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Alternativas

Não Convencionais
para Transmissão de
Energia Elétrica
Meia onda+ e
Transmissão CA
Segmentada

E. H. Watanabe
A. S. Pedroso
A. C. Ferreira
A. C. S. Lima
R. F. S. Dias
B. Chuco
S. L. S. L. Barcelos
Edson Hirokazu Watanabe
Nasceu em Miguel Pereira-RJ, Brasil, em 7 de
novembro de 1952, recebeu o título de engenheiro
eletrônico pela Escola de Engenharia (1975) e
Mestre (1976) pela COPPE, ambas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. É doutor pelo Instituto
de Tecnologia de Tóquio (1981). Atualmente,
é Professor Titular do Programa de Engenharia
Elétrica da COPPE, onde atua desde 1981, e é,
atualmente, Vice-Diretor da COPPE/UFRJ. Sua
área de interesse é a de aplicações de eletrônica de
potência em sistemas de potência. É pesquisador
nível 1A do CNPq membro do IEEE (PES, IAS,
PELS), Cigre, IEE-Japão, Sociedade Brasileira de
Eletrônica de Potência e Sociedade Brasileira de
Automática.

Alquindar de Souza Pedroso


Graduou-se em engenharia elétrica e mecânica pela
Escola de Engenharia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1956. Em 1971,
recebeu o título de mestre em engenharia elétrica
pela School of Electrical Engineering - Purdue
University – USA. Trabalhou durante quarenta anos
para universidades com ensino e pesquisa nas áreas
de análise, controle e operação de sistemas elétricos.
Como consultor, participou de estudos sobre
estabilidade de sistemas elétricos, torque de impacto
e esforços de torção em linhas de eixo da turbina
e desempenho dinâmico de plantas de cogeração.
Como engenheiro de projetos, coordenou os estudos
de estabilidade do sistema de transmissão de Itaipu,
incluindo o sistema HVDC. Atualmente trabalha
nas áreas de análise de estabilidade, modelagem e
simulação de máquinas elétricas e conversores.

Antônio Carlos Ferreira


Possui graduação (1987) e mestrado (1991) pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutorado
pela Universidade de Cambridge, Inglaterra,
(1996), todos em Engenharia Elétrica. Atualmente é
Professor Associado da Universidade Federal do Rio
de Janeiro atuando na graduação e na pós-graduação.
Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com
ênfase em máquinas elétricas e sistemas de potência.
De 1998 a 2004 coordenou o Comitê de Estudos
A1 – Máquinas Rotativas do CIGRÉ-Brasil e foi o
representante brasileiro neste comitê no CIGRÉ.

Antonio Carlos Siqueira de Lima


Nasceu no Rio de Janeiro, Brasil em 1971, recebeu
o título de engenheiro eletricista pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, em 1995. Em 1997
e 1999 recebeu o título de mestre e doutor,
respectivamente, pela COPPE/UFRJ. Em 1998 foi
“Visiting Scholar” no Department of Electrical
Engineering, the University of British Columbia,
B.C., Canadá. De 2000 a 2002 trabalhou no
Alternativas
Não Convencionais
para Transmissão de
Energia Elétrica
Meia-onda+
Transmissão CA
Segmentada
E. H. Watanabe
A. S. Pedroso
A. C. Ferreira
A. C. S. Lima
R. F. S. Dias
B. Chuco
S. L. S. L. Barcelos

Alternativas
Não Convencionais
para Transmissão de
Energia Elétrica
Meia-onda+
Transmissão CA
Segmentada

EXECUTORA PROPONENTES

1ª Edição

Brasília
2013
Tiragem: 2.500 livros
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – Aneel
SGAN Quadra 603, Módulos I e J, Asa Norte. CEP: 70830-030. Brasília – DF
Romeu Donizete Rufino
Diretor-Geral
CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL S.A. – Eletronorte
SCN Quadra 06, Conjunto A, Blocos B e C, Entrada Norte 2, Asa Norte. CEP: 70716-901. Brasília – DF
Josias Matos de Araujo
Diretor-Presidente
FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. – Furnas
Rua Real Grandeza 219, Botafogo. CEP: 22281-900. Rio de Janeiro – RJ
Flavio Decat de Moura
Diretor-Presidente
CEMIG GERAÇÃO E TRANSMISSÃO S.A. – Cemig GT
Avenida Barbacena, 1200, Santo Agostinho. CEP: 30190-131. Belo Horizonte – MG
Djalma Bastos de Moraes
Presidente
COMPANHIA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA PAULISTA – CTEEP
Rua Casa do Ator, 1.155, Vila Olímpia. CEP: 04546-004. São Paulo – SP
César Augusto Ramirez Rojas
Presidente
EMPRESA AMAZONENSE DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA S.A. – EATE
Rua Tenente Negrão, 166, Itaim-Bibi. CEP: 04530-030. São Paulo – SP
Elmar de Oliveira Santana
Diretor-Técnico
FUNDAÇÃO COORDENAÇÃO DE PROJETOS, PESQUISAS E ESTUDOS TECNOLÓGICOS – COPPETEC
Rua Miniz de Aragão, 360, Bloco 1, Ilha do Fundão, Cidade Universitária, CEP 21941-972. Rio de Janeiro - RJ
Segen Estefen
Diretor-Superintendente
Capa, projeto gráfico e diagramação:
Goya Editora LTDA.
Revisão:
Ricardo Dayan

A466
Alternativas não convencionais para transmissão de energia elétrica: meia
onda+ e transmissão CA Segmentada / Edson Hirokazu Watanabe ...
[et al.] . – Brasília : Teixeira, 2013.

560 p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-88041-10-3

1. Energia Elétrica – Transmissão. 2. Energia Elétrica – Correntes alternadas.


3. Sistemas de energia elétrica. I. Watanabe, Edson Hirokazu. II. Título.

CDD 621.319

Esta publicação é parte integrante das atividades desenvolvidas no âmbito do Programa de P&D da Aneel.
Chamada 005/2008 publicada em setembro de 2008, relacionada ao Projeto Estratégico –
Alternativas não Convencionais para a Transmissão de Energia Elétrica em Longas Distâncias.
Todos os direitos estão reservados pelas empresas indicadas acima.
Os textos contidos nesta publicação podem ser reproduzidos,
armazenados ou transmitidos, desde que citada a fonte.
Fotos de abertura de capítulos: www.sxc.hu
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

SUMÁRIO

Apresentação......................................................................................................................... 15
Homenagem.......................................................................................................................... 19
Resumo Executivo............................................................................................................ 25

CAPÍTULO 1

Estratégias e Condicionamentos de Expansão da


Transmissão em um Horizonte de 30 anos no País
1.1 Introdução................................................................................................................................ 32
1.2  Expansão da transmissão no país – A integração da Amazônia................................. 33
1.3  Contribuições para o planejamento de longo prazo...................................................... 36
1.4  Tecnologias de transmissão em CA de energia elétrica a grandes distâncias........... 39
1.4.1  Transmissão baseada em linhas não convencionais
de pouco mais de meia-onda (MO+)...................................................................... 40
1.4.2  Transmissão em CA segmentada............................................................................. 41
1.5  Solução em CC........................................................................................................................ 42
1.6 Objetivos................................................................................................................................... 42

Sumário 5
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

CAPÍTULO 2

Condicionantes Importantes
para Transmissão de Energia
2.1  Aspectos da modelagem e condicionantes para as análises......................................... 46
2.2  Modelagem de sistemas de aterramento e do comportamento elétrico do solo..... 47
2.2.1  Sistemas de aterramento de sistemas de transmissão.......................................... 47
2.2.2  Modelagem do solo..................................................................................................... 48
2.3  Modelagem de descarga atmosférica e análise de transitórios.................................... 50
2.3.1  Sobretensões em redes elétricas................................................................................ 50
2.3.2  Importância dos fenômenos transitórios nos sistemas elétricos........... 51
2.3.3  Fenômenos eletromagnéticos de
origem externa – Descargas atmosféricas........................................................... 52
2.3.4  Características básicas das descargas atmosféricas para
estudos de desempenho de linhas de transmissão............................................... 53
2.3.5  Tipos de descargas entre nuvem e solo................................................................... 55
2.3.6  Probabilidades dos parâmetros da corrente de descarga.................................... 56
2.3.7  Representação da frente de onda da corrente de descarga................................. 56
2.3.8  Densidade de descargas atmosféricas para o solo................................................ 57
2.3.9  Incidência direta e indireta de descargas atmosféricas........................................ 58
O Modelo Eletrogeométrico (MEG).................................................................... 58
Modificações do Modelo Eletrogeométrico....................................................... 60
Zonas de exposição dos cabos à descarga atmosférica................................60
2.3.10  Desempenho de linhas de transmissão à
incidência de descargas atmosféricas................................................................... 62
2.3.11  Condicionamentos em cabos para-raios com fibra ótica................................. 63
2.4  Modelagem de linhas de transmissão................................................................................ 64
2.4.1  Aspectos básicos da modelagem de linhas de transmissão................................ 64
2.4.2  Adequação dos modelos de linhas de transmissão
para estudos de descargas atmosféricas.................................................................. 66
2.4.3  Efeito coroa.................................................................................................................... 67
2.4.4  Modelagem da parte de aço dos cabos.................................................................... 68
2.5  Representação de transformadores.................................................................................... 69
2.6  Troncos de transmissão com elevado nível de compensação...................................... 70
Referências....................................................................................................................................... 73

6 Sumário
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 3

Aspectos Importantes de Linhas de


Transmissão Não Convencionais Longas
3.1  Definição de linhas não convencionais............................................................................. 78
3.2  Critérios de otimização de linhas de transmissão........................................................... 79
3.2.1  Princípios básicos de otimização.............................................................................. 80
3.2.1.1  Indicadores do comportamento da linha.................................................... 81
3.2.2  Fator de utilização........................................................................................................ 84
3.2.3  Otimização dos subcondutores................................................................................ 85
3.3 Restrições................................................................................................................................. 88
3.3.1  Restrições de campo elétrico..................................................................................... 89
3.3.1.1  Campo elétrico na superfície dos condutores – Efeito corona............... 89
3.3.1.2  Campo elétrico no solo.................................................................................... 93
3.3.2  Restrições geométricas............................................................................................... 96
3.3.2.1  Coordenação de isolamento........................................................................... 97
3.3.2.2  Restrições de simetria e forma......................................................................102
3.4  Formulação do problema................................................................................................... 104
3.5 Resultados.............................................................................................................................. 105
3.5.1  Sem fixar as formas dos feixes.................................................................................106
3.5.2  Com as formas dos feixes fixas...............................................................................108
Referências..................................................................................................................................... 110

CAPÍTULO 4

Transmissão em CA com Suporte de Tensão


4.1 Compensação shunt na transmissão a longa distância................................................116
4.2  Linha de transmissão em CA com compensação shunt.............................................119
4.3  Aplicação da compensação shunt controlada na
transmissão a longa distância...........................................................................................122
4.3.1  Controle de tensão na transmissão e
seu reflexo na estabilidade eletromecânica..................................................124
4.4  Aplicação da compensação shunt controlada - Caso teste.........................................126
4.4.1  Sistema teste................................................................................................................ 126
4.4.2  Desempenho em regime permanente..................................................................127
4.4.3  Desempenho dinâmico............................................................................................127
4.5 Conclusões............................................................................................................................. 131
Referências..................................................................................................................................... 131

Sumário 7
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

CAPÍTULO 5

Análise de Linhas de Transmissão de Pouco


Mais de Meio Comprimento de Onda
5.1  Princípios básicos de operação..................................................................................134
5.1.1  Relações de potências e perfil de tensão........................................................135
5.1.2 Compensação reativa de linhas................................................................................146
5.1.3  Sobretensões de manobra em linhas de
pouco mais de meio comprimento de onda........................................................150
5.2  Perdas relativas...................................................................................................................... 158
5.2.1  Circuitos de 800 kV................................................................................................... 159
Circuito com feixes elípticos........................................................................................159
Circuito com feixes circulares.....................................................................................162
5.2.2  Circuitos de 1.000 kV................................................................................................ 164
Circuito com feixes elípticos........................................................................................164
Circuito com feixes circulares.....................................................................................166
5.2.3  Operação com tensão reduzida..............................................................................168
5.2.4  Discussão dos resultados..........................................................................................171
Referências..................................................................................................................................... 172

CAPÍTULO 6

Análise de Regime Permanente de Sistemas


de Transmissão Meia-onda+
6.1 Introdução.............................................................................................................................. 176
6.2  Parâmetros das linhas de transmissão utilizadas..........................................................177
6.2.1  Linhas de transmissão MO+ não otimizadas.......................................................177
6.2.2  Linhas de transmissão MO+ 800 kV otimizadas................................................178
6.2.3  Linhas de transmissãoMO+1.000 kV otimizadas...............................................179
6.3  Estudo de caso....................................................................................................................... 179
6.3.1  Conexão do tronco em MO+ em diferentes pontos do sistema......................182
6.3.2  Operação com diferentes cenários de despacho de geração............................187
6.3.2.1  Tronco com duas LTs 1.000 kV – 8.520 MW............................................188
6.3.2.2  Tronco com duas LTs 800 kV − 4.850 MW...............................................190
6.3.2.3  Tronco com dois bipolos 800 kV– 4.000 MW..........................................191
6.3.2.4  Efeito do controle de tensão em uma linha de transmissão MO+........193
6.4  Comentários finais............................................................................................................... 197

8 Sumário
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 7

Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


7.1 Introdução.............................................................................................................................. 200
7.2  Desempenho da MO+ face a surtos atmosféricos.........................................................201
7.2.1  Características das descargas atmosféricas..........................................................203
7.2.2  Aplicação aos circuitos com pouco mais de
meio comprimento de onda....................................................................................211
7.2.3  Modelagem de linhas de transmissão CC e CA para
estudos envolvendo descargas atmosféricas........................................................214
Breve revisão da modelagem de linhas de transmissão,
estruturas metálicas e aterramento no domínio do tempo...........................216
Limitações dos modelos de circuitos de transmissão..................................... 220
Circuito de meia-onda mais 800 kV..............................................................220
7.3  Energização da MO+............................................................................................................ 226
7.3.1  Linhas de 800 kV com feixes elípticos...................................................................231
Energização com pré-resistor............................................................................... 232
Análise estatística.................................................................................................... 236
Energização sob curto.............................................................................................. 237
7.3.2  Linhas de 800 kV com feixes circulares................................................................238
Energização com pré-resistor............................................................................... 238
Análise estatística.................................................................................................... 241
Energização sob curto.............................................................................................. 242
7.3.3  Linhas de 1.000kV com feixes elípticos................................................................243
Energização com pré-resistor............................................................................... 243
Análise estatística.................................................................................................... 246
Energização sob curto.............................................................................................. 247
7.3.4  Linhas de 1.000 kV com feixes circulares.............................................................248
Energização com resistor de pré-inserção......................................................... 248
Análise estatística.................................................................................................... 250
Energização sob curto.............................................................................................. 252
7.4  Transitórios eletromecânicos.............................................................................................252
7.4.1  Caso 1: duas LTs MO+ chegando a Assis..............................................................253
7.4.2  Caso 2: duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis................................................262
7.4.3 Comentários................................................................................................................ 271
7.5  Efeito corona na propagação de sinais lentos.................................................................271
7.5.1  Perdas por efeito corona...........................................................................................274
7.5.2  Modelagem do efeito corona...................................................................................275

Sumário 9
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

7.5.3  Efeito corona para fenômenos lentos....................................................................277


Estrutura de cálculo no domínio harmônico................................................... 280
Estrutura de cálculo no domínio do tempo...................................................... 282
Análise da tensão no meio de um circuito
não convencional de 800 kV................................................................................ 283
Referências..................................................................................................................................... 283

CAPÍTULO 8

Aplicação de Eletrônica de Potência em


Troncos de Transmissão de Meia-onda+
8.1  Análise qualitativa de Tap de Corrente Alternada (TCA) em linhas MO+.............291
8.1.1  Análise do TCA como elemento passivo.............................................................291
8.1.2  Impedância série........................................................................................................ 292
8.1.3  Admitância em derivação........................................................................................306
8.2  Análise do TCA como elemento ativo............................................................................323
8.2.1  Fonte de tensão em série..........................................................................................324
8.2.2  Fonte de corrente em derivação..............................................................................332
8.3  Modelos utilizados nas simulações dos TCAs...............................................................339
8.3.1  Topologia do TCA..................................................................................................... 340
8.3.2 Transformadores........................................................................................................ 342
8.3.3  Subsistema local......................................................................................................... 342
8.3.4  Sistema simulado....................................................................................................... 343
8.3.4.1  Subsistema 1: Geração....................................................................................344
8.3.4.2  Subsistema 2: Equivalente do SIN...............................................................345
8.3.4.3  Linha de transmissão......................................................................................345
8.4  Simulação do TCA série..................................................................................................... 347
8.4.1  Controle do retificador.............................................................................................348
8.4.2  Controle do inversor................................................................................................. 351
8.4.3  Resultados de simulação do TCAS quanto à sua localização na linha..........353
8.4.3.1  TCAS no meio da linha..................................................................................354
8.4.3.2  TCAS no início da linha.................................................................................358
8.4.3.3  TCAS no final da linha...................................................................................360
8.5  Simulação do TCA em derivação.....................................................................................364
8.5.1  Controle do retificador.............................................................................................365
8.5.2  Controle do inversor................................................................................................. 367
8.5.3  Resultados de simulação do TCAD quanto à sua localização na linha.........368

10 Sumário
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.5.3.1  TCAD no início da linha...............................................................................369


8.5.3.2  TCAD no final da linha.................................................................................371
8.5.3.3  TCAD no meio da linha................................................................................377
8.6  Dispositivos FACTS para controle de fluxo de
potência em linhas meia-onda+.................................................................................382
8.6.1  Dispositivos FACTS de 1ª geração.........................................................................382
8.6.1.1  TCSC – Thyristor Controlled Series Capacitor........................................383
Resultados de simulações..............................................................................385
8.6.1.2  SVC – Static Var Compensator....................................................................387
Resultados de simulação...............................................................................388
8.6.2  Dispositivos FACTS de 2ª geração.........................................................................389
8.6.2.1  GCSC – Gate Controlled Series Capacitor................................................389
8.6.2.2  Impedância do GCSC na frequência fundamental.................................391
8.6.2.3  Controle do fluxo de potência em
uma LT MO+ utilizando o GCSC................................................................392
8.6.3 STATCOM.................................................................................................................. 394
Resultados de simulações........................................................................................395
8.6.4  Outros dispositivos FACTS potencialmente interessantes
para auxiliar na controlabilidade da LT MO+.....................................................397
Referências..................................................................................................................................... 398

CAPÍTULO 9

Princípios Básicos de Operação


da Transmissão em CA Segmentada
9.1 Introdução.............................................................................................................................. 404
9.2  O conversor VSC.................................................................................................................. 405
9.2.1  Estrutura e princípio de funcionamento do VSC...............................................405
9.2.2  Modulação PWM senoidal......................................................................................408
9.2.3  Elo CC B2B-VSC na transmissão CA segmentada...........................................410
9.2.4  Constante de inércia de um B2B-VSC..................................................................412
9.2.5  Curva de capacidade de um B2B-VSC.................................................................412
9.2.6  Operação em regime permanente de uma linha segmentada........................413
9.3  Desempenho dinâmico da transmissão segmentada
dotada de compensação shunt controlada – Estudo de caso....................................415
9.4  Aplicação da transmissão em CA segmentada no País - Estudo de casos..............421
9.4.1 Introdução................................................................................................................... 421
9.4.2  Segmentação da interligação Norte-Sul.......................................................................421

Sumário 11
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

9.4.3  Alternativa híbrida para a transmissão de Belo Monte.....................................426


9.4.4  Solução HVDC (EPE).............................................................................................. 426
9.4.5  Solução híbrida........................................................................................................... 426
9.4.6  Parâmetros das linhas da transmissão segmentada...........................................429
9.5  Desempenho em regime permanente da alternativa híbrida....................................431
9.6  Estudos de transitórios eletromecânicos.........................................................................431
9.8  Comentários finais............................................................................................................... 436
Referências..................................................................................................................................... 436

CAPÍTULO 10

Conversor de tensão (VSC)


