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"Além dos benefícios para as receitas fiscais estatais — de acordo com a Direção-Geral

do Orçamento, o Estado arrecadou 541,3 milhões de euros de Imposto sobre o Tabaco nos
primeiros seis meses deste ano —, o aumento da taxação dos produtos de tabaco é
também um grande inibidor. Segundo a OMS, é mesmo o preço que mais influencia os
padrões de consumo, sendo também aquele que funciona de melhor forma a curto prazo."

O tema supramencionado encontra-se intimamente relacionado com a matéria das


externalidades e, consequentemente, com a lei da oferta e da procura.

Em economia, as externalidades são os efeitos sociais, económicos e ambientais


indiretamente causados pela venda de um produto ou serviço.

Numa economia de mercado, as escolhas feitas pelos agentes do mercado decorrem da


comparação entre as vantagens e as desvantagens de cada uma das opções. Obviamente se
estivermos perante escolhas racionais. Pressupõe-se também que nessas situações, o agente
económico suporta todos os custos e beneficia de todas as vantagens que decorrem da utilização
do bem. No entanto, há situações em que estas escolhas dos agentes económicos resultam
efeitos positivos ou negativos para terceiros, efeitos estes que não são tidos em consideração
pelo agente económico quando faz a sua escolha. Esses efeitos são designados por
externalidades.

Este efeito externo, que não é tomado em consideração pelo agente, pode originar situações
em que a decisão do agente económico seja, do ponto de vista social, pouco eficiente ou porque:

1) Tomou decisões que produzem efeitos negativos na esfera jurídica de terceiros em


quantidade superior ao desejável.

2) Ou porque acabaram por gerar situações em que o consumo do qual decorrem


externalidades positivas é inferior ao desejável.

A existência de externalidades justifica assim a intervenção pública de modo a corrigir as


decisões dos agentes económicos.

No caso das externalidades positivas, justifica-se que o Estado intervenha, fornecendo o


bem a um preço inferior ao mercado e incentivando, deste modo, o aumento da procura (ex:
programa nacional de vacinação; investimentos privados em infraestruturas e tecnologia). Neste
caso, há uma espécie de benefício ou de fruição passiva por parte dos não beneficiadores do
bem.

Nas externalidades negativas, tenta-se habitualmente diminuir a procura através da


proibição ou de uma tributação agravada (ex.: produtos petrolíferos, álcool, tabaco).
O tabaco é um dos produtos que, em Portugal, suporta mais impostos especiais e,
provavelmente, o que detém a mais alta carga tributária, quando comparada com outros produtos
também sujeitos à fiscalidade indireta (por exemplo, em 2015 os impostos representaram 62% do
preço da gasolina e 53% do preço gasóleo). O imposto especial sobre o tabaco tem um duplo
objetivo financeiro. Por um lado, e tal como outros impostos, ele serve para obtenção de receita;
por outro, é usado para penalizar o consumo de um determinado produto, neste caso o tabaco.

Outrora, a indústria do tabaco provocava uma enorme externalidade negativa para a


sociedade: os não-fumadores também pagavam este custo social. O conceito de externalidade
vem ajudar a explicar a tributação sobre o tabaco, as campanhas elaboradas contra a sua
utilização e os projetos de lei que visam incentivar os produtores de tabaco a deixarem de o
produzir.

A problemática do consumo excessivo de tabaco recai sobre o serviço nacional de saúde pois
sobrecarga o mesmo, sendo necessário desenvolver os recursos humanos e financeiros para
fazer face às emergências dos hospitais, ou seja, as doenças resultantes do hábito de fumar são
muito dispendiosas para os cofres do Estado. Neste sentido, estas despesas podem ser
amenizadas com o montante arrecadado pelo Estado de “541,3 milhões de euros de Imposto
sobre o Tabaco nos primeiros seis meses deste ano”.

