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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ


CAMPUS DE PARNAÍBA
CURSO DE PSICOLOGIA

RELATÓRIO DE ESTUDO TEMÁTICO

DISCIPLINA: RESPONSÁVEL TÉCNICO:


Seminário de Prática III Prof. Dayanne Batista Sampaio
RESPONSÁVEL PELO ESTUDO:
Ruth de Sousa Silva e Silva
OBJETIVO DO ESTUDO:
Conhecer o manejo clínico de um profissional da abordagem logoterapêutica e
descrever sua atuação profissional ante o sofrimento
TEMA DO ESTUDO:
Logoterapia e o sentido do sofrimento

1 APRESENTAÇÃO

O sofrimento é inerente a existência humana, isto é fato incontestável. Não


precisa grande esforço, ir muito longe ou olhar para o outro a fim de encontrar essa
realidade. Olhando para si mesmo é suficiente para saber do seu peso na
contemporaneidade. Sofre-se pela violência, pela negação da justiça, pela falta de
emprego e falta de pão; aflige-se por algo que se fez a alguém ou pelas perdas
diárias ou imutáveis; por um trabalho não realizado, por um amor que se perdeu.
Como colocou o profissional entrevistado as variáveis não importam tanto, mas o
fato de não se consegue suportar de maneira solitária e é preciso buscar ajuda,
principalmente daqueles que receberam formação adequada para assistência
psicológica.

Para compreensão do tema “A Logoterapia e o Sentido do Sofrimento”


buscou-se um profissional de abordagem logoterapêutica, ou seja, um psicólogo que
ajude aos seus clientes a encontrarem o sentido na vida. E é isto que ele se ocupa
em realizar, expressando que a Logoterapia lhe provê um mapa único de atuação
em consultório, para facilitar o encontro do cliente consigo mesmo e “redescobrir”
suas potencialidades e, consequentemente, o sentido das coisas que faz, o sentido
do que lhe acontece e, em última instância, o sentido da vida.
A Logoterapia é uma escola psicológica de caráter fenomenológico-
existencial, teorizada pelo psiquiatra vienense Viktor Emil Frankl (1905-1997).
Também intitulada como Logoterapia e Análise Existencial. Nesse aspecto, entende
a pessoa com manifestações no tempo e no espaço através das experiências
subjetivas de fenômenos de sua consciência, de tal forma que se prioriza a
existência concreta do homem e não concepções teóricas a respeito dele, uma vez
que este ser humano percebe o mundo de maneira única e singular (Santos, 2016).
Esta compreensão centrada no homem está relacionada à corrente humanista, que
discorda do homem determinado, baseado em uma coleção de estímulos e resposta
como preconiza os teóricos comportamentais; nem muito menos um ser doentio,
preso a traumas da infância, resultado de experiências sentenciadas no passado
como indica a Psicanálise (Castañon, 2007).

Para ressaltar os elementos teóricos-conceituais mais importantes


relacionados a este estudo será apresentado a seguir, um esquema que ajudará a
ter uma compreensão mais clara de como se forma esse construto na abordagem de
Viktor Frankl.

