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Psicologia Social

- O texto destacado afirma que toda psicologia é social, o que significa que a
natureza histórica e social dos seres humanos deve ser levada em consideração em
todas as áreas da psicologia, desde o desenvolvimento infantil até as patologias e
técnicas de intervenção.
- Isso não significa reduzir áreas específicas da psicologia à psicologia social, mas
sim reconhecer o contexto social em que o comportamento humano ocorre.
- A declaração também enfatiza que o comportamento humano não pode ser
entendido isoladamente ou como uma entidade fragmentada, mas sim como um
produto de fatores sociais e históricos.
- No entanto, isso não nega a especificidade da psicologia social, que visa
compreender os indivíduos no contexto de suas relações sociais e dinâmicas de
grupo.
- A psicologia social pode ajudar a responder perguntas sobre como os indivíduos
são agentes da história e podem transformar suas próprias vidas e a sociedade
como um todo.
- Em última análise, essa perspectiva destaca a importância de analisar criticamente
o comportamento humano dentro de seu contexto social e histórico, a fim de obter
uma compreensão mais abrangente da psicologia como um todo.

A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA: Uma perspectiva crítica em psicologia

- O texto destacado discute as origens da psicologia como ciência e as contradições


que ela carregou desde o início.
- Em 1875, Wundt distinguiu a psicologia como uma ciência com seu próprio objeto
de estudo: a experiência consciente.
- Wundt reconheceu o caráter básico dos elementos da consciência e o pensamento
da consciência como um processo ativo na organização de seu conteúdo por meio
da força da vontade.
- Ele via o pensamento humano como um produto da natureza e uma criação da
vida mental, concebendo o indivíduo como criatura e criador.
- No entanto, as contradições da condição humana já estavam presentes no
nascimento da psicologia, sem serem percebidas como tal e sem a possibilidade de
pensar em uma ciência unificada.
- Wundt sugeriu duas psicologias, Psicologia Experimental e Psicologia Social, para
resolver as dicotomias de natural e social, autonomia e determinação, e interna e
externa.
- Wundt não tinha as ferramentas metodológicas para resolver essas contradições,
que só poderiam ser resolvidas pelo método dialético.
- A distinção entre Psicologia Experimental e Psicologia Social visava resolver as
contradições inerentes à condição humana, mas também refletia as limitações das
ferramentas metodológicas disponíveis na época.
- Compreensão incompleta dos fenômenos psicológicos quando apenas um lado do
pêndulo é considerado.
- O autor argumenta que os aspectos opostos dos fenômenos psicológicos não
devem ser vistos como mutuamente exclusivos, mas sim como uma contradição que
existe dentro do próprio fenômeno.
- O autor sugere que, sem reconhecer esse movimento interno dentro do fenômeno,
uma compreensão completa dele não pode ser alcançada.
- O texto menciona o campo da Psicologia Sócio-Histórica, que leva em
consideração o contexto histórico e social em que os fenômenos psicológicos
ocorrem.
- Essa abordagem enfatiza a importância de compreender as contradições e
tensões nos fenômenos psicológicos, em vez de simplesmente focar em um aspecto
ou perspectiva.
- Ao reconhecer e estudar essas contradições, os pesquisadores podem obter uma
compreensão mais sutil e abrangente dos fenômenos psicológicos.
- O texto destacado discute a abordagem da Psicologia Histórico-Cultural de
Vigotski.
- Essa abordagem é apresentada como uma possibilidade de superar visões
dicotômicas em psicologia.
- O discurso de Vigotski no II Congresso Pan-Russo de Psiconeurologia em 1924 é
citado como um exemplo de sua crítica às posições reducionistas e seu incentivo à
psicologia dialética.
- A Psicologia Histórico-Cultural carrega a possibilidade de crítica não só pela
intenção de quem a produz, mas também por seus fundamentos epistemológicos e
teóricos.
- Essa abordagem é baseada no marxismo e adota o materialismo histórico e
dialético como filosofia, teoria e método.
- A Psicologia Histórico-Cultural concebe os humanos como seres ativos, sociais e
históricos.
- O texto destacado discute os quatro elementos interconectados que são centrais
para a abordagem sócio-histórica: sociedade, ideias, realidade material e história.
