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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0002209-87.2021.8.16.0129

Recurso Inominado Cível n° 0002209-87.2021.8.16.0129


Juizado Especial Cível de Paranaguá
Recorrente(s): DECOLAR.COM LTDA
Recorrido(s): SANDRA REGINA DOS PASSOS CARLETTO e AILTON MENDES DE MENESES
Relator: Irineu Stein Junior

RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO NACIONAL. AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA. CADEIA DE
FORNECIMENTO. AUSÊNCIA DE AVISO PRÉVIO DE
CANCELAMENTO DO VOO. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. ASSISTÊNCIA MATERIAL NÃO PRESTADA.
REACOMODAÇÃO NÃO REALIZADA. RECUSA EM DEVOLVER O
VALOR DAS PASSAGENS. DANOS MATERIAIS COMPROVADOS.
DANO MORAL CONFIGURADO NO CASO CONCRETO. SITUAÇÃO
QUE ULTRAPASSA O MERO DISSABOR. VALOR FIXADO PARA
AMBOS OS AUTORES QUE ESTÁ EM CONFORMIDADE COM AS
PECULIARIDADES DO CASO E COM OS PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

1. Trata-se de ação de indenização por danos materiais e morais proposta em


razão de cancelamento/alteração de voo sem a comunicação prévia,
acarretando a perda do voo e a necessidade de aquisição de novas passagens
aéreas.

2. Ilegitimidade passiva. A ré recorrente DECOLAR.COM. aduz sua


ilegitimidade passiva por ser apenas um canal de negociação e intermediação
na aquisição de passagens. Razão não lhe assiste. Depreende-se dos autos que
a parte autora adquiriu por meio do site da ré recorrente um pacote de
viagem (aéreo e hospedagem), circunstância que afasta sua ilegitimidade. É
esse o entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRANSPORTE


AÉREO. INEXECUÇÃO DO SERVIÇO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
AGÊNCIA DE TURISMO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM
RECONHECIDA.
1. A jurisprudência deste Tribunal admite a responsabilidade solidária das
agências de turismo apenas na comercialização de pacotes de viagens.
2. No caso, o serviço prestado pela agência de turismo foi exclusivamente a
venda de passagens aéreas, circunstância que afasta a sua responsabilidade
pelo efetivo cumprimento do contrato de transporte aéreo e autoriza o
reconhecimento da sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da ação
indenizatória decorrente de cancelamento de voo.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1453920 / CE, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, Julgamento, 09/12/2014, DJe 15/12/2014).

Outrossim, conforme é cediço, todos os integrantes da cadeia de consumo


respondem solidariamente por eventuais danos causados ao consumidor, nos
termos dos artigos 7º, parágrafo único, e art. 25, §1º, do Código de Defesa do
Consumidor. Assim, a ré recorrente é parte legítima para figurar no polo
passivo da demanda.

3. Responsabilidade solidária. Considerando que ambas as empresas rés


participaram da cadeia de consumo, seja prestando o serviço de transporte
aéreo, seja intermediando a compra, ambas respondem solidariamente pela
reparação dos danos sofridos pelos Autores.

4. Falha na prestação dos serviços. Parte ré recorrente que não se


desincumbiu do ônus de comprovar a excludente de responsabilidade. No
caso, em que pese as alegações da parte ré de que o voo foi cancelado em
decorrência da readequação da malha aérea (pandemia da COVID-19),
entretanto, esta hipótese não caracteriza fato de força maior nem exclui a
responsabilidade do fornecedor, porque é fato inerente à atividade exercida,
sendo previsível e se trata de risco do empreendimento, o que não desobriga
o fornecedor.

A parte ré não logrou êxito em comprovar que prestou a informação


necessária sobre a alteração do voo na antecedência mínima legal (Resolução
400 da ANAC, art. 12), lhe cabendo colocar à disposição do consumidor a
escolha de reacomodação ou de reembolso integral. Todavia, pelo que consta
dos autos não é possível concluir que foram respeitadas as disposições legais
no tocante à reacomodação ou reembolso. Ademais, sendo a
responsabilidade solidária, caberia às rés prestar a adequada informação ao
passageiro, o que não ocorreu, restando configurada a falha na prestação dos
serviços, devendo as rés ser responsabilizadas pela reparação dos danos
causados (art. 14 CDC).

