legítimo como
é também exigível.

Podemos afirmar que sem coação o Direito era uma ordem sem eficácia social e,
consequentemente, um fracasso, uma “lex imperfecta”. Portanto, a essência do Direito deve ser
a Justiça, mas para esta ser assegurada é necessário entregar o monopólio do poder da força ao
Estado e este recorrer a meios coercivos, impondo sanções a quem não cumprir as normas. Em
suma, o Direito é uma ordem de conveniência humana com um sentido, o da Justiça. A Coação
é o ato de coagir alguém a fazer algo sendo não só legítima como também exigível.

“… Se não existir uma sociedade não pode haver Direito e para existir uma sociedade tem de
vigorar um Direito.”

COAÇÃO E COERCIBILIDADE

A coação, como já foi referida anteriormente, consiste no ato de coagir alguém a fazer algo,
sendo não só a legítima, mas também a exigível.

A Coercibilidade, referido anteriormente, é a força de se fazer impor à força. O Estado serve-se


de meios coercivos para impor a observância das normas. Nem todas as normas jurídicas são
dotadas de coercibilidade, somente as normas imperativas/obrigatórias o são.

O Direito não se define pela coercibilidade, mas esta é uma característica ou qualidade que
resulta da própria natureza do Direito.

DIREITO E PODER POLÍTICO

“ O direito não instaura por si mesmo a paz, mas contribui para a manter quando a política a
tenha estabelecido e se encontre em condições de impor e fazer respeitar as soluções por via
jurídica, em lugar de soluções por via de violência.”; “ Se a vontade política entende recorrer
deliberadamente à violência, O Direito não a pode impedir disso.”

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Podemos assim concluir que o Direito não depende da Força na sua validade, no seu sentido
específico ou na sua essência.

Força não é jurídica e a coação é.

JUSTIÇA E SEGURANÇA

O Direito tem dois fins, a justiça e a segurança.

Uma das principais funções das instituições sociais é criar estruturas de ordem e estabilidade
nas relações entre os membros de uma comunidade. O Direito tem como objetivo acrescentar a
segurança ordenadora específica e própria a que se pode denominar “segurança jurídica”.

Cada um pode criar expectativas jurídicas, onde assentam as suas decisões e os seus planos de
vida, pois sabe que todos têm de obedecer ao Direito.

O Direito proporciona aos seus destinatários segurança e certeza jurídica, através de:

 Positivação da lei
 Leis gerais (toda a gente) e abstratas (variedade de situações)
 Aparelho coercivo, que obriga o respeito pelo Direito
 Poder recorrer a um “poder neutro” – poder judicial
 Sujeição da Administração ao princípio da legalidade e imparcialidade
 Garantia do recurso contencioso contra quaisquer atos da Administração

Exige-se ao direito que proporcione segurança, mas este não pode ser o seu único objetivo, é
também necessário que as normas sejam justas, orientadas por valores como a liberdade e a
igualdade. Então, por vezes, a segurança conflitua com a justiça, porque nem sempre o que
transmite mais ordem é o mais justo.

Apesar de a Justiça representar um ideal de hierarquia superior face a Segurança, muitas vezes o
valor da segurança prevalece, pois está diretamente ligada à utilidade, às necessidades práticas e
às urgências da vida.

Exemplos em que prevalece a segurança: princípio da não retroatividade; norma que fixa a
maioridade; normas que fixam prazos de caducidade ou prescrição e instituto do caso julgado.

Existem duas técnicas legislativas:

 “ius strictum”
o legislador é bastante preciso, claro e detalhado, garantindo a segurança jurídica em vez da
justiça;

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 “ius aequum”
o legislador não é tão detalhado e, portanto, há uma grande margem de flexibilidade,
privilegiando a justiça e não a segurança.

DIREITO E MORAL

Como o Homem vive em sociedade, este depara-se com relações sociais, com por exemplo,
jurídicas, amizade, normas, etc.

A Moral é um conjunto de normas, baseadas em costumes e opiniões éticas, que visam o


aperfeiçoamento do ser humano.

Existe diferenças entre as Regras Jurídicas e as Regras Morais segundo estes critérios:

1. Mínimo Ético
2. Heteronomia e Coercibilidade
3. Exterioridade

MÍNIMO ÉTICO

Algumas regras sociais são básicas e indispensáveis à vida em sociedade. Estas regras são
também morais.

Dito pelo crédito


Regras Morais Direito
Todas as regras jurídicas são morais, mas
nem todas as regras morais são jurídicas.

Crítica: Todas as regras jurídicas são regras morais? Não!

Por exemplo, conduzir pela direita é uma regra jurídica em Portugal, mas na Inglaterra conduz-
se pela esquerda e, por isso, não deixa de ser moral. Por esta razão, nem todas as regras jurídicas
são morais.

Direito Moral

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HETERONOMIA E COERCIBILIDADE

Norma jurídica (heterónoma) significa que estas regras são impostas por outros (sociedade).
Estas normas são diferentes das regras morais (autónomas), ou seja, neste caso é o próprio que
forma as normas morais (ético, antiético, bem, mal), nascem com o indivíduo.

A coercibilidade afirma-nos que as regras jurídicas quando não são cumpridas são impostas
sanções. Por outro lado, as normas morais não são coercíveis porque a sociedade não vai impor
nenhum castigo.

Crítica à Heteronímia

Se todas as normas jurídicas são heterónomas, então não existem regras jurídicas autónomas?
Existe!

Autonomia Privada – contrato (contrato modelo, por exemplo, o contrato de compra e venda)

Crítica à Coercibilidade

Muitas das norma jurídicas são facultativas, como por exemplo, o casamento aos 16 anos, a
liberdade contratual (artigo 405º CC). As normas morais não são só autónomas, mas também
partem pelo ambiente em que nos rodeia (por exemplo, se um pai disser ao filho que roubar é
bom , este irá ficar incutido com isso – não é autónoma).

EXTERIORIDADE

Uma das coisas que diferencia o Direito e a Moral é o facto e o primeiro apenas se preocupar
com aquilo que efetivamente afeta a sociedade, ignorando intenções e motivações internas que
nunca se chegam a exprimir. A ação do Direito só se inicia, de acordo com esta teoria, no
momento em que as ações se exteriorizam podendo afetar os demais. O direito não pode atuar
sobre alguém com perfil de assassino se esse perfil não se manifestar através de uma ação
criminosa, ou seja, ignora as intenções e exige a exteriorização da ação.

Crítica: O Direito não se preocupa somente com a ação, também se preocupa com a intenção.
Este, muitas vezes, analisa também a vertente interna do agente, por exemplo, é diferente matar
com intenção ou por acidente. O Direito não pretende impor normas morais, mas isso não

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significa que imponha normas imorais. Dado que o valor na essência do Direito é a Justiça e
este é um valor ético, o Direito respeita a moral.

Daremos o exemplo da neglicência, no qual, o indivíduo que o cometeu não tinha intenções de
tal. A neglicência é oposta do premeditado que ocorre quando o indivíduo teve intenções de o
executar e houve um planejamento da ação.

Mas se houver uma situação em que não haja ato, somente a intenção não há punição. Ou seja, o
Direito só atua se houver uma exteriorização da intenção.

DIREITO E USOS SOCIAIS

USOS SOCIAIS: regras que existem para tornar a vida social mais agradável, não sendo,
contudo, essenciais à vida em comunidade. Quando estes não são cumpridos, pode haver algum
tipo de censura da comunidade pelo seu incumprimento.

Os usos sociais diferenciam-se do Direito no sentido em que não há coercibilidade, quando não
se cumprem não há nenhuma sanção jurídica, mesmo assim, pode haver uma sanção de caráter
social: segregação. Os usos também se diferenciam do Direito por as suas normas não estarem
sistematizadas.

Os usos sociais relevantes são possivelmente transpostos para o Direito, por exemplo, em
determinados lugares no autocarro é exigível a sua cedência a pessoas idosas, deficientes,
grávidas ou com criança ao colo.

DIREITO OBJETIVO VS DIREITO SUBJETIVO

O Direito em sentido Objetivo diz respeito ao complexo de regras gerais e abstratas que rege a
vida em sociedade, definindo assim o estatuto das pessoas e as relações entre elas (relações
sociais). Por exemplo, o Direito Civil, Direito Penal.

Por outro lado, o Direito Subjetivo é a faculdade ou poder que é atribuído pelo Direito objetivo
a certas pessoas no caso concreto, quando cumprem os requisitos do Direito Objetivo. Por
exemplo, a liberdade contratual presente no artigo 405º, do CC.

DISTINÇÃO ENTRE DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO

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O Direito Público é um conjunto de normas que regula as relações e a organização das entidades
públicas, baseia-se no Princípio da legalidade. Tem uma estrutura vertical porque existe
hierarquia.

O Direito Privado é um conjunto de normas que regula as relações entre particulares ou


particulares e entidades públicas desprovidas de ius imperii, baseia-se no princípio da igualdade
e da autonomia privada. Tem uma estrutura horizontal, porque os sujeitos estão ao mesmo nível,
por causa da igualdade na dignidade.

Existem três teorias para distinguir normas jurídicas privadas e públicas:

1. Teoria dos Interesses


2. Teoria da infra - ordenação e supra - ordenação
3. Teoria dos sujeitos

Estas teorias ajudam a distinguir as relações jurídicas entre particulares (entre si), entidades
públicas (entre si) e entre particulares e entidades públicas.

TEORIA DOS INTERESSES

A norma seria considerada de Direito Público se os interesses que a norma quer proteger são
sobretudo Públicos. Por oposição, a norma seria considerada de Direito Privado se os interesses
que a norma quer proteger são sobretudo Privados. – Finalidade da Norma.

Crítica: Muitas das vezes a mesma norma pretende proteger tanto os interesses públicos como
os interesses Privados, sendo impossível fazer esta distinção. Como é exemplo no caso do
Homicídio.

TEORIA DA INFRA - ORDENAÇÃO E SUPRA - ORDENAÇÃO

O Direito Público disciplina as relações no qual uma parte encontra-se em posição de


supremacia e outra de subordinação. O Direito Privado disciplina as relações em que as partes
estão em posição de igualdade.

Crítica: Visto que no direito público por vezes se legisla sobre duas entidades públicas que
estão em posição de igualdade e no direito privado se pode legislar sobre partes que não estão
em posição de igualdade. Temos como exemplo as relações entre pais e filhos menores (neste
caso, estamos perante o Direito Privado e, não existe uma relação de igualdade, visto que o pai
tem mais poder sobre o filho do que o filho em relação ao pai); se a camara do Porto e a camara

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de Gaia quiserem fazer uma ponte a meias (Direito Público), não irá haver supra ordenação
(assim, não é obrigatório no Direito Público, haver relações de supremacia).

TEORIA DOS SUJEITOS

Quando abrange o Direito Público, tratam-se de relações nas quais as entidades públicas atuam
com o seu ius imperii (as normas só serão válidas para alguns).

Trata-se de Direito Privado quando regula a relação entre particulares ou entre particulares e
entidades públicas, desde que estas estejam desprovidas do seu ius imperii (as normas serão
válidas a todos).

IMPORTÂNCIA DA DISTINÇÃO ENTRE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO

Determinação da jurisdição competente: saber qual é o Tribunal que deve resolver o litígio entre
as partes. Quando diz respeito ao direito privado o litígio deve ser encaminhado para o Tribunal
Judicial, quando diz respeito ao direito público o litígio deve ser encaminhado para o Tribunal
Administrativo e Fiscal.

