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DESCRIÇÃO

A relação entre prática profissional, legislação e ética no exercício de especialidades


da
Psicologia em escolas, hospitais, organizações e na psicoterapia.

PROPÓSITO
Conhecer os principais pontos de aproximação entre a realidade profissional, a legislação
e a
ética permite entender os limites, as melhores práticas e a regulação de seu escopo
de
trabalho como psicólogo.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Identificar o recorte legal e ético de atuação da


Psicologia Escolar

MÓDULO 2

Reconhecer a dimensão legal e ética de atuação da


Psicologia Hospitalar

MÓDULO 3

Identificar o recorte legal e ético de atuação da


Psicologia Organizacional
MÓDULO 4

Analisar o cenário legal e ético na Psicoterapia

INTRODUÇÃO
A prática profissional de qualquer psicólogo é marcada por inúmeras questões legais e
éticas
muito profundas e complexas, a começar por sua regulamentação como profissão no
país feita
pela Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962.

Neste conteúdo, trataremos da inter-relação entre prática profissional, legislação e


ética para
formar a base sólida de inserção profissional do psicólogo desde a criação
dos Conselhos de
Psicologia pela Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de 1971. Veremos este
conteúdo em detalhes
para algumas especialidades como a Psicologia Escolar, a Psicologia
Hospitalar, a Psicologia
Organizacional e a Psicoterapia.

MÓDULO 1

 Identificar o recorte legal e


ético de atuação da Psicologia Escolar

O ESCOPO DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO


EDUCACIONAL
Você sabe quais são as funções e o papel do psicólogo escolar no seu campo de atuação?

O escopo de atuação do psicólogo educacional foi descrito enquanto ramo profissional pelo
Conselho Federal de Psicologia (CFP) e enviado à Classificação Brasileira de Ocupações
(CBO) em 1992. Além disso, o próprio CFP regulamenta essa especialidade na Resolução nº
13/2007, explicando em detalhes como se dá toda a atuação desse profissional em escolas
e
instituições de ensino.

A Psicologia Escolar reúne inúmeras iniciativas e possibilidades de reverter e


transformar a
tendência individualizante e medicalizante, levantando diversas reflexões
sobre a complexa
dinâmica das relações sociais que efetivamente têm influência sobre o
processo de
aprendizagem. Para tornar claras as dificuldades de aprendizagem ao lidar
com diversos
sujeitos e suas respectivas subjetividades, o psicólogo deve trabalhar em
um time que envolve
toda a comunidade escolar, incluindo os professores. Essa parceria
atua na prevenção da
evasão escolar, em situações de violência nas escolas e em muitas
outras questões que são
atravessadas por vivências de extrema pobreza, racismo,
discriminação de gênero e de
orientação sexual (CFP, 2019b).

CLASSIFICAÇÃO DA ESPECIALIDADE EM
PSICOLOGIA ESCOLAR
Antes de mais nada, é importante entendermos o registro e a regulamentação da prática
profissional, bem como o seu escopo de atuação, para que tenhamos uma ideia tanto das
possíveis contribuições dessa prática para a sociedade quanto de seus limites.

A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) identifica as ocupações no mercado de


trabalho, de maneira a classificá-las junto aos órgãos de registro. Essa classificação
fica
disponível e acessível a todos no site do Ministério do Trabalho e nela podemos
obter as
principais atribuições e escopo de diversos ramos da Psicologia.

Em 1992, o Conselho Federal de Psicologia fez uma contribuição ao Ministério do Trabalho


para integrar o chamado Catálogo Brasileiro de Ocupações à época. Foi desta forma que o
CFP descreveu o cenário para o psicólogo educacional:

“ATUA NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO, NAS


INSTITUIÇÕES FORMAIS OU INFORMAIS. COLABORA
PARA A COMPREENSÃO E PARA A MUDANÇA DO
COMPORTAMENTO DE EDUCADORES E EDUCANDOS,
NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM, NAS
RELAÇÕES INTERPESSOAIS E NOS PROCESSOS
INTRAPESSOAIS, REFERINDO-SE SEMPRE ÀS
DIMENSÕES POLÍTICA, ECONÔMICA, SOCIAL E
CULTURAL. REALIZA PESQUISA, DIAGNÓSTICO E
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA INDIVIDUAL OU
EM GRUPOS. PARTICIPA TAMBÉM DA ELABORAÇÃO
DE PLANOS E POLÍTICAS REFERENTES AO SISTEMA
EDUCACIONAL, VISANDO PROMOVER A
QUALIDADE,
A VALORIZAÇÃO E A DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO”

(CFP, 1992, p. 5)
Perceba que não há aqui nenhum incentivo a uma atuação direcionada para a adaptação do
comportamento, isto é, o uso de intervenções voltadas para a correção e o enquadramento
de
comportamentos considerados desejáveis na escola, o que poderia contribuir
diretamente para:

A patologização do comportamento.

A psicologização do espaço escolar, de maneira a atribuir o conceito de culpa do


aluno
pela sua própria dificuldade em aprender.

A isenção das demais partes envolvidas no caminho educacional sobre seu papel
efetivo
nas dificuldades de aprendizagem do aluno.

A normatização de posturas.

Os processos de exclusão em relação ao conjunto de alunos.

A Resolução nº 13/2007 nos dá maiores detalhes sobre o campo de atuação desse


profissional. Esse documento diz que o psicólogo escolar atua no processo de
ensino-
aprendizagem em conjunto com diversos profissionais em
equipes interdisciplinares,
elaborando, implantando, avaliando,
reformulando currículos escolares, projetos pedagógicos,
políticas educacionais e
procedimentos educacionais.

De forma geral, ele realiza intervenções e análises psicopedagógicas sobre o


desenvolvimento
humano, integrando família, escola e rede de apoio para promover um
desenvolvimento
integral, visando à qualidade de vida e aos cuidados indispensáveis às
atividades acadêmicas.

É importante que o psicólogo escolar entenda que


sua análise e intervenção vão além dos
muros da escola.

Esse profissional não pode e nem deve desconsiderar ou negar questões como o contexto
social e a realidade familiar do indivíduo, além do caráter histórico-cultural da
subjetividade. Em
outras palavras, não se pode fragmentar o sujeito e nem separá-lo de
sua história.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS E PSICOLOGIA ESCOLAR

Já está claro como a Psicologia Escolar se situa em termos de registro de ocupação no


Brasil,
mas como isso se dá no mundo?

Bem, toda a articulação de atuação da Psicologia deve, antes de tudo, considerar a


Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Essa declaração foi elaborada após a Segunda
Guerra
Mundial, em 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas (Resolução ONU nº 217-A,
de 10
de dezembro de 1948), como tentativa de blindar as gerações que viriam no futuro
contra os
sofrimentos das guerras. Trata-se de um grande acordo mundial para a garantia
da dignidade,
da paz e da segurança dentro do princípio fundamental de igualdade.

Dentre os diversos artigos da Declaração, podemos, então, destacar o seguinte:

“ART. 26:

1. TODO SER HUMANO TEM DIREITO À INSTRUÇÃO. A


INSTRUÇÃO SERÁ GRATUITA, PELO
MENOS NOS
GRAUS ELEMENTARES E FUNDAMENTAIS. A
INSTRUÇÃO ELEMENTAR SERÁ OBRIGATÓRIA.
[...].

2. A INSTRUÇÃO SERÁ ORIENTADA NO SENTIDO DO


PLENO DESENVOLVIMENTO DA
PERSONALIDADE
HUMANA E DO FORTALECIMENTO DO RESPEITO
PELOS DIREITOS DO SER HUMANO E
PELAS
LIBERDADES FUNDAMENTAIS. [...]”

(ONU, 1948, n. p.)

Esse artigo é, sem dúvida, uma das bases que definem a educação como um direito básico e
universal, fato que também é descrito na Constituição Federal de 1988, nos artigos 6º e
205.

