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1945-1962: OS ANTECEDENTES DA

REGULAMENTAÇÃO DA PSICOLOGIA
COMO PROFISSÃO NO BRASIL¹
Aluízio Silva Júnior²
Mariana Cantarini²
Regina Coeli Aguiar Castelo Prudente³

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi caracterizar a produção da
Psicologia no período de 1945 a 1962, a partir de referências
bibliográficas sobre o ensino, pesquisa e aplicação. Após os anos
30 deste século, principalmente entre os anos de 1945 a 1962, a
Psicologia no Brasil caracterizou-se por sua inserção nos
currículos dos cursos superiores de Filosofia e Pedagogia (base
tanto para a instalação dos cursos superiores de Psicologia
quanto para sua regulamentação), pela ampliação da produção
de pesquisas, pela incrementação e ampliação dos campos de
atuação prática, pela visita de eminentes psicólogos
estrangeiros, pelas viagens de estudos aos Estados Unidos e
Europa por brasileiros, pela criação de associações de
psicólogos e pelos primeiros congressos de Psicologia, sediando,
inclusive, eventos internacionais. Esse período pode ser visto
como aquele em que a Psicologia se consolidou no país,
gerando as condições para a regulamentação da profissão.
Palavras Chave: Psicologia Brasileira, Pioneiros da Psicologia no
Brasil, Regulamentação da Psicologia no Brasil, Antecedentes da
Regulamentação da Psicologia no Brasil.

ABSTRACT
The aim of this paper is to characterize the output of Psychology,
from 1945 to 1962, based on bibliographical references about

¹Este projeto foi desenvolvido com o apoio financeiro co Centro de Pesquisa do


Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora.
²Bolsistas de Iniciação Científica - Alunos do curso de Psicologia CES-JF.
³Mestre em Psicanálise pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora.
Pós-graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduada
em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Graduada em Artes
157
Plásticas pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Juiz de Fora 2006


teaching, research and aplication. After the 1930's, mainly
between 1945 and 1962, Psychology in Brazil was
characterized by its insertion in syllabuses in graduation courses
in the field to Philosophy and Pedagogy (which was the basis for
both the creation and regulation of graduation in Psychology),
the broadening of research production, implementation and
enlargement in the fields of practical action, visit of prominent
foreign psychologists, Psychology conferences and even
internacional events. This period can be considered to be one in
which the consolidation of Psychology took place in our country.
It offered the condition for regulation of the profession.
Keywords: Brazilian Psychology, Pioneers of Psychology in
Brazil, Regulation of Psychology in Brazil, Precedents of the
Regulation of Psychology in Brazil.

INTRODUÇÃO

Para compreender a importância da Psicologia como


profissão e seu papel na sociedade brasileira foi preciso
retroceder aos anos que antecederam a sua regulamentação,
precisamente o período de 1945 a 1962Percebemos, porém,
que pouco se investiu em estudos e na difusão desse
conhecimento. A história da Psicologia em geral e,
principalmente, a história da luta pela legalização da profissão
tem sido relegada a um plano secundário. Poucos são os cursos
de Psicologia que têm essa disciplina em seu currículo, são
escassos os estudos e pesquisas nessa área e a bibliografia é
extremamente restrita.
A compreensão adequada dos motivos que levaram
pessoas como, por exemplo, Emílio Mira y López, Antônio
Gomes Penna, Eliezer Schneider e Anita Cabral – pioneiros da
Psicologia no Brasil – a lutarem pelo reconhecimento e pelo
cadastramento do psicólogo no país foi dada por um olhar
retrospectivo, enfocando os anos de 1945 a 1962.
O propósito da pesquisa foi estudar como o período
que antecedeu a regulamentação da Psicologia no Brasil, em
1962, foi importante para o entendimento dos rumos que a
158 profissão seguiu a partir desse acontecimento. Para tal,
metodologia utilizada foi a análise documental.