No regime da responsabilidade civil: a indemnização por prejuízos causados por uma entidade
pública pode variar consoante se está no âmbito do Direito Privado ou no Direito Público. Se os
prejuízos foram causados a um particular por um órgão, agente ou representante do Estado a
exercer o seu ius imperii estamos no Direito Público. Se o dano decorrer duma situação em que
a entidade pública abdicou do seu ius imperii estamos no âmbito do Direito Privado.

RAMOS DO DIREITO PÚBLICO

DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

A União Europeia é uma organização económica e política com um conjunto de regras próprio,
diferente do que compõe os Estados-membros e o Direito Internacional. Engloba o Direito
Primário, que diz respeito aos Tratados que fundam a União Europeia e os seus princípios
jurídicos. Engloba também o Direito Derivado, que é baseado do outro, mas possui efeitos
diretos no ordenamento jurídico português.

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Conjunto de normas que regula as relações entre Estados ou entre Estados e entidades
internacionais soberanas, como a ONU e a Santa Sé. As normas resultantes de Tratados ou

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Convenções têm aplicabilidade direta nos Estados que os assinaram, no Direito Português é
através do art.8.º da Constituição.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Conjunto de normas que regula a organização do Estado e dos seus órgãos de soberania, fixa os
princípios fundamentais do Direito Português e desempenha um papel importante na proteção
dos direitos e garantias dos cidadãos. É um ramo hierarquicamente superior.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Conjunto de normas que organiza a Administração Pública, isto é, o conjunto de entidades que
executa funções públicas relevantes: governo, ministérios, autarquias, hospitais públicos, etc.

DIREITO FISCAL

Conjunto de normas que regula os impostos: a sua incidência (o que é alvo de impostos),
liquidação (o valor) e a sua cobrança. Está integrado no Direito Financeiro, que legisla a
recolha, gestão e aplicação dos meios financeiros públicos e no Tributário (taxas e impostos).

DIREITO PENAL

Conjunto de normas que define as condutas consideradas crime e associa-lhes sanções.


Entendemos por crime uma lesão de um bem jurídico essencial para a comunidade. A sanção
pode ser uma pena privativa de liberdade, a prisão, ou uma pena pecuniária, multa (podendo
haver ainda penas acessórias como o serviço comunitário), também pode ser medidas de
segurança, quando se trata de inimputáveis.

DIREITO CONTRAORDENACIONAL

Conjunto de normas que define e sanciona condutas que são infrações menos graves que as
analisadas em Penal – por ex. a conduzir um veículo. Aqui as sanções são sempre pecuniárias:
coimas.

DIREITOS PROCESSUAIS

Conjunto de normas que regulam o processo jurídico em Tribunal. São considerados direitos
adjetivos, pois servem de instrumento dos substantivos – civil, tributário e penal – as regras dos
substantivos definem os direitos e as obrigações de cada sujeito jurídico.

DIREITO DA CONCORRÊNCIA

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Conjunto de normas que visa promover e proteger a concorrência, impedindo concentração de


empresas que levam a monopólios e práticas impeditivas de concorrência.

DIREITO DA REGULAÇÃO

Conjunto de normas que visa proteger os interesses do consumidor nos setores público, privado
e social.

RAMOS DO DIREITO PRIVADO

DIREITO CIVIL

É o núcleo fundamental do Direito Privado, visto que a sua aplicação se estende a todas as áreas
do Direito Privado, salvo aquelas que se tornam objeto de um direito especial. Contém um
conjunto de normas aplicáveis aos seguintes estatutos: pessoal (que define a posição jurídica dos
indivíduos), real (que tem a ver com o património de cada pessoa) e o contratual (que regula a
celebração de negócios jurídicos, o intercâmbio de bens e serviços). Maioritariamente, está
contido no Código Civil e subdivide-se em:

 Parte Geral – subdivide-se em: 1) das Leis, aqui tem as normas sobre as normas, com a
teoria da interpretação e aplicação das leis – 2) das Relações Jurídicas
 Direito das Obrigações – regula o tráfico de bens e serviços, a reparação dos danos e tem
por instituição fundamental o contrato, como forma por excelência de expressão da
autonomia privada.
 Direitos Reais – direitos das coisas, ou seja, regem os direitos que dão aos indivíduos
poderes sobre determinada coisa. A instituição central é a propriedade, mas é também
constituído por Direitos Reais Menores.
 Direito da Família – abrange as relações familiares, regulando as relações de matrimónio,
adoção, parentesco e afinidade.
 Direito das Sucessões – sucessão dos bens do falecido. Pode ser por força: testamentária
(quando a sucessão do património está inscrita no testamento); legítima (quando a pessoa
morre intestada e aplica-se uma hipótese de caráter supletivo); legitimária (quando uma
parte da herança tem de ir para certas pessoas, forçosamente, contra a vontade do autor da
sucessão).

DIREITOS PRIVADOS ESPECIAIS

setores que à partida estavam abrangidos pelo Direito Civil, mas vão autonomizar-se e ganhar
especificações, continuando a fazer parte do Direito Privado.

DIREITO COMERCIAL

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regula os atos de comércio. Regula como é que os bens, meios e serviços das empresas estão ao
serviço para atingir o determinado objetivo. Integra o Direito das Sociedades Comerciais, o
Direitos dos Valores Mobiliários (p. ex. ações da bolsa), o Direito Bancário (regula a atividade
das instituições financeiras e de crédito) e o Direito dos Seguros (regula as instituições
seguradoras e os seus seguros).

DIREITO DO TRABALHO

inicialmente apenas regulava as relações entre o trabalhador e o empregador, mas, hoje, abrange
a proteção dos trabalhadores, a relação entre os sindicatos e empregadores. Reclama regras
específicas, diferentes das do Direito Civil, pois nas relações laborais massificadas deixa de
haver uma relação de igualdade, estando os trabalhadores numa situação de subordinação.

DIREITO DO CONSUMIDOR

destina-se à proteção do cidadão enquanto consumidor de bens e serviços, visto que as empresas
que exploram monopólios têm um grande poder económico mais força que o consumidor.

DIREITO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

regula os direitos sobre os bens imateriais. Abrange os: Direitos de Autor, atribuído sobre as
criações intelectuais artísticas, científicas e literárias (código do direito de autor e direitos
conexos); Direito da Propriedade Industrial, que protege os direitos sobre os processos técnicos,
através de patentes, por exemplo.

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO: resolve situações plurilocalizadas, isto é, em que as


relações privadas que apresentam uma conexão relevante com mais do que um ordenamento
jurídico, sendo preciso decidir qual o ordenamento que deve decidir aquele litígio.

NORMA JURÍDICA

A norma jurídica é uma regra de conduta geral abstrata e coerciva, ditada por uma autoridade
competente (por outras palavras, é uma espécie de mediador entre aqueles critérios jurídicos que
valem na sociedade, valores jurídicos, a norma aplica as decisões jurídicas na sociedade).

Todas as normas jurídicas são compostas por 2 partes:

 HIPÓTESE OU ANTECEDENTE

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Descrição em abstrato de uma situação, facto, acontecimento da vida (por exemplo: quem matar
é punido por 10 anos de cadeia- hipótese “quem matar”), no qual, haverá consequência jurídica
deste comportamento. “facti species” (espécie/tipo de facto) – Descrição
 ESTATUIÇÃO OU CONSEQUENTE
É uma consequência jurídica resultante da verificação da hipótese legal (por exemplo tem de
pagar Y). Os efeitos jurídicos consistem na atribuição de um direito ou na imposição de um
dever.

ART 483 CC (identificar a hipótese e a estatuição).

Uma norma jurídica é considerada incompleta quando não tem ou a hipótese ou a estatuição
(normalmente é a estatuição). Uma norma é remissiva quando esta é incompleta e necessita de
outra norma agregada.

SILOGISMO JUDICIÁRIO

A premissa maior representa a norma, a premissa menor é representada pela situação concreta e
a conclusão é a consequência jurídica prescrita na estatuição da norma. Por exemplo: Premissa
maior - todo aquele que causar danos a outrem fica obrigado a indemnizar o lesado; Premissa
menor - A causou danos na viatura de B; Conclusão - Logo, A está obrigado a indemnizar B
pelos danos causados.

Nestes casos, o tribunal observa o silogismo judicial e depois aplica uma norma. Entende-se por
subsunção quando o tribunal entende que a situação corresponde a hipótese da norma x. O
comportamento é a atitude praticada pelo sujeito (por exemplo: um raio atingiu a casa do
António - não é um comportamento porque não foi provocada por uma ação humana, mas é um
“facti species”).

PREVISÃO OU FACTI-SPECIES

Refere-se ao facto cuja verificação desencadeia a consequência jurídica. Mas, por vezes, os
factos que se encontram na hipótese legal são dados normativos, isto é, conceitos que já são o
resultado da aplicação de outras normas jurídicas (p. ex. o conceito de cidadão).

Além disso, todos os conceitos utilizados pelas normas jurídicas são conceitos análogos, no
sentido que acarretam não apenas o significado de referência comum, mas, principalmente, dão
expressão a um específico sentido jurídico, são noções jurisdicionas – noções que a lei vai
buscar às situações típicas da vida e faz sofrerem uma deformação ao serem incorporadas no
sistema jurídico (por exemplo: prédio no artigo 1322.º, do CC ou quando o conceito de arma
abrange ácidos corrosivos e gases letais).

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Isto faz com que seja a facti-species a identificar, especificar ou determinar a diferença das
situações de facto do ponto de vista do Direito , do naturalista, do sociológico, do económico,
etc. Por isso, é que um jurista na aplicação do Direito não se limita a constatar dados, é preciso
uma intervenção da “species” jurídica, resolver problemas segundo critérios de articulação
interiores, segundo a lógica própria do sistema. Todos os estes conceitos dos quais se esteve a
falar são conceitos normativos.

FACTO JURÍDICO

A hipótese legal não se refere apenas a factos ou situações de facto, visto que contempla, muitas
vezes, dados normativos e aí a hipótese legal parece dirigir-se apenas à descrição de factos,
explicar conceitos jurisdicizados. Mas, os factos que se verificam na hipótese legal são factos
jurídicos, isto é, eventos juridicamente relevantes que produzem efeitos jurídicos – são, então, o
elemento que produz alterações na vida jurídica ou no mundo do direito. Os efeitos jurídicos
traduzem-se sempre na constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica.

FACTOS
JURÍDICOS

Puros Factos Jurídicos Atos Jurídicos

Factos Internos

Declaração Simples Atos Declaração


Factos Exteriores
Quase - Negocial Jurídicos Negocial

17
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Puros Factos Jurídicos Exteriores

Independentes do conhecer, da vontade e do agir do Homem (p. ex. localização de um terreno


ou um incêndio). Puros Factos Jurídicos Internos: factos relacionados com a vida psíquica do
Homem (p. ex. intenção).

Atos Jurídicos

há uma conduta humana dirigida pela vontade, que pode ser por ação, quando não se pode fazer,
ou por omissão, quando não se pode tolerar um comportamento (ex. ação: matar; omissão:
segurança não pode tolerar que um ladrão roube).

Simples Atos Jurídicos

condutas que produzem uma consequência jurídica, que o indivíduo até pode não a ter desejado
e a sua atuação não visava esse efeito (p. ex. incêndio começado por alguém que adormeceu
com uma vela acesa).

