Você está na página 1de 6

PROJUDI - Processo: 0000785-76.2019.8.16.0162 - Ref. mov. 245.

1 - Assinado digitalmente por Karina de Azevedo Malaguido:16718


02/08/2021: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
COMARCA DE SERTANÓPOLIS
VARA CÍVEL DE SERTANÓPOLIS - PROJUDI

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDXX ZAPA3 8SZ32 97MFD


Rua São Paulo, 853 - Centro - Sertanópolis/PR - CEP: 86.170-000 - Fone: (43)
3572-8740 - E-mail: ser-ju-ec@tjpr.jus.br

Autos nº. 0000785-76.2019.8.16.0162

Processo: 0000785-76.2019.8.16.0162
Classe Processual: Procedimento Comum Cível
Assunto Principal: Seguro
Valor da Causa: R$159.356,94
Autor(s): SHIRLEY SANTA ROSA
Réu(s): BRASILSEG COMPANHIA DE SEGUROS

I - RELATÓRIO

Cuida-se de ação de cobrança de seguro agrícola proposta por SHIRLEY


SANTA ROSA em face de COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DO BRASIL,
ambos qualificados nos autos.

Aduz o autor que: a) no início de 2018 a Autora iniciou sua plantação da


cultura de milho safrinha, em uma área de 124 hectares, com produtividade
estimada de 5.120 quilos por hectare e previsão de colheita da produção para o
mês de março de 2018; b) conforme proposta de seguro, em caso de ocorrência de
sinistro na plantação segurada a seguradora Requerida deveria pagar ao Autor 65%
da produtividade segurada, que equivale a 3.328 quilos por hectare plantado; c) o
limite máximo da indenização securitária prevista era de R$ 180.638,16; d) a
propriedade da Requerente sofreu com uma seca muito forte, ocorrida entre
01/04/2018 a 06/06/2018, fato que afetou drasticamente a produção; e) antes do
início da colheita, entrou em contato com a seguradora Requerida em 11/6/18 para
fazer o aviso de sinistro, tudo para que a Ré realizasse a vistoria do sinistro e
avaliação dos danos decorrentes do sinistro; f) antes de iniciar a colheita, a Autora,
por seus prepostos, entrou em contato com o vistoriador solicitando sua presença
ao local, ocasião em que o referido profissional disse que não poderia comparecer
para acompanhar a colheita em razão de estar em viagem aos Estados de Santa
Catarina e/ou Rio Grande do Sul. Todavia, no referido contato, autorizou a colheita
com a ressalva de que fosse deixada uma pequena fração da área plantada (3 ou 4
alqueires) para que a vistoria do sinistro pudesse ser feita posteriormente, o que de
fato ocorreu; g) a Requerente colheu 103,5 hectares e deixou 20,5 hectares da área
para serem colhidos posteriormente, com a presença do vistoriador da Requerida;
h) na área inspecionada, de 20,5 hectares, houve quebra drástica da produção em
PROJUDI - Processo: 0000785-76.2019.8.16.0162 - Ref. mov. 245.1 - Assinado digitalmente por Karina de Azevedo Malaguido:16718
02/08/2021: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
razão da crise hídrica, sendo que dos esperados 5.120 quilos por hectare foi colhido
pela Autora apenas 1.862,21 quilos por hectare; i) a Ré negou a cobertura
securitária sob o fundamento de que a produtividade geral considerada para a área
segurada havia sido de 4.581,41 quilos por hectare. Requer, ao final, a condenação
da parte ré ao pagamento do seguro no valor de R$ 159.346,94, conforme

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDXX ZAPA3 8SZ32 97MFD


produtividade aferida.

Em contestação de mov. 27.1, a ré arguiu a preliminar de falta de


interesse de agir. No mérito, a parte ré requereu a improcedência da ação,
alegando que: i) é inaplicável o CDC ao caso concreto; ii) houve perda de direito a
indenização, pois o autor descumpriu o contrato, colhendo a lavoura antes de
propiciar que a seguradora pudesse fazer a necessária análise do prejuízo; iii) não
há elementos nos autos a demonstrar o prejuízo que o autor teve; iv)
subsidiariamente, em caso de condenação, a indenização deve ser calculada nos
termos da cláusula 20 das condições gerais de seguro.

Impugnação à contestação (mov. 30.1).

Em decisão saneadora de mov. 41.1, foi afastada a preliminar arguida,


sendo reconhecida a aplicação do CDC ao caso. Foi determinada a produção de
prova oral e pericial.

Honorários periciais pagos pela parte ré (mov. 99).

Em audiência de instrução e julgamento (mov. 201), foram inquiridas


duas testemunhas arrolada pelo autor e uma pela parte ré.

Laudo pericial acostado em mov. 213.1, com manifestação das partes.

