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Curso: Agências Reguladoras e a Lei n. 14.026/2020.

Parte 2

1. Regulação Econômica:

Objetivos da regulação econômica; Tarifas, revisão e reajuste tarifário;


Modicidade tarifária; inadimplemento; Reequilíbrio econômico-financeiro;
Tarifas sociais e a universalização do acesso.

Prof. Samuel Alves Barbi Costa


Arsae-MG
samuel.costa@arsae.mg.gov.br
REGULAÇÃO

OBJETIVOS DA REGULAÇÃO
ECONÔMICA

PARTE 1
Fundamentos Econômicos

Assim, o mercador ou
comerciante, movido apenas
pelo seu próprio interesse
egoísta, é levado por uma mão
invisível a promover algo que
nunca fez parte do interesse
dele: o bem-estar da sociedade.

Adam Smith e a “Mão Invisível”


Fundamentos Econômicos
Concorrência Perfeita
Em que:
P P = Preço do produto
Q = Quantidade do produto
Cmg = Custo Marginal
D = Curva de Demanda
Qc = Quantidade de equilíbrio em concorrência perfeita
Pc = Preço de equilíbrio em concorrência perfeita

Lucro Econômico Zero


Pc = CMg

Qc Q
Fundamentos Econômicos
Falhas de Mercado
A economia de mercado é o melhor mecanismo para alocar
recursos e organizar a atividade econômica da forma mais eficiente
possível. Porém, nem todo esse funcionamento é perfeito. Algumas
vezes, a livre interação entre agentes econômicos produz distorções
que causam mais efeitos negativos do que positivos. Segundo a
microeconomia, esse evento é chamado de falha de mercado.

Assimetrias de
Bens Públicos Externalidades
Informação

Poder de Monopólios Condutas


Mercado Naturais Anticompetitivas

https://www.sunoresearch.com.br/artigos/falha-de-mercado/
Fundamentos Econômicos
Bens Públicos

Não se pode excluir uma pessoa do


Não excludentes consumo de determinado bem (ou
serviço).

O consumo de uma unidade do bem


Não rivais (ou serviço) não reduz a quantidade
disponível para outros consumidores.
Recomendação de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CFNqAnA7Afk
Bens Públicos Bens excludentes

Calça jeans Uso somente do


comprador

O pagamento pelo bem te garante a


exclusividade no uso
Bens Públicos Não excludentes

Asteroides vão atingir a terra

Proteção é não excludente!

Caroneiro (free-rider)

Não paga e se beneficia


Bens Públicos Bens rivais

Hamburguer Comi, acabou.

O uso/consumo do bem diminui a quantidade


disponível para outras pessoas
Bens Públicos Não Rival

Não custa mais para proteger mais pessoas

Um bem é dito não-rival quando ele pode ser usado (ou consumido) por
muitas pessoas simultaneamente.
Bens Públicos
Características Excludentes Não Excludentes
Bens Privados Recursos Comuns
Jeans Peixes no mar
Rivais
Hamburguer Meio ambiente
Lentes de Contato Estradas Públicas
Bens de Clube Bens Públicos
Netflix Defesa Nacional
Não Rivais
Wi-fi Iluminação Pública
Spotify Segurança Pública
Bens Públicos
Bem público, em Economia, é um bem não-rival e excludente. Há ainda, uma
característica de indivisibilidade, o que faz com que todo indivíduo tenha acesso à mesma
disponibilidade do bem público. Defesa nacional, iluminação pública e praças são alguns
exemplos de bens públicos, pois seu consumo é feito por vários indivíduos sem que seu
custo seja maior do que se fosse destinado a somente um indivíduo.
Bens Públicos
Bem público não é necessariamente um bem
provido pelo Estado ou gratuito.

Por exemplo, podemos citar os softwares


livres, os quais são caracterizados por serem
não rivais e não excludentes, e podem ser
fornecidos por uma empresa privada.

Mas, em geral, a intervenção dos governos é


necessária para aumentar o bem-estar da
população em caso de bens públicos.
Recursos Comuns
A Tragédia dos Comuns

Rivais Não Excludentes

Diferentemente dos bens públicos, os


recursos comuns se esgotam à medida
que as pessoas os consomem.

https://www.youtube.com/watch?v=bbdYNQicSmQ
Externalidades
São efeitos, adversos ou positivos, das nossas escolhas
que recaem sobre as outras pessoas.