Declaração Quase Negocial

exteriorização de vontade que produz diretamente um efeito jurídico, independentemente de a


consequência ser querida pela pessoa, ou não (p. ex. declaração de impostos vai levar ao ter que
pagá-lo).

Declaração Negocial

exteriorização de vontade que produz os efeitos pretendidos (p. ex. testamento, contrato ou a
renúncia de um direito).

DIREITO SUBJETIVO

O Direito Subjetivo, como já vimos anteriormente, é o poder jurídico de pretender/exigir,


livremente, a outrem um comportamento (positivo ou negativo) ou por um ato de livre vontade,
produzir determinados efeitos jurídicos, que inevitavelmente se impõem a outra pessoa (a
contraparte).

A norma estabelece uma relação específica de relação de causalidade, entre os factos a que se
reporta na sua previsão e os efeitos jurídicos prescritos na sua estatuição. Os efeitos podem ser a
imposição de um dever jurídico ou a atribuição de uma qualidade, competência ou faculdade

18
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

jurídica (por exemplo, a atribuição da cidadania portuguesa) ou, ainda, a atribuição de direito
subjetivo.

Quando o direito confere a uma determinada pessoa um poder destinado à satisfação de um


interesse próprio ou alheio, acompanhado da faculdade de dispor dos meios coercivos do
ordenamento jurídico para proteger esse poder, diz-se que lhe atribui um Direito Subjetivo.

O direito subjetivo pode ainda ser:

 Poder Jurídico De Exigir


(quando a obrigação (civil) da outra parte é judicialmente exigível, ou seja, quando a
contraparte não cumpre a obrigação civil a parte com o direito subjetivo pode recorrer ao
Tribunal para a obrigar)
 Poder Jurídico De Pretender
Existe uma obrigação natural (dever moral/social), que está regulada nos artigos 402º a
404º, mas se a contraparte não cumprir, a parte que tem o direito subjetivo não pode
recorrer ao Tribunal (por exemplo, no artigo 1245º - se alguém fizer uma aposta e não a
pagar, a parte que tem o direito não pode recorrer ao Tribunal).

Quando alguém tem um direito subjetivo, a outra parte tem sempre um dever/obrigação jurídico.

TIPOS DE DIREITOS SUBJETIVOS

DIREITOS DE DOMÍNIO

Direitos absolutos, que podem ser opostos contra qualquer pessoa, logo, não precisa de haver
previamente um vínculo jurídico (p. ex. direitos de personalidade, propriedade ou de autor).
Têm eficácia “erga ormes” (contra todos).

DIREITOS DE CRÉDITO

Direitos relativos, que se impõem a certas e determinadas pessoas e só a estas é que se pode
exigir um comportamento positivo ou negativo, esse comportamento é uma prestação (prestação
de facto ou prestação de coisa). Têm eficácia relativa ou inter-partes. Neste direito existe um
vínculo jurídico entre as partes. O “devedor” também tem certos direitos face ao “credor” -
1037º.

DIREITOS POTESTATIVOS

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Direito de por um ato livre de vontade, só de per si (unilateralmente) ou integrado por um ato de
autoridade pública, produzir efeitos jurídicos (constituir, modificar ou extinguir uma relação
jurídica) que, inevitavelmente, se impõem à contraparte, sem esta poder fazer nada, estando, por
isso, num Estado de Sujeição.

- DIREITO POTESTATIVO CONSTITUTIVO


(o titular deste consegue constituir uma relação jurídica entre si e uma contraparte, estando esta
num Estado de sujeição – 414º e 1550º (se tiver um terreno que não tem acesso à via pública
posso ter um direito de passagem/servidão sobre outro terreno, para ter acesso à via pública))
- DIREITO POTESTATIVO MODIFICATIVO

(o titular pode modificar uma relação jurídica que já existe - 1568º (o proprietário do outro tal
terreno pode, por efeitos de incómodo, modificar o caminho pelo qual o titular de direito
constitutivo passa até à via pública))

- DIREITO POTESTATIVO EXTINTIVO

(extinguir uma relação jurídica – 1773º nº3 e 1781 (o divórcio pode ser sem o consentimento de
uma das partes, quando a outra requer a tribunal com algum fundamento, p. ex. a ausência, sem
de que do ausente haja notícias, por tempo não inferior a um ano) )

DIREITOS DE DIREÇÃO

Trata-se de um direito-dever ou direito-função, a ser exercido no interesse, não do seu titular,


mas de terceiro. P. ex., o “poder paternal” (1901º e ss.) é um direito de direção, visto que
alguém tem de reger/dirigir o filho e administrar os seus bens, no interesse deste.

ÓNUS JURÍDICO

Observância de certo comportamento para a obtenção de uma certa vantagem para o agente, ou
como pressuposto da manutenção de uma vantagem ou ainda para evitar uma desvantagem; não
é imposto como um dever. P. ex. ónus da contestação em processo civil – o réu deverá contestar
aquilo que o autor alegou contra ele, para evitar que tal se dê logo como certo e provado; ónus
do registo predial – aquele que adquire um imóvel, se pretende que tal aquisição tenha eficácia
em relação a terceiros, tem de promover a sua inscrição nos livros de registo predial, caso
contrário, aquele que lhe vendeu o imóvel pode vender a outro.

SUJEITO JURÍDICO

Os direitos, deveres, qualidades jurídicas e situações jurídicas, isto é, os efeitos jurídicos,


recaem sempre sobre determinadas pessoas. São, então, imputadas a pessoas. Estas também são

20
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

capazes de ser autores de factos jurídicos voluntários, fazendo atos jurídicos, nomeadamente,
negócios jurídicos.

Os Factos Jurídicos são eventos juridicamente relevantes, que têm efeitos jurídicos.

PERSONALIDADE JURÍDICA

É um centro de imputação de efeitos jurídicos, ou seja, ter a capacidade de ser titular de direitos,
obrigações e qualidades (como a de cidadania). Hoje em dia, todos os seres humanos têm
personalidade jurídica, a partir do momento em que nascem (66º,nº1) e cessa com a morte
(68º,nº1). Mas nem sempre foi assim, p. ex. os escravos não tinham quaisquer direitos.

A personalidade jurídica implica desde logo a titularidade de certos direitos: os direitos de


personalidade; estes são intrínsecos à própria natureza humana, são absolutos (há uma obrigação
passiva universal) e são tutelados, visto que a sua violação gera uma responsabilidade (que pode
ser civil ou penal).

Mas a personalidade jurídica não é só atribuída aos seres humanos, é também atribuída a
pessoas coletivas, ou seja, a organizações humanas que congregam várias pessoas e que se
destinam a alcançar determinado fim. Se for uma mera organização de pessoas é uma
associação. Se congregar pessoas e bens é uma sociedade (com escopo/fim lucrativo). Se for
uma organização só de bens é uma fundação. Diz-se, então, que a lei personifica determinado
substrato organizacional. Há uma representação orgânica das pessoas coletivas, ou seja, atuam
mediante uma pessoa individual que assume determinado órgão, que assuma os interesses e
execute as vontades da pessoa coletiva.

CAPACIDADE DOS SUJEITOS JURÍDICOS

CAPACIDADE JURÍDICA (artigo 67.º)

Esta capacidade jurídica é a aptidão para ser titular de direitos e obrigações, isto é, ser titular de
um círculo maior ou menor de relações jurídicas. Há quem diga que este conceito não é
relevante, pois não acrescenta nada de novo à personalidade jurídica.

CAPACIDADE DE EXERCÍCIO DE DIREITOS

É a capacidade para atuar juridicamente, isto é, adquirir e exercer direitos, assumir e cumprir
obrigações por ato próprio e com eficácia jurídica. É a capacidade de se dispor dos direitos de
que se é titular ou criar novas relações jurídicas, através de atos jurídicos, nomeadamente
negócios. Ao contrário da personalidade jurídica, nem todos os seres humanos em todos os

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

momentos têm esta capacidade (menores - artigo 123.º e interditos - artigo 138.º) e, por isso,
carecem de um representante que, em seu nome e no seu interesse, exerçam tais direitos –
representantes legais – sozinhos não podem reger a sua pessoa e dispor dos seus bens. Mas
também as pessoas dotadas de capacidade de exercício podem fazer substituir-se no exercício de
certos direitos, ou na prática de negócios jurídicos, mediante um representante à sua escolha –
representação voluntária. Há ainda os inabilitados (artigo 152.º), a quem é atribuído um
curador, este tem de autorizar e controlar os negócios do inabilitado, por isso, diz-se que a sua
capacidade de exercício de direitos existe, mas é limitada.

Nos menores de 18 anos, normalmente, os representantes legais são os pais. Há algumas


exceções à incapacidade dos menores – artigo 127.º

Nos interditos, isto é, aqueles que devido a uma anomalia psíquica, surdez, mudez ou cegueira
não se mostrem capazes de governar os seus bens, normalmente, têm como representantes legais
o tutor.

Os inabilitados são quem tem uma anomalia psíquica, surdez, mudez ou cegueira, mas
mostram-se capazes de governar os seus bens, ou até quem abuse habitualmente de bebidas
alcoólicas ou estupefacientes. Os atos destes precisam da autorização de um curador.

CAPACIDADE DELITUAL

É a aptidão para responder por factos ilícitos que a pessoa cometeu, isto é, capacidade para ser
sujeito de uma responsabilidade penal e de uma responsabilidade civil – têm uma capacidade de
imputabilidade, ou seja, capacidade de responder pelos atos que pratica. Do ponto de vista da
responsabilidade civil (488.º), é imputável quem tem a capacidade de entender e querer aquilo
que estava a praticar, sendo, por isso, necessário observar o caso concreto, mas presume-se que
algumas pessoas à partida são inimputáveis (488º,nº2): as pessoas com menos de 7 anos e os
interditos por anomalia psíquica.

Do ponto de vista penal (19.º C.P.), como as sanções são mais graves já se fixa uma idade para
existir responsabilidade – os 16 anos – até aqui todos são inimputáveis, não podendo ser
julgados nem condenados, independentemente do terem a capacidade de entender e querer.

CRITÉRIO DA AUTONOMIA PRIVADA

Imperativas Dispositivas
22

Proibitivas Precetivas Permissivas Interpretativas


INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO
Supletivas

Ficções legais – em vez de remeter para determinadas normas o legislador estabelece que o
facto ou a situação

NORMAS JURÍDICAS

Normas Jurídicas

Normas Normas
Imperativas Dispositivas

Normas Normas Normas Normas


Proibitivas Perceptivas Concessivas Interpretativas

Normas
Supletivas

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

NORMAS DISPOSITIVAS

Aplicam-se caso haja declaração da vontade nesse sentido; normas que podem ser evitadas pelo
destinatário, sendo que este tem a liberdade de afastar a norma por meio de uma dada ação ou
não – ação:

 Normas Permissivas
(Normas que autorizam um determinado comportamento)
 Normas Interpretativas
(Norma que, em caso de dúvida na manifestação de vontade, esclarece o que deve ser feito)
 Normas Supletivas
(só faz sentido no domínio do negocio jurídico ; visam suprimir a falta de manifestação de
vontade das partes. Só intervêm quando as partes não manifestaram a vontade supondo que
estas não o fizeram porque estavam de acordo com os trâmites comuns apresentados no
Código Civil.
o (por exemplo a determinação de quem paga às custas do conservatório no ato
de venda de um imóvel). (artigo 1717 do Código Civil, por exemplo))
Normas que indicam o que fazer quando as partes não declaram a vontade no que diz
respeito a determinadas matérias)

NORMAS IMPERATIVAS

Aplicam-se independentemente da declaração da vontade – Jus cogens; visam atribuir um


sentido a uma declaração ou comportamento de um sujeito jurídico privado; visam fixar um
sentido para as declarações das partes quando elas não o fizeram, artigo 226º e 1424º do CC.

