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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Recurso Inominado Cível n° 0014862-85.2021.8.16.0044 RecIno
Juizado Especial Cível de Apucarana
Recorrente(s): SOLUÇÃO FINANCEIRA - SERVIÇOS DE RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO EIRELI
Recorrido(s): DENAIR BRANDINI
Relator: Manuela Tallão Benke

EMENTA: RECURSO INOMINADO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PARA


RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA. “SOLUÇÃO FINANCEIRA”. ORIENTAÇÃO PARA
INADIMPLEMENTO DAS PRESTAÇÕES DO FINANCIAMENTO. AUSÊNCIA DE PROVA
DE EFETIVA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. CONDUTA ABUSIVA. VEÍCULO APREENDIDO.
DANOS MATERIAIS E MORAIS CONFIGURADOS. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, o recurso deve ser conhecido.

Insurge-se a reclamada, ora recorrente, em face de sentença que julgou procedente os


pedidos iniciais reconhecendo a falha na prestação de serviços ante a ausência de comprovação da efetiva
prestação de serviço, sendo esta condenada à restituição por danos materiais no valor de R$ 11.512,44 e
R$ 4.000,00 a título de reparação moral.

Pois bem.

A reclamante contratou a empresa o Solução Financeira em 06/07/2021 (cf. contrato – mov.


29.2) para efetivar a renegociação extrajudicial de um contrato de financiamento junto ao Banco OMNI S/A
para redução de débito de R$ 7.778,80.

Em que pese os serviços prestados pela reclamada sejam de atividade de meio e não de fim,
a publicidade que apresenta trata da redução do valor do financiamento a partir de negociações
extrajudiciais. Contudo, na prática não houve demonstrações de estudo do contrato ou negociações com o
banco Banco OMNI S/A, bem como se evidencia pelos registros de negociações que a estratégia da
reclamada limita-se a formular proposta de quitação em valores baixíssimos para forçar uma redução
robusta da dívida junto à financeira. Assim, é notório que a requerente não se desincumbiu de seu ônus.

Ressalta-se que nos áudios juntados à inicial, em especial os de movs. 1.16;17;28, o


atendente garante que a negociação junto ao banco seria realizada e chegariam ao valor com desconto.

Embora a parte recorrida aduza que prestou o serviço contratado, e considera que os
documentos juntados nos movs. 29.4;5 como provas do alegado, o que se observa é que apenas houve
envio de email ao banco oferecendo proposta de quitação na data de 28/09/21 e 11/10/2021, não tendo sido
colacionada nenhuma resposta à proposta; e mensagem enviada por funcionário da ré à autora no dia 13/10
/21 informando em qual setor do banco ela deveria ligar.

Nessa toada, extrai-se da sentença de origem:

"Embora a ré tenha apresentado prints de sua tela sistêmica do chat com conversas informando à autora
sobre a suposta proposta do banco no Seq. 29.4, pelas próprias conversas apresentadas pela ré é possível
verificar que a requerida estava forçando a autora a contatar o banco mantenedor do contrato de
financiamento para negociar uma dívida que a ré foi contratada para negociar.
Não fosse isto, pela análise da proposta apresentada no Seq. 29.5 não é possível concluir que o e-mail
tenha sido efetivamente enviado para um endereço eletrônico do da instituição responsável pelo contrato de
financiamento da autora, não sendo possível sua aceitação como meio de prova capaz de modificar,
extinguir ou impedir a execução do direito da autora.

Desta forma, fica evidente que a ré não cumpriu com sua obrigação de negociar com a instituição
responsável pelo contrato de financiamento da autora, razão pela qual não pode exigir da autora o
pagamento do valor pactuado."

Nesse ponto, destaca-se o áudio de mov. 1.25 em que a autora foi compelida a entrar em
contato com a instituição para confirmar o valor “em mãos” para efetuar a quitação, sendo certo que o banco
informou que não realiza negociação com terceiros (mov. 1.26).

Portanto, não há comprovação de obtenção de proposta para acordo, finalidade precípua da


contratação.

Observa-se que a estratégia prática da reclamada é de alto risco, pois ameaça o patrimônio
do consumidor, afinal, o inadimplemento enseja a busca e apreensão do bem, a qual ocorreu.

