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1.

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA

A existência do governo é necessária para corrigir e complementar o sistema de mercado, pois


há funções que o mercado não pode desempenhar isoladamente.

1.1 Razões para Intervenção do Estado na Economia

a) O funcionamento do Sistema de Mercado demanda uma série de contratos que


dependem de uma estrutura legal, que é implementada pelo governo.
b) A oferta de determinados bens e serviços, necessários à sociedade, não podem ser
fornecidos pelo sistema de mercado
*(Ex: A existência de bens públicos e externalidades, que são exemplos de falhas de
mercado);
c) O sistema de mercado não necessariamente assegura o pleno-emprego, a estabilidade
de preços (controle dos níveis inflacionários) e o crescimento do PIB;
d) O sistema de mercado, mesmo que funcione eficientemente, no sentido de Pareto
(otimalidade na alocação de recursos), pode estar promovendo uma distribuição de
renda considerada indesejada do ponto de vista social.
Ex: O Estado pode intervir com ensino básico de qualidade que gera melhores
condições de competição no mercado de trabalho e, por sua vez, uma melhor
distribuição de renda.

1.2 Principais Funções do Governo

a) Função distributiva → associada à tentativa de melhoria de distribuição de renda na


sociedade.

Para tanto, o governo utiliza alguns instrumentos:

Transferências: redistribuição de renda por parte do governo, transferindo recursos, via


tributação, das camadas mais elevadas da população, em termos de renda, para as mais
baixas. (Através de programas sociais como o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial derivado
da pandemia...), Subsídio (aumentando níveis de tributação em carros, cigarros, bebidas etc.
para permitir uma menor tributação em outros produtos (cesta básica)) e o Programa de
Seguridade Social (previdência e sistema de saúde).

*Lembrando que o sistema brasileiro de previdência social é de repartição simples, não é de


capitalização; ademais, considera-se que o sistema de previdência social no Brasil garante benefícios
assistenciais em alguns casos para pessoas que não contribuíram para o regime.

b) Função estabilizadora → associada ao uso da política econômica com o objetivo de


aumentar os níveis de emprego, controlar a inflação e melhorar a taxa de crescimento do
PIB.

 Se eu tenho elevado desemprego, baixo crescimento e elevada capacidade ociosa: Pela


visão Keynesiana, para estimular a demanda agregada, e assim o emprego e a renda, o
Estado poderia intervir na economia via políticas monetárias e fiscais expansionistas.

Política Fiscal Expansionista: Aumento de gastos do governo, aumento de transferências de


renda (como o Bolsa família e o auxílio emergencial) e redução de tributos.

No entanto, cabe ressaltar que a política expansionista provoca desequilíbrio/déficit fiscal,


aumento da dívida pública e todas suas consequências sobre a sociedade.

Política Monetária Expansionista – Usar mecanismos disponíveis ( operações de mercado aberto,


redesconto bancário e compulsório bancário...) para aumentar a oferta de moeda que provoca

uma queda da taxa de juros, que, por sua vez, estimula investimentos e consumo (aumenta
demanda agregada!), com o objetivo de que a economia cresça, isto é, gere emprego e renda.

 Por outro lado, se eu tenho uma inflação alta e desejo seu controle: Pela corrente
monetarista/ Novo Clássica, o Estado poderia intervir mediante políticas fiscais e
monetárias contracionistas.

Política Fiscal Contracionista: Redução dos gastos do governo; redução das transferências
governamentais, aumento da tributação.
Política Monetária Contracionista: Redução da oferta de moeda, que provoca aumento da
taxa de juros e, por sua vez, a redução de investimentos e consumo (redução da demanda
agregada), com o objetivo de reduzir os preços/inflação..

Ex: Se o Banco central controla a oferta de moeda (diminui a oferta de moeda), os bancos vão
ter menos dinheiro para emprestar, logo eles aumentam a taxa de juros, no qual acaba-se
reduzindo a demanda, que, consequentemente, leva a redução dos preços e, por sua vez, a
redução da inflação, que é o objetivo do governo. No entanto, isso reduz o emprego e,
portanto, cabe destacar que a economia é a arte de fazer escolhas. Neste caso, a inflação era
pior do que a taxa de desemprego.

c) Função alocativa (Que é a função mais importante para o setor elétrico!) → associada ao
fornecimento de bens públicos, isto é, associada as falhas de mercado.

O ideal do ponto de vista econômico é a eficiência de mercado. No entanto, existem uma série
de fatores que levam a situações em que o mercado não consegue obter esta eficiência.

