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João Trindade
Manual Didático de
DIREITO
ADMINISTRATIVO
9a edição • Revista, atualizada e ampliada
2021
Capítulo I
Noções preliminares
Sumário • 1. Relevância do estudo do Direito Administrativo; 2. Ramo do direito público (taxinomia do Di-
reito Administrativo); 3. Conceito de Direito Administrativo; 4. Fontes do direito administrativo; 5. Sistemas
administrativos; 5.1. Coisa julgada administrativa; 6. Legislação sobre Direito Administrativo; 7. Estado,
Governo e administração pública; 7.1. Formas de Estado; 7.2. Poderes do Estado; 7.3. Governo; 7.4. Formas
de governo; 7.5. Administração Pública; 8. Administração Pública no sentido subjetivo / orgânico / formal;
9. Administração Pública no sentido material / objetivo / funcional; 10. Função administrativa e função po-
lítica. Estudo Avançado: 1. Atividades Administrativas; 2. Leis de efeito concreto e função administrativa; 3.
Administração Pública Extroversa e Introversa; 4. Constitucionalização do Direito Administrativo (reflexões
e consequências); 5. Costume e Praxe Administrativa; Revisão; 6. Questões.
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Gustavo Scatolino • João Trindade
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Noções preliminares
direito administrativo é o ramo do direito que estuda a gestão dos serviços públicos. Teve
como defensores Duguit, Jèze e Bonnard. Segundo essa teoria, qualquer atividade prestada
pelo Estado é serviço público. No entanto, tal teoria perde força, em virtude de que nem
todas as atividades estatais se resumem em serviço público, como, por exemplo, o poder de
polícia. Ademais, é possível, com a ampliação das atividades estatais, o exercício de atividade
econômica, que, para muitos, não se confunde com serviço público.
b) Critério do Poder Executivo. Para essa teoria, o direito administrativo se esgota nos atos
praticados pelo Poder Executivo. Contudo, exclui os atos do Poder Legislativo e do Judiciário
no exercício de atividade administrativa, restringindo, sobremaneira, o direito administrativo
ao âmbito do Poder Executivo. Essa teoria não considera a função política exercida pelo Poder
Executivo, que não se confunde com a função administrativa.
c) Critério teleológico (ou finalístico). Conjunto de normas e princípios que norteiam o
atendimento dos fins do Estado.
d) Critério negativista ou residual. Por exclusão, encontra-se o objeto do direito administra-
tivo: aquilo que não for pertinente às funções legislativa e jurisdicional será objeto do direito
administrativo.
e) Critério da Administração Pública: Conjunto de normas e princípios que regem Admi-
nistração Pública.
f) Critério das atividades jurídicas e sociais do Estado: Direito Administrativo é o con-
junto dos princípios que regulam a atividade jurídica não contenciosa do Estado e a
constituição dos órgãos e meios de sua atuação em geral.
g) Escola da puissance publique ou potestade pública (distinção entre atividades de auto-
ridade e atividades de gestão): Por essa escola há a distinção entre atividades de autori-
dade e atividades de gestão. No primeiro caso, o Estado atua com autoridade sobre os
particulares, com poder de império, por um direito exorbitante do comum; por outro
lado, nas atividades de gestão, o Estado atua em posição de igualdade com os cidadãos,
regendo-se pelo direito privado.
Leon Dugui, adepto da escola do serviço público, era um ‘opositor’ da teoria da potes-
tade pública, pois para a escola do serviço público não havia a distinção entre atos de
império e atos de gestão.
A fim de explicar melhor a teoria da potestade publica, trazemos trechos de artigo escrito
por Cretella Júnior sobre Prerrogativas Públicas:
“Tratando da puissance publique, que é a nossa potestade pública, escreve RIVE-
RO: "As relações entre particulares são baseadas na igualdade jurídica. Nenhuma
vontade privada é, por natureza, superior a outra, a tal ponto que se imponha a esta
contra sua vontade, o que ocorre porque o ato que caracteriza as relações privadas
é o contrato, ou seja, o acordo de vontades. A Administração, entretanto, que deve
satisfazer ao interesse geral, não poderia atingir tal objetivo se estivesse no mesmo
pé de igualdade com os particulares. ”
Segundo Cretella Junior, em fins do século passado e início deste, o direito administrativo
tem sido considerado como disciplina alicerçada na ideia matriz de potestade pública, empenhan-
do-se a doutrina em construir a teoria dos atos de império e dos atos de gestão, que tanta
polêmica despertou entre os publicistas. A atividade de potestade pública era paralela à de ato
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Objeções de toda sorte, feitas por Duguit, no Tratado (DUGUIT Léon, Traité de droit cons-
titutionnel, vol. II, pág. 263), e pelo Comissário Teissier, na clássica e metafísica distinção entre
os atos jus imperii e os atos jus gestionis, não conseguiram abalar a noção de puissance publique,
nem invalidar a série de prerrogativas que dela decorrem.
Empregada com acepção quase impossível de apreender-se, a expressão potestade pública
("puissance publique") é, na realidade, noção concreta e precisa, porque designa a situação toda
especial que cerca a Administração, dotando-a de atributos necessários e suficientes para confe-
rir-lhe uma série de prerrogativas — e também de restrições ou de sujeições —, exorbitantes do
direito comum, inexistentes nas pessoas jurídicas de direito privado
Da potestade pública ou potestas imperii advém a situação privilegiada da Administração,
desnivelando-a diante do particular e tornando-a idônea para impor, em condição bastante van-
tajosa, sua vontade, em nome do interesse público.