Uma externalidade acontece quando um


agente econômico (pessoa ou empresa)
influencia o bem-estar de outro agente
econômico (pessoa ou empresa), e este não
paga ou não recebe nenhum tipo de
compensação por essa influência.

Recomendação de Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=0-kCSQ-nmzU
Externalidades
Poluição: Uma indústria polui o rio em que há
comunidades ribeirinhas e pescadores

Os pescadores tem menos peixes à sua disposição e sentem uma queda em


sua renda. Exemplo de externalidade negativa em que a empresa poluidora
piora o bem-estar dos pescadores, sem pagar por isso.

O papel do Estado é fazer com que o causador da externalidade assuma seus


custos, se ela for negativa, ou receba seus benefícios, se positiva. Por isso,
existem os impostos e as proibições sobre produtos poluentes, como cigarro e
veículos movidos a gasolina (poluição do ar), ou casas de festas (poluição
sonora) ou que possam causar acidentes (bebida alcoólica), assim como os
incentivos e verbas para cultura e educação, entre outros.
Fundamentos Econômicos
Apenas uma empresa
controla todo o mercado.

A mão invisível agora é


visível e material.

Controla preços e
qualidade!

Pior situação possível para


o consumidor.
Economia de Rede
Custo Fixo

Custo que não varia com a quantidade


produzida, ex: aluguel, rede de água

Custo Variável

Custo que varia com a quantidade


produzida, ex: produtos químicos,
energia elétrica
Economia de Rede
Custo Médio

Custo Fixo + Custo Variável


Quantidade Produzida

Custo Marginal

Custo que se tem ao produzir uma


unidade a mais de produto (derivada)
Fundamentos Econômicos
Monopólio Normal
P = Preço do produto
P Q = Quantidade do produto
CMg = Custo Marginal
Cme = Curva de Custos Médios
CMe D = Curva de Demanda
Qm = Quantidade de equilíbrio em presença de monopólio
Pm Pm = Preço de equilíbrio em monopólio
Qc = Quantidade de equilíbrio em concorrência perfeita
Pc = Preço de equilíbrio em concorrência perfeita
Pc
CMg Qm<Qc
Pm>Pc

Falha de mercado com penalização para


D consumidor e maior lucro para a firma.
RMg

Qm Qc Q
Maior preço e menor quantidade
Fundamentos Econômicos

Quem é o
seu
super
heroi?
Economia de Rede
Economias de Escala
(Retornos crescentes de escala)

quanto maior a produção, menor o


custo da unidade produzida

Economias de Escopo

Produção de bens (serviços) variados é


menor que custo se produzir apenas um
deles (ex: Água e Esgoto)
Economia de Rede
Custo Fixo
Poucos conseguem
investir muito
Muito alto dinheiro

Custo Variável Depois de realizado o


investimento, é fácil
atender muitas
Muito baixo pessoas Barreira à entrada
Impede concorrência
Economia de Rede
Monopólio natural surge quando uma única empresa pode oferecer um
bem ou serviço ao mercado inteiro a um custo menor do que fariam duas
ou mais empresas (subaditividade)

Ele aparece quando há economias de


escala na faixa relevante de
produção. Para qualquer quantidade
de produção, um número maior de
empresas leva a uma produção
menor por empresa e a um custo
total médio mais elevado.
Fundamentos Econômicos
P Monopólio Natural
Cme = Curva de Custos Médios
Pr = Preço de equilíbrio do monopólio natural
Qr = Quantidade de equilíbrio do monopólio natural
Situação de Lucro Econômico Zero acontece quando
Pr=CMe
Pm Abaixo de CMe ocorrem prejuízos
CMe Acima de CMe lucros extraordinários
Pr
Qm<Qr<Qc
Pc CMg Pm>Pr>Pc

RMg Como Qc e Pc são inviáveis -> prejuízos


D Solução second best é Qr e Pr
Correção de falhas de mercado via regulação
Qm Qr Qc Q

A Regulação faz o preço de monopólio reduzir e aumentar a quantidade ofertada, sendo


uma situação melhor para o consumidor
Fundamentos Econômicos

As agências
reguladoras
REGULAÇÃO

TARIFA E EQUILÍBRIO
ECONÔMICO-FINANCEIRO

PARTE 2 - TEORIA
Modelos Tarifários
Modelos Tarifários
Regulação por Taxa de Retorno
𝑛 𝑚

