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LISTA DE EXERCÍCIOS 1 - ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO – 1SEM.

2023

1. Quais duas propriedades caracterizam um bem público puro? Explique sua resposta.
R.: Não-exclusividade e não-rivalidade. Um bem público puro não pode ter seu
consumo restringido dada sua produção (não-exclusividade), ao mesmo tempo em
que dada a sua oferta, o consumo de uma unidade desse bem por um indivíduo não
prejudica o consumo por outro indivíduo dessa mesma unidade de bem público
(não-rivalidade).

2. Qual o significado do dilema entre eficiência e equidade normalmente existente na ação do


setor público? Justifique.
R.: O dilema entre eficiência e equidade se baseia no fato de que nem toda solução de
mercado é necessariamente justa e socialmente aceitável. Um exemplo é quando a
solução de mercado resulta em uma distribuição de renda injusta entre os indivíduos
daquela sociedade. Ou seja, o custo de oportunidade entre eficiência e equidade é
positivo uma vez que para alcançar mais equidade, você distorce cada vez mais a
economia, e vice-versa.

3. Sob quais condições e em que sentido os mercados competitivos levam a eficiência


econômica? Mostre as implicações econômicas disso em relação aos preços relativos e
condições que vigoram nas situações de equilíbrio. Explique.
R.: As condições que levam a eficiência econômica são: economia perfeitamente
competitiva; racionalidade dos agentes, de modo que maximizam seu bem estar (lucro
no caso da firma e utilidade no caso do consumidor); os agentes são tomadores de
preço; o processo de mercado gera um resultado geral simultâneo e instantâneo para
todos os mercados. Os mercados competitivos levam eficiência econômica no
sentido de Pareto, isto é, o equilíbrio competitivo é pareto-eficiente, de modo que não
há como melhorar alguém sem piorar alguém. As implicações econômicas dizem
respeito ao fato de que TMS de A = TMS de B = Px/Py = TMT = CMgX/CMgY.

4. Descreva e explique o significado dos dois teoremas fundamentais do Bem-Estar.


R.: Primeiro teorema fundamental do Bem-Estar: o equilíbrio competitivo é
pareto-eficiente, isto é, em uma economia perfeitamente competitiva, há o que
chamamos de eficiência no consumo, na produção e eficiência geral da economia,
fazendo com que essa alocação seja ótima economicamente. Segundo teorema
fundamental do Bem-Estar: qualquer ponto na fronteira de possibilidades de
produção e na curva de indiferença pode ser alcançado com dada redistribuição dos
recursos iniciais, ou seja, uma vez que a tecnologia e as preferências são convexas,
então qualquer situação pareto-eficiente pode ser alcançada a partir de alguma
distribuição dos recursos iniciais.

5. Discuta as seis fontes principais de falhas de mercado que potencialmente justificam a


intervenção do governo no processo de mercado. A existência das falhas de mercado
implicam necessariamente que a intervenção corretiva do governo leva a melhora do
resultado do processo de mercado? Explique e justifique.
R.: 1 - falha de competição (situações não plenamente competitivas); 2 - bens
públicos (para um bem ser completamente suprido pelo mercado ele deve ser rival e
excludente); 3 - externalidades (as ações de um agente afetam um outro, e esse
impacto não é levado em consideração nas suas decisões individuais, em que BMg
priv = CMg priv, fazendo com que BMg social seja diferente do CMg social); 4 -
mercados incompletos (quando os mercados falham em prover um bem, ainda que o
custo dele seja menor do que a disposição a pagar do individuo); 5 - falhas de
informação (para ser economicamente eficiente a informação deve ser completa para
os agentes, no entanto, o mercado falha em prover essas informações de maneira
completa, fazendo com que haja agentes que saibam de alguma informação relevante
que outros não saibam); 6 - economias crescentes de escala (quando as condições de
produção resultam em economias crescentes de escala, o BMg social é diferente do
CMg social). Não necessariamente, uma vez que o próprio governo possui suas
próprias falhas, como informação limitada, controle limitado no que diz respeito à
resposta do setor privado e sobre a burocracia, além das limitações do próprio
processo político.

