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VANESSA THAÍS DE MOURA

RELATÓRIO FINAL DE ESTAGIO ESPECÍFICO IV


ESTÁGIO CLÍNICO

SINOP-MT
2023
VANESSA THAIS DE MOURA

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO ESPECÍFICO IV


ESTÁGIO CLÍNICO

Trabalho referente ao estágio supervisionado,


desenvolvido no CEAPP, no segundo semestre
letivo de 2023, sob supervisão da Professora Eloisa
Lima.

Sinop/MT
2023
1. INTRODUÇÃO

O propósito do Estágio Específico Clínico consiste em contribuir para a


formação prática do estudante de Psicologia, garantindo que o graduando tenha
contato com diversas situações, ambientes e instituições. Isso permite que seus
conhecimentos, habilidades e atitudes se concretizem na prática profissional,
visando proporcionar atendimento de alta qualidade à comunidade. O estágio em
Psicologia é um requisito obrigatório do curso de Psicologia, conforme estabelecido
na Lei de Regulamentação da Profissão de Psicólogo (Lei nº 4.119 de 27/08/1962 —
regulamentada pelo Decreto nº 53.464 de 21/01/1964). Os estudantes devem realizar
esse estágio para obterem o diploma de Psicólogo.
Para desempenhar satisfatoriamente o estágio nesta área, os alunos
precisam ter conhecimentos fundamentais em psicopatologia, técnicas de avaliação
psicológica e teorias da personalidade. Além disso, é esperado que eles estejam
familiarizados com o Código de Ética da profissão. Além desses requisitos básicos,
os estudantes devem demonstrar habilidades de análise crítica, capacidade de
aprendizado independente e a busca contínua pelo aprimoramento, bem como uma
postura ética e responsabilidade social.
O processo de construção da identidade profissional do psicólogo envolve a
assimilação da teoria, supervisão sistemática e, como Freud mencionou, a análise
pessoal. Assim como Freud enfrentou o desafio de se autoanalisar e escutar os
outros, os estudantes enfrentam o desafio de aplicar teoria e técnicas que muitas
vezes ainda não vivenciaram. Portanto, é fundamental que o estudo e a supervisão
sejam aprofundados o suficiente para apoiar os alunos e evitar que se sintam
desamparados, pois já carregam consigo a complexidade do processo psicanalítico
em busca de autoconhecimento.
Freud destacou a importância do "tripé" composto pela análise pessoal,
supervisão e estudo teórico, fundamentais para a formação de psicanalistas em
várias instituições, inicialmente, os acadêmicos se beneficiam principalmente da
assimilação da psicanálise por meio do estudo e da supervisão.
Freud também enfatizou que a escuta do paciente deve ser aberta e livre de
preconceitos pessoais, e os terapeutas devem permanecer flexíveis em relação às
concepções teóricas ou ideais sobre como conduzir o tratamento. Isso envolve
manter-se aberto a novas perspectivas em cada interação terapêutica.
A psicanálise foi definida como um método psicoterapêutico baseado na
investigação e interpretação controlada da resistência, transferência e desejo. Além
disso, a psicanálise abrange uma teoria psicológica e psicopatológica que
sistematiza os dados obtidos por meio do método psicanalítico de investigação e
tratamento.
Ao concluir o estágio, espera-se que o aluno seja capaz de identificar
diferentes demandas dos clientes que buscam atendimento clínico e tomar decisões
apropriadas em relação aos encaminhamentos necessários. Além disso, o estágio
visa aprofundar o conhecimento sobre teorias e técnicas terapêuticas na Psicologia
Clínica, estimular a análise crítica dessas abordagens, promover a reflexão sobre o
processo terapêutico e o papel do terapeuta em relação às diferentes abordagens
existentes na Psicologia Clínica, desenvolver habilidades na identificação de
dúvidas e na busca de novos conhecimentos na prática clínica, bem como
conscientizar os alunos sobre fontes importantes de informações (teóricas, técnicas e
éticas) relacionadas à área. O estágio também incentiva os alunos a refletir sobre as
particularidades da prática em Psicologia Clínica no contexto brasileiro.

