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DIREITO ADMINISTRATIVO
Gustavo Fernandes
@gustavo_fernandes_sales
gustavo.fernandes@tjdft.jus.br
AULA 01
CONCEITOS INICIAIS
DE DIREITO ADMINISTRATIVO
1. ORIGEM DO DIREITO ADMINISTRATIVO:
O Direito Administrativo é um dos ramos do Direito Público – tronco que visa a regular,
precipuamente, os interesses sociais e estatais, atingindo só reflexamente a conduta
individual (MEIRELLES, 2016, p. 40) – e seu conceito é envolvido em divergências entre os
publicistas.
Como ramo autônomo, nasceu entre o final do século XVIII e o início do século XIX, a
partir do momento em que se desenvolveu o conceito de Estado de Direito, estruturado
sobre os princípios da legalidade e da separação de poderes, isto é, junto com o movimento
incipiente do constitucionalismo (em sentido estrito). Embora já houvesse desde muito
antes normas administrativas, essas se enquadravam no jus civile, juntamente com outras
normas de outros ramos da ciência jurídica (DI PIETRO, 2019, p. 1-2).
Aponta-se a França como o berço histórico do Direito Administrativo, com a
edição da Lei de 28 pluvioso do Ano VIII (1800), que organizou a
Administração Pública francesa (DI PIETRO, 2019, p. 8), seguida do
desenvolvimento dado pela jurisprudência do Conselho de Estado, com seu
contencioso administrativo.
A autonomia desse direito viria propriamente com o famoso caso Blanco,
em 1873, quando se decidiu pela responsabilidade civil do Estado por conta do
acidente envolvendo a menina Agnès Blanco, em Bordeaux, atingida por uma
vagonete da Companhia Nacional de Manufatura de Fumo (DI PIETRO, 2019,
p. 9).
2. DIREITO ADMINISTRATIVO NO BRASIL:
De acordo com Hely Lopes Meirelles (2016, p. 53), são três os pressupostos
necessários para a interpretação das normas, atos e contratos administrativos,
quais sejam:
1) a desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados;
2) a presunção de legitimidade dos atos da Administração; e
3) a necessidade de poderes discricionários para a Administração
atender ao interesse público.
COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO
Prova: PUC-PR - 2014 - TJ-PR - Juiz Substituto. A interpretação do direito
administrativo, além da utilização analógica das regras do direito privado que
lhe foram aplicáveis, há de considerar, necessariamente, três pressupostos:
1º) a desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados; 2º) a
presunção de legitimidade dos atos da administração; 3º) a necessidade de
poderes discricionários para a Administração atender ao interesse público.
Gabarito: certo.
Deve-se atentar, ainda, para a recente alteração da LINDB, promovida pela
Lei n. 13.655/18.
Pelo art. 22, “na interpretação de normas sobre gestão pública, serão
considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das
políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados”.
Ademais, “em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as
circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a
ação do agente” (art. 22, § 1º).
Em prol da segurança jurídica, especialmente a vertente subjetiva (proteção
à confiança legítima), estabelece o art. 23 que “a decisão administrativa,
controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova
sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo
condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando
indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja
cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos
interesses gerais”.
Por sua vez, dispõe o art. 24 que “a revisão, nas esferas administrativa,
controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as
orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança
posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente
constituídas”.
Consideram-se orientações gerais “as interpretações e especificações
contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou
administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa
reiterada e de amplo conhecimento público” (art. 24, parágrafo único).
10. SISTEMAS DE CONTROLE DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:
Por sistema administrativo, ou sistema de controle da Administração, “entende-se o
regime adotado pelo Estado para a correção dos atos administrativos ilegais ou ilegítimos
praticados pelo Poder Público em qualquer dos seus departamentos de governo”
(MEIRELLES, 2016, p. 55).
Dois são os principais sistemas de controle que surgiram nos ordenamentos jurídicos: o
inglês (ou sistema de jurisdição única) e o francês (ou sistema do contencioso
administrativo).
(i) Sistema do contencioso administrativo: por esse sistema, acolhido na
França, os atos ilícitos praticados pela Administração Pública ficam sujeitos a
uma jurisdicional especial e diversa do Poder Judiciário, formada por tribunais
de natureza administrativa. Há dualidade de jurisdição, nos seguintes
termos:
• A jurisdição administrativa é formada por tribunais de natureza
administrativa, a exemplo do Conselho de Estado francês, os quais julgam
litígios que envolvam a atuação da Administração Pública com caráter de
definitividade. As suas decisões, portanto, formam coisa julgada material.