10.1 Introdução........................................................................................................................... 440
10.2  VSC de dois e três níveis................................................................................................... 441
10.2.1  Conversores convencionais...................................................................................441
10.2.2 Modulação................................................................................................................. 441
10.2.2.1 HE-PWM........................................................................................................ 442
10.2.2.2 SPWM.............................................................................................................. 445
10.3  Sistema de controle do B2B-VSC...................................................................................450
10.4  Conversores multiníveis modulares..............................................................................452
10.4.1  Mecanismo de trabalho de um submódulo......................................................453
10.4.2  Modelagem matemática do CMM......................................................................454
10.4.3  Dimensionamento do capacitor e reator do
CMM e controle da tensão no capacitor............................................................458
10.4.4  Processo de pré-carga do capacitor dos submódulos......................................460
10.5  Simulação computacional do HVDC-CMM em B2B..............................................461
10.6 Conclusões........................................................................................................................... 465
Referências..................................................................................................................................... 466

CAPÍTULO 11

Estudos da Transmissão CA Segmentada


Durante Transitório Eletromagnético
11.1 Introdução........................................................................................................................... 470
11.2  Definição do sistema de transmissão CA segmentada em estudo.........................471

12 Sumário
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

11.2.1  Energização da linha de transmissão iniciando


pelo lado do SEP1 sem compensadores estáticos............................................473
11.2.2 Energização da linha de transmissão pelo lado do SEP1
com compensadores estáticos..............................................................................474
11.2.3  Energização da linha de transmissão através do B2B-VSC
sem compensadores estáticos...............................................................................476
11.2.4  Limitação da contribuição de corrente de curto-circuito
trifásico através do B2B-VSC................................................................................479
11.2.5  Operação do B2B-VSC para curto‑circuito
monofásico no lado CA (SEP2)...........................................................................485
11.2.6  Operação do B2B-VSC em condição de fase aberta
após um defeito monofásico no lado CA (SEP1).............................................489
11.2.7  Operação de dois B2Bs em paralelo....................................................................492
11.2.8  Operação dos B2Bs em paralelo diante da saída
definitiva de uma das Linhas de Transmissão..................................................492
11.3 Conclusões........................................................................................................................... 494
Referências..................................................................................................................................... 495

CAPÍTULO 12

Estrutura de Áreas Assíncronas


para Sistemas de Grande Porte
12.1 Introdução........................................................................................................................... 498
12.2  Sistema interligado de áreas síncronas – Controle TLB............................................498
12.3  Características operacionais dos sistemas elétricos de grande porte.....................501
12.4  Sistema de áreas assíncronas interligadas.....................................................................502
12.5  Estudo de caso..................................................................................................................... 503
12.5.1  Dados do sistema..................................................................................................... 503
12.5.2  Casos base de fluxo de potência...........................................................................504
12.5.3  Desempenho dinâmico..........................................................................................505
12.5.3.1  Perda de geração............................................................................................505
12.5.3.2  Perda de transmissão....................................................................................517
12.6  Comentários finais............................................................................................................. 533
12.7 Referências........................................................................................................................... 534

Sumário 13
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

APÊNDICE A

Cálculo de Parâmetros de Linha de Transmissão


e Efeito do Solo na Propagação Modal
A.1  Cálculo de parâmetros de linhas de transmissão.........................................................536
A.1.1  Impedância longitudinal unitária.........................................................................537
A.1.2  Admitância transversal............................................................................................542
A.2  Propagação modal..............................................................................................................543

APÊNDICE B

Exemplo de Aplicação da Metodologia de Alocação


dos Cabos Para-raios em Linhas Não Convencionais
B.1  Modelo eletrogeométrico................................................................................................... 548
B.2  Alocação dos cabos para-raios..........................................................................................555
Referências..................................................................................................................................... 558

14 Sumário
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

APRESENTAÇÃO

H
á tempos existe no País a discussão de como aproveitar o grande
potencial hidráulico existente na bacia Amazônica. De fato, esse
aproveitamento energético era dito como um problema real pa-
ra ser resolvido e posto em prática na década de 1990. Porém, a
baixa taxa de crescimento da economia na década de 1980 e parte da déca-
da seguinte, com consequente baixo crescimento da demanda por energia
elétrica, acabou por postergar a realização desses projetos. Por outro lado,
as restrições ambientais cresceram muito ao longo dos anos e, por exemplo,
projetos de hidrelétricas na Amazônia com grandes reservatórios, como nos
aproveitamentos da região Sul e Sudeste, foram descartados. Mas, mesmo
com estas restrições, o potencial de geração de energia elétrica na Amazô-
nia é ímpar. Não existe no planeta outra região com tanta energia renovável.
Esta exploração requer a solução de problemas bastante específicos, tendo
em vista as necessidades de preservação ambiental assim como a geração e
transmissão de energia de forma a atender a vários critérios, mas principal-
mente o de modicidade tarifária.
Um dos problemas críticos para o aproveitamento de energia elétrica na
Amazônia está nas grandes distâncias envolvidas entre as possíveis usinas e
os centros consumidores de hoje. Há também a grande possibilidade de que
os centros consumidores se desloquem para outras regiões nas próximas dé-
cadas. Porém, tomando como referência a situação atual, a opção de trans-
missão de grandes blocos de energia entre a fonte e os centros consumidores
tem sido o foco principal.

Apresentação 15
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Nesta situação, como ensinado em muitos livros, a transmissão em cor-


rente contínua (CC) utilizando conversores baseados em tiristores tem sido
vista como a solução. Essa é uma tecnologia consolidada desde a década de
1980 e de alta confiabilidade, mas que, para as distâncias envolvidas, deve
necessitar de inovação tecnológica, principalmente aumentando a tensão
de operação dos convencionais 600 kV, utilizados na transmissão de energia
da Usina de Itaipu, para 800 kV (já utilizado na China e na Índia) ou mes-
mo 1.000 kV.
O Professor Carlos Portela, do Programa de Engenharia Elétrica da
Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa
de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) há cerca de du-
as décadas vinha defendendo o uso do que ele batizou como “transmissão
CA com pouco mais de meio comprimento de onda” (ou meia-onda+), por
acreditar que esta seria uma solução mais vantajosa. No entanto, essa opção
ia de encontro à solução da transmissão em corrente contínua, cujas vanta-
gens e desvantagens são bem conhecidas, sendo a principal vantagem o seu
custo. Além disso, o Professor Portela acreditava que seria possível projetar
uma linha de transmissão CA com pouco mais que meio comprimento de
onda com custo competitivo com o da corrente contínua.
Ainda dentro desse contexto de transmissão a longa distância, um no-
vo conceito de transmissão foi proposto pelo Professor Alquindar Pedroso,
também do Programa de Engenharia Elétrica da Coppe/UFRJ. Esse novo
conceito foi batizado de “transmissão CA segmentada por conversores de
tensão” e vai além da segmentação de longas linhas de transmissão, sendo
também indicado na segmentação de grandes áreas elétricas garantindo uma
conexão assíncrona entre elas.
Tendo em vista estas duas propostas inovadoras, a Coppe e a Escola
Politécnica da UFRJ organizaram, em julho de 2008, o seminário “Recursos
Hidrelétricos da Amazônia – Alternativas não Convencionais para Troncos
de Transmissão”, onde estas duas propostas foram apresentadas e ampla-
mente discutidas.
Nesse mesmo ano de 2008, a Aneel, dentro do Programa de Pesquisa e
Desenvolvimento lançou a Chamada nº 05/2008 de projetos estratégicos da
Aneel, sendo o Professor Portela convidado a apresentar um projeto.
O projeto “Alternativas Não Convencionais para a Transmissão de Ener-
gia Elétrica em Longas Distâncias”, na Coppe/UFRJ, foi proposto e prepara-
do pelo Professor Carlos Portela centrado nos problemas relativos à trans-
missão CA com pouco mais de meio comprimento de onda. Em paralelo,
o Professor Antonio José Jardini, da Escola Politécnica da USP, também foi

16 Apresentação
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

convidado a apresentar um projeto que, ao final do processo de discussão e


negociação, foi aprovado, ficando como contratantes a Eletronorte, Furnas,
Cemig, Cteep e Eate, e como executoras a Fundação Coordenação de Pro-
jetos e Pesquisas Tecnológicas – Coppetec, representando a equipe da Co-
ppe/UFRJ e a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenha-
ria (FDTE), representando a equipe da Escola Politécnica da Universidade
se São Paulo – Poli-USP.
Para a Coppe/UFRJ, o início do projeto foi em setembro de 2010 e, la-
mentavelmente, o Professor Portela veio a falecer em novembro desse ano.
Com esse fato, perdeu-se, na Coppe, a liderança técnica para o desenvolvi-
mento do projeto, o que foi muito sentida não só pela equipe, mas também
por muitos colegas da área.
Após discussões na equipe da Coppe, decidiu-se dar continuidade ao
projeto, mesmo sem a liderança do Professor Portela. A equipe decidiu tam-
bém convidar o Professor Pedroso para compor a equipe, e com sua expe-
riência e sabedoria ajudar no desenvolvimento do projeto. A sua entrada na
equipe ajudou muito a definir os passos a seguir para os estudos com trans-
missão CA com pouco mais que meio comprimento de onda e também trou-
xe o estudo da transmissão CA segmentada.
Vale comentar que a transmissão CA com pouco mais de meio com-
primento de onda, assim como a transmissão em corrente contínua, é uma
transmissão ponto a ponto, com soluções possíveis, porém ainda de difícil
implementação quando se pensa em inserção regional, ou seja, derivação de
energia ao longo da linha. Por outro lado, a transmissão CA segmentada é
totalmente adaptada para a inserção regional.
Este livro apresenta estudos detalhados relativos à transmissão CA com
pouco mais que meio comprimento de onda e também os estudos relativos
à transmissão CA segmentada com conversores de tensão. Apresenta tam-
bém uma discussão sobre as estratégias de expansão da transmissão e con-
dicionamentos considerando um horizonte de 30 anos. Imagina-se que em
30 anos os cenários podem mudar muito e as possíveis soluções devem levar
isso em consideração.
A seguir, apresenta-se uma breve biografia do Professor Portela, como
uma homenagem da equipe. Esta homenagem está baseada na saudação fei-
ta a ele na cerimônia em que recebeu o título de Professor Emérito da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro.

Apresentação 17
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

HOMENAGEM

Resumo da saudação ao Profes-


sor Portela feita por Edson H. Wata-
nabe em 8 de julho de 2009:

“O Professor Portela nasceu em


Angola, em 1935. Foi para Portu-
gal, com 7 anos, no meio da Segun-
da Guerra Mundial, de barco e com
medo de ataques de submarino. Esse
medo foi ele mesmo que me contou.
Só não sei se ele realmente tinha, aos 7
anos, noção real do perigo. Mas talvez
tivesse, por ser um menino precoce.
De 1952 a 1958, ele cursou a gra-
duação em Engenharia Eletrotécnica,
Professor Carlos Portela na Universidade Técnica de Lisboa. E
no dia da cerimônia de passagem a esses seis anos para obter o título de
Professor Emérito da Universidade
Engenheiro não foi, obviamente, por
Federal do Rio de Janeiro
reprovação. O curso era longo mes-
mo. Além disso, naquela época o cur-
so tinha 48 horas de aulas por semana. Uma carga impensável nos dias de
hoje, mas deve ser daí que saiu a sua mania de trabalhar, trabalhar, trabalhar,
como me disse Irene. É normal receber e-mail do Professor Portela às duas
horas da madrugada e outro logo depois às seis horas da manhã perguntan-
do se já temos resposta ao e-mail anterior.
Em 1963, cinco anos depois de concluir a graduação, ele obteve o dou-
torado em Engenharia Eletrotécnica, pela Universidade Técnica de Lisboa.
Em 1972, obteve o título de Livre-docente, também pela Universidade
Técnica de Lisboa.

Homenagem 19
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

O Instituto Superior Técnico (IST) premiava os melhores alunos de Ma-


temática, Física e Mecânica Racional. Além disso, dava prêmios para o me-
lhor da carreira, no caso a Engenharia Elétrica, e o melhor de todas as enge-
nharias. O Professor Portela ganhou todos esses cinco prêmios.
Recebeu também os prêmios:
Prêmio Francisco da Fonseca Benevides e o Prêmio Doutor Mira Fer-
nandes, em 1955,Prêmio Bandeira de Melo, Prêmio Saraiva de Carvalho e
Prêmio Doutor Brito Camacho, em 1958.
Recentemente, em 2007, ele foi elevado a Fellow, da “Power and Ener-
gy Society”, do Instituto dos Engenheiros Elétricos e Eletrônicos, IEEE. Esse
nível é reservado apenas aos melhores. No Brasil são apenas 19 os Fellows.
Desses, três são do Programa de Engenharia Elétrica: Professor Paulo Diniz
e Djalma Falcão aqui presentes.
Também, em 2007, ele foi admitido, por decreto do Presidente da Re-
pública, na Ordem Nacional do Mérito Científico, na Classe Grã-Cruz por
suas contribuições prestadas à Ciência e à Tecnologia.
Na área acadêmica, o Professor Portela teve atividades em várias instituições.
Passou a Professor Assistente logo após a conclusão da graduação, no
Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa e logo após a
conclusão do doutorado em 1963 prestou concurso e passou a Professor ca-
tedrático, cargo que ocupou até 1975, quando teve de deixar Portugal.
Em 1974, veio a Revolução dos Cravos e nessa época o Professor Portela
era vice-diretor do IST. Sentindo-se ameaçado pelo novo regime, pois des-
cobriu que seu nome estava em uma lista de possíveis suspeitos, começou
a buscar outro país para viver. Estavam entre suas opções a França, Austrá-
lia e o Brasil. Dentre estas opções, recebeu uma oferta de trabalho no Brasil.
Essa oferta de trabalho no Brasil ocorreu numa hora de grande insegurança,
quando se encontrava em Londres e de onde embarcou diretamente para o
Rio de Janeiro sem ir a Portugal. A família veio depois.
Em 2006, estive em uma conferência em Montreal, ao final de minha apre-
sentação fui procurado por Lionel Barthold, que estava na plateia. Ele veio para
saber notícias do Professor Portela e falou de vários detalhes do passado. Daí,
eu fiquei curioso e quis saber de onde ele o conhecia. Pois é, o mundo é mesmo
pequeno! Lionel Barthold foi quem ofereceu o emprego para o Professor Porte-
la aqui no Rio na empresa que estava sendo criada por conta do Projeto Itaipu.
Logo após chegar ao Brasil, em 1975, ele se engajou em atividade de en-
sino, como Professor pleno da Escola de Engenharia Mauá do Instituto Mauá
de Tecnologia (EEM-IMT), em São Paulo. Isso na época em que morava no
Rio, e no sábado bem cedo pegava um voo da ponte aérea para São Paulo.

20 Homenagem
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Lá orientou quatro professores que, mais tarde, vieram a concluir o doutora-


do na COPPE/UFRJ e escreveu um livro. Essa ponte aérea durou oito anos.
O Professor Carlos Portela começou sua atuação na UFRJ, primeira-
mente como Professor Adjunto, no período de 1976 a 1994. Em 1994, pas-
sou a Professor Titular. Em 2003, aposentou-se, mas muitos nem notaram,
pois continuou com as mesmas atividades, mesma energia e com os mesmos
e-mails em horários pouco convencionais.
O Professor Portela teve atuação destacada em várias empresas antes de
vir para o Brasil e durante a sua fase de Professor, tempo parcial da COPPE/
UFRJ. Atuou, por exemplo, na Hidrotécnica Portuguesa, na Electricité de
France – EDF, na Companhia Nacional de Eletricidade – CNE, hoje Eletri-
cidade de Portugal – EDP, onde ele chegou ao cargo de diretor.
Depois que chegou ao Brasil atuou na PTEL – Projetos e Estudos de En-
genharia, onde foi engenheiro sênior e diretor. Mais tarde a PTEL se juntou
a ELECTRA, que depois foi incorporada pela PROMON Engenharia. Na
Promon, atuou como superintendente e engenheiro chefe responsável pelo
setor de estudos de sistemas de potência.
Entre 1975 e 1980, ele foi um dos principais engenheiros envolvidos no
desenvolvimento do sistema de transmissão de 600 kV em corrente contí-
nua de Itaipu. Na época, o maior nível de tensão para a transmissão em cor-
rente contínua no mundo e até hoje a maior potência transmitida em cor-
rente contínua.
Recentemente, ele liderou o grupo que projetou o sistema de proteção
de descargas atmosféricas dos radares envolvidos no Projeto SIVAM, Siste-
ma de Monitoramento da Amazônia, reconhecidamente um projeto de su-
ma importância para o País.
O Professor Portela teve participação ativa em várias entidades técnicas
e científicas internacionais. É, por exemplo, membro do Instituto de Enge-
nheiros Elétricos e Eletrônico – IEEE, onde, dado o tempo de contribuição e
idade, chegou a Life Fellow . E, como disse antes, atingiu o nível máximo de
Fellow, um título concedido apenas a poucos. O IEEE tem várias sociedades,
e ele é membro de nove delas, sendo membro também da Cigré.
O Professor Carlos Portela possui 38 artigos publicados em revistas inde-
xadas, sendo 10 nos últimos três anos, 124 artigos publicados em conferências
nacionais e internacionais. É autor de seis livros e quatro capítulos de livros.
Dentre os livros destaco: Análise de Redes Elétricas – Algumas Aplicações,
publicado, em 1970, em Lisboa, pelo Instituto de Alta Cultura com 1.046 pá-
ginas. Este livro, pelo tamanho e pela cor da capa, é conhecido como “tijo-
lo” ou “Portelão”.

Homenagem 21
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Como vimos, o Professor Carlos Portela participa ativamente da área de


Engenharia Elétrica há mais de 50 anos. Ele foi um dos responsáveis pela ope-
ração, análise e projeto da rede de transmissão de energia elétrica de Portugal.
Orientou 30 teses de doutorado e 13 dissertações de mestrado. Apo-
sentado desde 2003, o Professor Carlos Portela mantém-se ativo orientando
atualmente quatro doutorandos.
O Professor Carlos Portela é pesquisador nível 1–A do CNPq.
Há cerca de 10 anos, o Professor Portela vem propondo novos concei-
tos para transmissão de energia. A mais interessante e promissora é o que
ele chama de transmissão com pouco mais que meio comprimento de onda.
Esta tem tudo para ser a opção a ser adotada nos futuros aproveitamentos
hidrelétricos da Amazônia.
Ano passado, em julho, realizamos um seminário sobre o tema e tive-
mos forte participação de engenheiros de empresas interessados no tema.
Depois disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica lançou um edital con-
vidando empresas ou instituições de pesquisas a estudarem o assunto.
As contribuições do Professor Carlos Portela para a UFRJ são inúmeras
ao longo de sua carreira profissional e mesmo após sua aposentadoria, pois
se mantém atuante.
O Professor Carlos Portela é um entusiasta do rigor científico na enge-
nharia. A sua atuação contribuiu e contribui para o reconhecimento da UFRJ
nas áreas de transmissão a longas distâncias, otimização de troncos de trans-
missão, sistema de aterramento e transitórios eletromagnéticos, entre outras.
O Professor, com seu espírito de pesquisador, sempre foi adepto da rea-
lização de parcerias entre instituições de pesquisa e desenvolvimento como
forma de ampliar os horizontes do conhecimento. Realizou e realiza diver-
sos projetos de pesquisa com empresas do setor de energia, como ELETRO-
BRAS, PETROBRAS, FURNAS e CEPEL. Muitos dos recursos oriundos des-
sas parcerias foram destinados à melhoria da infraestrutura da universidade,
como a aquisição de equipamentos de alta tensão para geração de impulsos
de tensão, sistemas para medição de malhas de aterramento e sistema para
medição e modelagem de arco elétrico, entre outros equipamentos.
Atualmente, coordena um projeto em parceria com FURNAS e CEPEL
com o objetivo de modelar arcos elétricos, buscando desenvolver soluções
de proteção para este fenômeno em linhas de transmissão e subestações.
Como professor, sua postura é de um verdadeiro mestre orientador, sem-
pre disponível para esclarecer as dúvidas de alunos com muita paciência e de-
dicação. Alguns de seus antigos orientados vieram a criar grupos de pesquisas
no Brasil e no exterior. Isso mostra o verdadeiro legado de um grande educador.