Por conseguinte, em virtude do serviço contratado e não prestado, sendoevidente a falha na


prestação de serviços, a resilição do contrato é devidamente motivada, bem como a restituição dos valores
pagos.

Por fim, também restou comprovado que a atuação da empresa foi preponderante para os
danos morais suportados pela reclamante, os quais ultrapassaram o mero dissabor cotidiano, afetando a
esfera personalíssima desta, no que diz respeito ao descaso para com a cliente, na medida em que o
veículo foi apreendido pelo banco.

Nesse sentido:

RECURSO INOMINADO. MATÉRIA RESIDUAL. EXECUÇÃO DE NOTA PROMISSÓRIA.


CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE ASSESSORIA DE RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS. “O
SOLUCIONADOR”. EXECUTADO QUE OPÔS EMBARGOS À EXECUÇÃO C/C INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DA PETIÇÃO INICIAL E
PARCIAL PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS FORMULADOS PELO EXECUTADO. RECURSO DO
EXECUTADO – PLEITO DE CONDENAÇÃO DA EMPRESA AO PAGAMENTO DOS ENCARGOS
INCIDENTES EM VIRTUDE DA BUSCA E APREENSÃO DO VEÍCULO – IMPOSSIBILIDADE –
PROMESSAS DO “O SOLUCIONADOR” QUE NÃO DESOBRIGA O CONSUMIDOR DE CUMPRIR
O CONTRATO PERANTE À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. PLEITO DE ARBITRAMENTO DE
DANOS MORAIS – POSSIBILIDADE – EXECUTADO QUE FOI SUBSTANCIALMENTE
PREJUDICADO PELAS ORIENTAÇÕES DA EMPRESA DE ASSESSORIA DE RENEGOCIAÇÃO –
AJUIZAMENTO DE AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE VEÍCULO EM FACE DO CONSUMIDOR
– DANOS MORAIS CONFIGURADOS. VALOR DE R$ 3.000,00 (TRÊS MIL REAIS) QUE SE
REVELA ADEQUADO, À LUZ DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE, CONSIDERANDO
AINDA AS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. OBSERVÂNCIA DOS PARÂMETROS
UTILIZADOS POR ESTA 5ª TURMA RECURSAL DO E. TJ/PR EM CASOS ANÁLOGOS.
SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. RECURSO INOMINADO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0007906-89.2021.8.16.0129 -
Paranaguá - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS
MARIA ROSELI GUIESSMANN - J. 13.03.2023)

RECURSO INOMINADO. MATÉRIA RESIDUAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ASSESSORIA PARA


RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS. “O SOLUCIONADOR”. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
RECURSO DA RECLAMADA. PRELIMINARMENTE. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE NÃO CONSTATADA. MÉRITO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO NÃO
COMPROVADA. RESCISÃO DO CONTRATO. POSSIBILIDADE. DANO MATERIAL.
COMPROVADO. DANO MORAL. CONFIGURADO. EXCEPCIONALIDADE. AÇÃO DE BUSCA E
APREENSÃO AJUIZADA EM DESFAVOR DA RECLAMANTE. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 5ª Turma
Recursal dos Juizados Especiais - 0004270-12.2021.8.16.0034 - Piraquara - Rel.: JUÍZA DE
DIREITO SUBSTITUTO JÚLIA BARRETO CAMPELO - J. 30.01.2023)

Portanto, o voto é pelo desprovimento do recurso, conforme fundamentação.

Condena-se a parte requerente ao pagamento das custas (Lei Estadual n° 18.413/2014) e


dos honorários advocatícios à parte contrária, estes de 20% do valor de condenação ou, não havendo valor
monetário, do valor corrigido da causa (LJE, 55).

Ante o exposto, esta 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade
dos votos, em relação ao recurso de SOLUÇÃO FINANCEIRA - SERVIÇOS DE RECUPERAÇÃO DE
CRÉDITO EIRELI, julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito - Não-Provimento nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Maria Roseli Guiessmann, com voto, e dele
participaram os Juízes Manuela Tallão Benke (relator) e Júlia Barreto Campêlo.

26 de maio de 2023

Manuela Tallão Benke

Juíza Relatora

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