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Os paradigmas éticos

Os valores
A virtude
O dever
Os valores
• Todo ato moral inclui a
necessidade de escolher entre
vários atos possíveis, ou seja,
aquele mais válido, positivo, digno
e elevado.
• Ter conteúdo axiológico não
significa somente o que
consideramos a conduta boa,
digna de apreço e valor; significa
também, que pode ser má, digna
de condenação e censura. Em
ambos os casos, avaliamos em
termos axiológicos.
• Tanto as coisas que o homem não
criou, como os atos humanos ou
os produtos da atividade humana,
têm um valor para nós
Que são os valores
• Quando falamos em valores, temos
presente a utilidade, a bondade, a
beleza, a justiça, assim como os
respectivos polos negativos: inutilidade,
maldade, fealdade e injustiça.
• Como o valor existe nas coisas? No
exemplo do ouro, temos uma dupla
existência: A) como objeto natural
(cientista) B) como objeto natural
humano ou humanizado, podendo até
ser usado como moeda (propriedade
estética, propriedade prático-utilitária e
propriedade econômica)
• Assim, alguns metais adquirem valor na
medida em que o seu estado natural de
existência se humaniza. As primeiras
qualidades do objeto existem
independentemente das segundas.
• O objeto valioso não pode existir sem
certa relação com o sujeito, nem
independentemente das propriedades
naturais, sensíveis e físicas que
sustentam o seu valor.
Sobre o valor econômico
• O termo “valor” deriva da economia.
Embora, o valor econômico possua um
conteúdo distinto dos valores estético,
político, moral.
• A mercadoria é um objeto útil que
satisfaz determinada necessidade
humana, e vale na medida em que
podemos usá-la.
• A dupla relação: A) pelas propriedades
materiais do objeto, que é o
sustentáculo dos valores. Esse objeto
existe antes de existir a sociedade. B)
Sua relação com o sujeito que o usa
ou consome. Trata-se de uma relação
com o objeto que vai além da sua
existência material.
• Valor de uso e valor de troca. Algo é
valioso se, e somente se, for útil a
existência humana ou produto do
trabalho humano.
• O valor de troca é adquirido pelo
produto do trabalho humano ao ser
comparado com outros produtos.
Sobre o valor econômico
• Ora, o valor de troca precisar
contar com o valor de uso. Mas, o
valor de troca faz abstração do
valor de uso (qualidades) para
estabelecer entre eles uma
relação quantitativa.
• O valor de uso e o valor de troca,
não é uma propriedade do objeto
em si, mas do objeto como
produto do trabalho humano.
• No sistema de consumo atual,
todos produzem para o mercado, e
por isso, a mercadoria assume o
aspecto de coisa estranha, alheia
ao homem. Assim, o valor de troca
aparece sem a relação com o
homem.
• Marx afirma que o produto do
trabalho humano se transforma em
“fetichismo da mercadoria”.
A definição de valor
• Não existem valores em si, como
entidades ideais ou irreais, mas
objetos reais (ou bens) que possuem
valor.
• Os valores existem nos objetos reais
pelas suas propriedades valiosas e por
estarem no convívio da realidade
humana.
• O suporte necessário para agregação
de valores exige a existência de certas
propriedades reais (naturais e físicas).
• As propriedades valorativas naturais
estão em potência, e podem se
transformar em ato a partir da sua
relação com o homem social.
• Sendo assim, o valor não é
propriedade dos objetos em si, mas
propriedade adquirida graças à sua
relação com o homem como ser
social. Mas, por sua vez, os objetos
podem ter valor somente quando
dotados realmente de certas
propriedades objetivas.
Objetivismo e subjetivismo
axiológico
• Se as coisas não são valiosas em
si, por que valem? Valem porque
eu – como sujeito empírico e
individual – as desejo, por minha
necessidade?
• A tese do subjetivismo axiológico
reduz o valor de uma coisa a um
estado psíquico subjetivo, a uma
vivência pessoal.
• Assim, não desejamos o objeto
porque vale, mas vale porque o
desejamos ou necessito.
• O subjetivismo transfere o valor do
objeto para o sujeito e o faz
depender do modo como a
presença do objeto me afeta.
As razões do subjetivismo
• De fato, não existem objetos de
valor em si.
• Erram quando recusam por
completo as propriedades dos
objetos, quer sejam elas naturais
ou criadas pelos homens.