 Normas Percetivas
(Normas que impõe um determinado comportamento)
 Normas Proibitivas
(Normas que proíbem um comportamento. Por exemplo: a norma que pune o furto, o
homicídio, as ofensas corporais, etc.)

CODIFICAÇÃO

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

CÓDIGO

 É uma lei em sentido material, ou seja, um conjunto de normas gerais e abstratas.


 Contém a disciplina fundamental de certa matéria ou ramo do Direito. Esta disciplina é
realizada por uma forma científico-sistemática e unitária.
 Este plano sistemática facilita a construção científica do Direito, pois, põe em evidência os
princípios comuns, as grandes orientações legislativas, os grandes nexos construtivos e
funcionais – articulação entre os diversos institutos.

ESTATUTO

 Lei que regula de forma sistemática e unitária uma certa atividade, carreira ou profissão.
 O Estatuto não tem matéria suficientemente importante para a vida social, nem ampla, ao
ponto de justificar a designação de código.
o Exemplo: Estatuto de Comerciante, Estatuto Disciplinar dos Funcionários Civis do
Estado, Estatuto dos Magistrados Judiciais, etc.

LEIS ORGÂNICAS

 Leis que organizam e regulam o funcionamento de um serviço ou entidade pública.


 A sua matéria também não é suficientemente revelante para criar um Código, à semelhança
dos Estatutos.
o Exemplo: Lei Orgânica do Ministério das Finanças, Lei Orgânica dos Tribunais
Judiciais, Lei Orgânica da APDL, etc.

MICROCÓDIGOS

 Organizados e unificados, mas regulam áreas muito específicas.


 Pequenos diplomas.

LEIS AVULSAS OU LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

 Pela sua organização sistemática, permitem raciocínios e inferências paralelos aqueles que
os códigos facultam.
o Exemplo: Lei do Arrendamento Rural

PRINCIPAIS CÓDIGOS PORTUGUESES

 Código Civil

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Código do Processo Civil


 Código Penal
 Código do Processo Penal
 Código Comercial
 Código Administrativo
 Constituição (é também um código apesar de não se comummente designada como tal)

VANTAGENS DE HAVER DESVANTAGENS DE HAVER


CODIFICAÇAÕ CODIFICAÇÃO

Conhecimento mais fácil do Direito, graças à É inadequada para resolver os problemas de


concentração e sistematização da matéria. uma sociedade em mutação constante e
acelerada, visto que a codificação formaliza e
rigidifica o Direito.

Evita incongruências e contradições ao criar- Não é uma instituição de sistema fechado,


se uma disciplina que é unitária sobre a mas sim uma Forma formadora que postula
matéria. implementação e complementação.

Facilidade em encontrar a solução para o É o resultado a que tende todo o esforço da


problema com que se depara, garças à sua ciência jurídica.
organização.

TÉCNICAS LEGISLATIVAS
As técnicas legislativas são usadas pelo legislador de modo a garantir ganhos de eficiência e de
clareza na elaboração das normas jurídicas e dos códigos, certificando que os códigos não se
mantenham rígidos, mas sim flexíveis.

PARTES GERAIS

 Resulta de uma exigência de técnica jurídica: evitar repetições, fixar os princípios gerais e
disposições normativas, dar resposta antecipada.
 São uma compilação de pré-decisões, ou seja, dão resposta antecipada a um catálogo de
questões, cuja solução é extensível a todas as regulamentações particulares que a lei
estabelece.

26
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Põe em evidência aquelas disposições que são comuns às várias matéria reguladas, evitando
assim repetições (passa a não ser necessário dizer mais do que uma vez aquelas disposições
que são comuns a mais do que uma matéria em particular).
o Exemplo: O I livro do Código Civil chama-se “Parte Geral”, pois tem princípios e
regras que se aplicam a todos os outros livros do Código Civil, ou normas que se
aplicam aos contratos em geral, podendo ainda aplicar-se aos contratos de compra e
venda.

REMISSÕES

 São aquelas em que o legislador, em vez de regular diretamente a questão de direito em


causa, lhe manda aplicar outras normas do seu sistema jurídico, evitando assim a repetição
de normas.
 Norma indireta e não autónoma.
 Podem descrever uma hipótese legal e, depois, mandar aplicar a estatuição de outra, sendo
que isto é o mais comum, mas também pode remeter para a hipótese legal de outra norma.
o Exemplo: Artigo 678º e 692º ou 974º, do Código Civil.
 As Remissões podem ser:
o Em cadeia ou à segunda potência (remissões em que um artigo remete para outro e
este, por sua vez, remete para outro).
 Exemplo: Artigo 433º, 289º, 1269º, do Código Civil.
o Amplas (remetem para outra secção).
 Exemplo: Artigo 913º remete para uma secção do Código Civil.
o Muito amplas (remetem para outro diploma, dando uma função integradora auxiliar
ao regime).
 Exemplo: Artigo 1º do C.P. do Trabalho remete para o C.P. Civil ; artigo
433º.
o Por extensão da aplicação do regime (visam estender a aplicação de um regime a
outras matérias).
 Exemplo: Artigo 939º - manda aplicar as normas da compra e venda a
contratos onerosos.
o Infra sistemáticas (quando o legislador manda aplicar outra norma do mesmo
sistema jurídico, podendo estar no mesmo diploma legal, ou não).
o Extra sistemáticas (remissões para sistemas jurídicos diferentes).
 Exemplo: Artigo 8.º da CRP ou artigo 1625.º remete para o casamento
canónico.

FICÇÕES LEGAIS

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Funcionam como remissões implícitas, ou seja, em vez de expressamente remeter para


normas determinadas que regulam determinados factos ou situações, o legislador estabelece
que o facto ou situação a regular é ou se considera igual àquele facto ou situação para que já
se acha estabelecido um regime na lei.
o Exemplo: Artigo 805º, nº2, alínea c).

DEFINIÇÕES LEGAIS

 Definem determinados conceitos.


 São normas incompletas, visto que não têm nem hipótese legal nem estatuição.
o Exemplo: Artigo 202º definição de coisa; artigo 1577º definição de casamento;
artigo 762º definição de cumprimento.

PRESUNÇÕES

 Judiciais (são feitas pelo julgador/tribunal e só podem acontecer quando há prova


testemunhal).
 Legais (tal como nos diz no artigo 349º do Código Civil, as presunções são “as ilações que a
lei ou o julgador tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido” e, “quem
tem a seu favor a presunção legal escusa de provar o facto a que ela conduz”, artigo 350º,
nº1 do Código Civil.
o Iures et de iure (presunções legais absolutas e irrefutáveis, que nunca podem ser
contrariadas).
o Iuris tantum (presunções legais relativas, podendo ser refutadas mediante prova em
contrário, isto é, cedem perante prova em contrário que não foi acompanhado o
facto presumido).
 Exemplo: Artigo 350º, nº2 (quando a lei nada diz a presunção é deste tipo).

CONCEITOS INDETERMINADOS

 Conceitos que dão maior flexibilidade e que são usados no ius aequum.
 São normas que carecem de preenchimento valorativo, não têm um conteúdo perfeitamente
traçado na lei, fazem com que a lei não se torne demasiado rígida e, desta forma, seja capaz
de acompanhar a evolução da sociedade, pois é possível que sejam aplicados consoante o
caso concreto, dando então a tal flexibilidade ao sistema.
o Exemplo: os bons costumes, prazo razoável, boa fé.

CONCEITOS DETERMINADOS

 Conceitos claros e rigorosos, que são usados no ius strictum.

28
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Conceitos cujos contornos estão perfeitamente traçados na lei, transmitem segurança e


certeza jurídica, pois não há grande margem de interpretação.
o Exemplo: prescrição e usucapião.

CLÁUSULAS GERAIS

 Exprimem através de conceitos indeterminados (artigo 334º do Código Civil).


 É caracterizada pela sua maior abertura, que alarga o seu campo de aplicação, deixando
bastante indefinidos os casos a que virá a aplicar-se.
 O legislador pode recorrer a enumerações, mas estas são meros exemplos (artigo 1083º, nº2
do Código Civil).

Vantagens de usar Cláusulas Gerais Desvantagens de usar Cláusulas Gerais

Têm um campo de aplicação muito


alargado, o que permite evitar lacunas, Traz insegurança jurídica.
situações em que a lei não dá uma resposta.

Permite adequar o direito às


particularidades do caso concreto.

REGULAMENTAÇÃO CASUÍSTICA

 Limita-se a prever e regular grupos de casos especificados, através da tipificação dos


pressupostos da consequência jurídica, fazendo com que a norma tenha facti-species
tipificada.
 É muitas vezes inadequada, já pela própria complexidade da matéria a regular, por se tratar
de relações sociais sujeitas a uma mutação acelerada.

Vantagens de haver Regulamentação Desvantagens de haver Regulamentação


Casuística Casuística

Traz maior segurança e certeza jurídica, Algum sacrifício da justiça, não é


dando maior previsibilidade. adequado para regular matérias complexas.

Torna a lei muito rígida e pouco flexível,


logo, há pouco permeabilidade do Direito
face à evolução das conceções sociais, o
que pode fazer a que haja uma

29
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

desatualização das normas e dificulta a


aplicação das normas ao caso concreto.

SISTEMATICIDADE E O TRABALHO DO
JURISTA
Dada a sistematicidade e articulação podemos conceber o ordenamento jurídico como um
sistema – o sistema jurídico. Desta sistematicidade e unidade do ordenamento jurídico e da
interconexão dos diversos complexos normativos resultam certas repercussões que se refletem
sobre o trabalho preparatório dos textos legais, sobre o trabalho do jurista.

 Para a elaboração de projetos legislativos


o O autor do projeto tem de começar por documentar-se minuciosamente sobre a
história legislativa do setor em causa, estudando a jurisprudência, os dados de
Direito Comparado, isto é, as soluções legislativas dadas ao problema noutros
países, deve ter em conta todas as possíveis ligações do complexo normativo.
o Também terá que faze remissões e ressalvas relativamente a disposições contidas
em outras leis e relativamente a disposições previstas para o projeto em elaboração.
o Tudo dentro de um plano bem organizado, em que se começa pelas disposições
gerais e se termina pelas disposições transitórias.
o Há que ter cuidado com as expressões técnico-jurídicas utilizadas, tem de conhecer
bem as técnicas legisladoras e tem de prestar grande atenção aos problemas
eventualmente suscitados pela entrada em vigor da lei, estabelecendo, por isso, as
necessárias disposições transitórias.
 Os juristas-intérpretes
o Têm de conhecer todo o contexto da lei, pois ao aplicar uma norma está-se a aplicar
todo um sistema jurídico, minuciosamente articulado e coeso.

TUTELA JURÍDICA

NORMA JURÍDICA

 Diferentes das normas morais, das normas de cortesia das outra regras de conduta social

30
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Caracterizam-se pela sua coercibilidade


 Assegurada pelo aparelho de coerção estadual
 A ordem jurídica estadual tem por detrás de si o aparelho estadual (por um lado, impõe e
tutela o direito objetivo e, por outro lado, representa a garantia jurídica dos direitos
subjetivos, dando assim uma consciência prática que contribui para tornar viável um tráfico
económico de bens e serviços, bem como a circulação de valores económicos rápida e
segura ).