A Administração ficaria inerte, paralisada, se cada vez que pretendesse movimentar-se, efeti-
vando os atos administrativos editados, precisasse consultar os interesses privados atingidos. Por
isso, o Estado dotou os órgãos administrativos de um poder ou potestade para vencer a injusti-
ficada resistência do particular recalcitrante. As decisões administrativas, tomadas com vistas ao
interesse público, impõem-se sem prévia consulta ao administrado e, muitas vezes, sem o título
hábil expedido pelo Judiciário, como ocorre no âmbito do processo civil comum.
A potestade pública, o poder de império, revela-se no mundo jurídico de modo eficaz, visto
cercar-se de prerrogativas públicas, benefícios evidentes que reforçam sua atuação coativa no
choque com o particular.
A potestade pública é o regime jurídico que se distingue, ao mesmo tempo, por prerroga-
tivas e por sujeições, por máximos e mínimos, exorbitantes e derrogatórios do direito comum,
reconhecidos e impostos a todos os que operam em nome e no exercício da soberania nacional
(VEDEL Georges, Droit administratif, 4a ed., 1968, pág.)”
Em resumo, a teoria da potestade pública ou puissance publice diz respeito ao conjunto de
prerrogativas que tem a Administração Pública quando atua em face do particular na prática
de atos de império. (palavras chave: atos de império – prerrogativas da Administração Pública).
Em provas de concurso encontramos ocorrência da citada teoria:
TRF 1 – 2017 – Analista Judiciário – Área Judiciária
Segundo a escola da puissance publique, as prerrogativas e os privilégios que o Estado possui
frente ao particular constituem critério definidor do Direito Administrativo.
Certa.
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Noções preliminares
A) Lei
A lei é a fonte primária e principal do direito administrativo. Vai desde a Constituição Fe-
deral (arts. 37 a 41) até os atos administrativos normativos inferiores. Assim, a lei como fonte do
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direito administrativo é a lei em sentido amplo, ou seja, a lei feita pelo Parlamento e também
atos normativos expedidos pela Administração, por exemplo, decretos e resoluções.
Sendo a lei a fonte primária (formal, primordial) do direito administrativo, prevalece sobre
as demais (doutrina, jurisprudência e costumes). Essa será a regra geral. As demais que veremos
a seguir são consideradas fontes secundárias, acessórias ou informais.
B) Doutrina
São teses de doutrinadores que influenciam nas decisões administrativas, como no próprio
direito administrativo. Visa a indicar a melhor interpretação possível da norma administrativa ou
indicar as possíveis soluções para casos concretos.
C) Jurisprudência
É a reiteração de julgamentos no mesmo sentido. São decisões de um Tribunal que vão na
mesma direção. Por exemplo, o Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência de que candi-
dato aprovado dentro do número de vagas previsto no edital tem direito a nomeação.1 Ou seja,
são diversas decisões desse Tribunal com o mesmo entendimento final.
A jurisprudência não é de seguimento obrigatório. Trata-se apenas de uma orientação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e para a Administração. Porém, com as alterações promovidas
desde a CF/88, esse caráter orientador da jurisprudência vem deixando de ser a regra. Citem-se,
por exemplo, os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal na
ação direta de inconstitucionalidade (ADI), na ação declaratória constitucionalidade (ADC) e na
arguição de descumprimento de preceito fundamental, e, em especial, com as súmulas vinculantes,
a partir da Emenda Constitucional nº 45/04. Nessas hipóteses, as decisões do STF vinculam e
obrigam a Administração Pública direta e indireta dos Poderes da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios, conforme prevê o art. 103-A da CF.
A súmula vinculante não é uma lei. A lei tem por finalidade criar regras de comportamento
de maneira geral e abstrata. Já a confecção de súmula vinculante é exercício de atividade juris-
dicional, pois conforme o art. 103-A, da CF, a súmula vinculante terá por objetivo a validade, a
interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre
órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica
e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
Assim, quando o STF edita súmula vinculante está interpretando a Constituição e dando o
exato sentido das normas Constitucionais.
A súmula é uma síntese daquela jurisprudência que está pacificada, e, naquele momento,
não há mais discussão sobre o assunto. Por exemplo:
1 RMS 20718/SP, Rel. Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA, julgado em 04.12.2007, DJe 03.03.2008.
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Noções preliminares
D) Costumes
São práticas reiteradas observadas pelos agentes públicos diante de determinada situação.
No direito administrativo o costume pode exercer influência em razão da carência da legislação,
completando o sistema normativo (costume praeter legem) ou nos casos em que seria impossível
legislar sobre todas as situações. Por exemplo, no procedimento do leilão, modalidade de licitação,
em que a lei não o disciplinou detalhadamente assim como fez com a modalidade concorrência.
Ou, por exemplo, quando no município não há imprensa oficial, a divulgação dos atos oficiais
deve ocorrer nos meios de costume que, geralmente, o meio utilizado é a fixação do ato no mural
da prefeitura ou praça.
Lucas Rocha Furtado ressalta que2 “O costume deve ser igualmente visto como fonte secundária
de direito administrativo. Se por costume os administradores adotam determinada interpretação
das normas jurídicas, a fonte primária será aquela de onde surgiu a norma – a lei, o decreto, a
jurisprudência etc. O costume contrário à lei é fonte tão somente de ilegalidade e não pode ser
arguido como pretexto para favorecer servidores públicos ou particulares ou para manter práticas
infelizmente ainda frequentes em nosso Direito”.
Os costumes não podem se opor à lei (contra legem), pois ela é a fonte primordial do direito
administrativo, apenas devem auxiliar a exata compreensão e incidência do sistema normativo.
O costume pode gerar direitos para os administrados, em razão dos princípios da lealdade,
boa-fé, moralidade administrativa, entre outros, uma vez que determinado comportamento rei-
terado da Administração Pública gera uma expectativa em geral de que essa prática seja seguida
nas demais situações semelhantes.