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PSICOLOGIA X HISTÓRIA

De acordo com Massimi (1994) a relevância dos


estudos históricos no âmbito da Psicologia responde a duas
exigências fundamentais.
Uma primeira exigência está implícita na própria
natureza do homem, que é um ser histórico. Então, para o
homem, o conhecimento da História e o fascínio que esta
exerce permitem uma compreensão mais profunda da própria
existência humana. Conforme afirma Le Goff (1986), pedem-se
à História respostas para três questões fundamentais da
existência humana: quem somos, donde viemos, para onde
vamos.
Massimi (1994) destaca no que diz respeito ao estudo
da História das Ciências (no caso, a História da Psicologia). Tal
exigência se traduz na oportunidade de cada cientista
reconhecer o próprio trabalho como parte de um horizonte
mais amplo, constituído não apenas pela produção da
comunidade científica internacional atuante, mas também por
uma tradição de conhecimentos que se consolidou ao longo do
tempo. Além do mais, o estudo da história permite reconstruir
uma imagem realista do desenvolvimento de uma determinada
área do saber, evidenciando os sucessos e os erros ocorridos e
relativizando, nesse sentido, o mito positivista que retrata a
ciência como conhecimento perfeito.
“Uma segunda razão para o estudo da História está
relacionada aos objetivos do conhecimento, em geral, e das
disciplinas psicológicas em particular, sendo assim explicada por
Pernoud (1997, p.158): 'A História fornece soluções, mas ela
permite, e só ela, colocar corretamente os problemas'. Em
outros termos, os estudos históricos constituem um recurso
valioso para a formulação correta dos problemas que interessam
à pesquisa psicológica no presente. Além do mais, numa
situação em que a Psicologia procura consolidar sua identidade
e sua cientificidade, torna-se cada vez mais necessária uma
investigação esclarecedora de seus pressupostos, suas raízes e,
principalmente, sua colocação no âmbito de contextos culturais
e sociais determinados, ao longo do tempo e do espaço.”
(Massimi, 1994, p.20) 159
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1945-1962: OS ANTECEDENTES DA REGULAMENTAÇÃO
DA PSICOLOGIA COMO PROFISSÃO NO BRASIL

A Psicologia, como destacou Mitsuko (1998), adquiriu,


no final do século XIX, o estatuto de ciência autônoma, processo
esse originado na Europa e seguido de acelerada evolução dessa
ciência não apenas em seu solo original, mas também nos
Estados Unidos. Na virada do século, ocorreu intenso
desenvolvimento da ciência psicológica em todas as instâncias,
quer no plano teórico – destacando-se a diversidade de
abordagens surgidas nessa época e o aumento significativo da
produção de pesquisas –, quer no plano prático, em que esta
ciência penetrou e ampliou seu potencial de aplicação.
"A concomitância desses dois conjuntos de fatores e a
possibilidade efetiva de estabelecimento de relação entre eles,
em função da articulação entre potencialidades e necessidades,
passíveis de serem mutuamente realizadas, permitiram um
avanço sem precedentes na história da Psicologia no Brasil"
(Mitsuko, 1998, 39-40).
Para Mitsuko (1998), os problemas que o Brasil
enfrentava no século XIX tenderam, com a virada do século, a
agravar-se e outros vieram a eles se somar, de tal maneira que o
pensamento psicológico, já em franco processo de
desenvolvimento no país, encontrou terreno fértil para penetrar
e estabelecer-se na sua dimensão científica e caminhando para
sua autonomia teórica e prática em relação às áreas do saber às
quais havia se desenvolvido até então, como a Medicina e a
Educação. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da ciência
psicológica e a ampliação de seu campo de ação maximizavam
as possibilidades concretas de a Psicologia contribuir com
possíveis respostas para as questões que se impunham.
Dessa forma, de acordo com Mitsuko (1998), a
Psicologia e outras áreas do conhecimento foram buscadas no
sentido de contribuir com soluções para os problemas
relacionados à saúde, à educação e à organização de trabalho,
no interior de uma formação social dependente e atrasada, em
busca da modernidade representada pela concretização do
ingresso do Brasil no mundo industrializado. Nesse contexto e
166
160 em face de tais problemas ocorreram importantes realizações
da Psicologia no Brasil, cujas principais produções são oriundas