Por exemplo: se alguém deve 50 mil euros a outrem e não os paga, o credor pode
recorrer ao Tribunal e, verificada a existência da dívida, o Tribunal condena o devedor a
pagar a dívida (ação declarativa) e se este não o fizer pode dar-se uma execução (ação
executiva) sobre os bens do devedor, ou seja, os seus bens são apreendidos e vendidos,
sendo que o produto da venda vai para o credor.

APARELHO ESTADUAL

 Complexo
 Compreendem tanto a Justiça (conjunto de tribunais que existem e impõe o respeito pelos
direitos, quando este não são voluntariamente respeitados) como a Administração (poder
executivo, cujo principal titular é o Governo, que dá ainda mais consciência à garantia dos
direitos subjetivos, visto que permite a imposição à força da observância da ordem jurídica
ou as sanções correspondentes à violação (inclui polícias, exército, prisões, entre outros))
 Artigo 209º e 210º da CRP

TUTELA PÚBLICA:

meios do Estado tornar efetivas as normas jurídicas garantindo que as normas jurídicas
não são violadas ou quando são despertam um mecanismo nas autoridades competentes.
Em condições normais deve-se recorrer a este tipo de tutela.

TUTELA PREVE NTIVA

São medidas que estão destinadas a impedir a violação da ordem jurídica, a prevenir ou a evitar
a inobservância das normas – medidas preventivas.

Exemplo: quando uma autoridade pública fiscaliza um espaço público. Uma autoridade
pública pode ser: a polícia, guarda florestal, etc.

Podemos ainda dizer que as medidas preventivas podem ser aquelas que proíbem a prática de
determinada atividade ou o exercício de certa profissão àqueles que tenham sido condenados
por determinados delitos.

31
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

TUTELA COMPULSÓRIA

 Atuam sobre o indivíduo que infringiu a norma, com o intuito de o obrigar a adotar o
comportamento devido;
 Nos sistemas jurídicos contemporâneos não existe prisão por dívidas. Em certos caso,
admitia-se que a prisão pudesse funcionar como meio de obrigar o devedor a cumprir uma
certa obrigação;
 Meios compulsivos de tipo privado:
o Direito Civil (exceção de não cumprimento e o direito de retenção, por vezes
chamada por cláusula penal)
o Direito Fiscal (juros de moda têm uma função compulsiva)

TUTELA RECONSTITUTIVA

Medidas que são aplicadas depois da norma ter sido violada e obriga o lesante a constituir a
situação de lesado antes de ocorrer o facto danoso.

Existem três formas:

 Reconstituição “in natura” (execução específica, dá exatamente aquilo que danificou.


Artigo 562º e 827º do CC);
 Reintegração por mero equivalente (quando não é possível a reconstituição natural, não
repara totalmente os danos ou é excessivamente onerosa dá-se o equivalente em dinheiro.
Artigo 566º do CC);
 Compensação (quando o dano não tem natureza patrimonial, o lesante fica obrigado a dar
uma soma pecuniária, como compensação. Artigo 469º do CC).

SANÇÕES PUNITIVAS

Esta tutela aplica- se a casos de violação mais graves da ordem jurídica, por isso aplicam-se:

 Responsabilidades penais (o delinquente é obrigado a prestar contas à própria sociedade


pela violação da ordem estabelecida)
 Responsabilidades civis (danos causados à vitima do delito e, quanto a este aspeto, trata-se
na verdade de proceder à reconstituição da situação anterior ao ato).

Isto significa que o violador da norma não tem exclusivamente uma relação com a pessoa que
lesou, mas tem com toda a comunidade, por ter lesado um bem essencial para a vida em
comunidade (implica penas privativas de liberdade ou pecuniárias).

32
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Por exemplo: se A ataca B causando-lhe lesões corporais, será condenado não só a


repara os danos causados a B como ainda a cumprir uma pena pelo crime de ofensas
corporais.

As penas têm uma função preventiva: positiva e negativa, geral e especial/geral.

 Efeito positivo geral: transmite segurança à comunidade.


 Efeito negativo geral: dissuasão, leva a comunidade a não praticar a mesma ação.
 Prevenção pessoal positiva: funciona como recuperação do delinquente para a sociedade.
 Prevenção pessoal negativa: delinquente não voltará a praticar os mesmos atos. Para além
disso, têm uma função retributiva, na medida em que o castigam pela infração.

INEFICÁCIA E INVALIDADE DOS ATOS JURÍDICOS

A ineficácia e a invalidade dos atos jurídicos dá-se quando alguém pretende obter certo
resultado jurídico, omitindo e não cumprindo requisitos legais.

Há uma ineficácia em sentido amplo, quer dizer, a ordem jurídica reage perante os atos jurídicos
inconformes com as leis impedindo-os de produzir todos os efeitos jurídicos pretendidos. Essa
reação pode ser por inexistência jurídica ou invalidade.

 Inexistência jurídica: quando há um ato, mas nem sequer tem a materialidade própria de um
ato jurídico (artigo 245º do CC), logo, é um ato inexistente em termos jurídicos (por
exemplo: numa peça de teatro ator pede para casar com alguém da plateia);
 Invalidade: um ato que existe materialmente, mas sofre um vício que justifica a sua não
produção de efeitos jurídicos (artigo 285º a 294º do CC). Pode ser a nulidade ou a
anulabilidade.
o Nulidade (artigo 286º do CC): quando o ato que é praticado não chega a produzir
nenhum efeito jurídico e qualquer pessoa pode invoca-la sem dependência de prazo.
o Anulabilidade (artigo 287º do CC): quando o ato jurídico produz os efeitos normais,
mas são efeitos transitórios, a anulabilidade pode ser invocada apenas por
determinadas pessoas dentro de um prazo.
 Ineficácia jurídica em sentido estrito: o ato não é nulo nem anulável, mas é ineficaz, na
medida em que não produz todos os efeitos que poderia. P. ex. 269º se o representante de
alguém exceder os seus poderes num negócio este negócio existe e é válido, só que é
ineficaz em relação ao representado.

TUTELA PRIVADA/AUTOTUTELA DOS PARTICULARES

33
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

As entidades públicas têm de realizar os atos de coerção destinados a prevenir ou a sancionar os


atos ilícitos. No artigo 1º do CPC diz-nos que “ a ninguém é lícito restitui-se ao exercício do
direito de que seja titular por sua própria força e autoridade, salvo nos casos e dentro dos limites
declarados na lei”.

Existem casos declarados na lei em que ação dos particulares pode funcionar como meio de
tutela dos direitos, ou como meio de prevenir a sua violação, nos quais temos:

 Ação direta
 Legítima defesa Artigo 336º a 339º do CC, artigo 20, nº2 da CRP

 Estado de necessidade

O Direito de Retenção também representa uma manifestação da ideia da autotutela privada. Em


termos diferentes, o direito legal de resolução por incumprimento representa igualmente um
meio de autotutela privada

CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS DE TUTELA DO DIREITO

Tutela Jurídica

Heterotutela / Tutela Pública Autotutela / Tutela Particular, com caráter


execional

Heterotutela ou Tutela Pública abrange:

 Tutela Preventiva (em geral) ;


 Tutela Compulsiva (em geral) ;
 Tutela Reconstitutiva ;
 Tutela Punitiva ;
 Tutela que se traduz na recusa de efeitos jurídicos aos atos jurídicos praticados sem
obediência aos requisitos exigidos por lei ou cláusulas contrárias à lei.

Assim, a tutela jurídica não consiste sempre na prática de atos matérias de execução forçada:

 Apreensão de bens
 Aplicação da pena de prisão
 Despejo efetuado por mandato da autoridade judicial ou administrativa

34
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Maioritariamente, as sanções traduzem-se na criação de situações jurídicas desfavoráveis (por


exemplo, constituição de um autor do facto ilícito danoso na obrigação de indemnizar) ou na
não produção dos efeitos de direito pretendidos pelas partes.

A T U T E L A D O D I R E I T O E A T U T E L A D OS D I R E I T O S

Quando falámos em meios de tutela reconstitutivos, referimo-nos a meios de tutela dos direitos
subjetivos, na medida em que só se vai reconstituir ou compensar determinada pela
inobservância do direito específico daquela pessoa. Quando falamos em resolução de um
contrato por incumprimento, em divórcio por violação dos deveres conjugais ou em exclusão de
um sócio por violação dos deveres para com a sociedade são sempre situações que visam tutelar
direitos subjetivos.

Mas os direitos dos particulares não estão só garantidos contra a violação por parte de outros
particulares, também são tutelados face à Administração Pública. Quando o direito de um
particular tiver sido violado por uma autoridade administrativa, o particular cujo direito foi
violado adquire, p. ex., um direito de indemnização contra a Administração Pública e contra os
seus agentes.

Os meios de tutela postos à disposição dos particulares também funcionam como tutela do
Direito (do direito objetivo). P. ex. a faculdade conferida ao titular de um direito de recorrer dos
atos administrativos ilegais é um dos meios de tutela da legalidade dos atos da Administração.
Outro meio de tutela do Direito é a fiscalização da legalidade dos atos pelos superiores
hierárquicos, que podem revogar os atos. A lei tutela um interesse coletivo, através da atribuição
de um direito a um particular, p. ex. art. 1083º, nº2 d) um proprietário naquelas circunstâncias
tem o direito de resolver o contrato, não ficando com a sua casa desvalorizada pela falta de uso,
e dessa forma também contribui para o interesse coletivo, na medida em que outra pessoa
realmente interessada tem a possibilidade de arrendar um imóvel.

SANÇÃO E SISTEMA JURÍDICO

 A Sanção de Invalidade (recusa da eficácia jurídica) é uma ordem diferente da dos outros
tipos de sanções.
 A Sanção Jurídica consiste na “reação da ordem jurídica à inobservância ou
à violação das sua normas”. Esta sanção pode-se situar a dois níveis:

35
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

o Nível próprio das normas que fixam os pressupostos dos atos de exercício eficaz
(válido) de um poder ou competência, ou proíbem certos atos jurídico –
constitutivos ou normativos. A sanção traduz -se na recusa, total ou parcial, de
eficácia jurídica dos atos praticados com incumprimento das ditas normas;
o Ao nível das restantes normas jurídicas, a reação à violação delas traduz-se mais
incisivamente no desencadeamento (produção) de determinados efeitos jurídicos:
 Constitutivos
 Modificativos
 Extintivos
 Impeditivos / inibidores
 Não é possível violar normas jurídicas sem efeitos jurídicos, pois se isto acontecesse
significaria que o sistema jurídico não teria autonomia perante o seu envolvimento político-
social.
 Se aos efeitos jurídicos da violação de uma norma se não seguem medidas práticas
efetuadoras, de forma sistemática e por um longo tempo, então a norma acaba por perder a
qualidade de norma jurídica. Só a sua violação deixa de desencadear efeitos jurídicos.

POSIÇÃOCONSTITUCIONAL E FUNÇÃO DO PODERJUDICIAL

Artigo 202º - CRP

Função Jurisdicional

1. Os Tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em


nome do povo.
2. Na administração da justiça incumbe aos tribunais assegurar a defesa dos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade
democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados.
3. Nos exercício das suas funções os tribunais têm direito à coadjuvação das outras
autoridades.
4. A lei poderá institucionalizar instrumentos e formas de composição não jurisdicional de
conflitos.

