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Muitos saberes que nos cercam no dia-a-dia são adquiridos ao longo de nossas vidas, por
meio da transmissão de pessoa para pessoa e recebe o nome de senso comum. São
conteúdos que nos são úteis e importantes nos diferentes setores de nossa vida cotidiana,
e direta ou indiretamente a está contribuindo para o seu crescimento.
A ciência busca responder questões com base em investigação organizada e
sistematizada. Usando métodos e procedimentos específicos de pesquisa, permite maior
confiança nas respostas obtidas para perguntas feitas por seus investigadores. O saber
produzido por meio de investigação científica recebe o nome de conhecimento científico.
Ciência e Senso Comum
O senso comum é um conhecimento:
• intuitivo
• espontâneo
• produzido através da experiência cotidiana (por tentativa e erro)
• que vai do hábito à tradição
• transmitido de geração a geração (pai para filho, bem como nas demais interações
sociais)
• e que mistura, recicla e integra outros saberes: o conhecimento não especializado
(teoria simplificada) e o conhecimento científico, inclusive apropriando-se de termos
científicos.
A ciência pode ser compreendida como o conjunto de conhecimento sobre fatos e
aspectos da realidade, expresso por meio de linguagem precisa e rigorosa (objetividade).
É um conhecimento passível de verificação e isento de emoções, no sentido de ser válido
para todos.
Diante disso, para que um conhecimento seja considerado científico, deverá:
• ter um objeto específico
• usar linguagem rigorosa
• usar métodos e técnicas específicas
• possibilitar o processo cumulativo do conhecimento
• priorizar a objetividade
A psicologia científica envolve a escuta, a interação, e vários outros elementos dessa
psicologia do senso comum, porém, sempre pautada no rigor que todo o conhecimento
científico necessita para fundamentar-se.
A Psicologia Científica
E qual é o objeto de estudo específico da Psicologia? Uma resposta rápida para essa
pergunta seria: o homem. Mas alguém poderia ainda questionar: “Mas Freud não estudava
o inconsciente?”
Os dois objetos de estudo estão corretos, o que levaria a uma contradição ao que foi dito
anteriormente, não fosse o fato de a Psicologia ser um campo do conhecimento que
engloba diferentes ciências psicológicas (ou correntes), e que têm, portanto, todas elas
seu objeto específico de estudo.
Considerando o homem um ser subjetivo e, portanto, tendo a subjetividade como objeto
da Psicologia é necessário contemplar o estudo do corpo, do pensamento, do afeto e da
ação (Bock, Furtado e Teixeira, 2008). Com isso, a pergunta sobre o objeto de estudo da
psicologia teria diferentes respostas de acordo com a linha seguida pelo psicólogo
questionado. A Psicologia comportamental, por exemplo, tem como objeto de estudo o
comportamento humano, a Psicanálise direciona seus esforços investigativos sobre o
inconsciente, e a Psicologia Sócio-Histórica investiga o homem dentro de seu contexto
social.
Toda essa complexidade permite verificar que a psicologia científica é muito mais
complexa do que a psicologia cotidiana do senso comum.
A psicologia não é prática adivinhatória, não é prática mística (mágico). Por ainda ser uma
ciência jovem e em desenvolvimento e, portanto, não ter todas suas perguntas
respondidas, muitas pessoas recorrem a outros setores para tentar encontrar respostas
às suas indagações, o que não auxilia o desenvolvimento das ciências psicológicas.
As raízes da psicologia científica datam da idade antiga, percorrendo a idade média e
moderna, até o século XX. Este período (Psicologia pré-científica) incluiu
questionamentos e dualismos como: conhece-te a ti mesmo (Sofistas e Sócrates), corpo
x alma (Platão), matéria x forma (Aristóteles), inatismo x empirismo, empirismo crítico x
associacionismo, entre outros elementos que contribuíram para a construção do
conhecimento científico adentrando, posteriormente, à idade contemporânea (século XXI
– Psicologia Científica).
Na segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, a psicologia é
considerada ciência, quando Wundt (médico, filósofo e psicólogo alemão) criou o primeiro
laboratório de experimentos em Psicofisiologia em Leippzig na Alemanha. A partir deste
marco histórico a psicologia distancia-se de questões abstratas e espiritualistas, passando
a ser respeitada como campo gerador de conhecimento científico.
Com a reestruturação da psicologia no século XX é possível identificar o predomínio de
cinco escolas psicológicas: Estruturalismo, Funcionalismo, Gestalt, Behaviorismo e
Psicanálise, das quais as duas últimas ainda exercem forte predomínio.