2. DADOS E IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO


2.1 Nome Completo: Vanessa Thaís de Moura
2.2 Numero de Matrícula: 51106
2.3 Endereço: Rua Turim, 150, Residencial Florença, Sinop – MT.
Vanessamoura1991@gmail.com

3. LOCAL E CONDIÇÕES NAS QUAIS O ESTÁGIO ACONTECEU


3.1 Área de Estágio: Clínico
3.2 Local de Estágio: CEAPP – Centro de Atendimento e Pesquisa em
Psicologia, Av. Magda Cassia Pissinati, 69, Residencial Florença, (66) 3517-
1300, AMAPLIS – Associação De Apoio a Patrulha Maria da Penha e
Liderancas Sociais, Rua Armando Dias, Boa Esperança, Sinop-MT.
(66)99642-6998
3.3 Nome do Orientador/Supervisora e Coordenadora: Eloisa Lima
3.4 Período de Estágio: 160 horas.
3.5 Carga horária semanal: 10h
3.6 Turno vespertino: 1 horas, no CEAPP, nas quartas-feiras, das 14h00min as
15h00min, 3 horas, na AMAPLIS, nos sábados das 13h00min as 15h00min;
Turno noturno: 4 horas, no CEAPP nas sextas-feiras, das 18h00min as
21h00min,

4. REVISÃO TEÓRICA

4.1 A PSICANÁLISE

Indiscutivelmente, hoje em dia, temos à nossa disposição uma vasta quantidade de


pesquisa e artigos relacionados à Psicanálise. No entanto, ao voltarmos à fonte, ao
criador da Psicanálise, encontramos em Freud, em seu trabalho de 1923, uma explicação
das bases fundamentais da teoria psicanalítica. Ele atribui três significados ao termo
"psicanálise": 1. Um procedimento para investigar processos mentais que são
praticamente inacessíveis por outros meios. 2. Um método derivado dessa investigação
para tratar distúrbios neuróticos. 3. Uma coleção de informações psicológicas obtidas
por meio dessas abordagens, que gradualmente se acumulam em uma disciplina
científica.
Os dois primeiros significados correspondem ao processo formativo que ocorre
durante uma análise e supervisão. Sigmund Freud (1856-1939), um médico vienense,
desafiou profundamente a maneira de entender a vida psíquica, de forma comparável à
contribuição de Karl Marx para a compreensão dos processos históricos e sociais. Freud
ousou abordar os "processos misteriosos" da mente humana, como fantasias, sonhos,
esquecimentos e a interioridade do indivíduo, transformando-os em problemas
científicos. A investigação sistemática desses problemas levou à criação da Psicanálise.
O termo "psicanálise" é usado para descrever uma teoria que engloba um conjunto
de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da mente humana. Freud
publicou uma extensa obra ao longo de sua vida, compartilhando suas descobertas e
formulando leis gerais sobre a estrutura e o funcionamento da psique humana.
A Psicanálise também é um método de investigação que se caracteriza pela
interpretação, buscando o significado subjacente ao que é manifestado por meio de
ações, palavras e produções imaginárias, como sonhos, delírios e associações livres.
Além disso, a Psicanálise é uma prática profissional que envolve a análise, um
processo que visa o autoconhecimento e a cura por meio desse autoconhecimento.
Atualmente, a Psicanálise é aplicada de diversas maneiras, servindo como base para
psicoterapias, aconselhamento, orientação e sendo usada no trabalho com grupos e
instituições. Ela também desempenha um papel crucial na análise e compreensão de
fenômenos sociais relevantes, como os novos tipos de sofrimento psíquico, o excesso de
individualismo na sociedade contemporânea e o aumento da violência.
Freud se perguntava: "Qual poderia ser a causa de os pacientes esquecerem tantos
fatos de sua vida interior e exterior...?" (1923). O esquecimento sempre estava
relacionado a algo doloroso para o indivíduo, e era exatamente por essa razão que havia
sido esquecido. O termo "penoso" não necessariamente se referia a algo negativo, mas
poderia abranger algo bom que foi perdido ou intensamente desejado. Quando Freud
deixou de fazer perguntas diretas durante o tratamento de seus pacientes e permitiu que
eles livremente expressassem seus pensamentos, observou que muitas vezes eles
ficavam constrangidos e envergonhados com ideias ou imagens que surgiam. Ele
chamou essa força psíquica que se opõe à conscientização de "resistência" e o processo
de ocultar ou suprimir uma ideia ou representação insuportável e dolorosa que está na
origem dos sintomas foi denominado "repressão". Esses conteúdos psíquicos
encontram-se no inconsciente. No decorrer do processo terapêutico e teórico, Freud
inicialmente acreditava que todas as cenas relatadas pelos pacientes eram eventos reais.
No entanto, mais tarde, descobriu que poderiam ser criações imaginárias, mas que
tinham o mesmo impacto e consequências que uma situação real. Para o indivíduo, o
que assume importância é a realidade psíquica, mesmo que não corresponda à realidade
objetiva.