No art. 6º, a educação é descrita, junto à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia e


outros, como parte dos direitos sociais na forma dessa Constituição. Já no art. 205, a
educação
é especificada como um direito de todos, assim como um dever do Estado e da
família e,
portanto, ela deve ser promovida e defendida pela sociedade, a fim de
estimular o pleno
desenvolvimento para o exercício da cidadania e da autonomia das
pessoas (BRASIL, 1988).

Note que esse entendimento é importante para situar a atuação do psicólogo escolar.
Imagine
um quadro de desinvestimento de políticas públicas, marcado por ataques
ao conteúdo
do conhecimento científico e à própria ideia da educação como direito
universal. O que
aconteceria?

Essa lamentável situação fatalmente conduziria à ruína de toda a estrutura básica de


sustentação da educação no país. Por esse motivo, a prevenção de qualquer descaso com
esses direitos básicos demanda a atuação direta do psicólogo escolar para a reafirmação
do
engajamento em prol de uma educação democrática, levantando a bandeira da pluralidade
e
da diversidade humanas.

A educação é fundamentalmente um direito humano, subjetivo, decisivo na construção das


relações sociais, políticas, culturais e econômicas. Dessa forma, a Psicologia Escolar
assume
aqui o protagonismo na defesa do direito universal da educação e de políticas
públicas que
sustentem qualitativamente o processo de aprendizagem.
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL E
PSICOLOGIA ESCOLAR

Você pode estar se perguntando o seguinte: “E como o Código de Ética Profissional


entra
nessa história?”

Podemos recorrer ao Código de Ética Profissional do Psicólogo (Resolução CFP nº 10/2005),


elaborado pelo Conselho Federal de Psicologia (2005), e destacar três de seus princípios
fundamentais:

“I. O PSICÓLOGO BASEARÁ O SEU TRABALHO NO


RESPEITO E NA PROMOÇÃO DA LIBERDADE, DA
DIGNIDADE, DA IGUALDADE E DA INTEGRIDADE DO
SER HUMANO, APOIADO NOS VALORES QUE
EMBASAM A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
DIREITOS HUMANOS.

II. O PSICÓLOGO TRABALHARÁ VISANDO PROMOVER


A SAÚDE E A QUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS E
DAS COLETIVIDADES E CONTRIBUIRÁ PARA A
ELIMINAÇÃO DE QUAISQUER FORMAS DE
NEGLIGÊNCIA, DISCRIMINAÇÃO, EXPLORAÇÃO,
VIOLÊNCIA, CRUELDADE E OPRESSÃO.

III. O PSICÓLOGO ATUARÁ COM RESPONSABILIDADE


SOCIAL, ANALISANDO CRÍTICA E HISTORICAMENTE A
REALIDADE POLÍTICA, ECONÔMICA, SOCIAL E
CULTURAL.”

(CFP, 2005, n. p.)

É possível verificar, então, que tanto a Classificação Brasileira de Ocupações quanto a


Resolução nº 13/2007 do CFP, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Código de
Ética Profissional do Psicólogo apresentam visões parecidas sobre esse assunto. Todos
trazem
a clara perspectiva de uma atuação mais dinâmica e abrangente do psicólogo
escolar,
extrapolando as barreiras da escola e fazendo a promoção da saúde e do
bem-estar com base
na mediação dos processos de aprendizagem e do desenvolvimento
humano.

Toda a dimensão ética descrita no Código embasa a atuação do psicólogo no cotidiano


escolar.
É vital que esse profissional tome como prioridade o conhecimento sobre as
direções éticas
que permeiam o cotidiano escolar, de maneira a levantar reflexões acerca
da finalidade da
instituição (escola), do público que a compõe, bem como do debate sobre
a influência do
contexto social no campo da Educação.

O campo de atuação desse profissional deve ser fonte de emancipação para a comunidade e
para todos os profissionais de uma escola, por meio do incentivo a um espaço
compartilhado
de escolhas e de práticas participativas, que, gradativamente, são
assimiladas pelos próprios
profissionais da escola, pela comunidade em si, pelas
famílias e pelas crianças.

O projeto fundamental da Psicologia Escolar e Educacional deve visar à coletivização de


práticas de formação de qualidade para todos, enaltecendo o trabalho do professor e
consolidando um ambiente de relações democráticas. Todo esse cenário afasta, assim, a
possibilidade de processos de medicalização, patologização e judicialização da vida de
educadores e estudantes. A diretriz de atuação deve, então, ser pautada pela defesa de
políticas públicas que possibilitem o desenvolvimento de todos, de maneira a atenuar e
prevenir processos de exclusão e estigmatização social (CFP, 2019b).

O PSICÓLOGO ESCOLAR E O CÓDIGO DE


ÉTICA
PROFISSIONAL
Neste vídeo, o professor reflete sobre o papel e as
responsabilidades do psicólogo escolar,
bem como sobre as orientações do Código de Ética
Profissional do Psicólogo.

VEM QUE EU TE EXPLICO!


Classificação da especialidade em Psicologia
Escolar

Declaração Universal dos Direitos Humanos &


Psicologia Escolar

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Reconhecer a dimensão legal e


ética de atuação da Psicologia Hospitalar
PSICOLOGIA HOSPITALAR
Agora que entendemos o recorte de atuação e as questões éticas que envolvem a atuação do
psicólogo em uma escola, podemos ampliar essa análise para outros tipos de contextos. E
que
tal o hospital?

Assim como a escola, o hospital pode ser considerado uma das instituições básicas nas
nossas vidas. Até onde nossa memória alcança, o hospital sempre foi citado como algo que
é
parte viva e integrante de nosso cotidiano e da nossa sociedade. E, é claro, onde
temos
pessoas inseridas em um contexto, temos também a atuação da Psicologia.

A fundação da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH), em 1997, é um marco


histórico muito importante na definição do lugar do psicólogo em hospitais. Seu
compromisso é
o de legitimar a práxis do psicólogo hospitalar, de maneira a fortalecer
essa especialidade da
Psicologia. Portanto, há toda uma fundamentação teórica, técnica e
científica para a atuação
desse profissional da Saúde dentro dos hospitais.

CLASSIFICAÇÃO DA ESPECIALIDADE EM
PSICOLOGIA HOSPITALAR

O que diz a Classificação Brasileira de Ocupações?


O CBO não apresenta uma definição específica sobre a atuação do psicólogo hospitalar, mas
registra essa especialidade como ramo profissional da Psicologia.

Esse registro segue a Resolução nº 13/2007 do CFP, que regulamenta a prática profissional
do
psicólogo hospitalar e traz um recorte da atuação profissional nos hospitais dentro
de equipes
interdisciplinares.

O psicólogo hospitalar atua, então, nas seguintes questões, de maneira a contribuir para
o
bem-estar físico e emocional do paciente:

Atende os pacientes, familiares e/ou responsáveis pelos pacientes (cuidadores, por


exemplo).

Atende membros da comunidade dentro de sua área de atuação, membros da equipe


médica
e, eventualmente, da equipe administrativa.

Desenvolve atividades em diferentes níveis de tratamento, sendo suas principais


tarefas
a avaliação e o acompanhamento emocional e psíquico dos pacientes que serão
submetidos a procedimentos médicos.

Promove intervenções direcionadas à relação médico-paciente, paciente-família e


paciente-paciente.

Levando em conta esses direcionamentos, o psicólogo hospitalar deve considerar o


histórico
médico do paciente, além de atuar de forma breve e focal. Mas o que isso quer
dizer?

Quer dizer que o psicólogo hospitalar deve se voltar ao contexto geral do paciente,
considerando duas grandes tríades de atuação: a tríade de ação e a tríade de
atuação.

E o que são essas tais tríades?

Tríades nada mais são que um conjunto de três elementos que são considerados. Veja a
seguir:

TRÍADE DE AÇÃO
O contexto do adoecimento.