𝑃𝑖 × 𝑞𝑖 = 𝐶𝑗 + 𝑟 × 𝑉
𝑖=1 𝑗 =1
Custos Custo de
Em que:
Operacionais Capital
𝑛 – indica os “n” bens ou serviços ofertados pela firma;
𝑃𝑖 - é o preço de venda de um determinado bem ou serviço i;
𝑞𝑖 - é a quantidade prevista de venda de um determinado bem ou serviço i;
𝐶𝑗 - é a parcela dos custos operacionais (de j a m) que a empresa tem que arcar para a
produção do bem/serviço i;
𝑟 - é a taxa de remuneração estabelecida pelo ente regulador para a empresa;
𝑉 - evidencia o valor dos investimentos e dos ativos da empresa.
Modelos Tarifários
Regulação por Taxa de Retorno
• Vantagens:
▫ Mais seguro
▫ Incentiva realização de investimentos para
universalização dos serviços
▫ Facilita subsidiação cruzada
• Desvantagens:
▫ Não existem incentivos a redução de custos e ganhos
de eficiência
▫ Se a taxa de remuneração for superior ao custo de
capital há sobreinvestimento, caso contrário
subinvestimento
Fundamentos Jurídicos
Qualidade de Serviços,
ANA emitirá
Padrões Atendimento aos Usuários
Normas de Referência
e
Normas
Equilíbrio Econômico Financeiro
de contratos PMSB, Plansab, Planos Estaduais

Modicidade Tarifária Garantir


cumprimento Contratos
Tarifas Objetivos de Condições
Mecanismos de indução de e Metas
eficiência e eficácia Metas Regulatórias
Compartilhamento de ganhos de
produtividade Prevenir e
Reprimir
abuso de
Link fundamental com Price Cap poder
econômico Monopólio Natural
Modelos Tarifários
Regulação por Incentivos – Price Cap
𝐼𝑖,𝑡,𝑡−1 − 𝑋𝑖,𝑡,𝑡−1
𝑃𝑖,𝑡 = 𝑃𝑖,𝑡−1 × 1 +
100
Em que:

𝑃𝑖,𝑡 - corresponde ao preço unitário máximo do bem i no período t;

𝑃𝑖,𝑡−1 - corresponde ao preço unitário máximo do bem i no período t-1;

𝐼𝑖,𝑡,𝑡−1 - representa a variação de um índice de preços entre o período t e t-1;

𝑋𝑖,𝑡,𝑡−1 – apresenta o fator X, indicador dos ganhos de produtividade esperados entre o


período t e t-1 na prestação do serviço i.
Modelos Tarifários
Preço/Receita Regulação por Incentivos – Price Cap
P3 2a Revisão Tarifária Link fundamental com a LNS
P1 P2
P0
P3 3a Revisão Tarifária
P1 P2
Ganhos Efetivos P0
de Produtividade P0
Ganhos Efetivos
de Produtividade

0
1 2 3 4 5 6 7 8 Tempo
(anos)
1o Ciclo de Revisão 2o Ciclo de Revisão
Tarifária Tarifária
Modelos Tarifários
Regulação por Incentivos
• Vantagens:
▫ Introdução de incentivos ao desempenho
▫ Estímulo a redução de custos através de ganhos de produtividade
• Desvantagens:
▫ Menor segurança
▫ Caso não exista forte controle, qualidade dos serviços pode piorar
▫ Baixo incentivo a universalização, investimentos centralizados em
áreas rentáveis
Modelos Tarifários
Regulação por Incentivos
 Análise de Fronteiras Estocásticas (Stochastic Frontier Analysis - SFA) Benchmarking
 Método de Mínimos Quadrados (Ordinary Least Squares - OLS).
 Análise Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis - DEA)
 Produtividade Total dos Fatores (Total Factor Productivity – TFP)
 Produtividade Total dos Fatores (Total Factor Productivity – TFP)
Paramétricos Não Paramétricos

Fronteira Não Fronteira Fronteira Não Fronteira

SFA OLS DEA TFP


PRODUTOS DEA – Data Envelopment Analysis – Análise Envoltória de Dados
Função de Produção
OUTPUT

Técnica de programação linear que pode ser


X aplicada a um conjunto de variáveis para
calcular um coeficiente de eficiência para cada
prestador
X X

X Funciona como um liga-pontos


X X

X
X Aponta para os “melhores” prestadores,
construindo uma fronteira não paramétrica
de eficiência

INPUT
Objetivo: Maximizar
INSUMOS
DEA – Data Envelopment Analysis – Análise Envoltória de Dados
Função Custo
(Custo Total/Quantidade)