A Psicologia como ciência e profissão no Brasil
Há quatro períodos distintos: pré-institucional, institucional, universitário e profissional. No
primeiro período (Pré-institucional) correspondente à época do Brasil Colônia, sofreu
influência forte da cultura europeia, uma vez que seus autores e estudiosos eram
essencialmente religiosos, políticos ou homens de poder ou ainda imigrantes ou
brasileiros abastados que frequentaram universidades estrangeiras. Neste período não se
buscava a construção de uma Psicologia e a criação e uso de terminologia psicológica.
Somente no próximo período (Institucional – que durou um século), a partir da criação
das Faculdades de Medicina da Bahia e Rio de Janeiro (1833) é que ocorre maior
dimensionamento acadêmico do saber psicológico brasileiro. Os primeiros estudos e
publicações brasileiras na área foram, portanto, de profissionais da medicina, o que refletiu
diretamente na história da psicologia brasileira. Outra influência marcante desse período
correspondeu à presença dos educadores com a introdução de conteúdos da psicologia
em cursos como pedagogia (noções de psicologia), direito e medicina (psicologia lógica).
Em decorrência disso, trabalhos na esfera da Psicologia Educacional (aprendizagem,
atenção, memória) também foram destaques deste período.
O Período Universitário foi marcado pela criação da Universidade de São Paulo (1934),
sendo a disciplina Psicologia considerada obrigatória em diversos cursos universitários
(pedagogia, filosofia, ciências sociais, medicina, entre outros). Embora em 1949 o primeiro
curso de Psicologia tenha sido criado (no Ministério de Guerra) e vários profissionais
tenham começado a mobilizar-se visando à regulamentação da formação acadêmica e
prática profissional da psicologia, os cursos permaneceram sendo oferecidos para
profissionais de outras áreas (pedagogia, filosofia), sendo estes de curta duração.
Em 1954 cria-se a Associação Brasileira de Psicólogos e é publicado um anteprojeto de
lei visando a formação e regulamentação da profissão prevendo o curso de Psicologia
Educacional, Clínica e do Trabalho. E pouco mais de uma década após a criação do
primeiro curso de Psicologia, a formação acadêmica e a prática da Psicologia no Brasil
foram regulamentadas (27/09/1962 – Lei 4.119), dando início ao Período Profissional.
Considerando o dinamismo do campo da psicologia e seu objeto de estudo, como visto,
você já deve estar imaginando que, desde sua regulamentação, a psicologia sofreu muitas
transformações. Seu pensamento está correto e para conversarmos um pouco sobre
essas mudanças iremos dividir os momentos históricos por décadas, seguindo ainda as
revisões de Neiva e Silveira (1998).
A década de 70 foi marcada por uma psicologia elitista, acessível a uma camada pequena
da população economicamente privilegiada. Neste período registra-se que os profissionais
da psicologia eram em sua maioria do sexo feminino, que a atividade principal destes
profissionais era clínica com atuação basicamente em consultórios particulares. Como
segunda área de atividade destacava-se o ensino, incentivado pela criação de novos
cursos de psicologia na capital e interior do estado de São Paulo, com ênfase na formação
do psicólogo clínico. Neste período eram baixos os registros de psicólogos atuantes na
Psicologia Industrial e Escolar. Outras características eram à manutenção de duas
atividades profissionais concomitantes, a predominância do trabalho autônomo e o baixo
número de psicólogos inscritos, isto é, regularmente habilitados ao exercício legal da
profissão, sugerindo que muitos se formavam, mas não exerciam a profissão de psicólogo.
Na década de 80 o perfil dos psicólogos não mudou (embora com o crescimento dos
cursos oferecidos essa fosse uma perspectiva). Dentre as motivações investigadas para
a escolha profissional deste período, identificou-se uma predominância de motivos
voltados para o outro (valor assistencial), de motivos voltados para a própria profissão e
prática profissional, e motivos voltados para si (busca de mudanças pessoais). Algumas
mudanças na situação profissional são observadas nesse período com maior número de
psicólogos formados exercendo a profissão, sendo que um percentual maior atua
exclusivamente na área, e ocorre melhor distribuição entre os profissionais autônomos e
aqueles que atuam com vínculo empregatício. Embora a atuação ainda tenha um perfil
preferencialmente clínico e em consultórios psicológicos, já se observa um aumento
expressivo dos profissionais envolvidos na Psicologia Organizacional e na Psicologia
Escolar. Registra-se ainda uma diminuição dos profissionais trabalhando no âmbito do
ensino.
Ainda neste período, com relação às atividades profissionais exercidas, os levantamentos
indicaram maior concentração de psicoterapia individual, seguida da aplicação de testes.
