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Período: 2021/2 Ofertante: 1000026 PSICOLOGIA

Disciplina: Psicologia No Brasil – História E Campos De Atuação

Docente: Deborah Rosaria Barbosa

Discentes: Talita Gabriela de Oliveira Ribeiro, Juan Pedro de Oliveira da Silva, Ana Luisa Dulce
Condé, Cecília Torres Alves, Guilherme Salvino Signorini, Pedro Nascimento Costa de Souza,
Caio César Silva Machado

QUESTÕES

1- O que significa “compromisso social” ao qual Ana Bock (1999) se refere durante o texto
“A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso social”, e
quais os principais pontos que o psicólogo deve tomar para seguir com tal princípio?

Resposta:

Compromisso social seria exatamente entender a Psicologia como uma ciência inserida
em um contexto político, cultural, econômico e social; ou seja, a aplicação do saber psicológico
deve estar envolta no pressuposto de que o indivíduo pertence a um coletivo que tem diferentes
impactos diretos em sua vida, a depender das características do cenário em que está inserido. É
ter um olhar transgressor acerca daquilo que foi estabelecido como natural nas sociedades e
reconhecer desigualdades sociais, preconceitos e demais problemas advindos do sistema em que
vivemos como comunidade. O compromisso social é absorver que a realidade social está, e deve
sempre estar, em constante mudança e, portanto, também as células que a compõem: os
indivíduos.

Alguns critérios mencionados para o psicólogo exercer em sua profissão o compromisso


social são os seguintes: ele deve estar ciente do impacto de sua prática e conhecimento na
sociedade, deve escapar do modelo médico e deve adaptar suas técnicas de intervenção de acordo
com seu público alvo. Isto é, em primeiro lugar o profissional precisa estar ciente das condições
de vida da população brasileira, reconhecendo o entrelaço dos mundos psico e social; de modo a
desfazer-se de ideais e abstrações que escondam o impacto das condições sociais no indivíduo.
Em segundo lugar, com relação ao modelo médico, sua intervenção deve ser mais ampla,
promovendo a saúde da comunidade a partir do entendimento do sujeito como potencializador da
mudança da realidade. E, como último critério mencionado pela autora, uma vez que nem sempre
as técnicas utilizadas pelos psicólogos contemplam de fato o perfil da população brasileira, elas
devem estar sujeitas a adaptação, de modo que o profissional não deve ser rígido.

2- O que Bock, Furtado e Teixeira (1999), em “Psicologias: uma introdução ao estudo da


Psicologia” querem dizer com a dificuldade na conceituação única do objeto de estudo da
Psicologia?

Resposta:

Segundo os autores, apesar do objeto central da psicologia ser o ser humano, há diversos
fatores que dificultam a definição única sobre qual é o objeto de estudo da psicologia. No
decorrer do primeiro capítulo, afirmam que um dos fatores para tal dificuldade é a psicologia não
ter tido tempo ainda para apresentar teorias acabadas e definitivas, justamente, por ser uma área
de conhecimento científico relativamente nova, tendo sido constituída no final do século 19
(1999). Outro fator que causa essa dificuldade, é o cientista/pesquisador em psicologia está
inserido na categoria estudada, desse modo sua visão sobre o que é o ser humano é contaminada
necessariamente por suas crenças (1999). Logo, devido a variada riqueza de valores sociais,
consequentemente, há grande variação na concepção sobre os seres humanos (1999).

Para os autores, outra justificativa para essa de diversidade de objetos, é também a


diversidade de fenômenos psicológicos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de
observação, por isso, não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição, medida, controle
e interpretação. Desse modo, o objeto de estudo da psicologia seria aquele que tem condições de
reunir uma ampla variedade de fenômenos psicológicos. Além disso, a psicologia possui diversos
enfoques específicos sobre o ser humano, cada um deles que podem ser influenciados uns pelos
outros ou não. Portanto, apesar das diversas formas de abordar o que é o ser humano e seus
diversos enfoques, a matéria-prima do estudo da psicologia é o ser humano em todas suas
expressões, em síntese, a subjetividade (1999).