22 Homenagem
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Sua participação no projeto SIVAM trouxe para a universidade uma ex-


periência substancial na questão de modelagem elétrica do solo. Era normal
usarem como dados de projeto de aterramento dados de solos de outros pa-
íses. Para o projeto SIVAM o Professor Portela exigiu a coleta de amostras
de solo em vários pontos da Amazônia, em especial naquelas em que fenô-
menos de descargas atmosféricas eram mais intensos.
Seu entusiasmo pela ciência mesmo após 70 anos de vida contagia qual-
quer pessoa que trabalhe com ele, servindo de exemplo e motivação para
qualquer um, seja professor ou aluno. Seu conhecimento científico é plena-
mente reconhecido por todos os profissionais especialistas da área de enge-
nharia elétrica. De fato, o Professor Carlos Portela é continuamente convi-
dado para emitir parecer sobre questões do setor elétrico brasileiro, como
ocorreu recentemente sobre o projeto da transmissão da Amazônia, em que
foi convidado para conversar diretamente com representantes da Casa Civil
da Presidência da República.
Grande parte do que estou relatando são fatos que vim tomando conhe-
cimento nesses últimos 28 anos que conheço o Professor Portela. Mas, para
esta saudação resolvi fazer uma investigação mais detalhada e fiz algumas
descobertas interessantes.
Primeiro, o conhecimento do Professor Portela é enciclopédico, a sua
cultura vasta e seu conhecimento são impressionantes, possivelmente por in-
fluência do avô, Domingos da Cruz, que era filho de lavradores, humanista
e socialista de visão extremamente ampla.
A segunda descoberta interessante foi saber que ele, antes de decidir es-
tudar Engenharia, pensava em estudar Filosofia. Sorte a nossa, tenho certeza
que a Filosofia perdeu muito.
A terceira descoberta foi saber que um homem como o Professor Por-
tela que aparentemente só sabe trabalhar com as equações de Maxwell ou
coisas similares, em casa sempre criava tempo para conversas diversas com
os filhos, por exemplo, sobre Filosofia ou História das Religiões, apesar de
agnóstico declarado.
Outro fato curioso que volta e meia eu me lembro é que, apesar de ele
ser uma pessoa que já estava na Universidade quando eu nasci, ele cisma em
me chamar de professor. Acho que faz parte de sua postura muito formal.
No entanto, vale aqui lembrar uma experiência que tive quando fui pa-
ra o meu doutorado no Japão. Um dia tive de ir a um médico e eu não sabia
como tratá-lo. Perguntei a uns colegas japoneses e eles me disseram: chame
de professor, em japonês: sensei. Mais tarde fiquei curioso em saber o por-
quê disso. E a resposta era simples: médicos, advogados e políticos são todos

Homenagem 23
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

tratados de professor. Obviamente, não dão aula e não são professores stricto
sensu. Mas usam este tratamento por ser historicamente o tratamento mais
respeitado. Na verdade os médicos, advogados e políticos “surrupiaram” dos
professores este tratamento que a população classificou como o mais respei-
toso. É uma grande honra ser chamado de professor pelo Professor.
Professor Portela, aqui na UFRJ estamos reconhecendo o seu empenho
e desempenho como professor. A Universidade está valorizando os melhores
professores. O senhor merece o nosso respeito e homenagem.
Professor Emérito, meus sinceros parabéns!”

24 Homenagem
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

RESUMO EXECUTIVO

Capítulo 1
Este capítulo apresenta algumas reflexões acerca das estratégias e con-
dicionamentos de expansão da transmissão de energia elétrica considerando
um horizonte de 30 anos no País, em especial considerando a expansão da
transmissão com a integração da Amazônia. É comentada a necessidade de
contribuir para o planejamento de longo prazo com a inclusão de cenários
plausíveis que reflitam tempos de grandes modificações. Também considera a
inclusão de novas tecnologias como o uso dos equipamentos baseados na ele-
trônica de potência. Por fim, conclui que das opções que ainda necessitam de
estudos mais aprofundados é a transmissão baseada em linhas não convencio-
nais de pouco mais de meia-onda (MO+) e a transmissão em CA segmentada.

Capítulo 2
Este capítulo apresenta uma discussão sucinta sobre a modelagem de
alguns aspectos e condicionantes relevantes para a transmissão em longas
distâncias. Tais aspectos envolvem fenômenos que muitas vezes, em trans-
missão a curtas distâncias, são desprezados sem comprometimento dos re-
sultados, tendo em vista a influência modesta desses fenômenos frente a
outros mais proeminentes. Uma atenção especial é dada à modelagem do
solo em função da frequência e a modelagem de descargas atmosféricas pa-
ra análise de transitórios. Outro aspecto igualmente importante abordado
é a modelagem de equipamentos, em especial os transformadores, em uma
ampla faixa de frequência. Dessa forma, este capítulo apresenta uma gama
de modelos que permite ao leitor avaliar a importância de cada fenômeno,
dependendo do tipo de análise a ser elaborada.

Resumo Executivo 25
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Capítulo 3
Este capítulo apresenta a caracterização de linhas não convencional. São
apresentados os critérios que foram adotados para classificar as linhas em
convencionais ou não convencionais, baseados em práticas adotadas no setor
elétrico brasileiro. Além disso, são apresentados os conceitos que são utili-
zados para otimizar uma linha de transmissão, de forma a aumentar sua ca-
pacidade de transmissão. É mostrado, no caso particular de linhas de pouco
mais de meio comprimento de onda, que o principal objetivo na otimização
é aumentar sua potência característica, o que é feito aplicando procedimen-
tos matemáticos baseados em hipóteses físicas robustas que levam em con-
sideração diversos aspectos importantes. Algumas restrições são impostas
para que as configurações obtidas sejam exequíveis. Diversas configurações
de linhas não convencionais são apresentadas e analisadas.

Capítulo 4
O capítulo 4 apresenta os conceitos básicos relacionados com a trans-
missão CA com suporte de tensão e começa apresentando as linhas de trans-
missão em CA com compensação paralela e a aplicação da compensação pa-
ralela controlada na transmissão à longa distância. É apresentado também
o controle de tensão na transmissão e seu reflexo na estabilidade eletrome-
cânica, assim como um caso teste onde é analisado o desempenho em regi-
me permanente e dinâmico. Os resultados do estudo comprovam a eficácia
da compensação paralela controlada na estabilidade, o que se traduz no au-
mento do grau de carregamento da linha sem prejuízo do desempenho di-
nâmico, mesmo no caso da manutenção de uma compensação fixa por re-
atores de linha.

Capítulo 5
Este capítulo apresenta um detalhamento da teoria de linhas de trans-
missão aplicada à linha de pouco mais que meio comprimento de onda. Di-
versos aspectos são avaliados, tais como carregamento da linha, fator de po-
tência, sobretensões transitórias e de regime permanente, compensação de
reativos e perdas. As análises são baseadas em modelos analíticos da linha,
e o equacionamento detalhado é apresentado. Alguns resultados foram ob-

26 Resumo Executivo
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

tidos através de simulações no domínio do tempo utilizando programas de


cálculo de transitórios eletromagnéticos. As análises permitiram avaliar as-
pectos importantes, como o fato de que as sobretensões de energização são
moderadas para uma linha MO+. Estas e outras conclusões são apresenta-
das ao longo do capítulo, contribuindo para o melhor entendimento de li-
nhas muito longas.

Capítulo 6
O capítulo 6 analisa a operação, em regime permanente, de um tronco
de transmissão utilizando linhas com pouco mais de meio comprimento de
onda (MO+) integrado ao sistema interligado nacional (SIN). Os casos ana-
lisados tomam como base dados fornecidos pela Empresa de Pesquisa Ener-
gética – EPE, os quais foram utilizados em estudos referentes à integração da
Usina de Belo Monte. Inicialmente, é analisado o efeito do ponto de conexão
na distribuição do fluxo em algumas interligações do sistema elétrico. Em
uma segunda etapa, fixado um ponto de conexão no Sudeste, analisa-se a
operação do tronco em MO+ com diferentes níveis de carregamento e cená-
rios de intercâmbio. Esta análise é feita considerando-se troncos em 800 kV
e 1.000 kV. É apresentada, também, uma rápida comparação com a trans-
missão utilizando elo CCAT.

Capítulo 7
No capítulo 7 são apresentados alguns estudos relacionados ao compor-
tamento transitório da meia-onda+.  Inicialmente, considera-se o compor-
tamento da MO+ diante de transitórios eletromagnéticos, tais como surtos
de manobra e surtos atmosféricos. Neste caso, considera-se a operação da
MO+ isolada do sistema interligado nacional brasileiro (SIN). Em seguida, é
avaliado o comportamento da MO+, inserida no SIN, diante da ocorrência
de transitórios eletromecânicos. Como alguns resultados destes estudos in-
dicam a presença de sobretensões sustentadas bastante elevadas, é realizado
estudo adicional do efeito coroa na propagação de sinais lentos.

Resumo Executivo 27
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Capítulo 8
O capítulo 8 apresenta algumas soluções não convencionais para am-
pliar a flexibilidade operacional da linha de pouco mais de meio comprimen-
to de onda. As soluções são baseadas em conversores eletrônicos. Dentre as
soluções apresentadas, está a possibilidade de realizar derivação ao longo da
linha MO+ utilizando conversores do tipo fonte de tensão (VSC – Voltage
Sourced Converter) e, assim, conectar cargas ao longo do corredor de trans-
missão, ou mesmo outros sistemas de potência. Uma análise analítica deta-
lhada é apresentada, em que diversas questões são avaliadas demostrando
a viabilidade técnica de se realizar transmissão “multi-terminal” em siste-
mas de MO+. São apresentados estudos de dispositivos FACTS (Flexible AC
Transmission System) aplicado ao sistema de transmissão MO+. Todas as aná-
lises são baseadas em modelos detalhados dos conversores, levando em con-
sideração o chaveamento destes, bem como em modelo detalhado da linha,
com os parâmetros dependentes com a frequência e considerando aspectos
como a transposição da linha.

Capítulo 9
Este capítulo 9 mostra que a transmissão em CA segmentada é uma for-
ma inovadora de transmissão de energia elétrica, com grande potencial para
aplicação na integração de recursos hidroelétricos remotos, e na interligação
entre áreas num sistema elétrico de grande porte. Mostra também que o em-
prego da transmissão CA segmentada na integração dos potenciais hidroelé-
tricos da Amazônia ajudará a atender aos requisitos de inserção regional da
transmissão, e de redução dos riscos de propagação de distúrbios em casca-
ta no Sistema Interligado Nacional. Descreve-se os princípios de operação e
modelagem matemática do conversor VSC (Voltage Sourced Converter), se-
guido de análise e simulações de operação em regime permanente da linha
CA segmentada. Um dos assuntos importantes tratados neste capítulo é a
delimitação da capacidade de controle de potência reativa dos VSCs.

28 Resumo Executivo
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Capítulo 10
Este capítulo apresenta a análise de duas das principais tecnologias de
VSC disponíveis: O VSC de dois níveis e o VSC baseado em Conversor Mo-
dular Multinível (CMM). Mostra-se que ambas as tecnologias podem ser
aplicadas na integração de sistemas elétricos de potência síncronos ou assín-
cronos. Este capítulo trata também das estratégias de controle dos converso-
res de ambas as tecnologias, e apresenta uma síntese do modelo matemático e
o dimensionamento das principais componentes do CMM. Ao mesmo tem-
po, apresenta resultados de simulações para o CMM e o VSC de dois níveis.

Capítulo 11
Este capítulo apresenta um estudo de aplicação do VSC em B2B (back­
to-back) para segmentar uma linha de transmissão longa em CA sem com-
pensação série, com o objetivo de maximizar a sua capacidade de transpor-
te de energia e, ao mesmo tempo, para avaliar o comportamento em regime
transitório. Ambos os conversores do VSC-B2B são controlados usando a
técnica de controle vetorial por corrente, a fim de controlar a potência ativa
e reativa de forma independente. A linha de transmissão CA tem compensa-
ção reativa através de reatores de linha e compensadores estáticos de reativos
(CER). Mostra-se que mesmo sem a compensação série capacitiva e mesmo
com uma linha de mais de 1.000 km, o sistema opera satisfatoriamente com
todos os fenômenos eletromagnéticos durante as manobras de energização
e transitórias das linhas controladas pelo sistema VSC-B2B. Também são
apresentados os resultados de testes de energização da linha CA segmenta-
da, religamento tripolar e monopolar, e controle da tensão e potência diante
de uma rejeição de carga. Outro teste avaliado é a recomposição dos sistemas
elétricos a partir de uma pequena fonte de energia conectada no terciário do
transformador de um dos lados do conversor VSC-B2B. Esta fonte de ener-
gia é utilizada para a energização controlada da linha segmentada mediante
o VSC-B2B. Este evento é feito considerando um caso hipotético em que os
sistemas elétricos interligados perderam a tensão. Também são simulados
defeitos trifásicos e monofásicos, assim como o controle da contribuição de
corrente de defeito. Por fim, é avaliada a contingência de rejeição de carga.

Resumo Executivo 29
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Capítulo 12
O capítulo 12 é dedicado ao estudo das interligações regionais de siste-
mas elétricos. É apresentada uma releitura da operação interligada de áreas
síncronas. Recorda-se o controle primário de frequência no sistema inter-
ligado e a estratégia de controle TLB (tie line bias) usualmente adotada no
controle dos intercâmbios e da frequência nas áreas (AGC – automatic gene-
ration control). Em seguida, apresentam-se as limitações desta estrutura de
interligação das áreas tendo em vista atender a requisitos operacionais mais
amplos, exigidos pelos sistemas de grande porte numa visão de longo prazo.
É analisada a proposta de uma nova estrutura para os sistemas interligados,
com base na aplicação de interligações regionais em CA segmentadas. Inclui­
se o exame de caso teste onde são comparados os desempenhos dinâmicos de
um sistema de laboratório com as áreas interligadas por linhas em CA con-
vencionais, e por linhas CA segmentadas. É estudada a interligação de áreas
síncronas com Controle TLB e são analisadas as características operacionais
no caso dos sistemas elétricos de grande porte. Analisa-se também a interli-
gação de áreas assíncronas com atenção no fluxo de potência, desempenho
dinâmico e perdas de transmissão. Os resultados obtidos no caso de estudo
servem como comprovação de princípios.
A estrutura de áreas assíncronas interligadas por linhas de transmissão
em CA segmentadas tem a propriedade de regionalizar os distúrbios, evitan-
do a propagação de processos em cascata através das áreas. As interligações
assíncronas com linhas em CA segmentadas trazem maior simplicidade e
controle nas transações de energia (compensação dos intercâmbios inadver-
tidos) e maior velocidade na modificação de intercâmbios.
A estrutura de áreas assíncronas interligadas é um esquema inovador de
transmissão de energia elétrica que, numa visão de longo prazo, vem atender
a requisitos operacionais de sistemas interligados de grande porte, como o
sistema brasileiro.

30 Resumo Executivo
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 1

Estratégias e Condicionamentos de Expansão da


Transmissão em um Horizonte de 30 anos no País

31
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1.1 Introdução
O objetivo dos modernos projetos e operação dos sistemas de potência
é o de satisfazer a demanda com confiabilidade, segurança e a um custo mí-
nimo. Neste contexto, tem-se identificado nos últimos 30 anos um aumen-
to crescente nas pressões por uma maior qualidade do serviço e redução de
custos. Mais recentemente constata-se o aparecimento de um novo requisi-
to para os serviços de eletricidade, relacionado com a proteção ambiental.
Movidos por uma preocupação crescente de garantir um desenvolvimento
sustentado, os países buscam aumentar a participação de fontes renováveis
em suas matrizes energéticas, imprimindo, na década atual, uma caracterís-
tica do tipo “environmental concerned”. De um modo geral, as técnicas de
planejamento adotam hipóteses e/ou procedimentos que são tradicionais ou
foram incorporados ao longo do tempo, tornando-se assim elementos im-
plícitos. A rigor, eles carecem de uma reavaliação; sente-se a necessidade de
adotar para o futuro soluções modernas, de elevado conteúdo tecnológico
envolvendo novos conceitos de transmissão, maior aplicação de controle e
equipamentos baseados em eletrônica de potência.

“Vivemos uma transição. Velhas respostas não aderem mais às novas


perguntas. Há urgências que dependem crucialmente de uma travessia.”
(José Graziano da Silva – Valor, edição de 28 dez. 2011)

32 Estratégias e Condicionamentos de Expansão da Transmissão em um Horizonte de 30 anos no País


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Um dos elementos a reavaliar ou atualizar é o ambiente do planeja-


mento do sistema elétrico. No passado, apresentando direções ou tendên-
cias aparentemente estáveis, sua concepção não exigia um tratamento muito
elaborado das incertezas, especialmente nos cenários de longo prazo; nes-
ta atmosfera, o planejamento se desenvolvia com base em cenários futuros
“probabilisticamente previsíveis”. Hoje, entre as diversas tarefas a executar no
planejamento de longo prazo deve-se incluir a de análise de cenários “plau-
síveis” que reflitam tempos de grandes mudanças.
Outra realidade que se deve ter em conta é a crescente dificuldade em
reconciliar as exigências decorrentes da estrutura de livre mercado, e das li-
mitações de impacto de tarifas, com maiores exigências de confiabilidade no
atendimento da demanda.
Atentando para a realidade brasileira, identificam-se condicionamen-
tos adicionais de expansão da transmissão diante da necessidade de integra-
ção da região Amazônica. Trata-se de desenvolver e integrar seu potencial
hidroelétrico contemplando os aspectos sociais e geopolíticos com desen-
volvimento sustentado, num horizonte de longo prazo. Estes requisitos as-
sumem um grau de importância acima dos condicionamentos econômico-
-financeiros, atualmente predominantes na visão de especialistas do setor
elétrico no País e no mundo.

1.2  Expansão da transmissão no País


– A integração da Amazônia
A Bacia Amazônica mostrada na figura 1.1 abrange uma área no Brasil
de 4.200.000 km2; nela se localiza 20% da água potável, e 30% das florestas
do planeta. Estima-se um potencial hidroelétrico de 50 a 120 GW para a re-
gião; adotando um valor de 0,1 km² de área de reservatório por MW, chega-
-se a uma área inundada de 12.000 km2 no caso da exploração do máximo
potencial hidroelétrico até aqui estimado para a região. Como para cada m2
inundado é necessário que haja uma área de preservação 100 vezes maior,
conclui-se que 1.200.000 km² será a área de preservação. Diante desta enor-
me riqueza do País, certamente comparável com aquela estimada para o pré-
-sal, cabe uma indagação:

Como promover a transferência ordenada da riqueza


da “Pré-Amazônia” do presente para o futuro?

Capítulo 1 33
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

70° W 60° W 50° W 40° W


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Projeção Policônica
Paraná 30° S

Fonte: IBGE Uruguai


Meridiano de Referência: -54º W. Gr
PA Paralelo de Referência: 0 º

70° W 60° W 50° W 40° W 30° W

Figura 1.1: Mapa do Brasil delimitando aproximadamente a região Amazônica

Analisemos as respostas que são dadas pela sociedade brasileira e órgãos


internacionais, e as ações de planejamento em curso no país para a integração
do potencial hidroelétrico da Amazônia. A exploração dos recursos da re-
gião Amazônica enfrenta pressões tanto no front interno como internacional.
Vive-se, hoje, no País, quase uma guerrilha ambiental. De um lado, atu-
am os movimentos ambientalistas. Suas ações são nitidamente de combate
ao desmatamento e/ou de postergação dos licenciamentos ambientais com
apoio significativo de setores importantes da sociedade e do setor público.
No outro lado, combatem alguns parlamentares, a maior parte vinculada à
bancada ruralista, e empresários da indústria de base, que buscam meios pa-
ra manter, ou até mesmo ampliar, ao abrigo da lei, os seus empreendimentos.
No front externo, depara-se com um novo paradigma de soberania ter-
ritorial. Aplicado à Amazônia ele assume a natureza de um mandato da hu-
manidade outorgado ao Brasil para cuidar e zelar do patrimônio ambiental
que ele representa. É oportuno lembrar aqui os conceitos em política inter-
nacional sobre a moral internacional e o poder. O recente discurso em defesa

34 Estratégias e Condicionamentos de Expansão da Transmissão em um Horizonte de 30 anos no País


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

da guerra proferido na entrega do Prêmio Nobel da Paz vem confirmar que,


no campo das relações internacionais, a moral internacional continua sendo
a moral dos povos e dos estados mais poderosos. Assim, é possível concluir
acerca da fragilidade da soberania brasileira sobre a Amazônia. Excluindo o
posicionamento imediatista e, talvez, predatório da bancada ruralista, pode-
ríamos concluir que a resposta dada por uma parte importante da sociedade
brasileira e uma grande maioria dos órgãos internacionais é uma resposta
de quem se coloca numa posição credora: “Pagar agora, viver depois”. Não
toquem na Amazônia, por enquanto!
As decisões que foram tomadas na integração das usinas hidrelétricas do
Rio Madeira (Santo Antonio e Jirau), e as que estão em curso para as usinas
do Rio Xingu (Belo Monte), em sua essência, refletem uma aplicação das leis
do mercado, com um atrelamento rígido à modicidade tarifária. O excessi-
vo mercantilismo no trato das questões do setor elétrico, e na condução da
expansão da geração e expansão da transmissão da Amazônia (muitas vezes
compensado por condições artificiais de tributação e financiamento), tem
contribuído para o ofuscamento de busca de soluções de expansão com vi-
são de mais longo prazo. É a resposta de quem se coloca numa posição de-
vedora: “Viver agora, pagar depois”.
A análise coloca em evidência a necessidade de um planejamento de
longo prazo para a integração da Amazônia que venha responder de manei-
ra mais equilibrada a pergunta e que venha servir mais à nação e à socieda-
de atual e futura.