O contexto da hospitalização.

O contexto do tratamento da doença.


Neste ponto, é importante levantarmos a seguintes reflexão: “O que é
a doença para o
paciente?”. Lembre-se de que o paciente tem
diversos estímulos reforçadores fora do
hospital. Ele tem saúde, trabalho,
família, é produtivo, tem seu momento de lazer, até que um
dia ele fica
doente.

É nesse momento que o paciente tem que sair desse ambiente familiar e
acolhedor para ir ao
hospital. Na verdade, ele deixa de ter a saúde que
tinha anteriormente, o que lhe causa um
impacto muito grande. É justamente
isso que o psicólogo precisa avaliar, além de, obviamente,
entender como o
diagnóstico repercute em todo o contexto familiar e social do paciente.

A hospitalização segue esse curso e traz um cenário hostil e


difícil, fazendo com que o
paciente se torne totalmente dependente e perca
sua liberdade e autonomia,
independentemente do tempo de internação. O
acompanhamento psicológico atua na
interpretação dessa experiência negativa
para tornar o contexto hospitalar um provedor de
saúde.

O tratamento, por sua vez, tende a representar algo


positivo, mas nem sempre é assim, pois
ele pode ser invasivo e trazer
diversos efeitos colaterais, por exemplo. Esse cenário, às vezes,
gera um
comportamento de fuga e esquiva do tratamento, tanto por dificuldade de
compreensão quanto por influência emocional.

TRÍADE DE ATUAÇÃO
O paciente.

A família e/ou responsáveis e cuidadores.

A equipe interdisciplinar do hospital.

Com o paciente, o psicólogo atua na compreensão de todo o


processo e de todas as
possíveis alterações emocionais e comportamentais.
Ele serve ainda como facilitador na
comunicação entre paciente-família,
família-paciente, paciente-equipe, equipe-paciente,
família-equipe e
equipe-família.

E por que esse processo de compreensão e comunicação é importante?

Porque muitas vezes a família pode, por exemplo, interferir


diretamente no tratamento por falta
de compreensão do diagnóstico e do
contexto emocional do paciente, apresentando certo
desalinhamento emocional.
Além disso, a equipe de Saúde pode ter dificuldade na
compreensão da fragilidade emocional do paciente. Isso gera um grande ruído
no meio de todo
esse contexto e o psicólogo precisa, então, manter essa
função de mediador que é marcada
pela psicoeducação.

DIREITO À SAÚDE E PSICOLOGIA HOSPITALAR

A Constituição Federal de 1988 nos mostra a base fundamental da atuação em Saúde no país:

“ART. 6º: SÃO DIREITOS SOCIAIS A EDUCAÇÃO, A


SAÚDE, A ALIMENTAÇÃO, O TRABALHO, A MORADIA,
O TRANSPORTE, O LAZER,
A SEGURANÇA, A
PREVIDÊNCIA SOCIAL, A PROTEÇÃO À
MATERNIDADE E À INFÂNCIA, A
ASSISTÊNCIA AOS
DESAMPARADOS, NA FORMA DESTA CONSTITUIÇÃO.
[...]

ART. 196: A SAÚDE É DIREITO DE TODOS E DEVER DO


ESTADO,
GARANTIDO MEDIANTE POLÍTICAS SOCIAIS
E ECONÔMICAS QUE VISEM À REDUÇÃO DO RISCO
DE
DOENÇA E DE OUTROS AGRAVOS E AO ACESSO
UNIVERSAL E IGUALITÁRIO ÀS AÇÕES E SERVIÇOS
PARA SUA PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E
RECUPERAÇÃO”

(BRASIL, 1988, grifo nosso)

Podemos notar que é um direito básico de cada cidadão a atenção em Saúde por parte do
Estado. Foi partindo desse princípio que se deu a consolidação do Sistema Único de Saúde
(SUS) no Brasil, com o objetivo de tornar claro o papel do Estado e a respectiva forma
de
administrar a Saúde Pública.

O SUS foi concebido, de fato, na Constituição de


1988 e efetivado em 1990 por meio das leis
nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8.142,
de 28 de dezembro de 1990, que
estabeleceram os princípios fundamentais do sistema e as
suas diretrizes administrativas.

A própria Lei nº 8080/1990 já abre seus artigos nos dizendo o seguinte:

“Art. 2º – A saúde é um direito fundamental do ser


humano, devendo o Estado prover as
condições indispensáveis ao seu pleno exercício.”
(LEI Nº 8080/1990).

Veja que o desenho de fundamentação do direito à saúde é retratado desde a Constituição


até
todas as outras leis que vêm em seguida. Isso é extremamente importante porque
norteia
diretamente todo o trabalho dos profissionais de Saúde, incluindo o psicólogo
hospitalar.

O trabalho desse profissional no SUS se insere na chamada atenção terciária ou de alta


complexidade ou de alta tecnologia, como os transplantados. Entretanto, a Psicologia
também
pode se enquadrar em serviços de atenção secundária, isto é, ambulatórios que
atendem, por
exemplo, gestantes de alto risco, bebês prematuros, portadores de HIV,
pacientes renais
crônicos, oncológicos e em reabilitação pós-hospitalização (amputações
e cirurgias complexas,
entre outros).

Nesse cenário, é importante lembrar que o SUS passou por um processo de transformação. O
sistema era marcado pelo cuidado hospitalar centrado somente em procedimentos
tecnológicos, que davam origem a uma atenção em Saúde totalmente quebrada e
desorganizada, arruinando todo o cuidado, gerando a decepção dos usuários e levando à
baixa
eficiência do sistema.

A migração de atuação se deu com a Política Nacional de Atenção Hospitalar, que


centralizou
a atuação do profissional de Saúde na preocupação com a humanização baseada
na chamada
clínica ampliada, isto é, em um conceito de saúde integral
que entende a qualidade de vida
como o resultado de um conjunto de fatores biológicos,
psicológicos e sociais.

Observe neste ponto que o exercício da Psicologia Hospitalar está, então, diretamente
ligado
ao direito básico à saúde, uma vez que toda a regulamentação legal amplia o
cenário da
atuação do psicólogo como ator fundamental na promoção de saúde e na garantia
de relações
humanizadas. Isso demanda não só competência técnica, mas também compromisso
ético e
participação cidadã desse profissional, que deve dar atenção especial às lutas
pela mudança
das condições sociais da população brasileira para a garantia dos direitos
da população e a
defesa do SUS.

Além disso, vale lembrar que o Ministério da Saúde possui várias portarias que incluem,
obrigatoriamente, o psicólogo hospitalar na equipe mínima. É o caso da Portaria nº 628,
de 26
de abril de 2001, que trata de serviços destinados à realização da cirurgia
bariátrica. Já a
Portaria nº 400, de 16 de novembro de 2009, prevê a presença de um
psicólogo na equipe de
Saúde para atenção aos ostomizados. Por sua vez, a Portaria nº
930, de 10 de maio de 2012,
recomenda que a equipe de Saúde inclua um psicólogo na
organização da atenção integral e
humanizada ao recém-nascido grave ou potencialmente
grave. Outras portarias, que podem
ser encontradas no site do Ministério da Saúde, ainda
recomendam assistência psicológica nos
serviços de média e alta complexidade, o que
inclui ambulatórios e hospitais (CFP, 2019c).

OSTOMIZADOS

“Uma pessoa ostomizada é aquela que precisou passar por uma intervenção
cirúrgica para
fazer no corpo uma abertura ou um caminho alternativo de
comunicação com o meio exterior,
para a saída de fezes ou urina, assim
como auxiliar na respiração ou na alimentação” (BRASIL,
2009, n. p.).

