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1.

DIREITO ECONÔMICO

Sujeito de Direito Econômico

Se participa de uma troca econômica, é um agente econômico (sujeito de direito econômico!).


Ex: Estado, empresas, indivíduos (*Inclusive a criança que compra um picolé e um clube pq
compra lâmpada, combustível ...)

Fontes do Direito Econômico

a) Heterogeneidade (Fontes Estatais + Fontes Privadas)

O estado compreende que o processo legislativo é lento e, portanto, não consegue entrar naquele
grau de sofisticação, se abrindo, então, para fontes privadas (não estatais), permitindo que elas
também disciplinem com suas normas.

b) Relativização da Centralidade da Lei em Sentido Formal

O dinamismo da economia, sobretudo diante de um cenário de internacionalização (maior


integração das economias), se expressa de muitas maneiras, sinalizando a necessidade de ter
uma maior agilidade.

Como o instrumento maior e mais tradicional é a lei e ela tem um processo lento de produção
(não dá pra correr atrás de Ferrari com fusca!), então surge a figura da deslegalização de temas.

Deslegalizar não no sentido de ”liberar geral”, mas de “rebaixar” o nível de hierarquia na


produção normativa, permitindo que trabalhe numa esfera infralegal.

Ou seja, em lugar de tratar tudo como lei, o Estado reconhece que ela é lenta e muitas vezes
imprecisa (pq é fruto de um percurso q não espelha muita técnica, mas um questão de grupos de
interesse) e faz a opção de tratar disso num plano mais técnico que é através de agências
reguladoras.
Portanto, o Estado estabelece regras, princípios e diretrizes gerais na lei, mas permite que a
agência reguladora discipline com suas normas, que retiram seu FUNDAMENTO DE
VALIDADE de outra norma superior, q é a lei.

Fontes Formais Não Tradicionais

No direito econômico temos muitas fontes formais não tradicionais. Elas são chamadas de
formais pq estão documentadas (estão em algum texto!) e de não tradicionais pq não derivam de
um processo legislativo (processo político de aprovação!).

Fontes Subsidiárias (ou auxiliares)

No direito econômico temos as fontes subsidiárias que, se não condicionam, ao menos passam a
estabelecer alguns parâmetros para nossa atuação.

a) Fonte de ciência econômica – Fonte de elementos teóricos e analíticos para compreender a


realidade dos fatos econômicos que o DE se propõe a disciplinar, de modo a prever os possíveis
efeitos das edições das normas a serem editadas.

Ex: Estudo sobre os aspectos legais e econômicos dos serviços e passageiros via uber.

Cabe destacar a Lei de Liberdade Econômica editada em 2019 que diz basicamente que
não vai exigir autorizações “desnecessárias”.

 Na parte de análise do impacto regulatório, consta que a proposta de edição e


alteração de atos normativos serão precedidas de análise de impacto regulatório (que
conterá informações e dados sobre possíveis efeitos do ato normativo) para verificar a
razoabilidade de seu impacto econômico.

Desta forma, percebe-se que há uma ferramenta produzida pela ciência econômica que
passa a ser condição para a prática de atos por parte do regulador. (Praticamente é uma
consagração da ciência econômica como auxiliar do direito econômico.)

 Na parte de Garantia de Livre Iniciativa consta que é dever da Adm Pública evitar o
abuso do direito regulatório. Aí diz, por exemplo, que não se pode aumentar os custos
de transação sem demonstração de benefícios. E aí que entra a ciência econômica para
auxiliar quanto a isso.
b) Fonte de Ciência Política – Fonte que traz uma série de insumos para compreender a
dinâmica das forças políticas que atuam e direcionam o funcionamento do Estado,
principalmente aquelas que regulam a atividade econômica.

É preciso dominar alguns conceitos da ciência política para ter condições de explicar
para o legislador/parlamentar o que precisa ser ajustado, de acordo com a experiência
política.