Liberdade da Vontade

Vontade de sentido
TRÍADE FUNDAMENTAL
Sentido da vida

TRÍADE VALORATIVA TRÍADE TRÁGICA


Criação
 Dor
Vivência  Culpa
Atitudinal  Morte

A matriz conceitual da perspectiva frankliana está alicerçada nesse primeiro


trio. Nesta visão o homem tem liberdade para agir independentemente da situação
em que se encontra. Há uma dimensão nele que ninguém ou nada pode suplantar. É
um nível superior de ação humana, que Frankl denomina de dimensão noética, ou
seja, espiritual. E nessa esfera o homem é livre e responsável perante os
acontecimentos de sua existência. Para Frankl, o que lhe motiva não é a busca de
poder ou prazer como teorizaram seus precursores Freud e Adler. Conforme a
abordagem da Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, o homem tem um anseio
por sentido em sua vida, isso é que o move em direção a realização de propósitos.
(Moreira & Holanda, 2010). Quanto ao sentido da vida, ele não é igual para todos,
mas de caráter objetivo e particular a cada um. O que significa dizer que a vida não
tem uma finalidade última, sequer única, porém modificável às circunstâncias que a
existência oferece em dado momento. Conforme o teórico, não é uma postura
contemplativa aguardando o que a vida tem reservado, porém é uma resposta
prática ao que a vida exige da pessoa num contexto próprio. Isto contraria a posição
homeostática de regulação do organismo, como meio para a realização pessoal,
pois segundo Frankl, a constituição humana necessita de certa tensão, que é
consequência da descoberta e confronto com o sentido (Frankl, 1987).

A partir dessa concepção teórica, é possível descobrir o sentido da vida por


meio de atributos que o humano compartilha em suas relações interpessoais e com
o mundo. A via de acesso ao sentido considera uma tríade qualitativa que são os
valores criativos, valores vivenciais e valores atitudinais, que correspondem à
capacidade daquilo que se pode oferecer, receber e exercer a liberdade (Santos,
2016).

No valor atitudinal encontra-se o trio que faz referência ao sofrimento. Na


visão ontológica do ser, desenvolvida pela Logoterapia, a pessoa encontra sentido
não apenas no que é positivo, mas também diante dos infortúnios. É uma percepção
do ser humano em sua completude, tudo se aproveita no seu existir. (Souza &
Gomes, 2012). E a capacidade de superar e aprender com a dor é uma função
noológica/espiritual, uma ação especificamente humana, onde o ser tem a liberdade
para modificar-se a si mesmo ante situações inalteráveis. Assim, mesmo na dor é
possível alcançar algo positivo, como a, potencialização da existência e
fortalecimento pela experiência, em outras palavras uma conquista existencial
(Frankl, 2003).

Para compreensão do campo de atuação do profissional entrevistado, Sam


Cyrous, Psicólogo Clínico e Terapeuta de Família e Casal, faz-se necessário
recuperar, ainda que de forma poupada, o surgimento da clínica psicológica.
Apropriando-se do referencial de Moreira, Romagnoli e Neves (2007), que
resgataram historicamente esse contexto profissional. De acordo com os
pesquisadores a clínica psicológica surgiu com Freud, que realizou algo muito
importante e libertador, uma vez que, na clínica médica o saber era privativo do
especialista e na clínica inaugurada pelo psicanalista, a posse do saber é do cliente,
sendo o profissional um facilitador na relação terapêutica. De acordo com o exposto,
é o sujeito que efetua e encontra significados de seus sintomas. Em oposição à
clínica médica que enfatiza métodos de investigação com requintes tecnológicos, a
clínica psicológica possibilita a escuta do sofrimento, como aspecto interventivo.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

O sofrimento humano é tema apropriado para ser estudado e discutido na


formação-profissão, principalmente, quando há tantos estímulos e meios fármacos
para não se passar pela experiência de sentir e enfrentar a dor, como apontam
Veras e Rosa (2015). A mercantilização e medicalização da felicidade e a frustração
existencial decorrente desses meios têm levado muitas pessoas aos consultórios
clínicos, sobretudo porque a sociedade pós-moderna tem se mostrado insaciável em
seu esforço pelo prazer como bem supremo. Corroborando com essa ideia Frankl,
esclarece que “o sofrimento não é sempre um fenômeno patológico” às vezes
“emana de frustração existencial” (p.94, 1987), ou seja, quando o sujeito falha em
cumprir o que a vida lhe convoca para assumir, pois está distraído em busca do que
não é um meio, mas o fim. Afinal, a felicidade decorre da realização de sentido.

Se o homem não está desfrutando desse estado, é porque não descobriu o


sentido diante das oportunidades que a vida lhe concede ao criar, vivenciar e atuar.
Isto quer dizer que, até diante do sofrimento, é possível encontrar alguma satisfação
e não é a obtenção de prazer por meio da dor, mas descobrir o sentido na dor.
Desse modo, a Logoterapia consiste em facilitar o encontro da pessoa com o sentido
da vida.