Há certa divergência doutrinária acerca da aceitação dos costumes como fonte do direito
administrativo. Porém, para concursos encontramos mais ocorrências no sentido de que o cos-
tume é fonte do direito administrativo. Contudo, é uma fonte secundária (acessória, indireta
2 FURTADO, Lucas Rocha, Curso de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 68.
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ou mediata), pois a fonte primária (imediata) é a lei. Foi considerado incorreto o seguinte
item em concurso feito pelo Cespe: “O costume não pode ser considerado fonte do direito admi-
nistrativo, haja vista o princípio da legalidade ser um dos princípios da administração pública”
(Cespe – Capes – 2012).
Veja no final deste capítulo em Tópicos Avançados a diferença entre praxe administrativa e
costumes.
5. SISTEMAS ADMINISTRATIVOS
É o regime adotado pelo Estado para a correção dos atos administrativos ilegais ou ilegítimos
praticados pelo Poder Público.
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Noções preliminares
que, posteriormente, obtenha-se o acesso ao Poder Judiciário, pois nessa hipótese faltaria o
interesse de agir.3
• Com o advento da criação das súmulas vinculantes, ficou estabelecido que o instituto da
reclamação seria o meio adequado para assegurar a autoridade das decisões do STF caso
haja o descumprimento de uma súmula vinculante. Entretanto, a Lei nº 11.417/06, que
regulamenta o art. 103-A da CF, estabeleceu que contra omissão ou ato da administração
pública o uso da reclamação só será admitido após esgotamento das vias administrativas.
• Destaque-se, também, o mandado de segurança, pois a Lei nº 12.016/09 previu que tal
remédio constitucional não é cabível quando “caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução” (art. 5º, I).
• Recentemente o STF entendeu que a exigibilidade de prévio requerimento administrativo
como condição para o regular exercício do direito de ação, para que se postule judicialmen-
te a concessão de benefício previdenciário, não ofende o art. 5º, XXXV, da CF. Vale dizer
que o STF legitimou a exigência de prévio requerimento administrativo para caracterizar a
presença de interesse em agir como condição de ingresso com ação judicial a fim de requerer
a concessão de benefício previdenciário. Porém, ressalvou o Tribunal que nas hipóteses de
pretensão de revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente conce-
dido o pedido poderia ser formulado diretamente em juízo, porque nesses casos a conduta do
Instituto Nacional do Seguro Social – INSS já configuraria o não acolhimento da pretensão.
Informativo nº 757 STF, 2014.
O segurado, contudo, não precisa esgotar todos os recursos disponíveis na via administrativa
para poder ingressar em juízo. Negada a concessão do benefício, já é possível ajuizar ação
judicial.
3 O habeas data não é a via adequada para que o impetrante tenha acesso às informações constantes do Registro
de Procedimento Fiscal – RPF. Isso porque o RPF, por definição, é documento de uso privativo da Receita Federal,
não tem caráter público nem pode ser transmitido a terceiros; e, de outro lado, não contém somente informações
relativas à pessoa do impetrante, mas, principalmente, informações sobre as atividades desenvolvidas pelos au-
ditores fiscais no desempenho de suas funções. Nessa linha, o acesso a esse documento pode, em tese, obstar o
regular desempenho do poder de polícia da Receita Federal (REsp 1411585/PE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 05.08.2014).
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A coisa julgada propriamente dita, no sentido de não mais poder ser revista, tornando-se
imutável a decisão, só é formada em âmbito judicial.
É certo, porém, que não pode ser afastada a revisão judicial do ato administrativo, tendo em
vista o art. 5º, XXXV, da CF, que consagra a inafastabilidade do controle judicial. Ressalta-se que
a apreciação do Poder Judiciário será sempre quanto à legalidade, e não quanto à conveniência e
oportunidade da decisão.
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Noções preliminares
Lei de iniciativa parlamentar não pode criar atribuição para órgãos da Administração Pública
do Poder Executivo, em especial Secretarias de Estado e Ministérios, tendo em vista a indepen-
dência dos Poderes. Por esse fundamento, o STF declarou inconstitucional lei alagoana que criou
o programa de leitura de jornais e periódicos em sala de aula, a ser cumprido pelas escolas da rede
oficial e particular do estado de Alagoas (ADI 2329, julgado em 14.04.2010).
Importante lembrar a inovação trazida com a EC nº 32/2001, que permitiu ao Presidente
da República, mediante decreto, dispor sobre (art. 84, VI, CF):
a) organização e funcionamento da Administração Federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
É possível que medida provisória disponha sobre matéria de direito administrativo, pois
esse ramo do direito é tratado, em regra, por leis ordinárias. A ressalva fica por conta dos assun-
tos a serem disciplinados por lei complementar, por exemplo, áreas de atuação das fundações
(art. 37, XIX, CF) e avaliação periódica de desempenho do servidor, como hipótese de perda
do cargo (art. 41, CF), pois matérias reservadas a lei complementar não podem ser objeto de
medida provisória.
Importante destacar que o STF declarou a inconstitucionalidade de lei estadual que vedava a
cobrança de tarifas e taxas de consumo mínimas ou de assinatura básica, impostas por concessio-
nárias prestadoras de serviços de água, luz, gás, TV a cabo e telefonia, sob o fundamento de que é
competência exclusiva da União legislar sobre a matéria, nos termos dos artigos 21, XI; 22, IV; e
175, parágrafo único, III, todos da CF. Ademais, destacou que as regras deveriam ser ditadas pelo
poder concedente do respectivo serviço, ou seja, incumbiria à União estabelecer quais seriam os
preços compatíveis com a manutenção de serviços e com o equilíbrio econômico-financeiro do
contrato previamente firmado. Informativo nº 648, STF.
