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Psicologia Educacional

SUMÁRIO

Um pouco da história da Psicologia Educacional ........................................... 3


Como é hoje e (ou) como poderia ser? .......................................................... 4
A construção da relação psicologia-educação ............................................. 11
Psicologia Educacional como campo de atuação ........................................ 14
A perspectiva preventiva e relacional como orientadora da atuação em
Psicologia Educacional................................................................................. 17
A atenção ao professor como espaço de intervenção em Psicologia
Educacional .................................................................................................. 20
A intervenção psicossocial ........................................................................... 23
Interfaces entre a Psicologia e a educação: reflexões sobre a atuação em
Psicologia Educacional................................................................................. 27
A PSICOLOGIA EDUCACIONAL NA INTERFACE COM A PSICOPEDAGOGIA
..................................................................................................................... 30
Crianças se veem divididas entre duas realidades distintas: ....................... 31
DIFERENCIAÇÃO ENTRE A INTERVENÇÃO EDUCATIVA E A INTERVENÇÃO
DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO ............................................................... 34
Referências .................................................................................................. 36

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Um pouco da história da Psicologia Educacional

A atuação da Psicologia Educacional no


país ocorreu concomitantemente ao
desenvolvimento da Psicologia enquanto
ciência. Inicialmente, observou-se uma
grande preocupação com a quantificação
dos fenômenos psíquicos. Desta forma, no
início do século passado o psicólogo escolar
encontrava-se mensurando os fenômenos
psíquicos junto aos laboratórios das escolas de educação e de filosofia (Bock,
2003; Guzzo, 2002; Marinho-Araújo & Almeida, 2005; Patto, 1997; Souza, 2007).
Sua atuação era predominantemente associada à prática da psicometria e ao
desenvolvimento de intervenções clínicas individuais em instituições de ensino.
A causa dos problemas educacionais estava centrada no aluno, ao passo que
fatores externos - sociais, econômicos, políticos, institucionais, históricos e
pedagógicos - eram ignorados (Cassins e cols., 2007; Teixeira, 2003). O principal
objetivo era resolver os problemas escolares (Meira & Antunes, 2003),
sobretudo, o temido “fracasso escolar”.
O psicólogo escolar, nesse paradigma, era apenas um psicometrista, que
avaliava as crianças indicando em que áreas essas apresentavam dificuldades.
Sua atuação nesse período apresentava um caráter clínico-terapêutico que
buscava “consertar” a criança e “adaptá-la” ao contexto escolar (Barbosa &
Marinho-Araújo, 2010; Bock, 2003; Guzzo e cols., 2010). Os testes, os laudos e
os diagnósticos, que se constituíam nas principais formas de atuação do
psicólogo escolar, “explicavam” aos profissionais presentes no contexto escolar
e aos leigos, os motivos do fracasso escolar de determinado aluno. Ao utilizar
essas técnicas, muitas vezes o psicólogo acabava por tentar corrigir o “aluno-
problema” (ou sua família), a fim de readaptá-lo ao sistema escolar. Dessa forma,
a responsabilidade pelas dificuldades que se apresentavam no sistema
educacional era sempre depositadas no aluno e/ou em sua família (Andrada,

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2005; Barbosa & Marinho-Araújo, 2010; Guzzo, 2002; Guzzo e cols., 2010).
Nesses momentos iniciais, todos os problemas escolares, tanto o referentes à
não aprendizagem como os pertinentes a problemas comportamentais, eram
atribuídos aos alunos-problema ou então às suas famílias, consideradas,
“desestruturadas” ou “incapazes” (Marinho-Araújo & Almeida, 2005).
Patto (1997, 2004), com suas ideias revolucionárias, apontou que a
Psicologia Educacional não poderia se ocupar mais com teorias e práticas
reprodutivas do status quo, sem considerar o papel social da escola na formação
do cidadão. Essa autora descreveu no livro “A produção do Fracasso Escolar”
como a Psicologia Educacional estava a serviço de uma ideologia que servia
para excluir e estigmatizar os indivíduos e suas famílias, dividindo e classificando
os alunos entre os que aprendiam e os que não aprendiam. Essa divisão
encontrava-se predominantemente baseada na divisão de classes (Patto, 1997,
2004).

Como é hoje e (ou) como poderia ser?

Embora a atuação do psicólogo escolar tenha se modificado, continua


apresentando-se problemática, tanto em função do sistema educacional
brasileiro (que está distante das condições de excelência no ensino) como pela
formação oferecida aos futuros profissionais da Psicologia que atuarão nesse
campo. A formação geralmente é deficiente e não contempla as especificidades
presentes nos processos educacionais e no contexto escolar (Guzzo, 2001;
Guzzo e cols., 2010).
A literatura especializada utiliza diferentes denominações para se referir
ao psicólogo que atua junto às escolas e aos processos educacionais,
principalmente as de psicólogo escolar e psicólogo educacional. O primeiro
psicólogo, o escolar, seria aquele que, atuando diretamente na escola, ocupa-se
das questões práticas a ela referentes, enquanto o segundo, o psicólogo
educacional, seria aquele ocupado em pensar, refletir e pesquisar sobre os
processos educacionais em geral. Este seria uma espécie de produtor de
conhecimentos a serem utilizados pelos psicólogos escolares (Guzzo, 2001;
Marinho-Araújo & Almeida, 2005).

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Apesar dessa diferenciação de termos, atualmente diversos autores


(Andrada, 2005; Patto, 1997, 2004) não concordam com essa divisão, pois
consideram que o psicólogo escolar ou educacional é aquele que se ocupa tanto
da prática como do pensar sobre os processos educacionais, estando esses
presentes ou não no contexto escolar. Segundo essas autoras, é preciso pensar
em um psicólogo que se ocupe dos processos educacionais ao longo da vida,
uma vez que estes não ocorrem apenas no contexto escolar, nem se encontram
restritos a alguma etapa especifica do desenvolvimento humano.
Embora não seja um pré-requisito para atuar na área, atualmente um
psicólogo pode obter seu reconhecimento como especialista na área de
Psicologia Educacional/Escolar a partir da realização de uma prova realizada
pelo Conselho Federal de Psicologia para concessão de titulo, ou mediante a
realização de um curso de especialização reconhecido pelo referido Conselho.
Para habilitar-se para a prova o profissional deve apresentar alguns critérios
exigidos pelo CFP, como estar inscrito no Conselho Regional de Psicologia há
pelo menos dois anos, comprovar prática profissional na área escolar e
educacional por pelo menos dois anos (CFP, 2007).
Essa área foi reconhecida como uma especialidade pelo Conselho
Federal de Psicologia (CFP) através da Re- solução n.º 013/07. Nesse sentido,
o CFP descreve algumas tarefas que cabem a esse campo de atuação do
psicólogo. Na descrição das atividades, podem ser observados alguns aspectos
que descrevem e qualificam a atuação do psicólogo escolar, propondo um
trabalho interdisciplinar e integrado aos contextos educacionais, que pode ser
desenvolvido tanto individualmente como em grupo, em diferentes níveis, como
promoção, prevenção e tratamento. Segundo o Conselho Federal de Psicologia
(2007, p.18), o psicólogo
Nessa tarefa, considera as características do corpo docente, do currículo,
das normas da instituição, do material didático, do corpo discente e demais
elementos do sistema. Em conjunto com a equipe, colabora com o corpo docente
e técnico na elaboração, implantação, avaliação e reformulação de currículos,
de projetos pedagógicos, de políticas educacionais e no desenvolvimento de
novos procedimentos educacionais.