- A sociedade é vista como o resultado da produção histórica de humanos que usam
o trabalho para produzir sua vida material.
- As ideias são vistas como representações da realidade material, baseadas em
contradições expressas em ideias.
- A realidade material é baseada em contradições expressas em ideias, e a história
é vista como o constante movimento contraditório da ação humana.
- A abordagem sócio-histórica argumenta que toda produção de ideias, incluindo
ciência e psicologia, deve ser entendida a partir da base material.
- O capítulo apresenta alguns aspectos da abordagem sócio-histórica que são
desenvolvidos a partir desses princípios, que caracterizam sua postura crítica.
- O primeiro aspecto: abandono da visão abstrata dos fenômenos psicológicos e a
crítica a eles.
- Isso significa que a forma tradicional de ver os fenômenos psicológicos, baseada
em conceitos e teorias abstratas, está sendo questionada e substituída por uma
abordagem mais prática e realista.
- No último século, as perspectivas dominantes no pensamento moderno ocidental
influenciaram a construção de visões sobre seres humanos e fenômenos
psicológicos em psicologia.
- Essas visões precisam ser superadas porque não são mais relevantes ou precisas
no mundo de hoje.
- A ascensão do liberalismo, que é a ideologia fundamental do capitalismo, nasceu
com a revolução burguesa para derrubar a ordem feudal e estabelecer uma nova
ordem.
- A burguesia criou ideias liberais para se opor à ordem feudal, baseada na
hierarquia e na estabilidade.
- O liberalismo valoriza o indivíduo e o individualismo, o que significa que cada
pessoa tem direitos morais derivados de sua natureza humana.
- A perspectiva liberal enfatiza que os indivíduos são iguais, livres e têm direito à
propriedade, segurança, liberdade e igualdade.
- A ordem feudal não exigia psicologia porque não reconhecia a individualidade e
impedia que os indivíduos se tornassem eles mesmos.
- O abandono da visão abstrata dos fenômenos psicológicos e a crítica a ela é
necessário para ir além das visões ultrapassadas da psicologia e adotar uma
abordagem mais prática e realista que valorize a individualidade e a natureza
humana.
- A visão liberal desafiou a estabilidade do mundo, a hierarquia e as certezas,
colocando o indivíduo no centro e promovendo o movimento e a exploração.
- Essa visão era necessária para que o capitalismo explorasse a natureza como
matéria-prima e a dessacralização, ao mesmo tempo em que confiava nos
indivíduos como entidades produtivas e consumidoras.
- O desenvolvimento dessa visão de mundo individualista permitiu o surgimento da
vida privada, com casas sendo projetadas para fornecer espaços privados e
pertences pessoais marcados para identificação.
- A mudança da vida pública para a privada também se refletiu no local de trabalho,
com fábricas substituindo casas como centro de trabalho.
- O desenvolvimento da noção de eu e individualização foi resultado da história do
capitalismo, com a ideia de um mundo interno dentro dos indivíduos permitindo o
desenvolvimento de um senso de identidade.
- Esse processo também levou ao surgimento da psicologia como uma ciência que
estuda o indivíduo e seu mundo interno.
- As ideias liberais que moldaram essa visão de mundo foram baseadas na noção
da natureza humana, que exigia a liberdade como condição para o
desenvolvimento.
- Essa compreensão da natureza humana permitiu o desenvolvimento de um tipo
particular de psicologia focada no indivíduo e em suas experiências únicas.
- O conceito de igualdade natural entre os humanos, introduzido pelo liberalismo,
levou ao questionamento das hierarquias e desigualdades sociais características do
período feudal.
- O liberalismo defendia o fornecimento das melhores condições de vida aos
indivíduos para que seu potencial natural pudesse florescer.
- Em resposta às enormes desigualdades sociais do mundo moderno, o liberalismo
construiu a noção de diferenças individuais resultantes do uso diferencial das
condições que a sociedade “igualmente” oferece.
- As condições históricas desse período permitiram o surgimento da psicologia e do
fenômeno psicológico como ele se constitui hoje.
- As ideias “naturalizantes” do liberalismo foram responsáveis pela concepção
dominante do fenômeno psicológico na psicologia.
