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DEFESA PRÉVIA
1. DA TEMPESTIVIDADE
Primeiramente, há que se registrar que o Autuado tomou conhecimento do
Auto de Infração no dia 03 de dezembro de 2020, através do Edital de Notificação – INDEA,
publicado no Diário Oficial n..., página 31-32, de 01 de dezembro de 2020, dispondo que:
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Doc. 1 - Procuração
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Conforme consta no próprio edital de notificação, o prazo para apresentar
defesa prévia é dia 30 (trinta) dias. Nos termos do § 3º, art. 4º, da Lei 11.419/2006 2, “considera-
se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação
no Diário da Justiça eletrônico.” Já o § 4º, preceitua que “os prazos processuais terão início no
primeiro dia útil que seguir ao considerado como data da publicação.”
E ainda:
No período da tarde, após solicitar apoio policial, a polícia civil abriu a porteira da
Fazenda, permitindo o acesso da equipe do Indea ao interior da propriedade. O
proprietário/responsável pela propriedade não encontrava-se no local, os fiscais do
lndea, bem como outros fiscais de outro órgãos foram atendidos por funcionários
dos aplicadores de agrotóxicos (aviação), da empresa que comercializou os
agrotóxicos e os funcionários da própria fazenda que trabalham com pecuária.
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https://www.iomat.mt.gov.br/site/canais/prazo
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Basf), com data de vencimento de outrubro de 2019”, com capacidade de 5 litros, contendo 3,5
litros, iludindo os fiscais de que referido produto teria sido usado na pastagem.
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Decreto nº 1.651, de 11 de Março de 2013
Art. 35 Para efeito de segurança operacional, a aplicação terrestre, de Agrotóxicos
e Afins fica restrita a área tratada observando-se as seguintes regras:
I - não é permitida a aplicação terrestre mecanizada de agrotóxicos e afins em
áreas situadas a uma distância mínima de 90 (noventa) metros de povoações,
cidades, vilas bairros, e mananciais de captação de água, moradia isolada
agrupamento de animais e nascentes ainda que intermitentes;
II - fica proibida a utilização de Agrotóxicos e Afins nas áreas de preservação
permanente, reserva legal, reservas naturais de patrimônio público ou privado,
unidades de conservação de proteção integral e outras áreas de proteção previstas
de acordo com o Código Florestal e Código Ambiental do Estado; (Nova redação
dada pelo Dec. 568/16)
III - os danos, advindos da utilização de Agrotóxicos e Afins serão de inteira
responsabilidade do usuário ou prestador de serviços;
Art. 41 As responsabilidades administrativas, cíveis e penais, recairão, sobre o
registrante, o fabricante, o comerciante, as empresas prestadoras de serviços, o
transportador, o armazenador, o empregador, o depositário, o detentor, o
profissional, o aplicador e o usuário, na forma que dispuser este Regulamento,
considerados como tais: [...]
XXXVIII - o usuário e/ou prestadora de serviços que utilizar Agrotóxicos e Afins sem
respeitar as condições de segurança para proteção da saúde humana e do meio
ambiente;
XXXIX - quem concorrer, de qualquer modo, para a prática de infração ou dela
obter vantagem.
Art. 44 São infrações: [...]
XLI - utilizar Agrotóxicos, seus Componentes e Afins, sem respeitar as condições de
segurança para a proteção da saúde humana e do meio ambiente;
Art. 46 Sem prejuízo das penalidades prevista no artigo anterior, as infrações da
presente Lei, seu Regulamento e Atos Normativos ficam sujeitas às seguintes
multas, isolada ou cumulativamente: [...]
XIV - utilizar agrotóxicos, seus componentes e afins sem os devidos cuidados com
a proteção da saúde humana e do meio ambiente - multa de 200 a 600 UPF/MT;
Instrução Normativa nº 2 de 03/01/2008 / MAPA
Art. 10. Para o efeito de segurança operacional, a aplicação aeroagrícola fica
restrita à área a ser tratada, observando as seguintes regras:
I - não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma
distância mínima de:
a) quinhentos metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de mananciais de
captação de água para abastecimento de população;
b) duzentos e cinqüenta metros de mananciais de água, moradias isoladas e
agrupamentos de animais;
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Contudo, o auto de infração é absolutamente nulo, pois a responsabilidade
administrativa assim como a penal, são subjetivas, e jamais podem ser aplicadas para terceiro
que não praticou a infração, muito menos por mera presunção, razão pela qual, requer o
cancelamento do Auto de Infração Ambiental hostilizado.
Salta aos olhos ainda, o relato dos fiscais que, no próprio dia 23, dia da
fiscalização, bem como no dia 28, de “sintomas visíveis de fitotoxidez em diversas espécies de
plantas, como mandioca, quiabo, mamão, algodão, mamona, em espécies nativa e espécies
espontâneas, semelhantes à deriva causada por herbicida hormonal 2,4-D e Picloram ,” por
provável deriva de agrotóxicos, e ainda, “os sintomas observados foram epinastia das folhas,
pecíolo, ramos e caules, alteração na venação das folhas e encarquilhamento, o caules
quebradiço, clorose, murchamento, necrose das folhas e alterações no crescimento.”
(destaquei da fl. 04).
Ocorre que a pulverização aérea foi iniciada somente no exato dia 23, data
da fiscalização. Prova disso, são as notas fiscais emitidas pela empresa de produtos
agropecuários no fim da tarde do dia 22, que podem ser consultadas eletronicamente.
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produtos no dia 23 tenha provocado os sintomas de toxidade nas plantas, como relataram os
fiscais.