3- Tendo em vista o texto “as origens da psicologia brasileira em obras do período


decolonial” (MASSIMI, 1986), como eram as ideias psicológicas coloniais sobre as emoções,
em termos de finalidade e características marcantes?

Resposta:

Em certos sermões e outros documentos coloniais dos séculos XVII e XVIII, é possível
encontrar formas de descrição dos fenômenos emocionais – as paixões – e técnicas de controle.
Esse conhecimento tinha finalidade didática – ensinar as pessoas a identificar e a lidar
devidamente com as paixões próprias e alheias, visando a “educar o equilíbrio psicológico da
personalidade” (1986). As paixões são apresentadas como capazes de se manifestar por, e afetar,
diversas dimensões da pessoa – não são um fenômeno nada localizado. Tomando como ilustração
a descrição da tristeza feita por Viera (1986), a emoção afeta o físico – “ferem a língua e
emudecem a fala” –, o psíquico – o sujeito se torna “aborrecido de tudo, e muito mais de si
mesmo” – o moral – a pessoa se torna mais suscetível ao pecado, buscando formas de aliviar seu
sentimento – e, finalmente, o comportamental – a tristeza se expressa pelo choro, mas pode ser
internalizada no coração e afetar o semblante o sujeito.

Não há distinção entre o físico, psíquico e moral – se há problema em um, há também no


outro –, havendo, assim, uma espécie de unidade, uma comunicação entre esses domínios. As
paixões são capazes de afetar todo o equilíbrio do organismo, podendo se tornar enfermidades,
caso em excesso.

4- Segundo Samuel Pfromm Netto (2004) a história da psicologia no Brasil tem vínculo com
a história da psicologia europeia, precisamente, à de Portugal. Além disso, os estudos
filosóficos e religiosos tinham caráter psicológico. Já Maria Helena Souza Patto (1999), em
seu artigo relata como a psicologia foi usada de uma forma higienista, com o objetivo de
limpar uma raça considerada por europeus como suja e inferior, para fazer com que o país
se torne digno de seu lema. Com base nos textos de Pfromm (2004) e de Patto (1999),
assinale a afirmativa errônea acerca da história da Psicologia brasileira:

a) Tal como o behaviorismo e o freudianismo, o ecletismo filosófico no Brasil, durante o século


XIX, que traduz uma concepção luso brasileira, buscava entender o sentido, se preocupava
com o interior (com uma forma de pacificar – lo) para que houvesse o domínio sobre ele, uma
forma de “medicina do espírito".

b) Segundo Martins, S. Martinho de Durme, bispo de Braga, tinha em seus escritos temas como
paixões, virtudes, pecados e emendas. Criou um pequeno escrito sobre a ira, como ela surge e
o que pode causá-la. Além de estudar sobre o comportamento interior de um homem,
acreditando que a ira podia se esvair através de como se agia. No entanto, não se pode afirmar
que suas teorias e análises são semelhantes à de Willian Wundt, pai da psicologia, já que ele
não possuía os mesmos aparatos para uma teoria de tal relevância como a de Wundt, que
criou a teoria das emoções. Sendo assim, a teoria do pai da psicologia não foi vista antes, com
Durme, por não ter tido experiências em laboratório.

c) Com a prevenção, feita por psiquiatras que se reuniam na Liga Brasileira de Higiene Mental,
daqueles que eram considerados inferiores racialmente, durante a Primeira República, o
ensino escolar também foi afetado. Para muitos estudiosos parte principal da prevenção
deveria ocorrer durante a infância, já que podem usar da medicina preventiva para que ocorra
uma melhor higienização da população.