- A pesquisa de Bock com psicólogos em São Paulo encontrou muitas definições
para o fenômeno psicológico, incluindo eventos orgânicos, manifestações do
aparato psíquico, individualidade, conflitos, confusão mental, manifestação do
homem, pensar e sentir o mundo, consciência, autoconsciência, subjetividade,
funções egocêntricas, existência intersubjetiva, experiências, loucura, perturbação,
comportamento, maquinário emocional, motivação, habilidades e potencialidades,
experiências emocionais, psique, pensamento, sensação, emoção e expressão,
compreensão de si mesmo e o mundo, manifestação da vida mental, tudo o que é
percebido pelos sentidos, é consciente e inconsciente.
- Os psicólogos usam clichês para descrever o fenômeno psicológico, incluindo que
ele é biopsicossocial, envolve interação entre pessoas e se refere a um indivíduo
que é ao mesmo tempo agente e sujeito.
- O texto destacado se refere ao conceito de “estrutura” em psicologia, que é uma
organização interna dentro dos humanos.
- Essa estrutura tem aspectos conscientes e inconscientes e é influenciada por
fatores biológicos e sociais.
- A interação com o meio ambiente e com os outros é importante na formação dessa
estrutura, que também é influenciada por fatores externos.
- Embora esse fenômeno possa ser conhecido conscientemente, também existem
aspectos inacessíveis à percepção consciente.
- Os psicólogos têm ferramentas e conhecimentos para contribuir para a
compreensão e reestruturação desse fenômeno.
- O conceito de “desestruturação” (ruptura ou desorganização) também é
importante, pois alguns identificam o fenômeno com sua ruptura ou conflito.
- Alguns questionários até identificam o fenômeno com a possibilidade de o
relacionamento de um indivíduo ser interrompido.
- O texto destacado discute o conceito de fenômenos psicológicos.
- Os fenômenos psicológicos podem ser descritos como um processo, estrutura,
manifestação, relacionamento, conteúdo, perturbação ou experiência.
- É interno e tem relação com o mundo externo.
- O fenômeno psicológico é biológico, psicológico e social, e é tanto um agente
quanto um resultado.
- É um fenômeno humano relacionado ao conceito de “eu”.
- O conceito de fenômeno psicológico é frequentemente visto como separado da
realidade em que o indivíduo existe e até mesmo separado do próprio indivíduo.
- Muitas vezes é visto como algo que reside dentro de nós, sobre o qual temos
pouco controle, e pode nos dominar em momentos de crise.
- Inclui “segredos” dos quais talvez nem estejamos cientes, e é algo que está
encerrado dentro de nós que é ou contém um “eu verdadeiro”.
- A relação entre os fenômenos psicológicos e o ambiente social e cultural é
considerada necessária e importante por muitos psicólogos.
- No entanto, essa relação é frequentemente vista como aquela em que o mundo
externo impede e impede o desenvolvimento pleno e livre de nosso mundo “interno”.
- O mundo social é visto como um lugar estranho para o nosso “eu”, e devemos nos
adaptar a ele.
- A história desse aparato psicológico se torna a história de sua adaptação ao
mundo social, cultural e econômico.
- Atividades como trabalhar, relacionar-se com os outros, aprender e criar fazem
parte dessa adaptação.
- Amor, emoção, percepção e motivação também são vistos como possibilidades
humanas que se desenvolvem ou se atualizam (pois já estavam potencializadas)
neste mundo externo.
- O texto destacado discute a diferença de perspectiva entre o conceito de
fenômenos psicológicos na psicologia tradicional e na psicologia sócio-histórica.
- A psicologia tradicional acredita que os fenômenos psicológicos são inatos e
preexistentes na natureza humana, enquanto a psicologia sócio-histórica acredita
que os fenômenos psicológicos se desenvolvem com o tempo e são influenciados
pelas condições sociais, econômicas e culturais.
- A psicologia sócio-histórica enfatiza a importância de compreender o mundo
externo e seu impacto no mundo interno dos indivíduos.
- De acordo com a psicologia sócio-histórica, a compreensão do mundo interno dos
indivíduos requer uma compreensão do mundo externo, pois eles estão
interconectados e se influenciam mutuamente.