Diante da entrevista realizada, o psicólogo disse que o sofrimento pode ser


mais ou menos intenso, mais ou menos consciente, mais ou menos real. Segundo
ele, essas varáveis não importam tanto. O que se percebe é que muitos descobriram
que não podem lidar com as dores sozinhos e outros que não compreendem suas
potencialidades perante essas situações que a vida lhe concede.

O profissional ainda destacou que todas as pessoas que buscam


psicoterapia, procuram-na por algum sofrimento. A clínica mostra-se como local de
escuta e acolhimento do sofrimento humano. E segue pontuando que a Logoterapia
lhe provê um mapa único de atuação no consultório, para facilitar ao paciente o
encontro consigo mesmo e “redescobrir” em si suas potencialidades e,
consequentemente, o sentido das coisas que faz, o sentido do que acontece e, em
última instância, o sentido da vida.

A esse respeito, observa-se em “Considerações sobre as significações da


psicologia clínica na contemporaneidade” de Dutra (2004), a mesma concepção de
clínica encontrada acima, onde a pessoa busca o profissional para expor seu
sofrimento e alcançar a solução do problema, é o cliente que lança sua necessidade
perante o profissional. Assim, a experiência do entrevistado se encontra com esse
estudo publicado.

Outro contexto da clínica também é de atendimento psicoterápico


individualizado, apesar de conter a singularidade do indivíduo, também considera o
espaço coletivo no qual está inserido. A clínica da contemporaneidade não se
restringe apenas ao particular, apesar de ocorrer num consultório, mas, abrange o
cliente além do setting terapêutico de forma que seu contexto social esteja sendo
considerado. O fazer psicológico do profissional em questão se organiza também na
modalidade de terapia familiar e de casal onde é possível ampliar ainda mais a
articulação entre as relações interpessoais e o social, ao mesmo tempo que o foco
pode ser tanto individual quanto coletivo no atendimento, entendendo o individual
como particular e não individualizante, tentando assim livrar-se desse paradigma da
Psicologia Clínica (Moreira, Romagnoli & Neves, 2007).

A formação acadêmica do profissional está alinhada à prática clínica, o que


favorece sua atuação nesse campo. Possui formação em Psicologia e Mestrado em
Psicoterapia Relacional com 15 anos de trabalho desenvolvido na área. Seu
arcabouço teórico encontra-se na Logoterapia que constitui o seu fazer profissional
na realidade que atua. Contando com as particularidades eliciadas nesse ponto,
esboça-se o cenário desse assunto enquanto uma temática de estudo que contribui
para o melhor conhecimento e compreensão da pratica clínica psicoterapêutica.

3 APROFUNDAMENTO TEÓRICO-PRÁTICO

Não se pode discorrer sobre Logoterapia sem tratar do sofrimento humano.


Não seria pretencioso registrar que nenhuma outra abordagem psicológica emprega
esse construto com tanta propriedade quanto a Logoterapia, pela razão de seu
teórico, Viktor Emil Frankl (1905-1997), tematizar e sistematizar sua teoria no
contexto dos dramáticos conflitos militares mundiais. Períodos estes de intenso
sofrimento, onde se deu grandes barbáries contra seres humanos.

Como psiquiatra vienense acompanhou inúmeras pessoas, tanto o cidadão


comum quanto os soldados que participaram dos confrontos. Ele ocupou-se
daqueles que viveram os horrores da Primeira Guerra Mundial, tendo um papel
relevante na reconstrução social e científica do pós-guerra, sendo reconhecido
internacionalmente. Frankl dedicou-se na assistência psicológica dos afetados com
interferência da desesperança, do desemprego, da depressão e das tentativas de
suicídio decorrentes desse contexto. O serviço de aconselhamento que desenvolveu
preservou muitas vidas ao ponto de não se registrar nenhum caso de suicídio entre
jovens de Viena na época (Souza & Gomes, 2012).