Mas você pode se perguntar: “É possível que o psicólogo hospitalar trabalhe em


hospitais
privados?”. E a resposta é: sim, sem dúvida. A própria Lei nº
8080/1990 nos diz o seguinte:
“Art. 21 – A assistência à saúde é livre à iniciativa
privada”, desde que assumam o
compromisso ético descrito em “Art. 22 – Na prestação de
serviços privados de assistência à
saúde, serão observados os princípios éticos e as
normas expedidas pelo órgão de direção do
Sistema Único de Saúde (SUS) quanto às
condições para seu funcionamento”.

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL E


PSICOLOGIA HOSPITALAR

O psicólogo hospitalar trabalha em conjunto com a equipe de Saúde (médicos, enfermeiros,


fisioterapeutas, administração etc.) e pode, ainda, ter contato com entidades externas à
instituição de Saúde. Além disso, quando chega ao hospital, ele já encontra uma rotina
instalada, isto é, procedimentos médicos, curativos, de enfermagem, de fisioterapia,
horários
de alimentação, enfim, uma dinâmica própria daquele contexto.

E o que fazer diante de algo já construído e consolidado? Isso inviabiliza a atuação do


psicólogo hospitalar? A resposta é não. Na verdade, é necessário manter sempre em mente
os
fundamentos básicos da Psicologia, principalmente das condutas éticas descritas no
Código de
Ética Profissional.

Trata-se de reafirmar o domínio técnico-teórico e a identidade profissional do psicólogo


hospitalar. É possível sair dos modelos tradicionais de psicoterapia para a atenção
psicológica
contextualizada nesse espaço multi e interdisciplinar sem perder de vista a
ética da tarefa de
ser psicólogo, que conecta diretamente a metodologia e os objetivos
terapêuticos, além do seu
fazer, das necessidades do paciente e daquilo que acontece nos
atendimentos em cada
encontro terapêutico (CFP, 2019d).

Dessa forma, a atuação do psicólogo em hospitais sempre será marcada por uma relação
íntima com diversos profissionais.

E como fica o sigilo das informações no atendimento? Perceba que o Código de Ética é bem
claro sobre esse tema:
“ART. 6º – O PSICÓLOGO, NO RELACIONAMENTO
COM PROFISSIONAIS NÃO PSICÓLOGOS:

[...]

B) COMPARTILHARÁ SOMENTE INFORMAÇÕES


RELEVANTES PARA QUALIFICAR O
SERVIÇO
PRESTADO, RESGUARDANDO O CARÁTER
CONFIDENCIAL DAS COMUNICAÇÕES, ASSINALANDO
A
RESPONSABILIDADE, DE QUEM AS RECEBER, DE
PRESERVAR O SIGILO.

[...]

ART. 9º – É DEVER DO PSICÓLOGO RESPEITAR O


SIGILO PROFISSIONAL A FIM DE
PROTEGER, POR
MEIO DA CONFIDENCIALIDADE, A INTIMIDADE DAS
PESSOAS, GRUPOS OU
ORGANIZAÇÕES A QUE
TENHA ACESSO NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL”

(RESOLUÇÃO CFP nº 010/2005)

Não é impossível, então, compartilhar informações com os demais componentes da equipe


interdisciplinar, mas isso deve ser feito considerando o quanto tal informação contribui
de fato
para todo o percurso terapêutico do paciente, mantendo sempre a preocupação com
as
questões emocionais que possam surgir a partir de seu compartilhamento.

É muito importante sempre ter essa concepção viva na mente. Veja:

“ART. 10 – NAS SITUAÇÕES EM QUE SE CONFIGURE


CONFLITO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DECORRENTES
DO DISPOSTO NO ART. 9º E AS AFIRMAÇÕES DOS
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DESTE CÓDIGO,
EXCETUANDO-SE OS CASOS PREVISTOS EM LEI, O
PSICÓLOGO PODERÁ DECIDIR PELA QUEBRA DE
SIGILO, BASEANDO SUA DECISÃO NA BUSCA DO
MENOR PREJUÍZO.

PARÁGRAFO ÚNICO – EM CASO DE QUEBRA DO


SIGILO PREVISTO NO CAPUT DESTE
ARTIGO, O
PSICÓLOGO DEVERÁ RESTRINGIR-SE A PRESTAR AS
INFORMAÇÕES ESTRITAMENTE
NECESSÁRIAS.”

(RESOLUÇÃO CFP nº 010/05)

O psicólogo hospitalar deve se manter crítico sobre como o hospital ou a instituição de


Saúde
funciona, que costuma conduzir seus atendimentos para um modelo de larga escala,
que visa
somente à quantidade de pacientes atendidos por setor e não a qualidade do
serviço prestado.
Não é viável estabelecer metas de atendimentos como sinônimo de
competência, isto é,
esquecer do caráter qualitativo do trabalho em Saúde, que é um
trabalho vivo e que acontece
na relação com o outro. Vale lembrar que o relacionamento
com os médicos, por exemplo, será
muito próximo e poderá haver algum tipo de discurso
que oriente para um percurso de
tratamento que não segue necessariamente as premissas
básicas de atuação do psicólogo
hospitalar.

Portanto, é fundamental que haja autonomia no trabalho do psicólogo hospitalar. Em outras


palavras, esse profissional não pode ser regulado por chefes de setores que poderiam
estabelecer demandas e processos próprios, o que significa tirar o psicólogo de qualquer
relação de poder dentro da instituição. Esse cenário é importante para que a
subjetividade
apareça como fator relevante no caminho terapêutico, respeitando a ética e
a singularidade.

O psicólogo hospitalar deve dar voz ao paciente, receber suas questões, compreender sua
condição trágica e dar suporte ao desamparo e à solidão.
O PSICÓLOGO HOSPITALAR E O SIGILO
PROFISSIONAL
Neste vídeo, o professor reflete sobre o papel e as
responsabilidades do psicólogo hospitalar
em relação ao compartilhamento de informações
com a equipe multidisciplinar e suas
implicações.

VEM QUE EU TE EXPLICO!


Classificação da especialidade em Psicologia
Hospitalar

O direito à saúde & a Psicologia Hospitalar


VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Identificar o recorte legal e


ético de atuação da Psicologia Organizacional

PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL
Imagine o quanto a vida de cada pessoa é ou já foi influenciada e afetada pelo
funcionamento
das diversas organizações. Quanto do bem-estar, da qualidade de vida e dos
problemas
pessoais não estão intimamente ligados ao trabalho?

Não há, então, separação possível entre o mundo do trabalho e a vida pessoal de cada um.
É
tarefa central do psicólogo organizacional explorar, analisar e compreender como
funciona a
dinâmica de interação das diversas dimensões da vida das pessoas, dos grupos
e das
organizações, em um mundo extremamente volátil e complexo, de maneira a preservar
a
qualidade de vida e o bem-estar das pessoas.
CLASSIFICAÇÃO DA ESPECIALIDADE EM
PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

Em 1992, o CFP fez uma contribuição ao CBO descrevendo as atividades do psicólogo


organizacional. O recorte de atuação desse profissional envolvia propostas de atividades
mais
tradicionais. O psicólogo teria uma atuação que iria desde processos de
recrutamento e
seleção, passando por treinamento e avaliação de desempenho, até
programas de promoção
de saúde e bem-estar. Nessa época, o foco de inserção do psicólogo
na organização estava na
adaptação e na compreensão do local e das relações de trabalho
em uma dimensão mais
operacional.

A Resolução nº 13/2007 do CFP expandiu essa compreensão sobre o papel do psicólogo


organizacional e trouxe uma perspectiva muito mais abrangente em termos de
regulamentação
profissional e espaço em organizações.

