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ILUSTRÍSSIMO SUPERINTENDENTE DA UNIDADE LOCAL DE EXECUÇÃO DO

INDEA – MATO GROSSO

r. Auto de Infração Ambiental n...


Protocolo SEGES n...

AUTUADO, brasileiro, casado, agricultor, inscrito no RG


sob o n..., e CPF n..., residente e domiciliado na
Fazenda..., Zona Rural, Cidade/MT, CEP..., vem, à
presença de Vossa Senhoria, por sua representante legal1,
com fundamento no § 3º, art. 52 do Decreto 1.651/2013 e
inciso II, § 1º, art. 14, da Lei 8.588/2006, apresentar

DEFESA PRÉVIA

em razão do Auto de Infração Ambiental lavrado pelo


Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato
Grosso – Indea, em 24 de novembro de 2020, consoante
as razões de fato e de direito a seguir expostas,
requerendo após as formalidades legais, seja encaminhado
à Comissão de Julgamento de Processos da Defesa
Sanitária Vegetal para julgamento.

1. DA TEMPESTIVIDADE
Primeiramente, há que se registrar que o Autuado tomou conhecimento do
Auto de Infração no dia 03 de dezembro de 2020, através do Edital de Notificação – INDEA,
publicado no Diário Oficial n..., página 31-32, de 01 de dezembro de 2020, dispondo que:

Os autuados, pessoas físicas ou jurídicas, abaixo relacionadas, para apresentar


Defesa Administrativa ou pagamento da multa, no prazo de 30 (trinta) dias. A não
apresentação de defesa ou pagamento da multa no prazo deste edital, ensejará no
encaminhamento para inscrição em dívida ativa e demais providencias.

1
Doc. 1 - Procuração

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Conforme consta no próprio edital de notificação, o prazo para apresentar
defesa prévia é dia 30 (trinta) dias. Nos termos do § 3º, art. 4º, da Lei 11.419/2006 2, “considera-
se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação
no Diário da Justiça eletrônico.” Já o § 4º, preceitua que “os prazos processuais terão início no
primeiro dia útil que seguir ao considerado como data da publicação.”

Portanto, tendo ocorrido a disponibilização no dia 01.12.2020, e


considerando o dia 02.12.2020 como o da publicação, exsurge que o dia de início da contagem
do prazo é 03.12.2020, ou seja, primeiro dia útil ao da publicação. Indiscutível a tempestividade
da presente defesa.

2. BREVE SÍNTESE DO AUTO DE INFRAÇÃO


No dia 22 de novembro de 2020, alguns produtores vizinhos da Fazenda
arrendada pelo Autuado, compareceram à ULE do Indea para registrar “denúncia” que um
avião agrícola aplicava herbicida s na referida fazenda, e que teriam externado preocupação de
ocorrer deriva do produto em suas propriedades, proveniente da aeronave.

A partir disso, em 23 de novembro de 2020, uma equipe de fiscalização se


deslocou até a fazenda, e teria constatado a aeronave em plena operação. Segundo relatório
dos fiscais:

Os fiscais deslocaram-se até uma das propriedades denunciantes para averiguar as


consequências de uma possível deriva de agrotóxicos. Quando no local, foi possível
observar a aeronave agrícola aplicando agrotóxicos na Fazenda. Foi constatado
pelos fiscais que aeronave fazia o percurso, durante a aplicação, em direção ao
sitio vizinho. A aeronave quando chegava na divisa da propriedade Fazenda
desligava a barra de aplicação e seguia o percurso, manobrando sobre a residência
do sitio vizinho.

E ainda:

No período da tarde, após solicitar apoio policial, a polícia civil abriu a porteira da
Fazenda, permitindo o acesso da equipe do Indea ao interior da propriedade. O
proprietário/responsável pela propriedade não encontrava-se no local, os fiscais do
lndea, bem como outros fiscais de outro órgãos foram atendidos por funcionários
dos aplicadores de agrotóxicos (aviação), da empresa que comercializou os
agrotóxicos e os funcionários da própria fazenda que trabalham com pecuária.