Portanto, a narrativa dos fiscais, concessa venia, não permite extrair nenhum
dado autorizador para imputar ao Autuado referidas condutas, que são próprias do
transgressor. Frise-se, que o sistema legal brasileiro não permite a imputação de infrações
administrativas por mera presunção. Definitivamente, o Auto de Infração Ambiental padece de
nulidade e deve ser declarado nulo por esta Comissão julgadora.
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http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Inseticidas/FASTACDUO.pdf
4
http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Inseticidas/incrivel050218.pdf
5
http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Inseticidas/sperto0420.pdf
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http://juma-agro.com.br/produto/redutan-npk/
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http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Herbicidas/zartan.pdf
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http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/defis/DFI/Bulas/Herbicidas/tordonxt260218.pdf
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4. DO MÉRITO
A Constituição Federal de 1988 assegura em seu art. 5º, que todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, e ainda:
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Art. 37- A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte [...]
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CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 30ª Edição. São Paulo. Editora Atlas. 2016. P.
72-73.
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Di Pietro, comenta o desprestígio do administrador à Constituição:
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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27ª Edição. São Paulo. Editora Atlas. 2014.
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 32ª Edição. São Paulo. Malheiros Editores. 2014. P.
78.
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Porém, a responsabilidade administrativa por dano ambiental é exclusiva do
infrator, assim como a criminal, não sendo possível a aplicação de nenhuma sanção a terceiros
que não tenham infringido diretamente a legislação ambiental.
É que pelo princípio da intranscendência das penas (art. 5º, inc. XLV, CF/88),
aplicável não só ao âmbito penal, mas também a todo o Direito Sancionador, não é possível
aplicar auto de infração ambiental a pessoa que não tenha praticado o dano ambiental.
Art 14 – Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e
municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção
dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental
sujeitará os transgressores: […]
Note-se que a própria lei já define como poluidor todo aquele que seja
responsável pela degradação ambiental – e aquele que, adquirindo a propriedade, não reverte
o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um responsável indireto por
degradação ambiental (poluidor, pois).
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Sabe-se que a responsabilidade ambiental gera efeitos nas três esferas:
administrativa (multa ambiental), criminal (quando a infração constituir crime o infrator responde
um processo judicial criminal) e cível (recuperação do meio ambiente), mas devido a natureza
sancionadora, somente a responsabilidade civil é objetiva e solidária, não sendo possível
imputar crime ambiental muito menos multa administrativa a terceiro que não tenha concorrido
diretamente para o dano ambiental, como é o caso em tela.
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A infração em análise, se realmente existiu, seria própria do causador do
dano, ou seja, do piloto da aeronave que descumpriu as normas, tanto o é, que a Instrução
Normativa n. 02/2008/MAPA, prevê regras que devem ser cumpridas pelo piloto, como as
dispostas na da qual destaca-se o art. 4º:
Art. 4º Nas áreas de pouso e decolagem, deverão ser observados pelas empresas
de aviação agrícola, pessoa física ou jurídica, o disposto nos regulamentos
aeronáuticos em vigor, no que se refere à utilização e registro das áreas de pouso e
decolagem empregadas nos trabalhos de aviação agrícola, sem prejuízo das
normas estabelecidas nesta Instrução Normativa, inclusive no que diz respeito à
estocagem de produtos, que deverá ser feita em local seguro, no que se refere à
operação aeronáutica e contaminação ambiental.
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defesa. Nesse sentido, é entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, que não
configura infração administrativa se ausente o dolo ou culpa. À propósito:
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O Autuado é consumidor final, e nessa condição, não poderia incorrer
naquelas infrações, nem responder por elas. Repise-se, não houve descumprimento das
normas de uso de herbicidas, tão pouco concorrência para sua prática ou obtenção de
vantagem, conforme indicam os incisos XXXVIII e XXXIX, do art. 41, do Decreto 1.651/2013.
Muito pelo contrário. Há provas nos autos, colhidas in loco pelos próprios
fiscais, relatando que o Autuado não estava na fazenda quando da fiscalização; e, que ao
chegar na divisa, o piloto desligava as barras de pulverização.
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E ainda que se alegue que os agentes estatais gozam de fé pública e seus
atos se revestem de legitimidade, é incontroverso que tais princípios são relativos e que os atos
administrativos, especialmente aqueles que impõem penalidade, devem ser devidamente
instruídos e as decisões respectivas devidamente fundamentadas, sob pena de nulidade.
6. ATENUANTES
Subsidiariamente, se esta autoridade julgadora não entender pela nulidade
do Auto de Infração Ambiental, informa para fins de circunstâncias atenuantes que, o Autuado
não concorreu para a consecução da infração; é infrator primário; e, a conduta não caracteriza-
se como dolo, fraude ou má-fé, nos termos das alíneas “a”, “c” e “d”, art. 48, do Decreto
1.651/2013.
7. DOS REQUERIMENTOS
Ante o exposto, requer se digne esta Comissão a:
b) No caso de o requerimento anterior não ser acolhido, requer a aplicação das atenuantes
previstas nas alíneas “a”, “c” e “d”, art. 48, do Decreto 1.651/2013, excluindo qualquer
imposição de multa, ou, converter a multa em advertência;
c) Requer a intimação por via postal com aviso de recebimento para apresentar alegações
finais ou, caso mantido o auto de infração ambiental hostilizado, a notificação da decisão
para interposição de recurso, consoante art. 55 do Decreto 1.651/2013;
d) Por fim, requer a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, inclusive,
laudo técnico elaborado por profissional habilitado a fim de averiguar se houve ou não
deriva de herbicidas provocadas pela aeronave agrícola contrata pelo Autuado;
Procuradora do Autuado
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