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de instituições médicas e educacionais. A partir dessa base e no
interior dessas instituições é que a Psicologia se desenvolveu,
conquistando sua autonomia em relação às áreas do saber das
quais evoluíra até então, por meio da definição e da delimitação
cada vez mais explícitas de seu objeto de estudo e de seu campo
próprio de ação.
“Implementada nos anos vinte, particularmente no Rio
de Janeiro, São Paulo, Recife e Belo Horizonte, a prática da
Psicologia no Brasil dependia, ainda no início de sessenta, de
profissionais egressos a Filosofia, Pedagogia ou Medicina. Não
que a necessidade de uma formação regular até então não
tivesse feito sentir. Ao contrário, áreas sensíveis aos possíveis
efeitos da Psicologia aplicada preocupavam-se há muito com o
caráter assistemático que predominava na preparação do
psicólogo. Assim, já em 1949, o Governo Federal criava um
o
curso de Psicologia no Ministério de Guerra (Decreto n 171, de
25.10.49). E, pelo menos desde de 1951, movimentavam-se os
profissionais no mesmo sentido.” (Pessotti, 1988, p.32)
De acordo com Pessotti (1988), consultórios, gabinetes,
serviços, institutos, centros destinados a diversos campos da
Psicologia aplicada vinham funcionando em quase todo o Brasil
ou vinham sendo instalados nos anos subseqüentes. Os meios
de controle de qualificação de seus responsáveis eram
praticamente inexistentes. Urgia a adoção de políticas que
viabilizassem a formação adequada e o controle da prática
psicológica em defesa da população e da própria imagem da
profissão. Dentre essas iniciativas, a mais importante por sua
abrangência, duração e formalidade, foi, sem dúvida, a que
levou ao Curso de Psicologia, instituído em São Paulo (Lei
Estadual no 3862, de 26.05.57) e que funcionou na USP a partir
de 1958. A alcançou maior influência no país, por quase sempre
recrutar alunos em vários estados, ocorreu no Rio de Janeiro, no
ISOP (Instituto de Seleção e Orientação Profissional da
Fundação Getúlio Vargas), sob a liderança de Emílio Mira y
López. De fato, desde o histórico “curso do DASP”, de 1945, e
sobretudo após sua vinda definitiva para o Brasil, em 1947, com
a finalidade de dirigir o ISOP, Mira y López exerceu por longos
anos uma importante participação no treinamento de
psicólogos. 161
“Sabe-se que, em 1957, eram mais de mil pessoas

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ocupadas em várias atividades profissionais no âmbito
da Psicologia. Essas pessoas empenhavam-se em suas
ocupações e preocupavam-se com o futuro da profissão. A
criação de entidades nacionais ou estaduais, como a Associação
Brasileira de Psicólogos, a Associação Brasileira de Psicotécnica,
a Sociedade Brasileira de Psicologia, a Associação Paulista de
Psicologia e a Associação Mineira de Psicologia, teve um papel
relevante no processo de aproximação dos profissionais que
trabalhavam na área, mas não poderia ser suficiente para se
proceder ao cadastramento de todos os psicólogos atuando
profissionalmente no país.” (Pessotti, 1988. p. 34)
Tal cadastramento só seria possível a partir da Lei no
4119, de 27 de agosto de 1962, cujo artigo 19 concedia o prazo
de 180 dias para os interessados requererem ao MEC o registro
profissional de Psicólogos.
“Esse é, em síntese, o quadro histórico hoje possível da
Psicologia no Brasil, nesse período em que, por caminhos
diversos e processos diferentes, esta ciência conquistou o seu
espaço próprio como área de conhecimento e campo de ação,
concomitantemente e diretamente relacionado à penetração
de teorias, modelos de atuação e técnicas da Psicologia, já na
condição de ciência autônoma tal como concebida na Europa e
nos Estados Unidos. Esse processo foi determinado por fatores
presentes na sociedade brasileira, os quais constituíram-se
como condições necessárias para que tal desenvolvimento
pudesse ocorrer. Entretanto, esse conjunto de determinantes
não foi o único, nem ocorreu de forma isolada, pois a evolução
geral da Psicologia na Europa e nos Estados Unidos constituiu-se
como elemento fundamental para que, integrando-se aos
fatores locais, pudessem orgânica e conjuntamente gerar as
condições que possibilitaram à Psicologia efetivar-se como
ciência e prática no cenário social brasileiro.” (Mitsuko, 1998,
121-122)

RESULTADOS

No dia 27 de agosto de 2002 comemorou-se 40 anos


da regulamentação da profissão de psicólogo, que pode ser
162
166 considerada como relativamente nova no Brasil.
José Glauco Bardella tem o número de registro no