“Muitos vivem em demasia no presente; são os levianos. Outros vi-


vem em demasia no futuro; são os medrosos e os preocupados.”
A. Schopenhauer

A expansão da transmissão no país nos próximos 30 anos será domina-


da pelo desafio da integração dos potenciais hidroelétricos da região Ama-
zônica à rede base. O valor desta riqueza, o volume de investimentos neces-
sários para sua implementação, e as crescentes pressões sociais, internas e
mundiais, em favor de um desenvolvimento sustentável, requerem horizon-
tes de planejamento de longo prazo mais distantes. O cenário justifica uma
revisão dos procedimentos até aqui adotados, estendendo para 30 anos o ho-
rizonte de planejamento de longo prazo no País. É importante lembrar que
ampliação do horizonte de planejamento implica a modificação no foco e a
maneira de focar.

Capítulo 1 35
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A adoção de um horizonte de 30 anos para o planejamento de longo


prazo não é nova no mundo moderno. Empreendimentos em outros seto-
res da indústria que operam com grandes investimentos (companhias de
exploração de petróleo, por exemplo) adotam horizontes de planejamento
de 40 a 50 anos.

1.3  Contribuições para o planejamento de longo prazo


Com base nas considerações anteriores relativas a um planejamento de
longo prazo com um horizonte de 30 anos, pode-se enumerar ou elencar
uma série de tópicos ou atributos a considerar na elaboração de alternativas
para a transmissão da Amazônia, a saber:

1. Inclusão de cenários plausíveis (possíveis) que reflitam tempos de


grandes modificações (novas circunstâncias):

• No comportamento da demanda (por efeito de deslocamentos
populacionais, resultados de ações de combate à pobreza, luz
para todos ou luz no campo, realidade demográfica, política in-
dustrial, situação da economia mundial).
• Na composição do “mix” de geração (por efeito de pressões para a
geração por fontes renováveis, maior produção de gás, grandes avan-
ços tecnológicos na geração solar, política para geração nuclear).
• Na resposta dos consumidores à alteração nos custos da energia.
• Na aplicação de equipamentos baseados na eletrônica de potência
(conversores fonte de tensão – Voltage Sourced Converter (VSC)
em lugar do conversor fonte de corrente – Current Sourced Con-
verter (CSC), STATCOM, entre outros possíveis equipamentos).
• Aceitar e incentivar novas tecnologias que venham incorporar
avanços nas áreas de sistemas de controle e automação, e proteção.

2. Análise comparativa de alternativas através da aplicação de métodos
abrangentes de otimização TOR (Trade of Risk), MinMax, penali-
zações), buscando avaliar os efeitos futuros das decisões de plane-
jamento no presente, e até mesmo para treinamento.

3. Viabilidade de usar de forma otimizada os recursos hidroelétricos
da Amazônia, em um horizonte de longo prazo, impõe:

36 Estratégias e Condicionamentos de Expansão da Transmissão em um Horizonte de 30 anos no País


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

• A análise integrada dos sistemas hidroelétricos e de transmissão,


sob um ponto de vista de longo prazo, procurando soluções que
considerem adequadamente possíveis alternativas não conven-
cionais e fatores de escala para linhas e sistemas de transmissão.
• Precedência absoluta de critérios racionais e cartesianos, evi-
tando os riscos de pseudoteorias sem validade física e que con-
fundem jogos especulativos com economia, evitando o risco de
considerar que:
◦◦ Nada diferente do passado faz sentido.
◦◦ Ser diferente do passado é suficiente para ser adequado.
• Equilíbrio e racionalidade na avaliação e ponderação dos con-
dicionamentos ecológicos e de impacto ambiental.

4. Definição de uma estratégia de expansão, tendo como premissas:

• Orientação para todos os futuros empreendimentos, oposta a
uma política de tratamento individualizado ou personalizado
para a integração de cada aproveitamento que leva, na maio-
ria das vezes, a custosos reajustes da configuração preexisten-
te (uma decisão neste sentido tem reflexos econômicos impor-
tantes e sinaliza para os fabricantes as direções preferenciais de
P&D na fabricação e desenvolvimento de equipamentos para
atender a um mercado estimado hoje em cerca 160 GW).
• Integração dos grandes centros geradores aos grandes centros
consumidores através de troncos de transmissão com elevada
capacidade de transmissão, capazes de atender aos novos inves-
timentos de expansão da matriz energética, auxiliados por uma
rede secundária vascularizada para o atendimento de cargas de
menores potências (evitando, assim, a filosofia de uma solução
para cada caso, e buscando uma solução visionária para uma ex-
pansão a longo prazo).
• Ou, ainda, que atenda concomitantemente aos condicionamentos de:
◦◦ Inserção regional.
◦◦ Flexibilidade.
◦◦ Contenção de processos em cascata.

Os condicionamentos socioambientais e políticos levam a buscar uma


estrutura de transmissão que atenda aos requisitos de inserção regional, isto
é, uma estrutura que possibilite uma integração natural com sistemas locais.

Capítulo 1 37
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A exigência de flexibilidade prende-se à sua capacidade de adaptação ao grau


de incerteza associado aos cenários de expansão de longo prazo, e ao grau de
manobrabilidade requerido para operação face às incertezas nas afluências,
e nos intercâmbios regionais.

Uma preocupação do planejamento de longo prazo é a de garantir


que o processo de expansão resulte em sistemas de transmissão com
capacidade de limitar a propagação de processos em cascata, não
obstante os aumentos da dimensão e complexidade de operação da
rede expandida.

Antes de encerrar este item, é importante voltar a discorrer sobre os


dois aspectos de grande relevância no contexto da transmissão da Amazô-
nia, mencionados anteriormente. A integração do potencial hidroelétrico da
Amazônia envolve hoje aspectos de natureza geopolítica, que refletem em
condicionamentos técnicos de transmissão de energia a grandes distâncias.
Destaca-se aqui a necessidade e a urgência de reduzir o “déficit de Estado” na
região Amazônica. É necessário aumentar a presença do Estado nas tarefas
de atendimento às populações como meio de legitimação da soberania na-
cional na região. Neste processo de “ocupação” da Amazônia, é importante
que se inclua nos empreendimentos hidoelétricos uma compensação am-
biental continuada; e na transmissão de energia elétrica, uma efetiva integra-
ção elétrica com sistemas locais. Assim analisando, a transmissão da energia
do grande potencial da região Amazônica assume um contorno diverso da-
quele que se adotou no aproveitamento do Rio Madeira, quando dominaram
aspectos econômicos e financeiros.
No caso brasileiro, é particularmente importante atentar para os proble-
mas associados à importação de energia de grandes complexos de geração
(geração remota), distantes dos centros consumidores – Itaipu, Urubupungá,
Tucuruí, e os novos empreendimentos na Amazônia. Independemente da so-
lução de transmissão adotada, pode-se antecipar que a perda de transmissão
neste caso (com a operação voltada para a otimização energética), provoca
sérios distúrbios na operação do sistema. A integração dos potenciais da re-
gião Amazônica concorre para a formação de um sistema de grande porte,
de dimensões continentais, sujeito a uma maior exposição a ocorrências de
distúrbios em cascata. É importante buscar uma estrutura de interligação
das áreas capaz de limitar a propagação destes processos que, via de regra,
terminam afetando extensas regiões (apagões).

38 Estratégias e Condicionamentos de Expansão da Transmissão em um Horizonte de 30 anos no País


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.4  Tecnologias de transmissão em CA de


energia elétrica a grandes distâncias
Há vários casos no mundo em que o uso de importantes recursos ener-
géticos, interessantes sob o ponto de vista estratégico, econômico ou de im-
pacto ambiental, impõe uma solução correta para transmissão à distância
muito longa, por exemplo, da ordem de dois a três mil quilômetros.
Um exemplo muito relevante para o setor elétrico brasileiro é a opção
natural, a médio prazo, de basear o seu crescimento nos recursos hidroelétri-
cos da Bacia do Amazonas, com geração complementar moderada baseada
noutras fontes. Esta escolha impõe uma solução adequada para transmitir
a maior parte dessa energia a distâncias da ordem de 2.500 km. Para obter
um sistema de transmissão conveniente, há que efetuar uma análise especí-
fica, com otimização global e considerando uma ótica de longo prazo. Não é
adequado extrapolar soluções desenvolvidas para distâncias de transmissão
médias, da ordem de poucas centenas de quilômetros.
O setor elétrico brasileiro foi tecnicamente muito avançado, em parte
como resultado do esforço de desenvolver tecnologias para os maiores siste-
mas de transmissão construídos de 1970 até cerca de 1995. Diversos desses
sistemas envolveram distâncias de transmissão superiores ao usual da época.
A atitude técnica positiva, nessa época, no Brasil, conduziu a várias so-
luções inovadoras, em muitos casos, contrárias às soluções típicas usadas
nos Estados Unidos e na Europa, que seriam inadequadas para as condições
específicas do Brasil. Nomeadamente, para o sistema de transmissão de Itai-
pu, com uma transmissão de cerca de 14 GW, com metade da geração a 60
Hz e metade a 50 Hz, e distância da ordem de 800 km, com diversos condi-
cionamentos desfavoráveis, foi necessário desenvolver diversas tecnologias,
num tempo muito curto, com bons resultados. Um esforço similar, no futuro
imediato, seria de grande valia para possibilitar um crescimento econômico
sustentado, com taxa de crescimento elevada, para o que é essencial um im-
portante crescimento da geração de energia elétrica, com uso otimizado do
potencial hidroelétrico da Amazônia.
Dentro desse ambiente, foram identificadas duas linhas básicas de ação
no desenvolvimento do projeto envolvendo essencialmente:

• Transmissão baseada em linhas não convencionais de pouco mais


de meia-onda (MO+).
• Transmissão em CA segmentada.

Capítulo 1 39
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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1.4.1  Transmissão baseada em linhas não


convencionais de pouco mais de meia-onda (MO+)

Esta solução é baseada em troncos de transmissão em corrente alter-


nada fundamentados em linhas não convencionais que se comportam com
um “comprimento elétrico” um pouco superior ao comprimento de meia-
-onda (a frequência industrial), com capacidade de transmissão unitária
de 2 GW a 12 GW, sem necessidade de compensação reativa, ou com com-
pensação reativa muito reduzida, e sem necessidade de subestações inter-
mediárias.
Esses troncos podem ser energizados e desenergizados com a manobra
de um único disjuntor, com sobretensões de manobra moderadas, compor-
tamento muito favorável para variações de carga e estabilidade eletromecâ-
nica de redes interligadas, originam campo eletromagnético próximo da li-
nha moderado, têm pequeno impacto ambiental e custo, tipicamente, muito
menor que alguns sistemas de transmissão recentes baseados em soluções
convencionais.
Para estas soluções, a potência característica é, aproximadamente, o
limite de potência transmitida (diferentemente do que sucede com linhas
“curtas”), e as condições de maximização de potência característica corres-
pondem também, exata ou aproximadamente, a:

• Maximização do limite de potência transmitida.


• Minimização de perdas.
• Minimização de efeito coroa.
• Maximização da tensão de operação viável.
• Minimização de potência reativa em várias condições de operação.
• Minimização de sobretensões sustentadas em várias condições de
operação.
• Minimização de sobretensões de manobra para várias condições de
manobra.

Naturalmente, há também diferenças importantes entre esta linha muito


longa e uma linha curta. Nomeadamente, a tensão ao longo da linha é bastan-
te sensível à potência transmitida, e, na região central da linha, é aproxima-
damente proporcional à potência transmitida. Por este motivo, esta solução
é particularmente “simples” para uma conexão basicamente “ponto a ponto”
(com eventuais pontos de conexão adicionais na vizinhança das extremidades,

40 Estratégias e Condicionamentos de Expansão da Transmissão em um Horizonte de 30 anos no País


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

a distâncias da ordem de 100 km, com algumas precauções simples). Para ou-
tros tipos de pontos de ligação adicionais, este tipo de solução impõe medidas
adicionais não tão simples, por exemplo baseadas em eletrônica de potência.

1.4.2  Transmissão em CA segmentada

A transmissão em CA segmentada (TCAS) é um esquema inovador


de transmissão de energia elétrica, com grande potencial para aplicação na
integração de recursos hidroelétricos remotos, e na interligação entre áreas
num sistema elétrico de grande porte. O emprego da transmissão segmen-
tada na integração dos potenciais hidroelétricos da Amazônia viria atender
aos requisitos de inserção regional da transmissão, e de redução dos riscos
de propagação de distúrbios em cascata no Sistema Interligado Nacional.
As linhas de transmissão segmentadas podem ser vistas como resultantes
de um processo de seccionamento das linhas, seguido da interconexão das sec-
ções com conversores de tensão conectados em back-to-back (B2B). A transmis-
são em CA segmentada consiste, pois, de linhas de transmissão em CA interco-
nectadas por ligações assíncronas; a rede elétrica de um lado do conversor B2B
opera de modo assíncrono em relação à rede do outro lado. O modo assíncrono
tem aqui um sentido de independência de frequência. A separação em secções
assíncronas pode ser considerada como um meio de preservar a estabilidade.
A transmissão em CA segmentada com dois conversores fonte de tensão
(VSC) configurados para operação em B2B assegura o controle da potência
transferida pela interligação, simultaneamente com controle das tensões nos
terminais dos conversores. A viabilidade da aplicação dos conversores VSC
se deve ao constante progresso da tecnologia de dispositivos semiconduto-
res com capacidade de corte (Insulated Gate Bipolar Transistor – IGBT e In-
tegrated Gate Commutated Thyristor – IGCT), e os avanços nas topologias
de conversores (dois níveis, três níveis e conversores multinível modular ou
Multilevel Modular Converter – MMC). Como prova do crescente aumento
na utilização da tecnologia VSC, menciona-se a motivação dos fabricantes
no desenvolvimento de testes de componentes de sistemas VSC para aplica-
ção em transmissão em CCAT.
Uma resposta ao problema da transmissão em CA a grandes distâncias
com base em conhecimentos e técnicas estabelecidos desde longos anos,
porém sem se prender a somente soluções ditas convencionais, recorreria
a uma solução de:

Capítulo 1 41
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• Transmissão em extra-alta tensão (EAT), a mais alta possível, na fai-


xa de 800 ou 1.000 kV utilizando linhas de potência natural elevada
com compensação série.
• Aplicação de compensação shunt controlada (SVC – Static Var Com-
pensator ou Compensadores Estáticos de Reativos, STATCOM –
STAtic COMpensator ou Compensador Estático), realizando es-
truturas de transmissão com suporte de tensão, o que em essência
corresponde à solução em CA com suporte de tensão – voltage su-
pported systems.
• Transmissão em CA segmentada por conversores fonte de tensão
conectados em back-to-back ou B2B-VSC.
• Transmissão CA de alta tensão (CAAT) de pouco mais que meia-onda.

1.5  Solução em CC
A solução usando a transmissão em corrente contínua poderia ser dita
como a solução praticamente convencional do ponto de vista teórico e indi-
cada para transmissão a longas distâncias. No entanto, para aplicações em
tensões de 800 kV ou maiores ainda, há alguns desafios tecnológicos a serem
vencidos ou confirmados. Este livro não se dedicará a esta solução, mas fará
referência a ela sempre que necessário.

1.6 Objetivos
Nesse livro são feitos estudos de soluções não convencionais, abando-
nando deliberadamente o critério de escolher soluções similares a linhas e
equipamento de compensação de sistemas existentes. Também são conside-
rados critérios robustos de validade física, de impacto ambiental e de otimi-
zação do tronco de transmissão.
São identificadas, analisadas e consolidadas as informações relativas às
alternativas não convencionais em corrente alternada para transmissão em
longas distâncias, ou seja, tecnologias não convencionais potencialmente
competitivas para transmissão a longas distâncias, nomeadamente para os
cenários de geração de grandes blocos de energia da Amazônia.
As conclusões apresentadas são baseadas em comparação de desem-
penho das alternativas não convencionais de transmissão em CA diante de
um conjunto de situações operativas, e de capacidade de atender a diversos

42 Estratégias e Condicionamentos de Expansão da Transmissão em um Horizonte de 30 anos no País


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

requisitos relacionados ao meio ambiente. São analisadas as duas alternati-


vas em corrente alternada potencialmente interessantes para transmissão de
grandes blocos de energia por distâncias elevadas, a saber:

• Transmissão baseada em linhas não convencionais de pouco mais


de meia-onda.
• Transmissão CA segmentada.

Capítulo 1 43
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 2

Condicionantes Importantes
para Transmissão de Energia

45
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

2.1  Aspectos da modelagem e


condicionantes para as análises
As técnicas de transmissão por longas distâncias não são simples extra-
polações de técnicas usualmente empregadas na transmissão de curtas ou
médias distâncias. Isso não quer dizer, no entanto, que as técnicas usuais es-
tejam erradas ou que apresentem alguma incoerência. Porém, muitas vezes,
para transmissão em curtas distâncias, assumem-se algumas hipóteses sim-
plificativas que, para alguns aspectos, de fato não comprometem o projeto e/
ou análise daquele tipo de linha. Alguns problemas realmente não são obser-
vados e, por isso, as técnicas de projeto e análises de linhas convencionais são
atualmente bastante consagradas. E não é objetivo deste livro contrariar ou re-
inventar técnicas que são empregadas com sucesso ao longo de muito tempo.
Contudo, em transmissão a longas distâncias, existe a necessidade de
considerar um maior detalhamento de alguns aspectos, seja em transmis-
são em corrente contínua seja em corrente alternada. Um exemplo é a mo-
delagem detalhada do solo, que tem influência direta no sistema de aterra-
mento e, por conseguinte, no desempenho da linha de transmissão. Uma
prática usual é considerar um solo médio para a região onde a linha passa.
Porém, estamos falando de distâncias da ordem de 1.000 a 2.500 km, e é de
se esperar que exista uma variação considerável entre algumas regiões. Não
é sensato pensar que o solo da região Amazônica seja igual ao solo da região
Sudeste, ou mesmo da região Centro-Oeste. Por isso, para o projeto do sis-
tema de aterramento, um modelo mais detalhado do solo se faz importante.
Assim, todos esses aspectos devem ser investigados em um projeto de
pesquisa e desenvolvimento, pois não faria sentido falar de soluções não
convencionais se todas as técnicas de projeto fossem baseadas em técni-
cas convencionais. Dessa forma, entende-se que deve ser feita uma ampla
investigação da maioria dos aspectos que influenciam na transmissão em
longa distância.

46 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

As seções a seguir apresentam informações básicas sobre os principais


aspectos relativos à modelagem dos diversos elementos envolvidos no es-
tudo de um sistema de transmissão. Alguns condicionantes importantes
para o conjunto de análises são também apresentados visando explicitar as
hipóteses adotadas e suas limitações quanto à representatividade do fenô-
meno a ser avaliado.