6. Explique e mostre com auxílio de gráfico por que surge ineficiência na provisão privada de
bens que apresentam possibilidade de exclusão, mas sem rivalidade no consumo, e que tem
custo marginal de uso zero ou muito baixo.
R.: Quando há uma oferta privada de um bem excludente mas não-rival, o mercado
impõe, através do preço, um tipo de racionamento neste bem, de modo que a
quantidade potencial de distribuição desse bem não é plenamente utilizável, gerando
perda de bem-estar, conforme abaixo:

7. Analise o caso de bens cuja exclusão do consumo é possível porém é muito custosa, isto é,
devem ser providos pelo setor privado ou público, ou ambos? Utilize gráfico e justifique sua
resposta.
R.: Para analisar qual setor deve prover esse tipo de bem, é necessário que o
excedente do consumidor deduzido do custo de não implementação do sistema de
preços (CMg x Q max) , seja maior que zero, ou seja, que o ganho líquido de bem estar
pela oferta livre seja positivo.
8. Mostre e explique a condição de ótimo de provimento de bem público puro.
R.: A condição de otimalidade da oferta de Bem Público Puro é tal que a TMT entre
bens privado e públicos seja igual a somatória de todas as TMS entre bens privados e
públicos dos cidadãos. Assim, a eficiência requer que o montante total de bem
privado que o conjunto de indivíduos da sociedade está disposto a renunciar por uma
unidade adicional de bem público deve ser igual ao montante que eles precisam
renunciar para que, tecnicamente (a partir da liberação K e L), seja possível obter uma
unidade adicional de bem público.

9. Defina o eleitor mediano. Em que situação o provimento de bens públicos segundo a


preferência do eleitor mediano implica satisfazer maioria da população, ou isso sempre
acontece? Explique e justifique sua resposta.
R.: O eleitor mediano é aquele para o qual o número de eleitores que preferem um
nível mais alto de dispêndio público é exatamente igual ao número de eleitores que
preferem um nível mais baixo de dispêndio. Na realidade, somente o eleitor mediano
está completamente satisfeito, uma vez que os outros eleitores preferem ou níveis
mais altos ou níveis mais baixos.

10. O que significa o fenômeno do paradoxo do voto e por que é importante controlar a agenda
de votação quando o voto de maioria é empregado? Explique e justifique sua resposta.
R.: O paradoxo do voto é aquele em que não há uma preferência racional, uma vez
que não há transitividade. Assim, A > B, B > C, mas C > A. É importante controlar a
agenda uma vez que se os indivíduos percebem esse problema e a votação tem
alguma sequência, eles podem decidir votar estrategicamente, de modo que ele não
vote primeiramente na sua verdadeira preferência, mas raciocine em função das
consequências de seu voto de modo que na votação final vença a alternativa preferida
por ele.

11. Discuta a consequência da existência de externalidades, isto é, em que sentido a alocação


de recursos será ineficiente?
R.: Uma vez que as ações de um agente tem efeitos sobre outro agente, de modo que
esse último não é ressarcido pelos custos externos que sofre ou não paga pelos
benefícios exter que aufere. Assim, o BMg social será diferente do CMg social,
fazendo com que a alocação de recursos nessa situação seja ineficiente.