Laudo complementar (mov. 225)

Alegações finais pelas partes (mov. 240.1 e mov. 243.1).

Vieram os autos conclusos para sentença.

É o relato do necessário. Fundamento e decido.

II – FUNDAMENTAÇÃO

O feito comporta julgamento, porquanto foram produzidas todas as


provas requeridas pelas partes.

Da indenização.
PROJUDI - Processo: 0000785-76.2019.8.16.0162 - Ref. mov. 245.1 - Assinado digitalmente por Karina de Azevedo Malaguido:16718
02/08/2021: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
O contrato de seguro é espécie de contrato de risco onde, nos moldes
do artigo 757 do Código Civil, a seguradora se obriga a garantir interesse do
segurado contra riscos predeterminados, norteado pelos princípios da probidade,
solidariedade e da boa-fé.

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDXX ZAPA3 8SZ32 97MFD


O contrato firmado entre as partes previa cobertura para os casos de
perda parcial ou total da colheita, com a cobertura dos riscos de incêndio, raio,
tromba d’água, ventos fortes, ventos frios, granizo, chuvas excessivas, seca, geada
e variações excessivas de temperatura (mov. 27.6, pag. 10 – cláusula 8).

No que se refere à perda de direitos, a cláusula 19 das condições gerais


do contrato dispõe (mov. 27.6):

“CLÁUSULA 19 – OCORRÊNCIA DE SINISTROS

19.1. O Segurado, ou seu representante legal, deverá, obrigatoriamente,


comunicar à Seguradora qualquer evento que possa vir a se caracterizar como um
sinistro, ou qualquer outro dano causado à cultura segurada, indenizável ou não,
tão logo tome conhecimento do mesmo, e deverá tomar todas as providências que
estiverem ao seu alcance, a fim de minorar as consequências do evento.

19.1.1. O Segurado deverá comunicar a data do início da colheita com


antecedência de 15 (quinze) dias corridos. A colheita não poderá ser feita sem
autorização por escrito da Seguradora por meio do laudo final de inspeção
elaborado pelo perito designado pela mesma.

19.1.2. Ao final da apuração dos prejuízos realizada por perito designado


pela Seguradora, por meio da inspeção final e do período de colheita, o Segurado
deverá, obrigatoriamente, entregar à Seguradora o formulário de Aviso de Término
de Colheita, preenchido e assinado, conforme disposto no item 24.5 destas
Condições Gerais, mesmo nos casos em que a colheita não possa ser realizada por
motivo de perda total dos bens segurados.

19.1.3. O não cumprimento dos termos descritos no item 19.1 acima


poderá acarretar ao Segurado a perda do direito à indenização.

(...)

19.8. Por ocasião de maturação, nos sinistros parciais, caso não tenha
sido elaborado o Laudo de Inspeção de Danos Final, o Segurado ou seu
representante legal deverá comunicar tal fato por escrito à Seguradora ou por meio
de registro junto à Central de Atendimento, com antecedência mínima de 15
(quinze) dias corridos do início da colheita.
PROJUDI - Processo: 0000785-76.2019.8.16.0162 - Ref. mov. 245.1 - Assinado digitalmente por Karina de Azevedo Malaguido:16718
02/08/2021: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
19.8.1. Na falta de cumprimento do prazo fixado no subitem 19.8 acima,
e tendo sido verificado, por ocasião do Laudo de Inspeção de Danos que, no todo ou
em parte, a cultura já tenha sido colhida, será considerada, para efeito de
indenização, como produção da área já colhida antes da realização da perícia, a

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDXX ZAPA3 8SZ32 97MFD


produtividade esperada constante da proposta de seguro ou, ainda, se superior, a
efetivamente produzida.” (Destaquei)

No presente caso, a negativa se deu em razão do descumprimento da


cláusula 19.8.1 do contrato entabulado entre as partes, uma vez que o segurado
realizou a colheita antes da perícia.

Consta dos autos que o aviso de sinistro foi feito em 11.06.2018 (mov.
1.6) e a vistoria ocorreu no dia 24.08.2018 (mov. 1.7).

Observa-se, portanto, que entre o aviso de sinistro e a vistoria realizada


pela seguradora decorreram 74 dias, tempo quase 05 vezes superior ao estipulado
contratualmente (15 dias).

No caso em tela, há cláusula contratual que impedia a colheita antes da


vistoria da seguradora.

Em que pese as cláusulas contratuais sejam de clareza solar, quer


quanto à comunicação, quanto ao prazo para que a seguradora envie o perito à
área, de modo a vistoriar in loco, no caso concreto, verifico a impossibilidade de que
o segurado agisse de forma diversa. Vejamos: a) já havia provável diminuição da
produção; b) conhecimento do autor de que não haveria agilidade da vistoria.