- O processo de ação humana e construção/modificação do mundo é um fator chave
no desenvolvimento psicológico dos indivíduos, de acordo com a psicologia
sócio-histórica.
- Portanto, a psicologia sócio-histórica acredita que o estudo dos fenômenos
psicológicos deve necessariamente envolver uma compreensão da sociedade e seu
impacto sobre os indivíduos.
- O fenômeno psicológico deve ser entendido como uma construção no nível
individual do mundo simbólico social.
- O fenômeno deve ser visto como subjetividade, que se forma em relação ao
mundo material e social, que só existe por meio da atividade humana.
- Subjetividade e objetividade são interdependentes, mas não são a mesma coisa.
- A linguagem é um meio para a internalização da objetividade, permitindo a
construção de significados pessoais que constituem a subjetividade.
- O mundo psicológico está em uma relação dialética com o mundo social.
- Compreender o fenômeno psicológico significa compreender a expressão subjetiva
de um mundo objetivo/coletivo, um fenômeno que é um processo de conversão do
social em individual, de construção interna dos elementos e atividades do mundo
externo.
- Compreender o fenômeno psicológico dessa forma significa retirá-lo de um campo
abstrato e idealista e dar-lhe uma base material sólida.
- Também permite a superação definitiva das visões metafísicas do fenômeno
psicológico que o concebeu como algo repentino, algo que surge nos humanos, ou
melhor, algo que já estava lá em estado embrionário e que se atualiza com a
maturação humana.
- O homem e o fenômeno psicológico são vistos como sementes que se
desenvolvem e brotam.
- O texto destacado está questionando por que a perspectiva da psicologia
sócio-histórica é crítica de outras perspectivas da psicologia.
- De acordo com essa perspectiva, outras perspectivas separam a psicologia da
realidade social e cultural, essencial para a compreensão dos fenômenos
psicológicos.
- Esse distanciamento leva a um processo ideológico em psicologia, onde os
aspectos sociais dos fenômenos psicológicos estão ocultos.
- Ao ignorar o contexto social e cultural, outras perspectivas contribuem para a
criação de uma ideologia que obscurece os aspectos sociais dos fenômenos
psicológicos.
- A perspectiva sócio-histórica enfatiza a importância de compreender o contexto
social e cultural em que os fenômenos psicológicos ocorrem para evitar esse
processo ideológico.

● Segundo Charlot, a ideologia é um sistema teórico que se origina da realidade,


mas considera as ideias como entidades autônomas.

- O texto destacado discute o conceito de ideologia e sua operação.


- A definição de ideologia de Chauí é que ela envolve a criação de universais
abstratos, que são ideias que são transformadas das ideias particulares da classe
dominante em ideias universais para todos os membros da sociedade.
- Essas ideias universais são abstratas porque não correspondem a nada real ou
concreto, pois existem classes particulares concretas na realidade e não uma
universalidade humana.
- As ideias de ideologia são, portanto, universais abstratos, que são uma
representação de uma realidade ilusória.
- A ilusão da ideologia reside no fato de que parte da realidade está oculta nas
constituições ideais.
- Na psicologia, ao construir noções e teorias sobre fenômenos psicológicos, a
produção social muitas vezes fica oculta.
- Essa ocultação da produção social na psicologia tem consequências nocivas para
as possibilidades da psicologia de contribuir para a denúncia e transformação das
condições de vida constitutivas do fenômeno.
- O texto destacado explica que os fenômenos psicológicos não têm sua própria
força motriz, mas se desenvolvem por meio da interação com o mundo material e
social.
- O corpo biológico é o elemento básico dessa relação e é onde ocorrem os
fenômenos psicológicos.
- A relação entre o sujeito e o mundo, por meio de sua atividade, é essencial para
que os fenômenos psicológicos ocorram.
- O texto usa a imagem do Barão de Munchausen para expressar a compreensão
de que a ideologia da psicologia é construída por meio dessa relação entre o sujeito
e o mundo.
- O Barão Munchausen é um personagem fictício conhecido por seus contos
fantásticos e exageros, que podem ser vistos como uma metáfora da maneira pela
qual a psicologia constrói sua compreensão do mundo por meio de experiências e
interpretações subjetivas.