Com isso, o escopo de atuação passou a ser voltado para análises mais conectadas com a
organização como um todo. Há aqui maior destaque para atividades voltadas à análise e ao
desenvolvimento organizacional, ao desenvolvimento de equipes, à consultoria
organizacional,
ao estudo e planejamento das condições de trabalho, além de estudos e
intervenções dirigidos
à saúde do trabalhador.
Dessa forma, as funções do psicólogo organizacional ganham corpo, permitindo que esse
profissional atue na promoção de programas e atividades em saúde e segurança do
trabalho,
relacionando aspectos psicossociais para garantir condições ocupacionais
satisfatórias.
Envolvem também ações destinadas a mediar e entender as relações de
trabalho para garantir
aumento de produtividade, a realização pessoal de indivíduos e
grupos, o fomento e o estímulo
à criatividade e o tratamento justo em processos de
demissão, aposentadoria e projetos de
vida.

O psicólogo organizacional amplia ainda sua atuação na mediação de conflitos, em


diagnósticos relacionados à saúde do trabalhador, na elaboração de políticas de recursos
humanos e em programas de avaliação e melhoria do desempenho humano, de maneira a
aproveitar todo o potencial e os aspectos motivacionais relacionados ao trabalho.

Para que isso ocorra, ele utiliza recursos, métodos e técnicas da Psicologia aplicada ao
trabalho, tais como entrevistas, testes, provas, dinâmicas de grupo, ações voltadas à gestão de
pessoas, etc., dando base às decisões na área de Recursos Humanos. São elas: promoção,
movimentação de pessoal, incentivo, remuneração de carreira, capacitação, auxílio na
formação e desenvolvimento de carreira e integração funcional. Como consequência, o
psicólogo organizacional promove a autorrealização no trabalho

DIREITO AO TRABALHO E PSICOLOGIA


ORGANIZACIONAL

É fundamental entender as bases que sustentam o direito ao trabalho para que o psicólogo
organizacional oriente sua prática nas organizações.
O Brasil aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943. A partir de então,
passamos a ter uma lei geral e consolidada que orienta e regula as relações de trabalho
no
país. Seu conteúdo se inicia com o seguinte artigo: “Art. 1º – Esta Consolidação
estatui as
normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho nela
previstas.”

Note que a CLT é o pilar que sustenta toda questão relacionada ao trabalho e é nela que o
psicólogo organizacional deve se apoiar antes de qualquer tipo de análise, proposta de
intervenção ou orientação frente às demandas das organizações.

É muito importante ter a CLT como um instrumento de consulta contínua de estudo para
garantir relações de trabalho justas entre empregador e empregado, evitando ações
coercitivas
que possam gerar mal-estar e outras consequências emocionais.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) nos mostra ainda que tudo começa no
entendimento de que devem ser asseguradas condições que evitem relações de trabalho
análogas à escravidão, que comprometem a saúde e o bem-estar do trabalhador ou que
retiram dele direitos humanos essenciais. Veja:

“ART. 4º – NINGUÉM SERÁ MANTIDO EM


ESCRAVIDÃO
OU SERVIDÃO; A ESCRAVIDÃO E O TRÁFICO DE
ESCRAVOS SERÃO PROIBIDOS EM
TODAS AS SUAS
FORMAS.”

(ONU, 1948)

Além disso, a Declaração amplia essa perspectiva ao tratar das condições de escolha,
justiça,
remuneração, organização sindical para proteção e manutenção das condições
básicas de vida
em sociedade:
“ART. 23:

1. TODO SER HUMANO TEM DIREITO AO TRABALHO,


À LIVRE ESCOLHA DE EMPREGO,
A CONDIÇÕES
JUSTAS E FAVORÁVEIS DE TRABALHO E À
PROTEÇÃO CONTRA O DESEMPREGO.

2. TODO SER HUMANO, SEM QUALQUER DISTINÇÃO,


TEM DIREITO A IGUAL REMUNERAÇÃO
POR IGUAL
TRABALHO.

3. TODO SER HUMANO QUE TRABALHA TEM DIREITO


A UMA REMUNERAÇÃO JUSTA E
SATISFATÓRIA QUE
LHE ASSEGURE, ASSIM COMO À SUA FAMÍLIA, UMA
EXISTÊNCIA COMPATÍVEL
COM A DIGNIDADE
HUMANA E A QUE SE ACRESCENTARÃO, SE
NECESSÁRIO, OUTROS MEIOS DE
PROTEÇÃO
SOCIAL.

4. TODO SER HUMANO TEM DIREITO A ORGANIZAR


SINDICATOS E A NELES INGRESSAR PARA
PROTEÇÃO DE SEUS INTERESSES.”

(ONU, 1948)

Perceba que a CLT consolida toda a questão nacional que envolve os direitos trabalhistas
e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos ampara toda a perspectiva internacional
sobre o
direito ao trabalho e as condições que envolvem o trabalhador.

É possível ver o aspecto complementar nessa relação que fundamenta ainda o direito ao
trabalho expresso na Constituição Federal de 1988:
“ART. 6º – SÃO DIREITOS SOCIAIS A EDUCAÇÃO,
A
SAÚDE, A ALIMENTAÇÃO, O TRABALHO, A MORADIA,
O TRANSPORTE, O
LAZER, A SEGURANÇA, A
PREVIDÊNCIA SOCIAL, A PROTEÇÃO À
MATERNIDADE E À INFÂNCIA, A
ASSISTÊNCIA AOS
DESAMPARADOS, NA FORMA DESTA
CONSTITUIÇÃO.”

(BRASIL, 1988, grifo nosso)

É muito importante entender a relação entre todo esse aparato legal como uma sinfonia, na
qual cada instrumento complementa o outro para gerar uma melodia no final. A CLT, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição Federal são os instrumentos,
enquanto os direitos trabalhistas são a melodia. Todos afinados e tocando em conjunto
para a
garantia de condições justas e do bem-estar ao trabalhador e sua família.

Mas existem outros marcos legais que o psicólogo organizacional deve considerar?
Sim.

Existem inúmeras convenções, resoluções e regulações nacionais e internacionais que o


psicólogo organizacional deve pesquisar e analisar. É claro que isso acontece ao longo
do
tempo e no decorrer de sua atividade profissional e desenvolvimento pessoal.

A nível internacional, a Conferência Internacional do Trabalho aprovou a Declaração dos


Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho em 1998. A Declaração nos mostra quatro
princípios fundamentais a que todos os membros da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) estão sujeitos:

Liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva.

Eliminação de todas as formas de trabalho forçado.

Abolição efetiva do trabalho infantil.

Eliminação de todas as formas de discriminação no emprego ou na ocupação.


Já a nível nacional vale ressaltar, por exemplo, a Política Nacional de Segurança e Saúde
no
Trabalho (PNSST), que foi instituída pelo Decreto nº 7.602, de 11 de novembro de
2011. Ela
tem o objetivo de garantir que o trabalho seja realizado em condições que
contribuam para a
melhoria da qualidade de vida e para a realização pessoal e social dos
trabalhadores, sem
prejuízo para sua saúde, integridade física e mental. Seus princípios
básicos são:

Universalidade.

Prevenção.

Precedência das ações de promoção, proteção e prevenção sobre as de assistência,


reabilitação e reparação.

Diálogo social.

Integralidade.

Note que todas as leis, regulações e convenções


dialogam e se complementam. O objetivo
geral será sempre o de garantir as melhores
relações de trabalho e condições justas.
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL E
PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

Depois que se entende o recorte de atuação do psicólogo organizacional, é fácil perceber


que
seu escopo é bem diversificado e variado.

É claro que toda essa dinâmica deve respeitar o Código de Ética Profissional do
Psicólogo.
Esse profissional poderá confrontar aspectos éticos relativos à sua atividade
em organizações
que podem gerar punições como multas e penalidades educativas aos
empregadores que não
respeitarem a legislação relativa ao trabalho e à saúde. Sua
atuação deve ser isenta, isto é,
sem quaisquer influências em remuneração ou incentivos
não monetários que possam
configurar algum tipo de crime ou descaso.

E como fica a relação entre saúde mental e trabalho? Como se manter imparcial em
uma
organização?