Já em relação à orientação teórico-metodológica verificou-se predomínio da Psicanálise,
em todas as áreas, particularmente na clínica; seguida das correntes fenomenológica e
Gestalt.
Embora o próximo período (década de 90) não tenha registros tão sistematizados como
nas décadas anteriores, a atuação e vivência profissional de estudiosos da área
permitiram verificar ainda um predomínio pela atuação clínica, embora as exigências
contemporâneas refletissem a emergência de outras áreas, dentre elas: saúde, psicologia
forense, intervenção psicossocial, psicologia do trânsito, polícia civil militar, forças
armadas, psicologia do esporte, psicologia educacional, e psicologia organizacional.
Já no século XX, porém com maior ênfase no século XXI, verifica-se ampliação do
envolvimento da psicologia no setor da pesquisa, o que pode relacionar-se ao maior
incentivo do governo na pesquisa científica em diferentes setores no país. Como verificado
nos demais momentos históricos, esta mudança de demanda possivelmente também
surtirá efeitos nas áreas de atuação do psicólogo, devendo o estudante de psicologia estar
atento a essas mudanças de cenário.
HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
Psicologia: Formação e Regulamentação
Algumas leis e decretos constituem marcos na história da psicologia, tendo influenciado a
sua consolidação. Dentre eles podemos elencar a Lei 4.119 de 27/08/1962, que discorre
sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo;
o Decreto 53.464 de 21/01/1964, que regulamenta esta lei e dispõe sobre a profissão de
psicólogo; a Lei 5.766 de 20/12/1971, que disponibiliza todos os dados sobre a criação do
Conselho Federal de Psicologia e dos Conselhos Regionais de Psicologia; e o Decreto
79.822 de 17/06/1977, que a regulamenta e dá outras providências.
Neste primeiro momento e dada à importância desta lei para a Psicologia, nossa ênfase
recairá sobre a Lei Federal 4.119/62. A formulação dos conteúdos aqui apresentados
tomou como referência o texto da própria lei Federal. A Lei Federal 4.119/62 determina o
oferecimento da formação em psicologia em faculdades de filosofia em cursos de
Bacharelado, Licenciatura e Psicologia (Capítulo I- Dos cursos). O Capítulo II da
lei dispõe sobre a vida escolar, estabelecendo que somente pessoas com 18 anos
completos e que concluíram o ensino médio podem ingressar no curso de bacharelado e
receber, ao final do curso, o título de Bacharel em Psicologia. Já para receber os títulos
de Licenciado em Psicologia e de Psicólogo, a pessoa precisa ter o título de Bacharel em
Psicologia, ingressar e concluir os cursos de licenciado e de psicologia respectivamente.
Os direitos conferidos aos diplomados encontram-se dispostos no Capítulo III no
formato de cinco artigos, sendo um deles vetado/proibido (Art. 14). Nele, fica estabelecida
a obrigatoriedade do registro dos diplomas no órgão competente do Ministério da
Educação e Cultura para que se possa exercer a profissão. Confere-se o direito de ensinar
psicologia em cursos de grau médio aos diplomados como Bacharel em Psicologia; de
lecionar psicologia aos portadores do diploma de Licenciado em Psicologia; e de ensinar
psicologia e de exercer a profissão de psicólogo aos que receberem o diploma de
Psicólogo.
Ainda são descritas como função do Psicólogo a utilização de métodos e técnicas
psicológicas com os objetivos de: diagnóstico psicológico; orientação e seleção
profissional; orientação psicopedagógica; e solução de problemas de ajustamento.
As condições para funcionamento dos cursos encontram-se dispostas no Capítulo IV.
Para as faculdades que mantiverem curso de Psicólogo fica obrigatória a organização de
Serviços Clínicos e de aplicação à educação e ao trabalho. Institui-se ainda que esses
serviços sejam orientados e dirigidos pelo Conselho dos Professores do curso, e sejam
abertos ao público, podendo ser gratuitos ou remunerados. Visando não limitar o aluno
apenas ao espaço da instituição em que realiza o curso, a lei confere a possibilidade de
realização dos estágios e observações práticas em outras instituições, a critério do
professor do curso.
A lei dispõe ainda sobre a revalidação de diplomas no caso de diplomas expedidos por
faculdades estrangeiras com cursos equivalentes; e complementação de cursos não
equivalentes, desde que consideradas as disposições estabelecidas em lei (Capítulo V).