Segundo os autos, teriam sido encontrados na pista do avião, onde acontecia


o abastecimento com a calda de agrotóxicos, “Herbicida Tordon XT (fabricante Dow
Agrosciences), inseticida Incrível (fabricante Ihara), inseticida Sperto (fabricante UPL),
inseticida Fastac Duo (Fabricante Basf)”, e, “um tambor do inseticida Fastac Duo (Fabricante

2
https://www.iomat.mt.gov.br/site/canais/prazo

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Basf), com data de vencimento de outrubro de 2019”, com capacidade de 5 litros, contendo 3,5
litros, iludindo os fiscais de que referido produto teria sido usado na pastagem.

Os fiscais ainda localizaram “8,5 litros do inseticida Incrível (fabricante Ihara),


em embalagens de 5 litros, com vencimento em agosto de 2019”. As notas fiscais, assim como
o contrato de prestação de serviços para aplicação aérea dos produtos foram entregues aos
fiscais e constam nos autos às fls. 21-22. Os produtos vencidos foram apreendidos e
depositados na empresa de produtos agropecuários na condição de fiel depositária, através do
Termo de Apreensão. Do relatório elaborado pelos fiscais, extrai-se importante trecho ao
deslinde da questão:

Em análise às notas fiscais foi constatado que a empresa comercializou produtos


com prazo de vencimento de agosto de 2019 e outubro de 2019, porém indicou na
nota fiscal que o vencimento seria 22/11/2020. Foi lavrado Auto de Infração para a
empresa vendedora.

Durante inspeções em propriedades vizinhas, no dia 23 e 28 de novembro de


2020, supostamente atingidas por “provável deriva” da aplicação de agrotóxicos, os fiscais
teriam encontrado “sintomas visíveis de fitotoxidez em diversas espécies de plantas, como
mandioca, quiabo, mamão, algodão, mamona, em espécies nativa e espécies espontâneas,
semelhantes à deriva causada por herbicida hormonal 2,4-D e Picloram.”

Já “em fiscalização realizada em 28 de novembro de 2020 também foi


constatado os sintomas supracitados em vegetação nativa localizado em áreas de preservação
permanente, no interior da Fazenda.”

De acordo com o histórico do autuante (fls. 03-13), “a provável deriva de


herbicidas se fez visível através de sintomas de fitotoxidez em plantas sensíveis, bem como
pôde ser observados e relatados nos termos de Inspeção em vários casos no entorno da
fazenda.”

Por fim, os fiscais relatam que lavraram Termos de


Inspeção/Fiscalização/Notificação e o Auto de Infração Ambiental. O proprietário recusou-se
assinar o Auto de Infração bem como o Termos de Inspeção/Fiscalização/Notificação, e ambos
foram encaminhados ao endereço indicado pelo produtor via correios, através de carta
registrada.

Em verdade, o Auto de Infração foi lavrado para o proprietário da aeronave


agrícola que fazia a aplicação de herbicidas. Já para o Autuado, foi lavrado o outro Auto de
Infração como incurso nos artigos 35, I, II, III; 41, XXXVIII e XXXIX; 44, XLI; 46, XIV, todos do
Decreto 1.651/2013 c/c com o art. 10, I, alínea “a” e “b” da Instrução Normativa n.
2/2008/MAPA, in verbis:

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Decreto nº 1.651, de 11 de Março de 2013
Art. 35 Para efeito de segurança operacional, a aplicação terrestre, de Agrotóxicos
e Afins fica restrita a área tratada observando-se as seguintes regras:
I - não é permitida a aplicação terrestre mecanizada de agrotóxicos e afins em
áreas situadas a uma distância mínima de 90 (noventa) metros de povoações,
cidades, vilas bairros, e mananciais de captação de água, moradia isolada
agrupamento de animais e nascentes ainda que intermitentes;
II - fica proibida a utilização de Agrotóxicos e Afins nas áreas de preservação
permanente, reserva legal, reservas naturais de patrimônio público ou privado,
unidades de conservação de proteção integral e outras áreas de proteção previstas
de acordo com o Código Florestal e Código Ambiental do Estado; (Nova redação
dada pelo Dec. 568/16)
III - os danos, advindos da utilização de Agrotóxicos e Afins serão de inteira
responsabilidade do usuário ou prestador de serviços;
Art. 41 As responsabilidades administrativas, cíveis e penais, recairão, sobre o
registrante, o fabricante, o comerciante, as empresas prestadoras de serviços, o
transportador, o armazenador, o empregador, o depositário, o detentor, o
profissional, o aplicador e o usuário, na forma que dispuser este Regulamento,
considerados como tais: [...]
XXXVIII - o usuário e/ou prestadora de serviços que utilizar Agrotóxicos e Afins sem
respeitar as condições de segurança para proteção da saúde humana e do meio
ambiente;
XXXIX - quem concorrer, de qualquer modo, para a prática de infração ou dela
obter vantagem.
Art. 44 São infrações: [...]
XLI - utilizar Agrotóxicos, seus Componentes e Afins, sem respeitar as condições de
segurança para a proteção da saúde humana e do meio ambiente;
Art. 46 Sem prejuízo das penalidades prevista no artigo anterior, as infrações da
presente Lei, seu Regulamento e Atos Normativos ficam sujeitas às seguintes
multas, isolada ou cumulativamente: [...]
XIV - utilizar agrotóxicos, seus componentes e afins sem os devidos cuidados com
a proteção da saúde humana e do meio ambiente - multa de 200 a 600 UPF/MT;
Instrução Normativa nº 2 de 03/01/2008 / MAPA
Art. 10. Para o efeito de segurança operacional, a aplicação aeroagrícola fica
restrita à área a ser tratada, observando as seguintes regras:
I - não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma
distância mínima de:
a) quinhentos metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de mananciais de
captação de água para abastecimento de população;
b) duzentos e cinqüenta metros de mananciais de água, moradias isoladas e
agrupamentos de animais;