Apesar disso, como descendente de judeus e com o sistema nazista em


ascensão, ele mesmo experimentou o sofrimento que designou de experimentum
crucis, que serviu de fundamento para sua teoria, pois sobreviveu a quatro campos
de concentração, sentindo e suportando toda espécie de dores humanas, como
separação dos entes queridos, fome, frio, doenças, agressões, morte. Para ser
abreviado, ataques em todas as áreas humanas que feriram a integridade física,
psicológica e social do ser (Rodrigues & Barros, 2009).

Porém, Viktor defende que há um âmbito do ser humano que a pessoa é


capaz de transcender a toda desventura que lhe é afligido, onde é possível ser livre
para decidir, viver além das adversidades, para aprender com essas vivências e dar
sentido a elas. É a dimensão espiritual, que ele chamou de noética.
Para compreender o sentido do sofrimento na Logoterapia de Viktor Frankl é
preciso fazer um resgate dos fundamentos que a constitui. Primeiramente, é
importante considerar que essa escola psicológica é de caráter fenomenológico,
existencial, humanista e teísta (Moreira & Holanda, 2010). Isto posto, o fenômeno é
compreendido como se apresenta, onde a suspensão de juízo é essencial para seu
entendimento, sendo resgatado o vivido, libertando o ser para sentir e alcançar
autonomia diante de suas experiências com responsabilidade. Outro aspecto em sua
teoria é a existência de Deus e sua providencial ação no mundo. Ele publicou sua
tese intitulada “A presença ignorada de Deus”, que reconhece a pessoa como ser
espiritual, com uma dimensão que ultrapassa o psicofísico, compreendida não
apenas como aspecto religioso, mas reconhece valores, capacidade racional e
criatividade humanas (Frankl, 2007).

Para a Logoterapia e Análise Existencial, o ser humano é dotado de uma


dimensão espiritual, que é chamada de noética, logo, o homem não é somente
biopsicossocial. Segundo Pocciollo (2015) a Logoterapia é “multidimensional” por
considerar o ser humano em toda a sua extensão. Ressalta-se, portanto, que essa
dimensão não significa o exercício da religiosidade, apesar de conter esse
significado, todavia, a característica espiritual é exclusivamente humana e Viktor
Frankl introduziu essa dimensão na psicoterapia (Moreira & Holanda, 2010).

As proposições centrais da Logoterapia ou como é conhecida, Psicoterapia do


Sentido da Vida, são a liberdade da vontade, que considera o homem como um ser
além de suas contingências, que é capaz de posicionar-se diante de qualquer
condição que lhe sobrevenha, ou seja, um ser não determinado, mas que se
determina (Santos, 2016); a vontade de sentido que está relacionada a maior
aspiração humana, que é encontrar sentido em sua vida, em qualquer que seja a
situação e o sentido da vida, que significa dizer que a vida não tem uma finalidade
última, sequer única, porém modificável às circunstâncias que a existência oferece
em dado momento. Não é uma postura contemplativa aguardando o que a vida tem
reservado, porém é uma resposta prática ao que a vida exige da pessoa num dado
contexto (Frankl, 1987).

Essa primeira tríade conceitual de Frankl serve como suporte para os demais
conteúdos sistematizados na logoteoria, inclusive outras tríades que se formam,
onde o sentido do sofrimento na existência humana será abordado de forma prática
e relevante. Descobre-se o sentido da vida através do caminho de valores, ou seja,
da tríade valorativa: Aqueles que se cumprem através de um ato criador; aqueles
que se realizam por meio do viver experiencial com o mundo e os valores atitudinais,
que diante do inalterável pode resistir e aceitar resolutamente. Isto posto, o ser
humano tem a capacidade de criar, vivenciar e atuar com sentido no seu cotidiano
(Rodrigues & Barros, 2009).

Desta forma, a existência pode ser construída, relida, inventada, organizada a


cada instante que o sentido se apresenta nas diferentes categorias de valor, sendo
que a última se desdobra na terceira tríade conceitual, a tríade trágica, na qual seus
elementos constitutivos provocam sofrimento humano e a sua ressignificação, que é
a motivação desse trabalho.