d) De acordo com a crença de Doutor Evaristo de Moraes, inspirados em ideias de cientistas


europeus, principalmente ingleses, franceses, belgas e italianos, e também em cientistas
norte-americanos, há reeducação de crianças delinquentes deveria ser implantada no Brasil
por meio de medidas modelares. Para isso, deveriam utilizar dos conhecimentos psicológicos,
transformando-os em regras pedagógicas, dessa forma ocorria não só uma higienização das
crianças brasileiras, mas também acaba com o atraso das crianças de raça inferior comparado
com as crianças de raça branca. Fazendo com que se torne possível uma regeneração da raça.
e) Durante a Primeira República, a escola não tinha como prioridade o ensino para todos, a sua
defesa não para a educação, mas como uma forma de prevenção de jovens infratores. Um dos
seus objetivos era a higiene mental escolar, uma das tarefas da Psicologia (que estava
surgindo) e da Psiquiatria. Além da crença de que os primeiros seis anos de vida de um ser
humano são fundamentais para seu desenvolvimento, a educação servia para que se pudesse
ter atenção nem crianças filhas de pais delinquentes. Já que elas poderiam possuir algum
desequilíbrio mental e ocasionar futuros crimes.

Resposta:

Alternativa B, apesar de não ter ocorrido experiências em laboratórios, psicólogos e


historiadores afirmam que os estudos de Durme foram uma antecipação dos estudos feitos por
Wundt, especificamente a Teoria das Emoções.

5- De acordo com Bock (2010), segundo expresso na entrevista, qual a relação entre o
período da Ditadura Militar (1964-1985) e o início do pensamento crítico dentro da
Psicologia no Brasil? O que corroborou para isso? E, ainda segundo a autora, até antes do
regime militar, a quem majoritariamente servia a profissão e por que esse modelo entrou
em crise? Relacione (as questões não precisam ser necessariamente respondidas nessa
ordem).

Resposta:

Segundo Bock, até meados da década de 1970, as abordagens psicológicas eram pensadas
para dar conta das questões da elite brasileira, a quem a Psicologia majoritariamente servia até
então, reforçando o elitismo da profissão à época. Nesse sentido, quando os psicólogos entravam
na saúde pública, levavam os modelos que estavam acostumados a utilizar na clínica para
atenderem às camadas populares e, consequentemente, encontravam grandes dificuldades, o que
culminou numa crise da profissão. A autora menciona que essa crise se acentuou a partir dos anos
1970, com o desenvolvimento de um pensamento crítico na sociedade, decorrente do aumento do
movimento social que surgiu contrário à Ditadura Militar.

Sobre isso, a autora elenca alguns fatores que contribuíram para a mudança de paradigma
da Psicologia: ingresso de intelectuais radicais de esquerda enquanto professores nas
universidades, o qual ajudou a ampliar o estudo de marcos teóricos críticos, como o marxismo; o
crescimento do movimento operário e de greves na década de 1970; ingresso das camadas médias
na universidade até então reservadas aos filhos da elite econômica. Bock finaliza dizendo que tais
fatores contribuíram para a mudança do perfil da universidade, da formação, e da profissão.

Referências bibliográficas:

“A psicologia no Brasil”. BOCK, A. M. M. A psicologia como profissão: entrevista com Ana


Bock. Psicologia, Ciência e Profissão, vol. 30, no. spe, Brasília, 2010. Texto disponível online
em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000500013

BOCK, A. M. M. A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso


social. Estudos de Psicologia, vol. 4, n. 2, 315-329, 1999.

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. A Psicologia ou as Psicologias. In: BOCK,


A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. A. Psicologias: uma introdução ao estudo da
Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. Capítulo 1 e Capítulo 2.

MASSIMI, M. As origens psicologia brasileira em obras do período colonial. In: FIGUEIREDO,


L. C. M.; REY, F. G.; GUEDES, M. C. História da Psicologia. Série Cadernos PUC-SP 23. São
Paulo: Editora da PUC-SP, 1986.

PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo:


Casa do Psicólogo, 1999 (pp. 01-52).

PFROMM NETTO, S. A Psicologia no Brasil. In: ANTUNES, M. A. M. (Org.). História da


Psicologia no Brasil: primeiros ensaios, Rio de Janeiro: EdUERJ; Conselho Federal de
Psicologia, 2004, p. 148-153.

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