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Contudo, o auto de infração é absolutamente nulo, pois a responsabilidade
administrativa assim como a penal, são subjetivas, e jamais podem ser aplicadas para terceiro
que não praticou a infração, muito menos por mera presunção, razão pela qual, requer o
cancelamento do Auto de Infração Ambiental hostilizado.

3. REPAROS AOS FATOS


Primeiramente, registra-se que a suposta recusa em assinar o Auto de
Infração não ocorreu no dia 28 de novembro conforme narrado pelos fiscais, e sim, em data
posterior e incerta, quando o Autuado compareceu à Unidade do Indea para prestar
esclarecimentos, que de forma vexatória, não foram aceitos pelas autoridades. O Autuado
estava em viagem nacional no dia dos fatos, e não na fazenda. Também não se recusou a
assinar o documento, e apenas teve ciência que havia sido autuado, por meio da publicação
editalícia.

Pois bem. Dos autos, extrai-se que no dia 22 de novembro de 2020, os


moradores vizinhos à Fazenda arrendada pelo Autuado teriam comparecido à ULE do Indea
para registrar “denúncia” que um avião agrícola aplicava agrotóxicos na referida fazenda, e que
teriam externado preocupação de ocorrer deriva de agrotóxicos em suas propriedades,
proveniente da referida aeronave, sendo que a fiscalização ocorreu no dia seguinte, 23 de
novembro, data em que constatou-se a aplicação aérea de agrotóxicos.

Nesse ponto, chama-se a atenção desta Comissão de Julgamento de


Processos da Defesa Sanitária Vegetal, que os moradores vizinhos à fazenda do Autuado
apenas externaram preocupação na deriva de herbicidas. Em nenhum momento consta que
houve a efetiva deriva sobre suas propriedades.

Salta aos olhos ainda, o relato dos fiscais que, no próprio dia 23, dia da
fiscalização, bem como no dia 28, de “sintomas visíveis de fitotoxidez em diversas espécies de
plantas, como mandioca, quiabo, mamão, algodão, mamona, em espécies nativa e espécies
espontâneas, semelhantes à deriva causada por herbicida hormonal 2,4-D e Picloram ,” por
provável deriva de agrotóxicos, e ainda, “os sintomas observados foram epinastia das folhas,
pecíolo, ramos e caules, alteração na venação das folhas e encarquilhamento, o caules
quebradiço, clorose, murchamento, necrose das folhas e alterações no crescimento.”
(destaquei da fl. 04).

Ocorre que a pulverização aérea foi iniciada somente no exato dia 23, data
da fiscalização. Prova disso, são as notas fiscais emitidas pela empresa de produtos
agropecuários no fim da tarde do dia 22, que podem ser consultadas eletronicamente.

Os produtos foram entregues ao Autuado pela própria empresa, conforme


expressa menção nas notas fiscais. Ora. É indiscutivelmente impossível que a aplicação dos

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produtos no dia 23 tenha provocado os sintomas de toxidade nas plantas, como relataram os
fiscais.

