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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSICOLOGIA

O grande marco da regulamentação da profissão, sem dúvida, é a Lei nº 4119 de 27 de agosto


de 1962, porém devemos considerar o movimento anterior de formação de uma emergente
categoria profissional.

No início do século XX, o saber psicológico, cuja recepção no Brasil ocorreu vinculado
a outros campos – como o médico, o educacional e o jurídico – começa a adquirir um
campo de atuação próprio, com instituições próprias e sujeitos que se reconhecem
como estudiosos/profissionais da Psicologia. Tais condições de autonomização da
Psicologia passam evidentemente pela constituição dos primeiros laboratórios
experimentais de Psicologia, dentre os quais (para citar o caso específico do Rio de
Janeiro, então capital federal) se destacam os laboratórios do Pedagogium (1896) e
da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro (1923). (Delgani-Carneiro, 2014)

As primeiras iniciativas não foram efetivadas por pressões de outras classes profissonais e
sociais (como médicos e católicos) e só entre as décadas de 1930 e 1950 diversos profissionais
manifestaram mais afincamente interesse pelos estudos e práticas em psicologia. Permeado
este período, a psicologia vai migrando de um conhecimento complementar para um campo
autônomo campo de saber.

Logo após, surge a ABP (Associação Brasileira de Psicotécnica) que elaborou o primeiro
anteprojeto de reconhecimento legal da profissão, que foi publicado em 1954 e encaminhado
ao Ministério da Educação. Nesta proposta de currículo para os cursos de Psicologia, ele seria
composto de duas fases: o de bacharelado, com duração de três anos e em seguida, uma
licenciatura, também de 3 anos (que poderia ser feita em três ramos de aplicação: educação,
trabalho e clínica psicológica).

Começou então uma ebulição de pensamentos e práticas próprias do país, com mudanças em
diferentes áreas. Houve então uma crise nas três principais atuações profissionais daquele
momento. Porém as mudanças começam de fato a ser implementadas no conjunto da
categoria e na formação do psicólogo entre os anos 1980 e 1990.

REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO

A proposta da ABP em 1954 recebeu muitas críticas por dar margens ao charlatanismo e uma
nova proposta foi elaborada em 1957. Esta, contém a essência da lei que foi aprovada na
Câmara dos Deputados e sancionada pelo então presidente João Goulart em 27 de agosto de
1962. Na Lei aprovada e sancionada eram estabelecidos três títulos distintos:

o bacharelado (que forma teóricos, estudiosos e pesquisadores da Psicologia), b) a


licenciatura (que forma professores de psicologia para o ensino médio e técnico) e c)
a formação de psicólogo (que forma os profissionais propriamente ditos, que atuam
com Psicologia).(Delgani-Carneiro, 2014)
Todos os conceitos e diretrizes desta lei refletem o estado de atuação hegemonicamente
psicométrico, ou seja, a utilização de testes psicológicos, e também estabelece a divisão
clássica da psicologia nas áreas de trabalho, escola e clínica.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) e os Conselhos Regionais foram criados pela


Lei nº 5.766, de 20/12/1971. As funções destas autarquias são fiscalizar e orientar o
exercício profissional para garantir o compromisso ético na prestação de serviços
psicológicos à sociedade; as duas entidades foram responsáveis pela construção do
primeiro Código de Ética do Psicólogo, publicado em 1975. (OLIVEIRA, Irani Tomiatto
de et AL)

Em 1988, com a aprovação e vigência da Constituição Federal, o Conselho Federal de


Psicologia (CFP) passou a seguir uma vocação mais crítico-social, criando inúmeras Comissões
comprometidas com a realidade brasileira.

A primeira grande publicação que define o papel do psicólogo foi o livro “Quem é o Psicólogo
Brasileiro? (Conselho Federal de Psicologia, 1988)” que aborda as práticas clínicas em atuação
de Psicologia. Em 1992 ocorreu o que ficou conhecido como Encontro de Serra Negra, que
tratou dos princípios norteadores para formação acadêmica, a forma de contemplação deste
no currículo e nos estágios.