Além disso, a ciência política tbm ajuda na concepção de instrumentos de controle da


atuação regulatória.

Ex: Quando coloca o controle político das agências, quando se pede algum tipo de
esclarecimento sobre alguma medida, quando aprova um decreto legislativo que susta
uma determinada norma que exacerbou das funções regulamentares da agência, você
está praticando um controle político.

E esses mecanismos são geralmente colocados com muita gente achando que os
reguladores são sempre bons, mas a verdade é que tem muita gente que senta na cadeira
a serviço de uma causa.

Não é o correto, mas faz parte do jogo político e, por isso, é preciso criar instrumentos
para mitigar esse “desvio de rota”.

Então, da mesma forma que o Estado dá proteção à agência, ele tbm não quer que crie
um insulamento técnico pq senão amanhã senta um na cadeira de diretor da Aneel, por
exemplo, e acaba com toda a matriz hidrelétrica alegando que está prejudicando o meio
ambiente.

Daí vem, por exemplo, a ideia de se ter mandato nas agências reguladoras.

Características do Direito Econômico


a) Recenticidade – O DE derivou do direito administrativo (que estuda relação entre o
Estado e os administrados, isto é, entre a máquina pública e a sociedade), se tornando
uma disciplina autônoma recentemente por conta da preocupação com
planejamento/desenvolvimento econômico (década de 1920).

b) Diversidade – O DE varia de acordo com a realidade econômica, política e social de


cada país. Há influência de fatores históricos, da cultura, parceria econômica-comercial
de países...

c) Mobilidade (ou mutabilidade) – O DE deve ter aptidão para acompanhar as constantes


mudanças que ocorrem na realidade econômica e política, o que dificulta a codificação
de suas normas.

d) Maleabilidade – Capacidade que o DE possui de inovar e reconformar a fim de


normatizar novos fenômenos e realidades. Para isso usa-se a fórmula Comum:
Deslegalização de Temas

e) Heterogeneidade (ou ecletismo das fontes) – Convivência de normas oriundas do


processo legislativo tradicional com normas infralegais.

f) Relativização da Coercitividade – Além do uso de normas impositivas, o DE utiliza as


normas de caráter dispositivo.

Desta forma utiliza-se de normas premiais, onde invés do Estado estabelecer padrões de
conduta mediante sanções, ele lança mão de incentivos e estímulos para atrair a adesão
voluntária dos agentes econômicos.

Ex: O Estado não obriga ninguém a implantar uma indústria na zona franca de Manaus,
mas oferece benefício fiscal para quem fizer.

Além de normas programáticas, que tem um caráter norteador.

REFLEXÃO

Q.01) Toda norma de DE tem conteúdo econômico?


Não, pq apesar dela quase sempre ter conteúdo econômico, ela pode ter apenas um
direcionamento econômico ou repercussão econômica, que é o que se busca fundamentalmente..

Q.02) Toda norma de conteúdo econômico é uma norma de DE?

Não, pois apesar de se encontrar normas de conteúdo econômico em todos ramos do direito,
como o direito civil com seus contratos de translação de riquezas que tem conteúdo econômico,
mas não é uma norma de DE. Então, muitas vezes a heterogeneidade, característica do DE, ela
se reflete no dia a dia na medida que nem tudo que se trata em DE é fruto originalmente dela.

Q.03) Há aspectos que diferenciam a abordagem do DE em relação a outras disciplinas?

Sim. A ordenação, a centralidade do conteúdo econômico. O direito Civil, por exemplo, quando
faz o contrato não se preocupa com a parte econômica, ele se preocupa em garantir que aquele
que firmou o contrato tinha capacidade jurídica para isso (idade, discernimento etc.), tinha o
nível de informação adequado (consciência do que estava fazendo!) e se não teve a sua vontade
viciada por algum elemento como, por exemplo, a necessidade (ex: alguém te apontando
arma!).