Ademais, o Fastac Duo3, Incrível4 e Sperto5, são produtos para controle de


cigarrinhas-das-pastagens, percevejos e mosca-branca na cultura de pastagem, conforme
colhe-se da própria bula dos produtos, e são tão ineficazes aos seres vivos, incluindo as
plantas, que recomenda-se apenas 24h de intervalo para reentrada no local da aplicação. Veja,
“recomenda-se”.

Já o Redutan NPK Sili6 é um fertilizante foliar, e não herbicida, enquanto o


Zartan7 e Tordon8 (também com 24h de intervalo para reentrada no local da aplicação) que
servem para controle de ervas daninhas em diversas culturas, inclusive nas espécimes que
teriam sido verificados os “sintomas visíveis de fitotoxidez,” e que não afetam plantas, sequer
foi utilizado na data da fiscalização, ou data anterior.

Logo, nenhum dos produtos utilizados poderia ter causado os “sintomas”


observados pelos fiscais, que concluíram, equivocadamente, pela provável deriva de herbicida
aérea, veja:

Em fiscalização realizada em 28 de novembro de 2020 também foi constatado os


sintomas supracitados em vegetação nativa localizado em áreas de preservação
permanente, no interior da Fazenda.
A provável deriva de herbicidas se fez visível através de sintomas de fitotoxidez em
plantas sensíveis, bem como pôde ser observados e relatados nos termos de
Inspeção em vários casos no entorno da fazenda. As consequências de uma deriva
de qualquer um dos inseticidas, aplicados nas pastagens da fazenda, à saúde
humana, bem como à fauna silvestre e animais domésticos não é visível ao olho nu,
o que não descarta sua provável ocorrência.

O Autuado sequer estava na fazenda, tão pouco na pista de pouso, e sua


ausência foi consignada pelos próprios fiscais no relatório, apesar de confuso, pois a pessoa
que se recusou a assinar os termos, não foi o Autuado.

Portanto, a narrativa dos fiscais, concessa venia, não permite extrair nenhum
dado autorizador para imputar ao Autuado referidas condutas, que são próprias do
transgressor. Frise-se, que o sistema legal brasileiro não permite a imputação de infrações
administrativas por mera presunção. Definitivamente, o Auto de Infração Ambiental padece de
nulidade e deve ser declarado nulo por esta Comissão julgadora.

3
http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Inseticidas/FASTACDUO.pdf
4
http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Inseticidas/incrivel050218.pdf
5
http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Inseticidas/sperto0420.pdf
6
http://juma-agro.com.br/produto/redutan-npk/
7
http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Herbicidas/zartan.pdf
8
http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Herbicidas/tordonxt260218.pdf

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4. DO MÉRITO
A Constituição Federal de 1988 assegura em seu art. 5º, que todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, e ainda:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

Ademais, à luz do princípio da intranscendência das penas, elencada no art.


5º, XLV da CF/88, nenhuma pena passará da pessoa do condenado, o que impossibilita
penalizar o Autuado por supostas práticas cometidas por terceiros.

De mais a mais, a dúvida não pode militar em desfavor do Autuado, haja


vista que a imposição de multa administrativa possui caráter penalizador, e afigurando-se como
medida rigorosa e privativa de uma liberdade pública constitucionalmente assegurada (CF/88,
art. 5º, XV, LIV, LV, LVII e LXI), requer a demonstração cabal da autoria e materialidade,
pressupostos autorizadores da imposição de sanção, e na hipótese de constarem nos autos
elementos de prova que conduzam à dúvida acerca da autoria delitiva, a nulidade do auto de
infração ambiental é medida que se impõe, em observância ao princípio do in dubio pro reo.

Cumpre lembrar que o servidor público está vinculado diretamente ao


preceito Constitucional do art. 379, orientando que o descumprimento dos princípios ali
inseridos, sobretudo o da legalidade, torna nulo os atos administrativos praticados.

Sobre referido princípio, o emérito Professor Carvalho Filho ensina:

O princípio da legalidade é certamente a diretriz básica da conduta dos agentes da


Administração. Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve ser
autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita. Tal postulado, consagrado
após séculos de evolução política, tem por origem mais próxima a criação do
Estado de Direito, ou seja, do Estado que deve respeitar as próprias leis que edita.
O princípio “implica subordinação completa do administrador à lei. Todos os
agentes públicos, desde o que lhe ocupe a cúspide até o mais modesto deles,
devem ser instrumentos de fiel e dócil realização das finalidades normativas”. [...] O
princípio da legalidade denota exatamente essa relação: só é legítima a atividade
do administrador público se estiver condizente com o disposto na lei.10

9
Art. 37- A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte [...]
10
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 30ª Edição. São Paulo. Editora Atlas. 2016. P.
72-73.