• Falham quando tentam reduzir o
valor a uma mera vivência, ou
estado psíquico subjetivo, ou seja,
o indivíduo pertence a uma época,
e como ser social, se insere
sempre na rede de relações de
determinada sociedade. Assim, a
reação do sujeito não é
exclusivamente pessoal.
O objetivismo axiológico
• A tese defendida pelo objetivismo
afirma que existem objetos valiosos
em si, ou seja, independentemente do
sujeito.
• Encontramos a gestação do
objetivismo em Platão quando afirma
a doutrina metafísica das ideias. O
belo e o bom existem idealmente como
entidades supraempíricas, imutáveis e
absolutas, subsistentes por si e em si.
• Distinção Platônica: O bem é o
primeiro princípio, o grau mais elevado
de conhecimento, origem do mundo
inteligível e causa do ser das Ideias,
conferindo essência a elas. A Ideia é
aquilo que garante a inteligibilidade do
ser, fazendo com que ele possa ser
conhecido no mundo real.
A classificação do bem
• O bem se classifica de vários modos, mas a principal
classificação é entre o bem honesto, o bem útil e o bem
agradável:
• 1) O bem honesto: é aquilo que convém à alguma coisa como
aperfeiçoando a sua natureza e portanto, por sua natureza é
desejado. Ele tem valor de si para mover o apetite e tem de si
a própria decência ou a regra e a medida. (Ex: a pessoa
virtuosa na sociedade).
• 2) O bem útil: é aquilo que convém à alguma coisa como meio
para adquirir outro bem. Move para agir, pois a medida da sua
decência é o outro. (Ex: está ligado ao maior bem).
• 3) O bem agradável: é aquilo que convém a alguma coisa
como trazendo repouso às faculdades. Tem em si donde
mover, mas não tem em si onde convir. (Ex: prazer físico e
psíquico, valor de troca).
• Nem todo bem agradável é honesto.
Objetivismo axiológico
separação entre valor e bens
• Os valores constituem um reino
particular, subsistente por si próprio.
São absolutos, imutáveis e
incondicionados.
• Os valores estão numa relação
especial com as coisas reais valiosas
que chamamos bens. Nos bens,
encarna-se determinado valor, nas
coisas belas a beleza.
• Os valores são independentes dos
bens nos quais se encarnam.
• Os bens dependem do valor que
encarnam. São valiosos na medida em
que suportam um valor.
• Os valores são imutáveis. Já os bens
são mutáveis, pois são objetos reais,
condicionados ao tempo.
• Assim, os valores tem uma existência
real, à maneira das ideias platônicas
como ideal.
Objetivismo axiológico
separação entre valor e existência humana
• Os valores existem em si e por si,
independente de qualquer relação
com o homem.
• Como entidades absolutas não
precisam ser postos em relação
com o homem.
• O homem pode manter relações
com os valores, conhecendo e
produzindo (obra de arte). Porém,
os valores existem em si.
• As mudanças históricas
compreenderam várias formas de
relação dos homens com os
valores. Mas, o conhecimento
humano, em nada afeta a
existência absoluta dos valores,
que são por natureza, absoluto,
incondicionado e eterno.
Objetivismo axiológico
• O que existe de valioso numa
coisa tem a sua fonte no valor que
existe independentemente dela.
(Bem – bens).
• Mas existem valores não
encarnados, mas que precisam se
concretizar. Por exemplo: a
solidariedade, a lealdade, a
amizade e a honestidade.
• Assim, temos que admitir que
todos os valores têm ou tiveram
sentido na sua relação com o
homem. Por isso, não existem
valores indiferentes à sua
realização, visto que o homem os
cria produzindo bens que os
encarnem, ou para apreciar as
coisas reais em conformidade com
eles.
A objetividade dos valores
• Nem o objetivismo (existir por si)
nem o subjetivismo (vivência do
sujeito que avalia) consegue
explicar satisfatoriamente a
maneira de ser dos valores.
• Os valores existem para um
sujeito, não no sentido de mero
indivíduo, mas ser social. Exige
também um suporte material,
sensível, sem o qual não tem
sentido.
• Os valores são, pois, criações
humanos, e só existem e se
realizam no homem e pelo
homem.
• As coisas não criadas pelo homem
adquirem valor entrando em
contato com ele, pois se tornam
valiosas quando servem para fins
ou necessidades dos homens.