Cada X é um prestador
CUSTO UNITÁRIO

X Quanto mais distante da fronteira, menor a


X eficiência do prestador em relação aos demais
X
X
X Método bastante rígido, sua aplicação pura
não considera especificidades regionais
X
(fatores de contexto) que podem afetar
desempenho relativo dos prestadores
X
X
X Atenção: Análises estatísticas frias podem
levar a interpretações equivocadas – Tomar
bastante cuidado na aplicação dos modelos e
enriquecê-los com debates e envolvimento
Objetivo: Minimizar OUTPUT PRODUTO
com stakeholders
(Quantidade)
PRODUTOS
SFA – Stochastic Frontier Analysis – Análise de Fronteira Estocástica
Função de Produção
OUTPUT

Paramétrica e de fronteira

X A fronteira é estabelecida com base no método


de Máxima Verossimilhança (Maximum
X X Likelihood)
Ineficiência
Nem todos os parâmetros são conhecidos,
Erro portanto são estimados a partir da amostra. O
X método maximiza a probabilidade dos dados
X X
amostrados assumirem a distribuição
X O erro pode estar associado a esperada.
especificidades regionais relevantes não
X inseridas no modelo.
Separa termo de erro estatístico de termo de
ineficiência e, portanto, a depender dos
propósitos de utilização pode ser mais “justo”
INPUT que o DEA.
Objetivo: Maximizar
INSUMOS
OLS – Ordinary Least Squares – Mínimos Quadrados Ordinários
Identificar relação entre a firma e as condições gerais do
(Custo Total/Quantidade)

mercado Paramétrica e Não Fronteira


CUSTO UNITÁRIO

Menos eficientes
Quanto mais distante da reta de ajuste, maior
X ou menor a eficiência do prestador em relação
X aos demais, a depender da função avaliada
X Erro ou
X
ineficiência? Método menos rígido que os de fronteira, sua
X aplicação em geral é multivariada e pode
considerar especificidades regionais (inclusive
X
com uso de variáveis dummy). Forma
funcional pode ser polinomial (relação não
X
necessita obrigatoriamente de ser linear).
X
X
Atenção: Necessita de boas e confiáveis bases
Mais eficientes de dados. Tratamento estatístico deve observar
requisitos necessários e limitações da
Objetivo: Média - Tendência OUTPUT PRODUTO metodologia
(Quantidade)
PRODUTOS Comparativo entre Metodologias
Função de Produção
OUTPUT

DEA
Melhores práticas
Alta rigidez
DEA X OLS Desconsideração de especificidades
SFA
X X SFA
Fronteira
Moderada para alta rigidez
X X Há alguma consideração de especificidades –
X
X X separação de termo de erro e ineficiência
X
X OLS
X X Não fronteira
Menor Rigidez
Pode considerar especificidades regionais

INPUT
Objetivo: Maximizar
INSUMOS
Benchmarking e avaliação de eficiência
• Importante destacar que:

•O fator X é uma das formas de emulação da competição para melhoria da situação do


usuário, mediante incentivos concedidos ao prestador. Não é a única!

Definição de fator X (bem como processos de revisão tarifária), independentemente de


qual metodologia seja escolhida, são intensivos em dados.

Sem dados confiáveis e exatos, esse tipo de avaliação e a qualidade da regulação fica
bastante prejudicada.
Modelos Tarifários
A regulação também pode apresentar modelos
híbridos, que tentam incluir as vantagens de cada um
dos anteriores.
REGULAÇÃO

TARIFA E EQUILÍBRIO
ECONÔMICO-FINANCEIRO

PARTE 3 - PRÁTICA
Modelos Tarifários - Híbridos
REVISÃO TARIFÁRIA

BALANCETES
CUSTOS OPERACIONAIS
CONTABILIDADE

• Não Administráveis
• Administráveis
(Prestador não tem gerência)
(Prestador tem como gerir)
 Impostos e Taxas
 Pessoal
 Telecomunicações
 Terceiros
 Energia Elétrica
 Outros
 Material de Tratamento
 Combustíveis e Lubrificantes Definição de Fator X é na revisão.
Ele atua nos reajustes compartilhando parte dos
o Observar legislação local e questionar se, de fato, ganhos de produtividade estimados durante os
são não administráveis reajustes anuais.