4.2 OS MECANISMOS DE DEFESA

O conceito de mecanismos de defesa na Psicologia surgiu pela primeira vez em


1894, no trabalho intitulado "As Psiconeuroses de Defesa", onde Freud descreveu a luta
do Ego contra emoções dolorosas e insuportáveis para o indivíduo. Mais tarde, Freud
formulou o conceito de recalcamento, que ocorre devido à angústia e se manifesta
simbolicamente em sonhos, atos falhos e sintomas neuróticos. Posteriormente, em 1926,
Freud substituiu o conceito de repressão pelo conceito de defesa. Freud propôs vários
mecanismos de defesa, como regressão, recalcamento, formação reativa, isolamento,
introjeção, projeção e anulação. Anna Freud, em 1936, introduziu outros mecanismos de
defesa, como sublimação, deslocamento, negação e identificação com o agressor.
Freud definiu os mecanismos de defesa como processos mentais ou métodos
utilizados pelo Ego para proteger-se da ansiedade. Esses processos ocorrem no nível
inconsciente e ajudam a mente a lidar com sentimentos, pensamentos ou impulsos
difíceis de enfrentar, que o Ego considera perigosos ou em conflito com as demandas do
Superego.
Durante o século passado, a pesquisa sobre os mecanismos de defesa foi conduzida
dentro de várias abordagens teóricas, especialmente na psicanálise. Os trabalhos de
Anna Freud constituíram um marco importante na teoria e pesquisa sobre o assunto. Ela
descreveu as defesas patológicas como um desequilíbrio em certos processos que
podem refletir a presença de mecanismos rígidos que perturbam o desenvolvimento da
personalidade. Anna Freud também adotou uma abordagem ontogenética em relação ao
desenvolvimento dos mecanismos de defesa, considerando que o processo de maturação
pessoal inclui a maturação desses mecanismos.
Ela destacou que todos os mecanismos de defesa podem ser modos saudáveis de
adaptação, desde que sejam usados de forma flexível e moderada. Em sua opinião, os
mecanismos de defesa ajudam os indivíduos a lidar com as demandas e desafios da
realidade, auxiliando o Ego a enfrentar conflitos entre o Id e o Superego.
No entanto, outros autores, como Haan (1963), consideram que todos os
mecanismos de defesa, em todas as circunstâncias, são respostas desadaptativas do
sujeito e estão associados ao funcionamento patológico da personalidade.

4.2 A ASSOCIAÇÃO LIVRE

A "associação livre de ideias" é uma técnica psicanalítica desenvolvida por


Freud que ganhou destaque no artigo "A dinâmica da transferência" (Freud, 1912), onde
a expressão "regra fundamental" é introduzida, conferindo um papel de extrema
importância à prática de "associar livremente". Podemos compreender a associação livre
de ideias como a livre fluidez do pensamento, na qual o paciente é encorajado a
expressar tudo o que lhe ocorre, seja ou não aparentemente coerente, comunicando ao
analista qualquer pensamento sem censura prévia. Essa técnica visa criar uma condição
na relação transferencial com o analista que se assemelhe à lógica do sistema
inconsciente.
Dessa forma, assim como nos sonhos, a associação livre permite que o
processo primário, presente nas associações livres, seja explorado. Ao interpretar os
sonhos, Freud utilizava a livre associação para acessar o conteúdo latente dos sonhos,
onde um elemento do sonho poderia servir como ponto de partida para desencadear
cadeias de associações. Desde seus primeiros trabalhos, como "Os Estudos sobre a
Histeria" (Freud, 1895), Freud seguiu o caminho apontado por suas pacientes,
observando o agrupamento de associações e suas conexões, o que possibilitou ou não o
acesso à consciência e revelou a dinâmica dos conflitos defensivos individuais.
A regra da associação livre está sempre presente no processo analítico,
permitindo que o analisando expresse seus pensamentos por meio de palavras, imagens,
sonhos, sensações ou até mesmo o uso de brinquedos (no caso de crianças ou
adolescentes) e todas as formas espontâneas que surjam durante a comunicação com o
analista. No entanto, a "atenção flutuante" do analista desempenha um papel crucial
nesse processo.
Em "Recomendações aos médicos que exercem a Psicanálise" (1912), Freud
enfatiza que o médico analista deve estar aberto a tudo o que o paciente diz, usando
essas informações para fins de interpretação e identificação do material inconsciente
oculto. O analista deve evitar substituir sua própria censura pela seleção que o paciente
poderia ter feito. Ele deve direcionar sua própria mente inconsciente, como um órgão
receptor, na direção do inconsciente do paciente, que atua como transmissor. Essa
abordagem ressalta a importância da associação livre como a pedra angular da
Psicanálise, na qual o desenrolar das associações é considerado "livre" na medida em
que não é guiado por intenções seletivas. Assim, a associação livre pode ser uma
“regra” de grande valia, pois poderemos considerar “livre” o desenrolar das associações,
“na medida em que esse desenrolar não é orientado e controlado por uma intenção
seletiva”. (Laplanche e Pontalis 1988 p. 73)

