Pode-se dizer, rápida e basicamente, que o Direito Administrativo
nasce junto com o Estado de Direito. Mais precisamente, na França pós-revolucionária. Até a revolução burguesa de 1789, regia a lógica do Estado absolutista, no qual o Monarca, enquanto rei absoluto, não era responsabilizado pelos seus atos. O Rei estava acima do Direito. Muitas vezes, aliás, o Direito era exatamente aquilo que ditava o Rei. A ordem jurídica – e todo o resto da sociedade civil – era totalmente submissa às ordenações reais. Com a revolução, há a queda do absolutismo e a instalação do Estado de Direito. Nesse novo período histórico, respondendo aos anseios da burguesia ascendente, que temia o poder estatal desenfreado, o Estado passa a se submeter ao Direito. Até mesmo – e, no Direito Administrativo, principalmente – o Chefe de Estado e de Governo está submisso à ordem jurídica. Os governantes- e o próprio Estado também – passam a dever respeito ao Direito, tanto quanto qualquer outro membro da sociedade. É nesse contexto de submissão jurídica da máquina estatal em que se desenvolve o Direito Administrativo. E não poderia ser diferente. Somente com o advento do Estado de Direito é que começa a fazer sentido o desenvolvimento (no início, mais jurisprudencial do que legal) deste novo ramo do Direito: o Direito Público. O Direito Administrativo nasce, portanto, para disciplinar as relações entre os administradores e os administrados, já que agora estão todos submissos a mesma ordem jurídica. O Direito Administrativo, mais especificamente, começa a ser desenvolvido jurisprudencialmente, através das decisões do Conselho de Estado francês. Tal conselho, instituído em 1799, possui exatamente a função de dirimir as controversas surgidas entre a Administração Pública e os seus administrados. Vale lembrar que os revolucionários burgueses não confiavam no Poder Judiciário, por este ainda ser composto, em sua maioria, por nobres apoiadores do regime monárquico absolutista. Sendo assim, o Conselho de Estado passa a julgar as ações que eram movidas contra a Administração Pública – demonstrando, claramente, que, a partir de então, a Administração também se submetia ao Direito. No ano de 1800 foi editada a Lei de 28 de Pluvioso do ano VIII, que regulamentou a organização da administração pública na França, sendo considerada pela doutrina a “certidão de nascimento” do direito administrativo. A consolidação da autonomia do direito administrativo somente veio com a autonomia do Conselho de Estado da França em 1872, e com sua decisão tomada no chamado caso Blanco, em 1873, onde foi reconhecida a responsabilidade do Estado no atropelamento de uma garotinha que havia sido atropelada por uma vagonete da Empresa Nacional de Manufatura de Fumo.
2. Conceito
Hely Lopes Meirelles destaca o elemento finalístico na conceituação:
os órgãos, agentes e atividades administrativas como instrumentos para realização dos fins desejados pelo Estado. Vejamos:
“Direito Administrativo é o conjunto harmônico de princípios
jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado”.
Celso Antônio Bandeira de Mello enfatiza a idéia de função
administrativa:
“O Direito Administrativo é o ramo do direito público que
disciplina a função administrativa, bem como pessoas e órgãos que a exercem”. Maria Sylvia Zanella Di Pietro põe em evidência como objeto do Direito Administrativo: órgãos, agentes e as pessoas integrantes da Administração Pública no campo jurídico não contencioso:
“o ramo do direito público que tem por objeto os órgãos,
agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exercer e os bens de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública.
3. Natureza Jurídica
O Direito Administrativo faz parte do ramo do Direito Público ou
Direito Privado?
Os ramos do Direito Público estudam a disciplina normativa do
Estado. São de Direito Público os seguintes ramos: Administrativo, Tributário, Constitucional, Eleitoral, Penal, Urbanístico, Ambiental, Econômico, Financeiro, Internacional Público, Internacional Privado, Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho. Por outro lado, pertencem ao Direito Privado os ramos voltados à compreensão do regramento jurídico dos particulares. Atualmente, enquadram-se nessa categoria o Direito Civil, o Empresarial, Internacional Privado e Trabalho.
Não há dúvida de que o Direito Administrativo é ramo do Direito
Público na medida em que seus princípios e normas regulam o exercício de atividades estatais, especialmente a função administrativa.
4. Direito Administrativo versus Ciência da Administração
Ciência da Administração consiste no estudo das técnicas e
estratégias para melhor planejar, organizar, dirigir e controlar a gestão governamental. O certo é que o Direito Administrativo, ciência jurídica, define os limites dentro dos quais a gestão pública pode ser validamente realizada.