Devem ser realizadas considerações sobre eficiência: Utilização de métodos de benchmarking / yardstick
competition. Especialmente sobre itens administráveis.
Modelos Tarifários - Híbridos
REVISÃO TARIFÁRIA

CUSTOS DE CAPITAL

BASE NA CONTABILIDADE PATRIMONIAL AUDITADA


Utilização da contabilidade e controles patrimoniais dos prestadores, sendo
CUSTO HISTÓRICO
realizados procedimentos de auditoria para verificação da confiabilidade dos saldos
ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS

ATUALIZADO
e sua correta remuneração.
Atenção: Necessárias considerações sobre prudência dos investimentos
BASE EM EMPRESA DE REFERÊNCIA
Reconstrução fictícia da empresa, estimando toda a sua necessidade de capital a
CUSTO NOVO DE
custos novos (cotação mais atual possível) para composição da remuneração.
REPOSIÇÃO
Atenção: Alterações tecnológicas que promovam redução substancial de custo de
capital penalizam remuneração do prestador
BASE EM PLANOS DE INVESTIMENTO FUTUROS (CONTRATO / PMSB)
Antecipação de recursos e inclusão na tarifa.
RECONHECIMENTO
Atenção: Investimentos antecipados não deveriam ser remunerados, uma vez que
ANTECIPADO
já foram pagos pelos usuários / Abordagem prioritária para prestadores sem fins
lucrativos

DEPRECIAÇÃO E AMORTIZAÇÃO
Modelos Tarifários - Híbridos
REVISÃO TARIFÁRIA

REMUNERAÇÃO DO CAPITAL

A regulação busca definir taxas de retorno “justas”, para assegurar que o prestador seja capaz de recuperar os custos
de captação e de oportunidade do capital empregado, remetendo aos investimentos retornos compatíveis com um
mercado competitivo. O retorno exigido pelos agentes para aportar recursos em um negócio é definido
principalmente em termos dos riscos envolvidos, diferindo de acordo com a fonte de financiamento. Assim, é
necessário obter o custo do capital de terceiros (endividamento) e o custo do capital próprio (remuneração a
investidores/acionistas) e condensá-los em uma única taxa, por meio de uma média ponderada.
Modelos Tarifários - Híbridos
Custo do Capital Próprio (Re) - Equity
Metodologia Capital Asset Pricing Model (CAPM)
𝑅𝑒 = 𝑅𝑓 + 𝛽 [𝐸(𝑅𝑚) − 𝑅𝑓] + 𝑟𝑏r O Custo do Capital Próprio refere-se à remuneração
do investimento realizado pelo prestador com
(Rf) - Taxa de retorno de um ativo considerado livre de recursos próprios, advindos da sua geração de caixa
risco ou de aporte de recursos por acionistas. É
(𝛽) - Coeficiente Beta, medida de risco do ativo em essencialmente um custo de oportunidade, visto que
relação ao risco sistemático da carteira de mercado; o investidor se depara com a escolha entre diferentes
E(Rm) = Expectativa da rentabilidade oferecida pelo remunerações e riscos, que envolvem o risco de
mercado em sua totalidade; liquidez, de crédito, de mercado, dentre outras
incertezas associadas ao investimento
𝑟𝑏r = Prêmio de Risco País

Custo do Capital de Terceiros (Rd) - Debt


Ponderação conforme perfil de endividamento ou perfil
de endividamento desejado
Rd = Ponderação: Selic, BNDES, Outras fontes relevantes...
Modelos Tarifários - Híbridos
REVISÃO TARIFÁRIA

REMUNERAÇÃO DO CAPITAL

Custo do Capital Próprio (Re) - Equity


WACC
Weighted Average Cost of Capital Participação relativa do capital próprio no
financiamento total (We)
ou
Custo do Capital de Terceiros (Rd) - Debt
Custo Médio Ponderado de Capital Participação relativa do capital de terceiros no
financiamento total (We)

WACC = We * Re + Wd * Rd

Composição para definição de taxa de remuneração do investimento


Modelos Tarifários - Híbridos

Exemplo: Nota Técnica Arsae-MG CRFEF 69/2017

http://www.arsae.mg.gov.br/images/documentos/arquivos_alteracoes/NTCRFEF_69_2017_RevCopasa_resultado_final.pdf
Modelos Tarifários - Híbridos
REVISÃO TARIFÁRIA

CUSTOS DE CAPITAL
Por aqui passa a universalização do Acesso – Credibilidade e atração dos investimentos

Depreciação
Base de Taxa de Custo de
e
Ativos Remuneração Capital
Amortização

Ativo Imobilizado – Depreciação Ativo Intangível - Amortização

Perda de valor ao longo do tempo – benefícios fiscais e possibilidade de reposição do capital


Modelos Tarifários - Híbridos
REVISÃO TARIFÁRIA

Receita Requerida
Custo Operacional
Reposicionamento
Tarifário Receita Verificada no
período anterior

Receita Requerida
O total de receitas é segmentado pelo
Custo de Capital Mercado de Referência, retornando o valor
das tarifas. São utilizados arquivos
denominados histogramas de consumo.