A objetividade dos valores
• A objetividade dos valores não provém das ideias
platônicas (seres ideais), nem a dos objetos físicos
(seres reais, sensíveis). Trata-se de uma objetividade
especial – humana e social – que não se pode reduzir
ao ato psíquico do sujeito nem tampouco às
propriedades naturais de um objeto real. Precisamos
transcender o limite de um indivíduo ou de um
grupo social determinado, mas não ultrapassar o
âmbito do homem como ser histórico-social.
• Assim, os valores existem unicamente em um mundo
social; isto é, pelo homem e para o homem.
Valores morais e não morais
• Até agora nos ocupamos de dois tipos
de valores: aqueles que se encarnam
nas coisas reais, sensíveis e aqueles
que são produzidos pelos homens.
• Aquilo que consideramos “bom” ou “util”
para os objetos, não possui caráter ou
significado moral. Pois o valor de um
bom relógio está na sua utilidade.
• Assim, a bondade de um objeto pode
estar na sua funcionalidade e também
na sua finalidade. Quanto a finalidade
estará inclinada a bondade moral (a
faca, o avião, o dinamite).
• A qualificação moral está naquele que
escolhe o que fazer, em determinadas
circunstâncias, por interesses e
necessidades, por determinados fins.
Assim, nenhum objeto traz em si os
valores morais. Somente o que tem
um significado humano (livre,
consciente e voluntário pode ser
avaliado moralmente responsável.
A Avaliação moral
• Atribuiremos valores aos atos
humanos por três elementos:
• A) o valor atribuível;
• B) o objeto avaliado (atos ou
normas morais);
• C) o sujeito que avalia;
• Levando em consideração o valor
moral fundamental da bondade,
analisar as condições concretas
nas quais se avalia (atos
propriamente humanos) e o
caráter concreto dos elementos
que intervém na avaliação (atos
com conseqüência aos outros – a
pedra, o trabalho na mais valia).
• Os atos humanos precisam ser
avaliados dentro de um contexto
histórico-social no seio do qual
ganha sentido atribuir um
determinado valor.
O caráter concreto da Avaliação moral

• O sujeito que avalia o ato


moral pode aprovar ou
desaprovar pelo modo que
ele afeta a sociedade inteira.
• Portanto, pelo valor
atribuído, pelo objeto
avaliado e pelo sujeito que
avalia, a avaliação tem
sempre um caráter concreto;
ou seja, é a atribuição de um
valor concreto em uma
situação determinada.
O bom como valor
• Consideramos moralmente positivo se
ele for “bom”. Mas o que é o bom?
• As ideias de bom e de mau variam de
períodos históricos com circunstâncias
diferentes.
• O bom para a sociedade grega antiga
era a coragem, e a covardia um mau.
Bons eram considerados os livre, e os
escravos não poderiam ser
considerados nem bons nem maus.
• Na Idade Média, é bom o que deriva
da vontade de Deus ou está de acordo
com ela, e o mau é aquilo que é
considerado como inversão na ordem
estabelecida pelo Criador.
• Na modernidade, é bom o que resulta
então mais proveitoso que contribui
para uma concepção mais universal.
Isto é, o bom consiste na harmonia
com a natureza humana concebida de
uma maneira universal e abstrata.
O bom como FELICIDADE
• Aristóteles foi o primeiro a sustentar a tese de que o homem
reconhece a felicidade como único bom, ou supremo bem.
• Nem todos poderiam exercer a contemplação, e por isso, a
felicidade provém do exercício da razão, numa atividade
teórica. Mas, para que isso acontecesse, o livre precisava de
uma segurança econômica, e claro, da liberdade pessoal.
• Na impossibilidade de alcançar a verdadeira felicidade aqui na
terra, a ética cristã transfere a sua obtenção para um mundo
ultraterreno.
• Na modernidade, os filósofos materialistas sustentavam o
direito de ser feliz neste mundo, mas concebiam a felicidade
num plano abstrato, fora da vida social. Concebendo o homem
de maneira abstrata, esqueceram que o homem precisa de
algumas condições necessárias: econômicas e liberdade
pessoal
O bom como FELICIDADE
• Por um lado, Aristóteles estava
certo ao afirmar que a felicidade
parece pertencer a uma só classe,
com o “espírito de posse”. Por outro
lado, seria simplista afirmar que
toda felicidade consiste em
riquezas, quando não resolve os
problemas mais profundos do ser
humano.
• Assim, a tese de que a felicidade é
o único bom resulta que não se
concretiza o seu conteúdo. Não se
pode afirmar a felicidade onde
vigora o espírito de posse e as
tendências egoístas com a
“onipotência” do dinheiro. Portanto,
a todo instante, os homens estão
buscando outro tipo de felicidade.