O trio dramático, universal a todos os homens é constituído de dor, culpa e


morte. Portanto, não há quem não tenha passado ou um dia passará pela
experiência dessas vicissitudes. Segundo Frankl, faz parte da constituição humana,
e assim como a vida tem sentido e o sofrimento é inerente à vida, o mesmo também
tem um sentido. E é somente no momento em que se encontra o sentido do
sofrimento que ele deixa de ser tão lacerante, mesmo sem poder alterar o destino,
transformando aquilo que é negativo em positivo, dando um novo significado às
dores mundanas (Frankl, 2007).

Relacionando aspectos teóricos da abordagem ao manejo clínico do


psicólogo entrevistado, o logoterapeuta discorreu que a maneira de atender à
pessoa com grande sofrimento é, acima de tudo, é a cordialidade, empatia, cuidado,
respeito, conhecimento de técnicas adequadas que ajudem à pessoa na busca por
compreensão e descoberta do que lhe traz sentido à vida. Isto é, o vínculo
terapêutico. Segundo Frankl a relação terapêutica é a soma da única e singular
individualidade do paciente e a única e singular individualidade do terapeuta. A
relação entre psicoterapeuta e cliente é o diferencial no momento de acolher o
sofrimento humano e ajudá-lo a descobrir o sentido. Ele ressalta que não cabe ao
terapeuta prescrever o sentido de vida, mas facilitar com seus conhecimentos, na
descoberta que é única e exclusivamente da pessoa.
Sobre o sofrimento, o terapeuta argumenta que o fenômeno tem um sentido,
a visão da Logoterapia é de que essa ocorrência é inerente à existência humana,
pois cada um à sua maneira experiência algum tipo de dor, do sentimento de culpa
por algo que se fez e que se enfrenta profundo pesar pela morte de alguém. Por
isso, o terapeuta deve envidar esforços, enquanto acompanha seus pacientes, a
redescobrirem o sentido de suas vidas, ao mesmo tempo que descobrem o sentido
de suas vidas no sofrimento dessas vidas.

Outro ponto de destaque na entrevista foi a questão da espiritualidade.


Lidando com Intervenção em Crise o psicólogo afirma que a religiosidade, é em
simultâneo, um fator de proteção e desencadeador de crise. Segundo sua
experiência pessoas que têm uma rede de amizades que lhe possa apoiar em
sofrimento têm prognósticos mais positivos. Porém, sofrimentos oriundos de aborto,
traição amorosa e homossexualidade podem sofrer ainda mais dentro do contexto
religioso. Contudo, a dimensão espiritual não necessariamente se relaciona com a
religiosidade E acrescenta que a dimensão espiritual é compreendida como uma
dimensão superior que permite conexão com algo que transcende e é fator positivo
diante do sofrimento. Porque é nessa dimensão que se pode ir além dos
condicionantes físicos e psíquicos.

A exemplo dessa dimensão, o profissional, esclarece ainda mais: é o que


permite compreender a relação entre fenômenos e pessoas do mundo, permite dizer
“ok este é o limite mas quero mais”, seja o limite de voar (não podemos voar porque
nossa dimensão física não possui asas, mas a dimensão espiritual nos permitiu
compreender a natureza e criar aparelhos que o permitam), seja o limite do
sofrimento (apesar do sofrimento continuarei tentando o meu melhor), seja o limite
dos desejos (apesar de desejar suprir uma necessidade, como comer, sou capaz de
fazer jejum ou greve de fome). É a dimensão que permite ir para além das condições
impostas pelo mundo: é a dimensão da decisão consciente, livre e responsável.

Como registrado anteriormente pelo logoterapeuta, a técnica não é mais


importante que a relação estabelecida no encontro pessoal, porém, como
instrumentos técnicos-operativos ele apresenta alguns que são utilizados no
atendimento à pessoa em sofrimento, como: diálogo socrático, histórias, contos,
livros, metáforas, narrativas e a dereflexão, específica da abordagem.
A seguir é exibido um quadro-síntese das orientações teóricas e práticas do
profissional.