2.2  Modelagem de sistemas de aterramento


e do comportamento elétrico do solo
2.2.1  Sistemas de aterramento de sistemas de transmissão

Nos estudos de circuitos de transmissão convencionais com compri-


mento da ordem de poucas centenas de quilômetros, emprega-se, na aná-
lise de transitórios eletromagnéticos, um solo médio. Contudo, tal proce-
dimento não é adequado para o estudo de circuitos com comprimentos
longos. Senão, vejamos, com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) e da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recur-
sos Minerais – Serviço Geológico do Brasil), o Brasil possui uma grande
variedade geológica. Um levantamento expedido dos dados fornecidos por
esses agentes indicou a possibilidade de mais de 60 áreas geológicas entre
a região Amazônica e a Sudeste. Supor que um solo médio possa represen-
tar fidedignamente o comportamento das tensões e correntes induzidas no
solo ao longo do circuito é bastante arriscado, podendo levar a resultados
possivelmente equivocados.
Para a modelagem do sistema de aterramento, a representação adequa-
da do solo é fundamental, mas há também a necessidade da modelagem
precisa dos cabos contrapesos que compõem o sistema de aterramento da
torre. O foco do aterramento não é na subestação propriamente dita, mas
sim na análise de desempenho do circuito frente às descargas atmosféricas.
A importância da escolha de uma metodologia robusta talvez fique
mais ao utilizar a formulação por eletrodos cilíndricos, pois é possível re-
presentar em detalhes os condutores de fase, cabos para-raios, estrutura e o
sistema de aterramento. A principal diferença entre os condutores aéreos e
os cabos contrapesos passa a ser apenas o meio no qual estão inseridos. Os
cabos contrapesos se encontram em um meio com perdas (solo), e os con-
dutores aéreos estão no ar.

Capítulo 2 47
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Tipicamente os sistemas de aterramento são analisados consideran-


do dois “domínios” distintos, o primeiro associado ao comportamento das
redes em frequências próximas à frequência industrial e outro relativo ao
comportamento das redes em frequências altas, nas faixas de centenas de
kHz até poucos MHz. No presente trabalho, são adotadas as bases descritas
em [19, 18] que permitem a avaliação das redes e dos sistemas de aterramen-
to em uma ampla faixa de frequência. Tal procedimento permite avaliar o
aterramento em frequências muito baixas, da ordem de 1 pHz, adequadas
para o estudo de sistemas de transmissão em CC, até 1 ou mais MHz, o que
permite a análise do comportamento das malhas de terra e sistemas de ater-
ramento face a fenômenos associados aos transitórios rápidos.
Os condutores associados aos sistemas de aterramento são modelados
a partir das equações de Maxwell, na formulação conhecida como mode-
lagem por eletrodos [18, 30], garantindo assim tanto a uma ampla faixa de
validade, com a representação de condutores de comprimento e posições
arbitrárias. A modelagem convencional de condutores, tipicamente adotada
para a representação de linhas de transmissão aéreas, é restrita à hipótese
de que os condutores são paralelos a uma altura média de um solo supos-
to plano e uniforme. Efeitos de flechas são, portanto, naturalmente despre-
zados. Tal simplificação não ocorre no caso de se utilizar a representação
por eletrodos. A inclusão de fenômenos não lineares como a ionização do
solo é tratada através de um domínio híbrido frequência-tempo conforme
mencionado a seguir.

2.2.2  Modelagem do solo

O solo representa um papel fundamental quanto ao desempenho do


aterramento de um sistema de transmissão, uma vez que não se comporta
como um material bem definido quanto a parâmetros elétricos. Então, para
analisar seus efeitos em estudos de transitórios eletromagnéticos em siste-
ma de transmissão em longas distâncias, há a necessidade de se considerar
um número elevado de aspectos e parâmetros, com maior ou menor impor-
tância relativa, consoante o caso e suas características, não só até distâncias
elevadas dos eletrodos, mas também até profundidades apreciáveis [37, 36].
O solo possui estrutura granular contendo umidade, ar e vapor. Quan-
do não há ar ou vapor entre os grãos, diz-se que o solo é saturado. O solo
possui propriedades mecânicas, hidráulicas, térmicas e elétrico-químicas
que se relacionam com o tamanho, forma, natureza e distribuição dos grãos

48 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

e a quantidade e estado físico da água que possui. A representação adequa-


da do comportamento do solo é fundamental para o projeto adequado dos
sistemas de aterramento de linhas de transmissão e subestações. Em regiões
com alta incidência de descargas atmosféricas ou com características desfa-
voráveis de solo, os riscos associados às descargas atmosféricas podem ser
muito superiores aos de defeitos diretos, tanto nas subestações e nos siste-
mas industriais quanto nos circuitos de telecomunicações [20].
Os métodos utilizados para a análise em frequência industrial são ba-
seados em hipóteses simplificativas associadas ao comportamento das equa-
ções de Maxwell. Todavia, tais hipóteses não se aplicam a faixas de frequên-
cias maiores. De fato, em pesquisas já realizadas [19, 18, 23] foi mostrado
que a utilização da IEEE 80 [1] para a avaliação do aterramento provê res-
postas inadequadas. Um ponto importante identificado nas referências aci-
ma, e confirmado por medições mais recentes [25], é que, desconsideran-
do fenômenos como eletro-osmose e comportamento térmico, o solo pode
ser descrito por funções relativamente simples, conforme mostrado abaixo.

π f α'
σ + j ω ε = σ0 + ∆i cot α' + j ∙  (S/m) (2.1)
2 1 MHz

Sendo σ0 a condutividade do solo para baixas frequências em (S/m); α'


e ∆i parâmetros do modelo que, para os cálculos realizados neste trabalho,
foram utilizados os valores medianos das distribuições estatísticas, obtidas
por um número considerável de medições [28], isto é:

α' = 0,706
∆i = 11,71 ∙ 10-3 S/m (2.2)
σ0 =  1 ∙ 10-3 S/m

A condutividade do solo a baixas frequências demanda medições locais,


visto que pode variar algumas ordens de grandeza dependendo das caracte-
rísticas e heterogeneidades do solo a ser representado. Já o comportamento do
solo em frequências mais elevadas, dadas pelos termos ∆i e α', possui uma ga-
ma de variação menor. Tal fato permite estimar o comportamento do solo em
função da frequência a partir de informações apenas de baixas frequências.
Este tipo de procedimento tem sido adotado em diversas pesquisas
relacionadas com certo sucesso, garantindo a segurança de pessoas e equi-

Capítulo 2 49
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pamentos. Este procedimento garante também a adequada representação


de tensões induzidas e de interferências em amplo espectro de frequências.
Um outro ponto importante com relação à modelagem do solo é a in-
clusão de efeitos não lineares como o caso de ionização do solo. Para tan-
to, foi desenvolvida uma metodologia baseada na utilização de um domí-
nio híbrido frequência-tempo para a inclusão de elementos não lineares no
domínio da frequência [30]. Tal procedimento permitiu a inclusão de uma
forma relativamente direta do efeito de ionização do solo [33].

2.3  Modelagem de descarga atmosférica


e análise de transitórios
2.3.1  Sobretensões em redes elétricas

É importante fazer uma análise relativa a sobretensões em rede elétri-


cas, incluindo fenômenos básicos de deterioração de isolamento, importân-
cia relativa das solicitações do equipamento sob ponto de vista de tensões,
fenômenos que condicionam as sobretensões devido às descargas atmos-
féricas, às sobretensões de manobras e às sobretensões temporárias [17].
É importante avaliar os parâmetros das descargas atmosféricas e dos
fenômenos provocados nas redes elétricas por essas descargas, incluindo a
formação e principais parâmetros das descargas atmosféricas, o mecanis-
mo da descarga em elementos de linhas aéreas e os efeitos das descargas,
quer nos condutores de fase, quer nas torres e cabos de terra, e no solo pró-
ximo à linha [16].
Não é viável uma metodologia única para estudar fenômenos em to-
da a gama de constantes de tempo referidas. Um dos processos é tratar os
diferentes fenômenos consoante os tempos típicos de variação dominantes
para esses fenômenos, desprezando os que sejam muito mais rápidos ou
muito mais lentos [5].
Para efeitos de fenômenos de variação lenta, em face do período da
frequência fundamental, uma rede pode ser analisada, com mais ou menos
rigor, conforme os casos, considerando uma sucessão de estados de “quase
equilíbrio”, “quase periódicos”, supostos coincidentes com os regimes perió-
dicos que ocorreriam se os parâmetros de variação lenta fossem constantes
e iguais aos valores no “instante” considerado.
Para perturbações ou variações de parâmetros caracterizadas por varia-
ções muito rápidas ou apreciáveis, durante um período da frequência funda-

50 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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mental, há que recorrer a vários métodos de análise, consoante os casos, al-


guns bastantes diferentes dos aplicáveis a regimes periódicos senoidais [27].

2.3.2  Importância dos fenômenos transitórios


nos sistemas elétricos

Os parâmetros básicos que definem as características funcionais e


construtivas dos elementos dos sistemas elétricos estão ligados, por um la-
do, à operação em condições normais, e, por outro lado, ao seu comporta-
mento em condições anômalas e transitórias, com maior importância, sob
muitos aspectos, destas últimas. Por este motivo, a conveniente concepção,
projeto, execução e exploração de um sistema tem que levar em conta con-
dições anômalas e transitórias de operação deste [27, 22, 21].
A título de exemplo, suponhamos que uma descarga atmosférica atinja
direta ou indiretamente uma linha. Em primeira aproximação, o efeito de
uma descarga atmosférica corresponde a uma ou mais “ondas” de tensão e
corrente, u e i, respectivamente, propagando-se ao longo da linha. Em pri-
meira aproximação, essas ondas podem ser caracterizadas por uma velo-
cidade de propagação da ordem de grandeza da velocidade de propagação
das radiações eletromagnéticas no vácuo (300.000 km/s) e uma impedância
de onda Z, da ordem de 300 a 400 Ω, tal que,

u = ±ZI (2.3)

Sendo o sinal “+” para ondas que se propagam no sentido tomado co-
mo positivo para a corrente, e o sinal “−” para ondas propagando-se em
sentido oposto. A “duração” dessas ondas é, em geral, da ordem de dezenas
de µs, verificando-se, além disso, inicialmente, uma subida muito rápida de
tensão, em um tempo da ordem de 1 µs. Por isso, é usual caracterizar as on-
das de tensão ligadas às descargas atmosféricas por uma onda estilizada de
tensão do tipo indicada na figura [31]. A figura 2.1 mostra a forma de onda
do impulso padronizado com um tempo de frente de onda de 1,2 µs e tempo
meio-valor de 50 µs, referenciado por impulso padrão 1,2/50 µs.

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1,0
Magnitude (pu)

0,5

0
0 1,2 50
Tempo (ms)

Figura 2.1:  Forma de onda do impulso padronizado 1,2 µs/50 µs

A representação matemática do impulso de tensão padrão poder ser


dada pela função dupla exponencial, i.e.:

v(t) = A [exp(−αt) − exp(−β t)] (2.4)

Em que, por exemplo,

A = 1,035 V, α = 1, 46 × 104 s−1 e β = 2, 47 × 106 s−1 [2]

2.3.3  Fenômenos eletromagnéticos de origem


externa – Descargas atmosféricas

As descargas atmosféricas podem ser consideradas, para as redes elé-


tricas, um dos fenômenos transitórios mais importantes, pelo seu efeito e
consequência nas linhas aéreas e subestações. Além disso, são a causa mais
importante dos curtos-circuitos nas redes, que originam ou podem origi-
nar interrupções de serviço e sobretensões de manobras ou sustentadas [5].
Os tempos envolvidos, para os fenômenos mais importantes relaciona-
dos às descargas, são da ordem de 0,1 µs a 100 µs. Consequentemente, não
há necessidade de considerar fenômenos correspondentes às variações me-
cânicas de posição de máquinas rotativas ou de deformação de condutores

52 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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associadas às descargas. Além disso, dado que as velocidades de propagação


são limitadas à velocidade de propagação das radiações eletromagnéticas no
vácuo, para estudar os efeitos de cada descarga, apenas uma pequena par-
cela do circuito é representada que, por exemplo, pode ser apenas alguns
quilômetros de linha ou equipamentos em subestações.
As dificuldades de estudo dos fenômenos associados às descargas at-
mosféricas resultam basicamente do seguinte:

• Modelagem complexa face à complexidade física dos fenômenos de


descarga atmosférica.
• Grande dispersão dos principais parâmetros das descargas e, conse-
quentemente, necessidade de tratamento estatístico.
• Necessidade de estimar a distribuição estatística de números e pa-
râmetros das descargas que incidem nos vários elementos da linha
e na sua proximidade, em função das suas características elétricas e
geométricas.
• Complexidade dos fenômenos de propagação eletromagnética, no
espaço próximo da linha e ao longo da linha.

Uma parte desses fenômenos tem hoje metodologias razoavelmente


corretas e satisfatoriamente aproximadas, sendo possível prever o compor-
tamento das linhas quanto às descargas atmosféricas com razoável preci-
são, e, em princípio, otimizar o projeto de linhas e subestações para levar
em conta as descargas atmosféricas [5].

2.3.4  Características básicas das descargas atmosféricas


para estudos de desempenho de linhas de transmissão

Existem diversas teorias sobre o mecanismo de formação das cargas nas


nuvens. No entanto, todas as teorias reconhecem a ação do vento na separa-
ção das partículas de polaridades opostas, embora difiram entre si sobre a
importância do papel de ionização da atmosfera, da temperatura e de outros
efeitos. De maneira geral, diz-se que o movimento ascendente das correntes
de ar proporciona o transporte de partículas positivas e das pequenas gotas
de água para a parte superior da nuvem, e o de partículas negativas para a
base da nuvem pelas grandes gotas de água.
Com o acúmulo de uma grande quantidade de carga na região inferior
da nuvem, é induzida numa área do solo de tamanho correspondente à nu-

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vem uma mesma quantidade de carga de polaridade oposta. Isso leva ao sur-
gimento de uma tensão entre a nuvem e o solo, e esse bloco se desloca pelo
solo. Quando o campo elétrico em determinada região de cargas excede a
rigidez dielétrica do ar, verifica-se a formação de canais ionizados, mas sem
ainda ligar duas nuvens ou uma nuvem ao solo. Esse limiar é da ordem de
2 MV/m para o ar seco e nas condições atmosféricas padronizadas, poden-
do ser bem menor em função da altura da nuvem e da presença de gotas de
águas, o que nesse caso chega a ordem de 1 MV/m [24].
A maioria das descargas ocorre dentro de uma nuvem ou entre duas
nuvens, havendo apenas uma pequena parcela que ocorre entre nuvem e
solo. As descargas entre nuvem e solo podem ser caracterizadas pela pola-
ridade da carga da nuvem e pela direção do precursor da descarga. Aproxi-
madamente 90% das descargas são negativas.
A partir do solo e de objetos condutores não muito elevados, induz-se
um campo elétrico elevado o suficiente para causar o movimento ascenden-
te de canais de carga de sinal oposto à dos canais descendentes. Caso ocorra
a conexão de canais ascendentes e descendentes, há o estabelecimento de
um canal condutor ionizado entre nuvem e solo. Esse canal, por sua vez, se-
rá atravessado por uma corrente relativamente intensa em torno de 30 kA,
considerando-se uma média global. Essa corrente provê a descarga parcial
ou total da nuvem.
Tipicamente nas análises de transitórios eletromagnéticos associadas
às descargas atmosféricas, considera-se apenas a incidência de descargas
seja nos condutores de fase, seja nos cabos para-raios na torre. Desconsi-
dera-se também o efeito do canal de descarga, ou faz-se uma representação
bastante simplificada deste. No presente trabalho, adota-se a representação
mais detalhada dos condutores através da discretização destes por eletro-
dos cilíndricos. Essa metodologia permite representar a variação da altura
de condutores ao longo do vão, o que permite a avaliação da descarga tanto
ao meio do vão quanto na torre [18, 32].
Ao meio do vão, a distância entre condutores e para-raios é distinta da-
quela entre os mesmos cabos próximo às torres. É essa distância o princi-
pal parâmetro para a definição do desempenho do circuito de transmissão
face às descargas atmosféricas [24, 32]. Para os tempos envolvidos duran-
te as descargas ao meio do vão, a participação das torres é muito pequena.
Por exemplo, suponha um vão de um circuito de transmissão com dois ca-
bos para-raios e de comprimento igual a 400 m. Considere que uma des-
carga incide ao meio do vão. Admitindo que o modo mais rápido se pro-
paga com velocidade muito próxima à da luz, o tempo necessário para que

54 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


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as ondas de corrente e tensão atinjam a torre e sejam refletidas, retornando


ao ponto de incidência da descarga, é da ordem de 1,5 µs. Logo, a torre e
o sistema de aterramento desta não participam efetivamente dos instantes
iniciais que definem a frente de onda de tensão e corrente que se propaga
na linha de transmissão. No caso de incidência de descargas junto à torre,
o cenário é distinto, e a influência da torre e do seu sistema de aterramento
é intensa, visto que a estrutura opera como um “divisor de corrente” para a
descarga incidente.

2.3.5  Tipos de descargas entre nuvem e solo

Tipicamente, tem-se que a relação entre o número de descargas entre


nuvens e o número de descargas para o solo varia entre 2, perto dos polos,
até mais de 6, nos trópicos.
Descargas entre nuvem e solo podem ser caracterizadas pela polarida-
de da carga da nuvem e pela direção do precursor da descarga.

• Descendentes positivas (10%) e negativas (90%), figura 2.3: asso-


ciadas às estruturas não muito altas, como, por exemplo, linhas de
transmissão com altura em torno de algumas dezenas de metros.
• Ascendentes positivas e negativas, figura 2.3: associadas às estrutu-
ras muito altas.

Figura 2.2:  Descarga descendente negativa (mais comum) e positiva

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Figura 2.3:  Descarga ascendente positiva e negativa

2.3.6  Probabilidades dos parâmetros da corrente de descarga

Os parâmetros característicos da corrente da descarga atmosférica têm


grande dispersão estatística, a qual deve ser considerada nos cálculos das
tensões e correntes induzidas na linha de transmissão. De um modo geral,
é adequada a distribuição log-normal para a representação da probabilida-
de desses parâmetros, e, apenas para alguns casos específicos, a distribuição
normal. Mas a representação precisa da dispersão estatística exige muitas
vezes que seja feito um ajuste multimodal.

2.3.7  Representação da frente de onda da corrente de descarga

Em linhas gerais, para a análise computacional de transitórios eletro-


magnéticos originados pela incidência de descargas atmosféricas, é de fun-
damental interesse a representação matemática adequada da frente de onda
da corrente de descarga atmosférica, ou seja, que se empregue uma apro-
ximação mais próxima possível da forma de onda da corrente real. Nesse
sentido, é de se esperar que tal representação incorpore os parâmetros prin-
cipais da forma de onda da corrente de descarga.

56 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


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2.3.8  Densidade de descargas atmosféricas para o solo

A densidade de descargas para o solo, ou seja, o número de descargas


para o solo por área e por determinado período, é também um parâme-
tro bastante importante para o estudo de desempenho da linha, pelo fato
de ter um efeito proporcional sobre o número de curtos-circuitos na linha
causados pela incidência de descargas atmosféricas. Para o conhecimento
deste parâmetro, em anos anteriores foi comum o emprego de contadores
de descargas atmosféricas nuvem-solo, enquanto que atualmente também
se dispõe das informações oriundas dos diversos sistemas de detecção e
acompanhamento das descargas atmosféricas, embora estas informações
em muitas situações se caracterizem apenas como aproximações. A título
de exemplo de dados por todo o globo terrestre, disponibiliza-se no ende-
reço eletrônico da NASA na Internet várias informações. Por exemplo, no
endereço http://thunder.nsstc.nasa.gov/data/OTDsummaries/ pode-se aces-
sar os registros de incidência de descargas atmosféricas obtidos ao longo de
vários anos. Destas informações, nota-se claramente que a maior parte das
descargas se dá nas regiões intertropicais e sobre as massas de terra, e não
nos oceanos, apesar de o sistema não ser capaz de distinguir se a descarga
se dá entre nuvens ou entre nuvem e solo.
Noutra estratégia bastante adotada no passado, quando não era co-
mum conhecer o valor da densidade de descargas para o solo em uma de-
terminada região em estudo, calculava-se esse parâmetro em função do ní-
vel ceráunico da região, o qual indica apenas o número de dias por ano com
ocorrência de trovoada. Por outro lado, uma vez que uma única descarga ou
uma série delas durante algumas horas são contadas como um único dia de
trovoada, o nível ceráunico também não reflete, necessariamente, o núme-
ro de descargas para o solo.
Ao se unir em um mapa as localidades de um mesmo nível ceráunico,
são obtidas curvas isoceráunicas, tal como se mostra para todo o Brasil na
figura 2.4, obtida da ABNT NBR 5419 [3].