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Conselho Regional de Psicologia de São Paulo CRP
06/0008. O número seis diz respeito à região abrangida pelo
a
Conselho Regional, e São Paulo é a 6 região. O número oito
significa que seu registro foi o oitavo a ser emitido. Glauco fez
parte do primeiro corpo de conselheiros do CRP-06 e é
testemunha do grande esforço que se travou até a
regulamentação da atuação de psicólogo no país.
Por volta de 1959 intensificou-se a luta pelo
reconhecimento da profissão de psicólogo e o Ministério da
Educação e Cultura passou a ser muito pressionado para que
isso acontecesse.
Havia várias exigências para a obtenção do
cadastramento como psicólogo. Uma delas era estar
trabalhando há pelo menos cinco anos na área, em instituição
de reconhecido valor público.
A exigência de experiência era pertinente porque,
apesar da falta de regulamentação, a psicologia já era conhecida
e vinha sendo praticada em nosso país há algumas décadas.
Estima-se que essa ciência esteja presente no Brasil há pelo
menos cem anos.
Mundialmente, o termo é muito mais antigo. Segundo
o Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil - Pioneiros
(Imago/CFP, 461 pags.), a palavra “psychologia” apareceu pela
primeira vez no século XVI, usada como equivalente erudita do
título de tratados tradicionalmente denominados De Anima, ou
seja, sobre a alma. Josef Brozek, a quem o Dicionário reputa a
pesquisa, descobriu também que termo semelhante teria sido
utilizado por Marcus Marulus, um humanista croata, no título de
sua obra Psichiologia. Isso por volta de 1530. Mas o termo figura
ali como a tradução para o latim de um neologismo bizantino, e
isso sugere que o vernáculo tenha raízes ainda mais remotas,
embora não devesse, naquela época, designar a moderna
psicologia científica florescida a partir dos fins do século XIX e
presente na atualidade.
Mas a grande novidade, demonstrada inclusive pela
publicação recente desse Dicionário, é a iniciativa inédita de
resgatar, especificamente, a história brasileira da psicologia.
Quando surgiu como atividade profissional, a
psicologia, além da clínica, ainda não tinha a versatilidade e a 163
abrangência que a caracterizam agora. Naquela época, um dos

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setores mais desenvolvidos era a psicologia industrial.
Empresas como a Estrada de Ferro Sorocabana e a Companhia
Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC), em São Paulo,
foram as primeiras a formar grupos de psicólogos. O Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) foi um dos
primeiros a formar psicotécnicos, como eram denominados na
época. E o interesse por esse campo começava a florescer
principalmente entre pessoas formadas em cursos como os de
filosofia e de pedagogia, que a partir de determinado momento
puderam começar a optar pela área, como um foco de
especialização.
O período de 1945 a 1962 foi um momento em que
começavam a ser estruturados os primeiros cursos de psicologia.
Antonio Gomes Penna foi um dos pioneiros da psicologia
brasileira. Formado em direito e em filosofia, passou a lecionar,
a partir de 1940, história da economia e depois psicologia.
Criou mais tarde, em 1964, em colaboração com Eliezer
Schneider, o curso de psicologia da Faculdade Nacional de
Filosofia, o primeiro do Rio de Janeiro. Já na década de 70,
organizou cursos de pós-graduação em psicologia na
Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Universidade
Gama Filho.
No curso de economia, ele encontrara o prof. David
Perez, detentor de uma sólida formação marxista e de grande
erudição em literatura e que, durante as aulas, falava, na
verdade, muito pouco sobre economia. Gomes Penna também
se interessou por literatura, conheceu autores como
Dostoievski, de quem obras como Crime e Castigo e Os Irmãos
Karamazov tornaram-se grande inspiração. Foi esse interesse
que o levou ao curso de direito. Mas a ditadura de Getúlio havia
banido do quadro de docentes todos os professores de
esquerda, muitos deles grandes mestres, e para Gomes Penna o
curso perdeu muito do seu interesse. Seus grandes mestres
acabaram sendo Nilton Campos e o argentino Grabois.
A paixão pessoal por essa área do conhecimento
humano, os vários tumultos políticos pelos quais passou o país, a
influência de múltiplas disciplinas e uma inequívoca vocação
para a auto-superação são ingredientes bastante comuns na
166
164 biografia desses pioneiros.
Já Durval Marcondes foi o primeiro psiquiatra brasileiro