ABORDAGEM DIÁLOGO VISÃO DA PSICOTERAPEUTA


PSICOLÓGICA COM O TEMA LOGOTERAPIA
Inerente à
A busca por existência humana Não prescreve o
Logoterapia psicoterapia é e constitui a tríade sentido da vida para
motivada por trágica: dor, culpa o cliente. Ele é
algum sofrimento. e morte. apenas um
O sofrimento tem facilitador
sentido.
MANEJO INSTRUMENTOS
PACIENTE CLÍNICO TÉCNICOS- ESPIRITUALIDADE
OPERATIVOS
Baseado no Dimensão superior e
Alguém em vínculo  Diálogo Socrático; estritamente
sofrimento que terapêutico, onde  Histórias; humana, que torna
procura ajuda a cordialidade,  Contos; o ser consciente,
para empatia, cuidado,  Livros; livre e responsável.
compreender-se a respeito e  Metáforas; Não significa
si mesmo e o que técnicas que  Narrativas; religiosidade, mas
está vivenciando facilitem a pode ser um
 Dereflexão.
descoberta do aspecto da
sentido da vida. dimensão.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo abordou o sentido do sofrimento de acordo com a abordagem


psicoterapêutica de Viktor Emil Frankl, a Logoterapia, e teve como profissional
entrevistado Sam Cyrrous que prontamente aceitou o convite através das mídias
sociais. Contou com uma breve descrição da teoria para compreender onde se
localiza o sentido do sofrimento nessa concepção e contextualização do tema
especificamente alguns aspectos da clínica psicológica, bem como um tópico para
estender um pouco mais a teoria e identificar com mais detalhes a prática
profissional em destaque.

Os elementos conceituais apresentados dialogam com a prática profissional


no que concerne a abordagem apresentada e especificamente porque o campo de
atuação deste é a clínica individual, assim como a terapia familiar e de casal no
contexto do consultório. Compensa destacar algumas considerações que foram
resultado da construção do estudo:

 Através da organização do trabalho é importante apreciar que a Logoterapia


como abordagem psicoterapêutica, é mais uma aliada diante da dor humana,
pois, a prática exercida pelo psicólogo nessa linha teórica ajuda o cliente não
apenas a conhecer sua dor e enfrenta-la, mas sobretudo encontra sentido
nela, transformando algo negativo em positivo, e de algum modo cooperar
com a qualidade cognitiva e emocional da pessoa;
 A linha é muito tênue entre o fator protetor e desencadeador de crise da
espiritualidade mal compreendida. A diferença é sutil e merece cautela. O
logoterapeuta tem importante papel nesse esclarecimento ao cliente e de
orientação mais ampla quando possível;
 Conhecer a prática de um profissional com abordagem da Logoterapia
acendeu ainda mais o interesse em procurar especialização nessa linha
psicoterapêutica;
 A entrevista provocou uma maior abertura para estudar e tentar usar as
técnicas da Logoterapia e se apropriar de outros instrumentos, que mesmo
conhecendo, ainda há uma incapacidade para explorar;
 A entrevista proporcionou ampliação do assunto estudado, fazer
aproximações e diferenciações com outras abordagens e visualizar o manejo
clínico da psicoterapia do sentido da vida.
5. REFERÊNCIAS

Dutra, Elza. (2004) Considerações sobre as significações da psicologia clínica na


contemporaneidade. Estud. Psicol. (Natal) [online]. vol.9, n.2, pp.381-387

Castañon, G. A (2007). Psicologia humanista: a história de um dilema


epistemológico. Memorandum, 12, 105-124.

Frankl, V. E. (1987). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de


concentração. Porto Alegre: Sulina/São Leopoldo: Sinodal.