O bom como PRAZER
• Distinção de dois tipos de prazer:
A) sentimento ou estado afetivo
agradável (amigo, obra de arte). B)
sensação agradável produzida por
estímulos, cujo o oposto é a dor.
• O primeiro tipo de prazer é mais
excelente, intelectuais e estéticos,
enquanto devemos fugir (Epicuro)
dos que são causados com mais
facilidade, pois podem provocar
sofrimento.
• As três teses fundamentais do
hedonismo: A) Todo prazer ou
gozo é intrinsecamente bom. B)
Somente o prazer é
intrinsecamente bom. C) A
bondade de um ato ou experiência
depende do prazer que contém.
O bom como “BOA VONTADE”
• Para Kant, o bom deve ser algo
incondicionado, sem restrição
alguma.
• “Nem no mundo nem também, em
geral, fora do mundo é possivel
conceber alguma coisa que possa
considerar-se boa sem restrições,
a não ser unicamente uma boa
vontade”.
• “A boa vontade não é boa pelo
que possa fazer ou realizar, não é
boa por sua aptidão para alcançar
um fim que nos propusséramos; é
boa só pelo querer, isto é, é boa
em si mesma. Considerada por si
só, é, sem comparação,
muitíssimo mais valiosa do que
tudo o que poderíamos obter por
meio dela” (Fundamentação da
metafísica dos costumes, cap. 1)
O bom como “BOA VONTADE”
• A boa vontade não se vê atingida
pelas circunstancias ou
condicionada a realização do seu
propósito.
• Não basta apenas atuar de acordo
com o dever. A boa vontade, ou
seja, a vontade que age não só de
acordo com o dever, mas pelo
dever, determinada única e
exclusivamente pela razão.
• Porém, o bom concebido como
boa vontade, se insere num
mundo ideal, a-histórico e eterno.
Trata-se de uma boa vontade em
vista do caráter universal e
abstrato, não pertencendo ao
homem concreto, impregnado de
uma história, afetos. Abre a crítica
de uma razão tão pura que não
pudesse existir.
O bom como ÚTIL (Utilitarismo)
• O bom consiste na relação de com o
interesse dos homens, e ao mesmo
tempo, procuram encontrá-lo em certa
relação entre o particular e o geral.
• É preciso superar os interesses
egoístas dos indivíduos e de tomar
em consideração os interesses dos
demais.
• Assim, a relação do indivíduo com a
sociedade, varia com o tempo e com
as diferentes sociedades, não se
referendo a um sujeito abstrato, mas
assume o maior número possível de
interesses.
• Portanto, na esfera do bom: A) numa
relação peculiar entre o interesse
pessoal e o interesse geral. B) na
forma concreta que esta relação
assume de acordo com a estrutura
social determinada.
Obrigação moral e liberdade
• A obrigatoriedade moral não pode
ser confundida com a simples
relação causal e tampouco com a
coação externa ou interna. Em rigor,
estas formas de “obrigação” tornam
impossível a verdadeira obrigação
moral.
• Para ser obrigação moral deve
supor necessariamente uma livre
escolha. Mas, nem toda liberdade
de escolha possui uma significação
moral: Ir ao cinema ou ficar em
casa. Porém, ficar em casa quando
prometi que ia visitar um amigo,
torna-se indispensável para o
cumprimento da obrigação moral.
• Assim, eu era obrigado a cumprir a
promessa porque podia cumpri-la,
dado que tinha a possibilidade de
escolher entre uma e outra
alternativa.
Dever
• O comportamento moral é um
comportamento obrigatório e
devido. O agente é obrigado a
comportar-se de acordo com a
norma de ação. Assim, a
obrigação moral impõe deveres ao
sujeito.
• A obrigatoriedade moral inclui a
liberdade de escolha e de ação do
sujeito.
• Duas questões: quais são os
traços essenciais da
obrigatoriedade moral? O que é
que somos obrigados a fazer ou
temos de dever de fazer?
• Em casos de rígida determinação
causal externa ou interna, anulam
a vontade do indivíduo e, portanto,
a obrigatoriedade moral torna-se
impossível.
Obrigação moral
• A obrigação moral pressupõe
necessariamente minha liberdade
de escolha, mas supõe ao mesmo
tempo, uma limitação na minha
liberdade.
• Entre várias possibilidades, eu
escolho uma; e esta se torna uma
obrigatoriedade moral, pois devo
cumpri-la.
