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CENTRO UNIVERSITÁRIO DOM BOSCO

GABRIELLE SERRA RABELO

RELATÓRIO REFLEXIVO DO ESTÁGIO ESPECÍFICO DE PSICOLOGIA


COM ÊNFASE NOS PROCESSOS CLÍNICOS E DA SAÚDE

SÃO LUÍS

2023
1 APRESENTAÇÃO DO CENÁRIO

O presente relatório é decorrente do Estágio Específico III de Psicologia com


ênfase nos Processos Clínicos e da Saúde, desenvolvido no local Clínicas Integradas da
Saúde – UNDB, departamento de Psicologia, localizado no bairro Renascença, com início
no dia 24 de fevereiro de 2023, sendo finalizado em 05 de maio de 2023. A experiência
consistiu na realização de atendimento psicológico individual uma vez no decorrer da
semana e a prática de supervisão semanal.

A Clínica-Escola de Psicologia oferta serviços com valor acessível para a


comunidade da instituição superior e sociedade em geral. São atendidas crianças, adultos
e idosos. O atendimento psicológico foi realizado pelos alunos em curso do 9° período e
sob supervisão técnica e docente da professora mestre Lidiane Colares. A finalidade do
estágio compreende o ensino e aprendizagem dos processos clínicos e da saúde. Como
também, a identificação e instrução quanto aos manejos e possibilidades de atuação
psicológica diante das demandas recebidas.

2 OBJETIVOS

Os principais objetivos que nortearam a experiência de estágio consistiram em:


desenvolver competências e habilidades necessárias para a intervenção psicológica de
caráter terapêutico e individual em processos clínicos e da saúde, tendo em vista a
necessidade de aplicar os conhecimentos aprendidos a partir da abordagem
Fenomenológica-Existencial; implementar processos de natureza psicológica pautado no
referencial teórico da Fenomenologia-Existencial, considerando a população-alvo, esta
referente ao Serviço Escola de Psicologia da UNDB; aprimorar na prática clínica os
conhecimentos adquiridos em sala de aula, diante a teoria e a prática; consolidar o
compromisso ético da profissão no que refere aos princípios fundamentais da atuação do
psicólogo frente ao que preconiza o Código de Ética desse profissional.

3 MATERIAIS E METÓDOS

A fim de fundamentar a prática clínica desenvolvida, utilizou-se a abordagem


denominada Fenomenologia-Existencial. O método fenomenológico nasceu na Europa,
visando romper com as bases do paradigma positivista e cientificista, cujo apelo a
neutralidade e objetividade atribui um caráter à questão do ser diferente do que se propõe
autores como Husserl, Heidegger, Sartre, Kierkegaard. O termo fenomenologia significa
estudo dos fenômenos, daquilo que se mostra à consciência (SILVA et al., 2008, p. 255).
O homem se constitui a partir da sua relação com o mundo, diante a sua
singularidade enquanto ser existente, como também, a partir das suas vivências que se dão
diariamente no mundo. A partir disso, pode-se falar de uma clínica fenomenológica
existencial, a fim de se preconizar e pôr em evidência os sentidos que o indivíduo atribui
a sua existência, as transformações que ele vivencia a partir delas e como estas o
transformam.

Diante disso, para compreender a partir de uma clínica fenomenológica


existencial, utilizou-se da metodologia da suspensão fenomenológica, um importante
conceito para essa prática, onde o terapeuta irá suspender os seus valores, julgamentos e
ideias pré-concebidas. Segundo Husserl, essa “suspensão do juízo na atitude
fenomenológica promove uma abertura de sentido diante do fenômeno apreendido”
(SOUZA et al., 2010, p. 225).

Logo, é essencial exercê-la no momento da clínica, para que psicólogo acolha o


sofrimento de seu cliente sem ideias prévias ou julgamentos. Além disso, também se
associa a esse conceito, “o retorno às coisas mesmas”, ou seja, a busca da essência do
fenômeno que se mostra, sem as impregnações decorrentes do já experimentado e
representado pela consciência (SILVA et al., 2008, p. 255).

4 DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO

4.1 Primeiro caso:


Diante o caso da cliente S.B, uma jovem de 23 anos, pôde-se perceber ao longo
dos atendimentos, uma ansiedade exacerbada e auto cobrança constante diante as mais
diversas dimensões de sua vida, principalmente, no que tange as expectativas ao seu futuro.
Na primeira sessão, S.B relatou que sofria de ansiedade, pois vivia preocupada com a sua
vida acadêmica. Continuamente se comparava com os demais colegas de sala, sentia-se
insuficiente ainda que estudasse, mas diante o cenário em que vivia, nunca parecia ser o
suficiente nada que fazia. Ainda que cumprisse suas obrigações, se via angustiada diante
as possibilidades do que ainda viria a ser do seu futuro. De acordo com Monteiro (2011), a
juventude é um período no qual o sujeito vivencia diversas rupturas e transições, exigindo
uma responsabilidade simbólica perante as suas condutas. Portanto, observa-se que durante
esse momento, o jovem além de estar passando por um processo de auto identificar-se e
adentrar a vida adulta, ainda é cobrado constantemente a cumprir com as expectativas que
são esperadas.
O sofrimento trazido por S.B estava para além da esfera acadêmica, mas
também familiar, pois a sua família a cobrava diariamente, a colocando em um papel de
responsável por todo o seu núcleo familiar. Este é um fator trazido por ela que gerava
bastante angústia em suas falas, tendo em vista que para além de suas questões pessoais de
auto cobrança excessiva, a responsabilidade social por todos, a sobrecarregava. Segundo
Monteiro (2011), a responsabilidade aparece relacionada diante as funções que são
desempenhadas na sociedade, ao cumprimento de papeis sociais, como também por
responsabilidade intergeracional, no que tange a deveres familiares. Análogo a isto, tem-se
um outro fator que atravessa os jovens na atualidade, a responsabilidade para a construção
de si mesmo, enquanto sujeito. Então, nota-se que a ansiedade é um fenômeno que é
advindo dessa fase de transição para a vida adulta, acompanhada de conflitos familiares,
pessoais e etc.