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No âmbito administrativo, contribui na análise e intervenção no clima


educacional, buscando melhor funcionamento do sistema que resultará na
realização dos objetivos educacionais.
De acordo com a Resolução 013/07 do CFP, cabe ao psicólogo escolar
ocupar-se de um amplo leque de possibilidades que se referem diretamente ao
âmbito do ensino-aprendizagem, tanto em seu contexto formal (escola,
instituições de ensino) quanto no informal (organizações não governamentais,
empresas, etc.). O psicólogo escolar/educacional trabalha os processos
educacionais que acontecem tanto com crianças e adolescentes como com
pessoas adultas ou mais maduras. Exemplos disso são os programas de
acompanhamento psicopedagógico e educacionais realizados no ensino de
jovens e adultos (EJA), nas escolas técnicas, nas universidades e nos programas
de universidades para a terceira idade (Bonai & Thiers, 2006). Além desses
contextos, o psicólogo que se ocupa dos processos educacionais hoje pode
atuar junto a organizações não governamentais (ONGs), programas de
treinamento em empresas, hospitais, associações comunitárias ou qual- quer
outro local onde ocorram esses processos de ensino e aprendizagem; porém é
necessário que o psicólogo centre seu foco de atenção nos processos
educacionais, especialmente nas condições de ensino e aprendizagem, para
que sua atuação não se confunda com a realizada por outros psicólogos que
também atuam nestas instituições, com diferentes focos (organizacional,
hospitalar) (Marinho-Araújo & Almeida, 2005; Patto, 1997).
Esse profissional deve atuar de forma interdisciplinar, juntamente com a
equipe que trabalha com os processos educacionais nas instituições de
educação, como educadores especiais, pedagogos, etc. - e fora delas, mas que
podem fazer parte de uma rede de atenção aos indivíduos, famílias e
comunidades - como assistentes sociais, secretarias de educação, de saúde, e
outros órgãos públicos) (Cassins e cols., 2007). Em sua atuação o psicólogo não
pode se esquecer das questões econômicas e políticas envolvidas nesses
processos de ensino-aprendizagem. Assim, ser psicólogo escolar ou
educacional no Brasil exige conhecer as necessidades das pessoas no que se
refere aos processos educacionais, não importando o contexto ou as condições
sociais ou políticas em que estejam inseri- das (ricas, pobres, capacitadas,

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deficientes, abandonadas ou acolhidas por suas famílias (Almeida e cols., 1995).


O psicólogo busca defender os direitos do indivíduo no atendimento de suas
necessidades educacionais e promover seu desenvolvimento, sem
discriminação ou intolerância de qualquer tipo ou grau, tendo o cuidado de não
reproduzir formas de dominação.
Neste sentido, é preciso que o psicólogo tanto se encontre inserido no
contexto no qual esses processos ocorrem como conheça aspectos históricos,
econômicos, políticos e culturais da população e da comunidade que atende.
Para isso, ele precisa:
a) atuar em uma equipe multidisciplinar;
b) estar constantemente estudando e participando de eventos da área e
trocando experiências com os pares;
c) sair do gabinete para olhar a realidade tal como ela se apresenta,
confusa e inexplicável, fora de controle e desafiadora (Cassins e cols., 2007).
Este profissional deve conscientizar-se de que há muito trabalho pela
frente e muitas formas de realizar esses trabalhos. Nessa caminhada, ele pode
apresentar diferentes sentimentos, especialmente diante da urgência e
emergência de diferentes demandas presentes no contexto escolar, uma vez que
deverá estar preparado para realizar o que ainda não está pronto e necessita ser
construído (Almeida e cols., 1995), mas precisa estar atento tanto às
necessidades da população que atende como às suas potencialidades na
realização de um trabalho conjunto.
De fato, pesquisadores indicam a necessidade de a atuação do psicólogo
escolar se efetuar no local em que os fenômenos ocorrem, para que ele não se
aliene (Cabral & Sawaia, 2001; Martinez, 2010). Apesar disso, ainda hoje é
possível encontrar muitos “psicólogos escolares” que se ocupam de problemas
de aprendizagem, de desvios de comportamento apresentados no contexto
escolar a partir de atividades realizadas apenas em seus consultórios, sem
conhecer as realidades e as condições nas quais estas questões se produzem
(Martinez, 2010).
Outro aspecto importante, que parece ser um consenso em estudos na
área, é que nos processos educativos o psicólogo escolar não pode apenas
trabalhar com práticas curativas ou patologizantes, mas deve se ocupar tanto

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com a prevenção quanto com a promoção do desenvolvimento dos agentes


envolvidos no processo educativo, estando atendo às potencialidades
apresentadas pelos diferentes atores presentes nos contextos educacionais
(Gaspar & Costa, 2011; Lessa & Facci, 2011; Souza e cols., 2011).
Valle (2003) considera que o psicólogo deve mudar seu foco de atuação
no contexto escolar, passando de um enfoque clínico e remediativo, no qual sua
atuação centra-se na solução de problemas, para um enfoque preventivo ou
voltado para a promoção de saúde. Os processos de ensino-aprendizagem
devem envolver ações que estimulem o desenvolvimento dos indivíduos
(desenvolvimento de habilidades, competências, etc.) e dos grupos. Assim, o
foco de trabalho desloca-se para os fatores de proteção e de promoção de saúde
e resiliência, sendo trabalhados aspectos de prevenção primária, voltados à
população geral, não apenas às populações vulneráveis.
Algumas pesquisas apontam ser possível encontrar práticas dos
psicólogos escolares que atendam a essas novas exigências e atribuições.
Exemplo disso encontramos no trabalho desenvolvido por Loos e Zeller (2007).
Esses autores relataram uma experiência de intervenção realizada em uma
escola pública municipal, cujo objetivo foi o treinamento de habilidades sociais e
de interação interpessoal, o que contribuiu para minimizar os episódios
agressivos frequentes na escola. Essa forma de intervenção contribui para
afirmar a identidade do “novo” psicólogo escolar, que se dedica à comunidade
escolar por meio de intervenções preventivas em grupo.
O psicólogo escolar vem atuando de diferentes formas, além de realizar
algumas atividades já criticadas, como a clínica e a avaliação de alunos e
professores. Os psicólogos vêm promovendo grupos de discussão e outras
formas de atendimento que não se centram apenas em práticas avaliativas ou
clínica terapêutica. Patias, Monte Blanco e Abaid (2009), por exemplo,
desenvolveram oficinas com professores trabalhando a expressão de ideias,
sentimentos e atitudes em relação ao trabalho com os alunos. Essa experiência,
segundo as autoras, permitiu a criação, além do espaço físico, de um espaço
psicológico, para que se percebessem as dificuldades e os potenciais do grupo
de professores e alunos. Houve uma melhora nas habilidades e na comunicação
entre a equipe diretora e os professores.

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De fato, alguns estudos indicam a necessidade de a Psicologia


Educacional trabalhar com os diferentes atores envolvidos no contexto
educacional da escola. Por exemplo, é importante trabalhar com alunos,
professores, pais, me- rendeiras, funcionários da limpeza, diretores - enfim, com
todos aqueles que se encontrem, de uma forma ou de outra, envolvidos nesse
contexto educativo, uma vez que a educação não é apenas realizada em sala de
aula (Marinho-Araújo & Almeida, 2005).
Da mesma forma, faz-se necessário que o psicólogo escolar conheça os
indivíduos e os contextos em que atua, com suas histórias, culturas e
especificidades. É preciso conhecer a realidade a partir da análise de diferentes
dimensões, com a histórica, a cultural, a política e outras, para que o
conhecimento produzido possa explicar a complexidade dos fenômenos e
oferecer subsídios concretos para a realização de intervenções eficazes. A
Psicologia, nesse sentido, deve assumir uma dimensão crítica e política,
apresentando uma preocupação constante com a realidade social imediata
(Guzzo e cols., 2010).
Uma possível teoria a ser utilizada para compreender os indivíduos nos
processos educacionais é a Teoria Bioecológica, desenvolvida por
Bronfenbrenner e Morris (1998). Essa teoria busca considerar os contextos e
processos dos indivíduos através do tempo. A Teoria Bioecológica do
Desenvolvimento Humano permite pensar a escola como um microssistema no
qual há relações de diversas pessoas que desempenham papéis diferenciados
no desenvolvimento de seus membros. Essa teoria ressalta a importância de
trabalhar com diferentes atores, considerando diferentes níveis de relações e
processos, compreendendo como esses se influenciam mutuamente
(Bronfenbrenner, 2011).
Outra teoria importante que vem sendo utilizada e desenvolvida por
diferentes autores que trabalham com a Psicologia Educacional no Brasil é a
Psicologia histórico-cultural e teórico-crítica (Vygotsky, 1999). Essa perspectiva
defende que o desenvolvimento humano ocorre através de processos de
mediação simbólica desencadeados pelas trocas de experiências entre os
indivíduos nas suas relações sociais. Neste sentido, as competências humanas
são desenvolvidas nas relações sociais surgidas da mediação de instrumentos