O psicólogo organizacional deve reconhecer a relação direta entre saúde mental e


trabalho,
principalmente quando há a necessidade de emitir laudos e pareceres ou até
mesmo depor em
juízo. É aqui que o Código de Ética deve ser respeitado, além das
diversas resoluções que o
CFP divulga continuamente e que amparam a atuação profissional
do psicólogo organizacional.

Lembre-se do que nos diz o Código de Ética (2005) sobre o que é impedido na atuação do
psicólogo:
ART. 2º – AO PSICÓLOGO É VEDADO:

A) PRATICAR OU SER CONIVENTE COM QUAISQUER


ATOS QUE CARACTERIZEM
NEGLIGÊNCIA,
DISCRIMINAÇÃO, EXPLORAÇÃO, VIOLÊNCIA,
CRUELDADE OU OPRESSÃO; [...]

D) ACUMPLICIAR-SE COM PESSOAS OU


ORGANIZAÇÕES QUE EXERÇAM OU FAVOREÇAM O
EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO DE PSICÓLOGO
OU DE QUALQUER OUTRA ATIVIDADE
PROFISSIONAL.

(CFP, 2005, n. p.)

Vale recordar as questões do Código de Ética relacionadas ao sigilo profissional no art.


9º e de
quebra de sigilo no art. 10, que já foram explicadas anteriormente. Além deles,
o art. 11
discorre sobre depor em juízo, o art. 12 sobre o teor das informações em
documentos
psicológicos, o art. 18 sobre a relação de leigos e técnica e os documentos
psicológicos. Ainda,
a Resolução nº 6, de março de 2019, institui regras para a
elaboração de documentos escritos
produzidos pelo psicólogo no exercício profissional.

É importante lembrar que a formação em Psicologia pode, muitas vezes, não abordar com
profundidade a relação entre saúde mental e trabalho, o que acaba fazendo com que o
psicólogo organizacional deixe de lado essa premissa básica sem saber. Isso pode
colaborar
para a origem e a manutenção de situações de exploração, violência, crueldade
e opressão,
indo de encontro a tudo o que abordamos sobre o Código de Ética
Profissional.

A atuação em organizações exige, sim, que o profissional esteja sempre alerta e atento às
queixas relacionadas ao trabalho de forma geral.
A SAÚDE MENTAL NO TRABALHO E A
RESPONSABILIDADE
ÉTICA DO
PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL
Neste vídeo, o especialista aborda a relação entre saúde
mental e trabalho e a
responsabilidade ética do psicólogo organizacional.

VEM QUE EU TE EXPLICO!


Classificação da especialidade em Psicologia
Organizacional
O direito ao trabalho & a Psicologia
Organizacional

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 4

 Analisar o cenário legal e ético


na Psicoterapia

O CENÁRIO LEGAL E ÉTICO NA


PSICOTERAPIA
É nos momentos de encontro consigo mesmo que as questões mais profundas aparecem.
Pode-se
lidar com isso, ignorar ou fugir, mas imagine um cenário em que não há outra
possibilidade senão a de enfrentá-las.

Difícil, não? Ter de lidar com medos, frustrações e emoções pode ser aterrorizante. E foi
exatamente com esse quadro que a sociedade se deparou quando se viu em isolamento diante
da pandemia da covid-19. Não havia possibilidade de fugir, haviam condições limitadas para
encontrar pessoas, para distração... Todos estavam vivenciando situações desconfortáveis e
sentimentos de estarem a sós consigo mesmos.
Dessa forma, a valorização e a notoriedade da prática clínica cresceu exponencialmente
durante o período de pandemia entre 2020 e 2021. As pessoas cada vez mais precisam e
valorizam a contribuição da Psicologia, entendendo que ela é fundamental para que a
sociedade se organize de uma maneira mais igualitária, mais justa e organizada.

PSICOLOGIA CLÍNICA
A contribuição do CFP em 1992 mostra que o psicólogo clínico atua em saúde de forma
preventiva ou curativa junto a pessoas que possam apresentar questões e problemas intra
e
interpessoais, que também podem estar relacionados ao comportamento familiar e/ou
social e
a distúrbios psíquicos. O profissional da área Clínica faz uso de técnicas
psicológicas
adequadas para subsidiar o diagnóstico e o caminho terapêutico,
possibilitando que o indivíduo
consiga se direcionar para o bem-estar e a inserção na
vida em comunidade.

A regulamentação da função do psicólogo clínico é ainda fundamentada na Resolução nº


13/2007 do CFP, assim como as outras abordadas anteriormente. Essa função amplia muito
as
possibilidades de atuação, além de dar foco em questões muito importantes que servem
de
diretriz para o profissional.

O psicólogo clínico atuará, então, em contextos diversos, por meio de intervenções que
têm o
objetivo de diminuir o sofrimento psíquico do indivíduo, ao mesmo tempo que leva
em
consideração a dinâmica complexa do ser humano e sua respectiva subjetividade. Essa
atuação pode ocorrer a nível individual, grupal, social ou até mesmo institucional,
fazendo uso
de inúmeras possibilidades clínicas já consolidadas e respeitadas, além de
desenvolver novas
possibilidades.

Tanto o CBO quanto a Resolução nº 13/2007 trazem a ideia de uma atuação voltada para
iniciativas preventivas (diagnósticos) ou curativas. A intenção é marcar aqui o caráter
de
promoção de mudanças e transformações que visam de forma geral ao benefício dos
indivíduos em situações de crise, de problemas de desenvolvimento ou de quadros
psicopatológicos.
Seus atendimentos podem se dar em diversas modalidades, tais como a psicoterapia
individual, de casal, familiar ou em grupo. Além disso, existem os campos da
Psicoterapia
Lúdica, Psicomotora, Arteterapia, Orientação de Pais, entre outras, podendo
atuar em equipes
multiprofissionais na identificação e compreensão de fatores emocionais
que influenciam de
forma direta a saúde das pessoas.

Esse recorte de atuação pode se dar em instituições específicas de saúde mental como os
hospitais-dia, as unidades psiquiátricas e outros, de maneira a intervir em quadros
psicopatológicos a nível individual e grupal, suportando o diagnóstico e no esquema
terapêutico proposto em equipe, além de programas de pesquisa, treinamento e
desenvolvimento de políticas de saúde mental.

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL E


PSICOTERAPIA

É preciso sempre ter em mente que os Códigos de Ética expressam uma concepção de
homem e
sociedade que determinam as relações entre as pessoas e que são essas relações
as quais
formam princípios e normas que devem ser orientados pelo respeito ao ser humano e
aos
seus direitos fundamentais.
Dessa forma, a elaboração do atual Código de Ética atendeu ao contexto de organização dos
psicólogos no qual o país se encontrava em 2005 e ao estágio de desenvolvimento da
Psicologia como campo científico e profissional.

Os princípios fundamentais do Código de Ética Profissional são sete, mas um deles deve
ser
destacado aqui:

IV. O PSICÓLOGO ATUARÁ COM RESPONSABILIDADE,


POR MEIO DO CONTÍNUO APRIMORAMENTO
PROFISSIONAL, CONTRIBUINDO PARA O
DESENVOLVIMENTO
DA PSICOLOGIA COMO CAMPO
CIENTÍFICO DE CONHECIMENTO E DE PRÁTICA.

(CFP, 2005, n. p.)

Isso é extremamente importante. Deve-se estar continuamente focado no aprimoramento


profissional, na aprendizagem e na atualização do conhecimento, porque o mundo não para
e
o psicólogo clínico precisa estar sempre adaptado ao que ocorre ao seu redor.

Vale ressaltar alguns artigos que envolvem as questões mais demandadas e evidentes da
prática em Psicoterapia pelos Conselhos que monitoram e regulamentam a profissão.