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Figura 2.4:  Mapa isoceráunico do Brasil (NBR-5419)

2.3.9  Incidência direta e indireta de descargas atmosféricas

O Modelo Eletrogeométrico (MEG)

Com a evolução das linhas de transmissão, cada vez com estruturas


mais altas e com tensões operativas mais elevadas, tornou-se necessário
desenvolver modelos analíticos capazes de relacionar da melhor forma
possível o mecanismo da incidência das descargas atmosféricas com os
parâmetros geométricos das linhas de transmissão. Nesse sentido, surgiu
o Modelo Eletrogeométrico (MEG) que pode ser visto com mais detalhes
em [31, 16]. Como principal resultado do MEG, mostrou-se que o ângulo
de proteção da linha, que é função da separação entre os cabos para-raios e

58 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


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do distanciamento destes dos cabos de fase, deveria variar com a altura dos
cabos da linha, e não ter um valor fixo, o que era prática de projeto adota-
da antigamente. Para melhor compreensão da teoria do MEG, seja o fato
de que durante a evolução dos sucessivos canais do precursor da descarga
descendente negativa, desde que o precursor esteja a uma distância elevada
do solo e dos objetos ligados ao solo, o movimento do precursor quase não
é influenciado pela localização destes objetos ou pelo solo. Seja também
o fato de que, quando o precursor se aproxima do solo ou de outro ponto
mais próximo, que pode ser um cabo de fase ou um cabo para-raios, existe
uma tendência de se formar um último canal, que origina a descarga final,
se a distância entre o precursor ao solo (ou ao ponto) for inferior a uma
distância crítica, rs. Com fundamentos em formulações aproximadas nos
mecanismos físicos básicos de ionização dos canais e de descarga subse-
quente à formação do último canal, tal distância crítica – por vezes também
chamada de raio crítico de atração – pode ser relacionada com a amplitude
máxima da corrente de descarga subsequente à formação do último canal.
Essa relação entre corrente de descarga e distância crítica pode ser
mais bem compreendida se for considerado que, devido às cargas que são
deslocadas pelo precursor da descarga, estabelecem-se campos elétricos de
grande intensidade ao redor da linha de transmissão e da torre. Estes, por
sua vez, causam o deslocamento de cargas ascendentes em direção à ex-
tremidade do precursor, o qual pode deslocar o precursor de sua trajetória
inicial, atraindo-o para o solo, um cabo de fase ou um cabo para-raios. Se
forem consideradas iguais distâncias críticas para cabos de fase, cabos pa-
ra-raios e solo, a descarga incidirá no ponto mais próximo. Em princípio,
considerando-se toda a extensão de uma linha de transmissão, que pode
estar sujeita a variações de orografia e proximidade de obstáculos tais co-
mo árvores, torres, radares, antenas etc, um estudo acurado da incidência
de descargas na linha requereria uma análise tridimensional do modelo
eletrogeométrico. No entanto, do ponto de vista prático, é usual empregar
uma análise bidimensional para o estudo de desempenho de linhas com
cabos para-raios, enquanto que, para o caso de linhas sem cabos para-raios,
uma análise tridimensional parcial é aconselhável, visando considerar o
efeito de blindagem da torre. Já para o caso de subestações ou de instala-
ções isoladas que empreguem radares, antenas etc, deve-se empregar uma
análise totalmente tridimensional, sendo recomendadas estratégias dos ti-
pos apresentados em [17, 16, 30, 7].

Capítulo 2 59
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Modificações do Modelo Eletrogeométrico

Após a primeira geração de trabalhos sobre o desenvolvimento do mo-


delo eletrogeométrico, os mecanismos do desenvolvimento final da descar-
ga atmosférica para uma linha ou para o solo continuaram a ser pesquisa-
dos, o que resultou na proposição de algumas modificações na metodologia
estabelecida nos primeiros trabalhos sobre o modelo eletrogeométrico [30].
Nesses “novos modelos”, comumente designados de “modelos de progressão
do canal da descarga”, valendo-se de um volume maior de resultados expe-
rimentais, tentou-se modelar melhor a progressão dos canais descendentes
e ascendentes e confirmou-se que a distância crítica varia com a amplitude
máxima da corrente de descarga e com a altura dos cabos. É importante ob-
servar que é citado nos novos trabalhos o fato de o MEG ter sido calibrado
em função da distribuição da amplitude de corrente de descarga apresentada
em [4] e que, muitas vezes, o uso do MEG conduz à estimativa de reduzidas
taxas de desligamentos e a ângulos de proteção dos cabos para-raios mui-
to conservativos (negativos), especialmente para estruturas muito altas. Por
outro lado, deve-se frisar que também são muitas as críticas sobre o empre-
go dessa “nova” geração de modelos. Algumas críticas são baseadas no fato
de o desenvolvimento desses modelos requerer algumas hipóteses de cálculo
parcialmente esclarecidas, outras pelo fato de ser difícil reproduzir com o seu
uso alguns resultados de medições reais em linhas. Talvez porque a maioria
destes modelos somente considera a incidência vertical da descarga.

Zonas de exposição dos cabos à descarga atmosférica

Para facilitar a compreensão deste item, toma-se como exemplo a linha de


transmissão trifásica com dois cabos para-raios cuja geometria das torres é mos-
trada na figura 2.5, sendo representados pelos índices “1”, “2” e “3” os cabos de
fase e pelos índices “4” e “5” os cabos para-raios. Considera-se que as fases são
formadas por feixes de cabos com o tradicional formato circular (com 0,4572 m
de espaçamento entre cabos), os quais, para o tipo de estudo a ser feito, em fun-
ção das pequenas distâncias que resultam entre cabos de uma mesma fase em re-
lação às distâncias entre fases diferentes, podem ser representados por um único
cabo equivalente localizado no centro do feixe. Além disso, em primeira aproxi-
mação, assuma-se que as distâncias entre cabos de fase e entre cabos para-raios
e o solo possam ser consideradas constantes ao longo do vão, desconsidera-se a
eventual incidência de descargas atmosféricas nos elementos metálicos das tor-
res e despreza-se a variação da orografia e os efeitos de proximidades da linha a

60 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

outros elementos, os quais também poderiam “captar” parte das descargas que
progridem em direção aos cabos da linha, tal que possa ser empregado com pou-
cas restrições o modelo eletrogeométrico bidimensional.

Figura 2.5:  Geometria para um exemplo de linha trifásica com dois cabos para-raios

Nesses termos, considerando para este exemplo que a distância rs é


igual à distância de salto final, tanto para os cabos de fase ou os cabos para­
raios, quanto para o solo, na figura 2.6 tem-se a representação esquemática
das zonas de exposição para a mesma linha e para determinada distância
rs. Para uma melhor visualização, referenciou-se as distâncias de incidência
aos cabos da linha ao invés da extremidade do último precursor.

Figura 2.6:  Zonas de exposição

Capítulo 2 61
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Para a distância rs da figura 2.6, têm-se as seguintes zonas de exposição:

• AB e FG – solo.
• BC e EF – fases externas.
• CD e DE – cabos para-raios.

Nota-se que, nesse exemplo, para a distância rs considerada, a fase cen-


tral é totalmente blindada pelos outros cabos. Um outro exemplo, mais de-
talhado, da aplicação do modelo eletrogeométrico em linhas de transmissão
não convencionais é apresentado no apêndice B.
Por vezes, algumas complexidades devem ser adicionadas às simplifi-
cações adotadas para o cálculo de rs, a saber [17]:

• Pelo fato de a distância rs ter comportamento estatístico, por exem-


plo, quando o precursor estiver a distâncias não muito diferentes de
dois cabos, o salto final não se dá sempre para o cabo mais próximo,
tendo caráter estatístico a probabilidade de o salto final se dar para
um ou outro dos cabos próximos.
• Se o precursor se encontrar a uma distância da ordem de rs de um
cabo de fase que, nesse instante, tenha carga, devido à tensão normal
aplicada à linha, de sinal oposto à carga do precursor, haverá maior
probabilidade de salto do precursor para esse cabo. Portanto, será
mais significativo para linhas de muito alta tensão, e menos signifi-
cativo para linhas de média tensão.
• Quando o precursor alcança pontos distantes da ordem de rs de dois
ou mais cabos, podem ocorrer descargas praticamente simultâneas
para dois ou mais cabos, ou ainda para um cabo e o solo.

2.3.10  Desempenho de linhas de transmissão à incidência


de descargas atmosféricas

A incidência de descargas atmosféricas indiretamente numa linha de


transmissão ou no solo próximo à linha origina sobretensões elevadas em
pontos principais da linha. Por exemplo, considerando-se que as correntes
das descargas atmosféricas descendentes têm amplitudes máximas de al-
guns kA a algumas dezenas de kA, quando há incidência direta de uma des-
carga em um cabo de fase da linha e sendo as impedâncias de onda dos ca-
bos da ordem de 300 a 400 Ω, a propagação dessa descarga pelo cabo, surge

62 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

uma sobretensão no cabo da ordem de MV. Claro que isso acontece se não
houver escorvamento de arco no isolamento da linha.
No caso de linhas sem cabos para-raios, obviamente a descarga desse
exemplo será qualquer descarga que incida diretamente na linha. No caso de
linhas bem protegidas contra descargas atmosféricas por meio de “cabos para­
raios”, isso acontece para as descargas diretas de menor amplitude máxima, as
quais não são “captadas” pelos cabos para-raios. Entretanto, em função dos
acoplamentos eletromagnéticos existentes entre os cabos da linha, uma des-
carga que incida diretamente nos cabos para-raios, ou mesmo uma descar-
ga que incida em um ponto no solo próximo à linha, também pode acarretar
o surgimento de sobretensões nos cabos de fase, apesar de essas serem infe-
riores àquela ocasionada pela incidência direta da descarga no cabo de fase.
Se o valor da sobretensão for superior ao nível de isolamento da linha,
verifica-se o escorvamento do isolamento da linha, com a formação de um ar-
co no ar, provocando um curto-circuito, o que muitas vezes faz com que seja
necessário desligar a linha. Dessa forma, o arco é extinto e, geralmente, é sufi-
ciente religar a linha para que o serviço seja restabelecido. No entanto, se uma
descarga provocar, por exemplo, um arco no interior de um transformador,
haverá a destruição parcial do isolamento do equipamento, a qual exigirá um
tempo longo para reparo ou, em alguns casos, substituição do equipamento.
Portanto, fica claro que se deve evitar que sobretensões destruam os iso-
lamentos não regenerativos, e, como solução prática, em muitos casos, são
instalados para-raios entre fase e terra, devidamente coordenados com as
características de isolamento do material, nas subestações e próximos dos
transformadores. Quando a onda que se propaga pelo cabo atinge o termi-
nal do para-raios, se a tensão resultante entre os terminais do para-raios for
superior à tensão de operação do equipamento, parte da propagação passa
a ocorrer entre o para-raios e o terra, e parte prossegue pelo cabo, limitan-
do-se, desta forma, à tensão no ponto de instalação do para-raios de acordo
com as características operativas do equipamento.

2.3.11  Condicionamentos em cabos para-raios com fibra ótica

Há de se considerar que a região Amazônica apresenta um elevado ní-


vel ceraúnico. Por isso, uma análise mais aprofundada quanto ao desempe-
nho dos circuitos dessa região deve ser feita, seja um circuito CC ou CA. Há
exemplos no setor, onde o desempenho face às descargas atmosféricas não
foi considerado adequadamente e, como resultado, o circuito apresentou

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um elevado número de desligamentos. Nada adianta estudar um determi-


nado circuito em regime permanente, se fenômenos transitórios impedem
o seu funcionamento adequado.
As descargas atmosféricas são responsáveis por grande parte dos cur-
tos-circuitos que ocorrem no sistema de transmissão [32]. Com as elevadas
correntes de curto-circuito em se tratando de configurações não convencio-
nais, deve-se investigar o comportamento mecânico deste, incluindo even-
tuais variações de temperatura.
O emprego ou não de cabos para-raios dotados de fibra ótica tam-
bém é um ponto que deve ser considerado já durante os primeiros estudos
de análise de transitórios. Como é bem sabido, os cabos OPGW (Optical
Ground Wire) possuem tração menor, o que afeta a altura média dos cabos
para-raios, diminuindo a eficácia quanto à proteção contra descargas at-
mosféricas. O emprego de técnicas convencionais como o modelo eletro-
geométrico, seja ele bidimensional ou tridimensional, fornece uma primei-
ra avaliação no decréscimo de desempenho do circuito devido ao emprego
de cabos OPGW.

2.4  Modelagem de linhas de transmissão


A modelagem de linhas de transmissão envolve dois aspectos distin-
tos. No primeiro, quando se analisam surtos de manobra, com frequências
envolvidas da ordem de algumas dezenas de kHz, a linha de transmissão
pode ser considerada como uniforme ao longo de seu comprimento. Nesse
caso, a maior importância se dá ao cálculo dos parâmetros unitários, ma-
trizes de impedância longitudinal e admitância transversal por unidade de
comprimento (vide apêndice A), e da elaboração de um modelo capaz de
representar o comportamento distribuído e variante com a frequência de
linhas de transmissão reais. No segundo caso, quando o objetivo é a análi-
se do desempenho de linhas de transmissão face a descargas parciais, uma
abordagem distinta deve ser adotada.

2.4.1  Aspectos básicos da modelagem de linhas de transmissão

Supondo que o comprimento do circuito a ser estudado é muito su-


perior às alturas dos condutores, e que todos os condutores se encontram
paralelos a um solo uniforme e homogêneo, podemos definir a linha de

64 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

transmissão a partir do método das características (equações de telégra-


fo). Para um conjunto de n condutores, a representação de linhas de trans-
missão pode ser realizada diretamente em coordenadas de fase e sendo, a
princípio, equacionada no domínio da frequência. Tal procedimento leva
a representar a linha de transmissão pela matriz de admitância nodal Yn
mostrada em (2.5).

Yn = A B (2.5)
B A

A expressão em (2.5) representa uma matriz simétrica que também é


definida pelos blocos A e B, que podem ser definidos por

A = Yc (I + H2) (I - H2)-1
(2.6)
B = -2YcH (I - H2)-1

onde Yc é a matriz de admitância característica e H é uma matriz exponen-


cial responsável pela deformação das tensões e correntes. Ambas as ma-
trizes Yc e H podem ser obtidas diretamente das matrizes de impedâncias
longitudinais e admitâncias transversais por unidade de comprimento. A
maior dificuldade na obtenção de Yc e H é a obtenção de exponencial e raiz
quadrada de matrizes. Para tanto, é necessário utilizar métodos como a de-
composição de Schur, decomposição modal ou a expansão em série. Deve­
se ressaltar que a decomposição modal para a obtenção dos parâmetros é
distinta dos ditos modelos modais, em que os parâmetros são calculados
supondo uma matriz de transformação real e constante. Um modelo em
coordenadas de fase no domínio da frequência foi utilizado em [13] para
a verificação do impacto na resposta temporal da representação mais de-
talhada do solo.A maior limitação da modelagem de linha se relaciona à
manutenção das premissas em que se baseia o modelo. O modelo de linha
de transmissão admite a propagação de ondas do tipo TEM ou quase-TEM
em que a propagação transversal do campo eletromagnético é desprezada.
Para trechos de linha de transmissão muito curtos, o modelo convencional
de linha de transmissão não deve ser utilizado, sendo empregado o mo-
delo baseado em eletrodos cilíndricos. A título de exemplo, supõe-se um
vão de linha de transmissão de 300 m onde se deseja estudar o comporta-

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mento das tensões e correntes ao longo desse vão. Para tanto, é necessário
discretizar esse vão, dividindo em trechos menores. Supondo ainda que
são utilizadas 10 divisões, tem-se, portanto, 10 trechos de linhas de 30 m.
No caso de linhas de transmissão de extra-alta tensão, os condutores estão
em alturas acima de 10 m do solo, considerando-se ainda que no primeiro
trecho a altura média dos condutores seja de 20 m. Devido à divisão arbi-
trada, tem-se para esse primeiro trecho que os condutores estão a 20 m de
altura e 30 m de comprimento. Com isso, as dimensões transversais são
da mesma ordem de grandeza das dimensões longitudinais do circuito, e
o modelo convencional de linha de transmissão não representa de forma
fiel o comportamento elétrico desse trecho. Nota-se, ainda, que no caso de
circuitos de linhas de transmissão, quando analisados apenas em termos
das tensões e correntes terminais, as distâncias transversais são da ordem
de metros enquanto que o comprimento (distância longitudinal) é sempre
da ordem de centenas de quilômetros.
Uma outra abordagem é a utilização da técnica conhecida como multi-
plicação de quadripolos. Nesse tipo de abordagem, primeiro, é estabelecido
um quadripolo elementar Qi relacionando as tensões e correntes de entra-
da e saída de um trecho relativamente pequeno da linha. O quadripolo to-
tal da linha/cabo/eletrodo é obtido pela conexão em cascata dos diversos
quadripolos elementares. Supondo uma linha uniforme, tem-se n quadri-
polos para cada trecho pequeno de linha e o quadripoloi final Q f pode ser
obtido por Qf = Q [32, 30].
n

2.4.2  Adequação dos modelos de linhas de transmissão


para estudos de descargas atmosféricas

Para a representação de linhas de transmissão em estudos envolvendo


descargas atmosféricas, são necessários dois conjuntos distintos de mode-
los, a saber:

• Representação utilizando eletrodos cilíndricos para a representa-


ção do vão (ou vãos imediatamente próximos à incidência da des-
carga), incluindo os condutores, aterramentos e torres.
• Modelo baseado no método das características para a representa-
ção do circuito de transmissão em pontos mais afastados da inci-
dência da descarga.

66 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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No caso de eletrodos cilíndricos, é possível representar em maiores de-


talhes o efeito das torres e do sistema de aterramento. No caso do sistema
de aterramento, há um acoplamento entre os elementos do aterramento e
os condutores aéreos.
Através dessa modelagem, a partir de coeficientes de reflexão e refra-
ção, é possível implementar uma representação mais detalhada de um cir-
cuito de transmissão válido para altas frequências, em torno de alguns MHz.
A discretização do vão por elementos cilíndricos permite a análise do
comportamento da rede face às descargas que incidem no meio do vão.
Esse tipo de estudo é importante, pois consiste no caso em que há a me-
nor participação das torres e do sistema de aterramento na atenuação e na
distribuição das correntes envolvidas. As sobretensões no meio do vão po-
dem ser mais intensas que aquelas encontradas quando da ocorrência de
descargas junto às torres [32].
Durante a ocorrência de descargas atmosféricas, pode haver variações
térmicas consideráveis do solo devido à diferença entre as constantes de
propagação de calor longitudinal e transversal. Nesse caso, similar ao que
ocorre na representação dos eletrodos de terra de sistema de transmissão
em corrente contínua, é necessário acoplar o comportamento elétrico ao
térmico em uma ampla faixa de frequência, demandando uma representa-
ção que utiliza transformadas multidimensionais de Fourier ou de Laplace.

2.4.3  Efeito coroa

O efeito coroa, ou corona, ocorre devido à ionização do ar, sendo


usualmente representado por uma curva não linear carga-tensão. O efeito
coroa é mais representado em análises que envolvem descargas atmosféri-
cas e outros fenômenos em que a tensão entre condutores e o ponto de re-
ferência atinge valores mais elevados. Os primeiros circuitos para o estudo
do efeito coroa lidam com aproximações estáticas, onde a curva carga-ten-
são é discretizada e o circuito pode ser considerado linear por partes. Ao se
adotar tal abordagem, há também uma simplificação do comportamento
de histerese que um circuito sob corona pode apresentar.
Uma outra abordagem para a representação da corona é através da
utilização da metodologia conhecida como Análise Tensorial desenvol-
vida em [29]. Nesse caso, o circuito não linear é representado através de
uma expansão em série de Fourier, sendo necessário determinar a priori

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os coeficientes da expansão em série de Fourier. A Análise Tensorial pode


ser aplicada na modelagem de conversores de eletrônica de potência para
a análise de regime permanente não senoidal [12]. Uma formulação alter-
nativa à Análise Tensorial é a utilização do chamado Domínio Harmônico
(DH [15]), que é basicamente uma compactação da Análise Tensorial em-
pregando variáveis complexas. Uma comparação entre o DH e a Análise
Tensorial é apresentada em [35].
Apesar de ser usualmente desprezado em circuitos de comprimento
menores, o efeito coroa pode desempenhar papel importante na propaga-
ção de tensões de frequências mais baixas em circuitos com comprimen-
tos maiores. Uma análise preliminar do efeito coroa em um circuito sim-
ples de 800 km mostrou que há um impacto sensível na propagação das
tensões [32].