Disposições Gerais e Transitórias estão descritas no Capítulo VI. Dentre estas
constam garantia de registro de título como Psicólogos e ao exercício profissional aos
“atuais portadores de diploma ou certificado de especialista em Psicologia, Psicologia
Educacional, Psicologia Clínica ou Psicologia Aplicada ao Trabalho, expedidos por
estabelecimento de ensino superior oficial ou reconhecido, após estudos em cursos
regulares de formação de psicólogos, com duração mínima de quatro anos ou estudos
regulares em cursos de pós-graduação com duração mínima de dois anos”. Determinam-
se também garantias para pessoas que já exerciam a profissão anteriormente à lei (a mais
de cinco anos – atividades profissionais de psicologia aplicada).
Ressalta-se ainda que a comprovação do exercício profissional e, posterior emissão dos
documentos estará sujeita a análise dos títulos de formação, obtidos no país ou no
estrangeiro, por comissão, que emitirá parecer concedendo o registro ou denegando,
estando a pessoa condicionada ainda à aprovação por prova teórico-prática.
A lei é bastante objetiva e contempla pontos importantes relacionados desde a formação
e funcionamento dos cursos (incluindo questões relacionadas aos estágios), e a vida
escolar, não desconsiderando as pessoas formadas em outros países e aquelas que já
exerciam a profissão antes da apresentação e aprovação da lei.
Catálogo Brasileiro de Ocupações do MT (CBO)
O Ministério do Trabalho faz uso de uma classificação numérica para organizar as
ocupações das diferentes áreas profissionais. Para cada uma das categorias desta
classificação são descritas, em detalhes, as atribuições e funções dos profissionais que
se encaixam em cada uma.
Você não precisa ter todas essas informações registradas em sua memória para acessá-
la sem consulta (seja na vida acadêmica ou profissional em psicologia), mas é importante
que conheça como funciona essa classificação e compreender seus parâmetros e
conteúdos gerais.
O catálogo apresenta uma numeração para cada ocupação (ex.: 0-74: Psicólogos).
Observe que esta numeração vai do mais geral para o mais específico, ou seja, os
números com menos elementos compreendem as categorias mais gerais da psicologia,
ao passo que quanto mais específico o campo de atuação mais elementos são
incorporados.
Assim, a primeira categoria listada é a mais ampla (0-74: Psicólogos). Nesta categoria
encontram-se todos aqueles que receberam o título de psicólogo, independente do campo
de atuação. De uma maneira global, neste grupo estão aqueles que estudam a estrutura
psíquica e os mecanismos de comportamento dos seres humanos, desempenhando
tarefas diversificadas (problemas de pessoal, como processos de recrutamento, seleção,
orientação profissional e outros similares, à problemática educacional e a estudos clínicos
individuais e coletivos) em variados contextos (organizacional, educacional, clínico, saúde,
psicossocial, institucional, esportivo, entre outros).
A segunda categoria incorpora outra numeração por já considerar um tipo específico de
atuação, embora que neste caso, geral (0-74.10: Psicólogo, em geral). O grupo de
profissionais atuantes nesta esfera realizam o estudo e à análise dos processos intra e
interpessoais e os mecanismos do comportamento humano. Sua atuação, como
esperado, envolve uma ampla variedade de funções, tais como: a elaboração e ampliação
de técnicas psicológicas, formulação de hipóteses, tratamento e reabilitação de distúrbios
psíquicos, elaboração e aplicação de técnicas e exames psicológicos, participação na
elaboração de terapias ocupacionais, bem como no recrutamento e seleção. Contempla a
esfera da pesquisa, clínica, educacional, organizacional, em saúde, propaganda e
marketing, entre outros.
As demais ocupações do catálogo acrescentam uma especificidade, e,
consequentemente, mais um componente à sua classificação numérica. Com isso, as
demais categorias apresentam a seguinte classificação: 0-74.15: Psicólogo do Trabalho;
0-74.25: Psicólogo Educacional; 0-74.35: Psicólogo clínico; 0-74.45: Psicólogo de trânsito;
0-74.50: Psicólogo jurídico; 0-74.55: Psicólogo de esporte; 0-74.60: Psicólogo social; e 0-
74.90: Outros psicólogos.
Diretrizes Curriculares Nacionais
As Diretrizes Curriculares Nacionais funcionam como um manual passo a passo de como
a instituição deve proceder ao implantar um curso. Oferecem assim suporte para a
instituição, na medida em que norteiam o desenvolvimento dos cursos; para os alunos,
uma vez que garantem o cumprimento das exigências, e, consequentemente, um padrão
de ensino em termos de conteúdo, estrutura e pessoal; e para os órgãos de fiscalização,
fornecendo um material em que se apoiar na análise do cumprimento ou não das mesmas.