Diante dessas situações, ocorre a produção de bens e serviços de forma diferente da


socialmente desejável, ou seja, ocorre falhas de mercado, surgindo a necessidade de
intervenção do Estado na economia, mediante regulação econômica.
2. FALHAS DE MERCADO

Antes mesmo de discutir as falhas de mercado cabe destacar um valor fundamental para a
existência do Estado: a proteção dos direitos de propriedade e a garantia dos contratos. Sem
elas, seria muito difícil o estabelecimento de mercados.

Uma economia pode ser considerada “Pareto Eficiente” quando há uma alocação ótima de
recursos (otimilidade de mercado), isto é, o mercado funciona sob concorrência perfeita (um
elevado número de firmas que não apresentam capacidade de determinar os preços, que são
determinados pela interação entre a oferta e a demanda no mercado).

Entretanto, a situação ótimo de Pareto é uma condição teórica, pois, na prática, existem as
falhas de mercado (fatos que levam a inadequações no funcionamento do mercado).

Mas a lógica é que quanto mais longe a economia estiver da condição de Pareto Eficiente,
mais se justifica a intervenção do Estado.

As falhas de mercado, podem ser subdivididas entre: falhas de competição, bens públicos,
externalidades, mercados incompletos e assimetrias de informação. No caso do setor elétrico,
as falhas de competição e a assimetria de informação são as mais relevantes.

2.1 Falhas de Competição

O ideal seria que houvesse uma concorrência perfeita (Receita Marginal = Custo Marginal =
Preço), de modo que haja um lucro normal. Onde não se consegue cobrar um extra preço pq
não tem poder de mercado devido a inúmeros produtores e consumidores, pq não há
barreiras para entrada ou saída e pq não há poder de mercado.

Se, por acaso, na concorrência perfeita o produtor cobrasse um preço maior que o custo
marginal, isso estimularia a entrada de concorrentes no mercado, o que levaria o preço de
novo para igual ao custo marginal.

No entanto, na prática é muito difícil de se obter uma concorrência perfeita, o que há é uma
concorrência imperfeito, que é a chamada falha de competição.
Poder de Mercado (poder de monopólio) - Capacidade da firma em fixar preços acima do
custo marginal, auferindo, dessa forma, lucros extraordinários. O poder de mercado é o
primeiro elemento que caracteriza a falha de mercado.

 Condições para exercício do poder de mercado (fontes do poder de mercado):

 elasticidade-preço da demanda da firma: Se aumentar o preço de uma determinada


mercadoria, o consumidor vai ter uma decisão de manter/reduzir/parar o consumo
daquele bem. Isso se chama elasticidade de preço da demanda da firma. E quanto
menos elástica ela for (casos de baixa substitutibilidade do bem ou serviço), maior
será o seu poder de mercado.

Ex: Caso da energia elétrica, onde há um aumento da tarifa mediante bandeira


vermelha. O consumidor pode até baixar um pouco o consumo, mas muito pouco pq
isto está associado a essencialidade do bem. Quanto mais essencial o bem, mais baixa
a elasticidade-preço da demanda da firma. O consumidor não consegue desviar o
consumo para outros tipos de bem, então pode-se dizer que aquela distribuidora de
energia tem um imenso poder de mercado.

 elasticidade-preço da demanda do setor (indústria ou mercado): quanto mais baixa a


elasticidade preço da demanda da indústria, maior será o poder de mercado das
firmas dessa indústria/setor/mercado.
Ex: Transporte público pessoal – Antes tinha só o táxi. Quando surgiu o Uber, a
elasticidade-preço da demanda do setor aumentou, pq há mais prestadores de serviço
naquele segmento (posso substituir!), ou seja, diminuiu o poder de mercado.

 número de empresas participantes do mercado: quanto menor o número de


empresas no mercado, maior será o poder de mercado das empresas desse setor.

 grau de interação entre as empresas participantes do mercado: caso as


empresas/firmas em determinada indústria apresentem maior interação, maior será o
poder de mercado dessas empresas.
A maior interação facilita com que as firmas “desencorajem” a competição por meio
do “comportamento estratégico” (limitando quantidades vendidas ou estabelecendo
preços/piso de preços para as empresas). Neste caso, ocorreria uma infração contra a
ordem econômica e violação à legislação antitruste.

No entanto, ainda que não haja combinação de preço (infração) e a interação ocorra
pq o mercado é concentrado, cabe ao Estado ainda a chamada advocacia das
concorrências, isto é, tentar de todas formas (mediante legislações,
desregulamentações etc. ) reduzir os impedimentos a entrada de novas empresas
neste setor para estimular maiores níveis de competição.

Na realidade dificilmente teremos mercados que atuam em concorrência perfeita. Em geral,


temos:

a) monopólio: uma única firma na indústria (ou setor);


b) oligopólio: poucas firmas na indústria (ou setor); e
c) concorrência monopolística: várias firmas, porém ofertando bens com
“diferenciação de produto”.