O Encontro de Serra Negra, como ficou conhecido, teve como resultados a Carta de
Serra Negra, importante documento sobre a formação profissional da(o) psicóloga(o)
brasileira(o) (Conselho Federal de Psicologia, 1992a), e a aprovação, em plenária, dos
seguintes princípios norteadores para a formação acadêmica:
 Desenvolver a consciência política de cidadania e o compromisso com a realidade
social e a qualidade de vida;
 Desenvolver atitude de construção de conhecimentos, enfatizando uma postura
crítica, investigadora e criativa, fomentando a pesquisa em um contexto de ação-
reflexão-ação, bem como viabilizando a produção técnico-científica;
 Desenvolver o compromisso da ação profissional cotidiana, baseada em
princípios éticos, estimulando a reflexão permanente desses fundamentos;
 Desenvolver o sentido da universidade, contemplando a interdisciplinaridade e a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão;
 Desenvolver a formação básica pluralista, fundamentada na discussão
epistemológica, visando à consolidação de práticas profissionais, conforme a
realidade sociocultural, adequando o currículo pleno de cada agência formadora ao
contexto regional;
 Desenvolver uma concepção de homem compreendido em sua integralidade e na
dinâmica de suas condições concretas de existência;
 Desenvolver práticas de interlocução entre os diversos segmentos acadêmicos,
para avaliação permanente do processo de formação.
(OLIVEIRA, Irani Tomiatto de et AL)

A Carta de Serra Negra trouxe elementos importantes como a subjetividade das várias
dimensões do ser humano, a interdisciplinaridade utilizada no cotidiano e principalmente o
compromisso com a realidade sociocultural brasileira. Em suma, abriu novos horizontes e
ampliou a visão sobre conceitos e práticas profissionais.

Foi em 1995 que o Ministério da Educação reuniu e formou uma comissão de especialistas em
ensino de Psicologia para elaborar as diretrizes curriculares para a graduação em substituição
ao antigo currículo mínimo. O documento produzido organizou-se em dez diretrizes:

1. Garantir formação básica pluralista e sólida;


2. Garantir formação generalista;
3. Garantir formação interdisciplinar;
4. Preparar o psicólogo para a atuação multiprofissional;
5. Assegurar formação científica, crítica, reflexiva;
6. Permitir a efetiva integração teoria-prática;
7. Atender às demandas sociais;
8. Compromisso ético deve permear todo o currículo;
9. Romper com o modelo de atuação tecnicista;
10. Precisar as terminalidades dos cursos de Psicologia.

Em 1997, o Ministério da Saúde promulgou a Resolução CNS nº 218, que reconheceu


a Psicologia como uma das treze categorias profissionais de nível superior que
compõem a área da saúde. Ficou assim formalizada essa inserção, a partir de uma
compreensão ampliada de saúde e do compromisso da Psicologia com a promoção da
dignidade e integridade humanas. Nesse mesmo ano, a Portaria Interministerial nº
880 MEC/MS criou a Comissão Interministerial para definir e propor critérios e
parâmetros para autorização de cursos de graduação em Medicina, Odontologia e
Psicologia. No ano seguinte, o CNS ampliou o número de profissões de saúde
reconhecidas, reafirmando a presença da Psicologia entre elas na Resolução CNS
nº 287 de 8 de outubro 1998. (OLIVEIRA, Irani Tomiatto de et AL)

Para que haja uma normatização sobre o ensino de Psicologia no Brasil, em 1999 foi criada a
Associação Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP. A entidade veio para propor e coordenar
reflexões sobre experiências educacionais e aplicação de conhecimentos para auxiliar na
complexidade das problemáticas humanas.

Desde então, e com a chegada do século XXI, a Psicologia vive um processo de discussões e
profissionalização mais madura, com o aumento das faculdades de Psicologia, ações e
discussões sobre a valorização do profissional, análise constante da qualidade da formação
acadêmica, novos espaços de atuação e novos dilemas éticos.

ÁREAS DE ATUAÇÃO INICIAIS DA PSICOLOGIA

Como citado anteriormente, inicialmente, em 1962 quando a psicologia foi regulamentada no


Brasil, só existiam três áreas de atuação: educação, trabalho e clínica psicológica. Com grande
interesse dos psicólogos pela área clínica com maior ênfase na psicanalise e menor interesse
na área escolar. Segundo a lei que regulamentava a profissão era conferido o direito de utilizar
métodos e técnicas psicológicas com os objetivos de: diagnostico psicológico, orientação e
seleção profissional, orientação psicopedagógica e solução de problemas de ajustamento.

Em relação as três áreas então existentes, podemos entender:

Psicologia na educação:

Psicologia do trabalho:

Clínica psicológica:

Atualmente, segundo a resolução Nº03/2022 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) são


reconhecidas treze áreas de especialidades profissionais da psicologia, que são elas:
https://ripehp.com/2014/08/27/27-de-agosto-o-processo-de-regulamentacao-da-profissao-
de-psicologo-no-brasil/
OLIVEIRA, Irani Tomiatto de et al . Formação em Psicologia no Brasil: Aspectos Históricos e Desafios Contemporâneos. Psicol. Ensino & Form., São Paulo , v. 8, n. 1, p. 3-15, jun. 2017 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-20612017000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 out. 2023. http://dx.doi.org/10.21826/2179-5800201781315.

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