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A Psicologia Social e uma nova concepção do homem para a Psicologia

A relação entre psicologia e psicologia social

A relação entre psicologia e psicologia social deve ser compreendida por meio da
sua perspectiva histórica. Como nos anos 50 em que se iniciaram as
sistematizações em termos da psicologia social e dentro de duas tendências
predominantes:

1- tradição pragmática dos Estados Unidos, visando alterar e /ou criar atitudes,
para assim interferir nas relações grupais com o objetivo de harmonizá-las e assim
garantir a produtividade do grupo.

2- tradição filosófica européia, com raízes na fenomenologia, buscando modelos


científicos totalizantes, como Lewin e sua teoria de Campo (De acordo com essa
teoria são as forças do ambiente que levam indivíduos diferentes a reagirem
de forma diferente ao mesmo tipo de estímulo).

Porém nos anos 60, até o final dos anos 70, a psicologia social passou a ser
questionada, quando as análises críticas apontavam para uma “crise do
conhecimento” psicossocial, em que a abordagem não conseguia intervir nem
explicar, muito menos prever comportamentos sociais. As contestações, em
pesquisas e experimentos ainda assim não permitiram formular leis, os estudos
interculturais apontavam para uma complexidade de variáveis que desafiavam os
pesquisadores e estatísticos. Com as variáveis das pesquisas e experimentos, fez
com que ocorresse o retorno das análises fatoriais e novas técnicas de análise de
multivariância, ou seja, afirmavam a existência da relação do meio social com o ser
humano, porém não se perguntavam como ou porque.

Consequentemente na França a tradição psicanalítica é retomada com toda a


veemência e sob sua ótica é feita uma crítica à psicologia social norte-americana
como uma ciência ideológica, reprodutora dos interesses da classe dominante, e
produto de condições históricas específicas. Esse movimento critico, também tem
suas repercussões na Inglaterra, onde psicólogos sociais famosos da época,
avaliavam a crise por um olhar epistemológico de forma crítica ao conhecimento
positivista, que defendia a ideia de que o conhecimento científico seria a única
forma de conhecimento verdadeiro, porém acabavam por ignorar o homem como
produto e produtor.

Já na América Latina, por ser de Terceiro Mundo, dependente econômica e


culturalmente de outros países, a Psicologia Social oscila entre o pragmatismo
norte-americano e a visão abrangente de um homem que só era compreendido
filosófica e sociologicamente, ou seja, um homem abstrato. Dessa forma, no Brasil,
psicólogos brasileiros também faziam suas críticas, procurando novos rumos para
uma Psicologia Social que atendesse à própria realidade.

O Fim dos movimentos críticos a psicologia social

Esses movimentos finalizam em 1979 em uma conferência em Lima, Peru, com


propostas concretas de uma Psicologia Social em bases materialista-históricas e
voltadas para trabalhos comunitários, agora com a participação de psicólogos
peruanos, mexicanos e outros.

O primeiro passo para a superação da crise na psicologia social, foi constatar a


tradição biológica da Psicologia, em que o indivíduo era considerado um organismo
que interage no meio físico, sendo que os seus processos psicológicos (o que
ocorre “dentro" dele) são colocados como causa ou uma das causas que explicam o
seu comportamento. Ou seja, para compreender o indivíduo bastaria conhecer o
que ocorre "dentro dele”, quando está diante aos estímulos do meio.

Porém, não era tão simples constatar a teoria psicológica como fatídica, visto que o
homem fala, pensa, aprende e ensina e transforma a natureza. Afinal o homem é
cultura, é história. Este homem biológico não sobrevive por si só e nem é uma
espécie que se reproduz por conta de variações climáticas, por apenas alimentação
e etc. O seu organismo é uma infra-estrutura que permite o desenvolvimento de
uma superestrutura que é social e, portanto, histórica.