Isso implica numa ineficiência de mercado, isto é, a produção é inferior ao socialmente


desejado, bem como os preços são superiores aos preços competitivos (𝒑 > 𝑪𝑴𝒈), permitindo
com que as firmas auferem lucros extraordinários.

Nesses casos há espaço para o governo intervir na economia mediante políticas de defesa da
concorrência, tanto por meio de órgãos antitruste, bem como por meio da advocacia da
concorrência.

No limite, pode também ser necessária a intervenção do Estado na economia mediante


políticas regulatórias associadas a níveis de produção, níveis de qualidade e níveis de preços
(fixação de tarifas).
2.1.1 Monopólio Natural

Uma indústria é um monopólio natural se o custo de produção de um bem ou serviço por uma
única firma é menor do que em duas. Ou seja, a produção por um número maior de firmas
traria ineficiência. Ex: distribuidoras e transmissoras de energia elétrica.

A propriedade em que os custos para produzir uma dada quantidade x do produto em uma
única firma é menor do que em duas, chama-se de subaditividade da função custo e pode ser
representada na seguinte condição: 𝑪𝒂 (𝒙∗ ) < 𝑪𝒃 (𝒙𝟏 ) + 𝑪𝒄(𝒙𝟐)

Ou seja, o custo de produção de uma única firma (A) é menor que o custo de distribuir a
produção em mais de uma firma (B e C). Logo, é mais barato/eficiente produzir apenas por
uma firma (A).

E o que faz com que aconteça o monopólio natural? A Presença de Elevados CUSTOS FIXOS de
Produção, associadas a grandes economias de escala (que representam a redução dos custos
de produção à medida que a produção se amplia).

A lógica é a seguinte: Se eu tenho um setor produtivo onde os custos fixos de instalação são
tão relevantes q faz, inclusive, com que o custo variável seja negligível, a produção só será
eficiente se eu produzir por uma única firma.

Diante disso, se esta firma cobrar um preço superior ao preço competitivo, não será
prejudicada pela atração de competidores potenciais, como deveria ser. Isto porque nas
estruturas de mercado caracterizadas por monopólios naturais, há elevados custos fixos e uma
baixa capacidade de competição da firma entrante em relação à firma incumbente.

Solução Para O Monopólio Natural: Regulação

Caso o preço de monopólio natural não fosse regulado, o monopolista cobraria o preço de
monopólio, que seria muito caro para o usuário, bem como a quantidade oferta, seria muito
baixa.
A solução é fixar um preço igual ao custo médio, que é um preço fixado pelo regulador que
permitirá que a firma cubra seus custos médios e, além disso, aufira um lucro normal sobre o
capital investido, além de atender a uma quantidade maior de usuários.

A firma que presta privadamente o serviço debaixo de uma estrutura de mercado de


monopólio natural tem seus preços determinados pela agência reguladora, que devem ser
fixados de forma que as receitas cubram os custos das empresas.

Maiores dificuldades para a agência reguladora

 Estimar os custos da firma e o adequado retorno do investimento sobre o capital.

Desafios regulatórios

 Promover a eficiência alocativa (cobrar o preço mais próximo possível do preço


concorrencial, o que não é factível no monopólio natural), produtiva (A firma
conseguir diminuir seus custos de produção, porém ela deve se beneficiar com isso,
pq se passar os benefícios todo para o consumidor, ela não vai querer ser eficiente),
dinâmica e distributiva.

Competição nos Monopólios Naturais

• Setores como os de distribuição e de transmissão de energia elétrica, bem com outros


setores de infraestrutura são caracterizados como monopólios naturais. Logo, não há o que se
falar em competição nesses mercados, dado que suas tarifas deverão ser reguladas pela
agência setorial.

• Porém, embora no monopólio natural não há a possibilidade de se discutir sobre competição


no mercado (por ser ineficiente a prestação dos serviços por mais de uma firma, já que
produziria uma alocação ineficiente de recursos.), podemos falar de competição pelo mercado
(competição que poderia se dar entre diversos agentes quando do leilão do serviço, em
especial dos serviços de infraestrutura.)

Por isso, a adequada construção do leilão de concessão ou de privatização de uma


infraestrutura é muito importante, pois deve-se estimular a competição entre os participantes.
2.1.2. Direitos de Propriedade Intelectual

Outro caso onde é relevante a intervenção do governo é relativo à garantia de direitos de


propriedade intelectual (patentes e direitos autorais), onde há a imposição de um monopólio
temporário por parte do governo.