O art. 1º trata dos deveres fundamentais do psicólogo e destaca:

A importância de se ler o Código e conhecer seu conteúdo, pois o desconhecimento da


lei não o exime de uma possível pena. Esta é uma condição geral do Direito.

O psicólogo não deve desenvolver atividades sem treinamento e sem o aprimoramento


de
sua capacidade de atuação em circunstâncias específicas por meio de cursos. É
preciso prestar muita atenção a isso.

Não se pode utilizar técnicas que não sejam reconhecidas cientificamente. O


psicólogo
clínico não pode, então, usar técnicas relativas, por exemplo, à religião
e à terapia de
vidas passadas. É importante consultar os Conselhos de Psicologia
para ter orientação e
saber o que pode ou não ser realmente desenvolvido.

O material utilizado pelo psicólogo clínico deve ser preservado, guardado e trancado
dentro do consultório. O psicólogo trabalha com testes, e estes não devem ser
vulgarizados. É preciso tomar muito cuidado, pois vários processos ocorrem porque
muitas vezes o psicólogo delega a outra pessoa o arquivo dos documentos ou não
garante a guarda correta deles.

O art. 2º também é importante aqui porque fornece a base fundamental para tudo que é
vedado ao psicólogo. Destaca-se:

Praticar ou ser conivente com casos de negligência, discriminação, exploração,


violência,
crueldade ou opressão. É preciso denunciar esses casos quando forem
observados.

Todos podem ter convicções pessoais. O problema é utilizar isso na prática


profissional, o
que é totalmente proibido. Infelizmente, ainda surgem diversos casos
de posturas
inadequadas, preconceituosas, principalmente com relação a alguns dogmas
religiosos e
orientações sexuais. Não há possibilidade de atuar em Psicologia
Clínica mantendo ou
alimentando determinado preconceito. As pessoas são livres e
podem ter escolhas.

A emissão de documentos sem aparato técnico e científico reconhecido é uma das


maiores falhas e principais causas de representações em processos éticos. É preciso
considerar normas e resoluções para cada tipo de documento, por exemplo: se é
preciso
fazer um relatório, um laudo ou um parecer, cada um desses documentos tem
uma forma
específica de ser escrito. A Resolução 6/2019 do CFP é a fonte mais
confiável para isso.

E sobre a remuneração, há algo no Código sobre como o psicólogo clínico cobra seus
serviços? Claro. Observe:

O art. 4º trata da remuneração paga ao trabalho do psicólogo. O valor deverá ser


estipulado de
acordo com as características de sua atividade e ele deve comunicar ao
usuário antes do início
do tratamento.

O psicólogo clínico tem certa liberdade para cobrar pelo seu atendimento o valor que ele
entender que seja suficiente para o exercício do seu trabalho. Existe uma tabela que o
CFP
esboçou e que orienta valores mínimo e máximo que o psicólogo deve cobrar, mas é
claro que
não significa que o profissional não possa cobrar um valor maior ou menor.
Lembre-se de que tratamos aqui de uma profissão autônoma, e o psicólogo clínico tem a
condição de fazer essa escolha. A grande questão é que é preciso ter bom senso de cobrar
um
valor que seja justo pelo que você estudou, pelo que batalhou, pelos cursos que
investiu, pela
sua especialidade, entendendo que também se deve ter um limite. Por outro
lado, a cobrança
do serviço, no caso de Psicoterapia, representa uma condição necessária
para manter a
relação e o vínculo a nível profissional, destacando a importância do
esforço e do envolvimento
no processo por parte do paciente ou cliente.

Além disso, o art. 20 complementa essa análise trazendo a questão da promoção de seus
serviços. O psicólogo não poderá utilizar o preço do serviço como propaganda, ou seja,
não há
aqui espaço para barganha, usar artifícios comuns como “compre um e leve dois”,
nem fazer
nenhum tipo de previsão sobre o resultado do trabalho, isto é, dizer “faça
terapia comigo e a
satisfação é garantida ou seu dinheiro de volta” ou “em dois meses eu
garanto que resolverá
todos os seus problemas”.

E mais uma vez você pode se perguntar: e quanto ao sigilo das informações? Posso
compartilhar o que acontece nas sessões?

Lembre-se do art. 9º, que trata justamente do sigilo. Esse artigo mostra que é dever do
psicólogo respeitar o sigilo profissional, isto é, não se deve comentar com familiares,
amigos e
cônjuges o que é compartilhado. O profissional deve zelar pela informação
recebida, mas é
possível, sim, quebrar o sigilo em situações extremas, se necessário.
Imagine, por exemplo,
um paciente que vá cometer um crime que ameace a sua própria vida.
É preciso denunciar e
compartilhar a informação na busca do menor prejuízo.
Além disso, é importante estar atento a outras regulações que podem complementar o Código
de Ética no exercício profissional, como estatutos (criança e adolescente, idosos) e
normatizações sobre saúde mental.

PSICOTERAPIA E PRÁTICAS ALTERNATIVAS

Quando alguém fala que está indo à terapia, o que vem imediatamente à cabeça?

Provavelmente, está indo ao psicólogo, certo? Na verdade, a prática do psicólogo se chama


psicoterapia. Terapia determina um tratamento de modo geral, como a cromoterapia ou a
aromaterapia, por exemplo.
 Cromoterapia.

 Aromaterapia.

Essa confusão de termos tem levado constantemente a associações da Psicologia com as


chamadas terapias alternativas. Uma confusão que se estende não só aos usuários, mas
também a alguns psicólogos.

Existem diversas terapias alternativas. Para citar algumas, podemos trazer a terapia de
vidas
passadas e a programação neurolinguística, muito popularizada por alguns gurus da
autoajuda.
A procura crescente por esse tipo de terapia muitas vezes é determinada pela
busca de um
alívio mais imediato, um conforto mais rápido dos problemas.

Os Conselhos Regionais de Psicologia entendem, de forma geral, que as terapias


alternativas
não são práticas psicológicas porque não se fundamentam na ciência e na
teoria psicológica. A
incorporação de novas práticas é necessária, mas deve ser feita de
acordo com pesquisas que
seguem a norma ética e científica já estabelecida por lei.

Não se trata aqui de dizer que as terapias alternativas não tenham efeitos terapêuticos
nas
pessoas e nas situações que elas trazem como queixas e sintomas, mas elas não são
psicológicas, não têm a mesma busca de respostas que a Psicologia.

É preciso separar as práticas pseudocientíficas para ajudar ao usuário. E como se pode


fazer
isso?

 ATENÇÃO

Vale destacar que nenhum psicólogo clínico está autorizado


a associar nenhuma terapia do
tipo alternativa à sua prática profissional, ou
seja, não pode receitar florais ou qualquer outro
tipo de medicamento, não pode
fazer um mapa astral, não pode indicar ritos religiosos
associados à prática da
Psicologia. Em outras palavras, o profissional não pode se autointitular
psicólogo e terapeuta floral, por exemplo.

O Código de Ética Profissional é muito claro em seu art. 18, ao mencionar a não
divulgação,
ensino, cessão, empréstimo ou venda a leigos de instrumentos e técnicas
psicológicas que
permitam ou facilitem o exercício ilegal da profissão. Um exemplo
prático disso seriam os tipos
de treinamento de análise psicológica para candidatos de
concursos públicos, o que configura
um crime punível pelo próprio Conselho de
Psicologia, assim como pelo Judiciário.

E a pergunta que não quer calar é: e o coaching?

Primeiro, é preciso entender o que é efetivamente o coaching. Trata-se de um


processo breve
que tem como objetivo ajudar uma pessoa a alcançar determinado objetivo
previamente
estabelecido. Para isso, são usadas algumas metodologias que envolvem
basicamente a
consciência de diversos componentes da vida, de sua história, interesses,
pontos fortes,
entrando em autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
E para atuar em coaching, é preciso ser psicólogo? Não
necessariamente.