- No geral, o texto enfatiza a importância da relação entre o sujeito e o mundo na
compreensão dos fenômenos psicológicos e na construção da ideologia da
psicologia.
- O texto destacado critica o campo da psicologia por seu foco estreito na
responsabilidade e nas características individuais, sem considerar as condições
sociais, econômicas e culturais mais amplas que moldam o comportamento e as
experiências humanas.
- O autor argumenta que a psicologia reforçou as normas e padrões sociais, muitas
vezes às custas daqueles que não se encaixam nessas normas.
- O autor também aponta que a psicologia ignorou ou minimizou o papel de
instituições e estruturas sociais maiores, como família, religião e cultura, na
formação de fenômenos psicológicos.
- O autor sugere que uma abordagem mais abrangente e crítica da psicologia
envolveria examinar as maneiras pelas quais os fatores sociais, econômicos e
culturais se cruzam com experiências e comportamentos individuais.
- Isso exigiria uma mudança das abordagens individualistas e reducionistas da
psicologia, em direção a uma compreensão mais holística e contextualizada da
psicologia humana.
- O texto destacado se refere à abordagem da Psicologia Sócio-Histórica.
- Essa abordagem pretende ser crítica e posicionada, o que significa que se
posiciona sobre questões éticas e políticas relacionadas à realidade em que seu
objeto de estudo e trabalho está situado.
- Para isso, a Psicologia Sócio-Histórica requer a definição de uma visão ética e
política que informe sua maneira de pensar sobre o mundo psicológico e a
realidade.
- Essa visão não pode ser dissociada da perspectiva e da necessidade de
posicionamento.
- Em outras palavras, a Psicologia Sócio-Histórica reconhece que sua compreensão
do mundo psicológico e da realidade é moldada por sua postura ética e política, e
que não pode ser neutra ou objetiva em sua abordagem.
- Essa abordagem desafia as visões tradicionais da psicologia como uma ciência
neutra e objetiva e, em vez disso, enfatiza a importância do contexto social e
histórico na formação dos fenômenos psicológicos.
- Ao assumir uma postura crítica e posicionada, a Psicologia Sócio-Histórica visa
contribuir para a mudança e transformação social, em vez de simplesmente
descrever ou explicar fenômenos psicológicos.
- O texto destacado discute a abordagem crítica da Psicologia Sócio-Histórica.
- Essa abordagem permite romper com a classificação e estigmatização tradicionais
da ciência e da profissão.
- A história da psicologia está intimamente ligada aos interesses dos grupos
dominantes, que sempre produziram conhecimento e o traduziram em uma
psicologia aplicada para aumentar o controle sobre os grupos sociais.
- Essa psicologia aplicada tem sido usada para expandir a capacidade produtiva dos
trabalhadores, distribuir as crianças de forma homogênea ou heterogênea nas aulas
para garantir o aprendizado e a disciplina, selecionar a pessoa certa para o trabalho
certo, higiene moral da sociedade, controlar o comportamento, classificação e
diferenciação.
- A história da psicologia como ciência e profissão sempre esteve entrelaçada com
os interesses de determinados grupos sociais e usou suas ferramentas e
conhecimentos para responder a esses interesses.
- No Brasil, Antunes (1999) demonstrou isso claramente por meio de sua revisão da
história da psicologia.
- No século 19, o Brasil deixou de ser uma colônia para um império, e as ideias
psicológicas foram produzidas principalmente nas áreas de medicina e educação.
- A chegada da corte portuguesa ao Brasil, particularmente no Rio de Janeiro, levou
a transformações significativas na cidade.
- O rápido desenvolvimento do Rio de Janeiro sem infraestrutura adequada levou ao
surgimento de doenças, pobreza, prostituição e loucura.
- O século XIX testemunhou o surgimento de ideias relacionadas ao saneamento e
à higiene das cidades, que não se concentravam apenas no saneamento material,
mas também na higiene moral.
- O objetivo era criar uma sociedade livre de desordens e desvios, o que levou a
práticas autoritárias e disciplinares na educação.
- A medicina também teve um papel nesse movimento, com a criação de asilos
higiênicos e tratamento moral para doenças mentais.
- A ideologia dominante desse período estava focada na ordem e na higiene para o
progresso.
- As ideias psicológicas desse período foram marcadas pelo objetivo de higiene
moral e disciplina na sociedade.