• A obrigação moral, portanto, deve
ser assumida livre e internamente
pelo sujeito e não imposta de fora.
A determinação jurídica vem de
fora, pois ela é normativa. Porém,
quando o sujeito conhece uma
norma, a interioriza e dispõe da
capacidade de cumpri-la, optando
livremente entre várias
alternativas, pode-se afirmar que
está moralmente obrigado.
O caráter social da obrigação moral
• O fator pessoal está inserido no
caráter social, pois a obrigação moral
se insere no caráter social.
• Em primeiro lugar, só pode existir
obrigação moral quando o ato
individual afeta a sociedade inteira. Se
meu ato não interfere no todo, não
pode ser ato moral.
• Em segundo lugar, se a norma deve
ser aceita intimamente pelo indivíduo e
este deve agir de acordo com sua livre
escolha ou consciência do dever, a
decisão pessoal não opera num vácuo
social.
• Em terceiro lugar, nas decisões e no
uso que faz da sua liberdade de
escolha e de ação, o indivíduo não
pode deixar de expressar as relações
sociais no quadro das quais assume
pessoalmente uma obrigação moral.
A consciência moral
• O termo “consciência” pode ser
usado de dois modos: A) de
conhecimento ou reconhecimento
de algo e o ter consciência ou ser
consciente significa compreender
algo que está acontecendo. B)
“Consciência” no sentido de
“consciência moral” que se encontra
referida como “a voz da
consciência” ou “a minha
consciência me diz”.
• O primeiro tipo de consciência é
condição essencial para a segunda.
Disso decorre em uma avaliação e
num julgamento de nosso
comportamento de acordo com as
normas que reconhece obrigatórias.
Assim, o conceito consciência está
intimamente relacionado com o de
obrigatoriedade.
A consciência moral
• As normas obrigatórias se mantêm
sempre num nível geral, e por isso,
não fazem referencia ao modo de agir
em cada situação concreta.
• É a consciência moral que se informa
da situação e com a ajuda das normas
estabelecidas, que interioriza como
suas, toma as decisões que considera
adequadas e internamente julga os
seus próprios atos.
• A consciência moral assume a função
de uma instância ineludível, como um
juiz que julga pela clareza dos títulos.
Mesmo que o indivíduo não faça
adesão íntima da lei, as normas
revigoram na comunidade.
• A consciência como juiz interno e
supremo é livre, como homens
concretos, mas essa liberdade não
deixa de ser determinada
historicamente e socialmente.
A consciência moral
• O indivíduo não possui a consciência moral
desde o seu nascimento, nem tampouco ela se
manifesta no homem independentemente de
sua atividade prática social.
• Também não é como pensava Kant, uma lei
que está dentro de nós, conquistada
independentemente das condições históricas,
sociais e reais.
• Kant pensou na “Autonomia absoluta da
razão”, pois a vontade constitui uma lei por si
própria, independentemente de qualquer
propriedade dos objetos do querer.
• Na “Heteronomia absoluta da razão” o
fundamento da consciência está fora de si, e
por isso, o ato moral é determinado por algo
alheio à consciência moral do indivíduo.
• Neste conflito de consciência autônoma e
consciência heterônoma em termos absolutos
correspondem a uma falsa ideia de liberdade,
pois nem a consciência é absolutamente livre e
incondicionada.
A consciência moral
• Somente em sociedade o indivíduo toma consciência daquilo
que é proibido ou permitido, do obrigatório e do não obrigatório.
• A consciência moral emerge propriamente, e a define como
recinto interior. Cumpre algo pelo dever de cumprir, e não por
opiniões dos outros. A consciência moral também se revela por
sentimentos, tais como a vergonha, a culpa ou o remorso, que
acompanham o reconhecimento de que nosso comportamento
não foi como deveria ser.
• Assim, o sujeito não escuta apenas a voz da consciência no
seu interior, mas também deve ouvir a voz da sociedade que
lhe proporciona os princípios e as normas morais conforme
julga e avalia.
• Portanto, a consciência e a obrigação moral não são
autônomas ou heterônomas no sentido absoluto, mas de
um homem concreto individual, mas, por isto mesmo, de
um homem que é essencialmente social.
Duas teorias da obrigação moral
• Como devemos agir?
• Uma teoria da obrigação
moral recebe o nome de
teleológica (fim ou
finalidade, pois a ação
deriva unicamente de
suas conseqüências) e a
outra de deontológica
(dever, quando não faz
as circunstâncias da
própria ação ou da
norma a qual se
conforma).