• Mas o monopólio não gera ineficiências econômicas? Neste caso, o benefício gerado pelas
invenções, ideias, avanços tecnológicos etc. supera a ineficiência gerada pelo monopólio
temporário da patente ou direito autoral.

• Qual a razão de impor uma patente ou direito autoral (monopólio temporário)?

Simplesmente porque caso o Estado não dê o direito temporário para o inventor (a empresa
de Pesquisa & Desenvolvimento) e para o escritor, eles não terão incentivos para gerar
inovações (ter-se-ia uma estagnação da sociedade tanto em termos de tecnologia, bem como
dos níveis de produtividade).

Por sua vez, sem a inovação, não se tem crescimento econômico a longo prazo e, portanto,
haverá uma estagnação da sociedade tanto em termos de desenvolvimento como de bem
estar social.

2.2. Bens Públicos

• Bens Públicos - Bens que não podem ser ofertados pelo mercado ou, caso ofertados, serão
ofertados em quantidade insuficiente. Ex: A defesa nacional (forças armadas), ruas, a
iluminação pública, a justiça e os faróis marítimos.

A ideia é que uma vez que eu faço a estrutura para o farol marítimo, todo navio que passar por
aquela região utilizará daquele farol, sendo impossível fazer a cobrança/estabelecer um
sistema de preços. A falha de mercado aí é que nenhuma empresa privada conseguiria
controlar os consumidores e, portanto, não conseguiria cobrá-los, o que sugestiona a
intervenção do Estado na economia.

• Existem duas características centrais dos bens públicos:

 O custo adicional do atendimento de mais um consumidor é zero (custo marginal


para mais um indivíduo usufruir desse bem é zero)
Ex: O caso do Farol Marítimo: O problema é estabelecer a estrutura do farol, aí vc
estabelece e fala que estará funcionando toda noite. Se passar 10 ou 20 navios
naquela região, vai fazer diferença? Não. Pq não se consegue controlar/cobrar.
 É difícil ou mesmo impossível excluir indivíduos do consumo de um bem público
(não há mecanismos eficientes para isso!)
Ex: O caso do Farol Marítimo: Se não se consegue controlar/cobrar, não haverá
uma empresa de serviço privado. Mas como ele é um bem necessário, ele tem que
ser provido, portanto, cabe uma provisão estatal, isto é, o Estado intervir na
economia.

• Bens privados x Bens Públicos Puros – Enquanto os bens Privados tem características de
rivalidade do consumo e possibilidade de exclusão do consumo (indivíduos podem ser
excluídos do consumo se não pagarem por ele), os bens públicos não tem rivalidade no
consumo (consumo de um determinado bem/serviço por uma pessoa não diminui/impede o
consumo por outra pessoa, isto é, uma vez estabelecido o bem, o consumo adicional é
inexistente.) e são bens não excluíveis (a exclusão do consumo é impossível. Logo, a utilização
de um sistema de preços é impossível, porque os consumidores não têm nenhum incentivo a
pagar pelo bem, o que impede que o mercado encontre uma alocação eficiente de recursos.)

Logo, a discussão seria:

1- há rivalidade no consumo e há possibilidade de exclusão do consumo? Se sim,


significa que o bem não é público (É um bem privado). Se não, será um bem público/de
provisão pública(estatal), pois não haverá incentivos (o mecanismo de preço não
funcionará de formas a estimular as empresas privadas a prestarem aquele tipo de
serviço/atividade.
2- Qual a principal falha de mercado associada ao bem Público? A OFERTA
INSUFICIENTE DO BEM pela falta de incentivos de provisão pelo setor privado. Assim,
se não consegue excluir o consumo de um determinado bem, não consegue
estabelecer o sistema de preços; com isso, o mercado não consegue prover uma
solução eficiente para este bem. Logo, obriga ao Estado a prover esses serviços, no
qual faz uso da tributação.
3- Qual a forma de prestar este tipo de serviço, que é Bem não rival (qualquer um pode
consumir) e não excluível (todos podem usufruir daquele bem) pelo setor privado?
Os casos em que não há cobrança direta do consumidor, mas sim, de forma indireta,
ou seja, a cobrança é feita para o contribuinte em forma de tributação. Ex: As PPPs
(Parceria Público-Privada), como as PPPs de vagas prisionais, leitos
hospitalares, energia elétrica e autoestrada.
PPP é um contrato pelo qual o parceiro privado assume o compromisso de
disponibilizar à administração pública ou à comunidade uma certa utilidade
mensurável mediante a operação e manutenção de uma obra por ele previamente
projetada, financiada e construída. Em contrapartida há uma remuneração periódica
paga pelo Estado e vinculada ao seu desempenho no período de referência.