Estabelece como meta central para o curso de graduação em Psicologia, a formação do
psicólogo voltado para a atuação profissional, para a pesquisa e para o ensino de
psicologia, assegurando uma formação baseada em sete princípios e compromissos,
conforme segue:
a) Construção e desenvolvimento do conhecimento científico em psicologia;
b) Compreensão dos múltiplos referenciais que buscam apreender a amplitude do
fenômeno psicológico em suas interfaces com os fenômenos biológicos e sociais;
c) Reconhecimento da diversidade de perspectivas necessárias para compreensão do ser
humano e incentivo à interlocução com campos de conhecimento que permitam a
apreensão da complexidade e multideterminação do fenômeno psicológico;
d) Compreensão crítica dos fenômenos sociais, econômicos, culturais e políticos do país,
fundamentais ao exercício da cidadania e da profissão;
e) Atuação em diferentes contextos considerando as necessidades sociais, os direitos
humanos, tendo em vista a promoção da qualidade de vida dos indivíduos, grupos,
organizações e comunidades;
f) Respeito à ética nas relações com clientes e usuários, com colegas, com o público e na
produção e divulgação de pesquisas, trabalhos e informações da área da Psicologia;
g) Aprimoramento e capacitação contínuos.
CNE/CES, 2004, p. 1
Os objetivos gerais delineados para a formação em psicologia são convergentes com as
atuais exigências do mercado de trabalho que busca profissionais proativos e com
competências diversificadas. Sendo assim, tem como foco dotar o profissional de
competências e habilidades, tais como: atenção à saúde – prevenção, promoção,
proteção e reabilitação da saúde psicológica e psicossocial, tanto em nível individual
quanto coletivo; tomada de decisões – capacidade de avaliar, sistematizar e decidir as
condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas; comunicação –
profissional acessível e que preserva pelos princípios éticos no uso das informações a
eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em
geral; liderança – aptidão para assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o
bem estar da comunidade; administração e gerenciamento – aptidão para tomar
iniciativas, fazer o gerenciamento e administração da força de trabalho, dos recursos
físicos e materiais e de informação, e aptidão para serem empreendedores, gestores,
empregadores ou líderes nas equipes de trabalho; educação permanente – capacidade
de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática, e de ter
responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento das futuras
gerações de profissionais.
As diretrizes estabelecem que a proposta do curso articule os conhecimentos, habilidades
e competências em torno de seis eixos estruturantes: a) Fundamentos epistemológicos e
históricos; b) Fundamentos teórico-metodológicos; c) Procedimentos para a investigação
científica e a prática profissional; d) Fenômenos e processos psicológicos, que constituem
classicamente objeto de investigação e atuação no domínio da Psicologia; e) Interfaces
com campos afins do conhecimento; e f) Práticas profissionais voltadas para assegurar
um núcleo básico de competências.
Instituem ainda a identidade do curso de psicologia no país através de um núcleo comum
de formação, definido por um conjunto de competências, habilidades e conhecimentos,
embasados em estrutura homogênea e capacitação básica para lidar com os conteúdos
da psicologia.
Os Artigos 8º e 9º se reportam diretamente às competências básicas requeridas do
formado em psicologia, e ao conjunto de habilidades que as apoiam. Diante da importância
desses conteúdos para o estudante de psicologia estas serão transcritas aqui na íntegra.
PSICANALISE FREUDIANA
Sigmund Freud (1856-1939) nasceu em Freiberg (antiga Checoslováquia) em 1856, tendo
vivido grande parte de sua vida em Viena, onde sua família mudou em 1860. Este período
histórico envolveu importante desenvolvimento das ciências naturais (Física, Biologia,
Química) e do conhecimento especializado e formação profissional (indústria e mão de
obra especializada). Também houve um aumento no número de universidades e de
pessoas que se dedicaram à docência e à pesquisa (campos ocupados na época pela
classe dominante).
O período também ficou caracterizado por problemas emergentes de um novo modo de
produção, tais como: falta de alimentos, de recursos de saúde para o proletariado,
péssimas condições de moradia, entre outros. Tais problemas associados ao novo
formato do trabalho, no qual o coletivo prevalece sobre o individualismo, conduziu ao
aumento da consciência de classes (principalmente da classe trabalhadora), dando
origem às organizações de classes e às reivindicações coletivas. Esses acontecimentos
marcaram a transição para o capitalismo.
Um momento posterior (já de maior consolidação da teoria psicanalítica) coincidiu com o
holocausto, o que levou Freud e sua família, após muita resistência dele, ser obrigados a
deixar Viena (considerando suas origens judaicas).