O Código dos Impostos Especiais sobre o Consumo fixa que o consumo dos bens que estão
sujeitos a estes impostos (tabaco, hidrocarbonetos e álcool) constitui custos sociais que não são
considerados aquando da fixação dos seus preços pelos agentes económicos privados, mas que
devem ser sustentados pelos respetivos consumidores. Assim, este imposto serve um propósito
extrafiscal, sendo um instrumento de políticas sectoriais, nomeadamente das áreas da saúde,
energia, transportes e ambiental.

Na União Europeia, a carga fiscal que incide sobre o preço médio de venda ao público de um
maço de cigarros oscila entre os 72.1% no Luxemburgo e 84.1 % na Grécia e no Reino Unido.
Portugal encontra-se em linha com esta média, representando a carga fiscal em média 78.4 % do
preço de venda ao público.

Uma das principais medidas previstas pela OMS no plano de ação contra o tabagismo é o
agravamento, austero, das taxas de imposto de forma a regular o acesso e o consumo de tabaco.
A OMS estima que o aumento em 50% dos impostos sobre o tabaco, reduziriam num prazo de 3
anos o número de fumadores em cerca de 49 milhões e a morte de 11 milhões de pessoas. Esta
organização considera que a forma mais eficiente de diminuir o consumo do tabaco é através do
aumento da tributação e refere que, um aumento de imposto de 10%, diminui o consumo de
tabaco em 4% nos países de rendimento mais elevado, e de 5% nos países de rendimento mais
baixo.
MERCADO COM EXTERNALIDADE NEGATIVA NA OFERTA

Para produzir, as empresas de um mercado têm custos - parte destes custos serão pagos
pela empresa e a outra parte será externalizada para os custos serem suportados pela sociedade.
Por exemplo, uma empresa de medicamentos emite poluentes prejudiciais à saúde da população.
Neste caso, o custo da saúde é externalizado para a sociedade.

Tendo em conta que a externalidade gera um

Custo Social custo social maior que o custo privado das


P (Custo Privado + Custo Externo) empresas, haverá um desvio entre os preços e a

Oferta quantidade de equilíbrio que se traduz em ótimo


(Custo Privado) de mercado (Ponto A), e o preço e quantidade
P Ótimo B ótimos para a sociedade como um todo (Ponto B),
A
tal como podemos constatar no gráfico
P
Eq. Mercado
apresentado.

De forma a estimular as empresas a produzir


Procura
(Benefício Privado) no nível de ótimo social, deve-se interiorizar os

Q Ótima Q Eq. Mercado Q custos externos (frutos de externalidades) através


de impostos, taxas ou multas relativas à
quantidade produzida (custos externos gerados).
A interiorização destes custos deslocaria a curva
de oferta para a esquerda até ao ponto de ótimo
social.

MERCADO COM EXTERNALIDADE NEGATIVA NA PROCURA

Ao realizar alguns consumos, os indivíduos têm benefícios e emitem custos sociais. O


consumidor terá um benefício privado, mas o benefício social será menor que o privado, pois tem
que arcar com custos externos. Por exemplo, uma pessoa que fuma provocará um custo de saúde
que será externalizado para a sociedade.
P Tendo em conta que a externalidade gera um benefício
Oferta
(Custo Privado) privado maior que o benefício social, dado os
P Eq. A
Mercado custos externos, haverá um desvio entre o preço
ea B Procura quantidade de equilíbrio definido pelo ótimo
PÓtimo (Benefício Privado)
de mercado (Ponto A), e o preço e quantidade
Benefício Social ótimos para a sociedade como um todo (Ponto
(Benefício Privado-
B), tal Custo Externo) como podemos observar no gráfico
Q Ótima Q Eq. Q apresentado.
Mercado

De forma a estimular o consumo no nível de ótimo


social deverá interiorizar-se os custos externos (frutos de externalidades) através de impostos,
taxas ou multas relativas a quantidade consumida (custos externos gerados). A interiorização
destes custos deslocaria a curva da procura para a esquerda até ao ponto de ótimo social.

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