A JURISDIÇÃO EM SENTIDO MATERIAL: JURIDIÇÃO E


A DM I N I S T R A Ç Ã O

Imparcialidade:

 Os tribunais estão sujeitos à lei, ao Direito;


 Incompatibilidade

36
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

o Os juízes têm incompatibilidade geral, não podendo exercer outra função pública
com a exceção de docente ou de investigação;
o Os juízes não podem estar expostos a outros interesses – artigo 216º da CRP
 Impedimentos
o Os impedimentos traduzem-se em algo mais concreto, quando é atribuído um caso
a um juiz, ele pode pedir exclusão nas seguintes situações
 Conflito de interesses
 Conflito de interesses durante o decorrer do processo.
 No caso do juiz não o fazer, qualquer das partes pode suscitar o conflito de interesses -
Incidente de Suspeição.

Garantias:

 Estatuto dos magistrados judiciais


o Impedimentos dão origem a pedidos de escusa e incidente de suspeição.

Os juízes têm um impedimento textual relativamente ao exercício de qualquer outra função,


exceto como professores de direito, sendo que não são remunerados – Artigo 216º, nº3 da CRP.

Independência

 Artigo 203º da CRP


 Irresponsabilidade – artigo 216º, nº2 da CRP
o Os juízes nunca podem ser chamados a responder perante as partes do caso em que
tiveram que resolver. A parte lesada não pode acionar diretamente o juiz pela
decisão que tomou. O que as partes podem fazer é responsabilizar o Estado pelo
exercício jurisdicional. Esta característica da irresponsabilidade, é uma garantia de
independência. O juiz não pode estar a pensar que vai ser responsabilizado pelo seu
ato.
 Inamovibilidade – artigo 216º, nº1 da CRP
o Os juízes só podem ser transferidos/suspensos/inabilitados nos termos estritos na lei
 Os juízes não estão dependentes de qualquer ordem do Governo
 Os Tribunais são imparciais e devem obediência só à lei
 Autogoverno – artigo 215º, nº1 e artigo 217º da CRP
o A nomeação, colocação, transferência ou produção, bem como o exercício da ação
disciplinar dos juízes não competem ao Governo
o Existe um estatuto no qual os juízes podem vir a ser responsabilizados.

37
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Conselho Superior de Magistratura que controla e rege todo o núcleo dos


juízes

ORGANIZAÇÃO JUDICIAL

Os Tribunais Judiciais existem:

 Tribunais de 1ª Instância
o Tribunais de Comarca
 Tribunais de 2ª Instância
o São as relações, as quais correspondem distritos judiciais. Atualmente podemos
verificar 4 distritos judiciais e, por sua vez, 4 relações:
 Porto
 Coimbra As relações têm secções especializadas
 Lisboa de jurisdição cível, criminal e social.
Os juízes das relações denominam-se
 Évora desembargadores.
 Supremo Tribunal de Justiça (STJ)
o Órgão superior da Hierarquia dos Tribunais Judiciais
o Têm 4 secções especializadas:
 2 de Jurisdição Cível
 Jurisdição Criminal
 Jurisdição Social
o Os juízes de STJ denominam-se conselheiros

O objetivo da hierarquização dos Tribunais Judiciais é a reapreciação das decisões dos tribunais
inferiores pelos tribunais superiores.

Para além destes existem tribunais de competência especializada:

 Tribunais de Menores
 Tribunais de Família
 Tribunais do Trabalho
 Tribunais de execução das penas
 Tribunais de Instrução Criminal

Fora da hierarquização dos Tribunais Judiciais ainda temos:

 Tribunais Militares
 Tribunais Administrativos (auditorias de Lisboa e Porto e STJ)

38
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Tribunais de Contas

Em cada freguesia pode haver um Julgado de Paz, com competência restrita. Das decisões
desses julgados há sempre recurso para o tribunal de comarca.

Por fim, podemos ainda acrescentar que o Estado é representado junto dos tribunais judiciais
pelo Ministério Público ao qual compete exercer a ação penal, promover a realização do
interesse social e, defender a legalidade democrática.

FONTES DO DIREITO

As Fontes do Direito são os modos de formação ou de revelação do Direito (objetivo). Modos


pelos quais ou através dos quais são produzidas normas jurídicas que seguem as características
previamente indicadas: existência de uma hipótese legal e estatuição, caráter abstrato, geral e
hipotético.

Assi, seriam fontes do Direito:

 Factos normativos
o Factos que se representam como o desfecho ou conclusão de um processo
juridicamente regulado e aos quias o sistema jurídico atribui a qualidade de factos
produtores de normas vinculantes;
o Através deste as normas são postas, são positivadas, transformando-se em Direito
Potestativo.
Que está em vigor num certo momento e,
num certo local. Tem de estar escrito.

Temos 2 tipos de Fontes:

 Fontes Formais
o Factos normativos a que o sistema jurídico imputa efeito de pôr ou positivar normas
juridicamente vinculantes;
 Fontes Materiais
o Factos ou poderes sociais de facto que casualmente originaram e influíram o
processo de produção normativa.

TEORIA POSITIVISTA DAS FONTES DE DIREITO

 Aconselha a distinguir entre imputação e causalidade


 O importante é a decisão da autoridade competente à qual pelo direito é imputada a eficácia
positivadora de uma norma como norma vinculante.

39
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

As fontes o Direito deveriam ser entendidas num sentido jurídico-formal – a validade jurídica
da norma produzida pela decisão não se fundaria no facto “decisão” como mero facto, mas na
norma superior que confere a tal facto eficácia normativa.

FONTES DO DIREITO

As fontes do Direito podem ser:

 Lei
 Assentos
 Costume
 Jurisprudência
 Doutrina
 Princípios Fundamentais de Direito

Fontes Voluntárias Fontes Não Voluntárias


Pressupõem um ato explícito de criação
normativa. Pertencem os princípios fundamentais de
Pertencem designadamente a lei, os assentos, direito e os costumes.
a jurisprudência e a doutrina.

Com base no artigo 1º do CC


Fontes Mediatas Fontes Imediatas
Os assentos, os usos e a equidade. As leis e as normas corporativas.

Do artigo 1º ao artigo 4º do CC, estão estabelecidas as Fontes de Direito

 Artigo 1º : segundo estas disposições são fontes imediatas do direito apenas as leis e as
normas corporativas que não contrariem as disposições legais de caráter imperativo
 Artigo 2º: reconhece ao poder judicial a competência para, nos caso declarados na lei, fixar
por meio de assentos doutrina com força obrigatória geral
 Artigo 3º: “são juridicamente atendíveis quando a lei o determine”, como fontes mediatas
de direito, os usos não contrários aos princípios de boa fé
 Artigo 4º: os tribunais podem recorrer à equidade quando haja disposição legal que o
permita, quando exista acordo das parte «s e a relação jurídica não seja indisponível, ou
ainda quando as partes tenham convencionado o recurso à equidade numa cláusula
compromissória

40
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Podemos assim dizer que a nossa lei não reconhece ao costume o carater de fonte imediata de
Direito.

LEI

Quanto à lei é possível fazer as seguintes distinções:

 Lei em sentido material


Comando geral, abstrato e hipotético produzido pelos órgãos competentes (conteúdo
normativo).
 Lei em sentido formal
Disposições produzidas pelo órgão legislativo por excelência (parlamento).
o Pode ser lei em sentido material (quando contem conteúdo normativo);
o Pode não ser lei em sentido material.
 Por exemplo: AR publica uma lei em que consagra a privatização do Banco
BPN por o considerar falido. 

É uma lei em sentido formal, mas não em sentido material porque não se caracteriza
por ser geral e abstrata, mas antes individual e concreta. Não se trata de um ato com
conteúdo normativo.  

 Constituem Lei (sempre com letra maiúscula)


CRP, Leis de Revisão Constitucional, Leis Ordinárias, Leis de Autorização Legislativa.

COSTUME

 Fonte imediata, porque o vale pelas suas próprias características, o costume exprime o que é
o direito, a emergência de normas na convivência social e que são testadas através da sua
continuada aplicação.
 Os costumes são constituídos por dois elementos fundamentais:
o Corpus: elemento material.
o Prática social constante, repetida (reiterada) de nodo estável numa determinada
comunidade.
o Critério de Resolução de Conflito de Interesses.
 Para que os costumes possam ter valoração enquanto tal acrescenta-se o seguinte:
o Animus: elemento imaterial/espiritual.
o Convicção de que essa prática corresponde a uma exigência de justiça.
o Convicção de juridicidade.

41
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Faz-se assim porque sempre se fez e porque se acredita que esta é a solução mais justa. São
válidas e vigentes, eficazes socialmente.

DOUTRINA

Opiniões, estudos e pareceres elaborados pelos especialistas, por regra, professores e


investigadores de Direito.

Não é fonte de direito, mas tem um papel relevante na criação e aplicação de normas.

JURISPRUDÊNCIA

Conjunto das decisões dos tribunais, que resolvem conflitos específicos entre indivíduos
determinados.

Também não é considerado fonte de direito, apenas vinculam por isso as partes em litígio, não
vinculam nem os tribunais, as autoridades públicas, nem os particulares.

Não é válida a regra dos precedentes, ou seja, invocação de precedentes, casos anteriores. Não
tem jurisprudência um vínculo para o futuro.

 2 situações em que pode ter poder vinculativo:


o Acórdãos do Tribunal Constitucional que declaram com força obrigatória geral
a inconstitucionalidade de uma lei;
o Acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo que declaram a ilegalidade dos
atos normativos produzidos nos âmbitos da função administrativa (ex.
regulamentos se não respeitarem uma lei podem ser declarados ilegais) e
possuem força obrigatória geral.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO

 Ocupam o topo da hierarquia das fontes de Direito.


 Consistem nas primeiras manifestações da ideia de justiça ou ideia de Direito, tendo um
caráter supra legal, acima da lei, e vinculam o legislador constituinte, ou seja, tem caráter
supraconstitucional.
 Tem validade própria o que significa que consistem numa fonte imediata.
 Caráter tendencialmente universal.

42
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA
LEI

No artigo 9º do CC é nos apresentado um texto com um caráter mais didático. Este texto é uma
daquelas “normas” de segundo grau ou normas sobre normas que valem para todo o direito ,
qualquer que seja o ramo em causa. Neste caso, tratar-se-ia de uma norma que pretende
“prescrever” o modo de determinação do conteúdo significativo de todas as restantes normas do
sistema, pelo que, assim, se deveria considerar sendo uma parte integrante de todas as normas
do sistema. Este artigo tem uma disposição legal de caráter percetivo.

INTERPRETAÇÃO DAS LEIS

Disposição Legal:

 Enunciado linguístico;
 Conjunto de palavras que constituem um texto;
 Interpretar é retirar desse texto um determinado sentido ou conteúdo de pensamento.

As normas positivadas em lei são enunciados textuais. As leis traduzem por escritos as normas
que lhe estão imanentes, contudo, pode este processo ser imperfeito ou suscitar dúvidas.

A especificidade de interpretação do texto normativo recebe conotações muito especificas no


âmbito do Direito. Nomeadamente, as palavras podem ter outros significados no âmbito
jurídico.