- O final do século XIX trouxe a República, a riqueza cafeeira e o desenvolvimento
econômico da região Sudeste no Brasil.
- A psicologia adquiriu o status de ciência autônoma na Europa e nos Estados
Unidos, e a industrialização no Brasil trouxe novas demandas para a psicologia.
- A psicologia aplicada à educação contribuiu significativamente para o
conhecimento e possibilitou a diferenciação das pessoas para a formação de grupos
mais homogêneos nas escolas e a seleção de trabalhadores mais adequados para
as empresas.
- O contexto internacional de guerras levou ao desenvolvimento de testes
psicológicos, o que facilitou as práticas de diferenciação e categorização da
psicologia.
- Com essa tradição e posição social, a psicologia foi institucionalizada no Brasil e
reconhecida como profissão em 1962.
- O conhecimento e as práticas produzidas na Europa e nos EUA influenciaram o
desenvolvimento da psicologia no Brasil.
- Como resultado, a psicologia brasileira se tornou uma profissão que classifica e
diferencia os indivíduos com base em suas habilidades, saúde e competência.
- Essa classificação contribui para a construção de estigmatizações e
discriminações na sociedade.
- O campo da psicologia no Brasil também adotou o padrão de normalidade, que é
inerentemente social, e naturalizou construções sociais.
- As diferenças entre os indivíduos, consideradas naturais, tornaram-se fonte ou
justificativa para as desigualdades sociais.
- Ao longo de sua história, a psicologia observou e registrou cuidadosamente o
desenvolvimento de crianças e jovens, necessário para o desenvolvimento de novos
conceitos educacionais.
- A bondade natural das crianças foi enfatizada em oposição aos conceitos
educacionais tradicionais, e a psicologia foi necessária para descrever seu
desenvolvimento.
- Esse conhecimento foi então considerado natural, e o desenvolvimento observado
nas crianças foi sistematizado e considerado natural pela psicologia.
- Não existem teorias do desenvolvimento, exceto o trabalho soviético de Psicologia
Histórico-Cultural, que considere o desenvolvimento infantil como uma trajetória
socialmente construída.
- Escrever, contar, quantificar e classificar não devem ser consideradas naturais,
mas sim como conquistas humanas que se instalam definitivamente nas atividades
humanas e nas possibilidades cognitivas.
- Essas possibilidades se instalam na cultura, nos objetos e nos instrumentos da
cultura, bem como na linguagem, e gradualmente se tornam capacidades
individuais.
- Não há razão para concebê-los como naturais.
- O texto destacado discute a importância do acesso aos estímulos sociais e
culturais para o desenvolvimento das características humanas.
- Isso sugere que, sem acesso a esses estímulos, os indivíduos podem não
apresentar todas as características que a humanidade alcançou.
- O texto também redefine “normalidade” como a possibilidade de ter características
individuais que a sociedade valorizou e estimulou na maioria.
- Argumenta que ser diferente não é anormal, mas sim menos provável devido a
várias possibilidades, como falta de acesso às condições necessárias para o
desenvolvimento, limitações físicas ou conflitos emocionais durante o processo de
aprendizagem.
- O texto enfatiza o papel dos fatores sociais e culturais na formação das
características humanas e desafia a noção de uma natureza humana fixa e
predeterminada.
- Isso sugere que as diferenças individuais devem ser entendidas no contexto de
influências sociais e culturais, em vez de serem patologizadas ou estigmatizadas.
- O texto destaca a importância de oferecer oportunidades iguais e acesso a
estímulos sociais e culturais para que todos os indivíduos alcancem todo o seu
potencial.
- O texto destacado discute a existência de diferenças entre os indivíduos na
sociedade.
- Essas diferenças se tornaram fontes de desigualdade e justificativa para as
desigualdades sociais em uma sociedade que normalizou a ideia de normalidade.
- As desigualdades sociais criam diferentes oportunidades de acesso ao que a
humanidade alcançou como possibilidades humanas.
- A psicologia registrou essas diferenças como diferenças individuais e, ao
naturalizar o desenvolvimento, ocultou a origem social dessas diferenças.
- Como resultado, a psicologia classificou, diferenciou, discriminou e estigmatizou os
indivíduos com base nessas diferenças.