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Di Pietro, comenta o desprestígio do administrador à Constituição:

A consequência é que a evolução do direito administrativo depende, em grande


parte, de reformas constitucionais, o que conduz a dois caminhos : (a) um, lícito,
que é a reforma pelos instrumentos que a própria Constituição prevê; (b) outro que
é feito ao arrepio da Constituição, que vai sendo atropelada pelas leis ordinárias,
por atos normativos da Administração Pública e, às vezes, sem qualquer previsão
normativa; a Administração Pública, com muita frequência, coloca-se na frente do
legislador. Daí o desprestígio da Constituição e do princípio da legalidade. 11

O multisciente Professor Celso Antônio Bandeira de Mello 12 lembra da


subordinação da Administração às leis, principalmente à Constituição:

O princípio da legalidade explicita a subordinação da atividade administrativa à lei e


surge como decorrência natural da indisponibilidade do interesse público, noção,
esta, que, conforme foi visto, informa o caráter da relação de administração. No
Brasil, o art. 5º, inciso II, da Constituição dispõe: "Ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".

Fato incontroverso, é que não há nos autos do processo administrativo,


qualquer informação concreta de que o Autuado teria concorrido para as infrações, o que viola
o art. 15 da Lei 8.588/2006 regulamentado pelo Decreto 1.651/2013, que:

Art. 15. Constitui infração toda ação ou omissão que importe na inobservância de


preceitos estabelecidos nesta lei, ou na desobediência às determinações de caráter
normativo dos órgãos ou das autoridades administrativas competentes.

Cediço que a Administração Pública só pode fazer o que está expressamente


previsto em lei, ou seja, no caso, o Indea só pode lavrar auto de infração ambiental para quem
pratica uma ação ou omissão contrária a legislação ambiental, o que não é o caso, como será
melhor delineado nos capítulos seguintes, e que importa na anulação do auto de infração em
tela.

4.1. DA NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL POR VÍCIO


INSANÁVEL – AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO NEXO
CAUSAL – VULNERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INTRANSCENDÊNCIA DAS PENAS
Cediço que a responsabilidade civil pela reparação dos danos ambientais
adere à propriedade, como obrigação propter rem, sendo possível cobrar também do atual
proprietário, condutas derivadas de danos provocados pelos proprietários antigos.

11
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27ª Edição. São Paulo. Editora Atlas. 2014.
12
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 32ª Edição. São Paulo. Malheiros Editores. 2014. P.
78.

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Porém, a responsabilidade administrativa por dano ambiental é exclusiva do
infrator, assim como a criminal, não sendo possível a aplicação de nenhuma sanção a terceiros
que não tenham infringido diretamente a legislação ambiental.

É que pelo princípio da intranscendência das penas (art. 5º, inc. XLV, CF/88),
aplicável não só ao âmbito penal, mas também a todo o Direito Sancionador, não é possível
aplicar auto de infração ambiental a pessoa que não tenha praticado o dano ambiental.

Isso porque, a aplicação de penalidades administrativas não obedece à


lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas
deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida
pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e
com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano.

A diferença entre os dois âmbitos de punição e suas consequências fica bem


estampada da leitura do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81, segundo o qual, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

O art. 14, caput, também é claro:

Art 14 – Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e
municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção
dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental
sujeitará os transgressores: […]

Em resumo: a aplicação de multa ambiental limita-se aos transgressores; a


reparação ambiental, de cunho civil, a seu turno, pode abranger todos os poluidores, a quem a
própria legislação define como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”  (art.
3º, inc. V, do mesmo diploma normativo).

Note-se que a própria lei já define como poluidor todo aquele que seja
responsável pela degradação ambiental – e aquele que, adquirindo a propriedade, não reverte
o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um responsável indireto por
degradação ambiental (poluidor, pois).