Diferente dos dias atuais, na época, existia basicamente três opções de formação
profissional: Medicina, Filosofia e Ciências Exatas. Freud optou pela medicina e embora
tivesse grande interesse em ingressar na esfera acadêmica (estudo científico) acabou
especializando-se psiquiatria.
Inicialmente atuou na área clínica e hospitalar, estudando o cérebro de pessoas com
patologia psiquiátrica (post mortem) e tentando vincular a observação clínica com lesões
orgânicas. Contudo, sua condição financeira não permitia dedicar-se exclusivamente aos
estudos, precisando abandoná-los.
Freud inicia sua prática em neurologia clínica, atendendo pessoas com “problemas
nervosos”. Ao final de sua residência ganha uma bolsa de estudos e começa a trabalhar
com Jean Charcot em Paris, passando a atuar no campo da histeria. A histeria era
compreendida como um distúrbio psiquiátrico com sintomas como paralisia, ausência de
memória, náuseas, distúrbios da fala e visão. Veja que aqui você já encontra uma boa
oportunidade para exercitar uma análise crítica sobre seus conhecimentos prévios sobre
a psicanálise.
Voltando ao nosso regresso histórico, foi com Charcot que Freud conheceu a hipnose e
ao retornar à Viena tinha como seu principal instrumento de trabalho a sugestão
hipnótica para a eliminação de sintomas dos distúrbios nervosos.
Em Viena associou-se a Josef Breuer (médico e cientista). Uma paciente, com sintomas
histéricos, que inicialmente era atendida por Breuer e, posteriormente foi transferida à
Freud, ofereceu subsídios importantes para o desenvolvimento de seus estudos e
construção dos paradigmas da Psicanálise. O estudo desta paciente ficou conhecido
como “O caso de Ana O.”
Como pesquisador atento que era Freud logo percebeu que nem todos os pacientes
podiam ser hipnotizados e que, em muitos casos, os sintomas histéricos reapareciam.
Diante disso, abandona a hipnose mantendo, contudo, o método catártico em seus
atendimentos. Este procedimento acabou originando posteriormente à técnica conhecida
como livre associação ou associação livre.
O método catártico consistia na liberação dos afetos e emoções ligadas a acontecimentos
traumáticos que após expressos levavam à eliminação dos sintomas (nestes casos
histéricos). De acordo com seus estudiosos, os conteúdos traumáticos por não serem ou
não poderem ser expressos no momento da vivência do episódio doloroso ficavam
armazenados/bloqueados e refletiam de alguma forma na pessoa (por exemplo, sob a
forma de sintomas histéricos). Ao liberar esses conteúdos, seja falando sobre eles em
estado hipnóticos ou por meio de livre associação os sintomas histéricos desapareciam.
A associação livre foi uma técnica desenvolvida por Freud que consistia em orientar o
paciente a falar a primeira palavra que lhe viesse à mente diante de uma palavra dita pelo
clínico/pesquisador. A palavra dita pelo paciente permitia ao clínico fazer interpretações
dentro de todo um contexto clínico de atendimentos.
Além da associação livre Freud utilizou outras ferramentas para acessar os conteúdos
traumáticos, como a interpretação dos sonhos relatados por seus pacientes e dos demais
relatos trazidos por seus pacientes em sessão terapêutica.
No início Freud entendia que todos os fatos narrados por seus pacientes haviam de fato
acontecido, porém com o decorrer de seus estudos verificou que em algumas vezes
faziam parte da imaginação deles. Assim, diferenciou entre realidade objetiva e realidade
psíquica, enfatizando, contudo, que o importante de fato é o que a pessoa assume como
realidade (seja ela objetiva ou psíquica).
A publicação do livro “Estudos sobre histeria”, em parceria com Breuer, em 1895 oficializa
o início da Psicanálise. Mas foi somente em 1900 com a publicação de seu livro “A
interpretação dos sonhos” que Freud apresenta a primeira versão de sua concepção sobre
a estrutura e o funcionamento psíquicos.
Primeira Teoria sobre a estrutura do aparelho psíquico
É neste momento que Freud apresenta as estruturas de sua primeira concepção do
aparelho psíquico explicando sobre seu funcionamento. Nesta concepção, que ficou
conhecida como 1ª Tópica, Freud apresenta o que chamou de três instâncias/sistemas do
aparelho psíquico: consciente, pré-consciente e inconsciente.
A compreensão destas instâncias constitui a base para o estudo da teoria psicanalítica.
Sendo assim, sugerimos que se dedique ao estudo desses conceitos, dentre outros que
serão pontuados ao longo deste módulo.