4.3 A MULHER NA PSICANÁLISE

A psicanálise adentrou o cenário social nas décadas de 1950 e 1960,


coincidindo com a luta feminista pela igualdade de direitos entre os sexos. Nesse
contexto, a estrutura da família patriarcal, tradicionalmente hierárquica, passou por uma
transformação significativa, tornando-se mais horizontal. Essa mudança desestabilizou
as normas que definiam os papéis de homens e mulheres nos relacionamentos, dando
origem a novas formas de subjetividade e criando uma demanda por análise
psicanalítica.
Hoje, não encontramos mais os casos de histeria que Freud estudou
inicialmente, mas sim mulheres que, apesar de alcançarem sucesso em suas vidas,
enfrentam a solidão. De acordo com relatos clínicos, muitas dessas mulheres acreditam
que os homens modernos se sentem ameaçados por elas. Isso ocorre à medida que essas
mulheres conquistaram sua emancipação, livrando-se da submissão à autoridade
masculina, obtendo independência financeira, e, em alguns casos, ganhando mais do
que os homens. Elas também têm a liberdade de viver suas vidas sexuais de acordo com
sua vontade. No entanto, essa independência parece afetar sua capacidade de serem
escolhidas como parceiras.
Desde o início da psicanálise, a questão da feminilidade tem sido um enigma.
A histeria foi o primeiro desafio enfrentado por Freud, e o sexo feminino foi, em certo
sentido, o segundo enigma, ou simplesmente, o "Outro". A mulher, com a histeria como
parte de sua história, desempenhou um papel fundamental na fundação da psicanálise e
na busca por compreender o mundo psíquico, a feminilidade e suas representações.
No entanto, apesar de décadas de pesquisa e desenvolvimento na teoria
psicanalítica, a natureza do enigma em torno da feminilidade permanece intrigante. A
pergunta clássica "O que quer uma mulher?" continua a gerar elaborações teóricas
complexas, em vez de respostas definitivas, devido à natureza elusiva das possíveis
respostas. Lacan (1960/1998) diz: "(...) a questão da fase fálica na mulher agrava seu
problema por ter, depois de fazer furor entre os anos 1927 e 1935, sido, desde então,
deixada numa tácita indivisão, ao bel-prazer das interpretações de cada um" (p. 736).
Mas qual é, então, a diferença básica entre eles? Neri (2002) esclarece: O feminino
(weiblich) se refere à posição feminina na dialética fálica que instaura a diferença
masculino-fálico-atividade / feminino-castrado-passividade, a sexualidade feminina
(weiblich Sexualitat) designa o destino da sexualidade da mulher na lógica fálica e a
feminilidade (weiblichkeit) indica um erotismo não mais regulado pela lógica fálica,
deixando à mostra um eixo de subjetivação, erotização e sublimação que inaugura novas
possibilidades de inscrição do sujeito na cultura como singularidade e diferença. (Neri,
2002, p. 29 e 30)
Apesar de esforços para distinguir os conceitos de feminilidade, sexualidade
feminina e feminino na psicanálise, a falta de clareza persiste em relação ao uso
indiscriminado desses termos. Isso se deve, em parte, ao peso do contexto socio-
histórico, filosófico e cultural nas interpretações da psicanálise sobre o feminino. Desde
os primeiros estudos sobre a histeria, as mulheres começaram a falar e serem ouvidas,
desafiando as restrições sociais e psíquicas impostas. No entanto, as interpretações
sobre o feminino muitas vezes oscilaram entre posições naturalistas e essencialistas.
A complexidade da diferença sexual, sob a perspectiva fálica, continuou a
desafiar a teoria psicanalítica, mesmo com os avanços na compreensão da sexualidade
humana. Enquanto a psicanálise avançava na formulação de uma teoria geral da
sexualidade, a questão sobre o que constitui uma mulher continuava sendo um dilema
teórico. A relação entre feminilidade, sexualidade feminina e feminino permanece
obscura e ambígua, com as falhas na tradução dos conceitos contribuindo para a
confusão.
No entanto, a psicanálise continua a evoluir e a se adaptar às mudanças sociais
e culturais. A introdução do conceito de gênero trouxe novas perspectivas e
delimitações, mas as dissonâncias e ambiguidades persistentes apontam para desafios
contínuos na compreensão do feminino. Portanto, é fundamental reconhecer que as
questões em torno da feminilidade, apesar de décadas de investigação, ainda têm áreas
obscuras que desafiam a clarificação completa.

