Você está na página 1de 5

SINOPSE DO CASE: “Tenho muito o que fazer e não consigo fazer nada”.

Kelly Amanda da Silva Santos 2


Dr. Ma. Lidiane Collares 3

1 DESCRIÇÃO DO CASO

Far-se-á uma análise fenomenológico-existencial do caso de Suzana,é uma jovem


de 25 anos que está no 3º período do curso de Psicologia. No seu relato a estudante diz que
sempre foi muito atuante na faculdade, participa de vários grupos de pesquisa, ligas
acadêmicas, faz parte da Atlética e é líder de turma. No entanto já está desmotivada com a
carga de trabalho que o curso demanda.
A Jovem diz que já iniciou vários cursos, mas muda de todos pois depois que
começa percebe que tem medo do que pode acontecer no futuro, fica angustiada com suas
escolhas e com o que o futuro lhe reserva a partir delas e por isso não os termina. Ela relata o
seguinte: “Eu sei o que tenho que fazer, tenho consciências dos meus prazos, mas ao mesmo
tempo, não consigo nem ligar o notebook e ver os documentos, me dá até uma sensação ruim
no estômago, porque eu não sou irresponsável, gosto de fazer as coisas bem feitas, mas não
tenho conseguido nem começar”.
Diante dessa queixa a psicóloga focada com na obtenção de resultados produtivos,
aconselhou a fazer alguns exercícios de relaxamento, como mindfulness, também disse que
ela tem apresentado sintomas ansiosos por causa das muitas atividades que participa e que não
consegue dar conta de nada e que para conseguir realizar as tarefas do curso, Suzana precisa
dar o primeiro passo, que é começar a fazer. Desta forma encobrindo o sentimento de angustia
de Suzana, sem focar em fazer a estudante refletir sobre o que está a levando a essa
estagnação nas suas escolhas para a vida.

2 IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

1
Case apresentado à disciplina de Terapias e Técnicas Psicoterápicas Fenomenológicas e Existenciais, da
Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
2
Aluna do 8° período, do curso de Psicologia, da UNDB.
3
Professora, Especialista, Orientadora, da disciplina de Terapias e Técnicas Psicoterápicas Fenomenológicas e
Existenciais do 8° período do curso de Psicologia, da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
2.1 DESCRIÇÃO DAS DECISÕES POSSÍVEIS

a) Análise fenomenológico-existencial do caso Suzana.

2.2 ARGUMENTOS CAPAZES DE FUNDAMENTAR CADA DECISÃO

2.2.1 Análise fenomenológico-existencial do caso Suzana.

O homem é parte integrante do mundo, estando sempre sujeito as modificações


que ocorrem no seu meio e ao mesmo tempo sendo responsável por essas modificações. Desta
forma faz-se necessário pensar em como este indivíduo assume suas escolhas na sua
concretude e assim surge a necessidade de se pensar em uma prática psicológica que abarque
uma análise fenomenológica-existencial, que significa, sobretudo, pensar o homem na sua
complexidade existencial, e não somente como presença simples e objetivada.
O case nos traz o caso de Suzana que se vê desmotivada e estagnada em um novo
curso, depois de um longo histórico de mudanças em suas escolhas de curso, segundo a fala
da mesma “Eu sei o que tenho que fazer, tenho consciências dos meus prazos, mas ao mesmo
tempo, não consigo nem ligar o notebook e ver os documentos, me dá até uma sensação ruim
no estômago, porque eu não sou irresponsável, gosto de fazer as coisas bem feitas, mas não
tenho conseguido nem começar”. Desta forma a escuta humanizada do psicólogo com base
na visão fenomenológico-existencial:

O psicólogo, no lugar da escuta, na compreensão do relato daquele que, muitas


vezes tomado de angustia, vai ao seu encontro, pode apreender os pontos de
desordem ou de estagnação, facilitando o discurso do cliente e permitindo que os
aspectos conflitivos emerjam. Este emergir na fala do cliente, ao se deixar afetar
pela fala do terapeuta, pode proporcionar o desvelamento, mantendo a questão da
angústia. Desta forma, pela reflexão do si mesmo, o cliente pode descobrir-se em
liberdade na escolha de suas possibilidades. ( FEIJOO, 2000, p.18)