O consciente seria a instância do aparelho psíquico, na qual estão os conteúdos que
temos acesso pleno e direto. Ele está acessível ao mundo exterior (aberto à entrada de
informações do ambiente) e também está acessível ao mundo interior (permitindo que
também possamos guardar informações nele). Neste sistema destacam-se o processo de
percepção do mundo exterior, a atenção, e o raciocínio.
O pré-consciente é a instância intermediária. Seus conteúdos não nos são acessíveis no
momento, mas podem tornar-se. Isto é, os conteúdos pré-conscientes podem em algum
momento tornarem-se conscientes.
Já o inconsciente é a instância inacessível. É formado por conteúdos reprimidos que não
conseguimos acessar por meio dos sistemas conscientes ou pré-conscientes. Essa
inacessibilidade deve-se a um sistema de proteção do psiquismo, pois estes conteúdos,
mesmo que em algum momento possam já ter sido conscientes, foram reprimidos por nos
causar algum tipo de dor/sofrimento psíquico.
O inconsciente é a instância proposta por Freud que deu maior projeção à sua teoria por
ser a que mais se distanciava de todos os objetos de estudos propostos para a psicologia
até o momento.
Em sua atuação no campo das neuroses Freud percebe que a grande parte dos
pensamentos e desejos reprimidos tinha origem em conflitos de ordem sexual,
particularmente originários ainda nos primeiros anos de vida do indivíduo.
A sexualidade infantil
Suas descobertas colocavam a sexualidade no centro da vida psíquica, sendo que sua
formação se dava na infância. E com isso, é principalmente a partir da apresentação de
sua teoria sobre a sexualidade infantil que Freud recebe as maiores críticas. Neste período
histórico a criança era vista como um ser inocente, sendo inconcebível pensar em uma
sexualidade infantil.
Freud discordava que a sexualidade teria início somente na puberdade, acreditando em
uma função sexual desde o princípio da vida, a qual iria se desenvolvendo e ganhando
complexidade até ter o perfil de sexualidade adulta (período de associação entre
reprodução e obtenção de prazer).
Neste contexto Freud apresenta o conceito de libido. A libido, na psicanálise, seria a
energia dos instintos sexuais e estaria presente durante todo o ciclo de vida manifestando-
se de maneiras diferenciadas ao longo deste ciclo.
Aqui nos deparamos com um importante conceito muitas vezes interpretado de maneira
equivocada, o que compromete o entendimento adequado dos próximos pontos da teoria
psicanalítica. Atente-se ao fato de que energia dos instintos sexuais não é sinônimo de
instinto sexual ou de desejo sexual.
Na teoria de Freud, nos primeiros anos de vida, a função sexual está ligada à
sobrevivência e devido a isso o prazer está localizado em si mesmo, ou seja, as excitações
sexuais estão presentes no próprio corpo da criança. Freud dividiu esse período em cinco
estágios: fase oral, fase anal, fase fálica, período de latência e fase genital.
A fase oral, que compreende o período do nascimento até os 18 meses, tem a boca como
zona erógena (de gratificação/prazer). Nesta fase incluem o mamar, o desmame, a
aprendizagem do adiamento da gratificação (ex.: a criança precisa esperar para poder
mamar), desenvolvimento da imagem corporal. Neste período é iniciada a formação do
ego.
A fase anal, dos 18 meses aos três anos de idade, tem o ânus como zona erógena.
Contempla o período do treinamento do uso do banheiro e a continuação do
desenvolvimento do ego.
A fase fálica, dos três aos cinco anos, tem os genitais como zona erógena. Neste período
há uma maior consciência do corpo e dá-se a formação do superego, ocorrendo neste
período o Complexo de Édipo.
Dos cinco anos até a puberdade há um período de latência/intervalo, no qual há uma
diminuição das atividades sexuais e intervalo na evolução da sexualidade, sendo as
pulsões sexuais reprimidas.
O último estágio, fase genital, comporta o período da puberdade até o final da vida. Nesta
fase a zona erógena deixa de ser o próprio corpo, passando para um objeto externo, o
outro.
Você deve ter percebido que dentro desse conjunto de novos conceitos surgiu um termo
também bastante conhecido, mesmo fora do campo acadêmico e profissional da
psicologia, o Complexo de Édipo. Vamos nos dedicar um pouco ao estudo desse processo
descrito por Freud e que também será bastante importante para os próximos tópicos que
abordados aqui.
O que vem a ser, portando o Complexo de Édipo? Freud percebeu que dos três aos cinco
anos de idade a criança passa por um período conflituoso. Nesse período a criança tende
a identificar-se com um dos progenitores (a mãe ou o pai).