4.4 A MULHER NA CLÍNICA CONTEMPORÂNEA

A clínica vem demonstrando que, para ambos os sexos, as negociações


decorrentes de um laço de compromisso na vida amorosa parecem funcionar como algo
que tira a força individual. Para as mulheres, essa extração fica creditada na ameaça de
perderem a emancipação alcançada em relação à submissão aos homens, que se
desdobrou em ganhos de autonomia e elevação de autoestima. Para os homens, a
exigência em lidar com toda essa demanda de mulheres possíveis que entraram no
social, convocando-os a uma parceria igualitária em direitos e deveres, cria uma
exigência de trabalho de si, na medida em que os coloca diante da necessidade de
reconstruir um novo papel, assumindo uma nova identidade. Como conteúdo manifesto,
ambos os sexos continuam querendo o encontro, mas no latente o que se apresenta é
uma aposta no desencontro. Parece que perpetuar a solidão garante uma nova forma de
viver, já que o encontro constitui uma ameaça à integridade do eu dessas novas
subjetividades. Viver bem, sem o outro, parece constituir-se uma nova demanda de
análise. Essa nova demanda entra em conflito com o também presente desejo de
constituir família e filhos, desejo por vezes identificado no limite imposto pelo relógio
biológico. Alia-se a esse conflito a ameaça da solidão na velhice. O conflito entre estar
sem ou com alguém, e tudo o que vem a reboque nessa negociação, parece configurar as
novas tonalidades do mal-estar do amor na atualidade.
A psicanálise emergiu num contexto social em que a moral sexual, decorrente
de uma sociedade patriarcal, produzia uma parceria amorosa com papéis bem definidos.
Cabia à mulher a esfera doméstica, ou seja, o cuidado com a casa e os filhos, o que era
do domínio do privado. Aos homens cabia o que era do domínio público, o trabalho e,
consequentemente, os proventos da família. Formavam o casal ‘Rainha do Lar e
Provedor’. A subjetividade da Rainha do Lar era construída sob as bases do seu papel de
mãe e esposa; e, para ser digna do amor de um homem, seu recato sexual era um fator
determinante. Na vida psíquica dos homens, as mulheres dividiam-se entre as Santas e
as Putas, e à virgindade era dado um valor de referência, de qualificação do caráter de
uma mulher. Mulheres domesticadas e frígidas garantiam, através de seus silêncios, a
suposta virilidade de seus maridos. Virilidade também legitimada pelas cortesãs, com
quem viviam seus prazeres sexuais, na medida em que não cabia, e nem interessava a
essas mulheres, qualquer questionamento sobre o desempenho amoroso e sexual desses
homens.
Os sintomas conversivos da histeria conduziram essas mulheres aos cuidados
médicos psiquiátricos, até que surgiu Freud, deslocando o ‘olhar’ desses sintomas, para
uma ‘escuta’ sobre os mesmos. Acreditou existir um ‘dizer’ sobre eles e debruçou-se no
trabalho de traduzi-los. Surge a psicanálise, trazendo à tona a insatisfação sexual como a
causa desses sofrimentos. Freud dá voz a essas mulheres e, do divã para a escrivaninha,
vai construindo o método psicanalítico de tratamento. A humanidade avançou.
A revolução industrial já havia lançado as mulheres nas fábricas, incluindo-as
no domínio público. A ciência médica inventou os anticoncepcionais, o que deu à
mulher o poder de escolha de conceber ou não, possibilitando-lhe a liberdade sexual. A
inseminação artificial dispensou a presença do sujeito homem do ato da fecundação,
bastando o espermatozoide. A revolução sexual lutou pela igualdade dos sexos. A
psicanálise entrou no social e a ‘fala’ dessas mulheres, ao longo dos anos, afetou a
construção das parcerias amorosas. A psicanálise, através da sua entrada no social nos
anos de 1950/1960, teve um papel na emancipação da mulher, que passou a questionar o
autoritarismo do patriarcado.