2.3. Externalidades

São situações em que a ação de indivíduo ou firma afeta outros indivíduos ou firmas
(sociedade em geral), seja impondo custos sem compensar (externalidade negativa) ou
benefícios sem ser beneficiado (externalidade positiva). Em ambas há a produção de uma
ineficiência de mercado.

a) Externalidades Negativas – Quando uma firma ou indivíduo gera custos extras a


sociedade em geral, sem receber o inteiro custo que gera para a sociedade, isto é, uma
compensação por esta produção de externalidade negativa (Ex: taxação da poluição!).
[Benefício privado do produtor é maior que o benefício da sociedade]

Tal condição gera uma ineficiência de mercado, pois estimula a produzir mais
externalidades negativas, tornando os níveis de produção maior que o nível desejável da
sociedade.
 Exemplo: Geração de gases de efeito estufa, queimadas/desmatamentos e poluição do
ar/água. A ideia é de que quando eu uso um veículo que não possui um equipamento de
controle de poluição, eu reduzo a qualidade do ar, impondo um custo à sociedade.
 Solução: Taxação das externalidades; regulação (em especial regulação ambiental);
utilização do sistema legal para a solução da controvérsia; negociação de permissões (Ex:
os créditos de carbono) etc.
b) Externalidades Positivas – Quando uma firma ou indivíduo gera benefícios extras a
sociedade em geral, sem receber todo o benefício de sua produção, isto é, sem uma
recompensa pelo bem produzido a sociedade em geral (Ex: uma empresa de Pesquisa &
Desenvolvimento que não consegue adequadamente estabelecer suas patentes).
[Benefício privado do produtor é menor que o benefício da sociedade]

Tal condição gera uma ineficiência de mercado, pois estimula a produzir menos, tornando
os níveis de produção menor que o nível desejável (não são definidos adequadamente os
incentivos para o produtor.)

 Exemplo: “se eu planto uma linda flor no jardim em frente à minha casa, meus vizinhos
podem se beneficiar de vê-la.”, “uma plantação de maçãs gera uma externalidade
positiva para um vizinho criador de abelhas”, Benfeitorias feitas pelo setor público em
uma determinada localidade (ex: terceira ponte do Lago Sul), spillovers
(transbordamento) do conhecimento de determinadas pesquisas etc.
 Solução: Estabelecimento de direito de propriedade (patentes e direitos autorais, por
exemplo), provisão pública etc.
 Observação extra: Imagine se cortam as patentes, por conta do grande estado de
calamidade por causa do COVID, para que se produza mais rápido por outros
laboratórios. O mundo até poderia vencer esta pandemia mais rápido, mas, por outro
lado, desincentivaria a pesquisa e os laboratórios, trazendo maiores problemas no futuro
já que esta não foi nem será a última pandemia.

2.4 Mercados Incompletos


 É um tipo de falha de mercado presente nos mercados em que o setor privado falha em
prover a quantidade adequada de bens e serviços.

 A questão que faz isto ocorrer não é que a demanda não compense os custos de produção
(custo de produzir inferior à disposição de pagar pelos consumidores), mas que existe uma
série de riscos que o produtor não consegue gerenciar/mensurar adequadamente, isto é,
não está disposto a assumir, decidindo não produzir.
 Ex: Setor de Seguros - Governo normalmente tem atuado como provedor de seguros (Ex:
seguros no setor agrícola), bem como constituindo garantias e fundos garantidores (Ex:
mercado agrícola, exportações, seguro estudantil etc.);
Mercado de capitais e o mercado de crédito – São incompletos, sendo necessária a
provisão desses serviços por parte do governo.
Ex: O mercado financeiro no Brasil não provê suficiente crédito de longo prazo, inclusive
para o setor de infraestrutura → atuação dos bancos públicos e, em particular, do BNDES.

 Discussão: Eu tenho mercado de seguradora para todos setores do Brasil? Não.


O setor agrícola, por exemplo, ainda precisa. Geralmente quem dá esse seguro para este
setor é o Banco do Brasil por intermédio de algum tipo de subsidio, como o tesouro
nacional. Não é que o tesouro forneça o seguro, mas ele é usado como fundo garantidor.

Também temos o caso de garantias para micro e pequenas empresas (bancos dificilmente
querem assumir este risco, sendo necessária a participação do Estado) e a garantia para o
crédito estudantil (Banco não quer assumir risco de financiar os estudos da faculdade para
a pessoa pagar quando se formar, com o dinheiro do trabalho, pq sabem que há risco da
pessoa não conseguir o trabalho ou ser demetida!)