Para Sartre (1997) a angústia pode ser tanto dirigida para o futuro,
aproximando-se mais da concepção de ansiedade, como também para o passado. No
entanto, quando a angústia se volta para o futuro, ela deixa o sujeito inquieto perante a sua
liberdade, tendo em vista que o indivíduo se depara com o fator de que não pode se
determinar integralmente no presente a ser no futuro como ele gostaria de se determinar
agora. A ansiedade é um tipo de resposta a angústia dirigida para o futuro. Paralelo a isso,
é possível relacionar a ansiedade de S.B e o seu desejo de antecipar o futuro como uma
resposta para a sua angústia no presente. Outra questão trazida por ela, era o medo de
namorar um rapaz mais velho, ainda que apaixonada por ele, S.B relatava que existiam
muitos fatores que dificultavam esse relacionamento, como por exemplo, o fato de ele já
ter um filho. Quais seriam as implicações desse relacionamento para a sua vida? O que a
sua família pensaria dela? Será que ela estava pronta para assumir as consequências ou não
de se relacionar com ele? Estas eram questões trazidas por ela, ainda que durante o seu
discurso ela demonstrava a sua vontade de estar e assumi-lo no presente, ela pensava nas
consequências disso para o seu futuro.

Ainda segundo Sartre (1997) o ser humano escolhe o peso e o valor dos
acontecimentos para a sua própria existência, tendo em vista que não é possível escapar
das contigências, das consequências de uma escolha, mas ainda é possível escolher como
relacionar-se com elas. É o sujeito que dá sentido ao seu futuro, ao seu projeto de ser.
Portanto, durante as sessões, trabalhou-se com a cliente as possibilidades de existência e o
seu projeto de ser, isto é, quem ela gostaria de vir a ser, quem ela era agora e o que ela
gostaria de escolher no momento presente. É através da angústia que é possível que o
sujeito volte para si e tome consciência da sua liberdade como consciência do que ele é e
do que faz com a sua própria vida. No entanto, não é uma tarefa fácil para o cliente deparar-
se com o peso da sua responsabilidade perante a sua existência, mas foi/é através da
angústia, tendo em vista uma perspectiva fenomenológico-existencial, um importante
catalisador para a execução do projeto de ser do homem.

Neste caso clínico, a angústia trazida pela cliente perante as suas questões foi
fundamental, pois através do trabalho fenomenológico, foi possível a suspensão de juízos,
valores e ideias já pré-concebidas acerca da sua existência. Como também a visualização
das suas possibilidades de ser e vir a ser, tomando consciência da sua liberdade enquanto
ser humano, ainda que isso implique em uma responsabilidade para com as consequências
de suas escolhas. Desse modo, concluo que ao decorrer das sessões e na finalização da
psicoterapia, a cliente expressou a tomada de consciência de si mesma e da sua liberdade,
reconhecendo-se em sua angústia.

5 CONCLUSÃO

A experiência oportunizou a efetiva articulação entre prática e conceituações vistas


nas disciplinas de Fundamentos das Abordagens Fenomenológicas Existenciais e TTP das
Abordagens Fenomenológicas Existenciais, a fim de desenvolver de forma integral os
conhecimentos e competências que concernem à área e a abordagem escolhida. Como
também, promoveu a aquisição e capacitação de habilidades e posturas profissionais
diante das demandas emergidas no campo. Logo, o estágio apresentou abertura para
ressignificar saberes, transformar aquilo que já se conhecia e atribuir novos sentidos
diante a presença do outro.

Pode-se considerar que a experiência cumpriu as finalidades e objetivos


traçados, as técnicas e os procedimentos desenvolvidos sob o apoio da psicóloga
supervisora. somaram ao arcabouço teórico dos estagiários. Como também, as supervisões
foram essenciais para o processo de aprendizagem para aplicação e conhecimento da teoria
fenomenológica existencial na prática
REFERÊNCIAS

MONTEIRO, Renata Alves de Paula. A transição para a vida adulta no


contemporâneo: um estudo com jovens cariocas e quebequenses. 2011. Tese
(Doutorado em psicologia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2011.

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenologia. 3. ed.


Petropolis: Vozes, 1997.

SILVA, Jovânia Marques de Oliveira et al. Fenomenologia. Revista brasileira de


enfermagem, v. 61, p. 254-257, 2008.

SOUZA, Leticia Reis de Andrade et. al. Atitude fenomenológica e psicoterapia. IGT na
rede, v. 7, n. 13, p. 223-245, 2010.

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