Desta forma, para a psicanálise, na fase fálica há um direcionamento da libido a um dos
progenitores, fazendo com que o menino, por exemplo, deseje tomar o lugar do outro (o
pai), ou seja, deseja substituí-lo para ficar com seu objeto de desejo (a mãe). Com isso, o
menino escolhe o pai como modelo de comportamento (por desejar ser ele/substituí-lo) e
começa a internalizar as regras e normas sociais (representadas pela figura de autoridade
paterna). Diante do conhecimento das normas e regras o menino depara-se com o fato de
que seu desejo de ter a mãe não é correto e teme perder o amor do pai (medo da
castração), e assim, desiste de seu objeto de desejo. A esse processo Freud deu o nome
de Complexo de Édipo. Para as meninas ocorre o mesmo processo, sendo apenas
invertidos os papeis, isto é, o objeto de desejo é o pai e a menina identifica-se com a mãe
(Édipo Feminino).
A elaboração desses conceitos levou Freud a aprofundar seus estudos sobre a pulsão
que se refere a um estado de tensão que busca, por meio de um objeto, ser
aliviado/satisfeito. A pulsão funciona como uma força interna propulsora, da qual não se
pode fugir e que pressiona constantemente o psiquismo na busca de satisfação.
Freud descreveu dois tipos de pulsão que se opõem: a pulsão de vida (representada por
Eros) e a pulsão de morte (Tânatos). A pulsão de vida contempla as pulsões sexuais e de
auto conservação, ao passo que a pulsão de morte pode ser autodestrutiva, podendo
manifestar-se como pulsão agressiva ou destrutiva. Estas definições geralmente
despertam polêmicas, uma vez que é mais fácil conceber um tipo de pulsão que move a
pessoa a manter-se vivo e satisfazer seus desejos. Já imaginar uma pulsão que
impulsiona o indivíduo à autodestruição, ou seja, em direção à morte é algo mais
complexo.
De acordo com a psicologia psicanalítica estas pulsões, são forças que por serem opostas
e atuarem continuamente geram forte tensão ao psiquismo. Considerando ainda que o
organismo tende a buscar um estado de excitação zero, no qual o nível de tensão seria,
portanto, nulo; é possível compreender que este é apenas um pressuposto teórico, uma
vez que havendo vida, automaticamente existe pulsão e, necessariamente tensão
psíquica.
Freud descreveu ainda três características do funcionamento psíquico que ocorrem
simultaneamente: econômico (quantidade de energia que o alimenta); tópico (constituição
por sistemas diferenciados quanto à natureza e modo de funcionamento);
e dinâmico (presença de forças conflituosas/pulsões que estão permanentemente ativas).
Como acontece nos diferentes campos do conhecimento muitos dos paradigmas
apresentados por Freud foram revistos durante sua trajetória, sendo que entre 1920 e
1923 ele reformula sua teoria sobre o aparelho psíquico, apresentando o que ficou
conhecido como 2ª Tópica.
Segunda Teoria do Aparelho Psíquico
Nesta teoria id, ego e superego são apresentados como as instâncias psíquicas do
aparelho psíquico. Freud apresenta o Modelo do Iceberg para explicar o aparelho psíquico
e como estariam dispostos seus sistemas. Vamos compreender melhor esse conceito.
Modelo Iceberg proposto por Freud para ilustração da Segunda Teoria do Aparelho Psíquico
15) Que sistema psicológico fez grande uso de fenômenos relacionados com
ilusões?
a) Sócio-histórica
b) Behaviorismo
c) Gestalt
d) Psicanálise
17) Toda ciência precisa ter delimitado o seu objeto de estudo. A respeito do
objeto de estudo da Psicologia, é correto afirmar que:
a) As diferentes formas de compreender o homem e seu funcionamento ao longo da
história da humanidade e da psicologia levaram à investigação de diferentes
objetos de estudo e a formação de psicologias diversificadas.
b) A psicologia é uma ciência nova, desta forma, ainda não possui delimitado o seu
objeto de estudo.
c) O inconsciente é o único objeto de estudo da Psicologia e somente ele pode
explicar sobre a vida emocional e comportamento humano.
d) A única forma de estudar o homem é através de seu comportamento manifesto.
24) Na primeira tópica, Freud apresenta três instâncias psíquicas, que são:
a) Inconsciente, pensamento e ego.
b) Pensamento, pré-consciente e inconsciente
c) Consciente, pré-consciente e inconsciente
d) Consciente, cognição e afeto
GABARITO
1-C
2-D
3-C
4-D
5-D
6-C
7-B
8-D
9-D
10 - A
11 - B
12 - C
13 - C
14 - A
15 - C
16 - B
17 - A
18 - D
19 - C
20 - D
21 - D
22 - A
23 - C
24 - C