2.4.4  Modelagem da parte de aço dos cabos

Cabos com alma de aço compõem a grande maioria dos condutores


utilizados nas fases dos circuitos de extra-alta tensão. Um primeiro impac-
to da presença de aço refere-se aos parâmetros mecânicos, como o com-
portamento do cabo ao longo do vão, altura média deste e ressonâncias
mecânicas e suportabilidade ao vento. Contudo, um outro aspecto comu-
mente desconsiderado se refere ao comportamento elétrico dos cabos pa-
ra-raios. Os cabos para-raios são do tipo EHS (Extra High Strength) ou do
tipo OPGW, ambos os tipos são cabos de aço que, por sua vez, é um mate-
rial ferromagnético. Em outras palavras, a permeabilidade magnética do
cabo de aço é algumas ordens de grandeza superior a do vácuo. A figura
2.7 apresenta as curvas do módulo da impedância interna de um condutor
“Rail” em função da frequência para diferentes valores de permeabilida-
de. O efeito da permeabilidade magnética do aço afeta consideravelmente
o valor da impedância interna do condutor quando se compara um cabo
ferromagnético com outro não magnético. Esse resultado indica que é im-
portante considerar uma permeabilidade diferente da unidade. Contudo,
valores de permeabilidade relativa entre 80 a 100 apresentam poucas di-
ferenças, podendo se escolher um valor entre esses valores para as avalia-
ções do comportamento do condutor e da linha de transmissão em ampla
faixa de frequência.

68 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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Figura 2.7:  Valor absoluto da impedância por unidade de comprimento para um condutor
“Rail” em função da frequência para diferentes valores de permeabilidade magnética

2.5  Representação de transformadores


Os transformadores de potência possuem diferentes representações
em função do fenômeno a ser analisado. Por exemplo, no caso de estudo de
fluxo de potência e estabilidade transitória, o transformador é apenas re-
presentado por uma reatância. Já em estudos de transitórios eletromagné-
ticos, o transformador é representado de forma mais detalhada, havendo
metodologias diferentes em função da faixa de frequência dos fenômenos
transitórios a serem analisados.
A tabela 2.1 apresenta alguns aspectos importantes para a representa-
ção de transformadores em estudos de transitórios eletromagnéticos. Ela
foi originalmente elaborada pelos integrantes do CIGRÉ WG 33-02 [6] e
modificada em [14]. Aspectos da representação do transformador são ana-
lisados conforme o tipo de fenômeno a ser estudado, a saber: transitórios
de frequência baixa (Low Frequency – LF), transitórios de frente de onda
lenta (Slow-Front – SFW), transitórios de frente de onda rápida (Fast-Front
– FF), transitórios de frente de onda muito rápida (Very Fast-Front – VFF).

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Tabela 2.1:  Aspectos importantes na representação


de transformadores para estudos transitórios

Parâmetro LF SF FF VFF
Impedância de cc Muito importante Muito importante Importante Desprezível
Saturação Muito importante Importante Desprezível Desprezível
Perdas no Ferro Importante Desprezível Desprezível Desprezível
Correntes de Foucault Muito importante Importante Desprezível Desprezível
Acoplamento Capacitivo Desprezível Importante Muito importante Muito importante

Ainda que apresentada de forma qualitativa, a tabela 2.1 indica a difi-


culdade de se obter um modelo único de transformador para todas as es-
pécies de estudos. No caso de transitórios mais rápidos, FF e VFF, há dife-
rentes abordagens para a elaboração dos modelos.
Caso as dimensões exatas do transformador sejam conhecidas, é possí-
vel empregar uma representação detalhada do enrolamento utilizando ele-
trodos cilíndricos, obtendo, assim, uma representação do transformador
para altas frequências.
No caso de não ser possível obter as dimensões do transformador, é
possível o desenvolvimento de um modelo caixa-preta baseado na medição
da admitância terminal do transformador. Esse modelo demanda a utiliza-
ção de uma rotina de identificação de polos e resíduos [10, 8] e um estágio
posterior para forçar a passividade [11, 9, 34].
Um outro aspecto da modelagem de transformadores depende do tipo
de aplicação a que este está inserido. Por exemplo, no caso de transformado-
res de estações conversoras, devido aos constantes chaveamentos dos tiristo-
res, esses transformadores são submetidos a constantes solicitações dielétri-
cas, dando origem a uma sucessão de descargas parciais. Tal comportamento
coloca um “peso” na importância da modelagem bem como no detalhamen-
to desta, de modo a indicar possíveis condições de falha do equipamento.

2.6  Troncos de transmissão com elevado nível de


compensação
Conforme mostrado detalhadamente em [26], troncos convencionais
de transmissão demandam elevado nível de compensação para a operação
adequada. Um exemplo de tal circuito é a interligação Norte-Sudeste, antes
conhecida como Norte-Sul. É um circuito de cerca de mil quilômetros com

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linhas com quase 100% de compensação de reativos em derivação e com algo


em torno de 40% de compensação série. No circuito original, a compensação
série era de dois tipos: constante e controlada. A compensação série contro-
lada é feita por capacitores série controlados por tiristores (TCSC – Thyris-
tor Controlled Series Capacitor) que consiste de dois ramos, um contendo
um capacitor série e outro contendo um indutor controlado por tiristores.
A função do TCSC é amortecer as oscilações eletromecânicas geradas pela
interligação entre os sistemas Norte-Nordeste, com o Sul-Sudeste.
Um aspecto importante em circuitos com elevado nível de compensação
é o surgimento de ressonâncias em frequências muito próximas à frequência
industrial. Por exemplo, considerando apenas um dos circuitos da interligação
Nordeste-Sudeste e apenas um trecho conforme mostra o unifilar da figura 2.8.

A B
LT
343 km

Figura 2.8:  Unifilar de circuito com elevado nível de compensação

A linha de transmissão é suposta e idealmente transposta de forma que


possa ser descrita usando apenas componentes simétricas. A indutância do
reator em derivação bem como o capacitor série são considerados invarian-
tes na frequência. Utilizando quadripolos para representar cada elemento,
um quadripolo equivalente entre A e B pode ser obtido por

A B
Qeq = QC · QL · QLT · QL · QC = (2.7)
C D

Onde QC é o quadripolo representando o capacitor série, QL é o quadri-


polo do indutor em derivação e QLT é o quadripolo da linha de transmissão.
A partir do quadripolo equivalente, é possível obter uma matriz de admitân-
cia representando um equivalente entre os barramentos A e B. As expressões
a seguir mostram como, a partir do quadripolo, é possível obter um circuito
simples para representar o trecho como um equivalente:

y11 y12
Yeq = y  y (2.8)
12 22

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Onde:

y11 = DB-1
y12 = C − D · B-1 · A
y22 = B-1 · A

Esse procedimento pode ser aplicado para cada uma das sequências,
positiva e zero. A matriz de admitância de sequência zero Yc0 é apresenta-
da em (2.9), e a de sequência positiva Yc1 em (2.10). Visto que a linha de
transmissão, o capacitor série e o indutor em derivação são representados
por matrizes simétricas e balanceadas, a matriz de admitância equivalen-
te também é simétrica e balanceada. Portanto, é necessário calcular apenas
dois dos quatro elementos das matrizes em (2.9) e (2.10).

ys0 ym0
yc0 = (2.9)
ym0  ys0

ys1 ym1
yc1 = (2.10)
ym1  ys1

A título de exemplo, a figura 2.9 apresenta as curvas das admitâncias de


sequência zero e positiva para o circuito entre A e B, conforme indicado na
figura 2.8, considerando um trecho na interligação Norte-Sudeste. Da figura
2.9, pode-se notar que a presença da compensação acarreta uma ressonân-
cia na sequência positiva muito próximo à frequência industrial. A presença
da compensação acarreta ainda ressonâncias em frequências abaixo da fre-
quência síncrona tanto na sequência zero como na sequência positiva. Vale
notar que, caso o circuito não fosse compensado, as ressonâncias ocorre-
riam apenas acima de 200 Hz, conforme mostra a figura 2.10. Da compara-
ção entre as figuras, é possível notar também que a compensação aumenta
e desloca o primeiro pico de ressonância da sequência zero.

72 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


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Figura 2.9:  Matriz de admitância nodal de sequência positiva e zero em função da


frequência para um dos trechos do circuito I da interligação Norte-Sudeste

Figura 2.10:  Matriz de admitância nodal de sequência positiva e zero em função


da frequência para um dos trechos do circuito I da interligação Norte-Sudeste sem a
presença de compensação

Referências
[1] IEEE Guide For Safety In Ac Substation Grounding. ANSI/IEEE Std
80-1986, 1986.
[2] IEEE Standard Techniques For High-Voltage Testing (Revision of IE-
EE Std 4-1 978). IEEE Std 4-1995, 1995.
[3] Proteção de Edificações contra Descargas Atmosféricas. ABNT,
1993, Norma Técnica Brasileira NBR-5419.

Capítulo 2 73
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[4] AIEE. A Method Of Estimating Lightning Performance Of Trans-


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[5] PORTELA, C. M.; ALVIM, M. G. Lightning Physics, Measurement
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74 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

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[26] PORTELA, C. M.; TAVARES, M. C. Modeling, Simulation And
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Capítulo 2 75
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

[28] PORTELA, C. M.; TAVARES, M. C. Modeling, Simulation And Op-


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[29] PORTELA, C. M. Análise de Redes Elétricas – Algumas Aplicações.
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[35] TELES, A.; DIAS, R.; LIMA, A.; CARNEIRO JR., S. Modified
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[36] TORRES, H.; GALLEGO, L.; SALGADO, M. et al. Variation Of
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Potential Distributions Into Soil And Air Media For A Ground
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76 Condicionantes Importantes para Transmissão de Energia


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 3

Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão


Não Convencionais Longas

77
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

3.1  Definição de linhas não convencionais


O conceito de “não convencional” é muito amplo e, por isso, pode cau-
sar um certo desconforto ao tentar classificar as alternativas de transmissão
em longas distâncias dentro dessa ótica. Por isso, é importante que seja de-
finido a priori o que é considerado não convencional e quais as premissas
que foram seguidas para nortear tal classificação.
Neste trabalho, a classificação, em termos de “convencional” ou “não
convencional” das soluções identificadas em corrente alternada, baseou-se
na comparação destas com as soluções existentes no Sistema Elétrico Bra-
sileiro (SEB) na época de execução do Projeto Transmitir. Isto é, tomou-se
como convencional as práticas já empregadas no SEB, e três fatores foram
considerados para comparação, a saber:

• Tensão nominal: entende-se por tensão nominal a tensão base, em


regime permanente, de operação da linha de transmissão. Para cor-
rente alternada, considerou-se como convencional as tensões nomi-
nais de 500 kV e 765 kV.

• Número de subcondutores: é o número de subcondutores em um


condutor geminado. Atualmente, o número máximo convencional
existente no SEB é quatro. Assim, considerou-se como não conven-
cional qualquer número acima de quatro.

• Geometria dos feixes: é a forma em que os subcondutores são dis-


postos em cada fase. Na maioria das aplicações no SEB, para três e
quatro subcondutores por feixe, os condutores são dispostos nos
vértices de um triângulo equilátero e nos vértices de um quadra-
do, respectivamente. Em particular, no caso de quatro condutores,
a distância entre os condutores adjacentes é aproximadamente igual
a 45cm. Vale ressaltar que já existem algumas linhas que podem ser
consideradas não convencionais, como é o caso das linhas LPNE de
230 kV e 500 kV de feixe expandido utilizada pela CHESF e a linha
Norte-Sul III cuja distância entre os condutores adjacentes é supe-
rior a 1,0m [11], [18].

78 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

3.2  Critérios de otimização de linhas de transmissão


Matematicamente, otimização é uma técnica de análise utilizada para
resolver problemas de tomadas de decisão, através da minimização, ou ma-
ximização, de uma função que quantifica a qualidade da decisão, chamada
de função objetivo [31].
Procedimentos de otimização são usados em diversos campos da en-
genharia elétrica como, por exemplo, na melhoria da operação de sistemas
elétricos; na minimização do consumo de combustível em centrais termelé-
tricas; no controle do nível de água dos reservatórios das hidrelétricas [10],
[7] e [30]; ou, ainda, auxiliando no planejamento da expansão desses siste-
mas [14]. Eles podem também ser usados para reduzir os custos da trans-
missão [13] e [15].
Em linhas de transmissão longas, basicamente os fatores que determi-
nam a capacidade de transmissão da linha são a potência característica e o
perfil de tensão. Assim, nesse trabalho são apresentados procedimentos de
otimização que buscam a maximização da potência característica de uma
linha de transmissão. Esses procedimentos permitem a determinação do
número e do raio dos subcondutores, bem como a configuração geométri-
ca ótima destes, respeitando-se as restrições impostas como, por exemplo,
a do campo elétrico superficial em cada subcondutor e as distâncias de iso-
lamento, entre restrições.
A otimização global de uma linha é uma tarefa árdua, que envolve di-
versos fatores e parâmetros, sendo quase impossível de ser realizada em um
tempo aceitável. Porém, muitos desses parâmetros possuem elevada corre-
lação entre si, seja física, de desempenho ou, mesmo, de custo [21] e [20], o
que permite realizar subotimizações parametrizadas com um conjunto mo-
derado de variáveis, que reflete na otimização global. Isto é, escolhendo-se
as variáveis corretamente é possível se chegar a um ponto próximo ao do
ótimo global, porém percorrendo um caminho mais curto e mais rápido.
Nas seções que se seguem, são apresentados os conceitos fundamen-
tais para a realização da otimização de uma linha de transmissão baseado
na maximização da potência característica desta.

Capítulo 3 79
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

3.2.1  Princípios básicos de otimização

Os critérios de otimização apresentados a seguir são baseados nos tra-


balhos de Aleksandrov [4], [5] e [6], e, também, servem como uma exten-
são dos trabalhos de Salari Filho [23] e de Gomes Jr. [31]. Com a comple-
mentação que, aqui, não são utilizadas as equações simplificadas, as quais
empregam os conceitos do raio médio geométrico (RMG) e de distâncias
médias geométricas (DMG). E, sim, as equações completas do modelo de
linha de transmissão que são apresentadas no apêndice A.
Ao se adotar as equações simplificadas, está se supondo que o feixe pos-
sui uma geometria regular circunscrita em um círculo, de tal forma que seja
possível substituir o feixe por um único condutor equivalente. Isto porque,
a partir de uma distância pequena do feixe, as equipotenciais são circulares,
o que permite se supor que seja equivalente às equipotenciais de um único
condutor. As limitações estão nos fatos de que esta simplificação não vale
para o caso de os feixes não possuírem uma geometria circunscrita em um
círculo e/ou quando as dimensões dos feixes não são desprezíveis em rela-
ção às distâncias entre fases e/ou em relação à altura da torre. Assim, ao se
utilizar as equações completas, os conceitos físicos continuam a ser repre-
sentados nos cálculos dos parâmetros da linha independentemente do ta-
manho e da forma do feixe.
Para clarificar o que foi exposto, na figura 3.1 são mostradas as equi-
potenciais e linhas de forças do campo elétrico para o caso de um condutor
simples e para um feixe convencional de quatro subcondutores, alocados
nos vértices de um quadrado de lado 45 cm. E na figura 3.2 são mostradas
para o caso de um feixe não convencional elíptico de 12 subcondutores.
Facilmente, é possível perceber que, a partir de uma distância pequena, os
dois primeiros exemplos possuem equipotenciais circulares, o que permite
o feixe convencional ser representado por um único condutor equivalente.
Porém, no terceiro exemplo, nota-se que as linhas de forças são elípticas,
e a representação por um único condutor equivalente pode não represen-
tar corretamente os fenômenos físicos envolvidos. Vale frisar também que
as dimensões dos feixes para linhas não convencionais normalmente são
maiores do que os de linhas convencionais, o que também contribui para
degenerar o conceito de condutor equivalente.

80 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1 2

y m
y m

0 0

1

1 2
0 1 2 1 0 1 2
x m
1
x m

Figura 3.1: Equipotenciais e linhas de forças para (a) um único condutor e para (b) um
feixe convencional de quatro subcondutores

5
4
3
2
1
y m

0
1
2
3
4
5
5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5
x m

Figura 3.2: Equipotenciais e linhas de forças para um feixe elíptico composto por 12
subcondutores

3.2.1.1 Indicadores do comportamento da linha

Como já foi dito, a otimização global depende de diversos parâmetros


e, por esse motivo, a escolha correta das variáveis envolvidas no problema
é fundamental. Nesse trabalho, o foco principal da otimização é o aumento
da capacidade de transmissão da linha, que está diretamente relacionado
com os parâmetros elétricos desta. Para isso, é importante determinar fun-
ções que caracterizam o comportamento elétrico da linha, de maneira que
seja possível, com um número moderado de variáveis, realizar uma análise
paramétrica comparativa entre as possíveis soluções subotimizadas.

cApÍtuLo 3 81
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Em condições de sistema balanceado, a frequência industrial, o com-


portamento elétrico de uma linha é definido basicamente por seus parâme-
tros de sequência positiva (R1, C1 e L1) e por seu comprimento (L). A seguir,
são apresentadas duas funções que estão diretamente relacionadas com os
parâmetros elétricos da linha de transmissão, que são a potência caracte-
rística (Pc) e a densidade de corrente característica da linha (Jc). Estas fun-
ções servem como indicadores do comportamento elétrico da linha [31].
A potência característica é definida por

2 2
U
(3.1) U
Pc = 1 = 1
Zc L1
C1

E pode ser reescrita como


2
(3.2) nf U 1
Pc = nf υ1C1 U 12 =
υ1 L1

Onde U1 é a tensão nominal de sequência positiva da linha, nf é o nú-


mero de fases, υ1 é a velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas
no meio, L1 é a indutância de sequência positiva por unidade de compri-
mento e C1 é a capacitância de sequência positiva por unidade de compri-
mento. Como se pode perceber, variando qualquer um desses parâmetros
varia-se a potência característica da linha.
O nível de tensão e o número de fases têm influência direta no número
de subcondutores por feixe e no nível de isolamento da linha e, por conse-
guinte, no custo desta. Mais adiante será apresentado como é determinado
o número de subcondutores por fase e como a coordenação de isolamen-
to da linha é inserida no processo de otimização. Trata-se de um proces-
so iterativo e, por isso, inicialmente é estipulado um valor para a tensão e
para número de fase. Em seguida, o número dos subcondutores e as dis-
tâncias de isolamento são calculados. Essas informações são inseridas no
problema de otimização e influenciam na geometria final da linha. Feito
este processo, os resultados são avaliados se são factíveis e viáveis, ou não.
Caso não sejam, novos valores devem ser determinados para a tensão e o
número de fases da linha, e o processo se dá novamente. Por este motivo,
nesta seção o nível de tensão e o número de fases são considerados cons-
tantes e predefinidos.

82 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

A velocidade de propagação, υ1, é praticamente independente dos pa-


râmetros construtivos da linha, variando na faixa de 0,96 a 0,99 da veloci-
dade de fase das ondas eletromagnéticas no vácuo [33]. Aqui, também, υ1
é considerada constante1.
Diante do fato de que U1, nf e υ1 são considerados constantes, conclui-se
que, neste caso, a potência característica da linha é determinada, aproxima-
damente, pela capacitância e pela indutância por unidade de comprimento
de sequência positiva, i.e.:

1
Pc ∝ C1 ∝
L1

Já a densidade de corrente é definida como sendo o quociente entre a


corrente característica da linha (Ic) e a seção de condução equivalente total
da fase (A), i.e.:
c I
Jc =
(3.3)
A

Pc
Lembrando que Ic = , tem-se que
nf U1

Pc
Jc =
(3.4)
nf U1 A

A resistência equivalente por unidade de comprimento dos cabos de


fase (R1) é aproximadamente inversamente proporcional à seção de con-
dução, ou seja:
ρ
R1 
A

Onde ρ é a resistividade da seção condutora. Logo, a densidade de corrente


característica é inversamente proporcional à resistência de sequência positiva:

1
Jc ∝
R1
υ
1 Pode se definir um fator de velocidade, dado por: kυ = υ1, onde υ0 é a velocidade de fase das ondas eletromagnéticas
0
no vácuo. E este fator ser incluído como variável a ser otimizada também. Porém, dada sua pequena faixa de
variação, isto não foi adotado, foi assumido que a velocidade de fase das ondas é constante e igual a υ 1 = 0,99 υ0.

Capítulo 3 83
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Dessa forma, pode-se concluir que linhas de mesmo comprimento L e


de Pc e Jc iguais terão comportamentos elétricos semelhantes, demonstrando
que as funções escolhidas são bons indicadores para a análise paramétrica.