• A jurisdição comum é integrada por órgãos do Poder Judiciário,
legitimados a analisar os atos submetidos à sua apreciação que não digam
respeito à atuação da Administração Pública.
(ii) Sistema de jurisdição una ou única: por esse sistema – originário da
Inglaterra e transposto para diversos países, como Estados Unidos da América,
Bélgica, México e Brasil (MEIRELLES, 2016, p. 59) –, todos os litígios,
envolvam ou não a Administração Pública, devem ser solucionados pelo Poder
Judiciário. Só os órgãos jurisdicionais possuem competência para proferir
decisões definitivas, com força de coisa julgada material (final enforcing
power).
Não há vedação à resolução de conflitos na esfera administrativa, mas tais
decisões não possuem o caráter de definitividade, podendo ser levadas à
apreciação final do Poder Judiciário. As decisões administrativas formam
apenas o que se denomina “coisa julgada administrativa”, que encerra a
discussão naquela esfera, mas não tem o poder de impedir a discussão da
matéria perante órgãos com função jurisdicional.
O Brasil-Colônia conheceu ambos os tipos de jurisdição (a una e a dúplice,
do contencioso administrativo). O contencioso administrativo foi implantado
em 1761, pelo Marquês de Pombal, perdurando até a proclamação da
Independência e durante a época imperial (CRETELLA JÚNIOR, 1971, p. 40).
Enfim, com a instauração da República, o Brasil adotou de uma vez por todas o
sistema de jurisdição única, tipicamente inglês, em que há controle judicial dos
atos administrativos (CF/1891, art. 60 ).
Hely Lopes Meirelles leciona que “a EC 7/77 estabeleceu a possibilidade da
criação de dois contenciosos administrativos (arts. 111 e 203), que não
chegaram a ser instalados e que com a Constituição/88, ficaram definitivamente
afastados” (2016, p. 61).
A CF/88 manteve o sistema inglês de jurisdição una. Consagra a
inafastabilidade da jurisdição, ao prescrever no art. 5º, XXXV, que “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
A possibilidade de recorrer ao Judiciário não depende do prévio
esgotamento das instâncias administrativas, isto é, proíbe-se o
estabelecimento de instância administrativa de curso forçado. Tal vedação
significa que não é possível exigir o exaurimento da discussão em sede
administrativa para se admitir o exercício do direito de ação. Há uma exceção
constitucional:
CF, art. 217, § 1º. “O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da
justiça desportiva, regulada em lei”.
Como forma de minimizar essa exceção à inafastabilidade da jurisdição, o §
2º dispõe que “a justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias,
contados da instauração do processo, para proferir decisão final”.
COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO
Prova: CONSULPLAN - 2019 - TJ-MG - Titular de Serviços de Notas e de
Registros - Remoção. Reconhecida a existência de dois sistemas
administrativos, quais sejam, francês e inglês, têm-se consolidados os moldes
de um sistema de unicidade de jurisdição e outro de dualidade de jurisdição.
No que diz respeito aos sistemas anteriormente mencionados, é correto
afirmar que o ordenamento jurídico pátrio veda a imposição de acesso a
qualquer instância/órgão administrativo como pressuposto a pleitos judiciais.
Gabarito: errado.
Está errado porque há a exceção do STJD – Justiça Desportiva
Outras hipóteses apontadas pela doutrina, como a exigência de exaurimento
das vias administrativas para o uso da reclamação (Lei 11.417/06, art. 7º, §
1º) e a necessidade de comprovação da recusa de informações por parte da
autoridade administrativa em habeas data (Lei 9.507/97, art. 8°, inc. I;
Súmula 2-STJ), não configuram violação à inafastabilidade da jurisdição;
apenas vedam o acesso ao Judiciário por um meio específico, sem impedir o uso
das vias processuais ordinárias, ou obstam a prolação de decisão de mérito,
como ocorre em qualquer decisão extintiva de processo por ausência de
condições da ação.
STF: “O art. 5º, XXXV, assegura o acesso à jurisdição, mas não o direito à
decisão de mérito, que pende - é um truísmo - de presença dos pressupostos do
processo e das condições de ação, de regra, disciplinados pelo direito ordinário
(...)” (RE 273.791, j. 15.08.2000).
11. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:
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