5. Sistemas Administrativos: Controle da legalidade e
legitimidade dos atos administrativos São dois os sistemas administrativos: o Sistema Contencioso Francês e Sistema Contencioso Inglês
Na França, as causas de interesse da Administração Pública não são
julgadas no Poder Judiciário, mas por um complexo autônomo de órgãos administrativos cujas decisões ajudaram a desenhar a feição que o Direito Administrativo tem no mundo moderno. A influência da jurisprudência do contencioso administrativo francês sobre o Direito Administrativo no Brasil foi bastante significativa, especialmente em temas como teoria do desvio de poder, teoria dos motivos determinantes, contratos administrativos e responsabilidade do Estado. Porém, no Brasil, onde não existe o contencioso administrativo, já que todas as causas são decididas pelo Poder Judiciário (modelo inglês da jurisdição una), o Direito Administrativo baseia-se diretamente na lei, sendo bem menos expressiva a influência das decisões judiciais para a compreensão das questões de Direito Administrativo.
6. Estado, Governo, Poder Executivo, Administração Pública,
Poder Executivo e Poder Público Estado: é um povo situado em determinado território e sujeito a um governo. Nesse conceito despontam três elementos: a) povo, território e governo.
Governo: É a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução
dos altos interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição pode ser modificada mediante eleições. Faz o planejamento, determina as diretrizes e formula as políticas públicas do Estado.
Poder Executivo: é o complexo de órgãos estatais verticalmente
estruturados sob direção superior do “Chefe do Executivo”. Junto com o Legislativo e o Judiciário, o Executivo compõe a tripartição dos Poderes do Estado.
Administração Pública: é um conceito que não coincide com Poder
Executivo. Atualmente, o termo designa o conjunto de órgãos e agentes estatais no exercício da função administrativa, independentemente se são pertencentes ao Poder Executivo, ao Legislativo ou judiciário.
Administração pública (letra minúscula): são expressões que
designam a atividade consistente na defesa concreta do interesse público. Poder Público: é o complexo de órgãos e funções, caracterizado pela coerção, destinado a assegurar uma ordem jurídica, em certa organização política considerada.
7. CODIFICAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
O Direito Administrativo pátrio, assim como ocorre na maioria dos
países modernos, não está organizado em um diploma único. O nosso Direito Administrativo não está codificado.
De acordo com Hely Lopes Meirelles, existem três estágios pelos
quais um novo ramo jurídico passa rumo à codificação:
a) Fase da Legislação esparsa: nessa etapa as normas pertencentes
ao ramo jurídico estão distribuídas em diplomas legislativos diversos, sem qualquer sentido de sistematização. É a situação atual do Direito Ambiental no Brasil. b) Fase da consolidação: após a fase da legislação esparsa, costuma-se avançar para a elaboração de codificações parciais, conferindo certa organização à disciplina normativa de temas pontuais dentro do ramo jurídico. A consolidação não se caracteriza como um verdadeiro código, na medida em que lhe faltam a unidade lógica e sistematização racional, impossíveis de se obter com a simples justaposição de leis distintas. Na fase da consolidação encontra-se, no Brasil, o Direito do Trabalho.
c) Fase de codificação: finalmente, superadas as etapas da
legislação esparsa e da consolidação, dá-se a codificação do direito por meio da organização, em diploma legislativo único, dos princípios e normas mais relevantes para aquele ramo. Ex: Direito civil, Processual Civil, etc.
Cabe ressaltar que a codificação não tem necessariamente relação
direta com o estágio evolutivo de determinado ramo. A ausência de um código não significa atraso ou falta de amadurecimento científico. A não codificação pode ser resultado de uma simples opção política do legislador.
O direito Administrativo no Brasil está na fase da codificação parcial
(um subestágio dentro da fase da consolidação), pois já existem vários códigos parciais (Código de Contabilidade Pública, Código de Águas, Código da Mineração, etc).
8. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO
No Direito Administrativo somente a Constituição, as Leis e os
Regulamentos constituem fontes primárias (formal) na medida em que as demais fontes secundárias (materiais) são Doutrina, Jurisprudência e Costumes.
Obs. A Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal é de
cumprimento obrigatório pela Administração Pública, de força cogente para agentes, órgãos e entidades administrativas (com a EC n. 45/2004 passou a ser fonte primária/formal).
Art. 103-A da CF: O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício
ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”.
* Alguns autores consideram a “praxe administrativa” como fonte