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de natureza concreta e simbólica, sendo que a escola re- presenta um papel


fundamental no desenvolvimento dessas competências nos indivíduos (Marinho-
Araújo & Almeida, 2005).
Almeida (2001), ao falar das teorias e da atuação do psicólogo escolar,
afirma que na formação é preciso redimensionar as diferentes teorias
psicológicas, ampliando-as e integrando-as a outras referências teóricas e
metodológicas, especialmente observando as contribuições de cada uma para a
área da Educação. Na atuação prática é importante uma reflexão crítica sobre
as teorias psicológicas que tenha como pano de fundo suas origens ideológicas.
Para a autora, as práticas psicológicas que orientam a atuação profissional
serão necessariamente requalificadas se apoia- das em teorias que enfatizem
tanto os fatores objetivos e subjetivos do contexto sociocultural como as relações
inter e intrassubjetivas dos atores envolvidos nos processos educativos.
Hoje se percebem na literatura psicológica preocupações com o caráter
político e transformador que o psicólogo escolar deve apresentar e considerar
ao exercer sua prática (Guzzo e cols., 2010; Rodrigues e cols., 2008). Mais que
um compromisso político, é um compromisso ético que esse profissional deve
desenvolver. O psicólogo escolar está trabalhando com diferentes indivíduos
(crianças, adolescentes, adultos, idosos) em diferentes condições de
desenvolvimento, em contextos ditos “normais” e/ou “especiais”.
Assim, percebe-se que em sua atuação o psicólogo escolar se preocupa
com a consideração dos processos institucionais que estão produzindo formas
de subjetivação nos diferentes atores e no desenvolvimento dos processos
educacionais.

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Como indicado anteriormente, a literatura referente à Psicologia


Educacional traz uma preocupação ética muito grande com a atuação do
psicólogo. Nesse sentido, alguns autores (Guzzo, 2001; Patto, 1997; Rodrigues
e cols., 2008) apontam que o psicólogo escolar, além de desenvolver atividades
práticas de maneira crítica, deve atuar como um pesquisador e reprodutor de
conhecimentos.
Guzzo (2001) indica que há muito a ser investigado e produzido nessa
área, principalmente em relação a modelos de atuação para a realidade
brasileira. A autora indica que frequentemente a atuação do psicólogo escolar se
mostra descontextualizada, pois os modelos são importados de outros países.

A construção da relação psicologia-educação

A partir da emergência da Psicologia enquanto área de conhecimento,


produção de conhecimento e prática profissional, sua articulação com a
Educação passou a se configurar como um dos campos de atuação dos
psicólogos, apesar de pouco escolhida pelos profissionais, os quais se
detiveram, historicamente, mais ao psicodiagnóstico e à avaliação psicológica
(CRUCES, 2003). A inserção da Psicologia nas escolas foi marcada por objetivos
fortemente adaptacionistas, nos quais predominava a necessidade de corrigir e
adaptar, à escola, o aluno portador de um problema de aprendizagem (CORREIA
; CAMPOS, 2004; TANAMACHI, 2000). Esta adaptação se realizava, no

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passado, a partir da aplicação de recursos psicométricos, entendidos como


função do psicólogo.
O psicodiagnóstico e a avaliação psicológica, dotados de aplicações e
técnicas próprias, foram atividades consideradas inerentes e exclusivas do
psicólogo, prevalecendo, prioritariamente, nos seus diversos contextos de
atuação, inclusive no educacional (CRUCES, 2003). Assim sendo, a adoção dos
instrumentos psicológicos de classificação no interior das instituições educativas
se encontra, no nosso país, na origem do que se conhece como a Psicologia
Educacional e Educacional.
Tais procedimentos refletiam a migração, para o interior da escola, do
modelo clínico de atuação e do seu instrumental. (CAMPOS; JUCÁ, 2003, p. 39).
Foi, portanto, nesse contexto adaptacionista e de correção, que emergiu
a figura do psicólogo escolar ou psicólogo educacional, convocado à escola para
resolver problemas que surgiam neste espaço de formação. Um levantamento
histórico acerca da atuação do psicólogo escolar constata que a psicologia,
enquanto instrumento aplicado às práticas educacionais, se origina justamente
no final do século XIX, com o empenho de educadores e cientistas do
comportamento em classificarem crianças com dificuldades escolares e
proporem às mesmas métodos especiais de educação, a fim de ajustá-las aos
padrões de normalidade definidos pela sociedade. (YAZLLE, 1997, p. 15).
No entanto, a aplicação desse modelo
médico de intervenção na escola conduziu à
patologização e psicologização do espaço escolar
por atribuir ao próprio aluno a culpa por suas
dificuldades de aprendizagem e por isentar outras
instâncias das suas responsabilidades educativas
(CAMPOS; JUCÁ, 2003; NEVES, 2001; NEVES;
ALMEIDA, 2003; YAZLLE, 1997).
Com o passar dos anos e com a revisão crítica acerca da formação e
atuação do psicólogo, reformulações e avanços foram dando contorno à área,
de forma que os profissionais procuraram não mais se coadunar “à
descontextualização e fragmentação do indivíduo, à naturalização dos
fenômenos do desenvolvimento humano, à negação do caráter histórico-cultural

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da subjetividade, à tentativa de ‘psicologização’ no cenário educacional”


(ARAÚJO, 2003, p. 9).
As mudanças vêm ocorrendo de forma que se encontram, cada vez mais,
relatos de experiências de psicólogos que se preocupam em não culpabilizar o
aluno pelas dificuldades que enfrenta e tentam conscientizar os demais
profissionais de que a problemática do aluno está inserida em uma gama maior
de determinantes que não apenas os individuais, os familiares ou os psico-
afetivos (CRUCES, 2003; NEVES; ALMEIDA, 2003; NEVES; MACHADO, 2005).
Vê-se, portanto, que o vínculo inicial da relação entre a Psicologia e a
Educação, que se caracterizava pela aplicação acrítica das teorias psicológicas
às questões educacionais, não se manteve ao longo da história entre esses dois
campos científicos, dando lugar a uma relação de interdependência. A
aplicabilidade da Psicologia à Educação foi fortemente criticada por não se
entender como adequado o uso dos conhecimentos psicológicos para adaptar
os alunos à escola, normatizando posturas, princípios e relações de acordo com
o que é esperado pela instituição. Além disso, a aplicação dos conhecimentos
psicológicos na educação sem a devida reflexão, análise e planejamento,
acabavam por gerar processos de exclusão em relação a um conjunto de alunos,
uma vez que tais conhecimentos eram apropriados de forma descontextualizada
e sem referência à natureza histórico-cultural do ser humano, desconsiderando
a realidade social dos alunos e de suas famílias.
A partir de processos de avaliação e reflexão acerca da relação que se
estabeleceu entre o conhecimento psicológico e a educação, transformações
foram geradas tanto na formação do psicólogo escolar quanto em sua atuação.
Como desdobramento deste processo de crítica e reformulação da atuação em
Psicologia Educacional, reconhece-se tentativas no sentido de definir o que
venha a ser a Psicologia Educacional e de delimitar seu campo de atuação, bem
como de apresentar alternativas teórico-práticas que orientem o trabalho dos
psicólogos escolares. Sendo assim, a próxima seção traz, inicialmente, reflexões
acerca do que seja a Psicologia Educacional e seu campo de atuação e, em
seguida, apresenta algumas opções de atuação.

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Psicologia Educacional como campo de atuação

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?psicologia-educacional-importancia-do-psicologo-na-
escola&codigo=A1045&area=d6

O entrelaçamento entre a Psicologia e a Educação trouxe, para o contexto


educativo, um novo profissional: o psicólogo escolar. Entretanto, definir o papel
deste profissional e estabelecer seu campo de atuação é uma tarefa complexa,
apesar de extremamente necessária, uma vez que co-existem posicionamentos
diferentes acerca do que é a Psicologia Educacional. González Rey (1997) e
Mitjáns Martínez (2003) apontam que tais diferenças encontram suas raízes na
fragmentação da Psicologia, do conhecimento e, consequentemente, do
indivíduo, em áreas ou partes segmentadas.
Tal fragmentação se reflete no debate do que se entende por Psicologia
Educacional e sobre quais são as características que a distingue de outros
campos e áreas da Psicologia.
Tentando esclarecer tais colocações, Mitjáns Martínez (2003) aponta que
“a Psicologia Educacional é, de fato, a expressão da psicologia (na sua dupla
condição de produção científica e de trabalho profissional) no contexto escolar”
(p. 107). Nesse sentido, a Psicologia Educacional se refere à Psicologia na