Havia expectativa de prejuízo parcial, abertura de sinistro, deficiência


por parte da ré em enviar o perito para vistoriar. E, a despeito de existir o prazo de
15 dias para que o perito fosse ao local, este prazo não foi cumprido. Logo, não
seria possível exigir do produtor rural que ficasse esperando desde o dia 11.06.2018
até 24.08.2018 – mais de 15 dias (especificadamente 74 dias), portanto – a vinda
de um vistoriador, com a certeza de que, além do prejuízo da estiagem já
verificado, sofresse, ainda, com outros prejuízos.

Atento à esta situação, estiagem e demora excessiva no envio do perito,


o produtor rural tomou a decisão de proceder a colheita, o que se operou em
congruência ao princípio da função social dos contratos (art. 421, CC) e, também,
de modo a minorar as consequências, de maneira imediata.

Assim, pelo princípio da boa-fé objetiva, a perda do direito à indenização


deve ser afastada, pois não é automática.

Nesse sentido, destaco:


PROJUDI - Processo: 0000785-76.2019.8.16.0162 - Ref. mov. 245.1 - Assinado digitalmente por Karina de Azevedo Malaguido:16718
02/08/2021: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
“(...) 3. A pena de perda do direito à indenização securitária inscrita no
art. 771 do CC, ao fundamento de que o segurado não participou o sinistro ao
segurador logo que teve ciência, deve ser interpretada de forma sistemática com as
cláusulas gerais da função social do contrato e de probidade, lealdade e boa-fé

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDXX ZAPA3 8SZ32 97MFD


previstas nos arts. 113, 421, 422 e 765 do CC, devendo a punição recair
primordialmente em posturas de má-fé ou culpa grave, que lesionem legítimos
interesses da seguradora. 4. A sanção de perda da indenização securitária
não incide de forma automática na hipótese de inexistir pronta notificação
do sinistro, visto que deve ser imputada ao segurado uma omissão dolosa,
injustificada, que beire a má-fé, ou culpa grave, que prejudique, de forma
desproporcional, a atuação da seguradora, que não poderá se beneficiar,
concretamente, da redução dos prejuízos indenizáveis com possíveis
medidas de salvamento, de preservação e de minimização das
consequências. (...)”. (REsp 1546178/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/09/2016, DJe 19/09/2016). (Destaquei)

Na espécie, muito embora parte da colheita tenha sido realizada antes


da vistoria, não há comprovação de que o autor procedeu por má-fé, se não com o
fim exclusivo de minorar as perdas.

Devida, portanto, a indenização.

A indenização será paga pela ré, na forma da clausula 20, já que


ausente a abusividade alegada pelo autor.

A produtividade constatada, segundo o Sr. Perito, foi de 1.862,21 kg/há,


portanto abaixo da Produtividade Segurada de 3.328 kg/há.

Aplicando a fórmula de indenização, concluiu o Sr. Perito que “o valor a


ser indenizado devido a ocorrência de seca nas áreas constantes deste processo
deve ser de R$ 79.560,58 (Setenta e nove mil, quinhentos e sessenta reais e
cinquenta e oito centavos), na data de referência de 25 de setembro de 2.018.”
(mov. 213.1)

O valor da indenização será acrescido de juros de mora (1%) ao mês e


correção monetária pela média do INPC-IGPDI, ambos a partir da negativa de
pagamento pela seguradora (25.09.2018).

No mais, a indenização deverá ser paga ao beneficiário do seguro,


Banco do Brasil S.A, e, se houver valor remanescente, ao segurado.

III - DISPOSITIVO
PROJUDI - Processo: 0000785-76.2019.8.16.0162 - Ref. mov. 245.1 - Assinado digitalmente por Karina de Azevedo Malaguido:16718
02/08/2021: JULGADA PROCEDENTE EM PARTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Ante o exposto, nos termos do artigo 487, I, do CPC, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE opedido inicial para o fim de condenar a requerida
ao pagamento da indenização (em favor do beneficiário do seguro) referente à
diferença entre a produtividade mínima garantida e a produção aferida, nos termos
das cláusulas contratuais, o qual restou apurado em R$ 79.560,58. O valor da

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDXX ZAPA3 8SZ32 97MFD


indenização será acrescido de juros de mora (1%) ao mês e correção monetária pela
média do INPC-IGPDI, ambos a partir da negativa de pagamento pela seguradora
(25.09.2018).

Por sucumbente, fica a parte ré condenada ao pagamento das custas,


despesas processuais e honorários advocatícios, os quais, com fundamento no
artigo 85 do CPC, fixo em 10% sobre o valor atualizado da condenação.

Mov. 99. Expeça-se ofício de transferência dos valores depositados em


favor do Sr. Perito.

Oportunamente, arquivem-se os autos com as cautelas de praxe.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Sertanópolis, data inserida pelo sistema.

Karina de Azevedo Malaguido

Juíza de Direito

Você também pode gostar