A igualdade de direitos entre os sexos foi bandeira de luta do feminismo. A
sociedade patriarcal, que era organizada sob um eixo vertical ao que se refere aos laços
familiares, desloca-se para um eixo horizontal. Essa mudança trouxe uma
desestabilização entre os referenciais que definiam os papéis dos homens e das mulheres
no casal, o que veio configurando novas subjetividades e, consequentemente, plantando
silenciosamente uma demanda de análise. Surgem no cenário social novos laços e novas
subjetividades. A sociedade construída sobre o eixo do patriarcado é desequilibrada,
trazendo uma desconstrução nos papéis dos homens e mulheres no que se refere à
parceria amorosa. Com o surgimento de uma nova mulher no cenário social, o lugar do
homem na parceria amorosa entrou em questão. Ambos parecem estar em busca de
novos arranjos possíveis e, nesse percurso, entre encontros e desencontros, chegam aos
nossos consultórios em busca de sentido para essas novas configurações. O mal-estar no
amor se transformou, criando uma nova demanda de análise. Hoje, não encontramos
mais as histéricas convertidas de Freud, mas mulheres ‘bem sucedidas’ sofrendo de
solidão. Segundo os relatos clínicos essas mulheres parecem acreditar no fato de que os
homens de hoje sentem-se ameaçados por elas. Na medida em que foram se
emancipando, libertando-se da submissão imposta pela autoridade masculina,
conseguindo sucesso e reconhecimento profissional, independência financeira,
chegando, por vezes, a ganharem mais que os homens, e com autorização interna de
viverem livremente suas vidas sexuais, essas mulheres deixaram de ser eleitas esposas.
Desejadas sim, mas recortadas para serem a parceira num vínculo de amor e
compromisso, não. Da histérica de Freud à solidão das mulheres atuais, o que a
psicanálise pode nos dizer? Que olhar a teoria psicanalítica lança para esses sintomas a
fim de sustentar clinicamente essa demanda?
A cultura psicanalista vigente prega, para homens e mulheres, a liberação dos
traumas infantis, visando uma atenuação das culpas provenientes desses traumas. Cada
um como ser de exceção e diferente do outro: esse é o lema do individualismo e o
desafio da moderna configuração de valores. Através das vinhetas podemos pensar que,
apesar de todas as transformações nos laços sociais, a psicanálise pode estar operando
como um novo índice de regulação da diferença sexual, uma vez que mantém o falo
como medida da estrutura do recalque. Carla e José, sujeitos contemporâneos,
deslizaram no sentindo de atravessarem seus fantasmas quando orientados pelo real de
seus sintomas. O ‘tudo poder’ não garante a felicidade e não dissolve o mal-entendido
entre as parcerias amorosas. Carla, ao se dar conta de que a criptonita tirava a força do
“super-homem” e José, por sua vez, “engolindo”, castraram-se, na medida em que
rearranjaram suas vidas amorosas. Continuaram sendo sujeitos contemporâneos já que
seus novos arranjos não destituíram as mulheres de suas conquistas e nem os homens da
tarefa de se reinventarem.
As mulheres parecem continuar buscando em análise o deslizamento da
posição de que é o outro que porta o desejo. Das seduzidas histéricas de Freud às
solitárias contemporâneas, é a apropriação do próprio desejo que redireciona o percurso
analítico. Enquanto as primeiras apropriaram-se do “sou eu que desejo”, as segundas,
parecem se apropriar do “sou eu que não quero”. O sujeito do inconsciente nunca está
acabado em si mesmo, na medida em que sofre as vicissitudes do mundo externo. Seus
sintomas são constantes conciliações entre o dentro e o fora e, portanto, denunciam os
laços sociais. Dessa forma, escutar o dizer dos sintomas é escutar os impasses subjetivos
dentro da história. Cabe ao analista comprometido com sua prática estar atento à
subjetividade de sua época.