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escola, com todas as suas possibilidades e implicações no que diz respeito ao


processo educativo.
Representando uma intersecção entre a Psicologia e a Educação, o termo
Psicologia Educacional se confunde, muitas vezes, com Psicologia Educacional
ou Psicologia da Educação. Em relação a estas terminologias, acredita-se, assim
como Araújo (2003), que a confusão ocorre em decorrência de concepções
dicotômicas entre prática e teoria que atribuem à Psicologia Educacional o
caráter prático e à Psicologia da Educação ou Educacional a função da
construção de conhecimentos que possam ser úteis ao processo educacional.
Essa distinção que separa teoria e prática traz, como conseqüência, uma
dissociação entre o exercício profissional do psicólogo na escola e as
elaborações teóricas necessárias a tal exercício. Discordando desta visão
dicotômica acredita-se que a Psicologia Educacional define-se como um campo
de produção de conhecimentos, de pesquisa e de intervenção e que, entre outras
atribuições, assume um compromisso teórico e prático com as questões relativas
à escola e a seus processos, sua dinâmica, resultados e atores (MARINHO-
ARAÚJO; ALMEIDA, 2005).
Nesse sentido, a Psicologia Educacional é entendida como um campo de
atuação profissional do psicólogo e, também, de produção científica,
caracterizado pela inserção da Psicologia no contexto escolar, sendo que o
objetivo principal deste campo é mediar os processos de desenvolvimento
humano e de aprendizagem, contribuindo para sua promoção. Mitjáns Martinez
(2003) conceitua a Psicologia Educacional como um campo de atuação
profissional do psicólogo (e eventualmente de produção científica)
caracterizado pela utilização da Psicologia no contexto escolar, com o objetivo
de contribuir para otimizar o processo educativo, entendido este como complexo
processo de transmissão cultural e de espaço de desenvolvimento da
subjetividade. (p. 107).
Dessa forma, a autora aponta que a especificidade do que se denomina
Psicologia Educacional está dada, hoje, pela conjunção de dois elementos:
contribuir para a promoção do processo educativo e pelo espaço de sua atuação,
qual seja o das instituições do sistema escolar, sendo que essas delimitam um

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espaço que não se reduz à escola, apesar deste ser o espaço fundamental de
atuação profissional.
Em relação ao contexto de atuação, alguns autores consideram que o
psicólogo escolar se define independentemente do espaço profissional que
possa ocupar, enquanto outros assumem que a escola é o espaço preferencial
e específico de sua atuação. Meira (2000) e Tanamachi (2000), por exemplo,
defendem que o espaço de atuação do psicólogo escolar se estende para outros
contextos profissionais que não necessariamente a escola, uma vez que
entendem que o psicólogo escolar se define como tal por estar inserido na
Educação e não propriamente na escola. Nesse ponto de vista a Psicologia
Educacional “enquanto área de estudo e de aplicação dos conhecimentos da
Psicologia à Educação escolar efetiva-se menos pela ocupação de um espaço
específico – a escola – do que pela definição de objetivos e finalidades”
(TANAMACHI, 2000, p. 92).
Por outro lado, Araújo (2003) e Marinho-Araújo e Almeida (2005)
discordam das posições que sustentam não ser a escola o espaço preferencial
e específico de atuação do psicólogo escolar. A identidade do psicólogo escolar
constitui-se “a partir da imersão na escola, enquanto espaço institucional de
efetivação concreta da condição humana dos sujeitos participantes e enquanto
locus privilegiado para a ocorrência do processo de canalização cultural”
(ARAÚJO, 2003, p. 13).
A identidade do psicólogo escolar e a especificidade de sua atuação são
dadas, sobretudo, pela configuração de um campo de atuação profissional, e
não por um campo de saberes delimitado por uma abordagem teórica e/ou
metodológica. Em sua atuação profissional o psicólogo escolar utiliza múltiplos
e diversos conhecimentos, organizados em diferentes áreas da Psicologia, para
contribuir com os processos de aprendizagem e de desenvolvimento que
ocorrem no contexto escolar (MITJÁNS MARTINEZ, no prelo). Ademais, a
especificidade da Psicologia Educacional advém da articulação que o
profissional faz dos diversos conhecimentos psicológicos na direção de mediar
as relações entre aprendizagem e desenvolvimento que têm lugar no contexto
escolar.

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Tendo essa discussão como pano de fundo, assume-se que a escola é o


contexto principal de atuação do psicólogo escolar, apesar de não se configurar
como o único, uma vez que atuações relevantes em Psicologia Educacional têm
se desenvolvido em outros contextos educativos, como é o caso de creches
(CAMPOS, 2001; SAYÃO; GUARIDO, 1997; VECTORE; MAIMONE, 2007;
YOKOY; PEDROZA, 2005), cursinhos pré-vestibulares (LIMA, 2005;
MAYNHONE, SANTOS; MARINHO-ARAÚJO, 2007; SILVA, COSTA;
FERREIRA, 2005; SILVA, RAMOS; NEVES, 2005) e Organizações Não
Governamentais - ONGs (CARVALHO, 2007; DADICO, 2003; SOARES, 2008).
Pelo exposto, evidencia-se que a atuação da Psicologia Educacional
relaciona-se com contextos de natureza educativa nos quais os processos de
aprendizagem e de desenvolvimento humano, e a relação que se estabelece
entre eles, são tidos como foco. A intervenção desencadeada pelo profissional
da área volta-se, essencialmente, para a mediação desses processos com o
objetivo precípuo de promovê-los.

A perspectiva preventiva e relacional como orientadora da atuação


em Psicologia Educacional

Acompanhando a relação estabelecida entre a Psicologia e a Educação,


a compreensão contemporânea acerca da atuação em Psicologia Educacional
aponta para a necessidade de o psicólogo se comprometer com a modificação
do processo de culpabilização e de exclusão dos alunos que prevaleceu como
foco de atuação da área em outros momentos históricos. Observa-se a
necessidade de ocupar-se da individualidade dos sujeitos sem, contudo,
desarticulá-los de suas redes de relações e de sua história. Nesse sentido, a
perspectiva preventiva em Psicologia Educacional mostra-se como possibilidade
de uma atuação diferenciada (ARAÚJO, 2003; ARAÚJO; ALMEIDA, 2003).
A noção de prevenção está, comumente, relacionada à ação de se
antecipar a determinado fenômeno com o objetivo de evitar que ele ocorra e de
ajustar soluções a possíveis problemáticas. Todavia, contemporaneamente, a
perspectiva preventiva na atuação psicológica busca a superação da visão de
promoção de adaptação, esperando que o profissional de Psicologia, em sua

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Psicologia Educacional

intervenção, “evidencie as contradições entre as práticas educativas e as


demandas dos sujeitos nesse contexto” (ARAÚJO, 2003, p. 65).
O conceito de prevenção
em Psicologia Educacional não se
refere ao ajustamento e adequação
de situações e comportamentos,
tidos como inadequados, a
padrões aceitos socialmente, pois
esse posicionamento favorável ao
controle social, exercido a partir da
padronização de comportamentos
e atitudes, desconsidera a característica histórica e social de cada indivíduo. A
intervenção preventiva proposta contemporaneamente pela Psicologia
Educacional pretende contribuir para que aconteçam reformulações pessoais e
institucionais no sentido de oportunizar, aos atores envolvidos, transformações
e saltos qualitativos em seu desenvolvimento. Tais saltos podem ser possíveis
através de ações do psicólogo escolar que estejam intencionalmente
comprometidas com tal objetivo, como, por exemplo, em relação às concepções
dos profissionais da escola acerca da avaliação, da aprendizagem e do
desenvolvimento humano. As concepções que os professores têm acerca deste
último direcionam sua prática profissional, favorecendo ou prejudicando sua
mediação em relação ao desenvolvimento psicológico de seus alunos. Conhecer
e intervir sobre as concepções de natureza deterministas e reducionistas dos
professores, por exemplo, é uma possibilidade de contribuir para a
transformação de práticas que se mantêm rígidas e imutáveis
independentemente dos sujeitos envolvidos. Intervir nas concepções que são
balizadoras das ações e práticas dos profissionais é uma forma de promover
mudanças neles e, provavelmente, nos alunos também, contribuindo para que
tenham oportunidade de rever seus conceitos e práticas, retomar suas
prioridades, modificar suas intenções e objetivos, reconsiderar seu papel na
formação dos alunos, entre outros.
Ao contrário da visão de controle, a atuação preventiva em Psicologia
Educacional deve estar respaldada em ações que busquem a) facilitar e