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4 Em concurso para procurador da Fazenda Nacional, 2007/2008, fase subjetiva, na peça processual exigida, no caso
uma contestação, como se tratava de conflito de arrecadação tributária, deveria ter sido arguida em preliminar da
contestação a INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL para julgar o feito, uma vez que a União e o estado da Federação
estavam instituindo certo tributo em relação ao mesmo fato gerador.
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Noções preliminares
impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços uns dos outros; mecanismo também criado
para garantir a manutenção da Federação.
No sistema federativo há, ainda, uma autonomia administrativa, e essa é a que mais nos
interessa, uma vez que as autonomias política e financeira são objeto de estudo de outros ramos
do Direito. Houve, também, na Constituição, uma divisão de atividades administrativas para
cada pessoa que compõe a Federação. O artigo 21 da CF estabeleceu quais são as atividades ad-
ministrativas que competem à União exercer. Entre essas atividades, estão serviços públicos como:
X – manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos
serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;
XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos
de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras
nacionais, ou que transponham os limites de estado ou território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f ) os portos marítimos, fluviais e lacustres.
Como, no Brasil, a Federação foi instituída por meio do sistema centrífugo (desagregação
ou segregação), em que houve uma distribuição do poder central para outras entidades, temos
sob o domínio da União a maior parte das competências administrativas. Assim, para saber qual
a competência dos estados, DF e municípios em matéria administrativa, é necessário verificar
primeiro quais são de atribuição da União, para depois examinar as atividades que cabem aos
demais entes.
Cabe ressaltar que a União detém a maior competência não só administrativa, mas também
política e financeira. Isso, como dito anteriormente, decorre da forma federativa implementada
no Brasil (sistema centrífugo).
No modelo federativo, a regra será a não intervenção. Somente em situações excepcionais,
nos casos dos artigos 34 e 35 da CF, é que um Ente pode realizar a intervenção em outra pessoa
da Federação.
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Gustavo Scatolino • João Trindade
A função típica do Poder Judiciário é o exercício da Jurisdição, bem como assegurar a supre-
macia da Constituição. A Jurisdição é o poder do Estado de estabelecer o direito diante de cada
caso concreto. Entretanto, o Poder Judiciário detém atipicamente função legislativa, por exemplo,
a elaboração de regimentos internos pelos tribunais. A função administrativa também é exercida
por esse Poder de forma não predominante. Podem ser citados como exemplos o ato de realizar
concurso público, nomear servidor, conceder licenças etc.
O Poder Legislativo tem por função típica a confecção de leis,5 inovando no mundo jurídico,
de maneira geral e abstrata, na criação de direitos e obrigações, mas também exerce a função admi-
nistrativa de maneira atípica quando, por exemplo, faz nomeação de servidor, realiza contratos etc.
Ao Poder Executivo é que coube, tipicamente, o exercício da função administrativa, mas
como nossa Constituição não adota um modelo rígido de separação das funções de cada Poder,
o Executivo também exerce a função de julgar; por exemplo, nos processos perante o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica – Cade, que tem competência para julgar as infrações con-
tra a ordem econômica, nos termos da Lei nº 12.529/11. E ainda, citando a doutrina de Celso
Antônio Bandeira de Mello, “nos processos de questionamento tributário submetidos aos cha-
mados Conselhos de Contribuintes” (em nível federal, por exemplo, o Conselho Administrativo
de Recursos Fiscais – CARF).6 O Poder Executivo realiza, também de forma atípica, atividade
legislativa quando o chefe do Executivo, em casos de urgência, edita Medidas Provisórias com
força de lei, nos termos do art. 62 da Constituição.
Dessa forma, os três Poderes têm suas funções típicas e atípicas, e o exercício da atividade
administrativa é por eles desempenhado; entretanto, de forma predominante, pelo Poder Executivo7.
7.3. Governo
O governo é exercido por pessoas que desempenham o poder, estabelecendo diretrizes,
objetivos e metas do Estado; bem como a criação e elaboração de políticas públicas. É o núcleo
decisório do Estado. Os atos políticos são aqueles que cuidam da gestão superior da vida estatal.
5 Alguns autores entendem que o Poder Legislativo tem duas funções típicas. A primeira, mencionada acima, é a
inovação do mundo jurídico através das leis, e a segunda, a fiscalização do Poder Executivo, conforme determinam
os artigos 49 e 70 da Constituição.
6 Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 17ª ed., 2004, p. 32.
7 Há divergência sobre o julgamento e aplicação de sanções a servidores decorrentes de processo administrativo discipli-
nar. Alguns entendem que seria função administrativa, outros firmam posição que seria exemplo de função jurisdicional
atipicamente atribuída aos Poderes Executivo e Legislativo. Entendemos que seria função administrativa, pois o exercício
do poder disciplinar aos servidores é decorrente da relação administrativa, bem como do poder hierárquico que só existe
nas atividades administrativas. Em concurso público, temos identificado mais questões no sentido de que se trata de
função administrativa. Confira-se a seguinte questão:
Ano: 2017. Banca: FCC. Órgão: ARTESP Prova: Agente de Fiscalização à Regulação de Transporte - Tecnologia de Informação
Considere a seguinte situação hipotética: o Presidente da República, no lapso temporal de cinco dias, praticou três atos
distintos: (i) representou o Brasil na sua relação internacional com outro Estado estrangeiro, praticando, assim, ato de
chefia de Estado; (ii) editou medida provisória com força de lei; (iii) julgou processo administrativo disciplinar. Constitui(em)
função típica do Poder Executivo:
a) apenas o primeiro ato.
b) nenhum dos atos.
c) os três atos.
d) apenas o terceiro ato.
e) o primeiro e o terceiro atos.
Resposta: Letra A.
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Noções preliminares
8 A palavra Administração Pública, grafada em maiúsculas, indica o termo no sentido subjetivo. Entretanto, adminis-
tração pública, grafada em letras minúsculas, indica atividade ou função administrativa e, assim, expressa o termo
no seu sentido objetivo.