5. Danos materiais. Restou comprovado nos autos que a alteração do voo de


volta, sem a comunicação prévia, fez com que os Autores perdessem o voo,
não restando outra alternativa senão a de custear novas passagens aéreas.
Restou comprovado nos autos (mov. 1.12 e 14), o dispêndio total do valor de
R$ 6.121,28 (seis mil, cento e vinte e um reais e vinte e oito centavos)
referente aos gastos com a compra de novas passagens aéreas, taxas,
alimentação, transporte e hospedagem, cujo montante deve ser devidamente
restituído aos Autores, na forma estabelecida na sentença.

6. Danos morais configurados. A falha na prestação do serviço não


necessariamente causa ofensa a direito imaterial do passageiro. No caso, o
cancelamento do voo aliado à ausência de informação prévia sobre o
cancelamento e o fato de a parte ré não ter empreendido esforços para a
reacomodação dos passageiros em outro voo ou mesmo o reembolso das
passagens revelam que os transtornos sofridos excederam o mero
aborrecimento cotidiano, ensejando a convicção de lesão a direito de
personalidade.
7. Da alteração do quantum indenizatório. O valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais, R$ 5.000,00 para cada um), fixado pelo juízo de origem, mostra-se
razoável a fim de compensar o abalo moral sofrido, sem causar
enriquecimento indevido. Para a redução do valor fixado há o
convencimento de que o valor deve sofrer alteração somente quando
demonstrados, de forma cabal, o excesso ou a insignificância do valor
arbitrado. Para tanto, incumbe à parte que recorre o dever de demonstrar
onde residem os motivos que autorizam que a Instância Revisora se
posicione de forma diversa do Juízo de primeiro grau. Todavia, os
argumentos expostos nas razões recursais não se mostraram suficientemente
robustos a ponto de ilidir o posicionamento adotado pelo juízo singular, que,
por estar mais próximo das partes e dos fatos, pode avaliar adequadamente
as condições que interferem na fixação da indenização e em observância aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

8. Sentença mantida. Recurso desprovido.

Trata-se de recurso inominado apresentado pela ré DECOLAR.COM LTDA. em face da


sentença proferida nos autos de ação de indenização por danos materiais e morais proposta por AILTON
MENDES DE MENESES e SANDRA REGINA DOS PASSOS CARLETTO, que julgou procedente o
pedido da inicial para condenar as rés DECOLAR.COM. LTDA e TAM LINHAS AÉREAS S.A.,
solidariamente, ao pagamento de indenização por danos materiais no valor de R$ 6.121,28 (seis mil,
cento e vinte e um reais e vinte e oito centavos) e por danos morais em favor dos Autores, no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais).

Pretende a reforma da sentença.

Contrarrazões (mov. 84).

Relatório dispensado (art. 46 da Lei nº 9.099/95 e Enunciado 92 do FONAJE).

Preliminar arguida em contrarrazões

Do princípio da dialeticidade recursal

Em que pese as alegações trazidas em contrarrazões (mov. 84), não há que se falar em
violação do princípio da dialeticidade, tendo em vista que a ré recorrente impugnou, de forma suficiente,
os fundamentos da sentença, devendo ser afastada a preliminar.

Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, o recurso merece ser conhecido.

Compulsando detidamente os autos, verifica-se que o recurso interposto não merece


provimento, devendo ser mantida a sentença por seus próprios fundamentos, nos termos do artigo 46 da
Lei 9.099/95.

Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação
suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos
próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.

Isto posto, voto para CONHECER E NO MÉRITO NEGAR PROVIMENTO AO


RECURSO, mantendo-se a sentença por seus próprios fundamentos.

Ante o insucesso recursal, fica a parte recorrente condenada ao pagamento de honorários


advocatícios arbitrados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação (art. 55 da Lei 9.099/95).
Custas de lei, conforme Lei Estadual 18.413/14, arts. 2º, inc. II e 4º, e Instrução Normativa
- CSJEs, art. 18.

Ante o exposto, esta 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve,


por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de DECOLAR.COM LTDA, julgar pelo(a) Com
Resolução do Mérito - Não-Provimento nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Irineu Stein Junior (relator),
com voto, e dele participaram os Juízes Alvaro Rodrigues Junior e Marcel Luis Hoffmann.

26 de julho de 2022

Irineu Stein Junior

Juiz (a) relator (a)

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