Mas fato é que o uso do vocábulo “transgressores” no caput do art. 14,


comparado à utilização da palavra “poluidor” no § 1º do mesmo dispositivo, deixa a entender
aquilo que já se podia inferir da vigência do princípio da intranscendência das penas: a
responsabilidade civil por dano ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as
responsabilidades administrativa e penal, não admitindo estas últimas que terceiros respondam
a título objetivo por ofensa ambientais praticadas por outrem.

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Sabe-se que a responsabilidade ambiental gera efeitos nas três esferas:
administrativa (multa ambiental), criminal (quando a infração constituir crime o infrator responde
um processo judicial criminal) e cível (recuperação do meio ambiente), mas devido a natureza
sancionadora, somente a responsabilidade civil é objetiva e solidária, não sendo possível
imputar crime ambiental muito menos multa administrativa a terceiro que não tenha concorrido
diretamente para o dano ambiental, como é o caso em tela.

Portanto, há de ser considerado por esta d. Comissão de Julgamento de


Processos da Defesa Sanitária Vegetal, que o Auto de Infração Ambiental lavrado em desfavor
do Autuado é eivado de vícios o que caracteriza sua nulidade, conforme melhor fundamentação
a seguir.

4.2. DA ATIPICIDADE DA CONDUTA – AUTO DE INFRAÇÃO


AMBIENTAL LAVRADO CONTRA TERCEIRO - IMPOSSIBILIDADE
Como visto no capítulo anterior, a responsabilidade civil pela Fazenda é do
proprietário, e solidariamente do Autuado, ora arrendatário. Tal fato, porém, não atrai a
responsabilidade administrativa e criminal do dono de imóvel, e muito menos do Autuado
porque estas últimas possuem natureza penalizadora.

Pois bem. Segundo o Auto de Infração Ambiental lavrado pelos agentes de


fiscalização do Indea, cujo valor aplicado a título de multa foi de 400 UPF/MT, o Autuado teria
praticado a conduta prevista nos artigos 44, XLI e 46, XIV, do Decreto 1.651/2013, in verbis:

Art. 44 São infrações: [...]


XLI - utilizar Agrotóxicos, seus Componentes e Afins, sem respeitar as condições de
segurança para a proteção da saúde humana e do meio ambiente;
Art. 46 Sem prejuízo das penalidades prevista no artigo anterior, as infrações da
presente Lei, seu Regulamento e Atos Normativos ficam sujeitas às seguintes
multas, isolada ou cumulativamente: [...]
XIV - utilizar agrotóxicos, seus componentes e afins sem os devidos cuidados com
a proteção da saúde humana e do meio ambiente - multa de 200 a 600 UPF/MT;

Sobreleva notar, que o Autuado não se enquadra em nenhuma disposição


retro. É que o Autuado foi apenas o contratante dos serviços de pulverização aérea de
herbicidas, e não poderia cometer as infrações. De igual modo, não aplicou nenhum defensivo
como descrito e muito menos pilotou a aeronave. O fato é incontroverso, e consta no campo
“irregularidades” do próprio auto de infração ambiental, senão vejamos:

Aplicação aérea de agrotóxicos sobre áreas de proteção permanentes, curso


d'água, e sobrevoo na vila da comunidade pé de galinha.

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A infração em análise, se realmente existiu, seria própria do causador do
dano, ou seja, do piloto da aeronave que descumpriu as normas, tanto o é, que a Instrução
Normativa n. 02/2008/MAPA, prevê regras que devem ser cumpridas pelo piloto, como as
dispostas na da qual destaca-se o art. 4º:

Art. 4º Nas áreas de pouso e decolagem, deverão ser observados pelas empresas
de aviação agrícola, pessoa física ou jurídica, o disposto nos regulamentos
aeronáuticos em vigor, no que se refere à utilização e registro das áreas de pouso e
decolagem empregadas nos trabalhos de aviação agrícola, sem prejuízo das
normas estabelecidas nesta Instrução Normativa, inclusive no que diz respeito à
estocagem de produtos, que deverá ser feita em local seguro, no que se refere à
operação aeronáutica e contaminação ambiental.

Ademais, o art. 10 da mesma instrução normativa, que visa regulamentar o


trabalho da aviação agrícola, disciplina, conforme consignado no auto de infração ambiental
lavrado em desfavor do Autuado:

Art. 10. Para o efeito de segurança operacional, a aplicação aeroagrícola fica


restrita à área a ser tratada, observando as seguintes regras:
I - não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma
distância mínima de:
a) quinhentos metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de mananciais de
captação de água para abastecimento de população;
b) duzentos e cinqüenta metros de mananciais de água, moradias isoladas e
agrupamentos de animais;

Ora. Sendo o Autuado contratante do serviço de pulverização aérea, é


evidente que não poderia ser autuado, pois não possui competência nem aptidão técnica para
determinar qual seria a rota de voo da aeronave e demais especificidades necessárias, as
quais cabem ao piloto verificar.