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Para definir esse conceito, é necessário indagar “QUEM?”, ou seja, quem desempenha a
função administrativa. Quais são os órgãos, as pessoas jurídicas e os agentes públicos incumbidos
de desempenhar as atividades do Estado.
A palavra Administração Pública, vista nessa perspectiva, considera todas as unidades ad-
ministrativas que desempenham atividades-fins do Estado, incluindo os órgãos relacionados
às funções legislativa e judicial (Administração Pública em sentido subjetivo; no seu conceito
mais amplo).
De fato, esses órgãos integram a Administração Pública. Assim, os órgãos do Poder Judiciário,
como Tribunais e os órgãos pertencentes ao Poder Legislativo, como a Câmara dos Deputados,
Senado Federal, Assembleias Legislativas, fazem parte da Administração Direta de suas respectivas
esferas de governo.
Assim, no conceito subjetivo estão todos os órgãos integrantes das pessoas jurídicas políticas
(União, Estados, Municípios e Distrito Federal), aos quais recebem da lei o exercício de funções
administrativas. Constituem os órgãos da Administração Direta do Estado, bem como as enti-
dades da Administração Indireta que recebem da lei atribuições para o exercício de atividades
administrativas.
Embora o conceito subjetivo, em sua concepção mais ampla, esteja relacionado aos órgãos,
entidades e agentes que desenvolvam a função administrativa (fomento, poder de polícia, in-
tervenção e serviços públicos), que abrangeria inclusive concessionários de serviço público, vale
frisar que no Brasil há a positivação legal dos entes que integram a Administração Pública, sub-
jetivamente considerada, prevista no artigo 4º, do Decreto-lei nº 200, de 25-2-67, sendo apenas
a Administração Direta e Indireta.
Ê QUESTÃO
Ø Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal -
Agente de Polícia Federal
Sob a perspectiva do critério formal adotado pelo Brasil, somente é administração
pública aquilo determinado como tal pelo ordenamento jurídico brasileiro, independ-
entemente da atividade exercida. Assim, a administração pública é composta exclusiva-
mente pelos órgãos integrantes da administração direta e pelas entidades da adminis-
tração indireta.
Resposta: Certa.
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Noções preliminares
de bens ou servidores públicos ou por outras formas a pessoas de direito privado que não possuem
intuito lucrativo, como associações, organizações e fundações, promovendo a manutenção da ativi-
dade prestada, por ser de interesse social. Quando o Poder Público qualifica uma fundação privada
que tem interesse social como Organização Social – OS, está praticando uma forma de fomento.
O poder de polícia representa limitações ou condições ao exercício do direito à liberdade ou
à propriedade. Quando a Constituição confere aos cidadãos um conjunto de direitos, estes devem
ser exercidos de modo adequado, a fim de não prejudicar a coletividade. Ao expressar o poder de
polícia, o Estado visa a proteger o interesse público. Quando se exige licença para dirigir veículos,
autorização para porte de armas, o poder público faz uso do poder de polícia.
A prestação de serviços públicos é dever do Estado. A Constituição impõe ao Poder Público
a obrigação de prestar serviços à sociedade, de modo direto, ou mediante concessão ou permissão,
sempre através de licitação. O Texto Constitucional apresenta inúmeros dispositivos que deter-
minam essa obrigação ao Estado. Podemos citar o art. 21, que traz os serviços de competência
da União, por exemplo, a manutenção do serviço postal, os serviços de transporte rodoviário
interestadual e internacional de passageiros; organizar e manter os serviços oficiais de estatística,
geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; serviços nucleares, entre outros.
A intervenção como atividade administrativa consiste em atos de regulação e fiscalização
de atividade privada de natureza econômica, bem como na criação de empresas estatais (empresa
pública e sociedade de economia mista) para intervir no domínio econômico. A intervenção,
feita por meio de atos de fiscalização e regulação, é a forma indireta, nos termos do art. 174
da CF.9 Entretanto, quando o Poder Público cria empresas estatais para desempenhar atividade
econômica, em regime de concorrência com as demais empresas privadas daquele segmento,
temos a intervenção direta, que deve ser realizada sob as exigências do art. 173 da CF. No
último caso, a intervenção do Estado ocorre segundo as normas de direito privado, pois a
Constituição estabelece que as empresas criadas pelo Poder Público devem se sujeitar ao mesmo
regime jurídico das demais empresas privadas quanto às obrigações de direito civil, comercial,
trabalhista e tributário.
Assim, esquematicamente, temos:
• Órgãos Públicos
Sentido subjetivo,
Quem? • Entidades
orgânico ou formal
• Agentes
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
• Fomento
Sentido material, O quê?
• Poder de Polícia
objetivo ou atividades;
• Serviços Públicos
funcional tarefas; funções
• Intervenção
9 Art. 174: “Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as
funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para
o setor privado.”
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O papel do Estado deve ser o de fomentar, coordenar, fiscalizar, ajustar as atividades privadas
ao bem-estar social de toda a coletividade.
No regime constitucional anterior, estava consagrado implicitamente o princípio da subsi-
diariedade em relação ao desempenho de atividades econômicas pelo Estado com a criação de
empresas públicas e sociedades de economia mista, pois tais entidades só poderiam ser criadas
quando fosse insuficiente o capital privado. Com a Constituição atual, o motivo para a criação
dessas entidades para fazer concorrência ao particular em atividades comerciais deve se dar por
questões de segurança nacional ou relevante interesse coletivo (art. 173).