2.5 Mercados Complementares

 Nos mercados onde os bens são complementares, se cada empresa age isoladamente, elas
não serão capazes de atender ao interesse público, mas agindo conjuntamente elas
conseguirão.
Ex: empresas geradoras/transmissoras/distribuidoras de energia se complementam no
mercado de energia; logo, o mercado intervém na coordenação desse sistema.
 Há casos, em especial nos países em desenvolvimento, que a coordenação entre empresas
ou mesmo setores demanda a ação do Estado (infraestrutura, infraestrutura urbana,
modernização de cidades etc.). Nesses casos pode ser necessário que o governo
estabeleça determinadas agências (órgãos governamentais, no geral) que proporcione
este tipo de coordenação.
 Caso os mercados fossem completos, o próprio sistema de preços exerceria esta
coordenação; mas na presença de mercados incompletos, a atuação do Estado pode ser
necessária.

2.6 Assimetrias de Informação

 A eficiência de mercado requer que a informação flua livremente entre produtores e


consumidores. Caso não haja esta assimetria de informações (Caso os consumidores não
tenham informações exatas a respeito dos preços ou sobre a qualidade dos produtos, bem
como os produtores não terem informações sobre os consumidores), o mercado poderá
operar de maneira ineficiente (do lado do produtor, pode gerar excesso de oferta de
determinados bens, bem como escassez de outros e, do lado do consumidor, poderão ser
tomadas decisões inadequadas). Ou seja, ocorrerá uma falha de mercado.

 A ausência de informação pode, por exemplo, impedir que determinados mercados se


desenvolvam, fazendo com que o mercado se torne incompleto. Por exemplo, como
desenvolver o mercado de um novo produto do setor segurador sem informações dos
potenciais segurados?

 A presença de assimetrias de informações demonstra que muito da atividade econômica é


direcionada para a obtenção de informações: empregadores buscando encontrar bons
empregados, emprestadores (bancos e outras instituições financeiras) buscando bons
tomadores de empréstimos (Ex: Cadastro Positivo), investidores procurando por bons
investimentos, seguradoras procurando bons riscos etc.

 As informações assimétricas explicam a razão de muitos arranjos institucionais que


ocorrem em nossa sociedade. Elas nos ajudam a compreender por que as empresas
automobilísticas oferecem garantias para peças e serviços de automóveis novos, por que
empresas e funcionários assinam contratos que incluem incentivos e recompensas e por
que acionistas devem monitorar o comportamento dos administradores de empresas (os
estatutários).

a) Seleção Adversa

 É quando na presença de informações assimétricas, os bens de baixa qualidade expulsam


os bens de boa qualidade → Problema dos produtos de qualidade duvidosa (lemons
problem).

 Ou seja, mesmo que seu veículo seja de boa qualidade, a contaminação do mercado pelos
veículos de má qualidade faz com que TODOS os veículos sejam vendidos a preços mais
baixos.

 A seleção adversa surge quando produtos de qualidades distintas são vendidos ao mesmo
preço, porque compradores e vendedores não estão suficientemente informados para
determinar a qualidade real do produto no momento da compra.

 Exemplo: Mercado de automóveis usados - Os automóveis usados são vendidos muito


abaixo do preço que eles valeriam porque existem informações assimétricas a respeito de
sua qualidade: o vendedor do veículo tem muito mais informação que o comprador. Desta
forma, o comprador do automóvel usado sempre suspeita da qualidade do veículo.

A presença de automóveis usados de má qualidade faz com que, gradativamente, os


consumidores percebam que os bens são de má qualidade, forçando os preços do
mercado para baixo e, por sua vez, expulsando os veículos de boa qualidade.
 Exemplo: Mercado de seguros e Mercado de crédito (que podem, inclusive, gerar o
problema dos mercados incompletos) e o próprio Mercado de trabalho. Todos
caracterizados por assimetrias de informação sobre a qualidade dos produtos.

 Solução: Regulação governamental (Ex: Regulação governamental de planos de saúde,


onde a regulação busca distribuir o risco em diversas faixas etárias, isto é, combinar
pessoas com maior risco com pessoas de menor risco), Construção de reputação,
Padronização (Ex: Redes de fast-food), Sinalização (particularmente útil no mercado de
trabalho) e Certificados/garantias.

b) Risco Moral (ou Perigo Moral)

 Ocorre quando as ações de um indivíduo ou de uma firma, que não podem ser observadas
por outra, influem na probabilidade ou magnitude de um pagamento associado a este
evento.

 Exemplo: Setor de carros

Quando o indivíduo não tem seguro de carro, estaciona em lugar seguro, põe alarme etc.
Mas quando põe seguro deixa o carro largado.
Ou seja, o indivíduo/firma tem um comportamento diferente, aumentando a quantidade
de problemas para a seguradora que, por sua vez, tende a aumentar o prêmio de risco
para todos os clientes, encarecendo o serviço.