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Psicologia Educacional

incentivar a construção de estratégias de ensino diversificadas, b) promover a


reflexão e a conscientização de funções, papéis e responsabilidades dos sujeitos
e c) superar, junto com a equipe escolar, os obstáculos à apropriação do
conhecimento (MARINHO- ARAÚJO; ALMEIDA, 2005).
Dessa forma, a ação preventiva deve ser redirecionada para a
compreensão e intervenção nas relações interpessoais que permeiam a
construção do conhecimento e da ação pedagógica, sendo preciso que o
psicólogo escolar instrumentalize-se para estudar e entender as relações
interpessoais como sendo sua unidade de análise, isto é, seu foco de atenção e
de intervenção (ARAÚJO, 2003; ARAÚJO; ALMEIDA, 2003; MARINHO-
ARAÚJO; ALMEIDA, 2005).
Corroborando a perspectiva relacional, Machado (2000) lembra que “não
existem causas individuais para os fenômenos da vida, pois eles não são
individuais, não são de ninguém. São efeitos que se engendram em uma rede
de relações” (p. 146). Por assim ser, entende-se que os fenômenos são
viabilizados nas relações e, dessa maneira, os caminhos para a intervenção do
psicólogo escolar devem, portanto, estar ancorados na compreensão de que as
relações sociais originam o processo interdependente de construções e
apropriações de significados e sentidos que acontece entre os indivíduos,
influenciando, recíproca e/ou complementarmente, como cada sujeito constitui-
se enquanto tal. Para intervir na complexidade intersubjetiva presente nessas
relações, o psicólogo deve fazer uma escolha deliberada e consciente por uma
atuação preventiva sustentada por teorias psicológicas cujo enfoque privilegie
uma visão de homem e sociedade dialeticamente constituídos em suas relações
históricas e culturais. (ARAÚJO, 2003, p. 66).
Sendo assim, faz-se extremamente necessário abandonar as concepções
e práticas que entendem os fenômenos educativos sobre o prisma individual e
dissociado do contexto histórico-social no qual está inserido, devendo se
encaminhar para a adoção de concepções relacionais, integradoras e amplas.
Embasada na perspectiva preventiva e relacional em Psicologia
Educacional (ARAÚJO, 2003; ARAÚJO; ALMEIDA, 2003) e na perspectiva
histórico-cultural (VYGOTSKY, 2003), uma das propostas contemporâneas de

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Psicologia Educacional

atuação da área refere-se à inclusão do professor como co-participante das


atuações em Psicologia Educacional.
Nesta proposta, acredita-se que a inclusão de diferentes atores na
intervenção de um problema escolar é a maneira mais adequada de se promover
o desenvolvimento e a aprendizagem. Nesse sentido, Neves e Almeida (2003)
apontam que, ao se colocar o professor como co-participante no processo de
atendimento a seus alunos, por exemplo, emerge um espaço de interlocução
que possibilita ao professor refletir sobre sua prática e assumir uma postura mais
crítica diante das queixas escolares.
Com a participação do professor, além de trocar informações, “os
psicólogos escolares podem criar condições para a desmistificação das
explicações psicologizantes, a partir de uma reflexão consistente e
fundamentada nos conhecimentos acumulados pela Psicologia” (MEIRA, 2000,
p. 66). A participação ativa do professor na busca de alternativas para o efetivo
aprendizado dos alunos lhe possibilita apropriar-se de sua função e
responsabilidade, as quais, por algum tempo, foram delegadas ao psicólogo ou
a outros “especialistas” que se ocupavam dos fenômenos educativos. Dessa
forma, acredita-se que é possível contribuir para “o resgate do papel ativo e
dirigente do professor (...) na reflexão, estudo e posterior definição dos caminhos
e recursos necessários à resolução das dificuldades” (MEIRA, 2000, p. 66), a
partir de sua inclusão na discussão e reflexão acerca das dificuldades
identificadas.
Por meio da participação do professor, o psicólogo escolar pode favorecer
processos de questionamento e de conscientização acerca das concepções
deterministas de desenvolvimento e aprendizagem que, implicitamente e de
forma pouco lúcida, ainda estão presentes nas compreensões das queixas
escolares e, portanto, nas práticas pedagógicas.

A atenção ao professor como espaço de intervenção em Psicologia


Educacional

O professor é considerado o principal agente do processo educacional,


co-participante e mediador da intervenção junto às dificuldades escolares, de

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forma que em virtude deste importante papel diversas propostas de formação


continuada são elaboradas com vistas a promover o desenvolvimento
profissional dos professores. Os inúmeros esforços nesse sentido sustentam-se
sobre a intenção de que os docentes estejam cada vez mais cientes das
possibilidades e estratégias de trabalho que podem adotar em prol do
desenvolvimento e da aprendizagem de seus alunos. Contudo, a qualidade da
atividade desses profissionais depende, também, do seu bem-estar, de forma
que ao psicólogo escolar cabe, do mesmo modo, responsabilizar-se pela
promoção da saúde mental dos docentes.
Por esse motivo, ao se trabalhar junto com os professores é preciso levar
em conta diferentes questões que dificultam a atuação adequada destes
profissionais, refletindo e discutindo sobre alguns aspectos que afetam a saúde
e a qualidade de vida do professor e da sua profissão. Um desses aspectos
refere-se ao burnout, síndrome vivenciada por muitos professores em
decorrência da natureza da atividade que realizam.
Todo trabalho envolve algum investimento afetivo por parte do
trabalhador, seja na relação com os outros ou com o produto do trabalho, sendo
que o diferencial do trabalho docente está no fato de que “a relação afetiva é
obrigatória para o exercício do trabalho, é um pré-requisito” (CODO; GAZZOTTI,
1999, p. 50). A afetividade é um conjunto de fenômenos psíquicos que se
manifestam sob a forma de emoções e sentimentos, sempre acompanhados de
dor ou prazer, satisfação ou insatisfação, alegria ou tristeza, entre outros (CODO;
GAZZOTTI, 1999). A relação entre a afetividade e o trabalho docente configura-
se, portanto, como uma relação necessária, sendo que para que o professor
consiga desempenhar satisfatoriamente seu trabalho é preciso que seja
estabelecida uma relação afetiva com seu aluno. Todavia, quando o vínculo
afetivo não se concretiza de forma satisfatória nas relações formais de trabalho,
instala-se uma contradição junto ao trabalhador.
A contradição entre a necessidade de se vincular afetivamente na relação
profissional e a impossibilidade dessa vinculação se concretizar totalmente é
responsável pelos conflitos de sentimentos presentes na vida do professor. De
acordo com Codo e Gazzotti (1999), na maioria das vezes esse conflito não é
percebido pelo professor, é invisível; trata-se, na verdade, de uma vivência

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subjetiva que o próprio professor não percebe que está sentindo. Pela
impossibilidade de vincular-se afetivamente, na medida desejada, a afetividade
que seria dirigida ao seu destinatário, o aluno, por exemplo, acaba sendo
redirecionada.
Já que não é possível investir o aluno com o afeto desejado, este acaba
sendo voltado para o próprio corpo do trabalhador, e isso traz consequências
bastante negativas para os nossos educadores. Quando a mente não vai bem o
corpo padece, já dizia um velho ditado. (CODO; GAZZOTTI, 1999, p. 58).
Por essas razões, diz-se que é relativamente frequente perceber os
profissionais da educação como agentes de alto risco, sendo várias as queixas
que denunciam situações de mal-estar docente (ALMEIDA; FIGUEIRA, 1998;
BENEVIDES-PEREIRA, 2002; CODO; VASQUES MENEZES, 1999). Este mal
estar foi inicialmente descrito a partir do termo inglês burnout, utilizado para
designar os professores cansados, abatidos, sem vontade de ensinar e que já
desistiram desta tarefa. Em português, o significado deste termo gira em torno
de “perder o fogo”, de “perder a energia” ou de “queimar” e diz respeito à
“síndrome através da qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o
trabalho, de forma que as coisas já não o importam mais e qualquer esforço lhe
parece ser inútil” (CODO; VASQUES-MENEZES, 1999, p. 238).
A síndrome é multidimensional e envolve três componentes inter-
relacionados: a) a exaustão emocional, em que os trabalhadores sentem que
não podem dar mais de si mesmos a nível afetivo; b) despersonalização, em que
ocorre o desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas em relação aos
alunos; e c) falta de envolvimento pessoal no trabalho, situação marcada por
uma evolução negativa no trabalho que afeta as habilidades envolvidas na
realização do mesmo (ALMEIDA; FIGUEIRA, 1998; CODO; VASQUES-
MENEZES, 1999).
As repercussões ou consequências do burnout são sentidas pelo
professor e pelos alunos, demonstrando que o mal-estar vivido pelo docente em
relação à sua profissão enfraquece a relação professor- aluno e os processos de
ensino e de aprendizagem. O burnout compromete, igualmente, a saúde do
professor e a qualidade do aprendizado dos alunos, indicando a necessidade de