A psicóloga fenomenológico-existencial deve entender na fala de Suzana “que


tem medo de seguir a profissão e depois perceber que não se sente realizada com aquilo e ser
tarde demais” e mostrar-lhe eventualmente que sua angústia está intimamente ligada a sua
liberdade de escolhas, pois “Em cada estado a existe uma esfera de possibilidades, e em igual
medida, a angústia.” ( KIERKERGARD, 1844, P.116 apud FEIJOO, 2000, P.67), desta forma
percebe-se que a angústia é um sentimento que ocorre frente a possibilidade, esta que se
dispões todas as vezes em que a estudante faz a escolha de um curso diferente se vê
compelida ao medo do futuro. Pois ao fazer a escolha de algo, abre-se mão de uma outra
possibilidade que é extinguida e tem-se que lidar com as consequências. E é com a
responsabilidade dessa consequência iminente que a angustia vai entrar em relação.
Outro ponto a ser levado em consideração a partir da fala de Suzana é que ela se
sente culpada por seus próprios sentimentos diante de suas escolhas. E “a culpa nasce da
angústia e se dá pela liberdade não exercitada em sua possibilidade plena. O arrependimento,
que não anula a escolha, traz a lamentação e, portanto, a tristeza.[...]” ( KIERKERGARD,
1844, P.116 apud FEIJOO, 2000, P.68). A psicóloga diante do Suzana deveria leva-la a se
questionar do porquê de tantas trocas de curso, o que a faz querer estar em uma faculdade e se
é realmente isso que ela quer, para que a estudante possa refletir sobre suas escolhas. Pois ao
não se dar um tempo para descobrir o que quer realmente fazer, acaba por fazer escolhas que
as frustram com o passar do tempo, e o arrependimento pela escolha feita não a anula. Diante
disso:
À psicoterapia caberia, então, a preocupação com a angústia e suas derivações, e
também o desespero, como doença do eu. O processo psicoterapêutico vai se dar de
forma a restabelecer a relação do eu consigo próprio, e ao mesmo tempo, a relação
desta relação com o mundo. Trata-se resgatar a fluidez que constitui o eu, nas
relações eu-eu, eu-eu-mundo, eu- mundo. ( FEIJOO, 2000, p.113)

Ademais, diante dos estudos feitos, percebeu-se que a angústia faz parte da
tendência atualizante do ser- no mundo. O homem é uma estrutura de realização. E é apenas
modificando suas potencialidades o homem pode viver uma vida autêntica. Ser-no-mundo é
uma estrutura total e originária podendo ser visualizada e descrita em seus vários momentos
constitutivos. Além disso, a forma como o homem perceber o mundo e é percebido por ele, se
dá principalmente través de sua percepção passada através da fala. Heidegger (1990, apud
FEIJOO, 2000, P.17) chega a afirmar que “o homem não seria homem se não falasse. Afirma
ainda que o ser do homem reside na fala.”.
Segundo a perspectiva existencialista o homem passa a ser considerado como um ser
privilegiado e distinto de outros homens pela sua individualidade complexa e
dinâmica. Ser-no-mundo é uma estrutura total e originária podendo ser visualizada e
descrita em seus vários momentos constitutivos. Ser-no-mundo é ir muito além de
ser (humano) e estar (no mundo), mas sim encontrar-se aberto às possibilidades que
lhe são oferecidas e superar os limites, se tornando à medida que é lançado ao
mundo a cada momento, a cada experiência cotidiana.( SAMARIDI, 2011)

Diante de todas essas potencialidades do ser, o psicoterapeuta na perspectiva a


fenomenológico-existencial, diante de casos como o de Suzana, por exemplo, não vai se
importar com os resultados, pelo menos não com resultados pautados na extração de recursos
que o indivíduo dispões para atingir um sucesso socialmente determinado. Não na
necessidade de fazer Suzana escolher um curso e ser produtiva dentro dele, mesmo em
sofrimento. Ele trabalhará com a perspectiva das consequências, pelo modo de lidar com o
mundo em liberdade, assumindo suas próprias escolhas. O psicoterapeuta nessa abordagem
atua como uma facilitadora que ajuda a tornar manifesto o que é presente e que o sujeito não
consegue ainda perceber sozinho, possibilitando assim um pensamento meditante.

Abrindo a possibilidade àquele que, em agústia, clama pelo seu poder-ser mais
próprio, de reconhecer-se como ser-para-a-morte, pois encontra-se perdido no
impróprio. Neste querer-ter-consciência, pode descobrir-se em liberdade, tanto no
que se refere à utilização das coisas, como seu próprio fazer-se no mundo. Pode,
ainda, descobrir sua serenidade no “inútil”, e não angustiar-se para se tornar um
objeto de utilidade, para adequar-se às exigências do mundo do “das man”. ((
FEIJOO, 2000, p.104-105)

Desta forma a psicoterapeuta atua baseada em um saber meditativo, não


explicativo nem contemplativo. A partir do momento que utiliza-se do reducionismo
fenomenológico e despe-se de preconcepções, habita no sentido do terapeutizando deixando
que este se dê por si mesmo ao seu modo. Irá guia-lo através de questionamento que farão
com que o outro reflita por si mesmo sobre suas possiblidades, desta forma o terapeuta ajuda
na abertura de caminhos, restabelecendo o movimento através da percepção da angústia,
auxiliando o cliente a existir.

2.3 DESCRIÇÃO DOS CRITÉRIOS E VALORES CONTIDOS EM CADA DECISÃO


POSSIVEL

2.3.1 Criação de perfil profissional desvinculado do pessoal.


• Pensar o homem na sua complexidade existencial, e não somente como presença
simples e objetivada.
• Trabalhar com a perspectiva das consequências, pelo modo de lidar com o mundo em
liberdade, assumindo suas próprias escolhas.
• Atuar como uma facilitador que ajuda a tornar manifesto o que é presente e que o
sujeito não consegue ainda perceber sozinho, possibilitando assim um pensamento
meditante.
REFERÊNCIAS

FEIJOO, A. M. L. C. A escuta e a fala em psicoterapia: uma proposta fenomenológico-


existencial. São Paulo: Vetor, 2000.
SAMARIDI, Isadora. O Ser-no-Mundo e suas possibilidades existenciais num contexto
atual. In: Anais do Congresso de Fenomenologia da região Centro-Oeste. Caderno de
Textos—IV Congresso de Fenomenologia da região Centro-Oeste—19-21 de Setembro de.
2011.

Você também pode gostar