A norma é constituída por duas partes:

 Hipótese Legal
 Estatuição

Ao formular a hipótese normativa o legislador procura descrever um conjunto de factos


associados a conflitos típicos da sociedade.

 No mesmo texto/lei poderemos ter interpretação diferente sobre ele;


 O tribunal tem de identificar a sua visão;
 Com a separação de poderes ficou decidido que é o tribunal que interpreta a lei e não o
legislador;
 Se o tribunal não estiver a interpretar a lei como o legislador, este pode criar outra lei com o
intuito de esclarecer a lei antiga (lei interpretativa; interpretação autêntica).

43
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Existem dois tipos de interpretação, a autêntica e a doutrinal.

A U T Ê N T I C A ( A R T I G O 1 3 º D O CC )

 O órgão competente que cria uma lei , por exemplo a Assembleia da República, tem
também a competência para a interpretar, modificar, suspender ou revogar. Isto é, depois de
suscitadas certas duvidas acerca do seu sentido e alcance, o órgão que a editou tem a
competência par a interpretar através de uma nova lei. Em suma isto representa uma
manifestação da competência legislativa e tem , por isso, a força vinculante própria da lei;
 As leis interpretativas são aquelas que apenas se destinam a fixar o sentido com que deve
valer uma lei anterior. O artigo 13º do CC diz-nos que “a lei interpretativa integra-se na lei
interpretada”;
 As leis inovadoras contrapõem-se às leis interpretativas;
 Cânones e diretivas hermenêuticas não vinculam o órgão com competência legislativa (lei
interpretativa) fixada por tal órgão com a força inerente à nova manifestação de vontade do
legislador.

DOUTRINAL

 É feita por juristas, logo, não tem força vinculativa nem qualquer tipo de repercussão na
norma – dá-se quando os juristas analisam uma determinada norma e procuram retirar da
mesma um sentido e um alcance;
 Cânones e diretivas hermenêutica têm apenas a força ou poder de metodologia jurídica
correta, do seu maior ou menor acerto na “descoberta” do direito.

CORRENTES DOUTRINAIS

Subjetivista

Dá relevo à “mens legislatoris”, ou seja, na vontade ou na intenção do legislador. Para


interpretar o conteúdo da norma deve ter-se em conta a vontade de quem criou as normas, dando
menos peso ao texto em si.

 Extremos – só interessa a vontade do legislador, mesmo que isso nos conduza para fora do
texto
 Moderados – interessa a vontade do legislador, mas esta tem de ter mínima expressão no
texto da norma – teoria da alusão

44
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Objetivista

Releva a “mens legis”, ou seja, vontade ou intenção da lei. Nesta posição entende-se que aquela
atividade se deve dirigir à descoberta do sentido da fórmula normativa objetivada no texto,
autonomizando este da possível vontade psicológica que esteve na sua origem, tomando-o como
algo de separado da vontade que o engendrou, como dado objetivo a partir do qual se deve
descobrir a solução mais razoável.

Historicismo

O sentido da lei permanece imutável, ou seja, não muda com o passar do tempo nem com a
evolução da comunidade.

Atualismo

O sentido da lei evolui com o passar do tempo, havendo assim uma menor rigidez e uma maior
dinâmica da lei, porque é mutável.

Subjetivismo histórico

Procura-se a vontade do legislador no momento histórico em que escreveu a norma.

Subjetivismo atualista

Procura-se a vontade que o legislador teria agora.

Objetivismo histórico

Procura-se a intenção que está no texto da norma, que não modifica com o tempo.

Objetivismo atualista

Procura-se a intenção que está no texto da norma, mas é possível que esta tenha evoluído com o
passar do tempo.

Argumentos a favor do subjetivismo:

1. Corresponde a um dever de obediência daquilo que o legislador quis fixar (mens


legislatoris);
2. Certeza do Direito: a determinação dessa “vontade” histórica dá maiores garantias de
segurança aos destinatários das normas e promove a uniformidade de soluções;
3. Precisamente por o legislador ser um órgão colegial é mais fácil perceber-se qual era a sua
intenção, porque existem atas, projetos, propostas alternativas… que clarificam a intenção
do legislador.

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Em todo e qualquer caso, permaneceria válido o dever de obediência à “vontade”


real do legislador sempre que a sua descoberta fosse possível.

Argumentos a favor do objetivismo:

1. A norma autonomizou-se do legislador e, por isso, o que se deve ter em conta é apenas a
norma e o seu texto;
2. Como o legislador é um órgão colegial não podemos saber aquilo que o “legislador”
pensou, o que cada indivíduo pensou, daí é esta tese que proporciona mais justiça e retidão,
pelo facto que é objetivo o que está no texto da lei, é mais uniforme;
3. A corrente objetivista com a atualista dá maior maleabilidade à lei, adaptando-a às
circunstâncias atuais.

Podemos assim dizer que só poderá existir colisão entre as duas correntes (a subjetivista e a
objetivista) quando existam aquelas elementos e deles se colham dados seguros acerca do
pensamento real do legislador. Nestes casos, haverá que optar por uma de duas soluções: ou
atribuir a tais elementos valor decisório (ponto de vista subjetivista) ou reconhecer – lhes mero “
valor heurístico de surgirem uma possibilidade interpretativa, a confirmar ou repelir por
intervenção dos outros fatores hermenêuticos”.

ELEMENTOS INTERPRETATIVOS

Os elementos que o intérprete deve analisar, simultaneamente, para fixar um sentido e um


alcance do texto. Os elementos que vamos apresentar a seguir, gramatical e lógico, têm sempre
de ser utilizados conjuntamente.

Elemento gramatical = Texto = Letra da lei (o ponto de partida da interpretação)

 Função negativa: eliminar aqueles sentidos que não têm qualquer correspondência ao texto
da norma
 Função positiva: diz qual é o sentido da norma, sendo óbvio quando o texto aponta para um
único, mas também é possível tirar um sentido de entre os vários possíveis, tendo em conta
que é o mais direto e natural, logo, o mais forte

Elemento lógico = Espírito da lei (não resulta diretamente do texto da norma, mas é a ideia
contida nela no fundo)

 Elemento racional/teleológico – consiste este elemento na razão de ser da lei (“ ratio


legis”),no fim visado pelo legislador ao elaborar a norma. O objetivo que o legislador visava
ao criar aquela norma, para percebê-lo é preciso ter em conta o contexto político,

46
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

económico e social em que a norma foi elaborada, pois assim percebemos melhor a intenção
do legislador e qual o sentido da norma;
 Elemento sistemático – procura olhar para a norma no seu lugar do sistema, tendo em conta
a coerência deste. Olha-se para as normas que fazem parte do mesmo instituto da norma que
está a ser interpretada, as “leis vizinhas”. Considera também “lugares paralelos”, i.e., um
problema que é idêntico, mas é tratado pelo legislador num instituto diferente, tendo em
conta a coerência do sistema, se são problemas idênticos, terão soluções idênticas e pode
haver uma que seja mais explícita e outra mais obscura, logo, é legítimo que se olhe para a
mais clara.
 Elemento histórico – tem em conta todos os materiais relacionados com a história daquela
norma
o História evolutiva do instituto que estamos a analisar
o Analisar a doutrina e textos que estiveram na base daquela norma
o Direito comparado – como os outros países respondem ao mesmo problema
o Trabalhos preparatórios: estudos, projetos, propostas e atas, que nos ajudam a
perceber o sentido da norma.

MODALIDADES OU RESULTADOS DA INTERPRETAÇÃO

Atividade que o jurista desempenha para determinar o sentido e o alcance da norma. São todas
um resultado da interpretação.

Interpretação declarativa: O interprete limita-se a eleger um dos sentidos que o texto direta e
claramente comporta, por ser esse aquele que corresponde ao pensamento legislativo.

Interpretação extensiva: O intérprete conclui que a letra do texto está aquém do espírito da lei,
pois diz menos do que aquilo que pretendia dizer. Desta forma, o intérprete alarga o texto,
dando -lhe alcance conforme ao pensamento legislativo, ou seja, faz corresponder a letra da leia
o espírito da lei. Não é considerada uma lacuna, pois os casos que não são diretamente
abrangidos pela letra são, incontestavelmente, abrangidos pelo espírito da lei. Da ratio legis
decorre que o legislador se quer referir a um género contudo, porventura fechado numa
perspetiva casuística, apensa se referiu a uma espécie desse género. Assim, esta interpretação
assume normalmente a forma de extensão teológica: a própria razão de ser da lei postula a
aplicação a casos que não são diretamente abrangidos pela letra da lei, mas são abrangidos pela
finalidade da mesma. Mas tem de haver uma mínima correspondência na lei para os casos que
vão ser abrangidos – artigo 9º, nº2.

47
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Argumento de identidade de razão (arg. a apri): se temos 2 situações semelhantes e o


legislador decidiu o que fazer só numa delas, a outra situação, a não regulada, deve ter a
mesma decisão (onde a razão de decidir seja a mesma, a mesma deve ser a decisão);
 Argumento de maioria de razão (arg. a fortiori): quando a lei aplica uma solução para um
regime e tem razões ainda mais fortes para aplicar essa solução a outro regime que exige ou
justifique aquele regime.

Interpretação restritiva: Quando o intérprete conclui que a letra da lei vai para além do espírito
da lei e, por isso, o intérprete restringe o elemento gramatical, para que fique conforme o
elemento lógico. Também aqui, a ratio legis terá uma palavra decisiva. Assim, o sentido fixado
é um dos possíveis, respeitando a teoria da alusão, consagrada no nº2 do art.9º do Código Civil.

 Argumento: onde termina a razão de ser da lei termina o seu alcance (cessante ratione legis
cessat eius dispositio), ou seja, só se aplica aos casos que estão na ratio legis, os outros já
não estão ao alcance da lei.

Interpretação revogatória ou ab-rogante: Apenas se dá quando o legislador não se conseguiu


mesmo exprimir de forma correta, nem deu para entender qual é a hipótese legal (tomada à
letra, abrange outras que decididamente não estão no espírito da lei, poderá falar-se de
interpretação corretiva). O texto já não corresponde, de todo, a ratio legis e tem de se corrigir e
revogar a norma. A interpretação revogatória ou ab-rogante terá lugar apenas quando entre duas
disposições legais existe uma contradição insanável ;

Interpretação enunciativa – o intérprete deduz de uma norma um preceito que apenas está
virtualmente contido, através de inferências lógico-jurídicas que assentam nos seguintes nos
seguintes tipos de argumentos:

 Argumento “a maiori ad minus” – a lei que permite o mais também permite o menos (se
pode vender também pode arrendar)
 Argumento “a minori ad maius” – a lei que proíbe o menos também proíbe o mais (proíbe
arrendar também proíbe vendar)
 Argumento “a contrario” (sensu) – deduz-se de um ius singulare, isto é, da disciplina
excecional estabelecida para certo caso, um principio – regra de sentido oposto para os
casos não abrangidos pela norma excecional. Assim, a partir de uma norma excecional,
deduz-se a contrario que os casos que ela não contempla na sua hipótese seguem um
regime oposto, que será o regime – regra. (artigo 11º).

48
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

POSIÇÃO DO CÓDIGO CIVIL- ARTIGO 9º

Não refere nem a tese subjetivista nem a tese objetivista, são usadas expressões neutras.