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intervenções que minimizem o sofrimento docente e possibilitem espaços e


relações adequadas ao aprendizado.
A proposta da Psicologia Educacional no que se refere ao burnout docente
difere da perspectiva terapêutica ou clínica que pode ser realizada em outros
contextos. A intervenção do psicólogo escolar junto a esta síndrome deve ser
coerente com a perspectiva preventiva já explicitada anteriormente,
privilegiando, portanto, que as contradições entre as demandas dos sujeitos e as
práticas e rotinas institucionais definidas no contexto escolar sejam
evidenciadas, e não camufladas, como forma de possibilitar a circulação de
necessidades, exigências, incertezas, expectativas, angústias, possibilidades,
limitações, entre outras. A criação de um espaço de interlocução, mediado pelo
psicólogo escolar, visa oportunizar a circulação dos sentidos, compartilhar
vivências e promover o bem-estar dos professores, sua saúde mental e, assim,
prepará-los para sua atividade profissional.
Nota-se, portanto, a importância de o psicólogo escolar estar atento ao
sofrimento vivenciado pelos professores, os quais são os grandes motores dos
processos educacionais, mas que, diariamente, estão sujeitos à exaustão
emocional, a sentimentos de desgaste e de incerteza, entre outros, distanciando-
se da sua tarefa de educar as crianças e jovens sob sua responsabilidade.

A intervenção psicossocial

Um dos fundamentos desse estudo consiste na ideia de que o psicólogo,


como profissional social, deve estar sensível e preparado para uma ação
comunitária e coletiva junto às classes oprimidas, considerando em sua análise
elementos da personalidade como uma construção ideológica e relacionando o
desenvolvimento pessoal e amadure- cimento psicológico com as motivações
sociais (FREITAS, 1998; LANE & CODO, 1984). Além disso, incorporam-se os
conceitos de psicologia da libertação e o de trauma psicossocial desenvolvidos
por Mártin-Baró (1990) e Pacheco e Jimenez (1990). O trauma psicossocial,
segundo estes autores, pode ser identificado pelas dificuldades nas relações
sociais consequentes à situações específicas como a guerra por exemplo, pela
violência e desumanidade.

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http://tecla.pt/index.php%3Ft=training&key=intervencao-psicossocial-em-criancas-jovens-e-familias-
em-risco

Diante de uma realidade hostil e violenta as pessoas têm dificuldade de


reconhecer elementos do cotidiano que se tornam prejudiciais à sua vida ou de
seu grupo social, ao mesmo tempo em que perdem a condição de construírem
formas de se defenderem contra estas condições, tornando-se vulneráveis. Os
maus tratos, por exemplo, são resultantes de riscos acumulados e
vulnerabilidades em todos esses níveis.
Na ausência de fatores protetivos, vulnerabilidades predispõem famílias
ao abuso e à violência, ao passo que na presença de fatores protetivos e
suportes, há chances de que famílias e crianças se desenvolvem de forma a
poderem sobreviver em cotidianos adversos, buscando sua transformação.
(TROMBETA & GUZZO, 2002).
A implementação de políticas públicas e programas que visem a proteção
à crianças e adolescentes, é determinada de forma ampla pelo modelo social
predominante. Sociedades neoliberais, cujos valores são a competição e a
individualismo têm pouca preocupação com a implementação de políticas que
se voltam para uma ação coletiva. É preciso que se tenha claro que, o trabalho
com comunidade de risco só tem sentido se estiver inserido em um conjunto de
políticas públicas mais amplas, nas quais todos os segmentos da sociedade
possam estar incluídos. A busca pela colaboração solidária como uma alternativa
para o combate à globalização capitalista tem sido uma fonte inesgotável de
trabalhos comunitários que pouco contribuem para as mudanças sociais. As

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Psicologia Educacional

mudanças positivas na direção do bem estar e da prevenção aos maus tratos,


pressupõem a participação de todos e devem se pautar na totalidade da
realidade. O envolvimento de diferentes segmentos da comunidade pode tornar
a transformação social mais efetiva, no entanto, das necessidades imediatas e
singulares é preciso evoluir para condições mais genéricas. O entendimento do
cotidiano e o conhecimento das bases empíricas dos problemas e soluções,
decorrem da integração entre a prática, o social e o científico, em outras palavras
da práxis social. Um dos maiores problemas da sociedade atual, segundo Freire
(1999), é que o ser humano está cada vez mais dominado pela força dos mitos
comandados pela publicidade organizada e pela ideologia dominante e vem,
com isso, renunciando, cada vez mais, sua capacidade de decidir. As tarefas de
seu tempo são apresentadas por uma elite que as interpreta e as entrega como
prescrições a serem segui- das, afogando-se no anonimato da massificação,
sem esperança, sem fé e sem capacidade de lutar, domesticado e acomodado.
A imagem trazida por Fromm (1968) sobre o homem-objeto, cabe bem
para ilustrar esta ideia da emancipação que se deseja buscar. Como objeto, o
ser humano ajusta-se ao mandato de autoridades anônimas e adota um Eu que
não lhe pertence, conformando sua conduta às expectativas alheias. Apesar de
seu disfarce de iniciativa e otimismo, homens e mulheres modernos vivem hoje
um sentimento profundo de impotência que os paralisa diante das circunstancias
de sua vida.
Contribuições de Dejours (2000 e 2001) sobre as relações do homem com
seu cotidiano opressor, além de chamar a atenção para a falta de cuidado que
as políticas têm em relação ao bem estar e a justiça social, especialmente,
consideradas pelo prisma do trabalho, denunciam de forma contundente a
ausência de uma proposta libertadora de ação e compromisso profissional. Este
autor chama a atenção para a necessidade de uma mudança na perspectiva de
compreensão da realidade que deve refletir as relações no âmbito do coletivo.
A tolerância do intolerável, a sobrevivência no cotidiano adverso e a
garantia da liberdade pelas vias ideológicas, podem ser metas para um trabalho
profissional que busque responder às demandas sociais presentes nesta
realidade, no entanto, paradoxalmente, mantém o “status quo”, sem apresentar
perspectivas de mudança. Passar da competitividade para a cooperação, do

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individualismo para a solidariedade, como valores que orientam as relações


humanas, exige uma forma de agir profissionalmente que envolva a comunidade
em ações preventivas e promotoras da consciência coletiva, desde muito cedo
no ciclo da vida. A paralisação, o conformismo, a dominação e a violência são
frutos de um sistema social e econômico que estrutura a sociedade em bases da
desigualdade, do desrespeito e da exploração de uns poucos sobre a maioria. É
desta condição que estamos falando.
O rompimento deste ciclo de paralisação e dominação passa a ser o
desafio do trabalho de psicólogos em comunidades. A busca de um sentido para
a pratica profissional, que extrapole os valores do individualismo e interesse
próprio e se direcione para o paradigma da justiça, solidariedade e coletividade,
exige que os maus-tratos infantis e as dinâmicas familiares não sejam
considerados como problemas pessoais ou familiares independentes das
dinâmicas de poder presente nas estruturas sociais. É preciso que se resista às
pressões de se patologizar famílias e indivíduos, reformulando soluções em
termos de responsabilidades coletivas, assim como, buscar igualdade de
atenção a valores pessoais e coletivos, no plano das relações sociais e políticas
públicas.
De uma forma geral, a busca por uma identidade pessoal e coletiva pode
ocorrer pela ação do psicólogo em um modelo de intervenção que busca
substituir o poder na dinâmica social vigente: das forças hegemônicas às
necessidades sociais, principalmente, da maioria excluída que vive à margem de
um sistema em que poucos têm direito à cultura, educação, saúde, habitação,
trabalho e descanso. Há, no entanto, a necessidade de se propor um modelo de
formação e atuação do psicólogo mais próximo ao entendimento do papel do
estado na vida em sociedade, das políticas econômicas que concentram o poder
político nas mãos daquele que concentram o poder econômico e na formulação,
implantação e avaliação de políticas sociais e públicas que se propõem a
produzir impacto sobre cotidiano e a vida da população brasileira e, no entanto,
acabam por legitimar os mecanismos de exclusão social, minorando a dor e os
problemas de poucos e deixando de lado a maioria que, a cada dia, nem chega
a se beneficiar do direito de melhor qualidade de vida.