Inadimplência
Mais tarde vamos falar de subsídios
Modelos Tarifários - Híbridos
REAJUSTES ANUAIS

REGULAÇÃO POR INCENTIVOS

Reposição por Índices Inflacionários

IRT
Fator X
Índice de Reajuste Tarifário
Componentes Financeiros

Compensações que não incidem na tarifa base


Tarifa Base Tarifa de Aplicação (evita efeito cascata). Incide, por exemplo,
sobre itens não administráveis.

Utilização de metodologia Price-Cap


Modelos Tarifários - Híbridos
Índices Inflacionários,
Contabilidade, Informações
Informações Financeiras e
Financeiras e Operacionais
Operacionais

Custo Operacional
Inflação

Incentivos a
Taxa de Remuneração investimentos e
Eficiência Operacional

Custo de Capital
Fator X CF

Revisão Reajustes
Regulação Híbrida
“Taxa de Retorno” “Regulação por Incentivos”

Obs: Olhando para o passado.


REGULAÇÃO

TARIFA SOCIAL

PARTE 4
Políticas de Subsídios
Definição
VII - subsídios: instrumentos econômicos de política social que contribuem para
a universalização do acesso aos serviços públicos de saneamento básico por
parte de populações de baixa renda;
(Redação pela Lei nº 14.026, de 2020)

• Subsídio Cruzado
 Robin Hood: transfere recursos dos usuários com maior capacidade de
pagamento para repasse aos menos afortunados;
• Garantia de neutralidade sobre a receita do prestador;
Políticas de Subsídios
LNS

Art. 23. A entidade reguladora editará normas relativas às dimensões técnica, econômica e social de prestação
dos serviços, que abrangerão, pelo menos, os seguintes aspectos:
IX - subsídios tarifários e não tarifários;

Art. 29. Os serviços públicos de saneamento básico terão a sustentabilidade econômico-financeira assegurada por
meio de remuneração pela cobrança dos serviços, e, quando necessário, por outras formas adicionais, como
subsídios ou subvenções, vedada a cobrança em duplicidade de custos administrativos ou gerenciais a serem
pagos pelo usuário, nos seguintes serviços:

§ 1o Observado o disposto nos incisos I a III do caput deste artigo, a instituição das tarifas, preços públicos e taxas
para os serviços de saneamento básico observará as seguintes diretrizes:
II - ampliação do acesso dos cidadãos e localidades de baixa renda aos serviços;

§ 2º Poderão ser adotados subsídios tarifários e não tarifários para os usuários que não tenham capacidade de
pagamento suficiente para cobrir o custo integral dos serviços.
Políticas de Subsídios
LNS

Art. 31. Os subsídios destinados ao atendimento de usuários determinados de baixa renda serão, dependendo da
origem dos recursos:

II - tarifários, quando integrarem a estrutura tarifária, ou fiscais, quando decorrerem da alocação de recursos
orçamentários, inclusive por meio de subvenções;

III - internos a cada titular ou entre titulares, nas hipóteses de prestação regionalizada.
Políticas de Subsídios
Destino usuário específico
Internos Ex: Tarifa Social
Tarifários
Subsídios

Entre titulares distintos


Integram estrutura da tarifa Entre Titulares Ex: Subsídio Cruzado!

Ex: Investimentos não


Internos onerosos do poder municipal
Fiscais em seu prestador
(Não Tarifários) Ex: Subvenções da União ou
Emprego de recursos fora Entre Titulares Estado em um dos
da tarifa prestadores

Destino prestador Destino usuário específico


Ex: subvenções, doações, ou Ex: Bolsa água
investimentos não onerosos
Políticas de Subsídios – Pioneirismo de MG
Antes da Arsae-MG Depois da Arsae-MG

O critério anterior relacionava-se ao tamanho do O critério atual para ter o benefício é pela renda
imóvel e ao consumo de água. Como exemplo, na familiar. O benefício será garantido às famílias
Copasa, um imóvel com até 44 m² de área registradas no Cadastro Único para Programas
construída e um consumo de água até 15 m³/mês Sociais e com renda mensal de até meio salário
tinha direito a reduções em relação à tarifa mínimo por pessoa.
residencial normal.