Segundo Odete Medauar, esse princípio é analisado em dois aspectos:
a) Vertical: relaciona-se ao critério de distribuição de competências entre a União e os Esta-
dos-membros e determina que só deve haver intervenção da União nos Estados quando
estritamente necessário, bem como quando o fundamento da intervenção não puder ser
realizado pelos Estados-membros.
b) Horizontal: significa que o Poder Público só deve agir de forma residual. Tal princípio é analisado
em duas vertentes: a proximidade, no sentido de que a atuação deve ser atribuída ao órgão mais
próximo do cidadão, seja ele público ou privado, e a suficiência, no sentido de que a execução
da tarefa deve ser de atribuição daquele órgão que possa desempenhá-la com a maior eficiência.
No sistema do federalismo cooperativo adotado no Brasil, os entes políticos devem se agregar
para a prestação de serviços, na forma da gestão associada, formando consórcios e convênios de
cooperação entre si (art. 241, CF). Em decorrência do princípio da subsidiariedade, isso só deve
ocorrer quando a prestação do serviço por um único ente não for possível, ou quando a associação
se mostrar mais favorável ao interesse público.
Maria Sylvia Di Pietro (2011, p. 20-21):
Devem ficar a cargo do Estado as atividades que lhe são próprias como ente sobe-
rano, consideradas indelegáveis ao particular (segurança, defesa, justiça, relações
exteriores, legislação, polícia); e devem ser regidas pelo princípio da subsidiariedade
as atividades sociais (educação, saúde, pesquisa, cultura, assistência) e econômicas
(industriais, comerciais, financeiras), as quais o Estado só deve exercer em caráter
supletivo da iniciativa privada, quando ela for ineficiente.
Como se vê, não se confunde o Estado Subsidiário com o Estado Mínimo; neste,
o Estado só exercia as atividades essenciais, deixando tudo o mais para a iniciativa
privada, dentro da ideia de liberdade individual que era inerente ao período do
Estado Liberal; naquele, o Estado exerce as atividades essenciais, típicas do Poder
Público, e também as atividades sociais e econômicas que o particular não consiga
desempenhar a contento no regime da livre iniciativa e livre competição; além
disso, com relação a estas últimas, o Estado deve incentivar a iniciativa privada,
auxiliando-a pela atividade de fomento, já referida.
100
Princípios administrativos
Nesse aspecto, subordinam-se aos ditames da Lei nº 12.527/11 – LAI: (i) os órgãos públicos
integrantes da Administração Direta dos Poderes Executivo, Legislativo, incluindo as Cortes de
Contas, e Judiciário e do Ministério Público; (ii) as autarquias, as fundações públicas, as empresas
públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente
pela União, estados, Distrito Federal e municípios.
Conforme o art. 2º, aplicam-se as disposições da lei, no que couber, às entidades privadas
sem fins lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse público, recursos públicos
diretamente do orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão, termo de parceria,
convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres. Quanto a essas últimas, o dever
de informação e publicidade restringe-se à parcela de recursos públicos que receberem (art.
2º, caput e parágrafo único). É o caso, por exemplo, das entidades do Sistema “S” – que, embora
sejam privadas e sem fins lucrativos, submetem-se à Lei de Acesso à Informação (LAI) quanto
aos recursos públicos que recebem.
Uma dúvida ainda não resolvida diz respeito à OAB. Pela disposição legal, tem a Ordem o
dever de publicidade quanto aos recursos públicos que arrecada (é o caso das anuidades, que têm
a natureza jurídica de tributo). Porém, o STF considera a OAB excluída até mesmo do controle
do TCU (confira a ADI 3026/DF), o que levanta dúvidas sobre se a Corte aceitará a constitu-
cionalidade da incidência da LAI à Ordem. De nossa parte, entendemos não haver motivos para
excluir a OAB do rol de entidades que devem cumprir as disposições da Lei.
Em relação ao art. 9º e ao Capítulo III (Procedimento de Acesso à Informação), cabe aos
estados, ao Distrito Federal e aos municípios, em legislação própria, obedecidas as normas gerais
na LAI, definir suas regras específicas.
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Gustavo Scatolino • João Trindade
A pessoa física ou entidade privada que, em razão de qualquer vínculo com o Poder Público,
executar atividades de tratamento de informações sigilosas adotará as providências necessárias
para que seus empregados, prepostos ou representantes observem as medidas e procedimentos de
segurança das informações (art. 26).
O tratamento de informação sigilosa resultante de tratados, acordos ou atos internacionais
atenderá às normas e recomendações constantes desses instrumentos. Nessas hipóteses, em prin-
cípio, não se aplicam as disposições da LAI.
O Decreto nº 7.724 de 2012 regulamenta a Lei de Acesso à Informação no âmbito do Poder
Executivo. Em relação aos demais Poderes, ato normativo de cada Poder deverá normatizar as
aplicações da LAI.
Finalizando as noções gerais, cabe destacar que houve veto presidencial do art. 35 com a
seguinte redação: “A Comissão Mista de Reavaliação de Informações, composta por Ministros de
Estado e por representantes dos Poderes Legislativo e Judiciário, indicados pelos respectivos presi-
dentes, ficará em contato permanente com a Casa Civil da Presidência da República e inserida na
competência da União.” O motivo do veto recaiu no fundamento de que a Comissão estabelecida
no art. 35 visa controlar os atos de classificação de informações produzidas no âmbito do Poder
Executivo, de modo que a participação de representantes do Legislativo e do Judiciário viola o
princípio constitucional da separação dos Poderes.
45 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 640.
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Princípios administrativos
46 GALLO, Carlos Arthur. O Direito à Memória e à Verdade no Brasil Pós-ditadura Civil-militar. Revista Brasileira de
História & Ciências Sociais, v. 2, nº 4, dez. 2010, p. 134-145.
47 Idem, ibidem, p. 143.
48 STF, Pleno, ADPF 153/DF, Relator Ministro Eros Grau, DJe de 05.08.2010.
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foi totalmente revogada pela LAI, assim como ocorreu com alguns dispositivos da Lei nº 8.159
(art. 46, I e II, da LAI), pelo que entendemos que a citada ação perdeu seu objeto.