12. Descreva, exemplifique, argumente e justifique em qual caso o setor privado pode lidar por
si mesmo com externalidades e, eventualmente, até obter resultados melhores do que uma
intervenção governamental do tipo “pigouviana”.
R.: No caso em que não há custos de transação, segundo Coase, os argumentos de
Pigou estão incorretos e não há necessidade de intervenção governamental. Segundo
Coase, na ausência de custos de transação, um resultado socialmente eficiente será
alcançado mediante acordos diretamente negociados entre as partes envolvidas. Isso
porque esses acordos são voluntários entre as partes e eles implicam algum ganho
para ambas as partes e, por isso, serão implementados: eles representam
indubitáveis melhoras de Pareto, correspondendo a uma solução privada para a
externalidade independente de como são atribuídos os direitos de propriedade.
13. O fazendeiro João cria coelhos. O agricultor Pedro cultiva alface em terras adjacentes à
fazenda de João. Os coelhos gostam de visitar as terras de Pedro. Mostre qual é o problema
da ótica social e analise para (1) o caso de não haver e para (2) o caso de haver custos de
transação se Falso ou Verdadeiro a afirmação a seguir (Justifique adequadamente sua
resposta): “Do ponto de vista social, o fazendeiro João deve reembolsar o agricultor Pedro
pelos danos à plantação de alface, pois foram causados pelos coelhos.”
R.: O problema da ótica social é que há uma externalidade negativa nessa interação,
uma vez que as ações de João tem efeito negativo sobre Pedro. No caso de não haver
custos de transação (1), é verdadeira a afirmação, uma vez que eles tem incentivo
para acordarem um arranjo entre eles de modo que a quantidade socialmente ótima
seja produzida e no qual o agente causador da externalidade compense o agente
prejudicado por um montante que torne melhor as duas partes envolvidas. No caso de
haver custos de transação (2), é falsa a afirmação, uma vez que enxerga João como
sendo causador dos danos e que, assim, deve ser penalizado, atribuindo os direitos
de propriedade a Pedro. No entanto, João é tão responsável pelos danos quanto
Pedro, pois é igualmente verdade que se Pedro ou João colocassem cercas de
proteção, não haveria o problema de externalidade negativa.

14. Se existem grupos na sociedade que diferem quanto à elasticidade de oferta de trabalho, de
que forma eles deveriam ser taxados relativamente uns aos outros segundo a teoria de
tributação ótima? Justifique e mostre matematicamente sua resposta.
R.: De acordo com os resultados de Stern, quanto mais elástica for a oferta de
trabalho, a alíquota ótima será menor, uma vez que quanto mais elástica for a curva de
oferta de trabalho, maior será a geração de excesso de carga pela tributação, isto é,
maiores serão os custos da redistribuição da renda e, assim, menor deve ser a
tributação.

15. “Aqueles que pagam o imposto podem não ser aqueles que suportam a carga tributária”.
Explique essa afirmação e dê um exemplo onde essa distinção é importante.
R.: Não necessariamente quem paga o imposto tem uma perda maior de bem-estar
representado pela incidência da carga tributária. No caso em que a oferta é
infinitamente elástica e há uma tributação sobre a produção, o preço recebido pelo
produtor permanece o mesmo e não há alteração no excedente do produtor. Assim, a
carga e o excesso de carga do tributo é completamente transferida para o
consumidor, pois é o único que sofre redução de seu excedente (bem-estar).

16. Explique porque um tributo lump-sum é utilizado como referência na avaliação do custo de
bem-estar de um imposto em geral? Utilize gráfico como auxílio na sua resposta e deixe
indicado no texto de resposta a que parte do gráfico é que ela se refere.
R.: O tributo lump-sum é utilizado como referência na avaliação do custo de bem-estar
pois esse tributo não altera os preços relativos na economia e, assim, não altera as
decisões ótimas de consumo, de trabalho, de produção e de poupança-investimento.
Ele somente retira renda real, ou seja, possui efeito renda, mas não tem efeito
substituição, conforme gráfico abaixo, em que a situação do imposto lump-sum é a da
variação equivalente:
17. Assuma que o governo tenha de obter uma dada receita tributária pela taxação de dois bens
com elasticidades diferentes. Qual deveria ser a política tributária nesse caso segundo a
teoria de tributação ótima e qual o seu objetivo? Demonstre matematicamente sua resposta
e analise seus resultados.
R.: O objetivo da política tributária deve ser minimizar o excesso de carga sujeito a
dada receita tributária. Através da regra de Ramsey, na medida em que os bens não
sejam relacionados, as alíquotas tributárias devem ser inversamente proporcionais às
elasticidades. Isto é, a tributação deve ser proporcionalmente mais elevada em bens
relativamente mais inelásticos, tal como abaixo:

18. Sob quais circunstâncias a carga total de um imposto é suportada pelo (a) consumidor e
pelo (b) produtor? Justifique e mostre matematicamente a sua resposta.
R.: Quanto mais elástica for a curva de demanda e inelástica for a curva de oferta,
tanto mais a carga e o excesso de carga do imposto recai sobre o produtor uma vez
que responde menos à mudança do preço relativamente. Quanto mais elástica for a
curva de oferta e inelástica a curva de demanda, tanto mais a carga e o excesso de
carga do imposto recai sobre o consumidor uma vez que responde menos à mudança
de preço relativamente. Matematicamente, o resultado é tal que, com A sendo a
parcela da carga total paga pelo consumidor e B a parcela da carga total paga pelo
produtor:

19. Ao avaliar a distorção gerada por um imposto em termos de perda de bem-estar pela
sociedade, discutimos duas mensurações dessa perda de bem estar. Explique quais são
essas duas mensurações, como se diferenciam e sob que condições são equivalentes?
R.: O excesso de carga e a perda total de excedente de mercado (ou peso morto) são
essas duas mensurações. A mensuração de perda total de excedente de mercado é
uma medida que incorpora efeitos renda e substituição decorrentes da elevação de
preço, de modo que o peso morto é uma indicação apenas aproximada da perda de
utilidade que a economia tem com a tributação distorciva. Já a mensuração de
excesso de carga é uma mensuração em termos reais que somente incorpora o efeito
substituição e nesse sentido é mais fidedigna da perda de utilidade que a economia
tem pela introdução de um tributo distorcivo. Somente se o efeito renda
desconsiderável é possível obter que o excesso de carga seja aproximadamente o
peso morto associado à perda total de excedente de mercado.
20. “Na presença de um imposto sobre a produção de um bem, o preço recebido pelos
produtores será diferente do preço pago pelos consumidores e ambos preços serão
diferentes do que vigoraria na ausência desse imposto”. Explique essa afirmação.
R.: Na situação de equilíbrio, não há distinção entre o preço de mercado pago pelo
consumidor e o preço recebido pelo produtor. A partir da tributação, o preço pago
pelo consumidor aumenta em relação ao preço da situação sem imposto, e o preço
recebido pelo produtor diminui em relação ao preço da situação sem imposto, de
acordo com o gráfico a seguir:

21. “Se as mercadorias numa economia são tributadas à mesma taxa, então não haverá
distorção de preços relativos dessas mercadorias e, portanto, a economia atenderá as
condições de eficiência”. Comente, explique e justifique seus argumentos com relação a
esta afirmação.
R.: A partir do momento em que as mercadorias são tributadas à mesma taxa, o preço
relativo delas se mantém como se não houvesse tido tributação. No entanto, ainda
que não haja, portanto, efeito substituição nessa economia, com toda a certeza ela
terá efeito renda, uma vez que os preços das mercadorias ficarão maiores e a
restrição orçamentária mudará. Isso posto, ainda com a redução da restrição
orçamentária (deslocamento para a esquerda), os agentes econômicos ainda seguirão
com as condições de eficiência econômica.

22. Suponha que a oferta de trabalho é perfeitamente inelástica (“oferta fixa; independe do
salário”). Explique porque e como ocorre a perda de eficiência na economia quando o salário
apropriado pelo trabalhador é tributado (“isto é, apenas o salário pago é tributado”). Qual a
diferença que ocorre (se houver) se a tributação for paga apenas pelo empregador (“isto é,
apenas elevar o custo do trabalho”).

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