O DE, por exemplo, se preocupa com a fixação de um preço de revenda. Pode ter preço
sugerido, mas se colocar obrigatório, é uma infração a ordem econômica pq tem-se como
resultado prático que todo lugar terá o mesmo valor, logo, retira a possibilidade de concorrência.

Logo, o DE não se preocupa com a capacidade dos agentes econômicos como o direito civil,
mas, sim, com o resultado econômico.

2. O ESTADO E A ATIVIDADE ECONÔMICA

2.1 Conceito de Atividade Econômica

É qualquer coisa que as pessoas (agentes econômicos) fazem para obter os bens necessários
para satisfazer suas necessidades econômicas.
É uma atividade humana relacionada a produção, circulação, consumo ou troca de produtos e
serviços.

2.2 Classificação de Atividade Econômica

Atv em Sentido Amplo – Abrange toda atv. econômica do País.

Abarca tanto as atv. exercidas pelo Estado (serviços públicos) quanto aquelas exercidas pelos
agentes privados (Sentido Estrito).

Os Serviços Públicos buscam atender as necessidades coletivas (Ex: Infraestrutura,


energia elétrica ...) e, segundo o artigo 175 da CF, a prestação compete primordialmente
ao Estado. No entanto, existe a possibilidade de delegação a terceiros por meio de
permissão ou concessão.
A titularidade do serviço sempre será do Estado, mas a prestação/entrega/execução do
serviço pode ser feita de forma indireta pelo Estado, onde ele escolhe quem ele vai
permitir quem vai prestar aquela atividade. Ou seja, a privatização/desestatização não
altera a titularidade do serviço público.
Sujeita-se ao regime de Direito Público.

Atv em Sentido Estrito – Compreende as atv. Exercidas pelos agentes Privados.

O Estado pode até atuar para induzir competição, mas sempre em condições iguais, ou
seja, sem benefícios fiscais. (Ex: Caixa Econômica)
Sujeita-se ao regime de Direito Privado
2.3 Reflexão

a) Atv Bancária – Atv Econômica tipicamente Privada


b) Educação Superior e Saúde Suplementar (Planos de Saúde) – Atv. Econômica Pública.
Há universidade Privadas e Planos de Saúde privados prestando essa atividade pq, segundo
a constituição, ela é um serviço público não exclusivo do Estado (São abertas a iniciativa
privada!).
c) Uber – Atv Econômica Individual Privada
d) Oferta de contratos e Seguros - Atv Econômica tipicamente Privada
e) Exploração de Loterias - Atv Econômica Pública

2.4 Os Diferentes Modelos de Estado (formas de posicionamento econômico do Estado)

 Linhas gerais que orientam o posicionamento do Estado diante da atividade econômica

 Em geral, identificam-se quatro modelos:

a) Estado liberal – Acreditam que o mercado é autorregulado (Crença no equilíbrio natural


entre as forças de mercado), acreditando que as decisões são melhores tomadas pelos
próprios agentes e, portanto, o mercado deve se desenvolver livremente. Logo, o Estado
não precisa intervir no domínio econômico (Descentralização das decisões
econômicas/ Mercado deve se desenvolver livremente).
Nesse sentido, a atuação estatal é limitada a garantir a segurança dos negócios (Que
não haja a lei do mais forte!) e aos setores em que não há interesse de agentes privados;
e o direito de propriedade é praticamente absoluto.

b) Estado social (ou bem-estar social) – A premissa é de que o Estado deve intervir no
domínio econômico, não só para o mercado funcionar bem, mas também pq é dever do
Estado garantir o bem estar dos seus cidadãos, não só no campo social como também no
prestacional.
Para tal, explora atividade econômica (Constituição de empresas estatais para a oferta
de bens, produtos e serviços); atua de forma orientada para garantir o bem-estar de
seus cidadãos (Exploração da AE deve observar preceitos de justiça social); e vê a
propriedade com função social (não no sentido de distribuir terras para todos, mas
aquele que tem a titularidade de determinada propriedade precisa garantir que seja usada
a serviço de geração de riqueza. / Busca evitar que a propriedade seja usada de maneira
absoluta pq entende que toda riqueza deve estar a serviço da produção de outra riqueza.)