4.6 NARCISISMO E MÃES NARCISISTAS NA PSICOLOGIA

O narcisismo é um conceito fundamental na psicologia e na psicanálise,


desempenhando um papel significativo na compreensão da personalidade e do
desenvolvimento humano. Nas últimas décadas, os estudos na área da psicologia têm
explorado mais profundamente o narcisismo, incluindo suas manifestações na relação
mãe-filho e como a dinâmica narcisista pode afetar o desenvolvimento emocional e
psicológico das crianças.
O termo "narcisismo" tem suas raízes na mitologia grega, onde Narciso era um
jovem que se apaixonou por sua própria imagem refletida na água. Na psicologia, o
narcisismo refere-se a um conjunto de características e traços de personalidade que
envolvem um foco excessivo em si mesmo, uma busca constante por admiração e
validação, uma falta de empatia e um desejo de superioridade sobre os outros.
O narcisismo pode ser dividido em duas categorias principais: narcisismo
saudável e narcisismo patológico. O narcisismo saudável envolve uma autoestima
equilibrada, confiança em si mesmo e a capacidade de manter relacionamentos
interpessoais satisfatórios. Por outro lado, o narcisismo patológico está associado a
traços de personalidade egocêntricos, manipulativos e desrespeitosos em relação aos
outros. A mãe narcisista é aquela que exibe traços narcisistas significativos em seu
comportamento e relacionamento com seus filhos. Ela pode estar tão absorvida em si
mesma e em suas próprias necessidades que negligência as necessidades emocionais e
psicológicas de seus filhos. As características de uma mãe narcisista podem incluir: 1.
Foco em si mesma: A mãe narcisista coloca suas próprias necessidades, desejos e
realizações acima de tudo, muitas vezes ignorando as necessidades emocionais de seus
filhos. 2. Busca de validação: Ela exige constante validação e admiração de seus filhos,
esperando que eles a enalteçam. 3. Falta de empatia: A mãe narcisista tende a ter
dificuldade em entender e responder às emoções de seus filhos, porque está tão centrada
em suas próprias emoções. 4. Competição com os filhos: Ela pode ver seus filhos como
uma extensão de si mesma e competir com eles em várias áreas, como aparência,
sucesso e realizações. 5. Manipulação emocional: A mãe narcisista pode usar táticas
manipuladoras, como chantagem emocional, para manter o controle sobre seus filhos.

Os estudos na área da psicologia têm explorado os efeitos do narcisismo


materno no desenvolvimento emocional e psicológico das crianças. Muitas vezes, os
filhos de mães narcisistas podem experimentar: 1. Baixa autoestima: A constante busca
de validação da mãe narcisista pode minar a autoestima de seus filhos, levando a
sentimentos de inadequação. 2. Dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis:
As crianças criadas por mães narcisistas podem ter dificuldade em estabelecer
relacionamentos saudáveis e empáticos no futuro. 3. Problemas de limites: As crianças
podem ter dificuldade em estabelecer limites saudáveis com os outros, já que foram
ensinadas a colocar as necessidades da mãe antes das suas. 4. Dependência emocional:
Algumas crianças podem se tornar emocionalmente dependentes de suas mães
narcisistas devido à falta de apoio emocional em outros lugares.
Na psicanálise, o estudo do narcisismo e das dinâmicas familiares narcisistas
desempenha um papel significativo. A teoria freudiana inicialmente explorou o
narcisismo como uma fase normal do desenvolvimento infantil, mas posteriormente se
expandiu para incluir o conceito de narcisismo patológico.
Os psicanalistas têm investigado como as relações parentais, em particular com
mães narcisistas, podem influenciar a formação do self e a personalidade das crianças.
O trabalho de psicanalistas como Heinz Kohut e Otto Kernberg ajudou a expandir a
compreensão do narcisismo patológico e suas implicações clínicas.