Imagine-se, um passageiro do aplicativo Uber ou Táxi fosse responsável


pelas infrações de trânsito cometidas pelo motorista? Claro que não! E nem poderia, pois o
Código de Trânsito prevê a infração ao condutor infrator. Trazendo essa analogia aos autos,
verifica-se que o condutor da aeronave não era o Autuado. Logo não pode ser acusado de
ação ou omissão as regras ambientais. E mais. Não estava no local, nem na cidade. Estava em
viagem nacional. Tratava-se de uma contratação para um serviço, assim como o passageiro
que contrata o motorista de Uber ou Táxi.

E ainda que fosse diferente, seria necessário que os agentes de fiscalização


do Indea descrevessem de forma clara e precisa a conduta realizada pelo Autuado para
configuração das infrações, até mesmo para possibilitar o exercício do contraditório e da ampla

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defesa. Nesse sentido, é entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, que não
configura infração administrativa se ausente o dolo ou culpa. À propósito:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. AUTO DE


INFRAÇÃO. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA. EXIGÊNCIA DE DOLO OU
CULPA. MULTA. CABIMENTO EM TESE. 1. Segundo o acórdão recorrido, "a
responsabilidade administrativa ambiental é fundada no risco administrativo,
respondendo, portanto, o transgressor das normas de proteção ao meio ambiente
independentemente de culpa lato senso, como ocorre no âmbito da
responsabilidade civil por danos ambientais" (e-STJ fl. 997). 2. Nos termos da
jurisprudência do STJ, como regra a responsabilidade administrativa ambiental
apresenta caráter subjetivo, exigindo dolo ou culpa para sua configuração.
Precedentes: REsp 1.401.500 Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,
DJe 13/9/2016, AgRg no AREsp 62.584/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Rel. p/
acórdão Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 7/10/2015, REsp
1.251.697/PR, Rel. Ministro. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
17/4/2012. 3. Recurso Especial parcialmente provido. (REsp 1640243/SC, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe
27/04/2017).

Repise-se, que quando da fiscalização, os fiscais avistaram in loco o


sobrevoo, e inclusive consignaram em relatório que a aeronave desligava a barra de aplicação
na divisa da propriedade, e depois de manobrar continuava a pulverização, veja:

Os fiscais deslocaram-se até uma das propriedades denunciantes para averiguar as


consequências de uma possível deriva de agrotóxicos. Quando no local, foi possível
observar a aeronave agrícola aplicando agrotóxicos na Fazenda. Foi constatado
pelos fiscais que aeronave fazia o percurso, durante a aplicação, em direção ao
sitio vizinho. A aeronave quando chegava na divisa da propriedade Fazenda
desligava a barra de aplicação e seguia o percurso, manobrando sobre a residência
do sitio vizinho.
Não há provas de que o Autuado tenha incorrido para os fatos de deriva de
herbicida nas propriedades vizinhas, sendo qualquer manutenção do auto de infração
ambiental um verdadeiro ato tirânico. Aliás, não há provas as propriedades vizinhas teriam sido
afetadas pelas herbicidas, senão mera “provável deriva de agrotóxico”. Ora! Isso não serve
para manutenção do auto de infração ambiental, e nem poderia. Relembre-se os princípios aos
quais a Administração está adstrita.
Também não se revela razoável afirmar, que a responsabilidade do Autuado
seria resultado lógico de eventual comportamento omissivo de sua parte, pois este, como
consabido, só se verifica nas hipóteses em que o agente (suposto poluidor), tendo o dever de
impedir a degradação, deixa mesmo assim de fazê-lo, beneficiando-se, ainda que de forma
indireta, do comportamento de terceiro diretamente responsável pelo dano causado ao meio
ambiente. Isso porque, o Autuado como os próprios fiscais observaram, não estava
acompanhando o serviço de pulverização, aliás, não estava na fazenda, ou melhor, na cidade.