Teoria teleológica (Aristóteles)
• Para Aristóteles, o Universo é
ordenado, cósmico e infinito. Sua
ordem vem da finalidade que cada
coisa possui.
• Disso resulta que causa e finalidade se
conciliam em Aristóteles, pois a razão
de ser das coisas está na sua
finalidade (telos). Exemplo: Se você
quiser saber porque existe a sombra
no mundo, a sombra serve para
encobrir a luz do sol. Logo, existe uma
explicação causal finalista.
• Sendo assim, somos partes do
universo ordenado, e portanto somos
explicados a partir da nossa finalidade.
• Daí, surge a questão: o que a vida tem
que ter para ser boa? É claro que a
vida será boa quando o indivíduo, de
forma plena, cumpriu com a sua
finalidade cósmica.
Teoria teleológica (Aristóteles)
• Qual é a minha finalidade? Responde
Aristóteles: dado que na natureza, não
existe nada de inútil, todas as coisas
possuem uma finalidade, então nada
melhor do que você conhecer bem,
pois na identificação e conhecimento
dos seus atributos, chegará a perceber
o para que eles servem e, portanto,
encontrará o seu lugar natural dentro
do quebra-cabeça cósmico.
• Ora, o que existe no indivíduo de mais
destacado é chamado por Aristóteles
de virtude. Assim, será conhecendo
as suas virtudes que chegará ao
conhecimento do nosso lugar no
mundo. Disso segue uma ordem do
bem viver:
• 1) Viver bem significa descobrir a
minhas virtudes;
• 2) Colocar as virtudes a serviço da
vida;
• 3) Preciso desenvolver as capacidades
das minhas virtudes;
Teoria teleológica (Aristóteles)
• Assim, o conhecimento da virtude
é o sinal que o universo aponta
para o seu lugar no mundo. Viver
mal é compreendido como aquele
que não fez ou capacitou as suas
virtudes, e portanto, viveu mal,
desordenado e não teve dignidade
moral nenhuma.
• Sendo assim, o grego antigo tinha
por obrigatoriedade moral agir em
conformidade com a sua virtude,
pois existe uma coincidência
entre a dignidade moral e o
pleno desenvolvimento das
próprias virtudes.
Teoria deontológica (Kant)
• Para Kant, a moral é a capacidade que
a razão possui de se opor aos
apetites. Disso resulta que a moral
não está na virtude, mas no que fazer
com ela.
• Trata-se de agir por um dever
determinado por normas válidas e
independentemente das
consequências de sua aplicação.
• A) o único bom moralmente, sem
restrições, é a boa vontade;
• B) A boa vontade é a vontade de agir
conforme dever;
• C) A ação moralmente boa, como ação
querida por uma boa vontade, é
aquela que se realiza não somente de
acordo com o dever, mas por dever.
• Assim, a razão é uma faculdade
universal e a boa vontade age por
dever quando age apenas de modo
universal, com uma máxima
universalizável.
Teoria deontológica (Kant)
• Todos os imperativos expressam o
que deve fazer uma vontade
subjetiva imperfeita determinada
por uma lei racional objetiva.
• O imperativo categórico declara
que uma ação é objetivamente
necessária sem que a sua ação
esteja subordinada a um fim ou a
uma condição, e portanto ela deve
valer sem a sua execução.
• Agir por dever é operar puramente
conforme a lei moral que se
expressa nos imperativos
universalizáveis, e quem age
assim é a boa vontade.
• O dever não é outra coisa senão
exigência de cumprimento da lei
moral, em face da qual as paixões,
os apetites e inclinações silenciam.
Conclusão
• As duas teorias de obrigação moral partem da concepção
abstrata do homem, disso resulta que a obrigatoriedade moral
também é abstrata.
• A obrigação moral deve ser concebida como própria de um
homem concreto, que vai modificando o conteúdo de suas
obrigações morais de acordo com as mudanças sociais.
• A obrigação moral exige, em maior ou menor grau, uma
adesão íntima, voluntária e livre as normas que regulam o
comportamento da comunidade.
• Sempre existiu um sistema de normas que define os limites do
obrigatório e do não obrigatório.
• A cada sociedade muda o modo de interiorizar ou assumir as
normas em forma de dever.
• Nenhuma teoria pode indicar o que o homem deve fazer em
todos os tempos e em todas as sociedades. (apela a
consciência)

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