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Princípios administrativos
inúmeras ações judiciais interpostas por sindicados para obstar a divulgação dos nomes, bem como
de números do CPF, com a invocação de que tais informações poderiam comprometer a segurança
dos servidores. Porém, o STF já possui decisão em caso semelhante, quando um município, em
período anterior à publicação da LAI, criou a mesma obrigação. Assim ficou a decisão do STF:
Ementa: Suspensão de segurança. Acórdãos que impediam a divulgação, em sítio
eletrônico oficial, de informações funcionais de servidores públicos, inclusive a
respectiva remuneração. Deferimento da medida de suspensão pelo presidente do
STF. Agravo regimental. Conflito aparente de normas constitucionais. Direito
à informação de atos estatais, neles embutida a folha de pagamento de órgãos e
entidades públicas. Princípio da publicidade administrativa. Não reconhecimento
de violação à privacidade, intimidade e segurança de servidor público. Agravos
desprovidos. 1. Caso em que a situação específica dos servidores públicos é regida
pela 1ª parte do inciso XXXIII do art. 5º da Constituição. Sua remuneração
bruta, cargos e funções por eles titularizados, órgãos de sua formal lotação, tudo é
constitutivo de informação de interesse coletivo ou geral. Expondo-se, portanto, a
divulgação oficial. Sem que a intimidade deles, vida privada e segurança pessoal
e familiar se encaixem nas exceções de que trata a parte derradeira do mesmo
dispositivo constitucional (inciso XXXIII do art. 5º), pois o fato é que não estão
em jogo nem a segurança do Estado nem do conjunto da sociedade. 2. Não
cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto
da divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto agentes
públicos mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes esta-
tais agindo “nessa qualidade” (§ 6º do art. 37). E quanto à segurança física
ou corporal dos servidores, seja pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará
um tanto ou quanto fragilizada com a divulgação nominalizada dos dados em
debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que se atenua com a proibição de
se revelar o endereço residencial, o CPF e a CI de cada servidor. No mais, é o preço
que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano.
3. A prevalência do princípio da publicidade administrativa outra coisa não é
senão um dos mais altaneiros modos de concretizar a República enquanto forma
de governo. Se, por um lado, há um necessário modo republicano de administrar
o Estado brasileiro, de outra parte é a cidadania mesma que tem o direito de ver o
seu Estado republicanamente administrado. O “como” se administra a coisa pública
a preponderar sobre o “quem” administra – falaria Norberto Bobbio –, e o fato é
que esse modo público de gerir a máquina estatal é elemento conceitual da nossa
República. O olho e a pálpebra da nossa fisionomia constitucional republicana. 4. A
negativa de prevalência do princípio da publicidade administrativa implicaria, no
caso, inadmissível situação de grave lesão à ordem pública. 5. Agravos regimentais
desprovidos (SS 3902 AgR-segundo, Relator(a): Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno,
julgado em 09.06.2011, DJe-189 Divulg 30-09-2011 Public 03-10-2011 Ement
Vol-02599-01 PP-00055).
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Princípios administrativos
ATENÇÃO! São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da solicitação
de informações de interesse público.
Com essa observação feita acerca da vedação dos motivos da solicitação, os agentes públicos
não podem perguntar: Por que você quer essa informação?
O órgão ou entidade deverá fornecer o acesso, ou, se for o caso, fornecer cópia do original
do documento, quando se tratar de peça rara. As buscas devem ser gratuitas, e apenas as cópias
devem ser cobradas; ainda assim, os custos são dispensados às pessoas que não possam pagá-los.
A LAI estabelece o prazo de 20 dias para o fornecimento da informação (art. 11, § 1º), mas
apenas quando não for possível franquear o acesso imediatamente. Esse prazo pode ser prorrogado
por mais 10 dias. Tem-se, aqui, um conflito aparente com a Lei nº 9.507/97, que, ao tratar do
habeas data, prevê o prazo de 48 horas para os bancos de dados fornecerem as informações relati-
vas ao requerente (art. 2º), e de 10 dias para o ingresso com o habeas data no Judiciário, valendo
o silêncio como negativa do fornecimento da informação (art. 8º, parágrafo único, I). Como
resolver esse conflito? Entendemos que deva ser utilizado o critério da especialidade (até mesmo
em virtude da previsão do art. 38 da LAI): em se tratando de informações pessoais constantes de
bancos de dados públicos ou governamentais, aplica-se o prazo da Lei do Habeas Data (10 dias);
nos demais casos, utiliza-se o prazo da LAI (20 dias, prorrogáveis por mais 10).
A negativa deve ser fornecida por escrito (art. 14), mediante certidão ou cópia, o que vai solu-
cionar diversos problemas que eram vivenciados pelos cidadãos, para provar que a Administração se
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Princípios administrativos
Transcorrido o prazo de classificação ou consumado o evento que defina seu termo final, a
informação tornar-se-á automaticamente de acesso público.
TIPO DE
AUTORIDADES
INFORMAÇÃO
a) Presidente da República;
b) Vice-Presidente da República;
Ultrassecreta, se-
c) Ministros de Estado e autoridades com as mesmas prerrogativas;
creta e reservada
d) Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; e
e) Chefes de Missões Diplomáticas e Consulares permanentes no exterior;
Autoridades que exerçam funções de direção, comando ou chefia, nível DAS 101.5,
ou superior, do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores, ou de hierarquia equi- Reservada
valente, de acordo com regulamentação específica de cada órgão ou entidade.
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A autoridade ou outro agente público que classificar informação como ultrassecreta deverá
encaminhar a decisão à Comissão Mista de Reavaliação de Informações.