 Quando o intérprete faz a interpretação de uma norma não pode olhar só para o texto. É
preciso ter em conta vários elementos:
o Elemento gramatical – 9 nº1 “a partir do texto”, mostra que a letra da lei é o
ponto de partida e o nº2 define a letra da lei como limite da tarefa de interpretar
(teoria da alusão – função negativa). O nº3 tem a função positiva do texto da lei,
dar mais apoio ao sentido que condiga melhor com o significado normal das
expressões utilizadas.
o Elemento lógico =espírito da lei; 9 nº1 refere-se a ele como “pensamento
legislativo”, a sua referência demonstra que o elemento lógico e o gramatical
têm que ser utilizados conjuntamente, a partir do texto procura-se o espírito.
o Occasio legis – referida no 9 nº1 como “circunstâncias em que a lei foi
elaborada” – mostra que as circunstâncias da altura em que a norma foi
elaborada são importantes para apurar a ratio legis (a intenção do legislador =
subelemento lógico)
o Elemento sistemático – 9 nº1 referido como “unidade do sistema jurídico” - as
normas têm todas um objetivo comum, tal faz com que as consideremos um
sistema, coerentes entre si (p. ex. qualquer interpretação tem de ser conforme às
leis da CRP).

INTEGRAÇÃO DA LEI

Mesmo o legislador mais prudente não é capaz de prever todas as situações da vida social que
merecem tutela jurídica, pois há situações que ainda não são conhecidas e outras matérias para
as quais o legislador não se sentiu habilitado de legislar, deixando, então, espaço para casos
omissos – lacunas – situações da vida social que merecem ser tuteladas pelo Direito, mas
carecem de regulamentação jurídica, não tendo nenhuma norma que se lhe aplique.

É necessário um processo de integração da lei. É proibido ignorar as situações omitidas =


lacunas, artigo 8º proibição de norma non liquet, os Tribunais não podem deixar de tomar a
decisão sobre uma situação.

A lacuna é, então, uma falha no Direito, é uma incompletude, visto que se trata de uma situação
da vida social que devia ser tutelada pelo Direito, mas não o é, carecendo de regulamentação
jurídica.

A interpretação dá-se no âmbito do Direito já constituído (secundum legem), enquanto que a


integração já se dá no âmbito em que não há norma jurídica (praeter legem). A divisão entre
estes 2 campos pode ser vista de duas formas:

49
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

 Quando já não podemos fazer uma aplicação extensiva e temos de fazer uma aplicação
analógica. Isto porque na aplicação extensiva abrange-se casos que, supostamente, estão no
espírito da norma, enquanto que a aplicação analógica se aplica a casos que não estão
previstos no espírito da norma;
 Quando a interpretação da norma não tenha a mínima correspondência no texto da norma –
teoria da alusão.

Camadas da ordem
jurídica

Normas Ration Legis - Elemento Princípos Jurídicos


Teológico Fundamentais e valores
jurídicos gerais

LACUNAS JURÍDICAS

Lacunas de 1º nível – quando uma disposição legal não pode ser aplicada sem que haja uma
outra norma que determine um dos seus aspetos. E como essa tal outra norma que vem
completar a 1ª ainda não existe a primeira também não tem efeito e, portanto, há uma lacuna
(apenas na primeira camada).

Lacunas de colisão – quando há uma contradição normativa e não se pode aplicar o critério da
superioridade, porque são as duas da mesma hierarquia, nem se pode aplicar o critério da
posterioridade, porque foram publicadas ao mesmo tempo (1ª e 2ª camada)

Lacunas teleológicas – lacunas que se dão pela ratio legis, pela intenção que o legislador tinha
ao criar a norma, este é o campo de aplicação ideal da analogia

 Lacunas patentes – situações em que a lei não se aplica a um conjunto de casos, que pela
sua finalidade devia aplicar. Há, portanto, um conjunto de casos regulados, mas outros que

50
INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

não. Há aqui uma máxima equalizante do princípio da igualdade, ou seja, tratamos as


situações de forma igual, aplicando a mesma solução para os casos que têm a mesma
finalidade (p. ex. uma lei que regule o transporte terrestre e marítimo com determinada
finalidade, esta finalidade é a mesma para o transporte aéreo, logo, o transporte aéreo
também é como se estivesse lá regulado.
 Lacunas latentes – situações em que a norma se aplica a uma categoria de casos,
abrangendo até uma sub-categoria que não devia, merecia tratamento diferente com uma lei
especial ou excecional. Aqui funciona uma máxima equalizante discriminante do princípio
da igualdade, aplicando-se soluções diferentes a casos que têm finalidades diferentes (p. ex.
na norma em que há responsabilidade civil pelos danos causados pela instalação de
energias, eventualmente a energia nuclear merecia uma norma especial)

Lacunas do Direito - quando os princípios jurídicos fundamentais, que deviam ser transpostos
através de uma norma, não o são. O princípio não está positivado e, por isso, não é vigente.
Aqui é impossível resolver o problema pela interpretação ou integração, para a lacuna ficar
resolvida é precisa a intervenção legislativa, ou seja, não é o intérprete que resolve a lacuna,
mas sim o legislador.

INTEGRAÇÃO DE LACUNAS

1. identificar a lacuna; verificar que há uma situação que carece de regulamentação


2. aplicar o artigo 10º - resolver a lacuna com a analogia legis, ou seja, vai resolver o caso com
a solução prevista para um conflito semelhante. Este é o 1º critério a tentar utilizar, para
haver coerência normativa, os casos semelhantes devem ter uma solução semelhante e para
haver mais certeza, na medida em que as decisões para casos semelhantes são semelhantes.
Há domínios em que a analogia está proibida, p. ex. no direito constitucional, no direito
penal (nas normas incriminadoras), no direito fiscal (normas de incidência) e também as
normas excecionais não são suscetíveis de aplicação analógica nem as enumerações
taxativas.
3. quando não é possível resolver a lacuna pela analogia, o legislador diz que o intérprete pode
criar uma norma geral e abstrata, que inclua casos como o omisso em questão, crie normas
ad hoc, estas só valem na situação concreta para a qual foram criadas, não passa a integrar-
se no ordenamento jurídico, desaparece logo depois de se resolver o caso (10º, nº3).

A P L I C A Ç Ã O A N AL Ó G I C A

Existe um caso omisso, isto é, um caso que não é abrangido por nenhuma lei, mas é uma
situação juridicamente relevante, que merece a tutela do Direito, por isso, vamos abrange-la por
uma norma que tenha um conflito de interesses não igual, mas semelhante, um caso análogo,

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

pois o critério valorativo que levou o legislador a legislar sobre um caso é o mesmo, por igual
ou maioria de razão, sobre o caso omisso. É uma forma de integração de lacunas –artigo 10º,
nº1 do CC. Serve para que haja igualdade, para situações equivalentes soluções iguais, e para
que haja certeza jurídica, na medida em que as decisões são coerentes e uniformes.

N O R M A S A D HO C

São outra forma de integração de lacunas, que está prevista no art. 10º, nº3 do CC, mas que só
se pode aplicar caso seja impossível a aplicação analógica. Aqui o intérprete resolve um conflito
de interesses “segundo a norma que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro
do espírito do sistema”, ou seja, o intérprete pode criar uma norma, desde que esta não ponha
em causa a coerência do sistema jurídico. Claro que esta norma não tem força vinculativa para
casos futuros, a norma formulada vale apenas para o caso sob judice.

NOVOS DESENVOLVIMENTOS METODOLÓGICOS

Integração e interpretação são uma atividade “em continuum”, há uma descoberta ou


desenvolvimento do Direito “praeterlegem”. Já não aceita a teoria da alusão como um limite.

EXTENSÃO TELEOLÓGICA

Aplica-se uma norma a casos que não são abrangidos de forma nenhuma pelo texto da lei, mas,
tendo em conta a finalidade da norma, deveriam ser abrangidos. Aqui não se aceita a teoria da
alusão, consagrada no artigo 9º nº2, como um limite ao intérprete, pois tal dá demasiada
importância ao texto, ao ponto de limitar a tarefa do intérprete. Por isso, passamos a abranger
situações cujo sentido não parece possível retirar da norma, mas tendo em conta a razão de ser
da lei, deve-se aplicar a mesma a outros casos que não têm correspondência literal na norma, é a
ratio legis que torna possível que se abranja esses casos. É um dos novos desenvolvimentos
metodológicos.

INTERPRETAÇÃO CORRETIVA

Quando olhando para a letra da norma se abrange hipóteses que o espírito da lei não comporta.
Aí o intérprete corrige o texto da lei para realizar a sua intenção prática. Assim, revela-se bem a
ênfase dada ao caso concreto, que exige uma solução jurídica adequada.

REDUÇÃO TELEOLÓGICA

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

Quando o texto da norma abrange casos que, pela finalidade da norma, não deveriam ser
abrangidos. Esses casos que não deviam ser abrangidos são excluídos do campo de aplicação da
norma, tendo em conta o princípio do tratar desigualmente o que é desigual.

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

CONFLITO DE LEIS NO TEMPO

Temos conflito de leis no tempo quando se reunirem cumulativamente os seguintes


pressupostos:

 Quando temos sucessões de leis no tempo Lei Nova (LN) e Lei Antiga (LA).
 LA e LN regulam/respondem de modo diferente à mesma questão fundamental de direito.
 A situação a resolver, ou seja, o concreto conflito de interesses está em contacto com a LA e
a LN.

Pode acontecer que a lei nova possa resolver o conflito de interesses, e quando o faz é através de
uma disposição transitória.

Esta disposição traduz-se numa norma da LN que resolve o conflito temporal de leis, criado
pelo inicio de vigência da Lei Nova.

 Carter formal - a LN limita-se a indicar qual das duas 2 leis a lei competente.
 Carter material - a LN em vez de indicar uma das duas leis como competente, cria um
próprio regime diferente do da LN e da LA.

Se não existir disposição transitória: O intérprete tem que resolver, articulando, ter em conta,
aplicando uma das duas normas:

A R T I G O S 1 2 º, N º 2 , D O C C - 1ª P A R T E

 Qualificação: encontrar o problema jurídico a questão fundamental de direito.


 A LN dispõe sobre condições de validade substancial/formal, certos factos ou sobre os seus
efeitos desses factos;
 Aqui a LN só visa factos novos
 Substancial = facto constitutivo: constituição, modificação extensão na relação jurídica.

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INTRODUÇÃ O AO ESTUDO DO DIREITO

A R T I G O S 1 2 º, N º 2 , D O C C – 2 ª P A R T E

 Mas a LN dispões sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo-se dos factos
que deram origem a essas relações jurídicas;
 Neste caso a LN tem aplicação imediata às RJ constituídas antes do seu IV e que persistam
à data desse IV;
 Dois pressupostos:
o Conteúdo: matéria de direitos e deveres entre as partes de 1 RJ
o Abstraindo – quando a LBN tem caracter imperativo
o A LN impõe a sua vontade à vontade as partes, quando a LN regula mas não
abstrai, tem caracter dispositivo – visa factos novos então (argumento à contrario)
aplica-se o 12º, nº2, 1º parte.

A R T I G O 29 7 º , D O C C — L E I S S O B R E O P R A Z O

As matérias de prazos resolvida por este artigo. No nº1 - a LN fixa prazo mais curto que a LA.,
No nº 2 — LN fixa prazo mais longo que a LA. Em qualquer das hipóteses a lei competente em
matéria de prazos é a LN e de aplicação a partir do seu IV

Exceto - 297º, nº1 (final) — se faltar menos tempo na LA, é competente a LA.

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