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O Autuado é consumidor final, e nessa condição, não poderia incorrer
naquelas infrações, nem responder por elas. Repise-se, não houve descumprimento das
normas de uso de herbicidas, tão pouco concorrência para sua prática ou obtenção de
vantagem, conforme indicam os incisos XXXVIII e XXXIX, do art. 41, do Decreto 1.651/2013.

Com a devida vênia, o cometimento de delitos pelos administrados não pode


ser imputado diretamente pela autoridade fiscalizadora por simples presunção quando da
ausência de flagrante delito e sem o devido processo legal ou investigação. Ou seja, a simples
condição de contratante dos serviços de pulverização em propriedade arrendada, não constitui
por si só, justa causa à persecução administrativa.

Pelo que se verifica, resta ausente, portanto, os pressupostos


caracterizadores da infração imputada, pois não ficou demonstrado a conduta que o Autuado
teria praticado. Como podemos ver, não há elementos suficientes que permitam concluir que,
de fato, o Autuado tenha utilizado “agrotóxicos, seus componentes e afins sem os devidos
cuidados com a proteção da saúde humana e do meio ambiente.”

Não há informação precisa, nem perícia ou qualquer outro método de


avaliação técnica, que possa comprovar a verdadeira causa de suposta fitotoxidez nas plantas
em propriedades vizinhas, muito menos laudos que comprovem que a vegetação tenha sofrido
moléstia com a deriva de herbicida, e que referida deriva teria sido causada pelo Autuado.

Muito pelo contrário. Há provas nos autos, colhidas in loco pelos próprios
fiscais, relatando que o Autuado não estava na fazenda quando da fiscalização; e, que ao
chegar na divisa, o piloto desligava as barras de pulverização.

O que se tem de concreto, portanto, é que, durante fiscalização na


propriedade arrendada pelo Autuado, havia pulverização aérea de herbicidas, algumas com
data de validade expirada, porém, com nota fiscal comprovando que haviam sido adquiridas no
dia anterior, e nelas constavam outra data de vencimento diversa. Nada mais.

Em relação a essa suposta alteração de data de vencimento, seria


necessário ao órgão abrir processo contra a empresa vendedora. O Autuado, seja por culpa ou
por dolo da empresa, foi vítima, mesmo porque, as herbicidas lhe foram entregues na fazenda
arrendada.

Diante disso, é arbitrária a lavratura do auto de infração ambiental, na medida


em que inviável a imposição de penalidade fundada, como no caso concreto, exclusivamente
na condição de arrendatário do imóvel e contratante do serviço de pulverização, sem qualquer
demonstração do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (ilícito administrativo), se
é que este ocorreu.

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E ainda que se alegue que os agentes estatais gozam de fé pública e seus
atos se revestem de legitimidade, é incontroverso que tais princípios são relativos e que os atos
administrativos, especialmente aqueles que impõem penalidade, devem ser devidamente
instruídos e as decisões respectivas devidamente fundamentadas, sob pena de nulidade.

6. ATENUANTES
Subsidiariamente, se esta autoridade julgadora não entender pela nulidade
do Auto de Infração Ambiental, informa para fins de circunstâncias atenuantes que, o Autuado
não concorreu para a consecução da infração; é infrator primário; e, a conduta não caracteriza-
se como dolo, fraude ou má-fé, nos termos das alíneas “a”, “c” e “d”, art. 48, do Decreto
1.651/2013.

7. DOS REQUERIMENTOS
Ante o exposto, requer se digne esta Comissão a:

a) Declarar nulo o Auto de Infração Ambiental lavrado em desfavor do Autuado, a fim de


excluir a imposição da penalidade;

b) No caso de o requerimento anterior não ser acolhido, requer a aplicação das atenuantes
previstas nas alíneas “a”, “c” e “d”, art. 48, do Decreto 1.651/2013, excluindo qualquer
imposição de multa, ou, converter a multa em advertência;

c) Requer a intimação por via postal com aviso de recebimento para apresentar alegações
finais ou, caso mantido o auto de infração ambiental hostilizado, a notificação da decisão
para interposição de recurso, consoante art. 55 do Decreto 1.651/2013;

d) Por fim, requer a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, inclusive,
laudo técnico elaborado por profissional habilitado a fim de averiguar se houve ou não
deriva de herbicidas provocadas pela aeronave agrícola contrata pelo Autuado;

Requer e espera deferimento.

MT, 05 de dezembro de 2020.

Procuradora do Autuado

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