Exemplos de problemas que podem surgir: 1. Sistemas previdenciários muito


inchados e generosos com pouca preocupação no seu custeio/financiamento, isto é, no
seu equilíbrio. Isto porque o Estado entende que é dever dele a garantira de todos na
velhice. 2. Proliferação do campo econômico de empresas estatais.
c) Estado socialista - Estado assume o controle total da Economia (Titularidade pública de
todos os meios de produção, Restringe acesso aos mercados por agentes privados,
Planeja a economia -> rumos e prioridades ditadas por órgãos da Administração).

Objetivo: viabilizar uma distribuição justa do produto do processo econômico

d) Estado neoliberal (ou regulador) - Crença que o Estado tem recursos escassos/
limitações e menor eficiência que o agente privado para a implementação/exploração de
certas atividades, apresentando uma visão restrita acerca do papel do Estado (Atuação
estatal deve restringir-se à correção de distorções no funcionamento dos mercados).

Nesse contexto, o Estado intervém no domínio econômico de forma direta (casos mais
estratégicos, como forças armadas) ou mediata (Isto é, por intermédio, como os casos
das concessões e constituição de órgãos/entes reguladores).

2.5 Como o Estado deve atuar: Intervenção x atuação

• Intervenção - Compreenderia o agir do Estado em uma seara que não lhe seria natural
(“domínio econômico”). Limitar-se-ia, assim, à AE em sentido estrito.

• Atuação – Compreenderia o agir do Estado na seara que lhe é própria. Contemplaria


apenas os serviços públicos.

Formas de Intervenção:

a) Direta (intervenção NO domínio econômico!) - Estado atua diretamente, de forma


concreta, na economia (Fornece produtos e presta serviços à coletividade). O Estado atua,
portanto, como um agente econômico (Estado empresário), tendo como instrumento maior
de atuação a empresa estatal.
Pode fazê-lo por: Absorção (Assumindo por completo/exclusivamente o monopólio
daquela atividade), como o serviço de loteria, ou Participação (Atua paralelamente aos
particulares, *em igualdade de competição).
Ex: Loterias, insumos de natureza nuclear etc. (Absorção); e BB, Caixa etc. (Participação).
 Só faz sentido a intervenção direta se não tem alguém prestando aquele determinado
serviço/atividade ou se o Estado deseja dar a aquele setor/empresa um rumo diferenciado
(novas condições de concorrência)].

b) Indireta (Intervenção SOBRE O domínio econômico!) - Estado atua de forma mediata


(intermediária), baixando regras que condicionam, disciplinam a AE. (Esta intervenção se
materializa por meio da norma jurídica!). O Estado atua, portanto, como ente político,
tendo como instrumento maior de atuação a norma jurídica.
Pode fazê-lo por: Direção (Mediante edição de normas impositivas, estabelecendo padrões
de conduta, isto é, o que é proibido/obrigatório) Indução (Mediante Edição de normas
dispositivas, sugerindo padrões de conduta não obrigatórios, que tendem a influenciar.
Ex: Banco central (tem poder regulatório, mas não é uma agência reguladora), agências
reguladoras (ANEEL), secretarias, conselhos etc.

Reflexão: Qual a forma de intervenção ....

a) Banco central? Indireta, sob a modalidade de direção, isto é, com normas impositivas.
b) Infraero? Direta, sob a modalidade de participação, concorrendo com as empresas
privadas, pois também existem empresas privadas especializadas em infraestrutura
aeroportuária.
c) Anatel? Indireta, sob a modalidade de direção (estabelecendo normas impositivas) e de
indução (tenta incentivar a agir de forma correta).
d) Correios? Direta, sob modalidade de absorção, pq é a única que pode prestar esse serviço
(atividade exclusiva do governo!).

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