Frankl, V. E. (1991). Em busca de Sentido: Um psicólogo no campo de


concentração. Tradução de Walter O. Sclupp e Carlos C. Aveline. Revisão
técnica de Helga H. Reinhold. 2° edição. São Leopoldo, Editora Sinodal.
Petrópolis: Editora Vozes.
Frankl, V.E. (2003). Psicoterapia e sentido da vida. 5. ed. São Paulo: Quadrante.
Frankl, V. E. (2007). A presença ignorada de Deus. São Leopoldo: Sinodal;
Petrópolis: Vozes.
Moreira, N., Holanda, A. (2010). Logoterapia e o sentido do sofrimento:
convergências nas dimensões espiritual e religiosa. Psico-USF, v. 15, n. 3, p.
345-356, set./dez.
Moreira, J. O. Romagnoli, R. C. Neves, E. O. (2007). O surgimento da clínica
psicológica: Da prática curativa aos dispositivos de promoção da saúde.
Psicologia, Ciência e Profissão; 27 (4), 608-621.
Pocciollo, A. (2015) Psicologia contemporânea e Viktor Frankl: Fundamentos para
uma psicoterapia existencial. São Paulo, SP: Cidade Nova.
Rodrigues, L. A.; Barros, L. A. (2009). Sobre o fundador da Logoterapia: Viktor Emil
Frankl e sua contribuição à Psicologia. Estudos; Goiânia, v.36, n.1/2, p11-31,
jan/fev.
Santos, D. M. B. (2016). Logoterapia: Compreendendo a teoria através de mapas de
conceitos Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 68 (2): 128-142.
Souza, E. A.; Gomes, E. S. (2012) A visão de homem em Frankl. Revista logos e
existência 1 (1), 50-57.
Vera, L; Rosa, C. M. (2015). Vale quanto compra: consumo, contemporaneidade e
Subjetividade. Rev. FSA, p215-231, mai/jun.

APÊNDICE A - Roteiro da Entrevista

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Temática: Logoterapia e o sentido do sofrimento

Nome _________________________________________________________________
CRP__________________
Formação/especialidade
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________
Tempo de atuação profissional _____________________________________________

1. Como a sua atuação profissional dialoga com o tema?


2. Qual a visão da Logoterapia sobre o sofrimento humano?
3. Como logoterapeuta, qual seu manejo clínico à pessoa em grande sofrimento?
4. De acordo com sua experiência clínica qual a relação entre sofrimento e a vivência da
espiritualidade e religiosidade nos atendimentos?
5. Quais instrumentos técnicos operativos que podem ser utilizados no atendimento à
pessoa em sofrimento? Cite alguns casos.
6. Como você percebe o crescimento da Logoterapia no Brasil e nos cursos de formação
em psicologia? O que seria necessário para avançar?
APÊNDICE B - Apresentação do tema através do jogo Jeopardy

QUEM? ARTE ENTREVISTA

Quem foi Viktor Qual a segunda tríade da Logoterapia e Como a sua atuação
1 Emil Frankl? onde ela está inserida? profissional dialoga
(Mímica: Qual o valor?) com o tema?

Quem é o ser O que se entende por dimensão Qual a visão da


2 humano da noética? Logoterapia sobre o
Logoterapia e da sofrimento humano?
Análise (Mímica: religiosidade ou
existencial? espiritualidade?)
Como logoterapeuta,
Quem sempre Cantar uma canção com o tema do qual seu manejo
3 acompanha a amor (a alguém ou alguma causa) clínico à pessoa em
liberdade? grande sofrimento?

De acordo com sua


Quem se opõe à Uma canção sobre experiência clínica
4 vontade de poder e sofrimento/dor/amargor/padecimento qual a relação entre
à vontade de sofrimento e a
prazer? vivência da
espiritualidade e
religiosidade nos
atendimentos?
Quais instrumentos
Quem pode dizer Música apropriada à técnicos operativos
5 que jamais sofreu, liberdade/livre/escolha apesar dos que podem ser
jamais falhou e condicionantes utilizados no
não morrerá? atendimento à pessoa
em sofrimento? Cite
alguns casos.
Como você percebe o
crescimento da
6 Logoterapia no Brasil
Quem se desdobra Lembram de uma música com o tema e nos cursos de
na tríade trágica? do sentido da vida/existência formação em
psicologia? O que
seria necessário para
avançar?

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