Até 50% de desconto nas tarifas!


Tarifa Social de Minas Gerais influenciou a elaboração do Projeto de Lei do Senado (PLS) 505/2013 (p.5):

“Minas Gerais é o exemplo mais ilustrativo do êxito da iniciativa: este ano, cerca de um milhão de famílias mineiras, ou
3,5 milhões de pessoas, serão beneficiadas com essa tarifa.”
Políticas de Subsídios
A pesquisa da ABAR ainda estimou, para um domicílio com 3 integrantes, renda per capita de 0,5 salário mínimo e consumo
de água de 110L/dia/pessoa, o comprometimento de renda dos seus ocupantes, em 2017, com o pagamento pelo acesso aos
serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário nas hipóteses de serem beneficiários ou não de Tarifa Social. Os
valores estimados foram comparados com os limites de comprometimento recomendados pela OMS, de 3% da renda com o
serviço de água e de 2% com o serviço de esgoto. Sem a Tarifa Social, a renda destas pessoas estaria comprometida acima do
limite definido pela OMS para o serviço de esgotamento. Para o abastecimento de água, este valor se aproxima do limite.
Estas estimativas corroboram a importância da concessão de Tarifa Social como garantia do acesso ao saneamento pelos mais
pobres.

http://abar.org.br/2018/12/26/abar-lanca-pesquisa-sobre-tarifa-social-no-saneamento/
Curso: Agências Reguladoras e a Lei n. 14.026/2020. Parte 2

5. Informações:

Assimetrias e as obrigações de fornecimento aos reguladores das


informações necessárias para o desempenho de suas atividades, na forma
das normas legais, regulamentares e contratuais.

Prof. Samuel Alves Barbi Costa


Arsae-MG
samuel.costa@arsae.mg.gov.br
Legislação Confidencialidade dos dados,
informações estratégicas e LGPD:

No Art. 25 da Lei federal nº 11.445/2007, é estabelecido que os


prestadores de serviços públicos de saneamento básico deverão Prestador deve enviar informações à agência
fornecer à entidade reguladora todos os dados e informações
necessárias para o desempenho de suas atividades, na forma
das normas legais, regulamentares e contratuais.
Cessão de dados a terceiros deve ser protegida,
LGPD em comum acordo com prestador, por termo
Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente poderá ser de confidencialidade
realizado nas seguintes hipóteses:
(...)
II - para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo Se mapeados riscos relevantes, dados pessoais
controlador; podem ser anonimizados
Fundamentos Econômicos
Falhas de Mercado
A economia de mercado é o melhor mecanismo para alocar
recursos e organizar a atividade econômica da forma mais eficiente
possível. Porém, nem todo esse funcionamento é perfeito. Algumas
vezes, a livre interação entre agentes econômicos produz distorções
que causam mais efeitos negativos do que positivos. Segundo a
microeconomia, esse evento é chamado de falha de mercado.

Assimetrias de
Bens Públicos Externalidades
Informação

Poder de Monopólios Condutas


Mercado Naturais Anticompetitivas

https://www.sunoresearch.com.br/artigos/falha-de-mercado/
Fundamentos Econômicos
Assimetria de Informação

A informação não é igual entre as diferentes


partes de um negócio

Traduzindo:
Um sempre sabe mais que o outro...
E pode tentar tirar vantagem disso!

Recomendação de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=yDW5mZRB1iU


Assimetria de Informação
Risco Moral Ação escondida: “Desleixo”

Teletrabalho / Home Office

Contrato de 8h

Como garantir se a pessoa está trabalhando?


Assimetria de Informação
Risco Moral Ação escondida: “Desleixo”

Seguro de Carro

Se não tem seguro, usa estacionamento pago

Se tem, estaciona na rua – Maior risco de furto!


Assimetria de Informação
Característica escondida Seleção Adversa

Seguro
Seguro de Saúde Caro

Saudáveis
Elevação
não
de Preços
contratam

Maiores
despesas
Assimetria de Informação
No saneamento Contratos vs Indicadores

http://www.acertarbrasil.com/

Se dados
Indicadores e Dados
Agência apura problemáticos,
Metas de levantados
indicadores análise
Contratos pelo Prestador
equivocada

http://www.snis.gov.br/projeto-acertar
Legislação
Diagnóstico – Produto 1
Reduzindo a Assimetria
As informações solicitadas pela metodologia servem para mitigar a falha de mercado associada à “assimetria de
informações”, coroada em 2001 nos trabalhos laureados com o prêmio Nobel de George Akerlof, Michael Spence e
Joseph Stiglitz. Estabelecer controles para essa questão é um requisito para o bom funcionamento do mercado, função
mundialmente atribuída às entidades reguladoras.