- Para entender esse processo de psicologia, é necessária uma posição crítica que
possa ver o desenvolvimento humano como algo que se torna possível porque os
humanos estão imersos em uma sociedade onde atividades instrumentais e
relações sociais direcionam o desenvolvimento humano.
- O ser humano se desenvolve à sua própria imagem e semelhança, mas esse
desenvolvimento é influenciado pela sociedade em que vive.
- O texto destacado se refere à posição crítica da Psicologia Sócio-Histórica.
- De acordo com essa perspectiva, o desenvolvimento do ser humano e de seu
mundo psicológico é resultado das conquistas da sociedade humana.
- Essa posição crítica permite a denúncia da “ocultação” das condições de vida no
discurso da Psicologia.
- O termo “ocultamento” se refere ao ato de esconder ou ocultar algo.
- Nesse caso, refere-se à maneira pela qual a psicologia pode ignorar ou minimizar
o impacto de fatores sociais e históricos no comportamento e desenvolvimento
humanos.
- A perspectiva crítica da Psicologia Sócio-Histórica enfatiza a importância de
compreender o contexto social e histórico em que os indivíduos vivem e se
desenvolvem.
- Essa perspectiva desafia a ideia de que o comportamento e o desenvolvimento
humanos são determinados exclusivamente por fatores individuais, como genética
ou personalidade.
- Em vez disso, destaca o papel de fatores sociais e históricos, como cultura, política
e economia, na formação do comportamento e desenvolvimento humanos.
- Ao reconhecer o impacto desses fatores, a Psicologia Sócio-Histórica visa
promover uma compreensão mais abrangente e diferenciada do comportamento e
desenvolvimento humanos.
- A perspectiva da psicologia sócio-histórica crítica é baseada na ideia de que nosso
desenvolvimento e modo de ser não são naturais, mas sim sociais e históricos.
- Essa perspectiva exige que os psicólogos declarem explicitamente a direção de
suas intervenções profissionais.
- Os psicólogos devem entender que estão contribuindo para a construção de
projetos de vida direcionados aos interesses do sujeito.
- Ignorar essa direção de trabalho é esconder a influência que os psicólogos
exercem sobre seus clientes.
- Não reconhecer essa influência é camuflar o propósito do trabalho, que deve estar
aberto ao debate e à crítica.
- A direção do trabalho não deve ser arbitrária, mas sim uma escolha feita pelo
profissional com base nas possibilidades apresentadas pela sociedade e pela
cultura.
- O profissional deve fazer essa escolha e estar ciente da influência que exerce nos
projetos de vida de seus clientes.
- O texto destacado discute o conceito de naturalização da psicologia, o que levou
ao desenvolvimento de equívocos na área.
- Ao considerar o estado e o desenvolvimento dos indivíduos como naturais, o
objetivo do trabalho passa a ser seguir um desenvolvimento predeterminado, que
não é necessariamente preciso.
- O indivíduo com quem se trabalha é um ser ativo e transformador em seu
ambiente social, e o encontro entre o cliente e o profissional deve ser um diálogo.
- O cliente possui a matéria-prima a ser trabalhada, enquanto o profissional tem as
ferramentas e a tecnologia para isso.
- O objeto do trabalho é o projeto de vida do cliente, que pertence exclusivamente a
ele, e o profissional deve estar ciente de que está interferindo em um projeto que
não lhe pertence.
- Portanto, há a necessidade de rigor ético para garantir o respeito e a transparência
do profissional.
- O psicólogo deve conceber seu trabalho como intencional e direcionado, com uma
postura ética rigorosa, para superar a suposta neutralidade que sempre ocultou o
conceito de “normalidade” e o reforço da saúde, que nada mais eram do que valores
sociais dominantes.
- Nossas construções ideais de saúde e anormalidade geralmente abrigam valores
morais da cultura dominante na sociedade, que se tornaram referências de
comportamento e modos de ser para os indivíduos.
- O problema está no fato de não termos assumido essa adesão e apontarmos
esses valores e referências como naturais e universais.
- Como resultado, trabalhamos para manter os valores dominantes e justificá-los
como a única possibilidade de estar no mundo, enquanto o diferente é visto como
uma crise, desequilíbrio ou desajuste que precisa ser “tratado” para retornar à
condição natural de saúde do homem.