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Psicologia Educacional

Interfaces entre a Psicologia e a educação: reflexões sobre a atuação


em Psicologia Educacional

A área da Psicologia Educacional e Educacional permanece marcada


pelas dificuldades apontadas por psicólogos e psicólogas que atuam no campo
da educação, principalmente no que se refere a compreensão da comunidade
escolar sobe o papel da psicologia neste campo. Esta questão fica evidenciada
nas demandas escolares apresentadas aos profissionais pelos educadores, com
a centralidade nos alunos e apresentando uma expectativa de intervenção
voltada para psicodiagnóstico ou atendimento individualizado, representado em
um problema cuja solução acredita-se ser da psicologia. De outro lado também
se ampliam na literatura publicações que apontam atualmente para a ineficiência
do modelo clínico no contexto educacional, e sobre a importância de avaliar as
demandas com uma visão sistêmica, associando reflexões sobre novos modelos
de intervenção.
Segundo Maluf (1999) que apresenta reflexões na área da Psicologia da
Educação e do Desenvolvimento nos últimos anos, uma das razões para a
fragilidade da formação está relacionado ao fato de existirem cursos de
graduação que são mantidos à margem de avaliações que lhes garantissem
qualidade, fazendo sua expansão de modo desenfreado, aliados em sua maioria
a interesses puramente econômicos.
Na sociedade cultuamos os direitos individuais e comunitários, entretanto
convivemos com a problemática da exclusão de grande par- cela da população
na participação dos bens. O direito à educação formal com todos os seus efeitos
na vida social, ainda não se concretizou para uma boa parte da população. Esta
realidade faz parte do cotidiano e dos problemas com os quais se deparam os
psicólogos e as psicólogas escolares. O discurso crítico não é hegemônico,
embora nos últimos anos tenha começado a surgir algumas práticas inovadoras,
que de maneira geral, são construídas em bases e expectativas mais realistas.
E assim se pro- põe a pensar a Psicologia Educacional como uma possibilidade
de favorecer a criação de condições apropriadas ao desenvolvimento e à
aprendizagem, colocando no campo das preocupações a ética individual e
social. A nomenclatura da área também passou a ser foco de reflexão, quando

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Psicologia Educacional

se fala de Psicologia Educacional, não está se referindo unicamente as atuações


nas instituições de ensino, mas sua possibilidade em diversos locais em que
possa se pensar o caráter preventivo e educativo em saúde mental, seja nas
comunidades, seja nas empresas, ou ainda nas diversas organizações não
governamentais que desenvolvem trabalhos socioeducativos. Entretanto isto
não é um consenso, existe também a visão de alguns que partem do princípio
de que Psicologia Educacional seria uma ciência multidisciplinar, enquanto
consideram a Psicologia Educacional mais como disciplina aplicada.
Concordamos aqui com Maluf (2003), que defende que a Psicologia
Educacional possui uma concepção mais ampla como ciência dos funda- mentos
do processo educacional, com a qual se relaciona a Psicologia Educacional, que
tem lugar na escola e em outras instituições associadas com o processo de criar,
educar e instruir.
VIANA (2006) aponta algumas das avaliações dos entrevistados neste
sentido reproduzem de certa forma estas duas concepções, onde existem
aqueles que apresentam a compreensão apresentada por Maluf, e de forma
abrangente, entende que:
Psicologia Educacional lida com as relações na educação, pode ser numa
escola ou em todos os lugares onde as pessoas estão aprendendo e ensinando,
ou tratando de coisas de educação (VIANA, 2006, pág 133).
Que contrastam com outros que pensam que: Psicologia Educacional
é uma área de conhecimento da psicologia que tem como objeto de estudo e de
análise as teorias educacionais, relacionadas à educação. Diferente da
Psicologia Educacional que é mais prática. Educacionais são aqueles psicólogos
que pensam a educação. Já a Psicologia Educacional é que é voltada para o
contexto educativo [...] (VIANA, 2006, pág 133).
O Conselho Federal de Psicologia, acompanhando a orientação da
Associação Brasileira de Psicologia Educacional e Educacional (ABRA- PEE),
configura o Psicólogo Escolar e Educacional, conforme abaixo: Atua no âmbito
da educação formal realizando pesquisas, diagnóstico e intervenção preventiva
ou corretiva em grupo e individualmente. Envolve, em sua análise e intervenção,
todos os segmentos do sistema educacional que participam do processo de
ensino-aprendizagem. Nessa tarefa, considera as características do corpo

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Psicologia Educacional

docente, do currículo, das normas da instituição, do material didático, do corpo


discente e demais elementos do sistema. Em conjunto com a equipe, colabora
com o corpo docente e técnico na elaboração, implantação, avaliação e
reformulação de currículos, de projetos pedagógicos, de políticas educacionais
e no desenvolvimento de novos procedimentos educacionais (CFP, 2007, p. 18).
No que se refere às questões administrativas o Psicólogo Escolar e
Educacional contribui ainda: No âmbito administrativo, contribui na análise e
intervenção no clima educacional, buscando melhor funcionamento do sistema
que resultará na realização dos objetivos educacionais. Participa de programas
de orientação profissional com a finalidade de contribuir no processo de escolha
da profissão e em questões referentes à adaptação do indivíduo ao trabalho.
Analisa as características do indivíduo portador de necessidades
especiais para orientar a aplicação de programas especiais de ensino. Realiza
em equipe interdisciplinar, integrando seus conhecimentos àqueles dos demais
profissionais da educação. Para isso realiza tarefas como, por exemplo:
a) aplicar conhecimentos psicológicos na escola, concernentes ao
processo ensino-aprendizagem, em análises e intervenções psicopedagógicas;
referentes ao desenvolvimento humano, às relações interpessoais e à integração
família-comunidade-escola, para promover o desenvolvimento integral do ser;
b) analisar as relações entre os diversos segmentos do sistema de ensino
e sua repercussão no processo de ensino para auxiliar na elaboração de
procedimentos educacionais capazes de atender às necessidades individuais;
c) prestar serviços diretos e indiretos aos agentes educacionais, como
profissional autônomo, orientando programas de apoio administrativo e
educacional; d) desenvolver estudos e analisar as relações homem-ambiente
físico, material, social e cultural quanto ao processo ensino-aprendizagem e
produtividade educacional;
e) desenvolver programas visando a qualidade de vida e cuidados
indispensáveis às atividades acadêmicas;
f) implementar programas para desenvolver habilidades básicas para
aquisição de conhecimento e o desenvolvimento humano;
g) validar e uti- lizar instrumentos e testes psicológicos adequados e
fidedignos para fornecer subsídios para o replanejamento e formulação do plano

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escolar, ajustes e orientações à equipe escolar e avaliação da eficiência dos


programas educacionais;
h) pesquisar dados sobre a realidade da escola em seus múltiplos
aspectos, visando desenvolver o conhecimento científico (CFP, 2007, p. 18).
Psicologia Educacional é aquela onde o psicólogo está na es- cola para
atender as demandas do aluno ou da comunidade escolar, não para realizar
atendimento clínico dentro da escola, mas articular aquelas demandas trazidas
dentro do contexto escolar (VIANA, 2006, pág 134).

A PSICOLOGIA EDUCACIONAL NA INTERFACE COM A


PSICOPEDAGOGIA

https://dialogosdosaber.com.br/psicopedagogia-do-que-se-trata/

A Psicopedagogia surge como outro campo de interface da Psicologia


Escolar e Educacional, estando focada nos processos de aprendizagem. Esta
prática embora possua variadas possibilidades de intervenção, tem sido
frequentemente utilizada para auxiliar a correção no descompasso do processo
de aprendizagem dos alunos que “não acompanham o bonde”. Lembramos aqui,
que o processo educativo no Brasil, possui as marcas e comprometimento
devido aos condicionantes do Banco Mundial para a educação, ocorridas nas
décadas de 80 e 90.