Cabe ressaltar que as ERIs (Entidades Reguladoras Infranacionais) estão completamente respaldadas em Lei (inclusive
no Novo Marco Legal de Saneamento Básico - Lei 14.026 de 15/07/2020) para esta atividade. Não restam dúvidas de
que as informações do SNIS, por reunirem os dados dos prestadores de todo o Brasil, são essenciais à atividade
regulatória, especialmente em seus processos de regulação tarifária e fiscalizações, portanto não há o que se alegar
desvio de função na atuação das agências em termos da implementação da metodologia.

Ademais, a função das ERIs na metodologia Acertar não se limita às informações do SNIS, mas sim aos PROCESSOS
que geram as informações de uma parte dos indicadores do SNIS, com a finalidade legal de dar segurança à Regulação
no cumprimento de seus objetivos estabelecidos no Art. 22 da Lei federal nº 11.445/2007.
SNIS
O SNIS/Sinisa é essencial para a atividade regulatória, afinal, são as ERI’s que avaliam se a prestação de serviços
públicos está de acordo com os critérios dos contratos e dos demais normativos associados. Monitoramento de
indicadores de desempenho, de custos, investigação e fomento à eficiência e eficácia por meio de comparação de
desempenho de diferentes prestadores, tudo isso é expresso na Lei Nacional de Saneamento. O sistema nacional é
onde as informações dos prestadores são exibidas e se intercomunicam, sendo essencial recorrer a este ferramental
para o cumprimento do papel legal das agências e de suas funções regulatórias.
https://sites.google.com/view/prosun/home?authuser=0
https://sites.google.com/view/prosun/home?authuser=0
Curso: Agências Reguladoras e a Lei n. 14.026/2020. Parte 2

7. Inadimplemento:

Realidade socioeconômica e os problemas gerados pelo inadimplemento.

Prof. Samuel Alves Barbi Costa


Arsae-MG
samuel.costa@arsae.mg.gov.br
Receitas Irrecuperáveis
Alguém sempre vai ter
que pagar a conta.
http://www.arsae.mg.gov.br/wp-

Receitas Irrecuperáveis content/uploads/2021/06/NT_CRE_01_2021_ReconstrucaoReceitaTari


faria_PosCP23-1.pdf

A receita tarifária deve proporcionar recursos suficientes para cobrir as receitas irrecuperáveis, que se referem ao
faturamento perdido devido à inadimplência dos usuários. Considera-se apenas a parcela dessa inadimplência que
realmente não será paga pelos usuários, mesmo após certo prazo e com esforços empreendidos pelo prestador.
http://www.arsae.mg.gov.br/wp-

Receitas Irrecuperáveis content/uploads/2021/06/NT_CRE_01_2021_ReconstrucaoReceitaTari


faria_PosCP23-1.pdf

Inadimplência é mais elevada quanto mais


próximo ao vencimento da fatura, mas tende
a estabilizar em prazos mais longos.
http://www.arsae.mg.gov.br/wp-

Receitas Irrecuperáveis content/uploads/2021/06/NT_CRE_01_2021_ReconstrucaoReceitaTari


faria_PosCP23-1.pdf

A inadimplência é decorrente de
Realidade Socioeconômica Incentivos / Desincentivos
Não limitação de consumo
Juros e Multas incompatíveis

Política de cobrança do prestador

Alocação de riscos pela agência


reguladora em seus métodos de
definição tarifária
Prof. Samuel Alves Barbi Costa
Arsae-MG
samuel.costa@arsae.mg.gov.br
Economista, educador financeiro e colunista da Rede 98. Diretor na
Arsae-MG e coordenador do grupo de indicadores da Câmara
Técnica de Saneamento da Associação Brasileira das Agências de
Regulação (ABAR). Com experiência de 12 anos no setor de
saneamento, é idealizador da metodologia ACERTAR, foi gerente
responsável pela concepção e desenvolvimento do SIR (Sistema de
Informações Regulatórias da Arsae-MG) e do ProSun (Projeto de
Regulação por Exposição). Host do PodCast Regulação em Foco,
professor, palestrante e instrutor.

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