A ideologia nas ciências humanas

O positivismo por seu objetivismo não focava na possibilidade do ser humano ser
agente de mudança da história.
O homem ou era socialmente determinado ou era causa de si mesmo: sociologismo
vs biologismo? Fatores ambientais vs genéticos?

Se por um lado a psicanálise enfatizava a história do indivíduo, a sociologia


recuperava a especificidade de um contexto histórico e concreto na análise de cada
sociedade. Portanto, caberia à Psicologia Social recuperar o indivíduo na
intersecção e junção de sua história com a história de sua sociedade, apenas este
conhecimento permitiria a compreensão do homem enquanto agente da história.

Deste modo, quando as ciências humanas se atêm apenas na descrição, seja


macro ou microssocial, das relações entre os homens e das instituições sociais,
sem considerar a sociedade como produto histórico-dialético, elas não conseguem
captar a mediação ideológica e a reproduzem como fatos dependentes a “natureza”
do homem. Como por exemplo na psicologia, cuja sua base tem origem
biológica-naturalista, ou seja, onde o comportamento humano decorre de um
organismo fisiológico que responde a estímulos.
Por isso, se a Psicologia apenas descrever o que é observado ou enfocar no
Indivíduo como causa e efeito de sua individualidade, ela terá uma ação
conservadora ideológica em quaisquer que sejam as práticas decorrentes. Se o
homem não for visto como produto e produtor, não só de sua história pessoal mas
da história de sua sociedade, a Psicologia estará apenas reproduzindo as condições
necessárias para impedir a evolução social.

A psicologia social e o materialismo histórico

Com o positivismo, enfrentando as contradições entre a objetividade e a


subjetividade, que o fez perder o ser humano, Tomou-se necessária uma nova
dimensão espaço-temporal para se compreender o Indivíduo como um ser concreto
e como manifestação de uma totalidade histórico-social, ou seja, de uma psicologia
social que partisse da materialização histórica que é produzida e é produtora de
homens.

Dentro das críticas feitas a psicologia social, todas geraram teoria abstratas que não
contribuíram para uma prática psicossocial que visa atingir um indivíduo concreto e
a sua totalidade histórico-social. Com isso a partir de críticas à psicologia social
“tradicional" e ao retorno do estudo do empirico, pôde-se perceber e compreender
dois fatos para o conhecimento do Indivíduo:

1) o homem não sobrevive a não ser que esteja em relação com outros homens,
portanto a divisão Indivíduo X Grupo é falsa, já que desde o seu nascimento ou até
mesmo antes, o homem está inserido num grupo social

2) A sua participação e suas ações, por estar em grupo, dependem da aquisição da


linguagem/código preexistente e produzido historicamente pela sua sociedade, mas
que ele vem a aprender durante sua relação com outros indivíduos.

O resgate destes dois fatos empíricos permite ao psicólogo


social se aprofundar na análise do Indivíduo concreto, considerando que as relações
grupais, linguagem, pensamento e ações são definições de características
fundamentais para a análise psicos­social.

Assim, uma atividade implica ações ordenadas, junto a outros indivíduos, para a
satisfação de uma necessidade comum. Para haver esta ordenação é necessária a
comunicação (linguagem) assim como um plano de ação (pensamento), que por sua
só acontece mediante a atividade realizadas anteriormente. E refletir sobre uma
atividade já realizada implica repensar suas ações, ter consciência de si mesmo e
dos outros envolvidos, refletir sobre os sentidos pessoais atribuídos às palavras e as
consequências geradas pela atividade desenvolvida pelo grupo
social, e nesta reflexão se entende a consciência do indivíduo.
Toda a psicologia é social

Esta afirmação implica que desde o desenvolvimento infantil até as patologias e as


técnicas de intervenção, características do psicólogo, devem ser analisadas
criticamente por meio da concepção histórico-social do homem e ter a ciência que
não se pode conhecer qualquer comportamento humano isolando-o ou o repartindo.

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