 Exemplo: Setor de seguros

o Seguro residencial - O indivíduo pode, ao sair de casa, não trancar portas ou


janelas, bem como não se preocupar com a instalação de um alarme → o
comportamento do indivíduo se alterou devido à contratação do seguro (risco
moral).
o Seguro Saúde (plano de saúde) - Uma vez que o plano seja contratado, o
cliente/consumidor pode querer ir “excessivamente” aos médicos, o que
encareceria o plano de saúde para todos os consumidores.

 Solução: Cobrança de coparticipação dos usuários.


c) O Problema da Relação Agente-Principal

 Uma relação de agência é um arranjo entre indivíduos no qual a ação de indivíduos


participantes deste arranjo (agente) afeta outros indivíduos participantes (principal).
 Quando o Estado delega para uma concessionária o serviço de energia, há uma
relação agente-principal. E o problema surge quando os agentes (concessionárias)
perseguem seus próprios objetivos, e não os do principal (Estado via agência
reguladora).
 Ex: Agência Reguladora x Concessionária - O principal (agência reguladora que
representa o poder público e, em última instância, os consumidores/usuários.) quer
eficiência, minimização de custos, preços adequados (aqueles que permitem retornos
adequados), já o agente (empresa/concessionária) quer a maximização de lucros. Esse
conflito de interesse pode levar ao conflito de agência, onde o agente pode estar
fazendo algo diferente do que se desejaria o principal, afetando o principal.

Estudo de caso:

 O problema do agente-principal em empresas privadas

• Problema: Quando os diretores de uma empresa (administradores estatutários) perseguem a


realização de lucros a curto prazo (e seu bônus ou remuneração variável) em detrimento da
continuidade ou sustentabilidade da empresa a longo prazo, eles prejudicam os acionistas,
sendo dispendioso para os acionistas monitorar os administradores da empresa.

• É de fundamental importância o estabelecimento de mecanismos de incentivos que alinhem


os interesses dos administradores (diretores) aos interesses dos acionistas da empresa.

• Solução: Melhorar a governança corporativa da empresa a partir do estabelecimento de


uma série de comitês e de práticas (conselho de administração, comitê de auditoria, auditoria
interna; auditoria externa), dentre outras possibilidades, como vincular a remuneração dos
administradores/diretores ao desempenho de longo prazo da empresa (Ex: a remuneração
variável do administrador é vinculada a vários anos e não a um só ano) e programas de
remuneração baseado em ações da empresa.
 O Problema do Agente-Principal em Setores Regulados

• Em setores regulados, em particular nos de infraestrutura, é fundamental alinhar os


objetivos das empresas concessionárias de serviços públicos (agente) com os objetivos do
principal (a agência reguladora, que representa o governo que é o titular dos serviços, e os
usuários/consumidores.).
• Esse desalinhamento de objetivos devido aos interesses conflitantes entre o agente e o
principal, chama atenção para um problema adicional a isto que é a assimetria de
informações do agente (concessionária) em relação ao principal (agência reguladora), no
qual o fato da concessionária ter muito mais informações que o regulador pode vir a
facilitar a concessionária, mediante utilização dessas assimetria de informações, a
desalinha o objetivo que o principal traçou para ela para fins de interesse próprio.
• Nessa relação a concessionária detém mais informações que a agência reguladora, sendo
que essa assimetria informacional geral os problemas da seleção adversa e do risco moral.

3. FUNDAMENTOS DE REGULAÇÃO

3.1 Definição de Economia de Regulação

 Trata das restrições nos preços, nas quantidades e nas condições de entrada e de saída a
que são submetidos os setores produtivos (particularmente os setores prestadores de
serviços públicos e de infraestrutura) e das condições de qualidade dos serviços
prestados.

3.2 Aparatório Regulatório

 Objetivos: definir as empresas que irão acessar a determinado mercado de fornecimento


de serviços públicos e infraestrutura (Ex: desenho de leilões), definir como o mercado será
subdividido entre as empresas. (Exclusividade, blocos, regime de concorrência etc.),
determinar o preço a ser cobrado pelo serviço (e os mecanismos de reajuste/revisão
tarifária e mecanismos de incentivos). e determinar o nível de qualidade dos serviços a
serem prestados.
 Argumentos para a construção de um aparato regulatório - Falhas de mercado, ou seja,
existência de assimetria de informações (seleção adversa e risco moral), externalidades,
bens públicos, economias de escala (retornos crescentes de escala) que é uma das
principais fontes dos monopólios naturais, considerações relativas a equidade etc.