A classificação das informações será reavaliada pela autoridade classificadora ou por autoridade
hierarquicamente superior, mediante provocação ou de ofício, nos termos e prazos previstos em
regulamento, com vistas à sua desclassificação ou à redução do prazo de sigilo.
9.11. Responsabilidades
O agente que atuar de modo contrário à LAI, por meio de diversas condutas previstas taxati-
vamente no art. 32 (pois, como se trata de definição de ilícitos, não admite, em regra, interpretação
ampliativa nem analogia).
A LAI ainda inova ao prever que as condutas previstas no art. 32 constituem infração disci-
plinar, no âmbito da Lei nº 8.112/90, puníveis, no mínimo, com suspensão (art. 32, § 1º, II). É
dizer: trata-se de faltas de gravidade média, e não meramente faltas leves (que seriam, nesse caso,
punidas com advertência, e não com suspensão). Eis um tema que provavelmente será cobrado
de forma reiterada em provas de concursos!
A LAI ainda estabelece que, pelas condutas descritas no art. 32, poderá o militar ou agente
público responder também por improbidade administrativa, conforme o disposto nas Leis nos 1.079,
de 10 de abril de 1950, e 8.429, de 2 de junho de 1992. Apenas devemos chamar a atenção para
o fato de que a Lei nº 1.079/50 trata, na verdade, dos crimes de responsabilidade.
Já no art. 33, prevê-se a possibilidade de aplicação de penalidades para as pessoas físicas ou
jurídicas privadas, que possuam o dever de fornecer o acesso à informação. Nesse caso as sanções
são as seguintes:
I – advertência;
II – multa;
III – rescisão do vínculo com o Poder Público;
IV – suspensão temporária de participar em licitação e impedimento de contratar
com a Administração Pública por prazo não superior a dois anos; e
V – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração
Pública, até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que
aplicou a penalidade.
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Princípios administrativos
funcional dos servidores. Tal disposição está em sintonia com o art. 37, § 6º, da CF, pois se o Poder
Público causar dano ao particular ao divulgar informação não autorizada deverá ressarcir os danos
causados na forma objetiva. Essa mesma forma de responsabilidade foi estendida para a pessoa física
ou entidade privada que, em virtude de vínculo de qualquer natureza com órgãos ou entidades,
tenha acesso a informação sigilosa ou pessoal e a submeta a tratamento indevido.
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Princípios administrativos
49 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 4ª ed. São Paulo: Método, 2014.
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Direito civil e processual civil. Falência. Parcelamento das dívidas do falido pelo
Refis. Autorização do órgão administrativo competente. Tentativa de desfazimen-
to judicial. Venire contra factum proprium. Recebimento do crédito de forma
parcelada. Ausência de interesse de agir. 1 – No caso dos autos, a União não se
legitima a interpor recurso contra a sentença que, tendo em vista a extinção das
obrigações do falido pela adesão ao Refis extinguiu a falência. 2 – Repugna ao
ordenamento jurídico pátrio a adoção de comportamento processual contraditó-
rio. Assim, se a própria UNIÃO FEDERAL, por meio do órgão administrativo
competente, aprovou a inclusão das dívidas fiscais da empresa falida no Refis, não
pode ela, em seguida, vir a juízo buscar a desconstituição dessa situação jurídica,
contrariando o seu comportamento anterior e prejudicando situação consolidada
no tempo. 3 – Tal conclusão ainda mais se afirma, porque, no caso concreto,
as parcelas contempladas no Refis têm sido pagas regularmente, a evidenciar a
ausência de interesse da recorrente em perseguir o prosseguimento do processo
de falência, com alienação judicial do patrimônio do falido e pagamento dos
credores segundo a ordem legal de preferência. 4 – Recurso especial a que se nega
provimento (REsp 1033963/MG, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma,
julgado em 04.10.2011, DJe 21.10.2011).
Em outro julgado interessante analisado pelo STJ, o Estado não realizou o exame de
balística em razão de disparo de arma de fogo na perseguição de fugitivo que atingiu o par-
ticular. Posteriormente, o Estado, competente para a conclusão do inquérito policial, alegou
que, diante da inexistência de exame de balística do projétil que atingiu a autora não haveria
meios de lhe imputar a responsabilidade pelo fato. O Tribunal afastou a tese com base na
teoria da venire contra factum proprium, pois se não houve o exame de balística, que era dever
do Estado realizá-lo, ele também não poderia se beneficiar de tal comportamento (omissão).
REsp 1236412/ES, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 02.02.2012,
DJe 17/02/2012.
A doutrina faz, ainda, uma distinção entre a venire contra factum proprium e a tu quoque. Ambas
são decorrentes da boa-fé objetiva e proíbem comportamentos opostos. Porém, na primeira há a
prática de um ato sem caráter de ilicitude; na segunda há a prática de um ato contrário ao direito
em que posteriormente pretende se beneficiar desse ato ilegal. Os autores atribuem a expressão
tu quoque ao grito de dor de Júlio César, quando viu que seu filho Bruto estava entre aqueles que
queriam lhe tirar a vida. O imperador então disse: “Tu quoque, filli?”
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Princípios administrativos
Por essa distinção entre as duas teorias, realizando a Administração Pública um ato sem
amparo legal ou abstendo-se de sua prática quando a lei impuser uma conduta, haverá ofensa ao
princípio da legalidade e, por consequência, ato ilícito, sem a possibilidade de se tirar proveito
posterior desse ato, aplicando-se, assim, a tu quoque.
50 Trata-se da chamada “teoria do homem ao mar”: a empresa contrata pessoas físicas e lhes dá “carta branca” para
que pratiquem atos de corrupção, com a condição, porém, de que, em caso de serem flagradas, esse fato não seja
revelado. Assim, apenas a pessoa física é punida. A lógica da Lei Anticorrupção é justamente combater essa situação.
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