Parece ser um pouco confuso, mas não é. Geralmente, o coach (aquele que pratica
o
coaching) não é um psicólogo, mas sim uma pessoa que possui experiência
relevante em
determinada área para a qual seu cliente o procurou. Um exemplo bem comum
seria o da
carreira profissional. Normalmente, um coach que atua com um
executivo de uma empresa já
passou por experiência similar e possui alguma formação
específica, que vão dar a ele
ferramentas para ajudar aquela pessoa que tem objetivos
específicos. Há sempre uma
analogia com o ambiente esportivo, considerando a figura de
um treinador que conhece seu
atleta, suas deficiências e pontos fortes para propor um
conjunto de exercícios, treinamentos e
atividades que vai ajudá-lo a sair de onde ele
está e chegar aonde ele quer.

O que acontece é que no percurso metodológico do coaching, o chamado “treinador”


pode se
deparar com questões mais profundas em termos emocionais, existenciais e, às
vezes, até
psicopatológicos. É aqui que se impõe o limite. O coach não vai e
nem deve entrar nessas
questões. O propósito e a habilitação dele não permitem entrar
nesses aspectos. É preciso ter
critério para estabelecer o limite.

O psicólogo clínico é formado e tem registro ativo. Além disso, ele não parte de um
processo
que já esteja necessariamente predeterminado, estipulando uma quantidade de
sessões para
sair de um ponto e chegar a outro ou dar qualquer previsibilidade de
resultado. Essa não é a
forma de trabalhar de um psicólogo clínico. Ele fará, na
verdade, um diagnóstico mais amplo,
vai entender as questões mais profundamente, vai
entrar em questões existenciais densas, em
traumas e em psicopatologias.
Na verdade, Psicologia e coaching são áreas complementares. O indivíduo pode
fazer um
processo de psicoterapia e, em paralelo, realizar o acompanhamento com o
coach. Não há
conflito quando o critério é bem definido. O psicólogo clínico
muitas vezes não consegue entrar
no âmbito da orientação profissional como falamos, e
nem precisa, na verdade. Cabe a
atuação do coach para cumprir esse papel e
encaminhar o seu cliente ao psicólogo sempre
que o limite estiver próximo.

Atualmente, não há regulação legal sobre a prática do coaching no país e muito


vem sendo
discutido a esse respeito. O CFP emitiu uma nota em 2019 sobre a relação entre
Psicoterapia
e coaching, na qual ficam claros os limites de atuação e a
regulação da utilização do coaching
em psicoterapia.

O psicólogo clínico que fizer uso das metodologias do coaching nas sessões
deverá seguir
rigorosamente os princípios fundamentais e artigos do Código de Ética
Profissional do
Psicólogo (Resolução CFP nº 10/2005). Além disso, baseará seu trabalho
no conhecimento
técnico, científico e ético da profissão e zelará pela garantia dos
serviços prestados, visando à
proteção da população atendida (CFP, 2019a).

Com relação ao coaching, a mesma nota diz que o profissional não inscrito no CRP
(Conselho
Regional de Psicologia) que fizer uso de métodos exclusivos da Psicologia
durante as sessões
de coaching ou desenvolva qualquer outra atividade de
atribuição da Psicologia, está
exercendo ilegalmente a profissão de acordo com o art. 30
da Lei nº 5.766, de 20 de dezembro
de 1971, e o art. 47 da Lei das Contravenções Penais,
sob pena de prisão simples ou multa
(CFP, 2019a).
A PSICOLOGIA DIANTE DAS TERAPIAS
ALTERNATIVAS E DO
COACHING
Neste vídeo, o especialista discute sobre o papel da
Psicologia diante das terapias alternativas
e do coaching, os limites e as
possibilidades.

VEM QUE EU TE EXPLICO!


Classificação da especialidade em Psicologia Clínica

Psicoterapia & práticas alternativas

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste material, tivemos contato e aprendemos questões centrais que envolvem a
relação dinâmica entre legislação e ética em algumas áreas da Psicologia. Vimos que a
Psicologia Escolar, a Psicologia Hospitalar, a Psicologia Organizacional e a Psicologia Clínica
têm como fundamento principal o Código de Ética Profissional do Psicólogo, emitido pelo CFP
em 2005. Aprendemos que não só o Código de Ética, como também a Constituição Federal, as
Resoluções do CFP, as leis trabalhistas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos são
também fundamentais para o exercício profissional do psicólogo nessas áreas.

Conhecemos diversos tipos de relações de trabalho do psicólogo e como este deve se manter
firme aos princípios norteadores da profissão independentemente de sua atuação em escolas,
hospitais, organizações ou consultórios. Vimos, ainda, a importância de se estar antenado aos
Conselhos Federais e Regionais para acompanhar qualquer novidade ou atualização, de modo
a amparar sua atuação.

 PODCAST

RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO NOS


DIFERENTES CAMPOS DE ATUAÇÃO

Neste podcast, o especialista irá refletir sobre as responsabilidades, as limitações e as


dificuldades do psicólogo nos diferentes campos de atuação, segundo o Código de Ética.

AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BRASIL. Classificação Brasileira de Ocupações. CBO – 2010 – 3. ed. Brasília: MTE, SPPE,
2010.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Decreto-Lei 5.452 de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do trabalho,


Brasília, DF, 1943.

BRASIL. Decreto nº 7.602, de 7 de novembro de 2011. Dispõe sobre a Política Nacional de


Segurança e Saúde no Trabalho - PNSST. Brasília, DF, 2011.

BRASIL. Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a


promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF, 1990a.

BRASIL. Lei nº 8.142 de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da


comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.
Brasília, DF, 1990b.

BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à saúde das pessoas ostomizadas. Novembro, 2009.
Não paginado.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Atribuições Profissionais do Psicólogo no


Brasil. Contribuição do Conselho Federal de Psicologia ao Ministério do Trabalho para integrar
o Catálogo Brasileiro de Ocupações. Brasília, DF, 1992.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Nota orientativa sobre coaching. Brasília,


2019a.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Referências técnicas para atuação de


psicólogas(os) na educação básica. 2. ed. Brasília: CFP, 2019b. 67p.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Referências técnicas para atuação de


psicólogas(os) nos serviços hospitalares do SUS, Conselhos Regionais de Psicologia e
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas. 1. ed. Brasília: CFP,
2019c. 128 p.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Resolução CFP nº 10/2005. Aprova o Código
de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, 2005.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Resolução CFP nº 13/2007. Institui a


Consolidação das Resoluções relativas ao Título Profissional de Especialista em Psicologia e
dispõe sobre normas e procedimentos para seu registro. Brasília, 2007.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Saúde do trabalhador no âmbito da Saúde


Pública: referências para atuação da(o) psicóloga(o). 2. ed. Brasília: CFP, 2019d.

FRANCISCHINI, R.; VIANA, M. N.: Psicologia Escolar: que fazer é esse? Brasília: Conselho
Federal de Psicologia, 2016. 215p.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos,


1948. Não paginado. Consultado na internet em: 20 set. 2021.

EXPLORE+

Pesquise na internet o Estatuto da Criança e do Adolescente, publicado em 1990. Ele


é o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes.

Leia o livro Psicologia, organizações e trabalho no Brasil, de José Carlos Zanelli e


organizadores, publicado em 2004. Nele você verá em detalhes toda a dinâmica da
Psicologia Organizacional e algumas possibilidades de atuação.

Acesse o site do Conselho Federal de Psicologia e leia as Resoluções nº 1/1999 e nº


18/2002. Elas estabelecem as normas de atuação para os psicólogos tanto em relação à
questão de orientação sexual quanto ao preconceito e à discriminação racial,
respectivamente. Pesquise também a Resolução nº 10/2000, que especifica e qualifica a
psicoterapia como prática do psicólogo.

CONTEUDISTA
Guilherme Almentero Marques

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