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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI


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Autos nº. 0016567-25.2019.8.16.0130

Recurso: 0016567-25.2019.8.16.0130
Classe Processual: Recurso Inominado Cível
Assunto Principal: Atraso de vôo
Recorrente(s): GOL LINHAS AÉREAS S.A.
Recorrido(s): JACQUELINE DOMPSIN DE MORAES MALHEIROS
ANDRE RICARDO STEINDORFF MALHEIROS

EMENTA: RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO


NACIONAL. ATRASO DE VOO. PERDA DE CONEXÃO. TRÁFEGO NA
MALHA AEROVIÁRIA. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE NÃO
VERIFICADA. ASSISTÊNCIA MATERIAL PARCIAL. CHEGADA AO
DESTINO COM MAIS DE 17 HORAS DE ATRASO. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO MORAL DEMONSTRADO NO
CASO EM TELA. MANUTENÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO.
JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. CITAÇÃO. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA, DE OFÍCIO. RECURSO CONHECIDO
E NÃO PROVIDO.

1. RELATÓRIO

Relatório dispensado, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95.

2. VOTO

Satisfeitos os pressupostos processuais viabilizadores da


admissibilidade, tanto os objetivos quanto os subjetivos, o recurso deve ser conhecido.

A sentença julgou procedentes os pedidos iniciais, a fim de condenar a


requerida ao pagamento de R$ 3.000,00, como indenização pelos danos morais infligidos à
autora. A ré interpôs o presente recurso inominado, pugnando a reforma integral da decisão.
O serviço de transporte aéreo é defeituoso quando há falha, não só em
relação à necessária previsibilidade dos horários de embarque e desembarque, mas também
quanto ao dever de prestar informações e assistência adequadas aos passageiros.

O atraso do voo por tráfego na malha aeroviária não configura hipótese


de força maior, na medida em que se constitui em fato inerente à atividade desempenhada
pela empresa ré.

Vale citar:

RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO NACIONAL. ATRASO


DE VOO. TRÁFEGO AÉREO INTENSO. FORTUITO INTERNO.
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE AFASTADA. PERDA DE
CONEXÃO. DANOS MORAIS NÃO PRESUMIDOS IN RE IPSA.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL
COMPROVADA. PERDA DE COMPROMISSO INADIÁVEL (PRIMEIRO
DIA DE CONGRESSO). DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
ALTERAÇÃO DO QUANTUM ARBITRADO. NÃO ACOLHIMENTO
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
(TJPR - 2ª Turma Recursal - 0015980-77.2019.8.16.0170 - Toledo - Rel.:
JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
IRINEU STEIN JUNIOR - J. 29.10.2021) (grifei).

Situações como essa, a companhia aérea tem o dever de prestar a


assistência necessária aos passageiros, ficando responsável até o destino final.

No caso específico, com o cancelamento do voo, os autores foram


acomodados em voo apenas na tarde do dia seguinte, com embarque às 16h20m,
aterrissando no destino final com 17 horas e 50 minutos de atraso.

Mas a falha na prestação do serviço de transportes aéreos, não


necessariamente, causa ofensa a direito imaterial dos passageiros. O dano moral, nessa
hipótese, não é presumido e deve ser demonstrado a partir das demais circunstâncias fáticas
que permeiam o caso concreto.

Nessa perspectiva, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça


enumerou alguns fatores que, avaliados em conjunto, podem servir “de baliza para a possível
comprovação e a consequente constatação da ocorrência do dano moral. A exemplo, pode-se
citar particularidades a serem observadas: i) a averiguação acerca do tempo que se levou para
a solução do problema, isto é, a real duração do atraso; ii) se a companhia aérea ofertou
alternativas para melhor atender aos passageiros; iii) se foram prestadas a tempo e modo
informações claras e precisas por parte da companhia aérea a fim de amenizar os
desconfortos inerentes à ocasião; iv) se foi oferecido suporte material (alimentação,
hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável; v) se o passageiro, devido ao atraso da
aeronave, acabou por perder compromisso inadiável no destino, dentre outros” (REsp 1584465
/MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, j. 13/11/2018).

No presente caso, a despeito da comprovação da emissão de voucher


para hospedagem, falhou a recorrente em apresentar elementos demonstrativos da efetiva
assistência material, tal como lhe incumbia, a fim de afastar, modificar ou impedir o direito dos
autores, nos termos do art. 373, II, do CPC, uma vez que, caracterizada a relação
consumerista, de rigor a inversão do ônus probatório, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC.

O longo período de espera, aliado à assistência material parcial, a


reacomodação durante parte da noite com crianças pequenas, consolidam a caracterização do
dano moral à espécie, dado que as circunstâncias do caso se apresentaram transcendentes a
aborrecimentos ordinários e toleráveis.

Em relação ao quantum indenizatório, resta consolidado, tanto na


doutrina como na jurisprudência pátria, o entendimento de que a fixação do valor da
indenização por dano moral deve ser feita com razoabilidade, levando-se em conta
determinados critérios, como a situação econômica das partes, o grau de culpa, visando
sempre à atenuação da ofensa, a atribuição do efeito sancionatório e a estimulação de maior
zelo na condução das relações.

O valor de R$ 3.000,00 arbitrado pelo Juízo a quo a cada um dos


autores, mostra-se razoável, a fim de compensar o abalo moral sofrido, sem causar o
enriquecimento ilícito das partes.

Como a sentença a quo determinou o termo inicial dos juros e correção


monetária da decisão condenatória, a decisão deve ser reformada de ofício, devendo ser
mantida a correção monetária a partir da decisão condenatória, mas alterado o termo inicial
dos juros moratórios, que devem incidir desde a citação.

Diante do exposto, vota-se por conhecer e negar provimento ao recurso,


reformando a sentença, de ofício, apenas com relação ao termo inicial dos juros de mora, que
devem incidir a partir da citação.

Diante da sucumbência recursal, vota-se pela condenação da parte


recorrente ao pagamento de honorários advocatícios, estes fixados em 20% sobre o valor da
causa (art. 55, Lei 9.099/95). Custas nos termos dos artigos 2º, I e II e 4º da Lei nº 18.413
/2014, bem como artigo 18 da IN 01/2015 do CSJE. Observe-se a suspensão da cobrança na
forma do artigo 98, §3º, do CPC, caso a parte recorrente seja beneficiária da assistência
judiciária gratuita.

Dou por prequestionados todos os dispositivos constitucionais, legais e


demais normas suscitadas pelas partes nestes autos.
3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, esta 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade dos
votos, em relação ao recurso de GOL LINHAS AÉREAS S.A., julgar pelo(a) Com Resolução do
Mérito - Não-Provimento nos exatos termos do voto.
O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Irineu Stein Junior, com voto, e dele participaram os
Juízes Fernanda Bernert Michielin (relator) e Alvaro Rodrigues Junior.

Curitiba, 05 de agosto de 2022

Fernanda Bernert Michielin

Juíza Relatora

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