 A argumentação a favor da regulação econômica de empresas prestadoras de serviços


públicos repousa nas características atinentes a essas empresas, o qual as conferem
diferenças em relação aos demais empresas dos setores produtivos da economia.

a) empresas prestadoras de serviços públicos possuem características tecnológicas


específicas, particularmente a presença de custos enterrados, irrecuperáveis ou
irreversíveis.
Custo Irreversível: Gasto realizado que não pode ser diretamente recuperado (Ex: equipamentos de
uso específico). Dessa forma, havendo custos irreversíveis, haverá custos de entrada em
determinado segmento produtivo, ou seja, a saída daquele segmento produtivo se dará com custos
significativos.

b) empresas prestadoras de serviços públicos em geral apresentam tecnologias relativas a


monopólios naturais: economias de escala e de escopo na provisão de serviços,
economias de escala no planejamento e administração de redes, externalidades de rede
e vantagens na ampliação do capital, que pode ser erodido por inovações tecnológicas.

c) empresas prestadoras de serviços públicos produzem bens amplamente consumidos por


grande parcela da população e, além disso, a demanda desses é relativamente inelástica.

3.2. Importância da Regulação Econômica

a) diminuir o nível de incerteza para investidores, fixando regras claras e estáveis para
os serviços públicos.
b) criar competitividade e aumentar a eficiência no âmbito de vários segmentos por
meio dos seguintes fatores: remover restrições à entrada de competidores; assegurar
o acesso de novas firmas a equipamentos importantes de uma rede de infraestrutura
(troncos de telefonia, redes de transmissão de energia, gasodutos, oleodutos etc. –
trata-se da regulamentação do livre acesso); e fixar regras que incentivem inovações
tecnológicas, economia de custos e o fornecimento adequado dos serviços.
c) transferir parte dos benefícios da eficiência produtiva para a sociedade mesmo na
presença de monopólios (fato que poderá ocorrer nos momentos revisionais e no
estabelecimento do fator “x”).
d) institucionalizar a atuação do poder público em setores onde existem importantes
falhas de mercado.
3.3 Racionalidade/Objetivos da Regulação Econômica

a) ampliação e melhoria da eficiência produtiva e, por outro lado, aumentar o bem-estar


social.
Eficiência Produtiva - Busca de redução dos custos e ampliação da produtividade, da
competitividade e do crescimento (econômico). Nesse sentido, a busca da eficiência econômica
objetiva também garantir o fornecimento dos serviços a um menor custo para o usuário.

b) firmas em setores regulados, principalmente firmas que atuam em setores provedores


de serviços públicos, possuem uma maior capacidade de repassar seus custos e
ineficiências para os usuários finais na forma de maiores preços.

 A ausência de regulação gera sobreinvestimento em capital, excesso de emprego de mão-


de-obra, organização ineficiente da produção e geração de lucros extraordinários para os
detentores do controle acionário, o que ocorreria às expensas dos usuários/consumidores.

c) evitar o abuso do poder de mercado (poder de monopólio), assegurando a menor


diferença entre os preços e custos, de forma compatível com os níveis desejados de
qualidade do serviço.
d) assegurar o serviço universal, bem como a qualidade dos serviços prestados.

3.4. Regulação Econômica, Teoria do Second-Best e Problemas Regulatórios

 Deve-se considerar que mesmo onde haja racionalidade econômica para a instalação de
algum aparato regulatório, a instalação de tal aparato resultará em uma condição
subótima, ou seja, em uma solução second-best

A teoria Second-Best estabelece que caso uma política (regulatória) ótima não é possível de ser aplicada,
os governantes podem empreender uma política que será a segunda melhor. Sendo assim, aplica-se não
a política desejável, mas a política possível.
• O problema relativo com a aplicação de uma política second-best é que, caso ela seja
incorretamente aplicada, implicando em reflexos em outros mercados, poderão ser geradas
distorções adicionais na economia → perdas adicionais de bem-estar derivadas da política.
• A possibilidade de ocorrência desse problema é tanto maior quanto maior for a assimetria de
informações presente na economia.

• O desenho de um aparato regulatório, objetivando o aumento da eficiência econômica e o


aumento do bem-estar social, pode, no entanto, gerar uma situação inferior, em termos
de eficiência e de bem estar, caso o desenho realizado seja inadequado.

• A aplicação de uma regulação imprópria/inadequada e/ou excessiva pode afetar,


negativamente, o crescimento da produtividade, da eficiência, da formação de capital e da
inovação tecnológica, aumentando custos de transação/regulatórios (maiores tarifas!) e
reduzindo a competição, que é a alma do mercado.

• Logo, fica evidente que a instituição de tal instrumento só se deve dar quando há
claramente alguma racionalidade econômica para que o mesmo seja instituído. Caso
contrário, fatalmente haverá redução do bem-estar social como resultado da política, isto
é, falhas de governo.

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