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Psicologia Educacional

Crianças se veem divididas entre duas realidades distintas

a) Nas escolas públicas o seu processo de aprendizagem ficou em


segundo plano, em favor da manutenção de índices “satisfatórios” de repetência
escolar, pautados na lógica econômica que norteou a política educacional por
várias décadas no final do século XX. Com frequência se encontravam jovens
na 5ª ou 6ª série do ensino fundamental que não se encontravam alfabetizados
ou em condições de realizar uma produção ou compreensão textual.
Com frequência este processo se desdobrava em desestimulo, evasão
escolar, fragilidade para elaborar um projeto de futuro, e o que é ainda pior, são
responsabilizados por suas dificuldades;
b) Nas escolas particulares, que têm nas últimas décadas se multiplicado
e ampliado seu campo de abrangência nos moldes do projeto neoliberal,
contando com a desqualificação da escola pública para este crescimento e
condições de concorrência no merca- do, colocam as crianças em um processo
de competição desumano rumo a obtenção de uma vaga na universidade. Desta
forma impõe aos mesmos um ritmo de aprendizagem insuportável para a maior
parte dos alunos, que também são considerados pouco competentes e
necessitando de auxílio para acelerarem o processo.
Nessa realidade, a Psicopedagogia surgiu como a grande solução, ou
seja, uma área do conhecimento que se constitui na interface da Pedagogia e da
Psicologia, e se propõe a auxiliar as crianças principalmente nas “dificuldades
de aprendizagem”. O fato de que na realidade brasileira o quantitativo de
crianças que não acompanham o ritmo escolar tem se multiplicado de forma
gigantesca e assim a Psicopedagogia tornou-se um campo de trabalho
promissor. Ressaltamos aqui que, a Psicopedagogia isoladamente não dá conta
de solucionar os impasses gerados num processo educacional desconcentrado.
Não estamos neste estudo aprofundando os impasses próprios da relação
profissional entre a Psicopedagogia e a Psicologia, que se constituíram em fortes
debates quanto ao campo de trabalho. O Conselho Federal de Psicologia se
posiciona formalmente contra a regulamentação da primeira como profissão, por
entender que esta se refere apenas a uma prática especializada de dois campos,

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Psicologia Educacional

quais sejam a Pedagogia e a Psicologia. Salientamos inclusive que o caminho


trilhado pelo psicopedagogo clínico (profissional liberal) caminha na contramão
do que a Psicologia Educacional e Educacional vem se desenvolvendo, pois
termina por reafirmar e manter o foco no processo individualizado no aluno,
quando na verdade existe uma gama de variáveis contribuindo para o fenômeno.
Conforme podemos verificar a Psicopedagogia poderia perfeita- mente
estar incluída na especialidade do Psicólogo Escolar e Educacional, até porque
diz respeito a um mesmo campo de atuação, ou seja, a intervenção psicológica
na educação, diferenciando-se enquanto técnica. Embora reconheçamos que as
dificuldades impostas às crianças pelo processo educativo, careçam atualmente
de solução, e que as técnicas da psicopedagogia oferecem certa contribuição
neste sentido, poderíamos inclusive afirmar que o desejável para a educação
seria que a intervenção corretiva da psicopedagogia fosse completa- mente
desnecessária e que a contribuição da psicologia na educação estivesse
centrada no fortalecimento e promoção do desenvolvimento harmonioso e
saudável de crianças e adolescentes.
Viana (2006) em seu estudo apresenta falas que direcionam também a
reflexão sobre a correlação entre a Psicologia Educacional e a Psicopedagogia,
expondo a fala de uma das psicólogas entrevistadas:
A Psicologia Educacional para mim se confunde um pouco com a
psicopedagogia, eu achei isto quando estava fazendo a especialização. Você
estuda a instituição, as formas de funcionamento da instituição, as formas de
comunicação, o que está favorecendo a aprendizagem e o que estaria impedindo
a aprendizagem, quais são os aspectos psicossociais que estão influenciando a
população da escola. Ele está ali para facilitar o processo de aprendizagem.
Verificar as formas de autoridade, de exercício de poder, como é que dentro da
instituição estaria relacionada ao processo de aprendizagem (VIANA, 2006, pag.
137).
A percepção sobre o que seria Psicologia Educacional e Educacional para
aqueles que não possuem a formação na psicologia, acentua ainda mais a
confluência com a Psicopedagogia, e acreditam que:
Psicologia Educacional é o trabalho com crianças com problemas
psicológicos, que tem dificuldades de prestar atenção, questões que diz respeito

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a dificuldades de compreensão ou aprendizagem. Mas não acho que tem a ver


esta história de menino danado não, acho que isto é outra coisa (VIANA, 2006,
pag. 135).

Segundo Cruces (2003), na área escolar “convivem, lado a lado, modelos


de atuações e práticas extremamente críticas e inovadoras e atuações
permeadas pela visão curativa e individualizadas, que é denunciada por ser
estigmatizadora”. Provocando assim, a partir da década de noventa, estudos que
buscam encontrar as condições e o preparo necessários ao profissional da
Psicologia Educacional e Educacional, e das Políticas Educacionais de forma a
privilegiar uma prática que atenda aos interesses da educação para a cidadania.
Se o homem é o produto de sua história, considerando história sua
realidade concreta, realística e verdadeira, ele é também fruto de suas
experiências, suas construções, seus anseios, sonhos, desejos e ilusões; e
considerando ainda que a aprendizagem se constitua um valor na educação
tanto escolar como familiar, esta se torna um qualificante da criança; e que como
tal contribui na estruturação de seu funcionamento. Refletir sobre qual a ação do
profissional de psicologia nas escolas, capaz de contribuir para que crianças e
adolescentes se desenvolvam com autonomia e com uma visão crítica da
realidade, é uma preocupação que se apresenta. E Freire elucida este aspecto
com propriedade:
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado,
mas consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é
diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença
entre o inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que histórica e
socialmente alcançou a possibilidade de saber-se inacabado. (FREIRE, 1996,
pag.)
Os desafios vão desde a formação do educador, a sua valorização
profissional, a satisfação dos insumos necessários ao processo de ensino-
aprendizagem, o desenvolvimento de tecnologias e metodologias compatíveis
com a realidade social e até mais recentemente uma preocupação com relação
à missão do educador frente a um ser que cresce e se forma para a vida.

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DIFERENCIAÇÃO ENTRE A INTERVENÇÃO EDUCATIVA E A


INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO

É fundamental que ocorra uma distinção clara entre o fazer pedagógico e


educativo, que poderá estar assentado em saberes desenvolvido pela
Psicologia, tendo como objetivo o desenvolvimento da aprendizagem, daquele
fazer psicológico na educação.
Sabemos que a psicologia pode oferecer à educação informações
científicas e úteis, tais como condições de aprendizagem, avaliação das
capacidades intelectuais e afetivas que se relacionam com o processo de
aprendizagem dos indivíduos, além de ampliar a percepção dos educadores
sobre os diversos aspectos do desenvolvimento de crianças e adolescentes, e a
relação destes com os fatores sócios culturais que se estabelecem no meio
educacional.
Sendo a Psicologia uma profissão da área das ciências humanas, com
aplicação em diversos campos, entre eles no campo da educação, e que nas
últimas décadas vem construindo a sua referência de atuação com um maior
comprometimento com os problemas sociais brasileiros, partimos do princípio
que a atuação em Psicologia Educacional, seja ela em escolas, em
comunidades, em educação especial, em psicopedagogia, em empresas ou em
outras organizações, se situa como recurso para favorecer o desenvolvimento
humano, assegurando e facilitando o desenvolvimento saudável das crianças,
adolescentes, jovens e adultos, considerando os vários aspectos que integram
a vida humana: a intelectualidade, a motricidade, a afetividade, a sociabilidade,
etc. Compreendendo que na rede de atenção ao processo ensino aprendizagem,
a grande missão da educação se constrói a várias mãos e considerando a
psicologia como uma das profissões do campo da educação, se torna imperioso
efetuar uma diferenciação, sendo que aqui nos limitaremos a discutir sobre a
distinção entre o fazer pedagógico do fazer psicológico na educação.
A intervenção pedagógica visa um processo de aprendizagem que
envolve a aquisição de conhecimentos e habilidades, já a intervenção
psicológica visa facilitar os processos educacionais através da mediação,

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considerando que existe um processo de transformação pessoal acontecendo


com os indivíduos envolvidos.

http://www.blogin.com.br/2018/06/11/intervencao_pedagogica_na_sala_de_aula/

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