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a se interessar em praticar clinicamente as descobertas
de Sigmund Freud. Isso a partir dos anos 20, depois de formar-se
na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1924. Ele
começa a atender pacientes neuróticos em sessões de análise. E,
a exemplo do próprio Freud, como autodidata. Em 1927,
fundava a Sociedade Brasileira de Psicanálise, em São Paulo.
Presidida por Francisco Franco da Rocha, tinha como membros,
além de médicos, vários intelectuais modernistas.
Outra página histórica importante foi escrita pela
médica alagoana Nise da Silveira (1905-1999). Nise foi uma das
grandes responsáveis pelo desenvolvimento de um tipo de
tratamento que explora os recursos artísticos como forma de
expressão do paciente psicótico. A produção nos ateliês de
pintura e modelagem tornou-se tão rica e intensa que, em 1952,
ela criou o Museu de Imagens do Inconsciente. Além de
arquivar as obras produzidas pelos pacientes, o Museu
funcionava primordialmente como um centro de tratamento e
pesquisa. A médica foi também uma precursora das idéias de
Jung no Brasil e fundou, em 1954, o Grupo de Estudos C. G.
Jung, tornado oficial em 1969. Nise conheceu Jung
pessoalmente, em 1957, quando participou do II Congresso
Internacional de Psiquiatria em Zurique. O analista suíço,
principal dissidente de Freud, ficou impressionado, na época,
com os quadros do Museu de Imagens do Inconsciente expostos
na mostra A Esquizofrenia em Imagens.
Essas e muitas outras histórias, que entrelaçam
biografias individuais à trajetória evolutiva da Psicologia no país
e à própria história brasileira, só muito recentemente
começaram a ser resgatadas e reunidas de forma sistemática. E
esse foi o propósito da pesquisa, e os resultados foram tão
interessantes e abrangentes que seria impossível descrevê-los
nesse artigo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dessa maneira, fica claro que a história dos ícones da


Psicologia nacional e a evolução da área estão intrinsecamente
ligadas à própria história nacional.
O resgate histórico de qualquer ciência é sempre 165
importante para se entender a evolução dos processos e suas

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posições no contexto geral. Sendo assim, o histórico da
Psicologia torna-se ainda mais interessante por estar
constantemente ligado às outras áreas como a Medicina, a
Filosofia, à Ética e às diversas áreas do conhecimento até mesmo
com aquelas de domínio recente, como a cibernética, no que
tange às pesquisas sobre inteligência artificial, por exemplo.
Sobre o papel social da profissão, notamos que a
Psicologia, por adotar uma postura de respeito às diferenças,
mescla-se às políticas sociais.
Trata-se de uma ciência em constante relação com os
fatos e com o momento histórico e que apesar da evolução da
profissão também sofre as mudanças e as ações impostas por
este mesmo tempo. É o caso, por exemplo, do número
excessivo de novos profissionais que são colocados anualmente
no mercado. Uma preocupação constante dos formadores que
acreditam que este excesso pode comprometer a qualidade.
Muitas pessoas freqüentam o curso mas não conseguem exercer
a profissão, mas é preciso reconhecer que o curso permite uma
formação humanística a ser aproveitada em qualquer outra
área.
Uma outra questão é que apesar dos quase cem anos
de atuação de fato, a Psicologia no Brasil ainda é vista como uma
ciência de elite e muito pouco preocupada com os destinos da
sociedade. Contudo a própria vontade presente na base da
categoria e o esforço em se construir políticas públicas tem a
intenção de promover o acesso da população a este tipo de
assistência sem desconsiderar o comprometimento com a ética
profissional.
Enfim, uma ciência complexa e importante, um
histórico rico, profissionais notáveis, ou seja há muito para se
comemorar com relação às conquistas da psicologia no Brasil.
Mas o fundamental é entender que as reflexões nunca
terminam, assim como a atuação profissional e a sua
contribuição para a evolução da humanidade.
No Brasil, sabemos que existiu e ainda existe forte
pressão da área médica para levar a um estado de dependência,
que ameaça a identidade profissional do psicólogo e a
autonomia científica e técnica, quanto à prática psicológica. As
166 vertentes médicas características da Psicologia como uma
ciência da saúde extrapolam sua legitimidade, quando o

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problema se põe nos termos de supremacia de um
profissional sobre outro, ainda que seja óbvia a diversidade de
campos, formação e competências. No fundo, o que existiu no
período de 1945 a 1962, e se estendeu aos nossos dias, foi a luta
pela preservação de um mercado de trabalho, cujo preço seria a
subordinação profissional do psicólogo.
Daí, o caráter de luta e movimento que se instalou no
Brasil no período de 1945 a 1962, e persiste 41 anos depois, em
prol da instituição de cursos universitários de graduação em
Psicologia qualificados e, ao mesmo tempo, da aceitação do
profissional de Psicologia dentro da realidade brasileira,
ocupando o lugar que lhe é de direito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, M. A. M. A Psicologia no Brasil: leitura histórica


sobre sua constituição. São Paulo: Unimarco, 1998.

LE GOFF, J. A nova história. Lisboa: Setenta, 1986.

MASSIMI, M. Considerações gerais sobre psicologia e


história. São Paulo: EPU, 1994.

PESSOTTI, Isaías. Notas para uma história da psicologia


brasileira. In: ______. Quem é o psicólogo brasileiro? São
Paulo: EDICON, 1988. p.32-35.

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