Em conclusão, o estudo do narcisismo e das mães narcisistas na psicologia e na


psicanálise é uma área de pesquisa em crescimento que tem implicações profundas no
desenvolvimento humano e nas relações familiares. Entender como o narcisismo
materno pode afetar o desenvolvimento infantil é essencial para identificar e tratar
problemas psicológicos e emocionais que possam surgir em crianças que viram adultos
criados por mães com características narcisistas.

5. DESCRIÇÃO DO TRABALHO
5.1. Dados do Paciente: G.M.C
5.1.1. Sexo do Paciente: Feminino
5.1.2. Idade: 26
5.1.3. Estado Civil: Casada
5.1.4. Inicio do Atendimento: 09/03/2023
5.1.5. Término do Atendimento:

5.2 QUEIXA
Paciente procurou ajuda psicológica em busca de compreender sua verdadeira
identidade e reconstruir-se após um divórcio que ocorreu há 3 anos. Ela está
determinada a seguir o seu próprio caminho, deixando para trás as expectativas e
definições que outros tinham para ela. No entanto, sente-se perdida e não sabe por onde
começar.

5.3 HIPÓTESE DIAGNÓSTICA


O perfil diagnóstico do estudo de caso aponta para uma possível personaldiade
neurótica, devido a seus mecanismos de defesa. Culpabilização e pela tendência de
atribuir responsabilidades a terceiros. A paciente revela imaturidade em várias áreas da
vida adulta funcional, o que a leva a envolver-se em relacionamentos desprovidos de
afeto, pautados principalmente por motivações financeiras.
Essa condição se manifesta por meio de preocupações incessantes que abrangem
diversas esferas da vida da paciente, frequentes oscilações entre estados emocionais
caracterizados pela depressão e ansiedade, além de uma necessidade constante de
controle sobre as situações. Durante as sessões terapêuticas, observa-se um
comportamento de "acting out", indicando uma busca desesperada por aceitação e uma
dificuldade em estabelecer uma relação terapêutica baseada em uma hierarquia.
Além disso, a preocupação constante com o bem-estar do filho e o desejo de
uma vida mais segura para ambos são características marcantes. O tratamento
psicológico visa ajudar a paciente a desenvolver maior maturidade emocional e
funcional, possibilitando uma vida mais equilibrada e gratificante.

5.4 DINAMICA DA PACIENTE

5.5 TECNICAS EMPREGADAS

5.6 RESULTADOS

6. RELATOS DAS SESSÕES DA PACIENTE DE ESTUDO DE CASO

7. APRECIAÇÃO SOBRE O DESENROLAR DAS ATIVIDADES, DOS


DESAFIOS ENFRENTADOS E AUTO AVALIAÇÃO
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Tradução J. Salomão, v. 17, p. 217-
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IANKILEVICH, E. Planejamento.In: EIZIRICK, C; AGUIAR, R; SCHESTATSKY, S.


(Orgs.) Psicoterapia de orientação analítica: fundamentos teóricos e clínicos. 2. ed.
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KERN, Cristina; KRISTYNE, Aniely. A psicanálise no contexto da clínica escola.


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RIBEIRO, F. A Reinserção Social Da Ex-Presidiária No Mercado De


Trabalho. Revista de Ciências do Estado, Belo Horizonte, v. 2, n. 1, 2017. DOI:
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ROUDINESCO, Elisabeth, 1944 — R765d Dicionário de psicanálise/Elisabeth


Roudinesco, Michel Plon; tradução Vera Ribeiro, Lucy Magalhães; supervisão da
edição brasileira Marco Antonio Coutinho Jorge. — Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

SILVA, D. C, da. Curso de especialização em teoria psicanalítica. 2011-2013. Brasília,


2013. Disponível em:
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VIEIRA, Márcia Infante. O que as mulheres buscam na análise hoje?. aSEPHallus, p.


72-84, 2014.

10. Assinatura orientador/supervisor de estágio na Unidade Concedente e do


orientador/supervisor de estágio na FASIPE
De Acordo: ________________________________________________

ADNEIDES LUCAS NOGUEIRA

Orientadora / Supervisora de estágio Clínico

De Acordo: ________________________________________________

ELOISA LIMA

Coordenadora de Estágio

De Acordo: ________________________________________________

ANA PAULA PEREIRA CESAR

Coordenadora do curso de Psicologia

De Acordo: ________________________________________________

VANESSA THAIS DE MOURA

Acadêmica de Psicologia

11. ANEXOS

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