- Portanto, a psicologia se torna uma profissão conservadora que trabalha para
evitar o surgimento do novo.
- O texto destacado discute a perspectiva da Psicologia Sócio-Histórica, que é uma
abordagem crítica que vai além da postura positivista e idealista que caracterizou a
Psicologia como ciência.
- Essa perspectiva tem como método o materialismo histórico e dialético, o que
significa que considera o contexto social e histórico em que os fenômenos ocorrem
e como eles são moldados por fatores sociais e históricos.
- O texto aborda brevemente a questão do método, que será discutida com mais
profundidade no capítulo 6.
- A abordagem positivista é apresentada como uma proposição teórica e
metodológica que pressupõe que os fenômenos humanos e sociais são regulados
por leis naturais que são independentes da ação humana.
- De acordo com o positivismo, os métodos e procedimentos das ciências naturais
devem ser usados para descobrir essas leis, e as ciências sociais e humanas
devem ser guiadas pelo modelo de objetividade científica.
- O positivismo pressupõe que a realidade é governada por leis racionais que
podem ser descobertas por meio da observação sistemática e rigorosa dos fatos, e
que esse rigor é alcançado por meio de um método que controla a imaginação
humana e a interferência dos interesses e particularidades do pesquisador.
- No entanto, a abordagem positivista tem sido criticada por seu foco estreito em
fenômenos observáveis e mensuráveis, sua negligência do contexto social e
histórico e sua suposição da objetividade científica como um ideal impossível de
alcançar.
- Em contraste, a perspectiva da Psicologia Sócio-Histórica enfatiza a importância
de compreender o contexto social e histórico em que os fenômenos ocorrem e como
eles são moldados por fatores sociais e históricos. Essa abordagem também
reconhece o papel da subjetividade e dos valores na produção de conhecimento.
O texto destacado descreve os pressupostos metodológicos e as categorias usadas
no exame de objetos na pesquisa em psicologia social. Os pontos a seguir elaboram
essas suposições:

* Os pesquisadores examinam os objetos em sua totalidade, entendendo-os como


um todo no qual as partes interagem entre si, permitindo que o fenômeno seja
constituído como tal.
* O movimento e a transformação contínua dos fenômenos são acompanhados e
estudados.
* Os pesquisadores entendem que a mudança nos fenômenos é qualitativa e ocorre
por meio do acúmulo de elementos quantitativos que se convertem em qualidade,
alterando o fenômeno.
* O movimento e a transformação das coisas ocorrem porque forças opostas
coexistem dentro delas. A contradição presente em todos os objetos é a força por
trás de seu movimento e transformação.
* A relação entre o objeto e o mundo ao seu redor é onde os elementos opostos
entram em jogo, e é nessa relação que os elementos uns contra os outros são
transformados.

No geral, o texto destacado enfatiza a importância de compreender a complexidade


e a interconexão dos fenômenos sociais e a necessidade de considerar as forças
opostas que impulsionam a mudança e a transformação.
- O texto destacado discute a abordagem da Psicologia Sócio-Histórica.
- Essa abordagem difere das outras por rejeitar a ideia de neutralidade e
objetividade na ciência.
- Em vez disso, reconhece a influência da ideologia e das condições materiais no
comportamento humano e na psicologia.
- A Psicologia Sócio-Histórica visa produzir conhecimento que não seja limitado pelo
idealismo ou positivismo.
- Busca criar uma ciência crítica das ideologias que foram produzidas até agora.
- Essa abordagem também visa melhorar as condições da vida humana e promover
a saúde psicológica.
- Ao rejeitar a ideia de neutralidade, a Psicologia Sócio-Histórica reconhece que
todo conhecimento é produzido dentro de um contexto social e histórico específico.
- Essa abordagem enfatiza a importância de compreender as condições materiais
que moldam o comportamento humano e a psicologia.
- A psicologia sócio-histórica também reconhece o papel do poder e das relações
sociais na formação da experiência humana.
- No geral, essa abordagem busca produzir conhecimento fundamentado na
realidade material da vida humana e que possa contribuir para melhorar as
condições da existência humana.

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