3.2.2  Fator de utilização

O próximo passo no processo de otimização é definir a função objetivo


que deverá ser maximizada. Segundo Aleksandrov et. al. [6], a melhor manei-
ra de se aumentar a capacidade de transmissão de uma linha é aumentando a
sua potência característica. Então, para se chegar à função objetivo, (3.2) será
reescrita em função da carga elétrica de sequência positiva (q1), i.e.:

Pc = nf υ1 q1 U1 (3.5)

Onde q1 é definida por:


ns .nf
1 Uj (3.6)
q1 =
nf
∑ qj Uj
j=1

Lembrando que q1 = C1 U1.

O campo elétrico na superfície de cada subcondutor do feixe é prove-


niente de sua carga, e é influenciado pelo campo elétrico dos outros sub-
condutores, tanto os do próprio feixe quanto os das outras fases. Além disso,
existe um limite para este campo, acima do qual a probabilidade de ocor-
rer efeito corona aumenta consideravelmente. Para determinar o limite do
campo elétrico, define-se a máxima carga elétrica admissível (qad) para um
condutor isolado de raio r:

qad = 2π ε r Emax (3.7)

Esta carga corresponde a um valor máximo de campo elétrico (Emax),


como foi utilizada a hipótese de que o condutor está isolado, este campo Emax
é igual em toda a superfície do condutor. Trata-se de um valor teórico e de
uma hipótese também teórica, pois a simples presença de outros conduto-
res, seja do próprio feixe seja das outras fases, faz com que o campo elétrico
não seja igual em toda a superfície do condutor. Neste caso, o campo má-
ximo será atingido em um único ponto da superfície do condutor, porém

84 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

este valor deve ser menor do que Emax. O cálculo de Emax será apresentado
adiante na seção 3.3.1, pois a definição deste campo pode ser interpretada
como uma restrição no processo de otimização da linha.
É possível, então, definir um fator que exprima o quão próximo do li-
mite teórico de carga admissível e, por conseguinte, de campo elétrico má-
ximo está a carga elétrica de sequência positiva da linha, i.e.:

q1 (3.8)
ku =
nsqad

Onde ku é chamado de fator de utilização da linha.

Substituindo (3.8) em (3.5), tem-se

Pc = nf ns qad υ1 U1 ku (3.9)

O valor máximo idealizado de ku, sem que haja efeito corona, é igual
à unidade, o que ocorreria quando as cargas nos subcondutores estivessem
uniformemente distribuídas. Logo, o valor máximo teórico da potência ca-
racterística de uma linha é igual a

Pcmax = nf ns qad υ1 U1 (3.10)

Diante disso, o fator de utilização pode ser interpretado, também, como


um fator que indica o quanto a linha está próxima do limite de efeito coro-
na. E a conclusão a que se chega é que quanto mais próximo deste limite,
maior será a potência característica da linha.
Então, maximizando o fator ku, está se maximizando a capacidade de
transmissão da linha de transmissão longa – considerando os outros parâ-
metros de (3.9) constantes. Dessa forma, o fator de utilização pode ser esco-
lhido como a função objetivo a ser maximizada no processo de otimização.
A seguir, é apresentada a metodologia para otimização do número de
subcondutores e seus respectivos raios.

3.2.3  Otimização dos subcondutores

A seleção do raio e do número de subcondutores é feita tomando-se como


ponto de partida (3.4) e (3.9). Substituindo a segunda na primeira, tem-se que,

Capítulo 3 85
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ns qadυ1 ku (3.11)
Jc =
A

Como foi visto, A é a seção de condução equivalente total da fase e po-


de ser escrita em função do raio externo do condutor, da seguinte forma:

A = ns χ π r2 (3.12)

Onde χ é o fator de preenchimento e é definido como sendo a relação


entre a área de condução efetiva do condutor pela sua seção circular exter-
na (π r2). Substituindo (3.12) em (3.11), qad por sua definição (3.7) e rearru-
mando os termos, chega-se a

2π ε υ1 Emax ku
(3.13)
r=
Jc χ

Definido o raio, o número de subcondutores é obtido diretamente de


(3.9), i.e.:

Pc
(3.14)
ns =
2π ε υ1nf rEmax ku

Observa-se que o raio e o número de subcondutores de uma linha po-


dem ser determinados de acordo com a potência e densidade característi-
cas de corrente desejadas, que, como foi visto, caracterizam de forma muito
aproximada o comportamento elétrico desta. Além, é claro, de dependerem
de outros parâmetros como tensão, propriedades do meio – que são consi-
deradas constantes – e do campo elétrico máximo permitido na superfície
dos condutores. A definição deste último será vista mais adiante.
Somente a aplicação de (3.13) e de (3.14) não é suficiente para a seleção
final dos condutores, pois vale lembrar que este último deve ser um núme-
ro inteiro. E que o condutor definido pelo raio deve existir comercialmente.
Assim, é necessário corrigir os valores de r e de ns para que essas exigências
sejam atendidas, sem, contudo, alterar significativamente os valores da po-
tência e da densidade de corrente característica originalmente desejadas.
De acordo com a definição da potência característica,

Pc = 2π ε υ1 Emax nf U1 ku ns r, (3.15)

86 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

E supondo, nesta etapa de correção, o campo elétrico fixo, os parâme-


tros que podem variar são o fator de utilização, o número de subcondutores
e o raio. A potência característica é então proporcional ao produto destes
parâmetros, i.e., Pc ∝ ku ns r.
Adotando metodologia semelhante para a densidade de corrente,
(3.16), tem-se que esta é proporcional ao quociente do fator de utilização
pelo produto do fator de preenchimento pelo raio, i.e., Jc ∝ ku .
χr
2ε υ1 Emax ku
(3.16)
Jc =
χr

Como o objetivo é corrigir o valores de ns e de r, mantendo-se os va-


lores de Pc e de Jc iguais aos originais, então as seguintes igualdades devem
ser mantidas:

ku′ ns′ r ′ = ku ns r
ku′ ku
=
χ ′r ′ χ r

Onde as variáveis com o índice (ʹ) são as variáveis corrigidas. Dividin-


do uma pela outra, tem-se

χ ′ns′ r ′ 2 = χ ns r 2

O que quer dizer que na correção de ns e de r, a área de condução equi-


valente total (A) não deve ser alterada, i.e.:

A′ = A

Assim, o condutor a ser selecionado será aquele cuja seção de condu-


ção equivalente for igual a

A
S=
ns′

Claro que dentro de uma tolerância predefinida.

Capítulo 3 87
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O fator de utilização corrigido é dado por:

ku ns r
(3.17)
ku′ =
ns′ r ′

E, caso a seção do condutor selecionado (Sʹ) seja diferente da desejada


(S), a densidade de corrente será corrigida de acordo com

(3.18) S
Jc′ = Jc
S′

Maiores detalhes sobre o processo de otimização dos cabos podem ser


encontrados em [31].
Até aqui, já foi visto que a potência característica e a densidade de cor-
rente são bons indicadores do comportamento da linha e podem ser usados
para comparar linhas de mesmo comprimento. Viu-se também que o fator
de utilização pode ser usado como função objetiva no processo de otimiza-
ção. E, finalmente, foi mostrado como a seleção dos subcondutores é feita,
bem como a definição do número necessário de acordo com a potência de-
sejada. Entretanto, falta ainda determinar a localização de cada subcondutor
para se chegar na geometria final da linha, que será visto adiante.

3.3 Restrições
A partir da otimização do fator ku, é possível determinar a localização
de cada subcondutor, de forma que o objetivo de elevar a potência carac-
terística seja alcançado. Porém, é necessário levar em conta algumas limi-
tações de ordem física, que impõem certas restrições na localização destes.
Essas restrições incluem fatores como o campo elétrico máximo na superfí-
cie de cada subcondutor, as distâncias mínimas entre as fases, e destas para
a estrutura, a altura mínima em relação ao solo, e, também, é desejado que
as cargas nos condutores sejam equalizadas – o que minimiza as perdas na
linha. E tudo isso deve ser traduzido em linguagem matemática, de forma
que o problema possa ser resolvido por meio de equações. Assim, nas seções
subsequentes são mostrados os critérios que definem as principais restri-
ções na otimização da linha, bem como o equacionamento destas, para que
finalmente o problema de otimização possa ser resolvido.

88 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

3.3.1  Restrições de campo elétrico

As restrições de campo elétrico se devem, basicamente, ao efeito co-


rona, que está relacionado com o campo elétrico na superfície dos condu-
tores, e às questões como os efeitos fisiológicos e de segurança das pessoas,
que podem ser relacionadas com o campo elétrico no solo.
Existem ainda restrições com relação ao campo magnético, porém não
foram consideradas na metodologia apresentada. No entanto, isso não re-
presenta uma limitação nos procedimentos, uma vez que as restrições de
campo elétrico têm maior influência no processo de localização dos con-
dutores quando o nível de tensão é elevado. Além do mais, para critérios
de otimização, ao se otimizar o campo elétrico atendendo a todas as restri-
ções impostas, os valores do campo magnético ficam dentro de uma faixa
aceitável, necessitando apenas cálculos expeditos para simples conferência.

3.3.1.1  Campo elétrico na superfície dos condutores – Efeito corona

O efeito corona é a ionização sustentada do ar pelo campo elétrico em


torno do condutor, podendo ocorrer um fenômeno tipo avalanche iniciado
pela ação do campo sobre uma partícula. Este efeito ocorre quando o cam-
po elétrico na superfície dos condutores excede um valor crítico, causando
inúmeros inconvenientes como ruído audível, rádiointerferência, vibração
dos condutores, produção de ozônio e outros e, ainda, dissipação de ener-
gia que deve ser suprida pela linha.
Não é objetivo aqui estudar o mecanismo de ignição do efeito corona,
nem as consequências de sua ocorrência, cujas descrições e análises podem
ser encontradas na literatura especializada. O objetivo aqui é determinar o
campo elétrico máximo permitido na superfície dos condutores, de forma
que o efeito corona não ocorra, ou seja, se está interessado em se determi-
nar o limite em que o campo pode alcançar, este limite é chamado de cam-
po elétrico crítico (Ecr).
Um dos pioneiros na determinação do campo elétrico crítico foi F. W.
Peek [12]. Através de seus experimentos, Peek determinou que o campo
crítico na superfície de condutores cilíndricos lisos de raios da ordem de
alguns milímetros, em condições de pressão ao nível do mar e a uma tem-
peratura ambiente de 20 °C, é dado, de forma aproximada, por:

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⎛ 0,0301 ⎞
Ecr = 2,16 ⎜ 1+
⎝ ⎟ [ MVrms /m ] (3.19)
r ⎠

Onde r é o raio do condutor.


Entretanto, na fórmula de Peek existe uma inconsistência: trata-se do fato
de que à medida que se aumenta o valor do raio, o resultado obtido pela fór-
mula tende para um valor assintótico (r → ∞) igual a Ecr = 3,1 MV/m (valor
de pico). Este valor, na verdade, deveria tender para Ecr → E0  2,43 MV/m,
que corresponde à disruptura do ar para campos uniformes, ou seja, o campo
crítico para eletrodos planos paralelos.
Mais recentemente, Portela e Santiago [22] desenvolveram uma for-
mulação que descreve melhor o fenômeno, mesmo para raios maiores. O
campo crítico é obtido por:
1
= −A0( kf −1) + A1 Ecr [ kf −1− ln(kf )]
(3.20) 2

r
Ecr
Onde kf = e E0 = 2,438 MV/m. Os parâmetros A0 e A1 foram ajusta-
E0
dos de acordo com os dados experimentais de Peek, sendo A0 = 829,70 m-1
e A1 = 781,53 MV-1.
A determinação do campo elétrico crítico depende de diversos fatores
como a umidade relativa do ar, a altitude em que se encontra o condutor, a
rugosidade da superfície deste, a temperatura ambiente e da superfície dos
condutores, proximidade do condutor com a estrutura da linha, entre ou-
tros fatores de menor relevância. Esses fatores podem ser levados em conta,
corrigindo-se os valores de Ecr e r em (3.20), de modo a compensar o erro
que se comete quando as condições de referências não são atendidas, i.e.:

r' = r δ (3.21)

(3.22)Ecr
Ecr′ =
δm

Onde E'cr e r' são as grandezas corrigidas, δ é a densidade relativa do ar


e m é o fator de superfície do condutor.
A densidade relativa é função da temperatura da região próxima à su-
perfície do condutor (tc, em °C) e da pressão atmosférica (b, em milibar),
como é mostrado em [19]:

90 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

(3.23)
0,28924b
δ=
tc + 273

Sendo que a pressão se relaciona com altitude (h, em km, a partir do


nível do mar), aproximadamente, por:

b = 1.013 e-0,116h (3.24)

O fator m indica as condições da superfície do condutor e aplica cor-


reções ao campo crítico, reduzindo as condições de referências. Os valores
para m foram determinados tanto por Peek quanto por outros pesquisado-
res [12], e o valores típicos utilizados são mostrados na tabela 3.1.

Tabela 3.1:  Fatores de superfície típicos [12]


Condições superficiais dos condutores Fatores de superfície
Condutores cilíndricos, polidos e secos 1,00
Cabos novos, secos, limpos e sem abrasão 0,92
Cabos de cobre expostos ao tempo em atmosfera limpa 0,82
Cabos de cobre expostos ao tempo em atmosfera agressiva 0,72
Cabos de alumínio novos, limpos e secos, com condições de superfícies decorrentes
0,53 a 0,73
do grau de cuidado com que foram estendidos nas linhas (médias 0,60)
Cabos molhados, novos ou usados 0,16 a 0,25

Pode-se, ainda, aplicar um fator de correção (s) a fim de incorporar o


aumento de campo nas proximidades da estrutura e as flutuações de ten-
são, além de quaisquer outras variações que não foram consideradas [31].
Assim, o campo crítico será:

(3.25)Ecr
Ecr′ =
δ ms

Um valor típico para este fator é s = 0,90.


Definido o campo elétrico crítico, agora é necessário calcular o campo
em toda a superfície do condutor e garantir que o valor máximo alcançado
não ultrapasse o valor máximo permitido, Emax, que será o campo crítico
multiplicado por um fator menor que a unidade.
A presença do plano de terra, bem como a de outros condutores, faz
com que a carga elétrica não seja igualmente distribuída entre os subcon-
dutores do feixe e, por conseguinte, o campo elétrico na superfície do con-

Capítulo 3 91
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dutor sofre alterações devido à presença desses elementos. Para representar


este efeito, são simuladas cargas imagens de sinais opostos às cargas cujos
efeitos se deseja compensar e, assim, sucessivamente. Então, o campo elé-
trico na superfície do condutor pode ser calculado utilizando o método das
sucessivas imagens [26], [8], [23] e [31]. De acordo com o método, o campo
elétrico total na superfície do condutor i é dado por:

n
qj hmx ⎧⎪⎛ ri ⎞ h ⎡ ⎛
h
⎞ ⎤ − ⎛ ri ⎞ cos ⎡h γ − α ⎫⎪
Ei(γ ) = ∑ ∑ ⎨⎜ ⎟ cos h
⎢⎣ ⎝ γ − α ⎜
D′i j ⎠ ⎥ ⎝ D ⎠ ⎟ ⎣ ( D )
ij ⎬

⎦ +
j=1
2πε ri h=1 ⎪⎩⎝ Dij′ ⎠ ⎦ ij ⎪⎭
j≠i

qj hmx ⎧⎪⎛ ri ⎞ h ⎡ ⎛ ⎞ ⎤ ⎛ ri ⎞
h
⎫⎪
2πε ri ∑ ⎨⎜ ⎟ cos h
⎢⎣ ⎝ γ − α −
D′i j ⎠ ⎥ ⎜⎝ D ⎟⎠ cos ⎡
⎣ h (γ − α )
Dij ⎦ ⎬ + , (3.26)

h=1 ⎩⎪⎝ Dij′ ⎠ ⎦ ij ⎭⎪

qj ⎧⎪ hmx ⎛ ri ⎞ ⎤ ⎫⎪
h

⎨1+ ∑ 2 ⎜ ⎟ cos ⎢h ⎛ γ − α D′ ⎞ ⎥ ⎬
2πε ri ⎪ h=1 ⎝ Dij′ ⎠ ⎣ ⎝ i j⎠ ⎦
⎪⎭

Sendo γ o ângulo em que o ponto (P), onde se está calculando o campo


na superfície do condutor, faz com a semirreta paralela ao solo, à direita do
condutor e com origem do centro deste. As outras variáveis são definidas
de acordo com a figura 3.3.

Dij Condutor
P  D j
Condutor ij

i  Dij¢

D¢ii D¢ij

Solo

Imagem
i
Imagem
j

Figura 3.3:  Definição das variáveis envolvidas para


cálculo do campo elétrico na superfície do condutor i

92 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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O limite hmx é o número de imagens simuladas no interior do condutor


para representar cada um dos outros condutores, que para o caso de linhas
de transmissão, duas imagens por condutor leva a resultados satisfatórios. E,
n é o número total de condutores, incluindo os cabos para-raios, se for o caso.
O próximo passo é definir o ponto em que ocorre o valor máximo em
cada um dos condutores. Para proceder com esta tarefa, inicialmente trans-
formou-se o problema em um subproblema de otimização, i.e., o que se
deseja na verdade é se determinar o máximo global do módulo da função
(3.26), dentro da faixa de variação 0 ≤ γ ≤ 2π. Como a função do campo
elétrico é suave, é garantido que exista apenas um único ponto de máximo
global e bem definido [31]. Além disso, o campo é apenas função da posi-
ção ao longo da superfície, definido por γ, pois todas as outras variáveis são
calculadas a priori. Isto permite utilizar os algoritmos existentes em progra-
mas comerciais que utilizam métodos já bem consagrados para a solução
deste tipo de problema, como o método do “gradiente conjugado”, baseado
no método de Newton-Raphson, dentre outros [34] e [32].
A resposta do subproblema de otimização é o ângulo em que ocorre o
campo elétrico máximo, i.e., γmax, em cada um dos condutores, que substi-
tuído em (3.26) obtêm-se os valores máximos do campo nestes (Emax condi).
Finalmente, esta informação entra no processo de otimização da linha como
uma restrição, através das inequações:

Emax condi  ≤ Emax,  i = 1, 2, 3, . . ., n (3.27)

3.3.1.2  Campo elétrico no solo

Outra restrição de campo é o valor do campo elétrico no solo. Esta res-


trição está relacionada, principalmente, à saúde e à segurança das pessoas e
à minimização do impacto ao meio ambiente. Um campo elétrico excessi-
vamente alto (> 10 kVrms) pode causar mal-estar nas pessoas e induzir cor-
rentes parasitas em objetos condutores e, caso o objeto esteja isolado, pode
induzir tensão e causar choques elétricos ao serem tocados por alguém [27].
A corrente de choque elétrico pode ser classificada de acordo com a
severidade do choque nas pessoas. Correntes que causem danos fisiológi-
cos diretos são classificadas como correntes de choque primárias. Corren-
tes que não causem danos fisiológicos diretos, mas podem produzir reação
muscular involuntária, são classificadas como correntes de choque secun-
dárias. Correntes de um miliampère ou mais, porém menores do que seis

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miliampères, são normalmente classificadas como correntes de choque se-


cundárias. Correntes maiores do que seis miliampères são consideradas cor-
rentes de choque primárias. É impossível causar corrente de choque primá-
rias com tensão menores do que 25 V por causa da resistência natural do
corpo humano. A consequência mais danosa possível de morrer por causa
de um choque elétrico é a fibrilação ventricular, uma vez iniciada é pratica-
mente impossível o processo parar espontaneamente [28] e [29].
Supondo os parâmetros do solo constantes e independentes da fre-
quência, com a permeabilidade magnética igual a do ar (µ0), então, o cam-
po elétrico em um ponto p qualquer, de coordenadas (xp, yp) no ar, devido
às cargas existentes nos n condutores de uma linha de transmissão, e suas
respectivas imagens, é definido por [16]:

Esolo  =  Ex solo  + j Ey solo (3.28a)

sendo,

n
qi ⎧⎪ xp − xi xp − xi ⎫⎪
Ex solo = ∑ ⎨ 2 − 2 ⎬ (3.28b)
2π ε ⎪⎩ ( xi − xp ) + ( yi − yp ) ( xi − xp ) + ( yi − yp ) ⎪⎭
2 2
i=1

n
qi ⎧⎪ yp − yi yp − yi ⎫⎪
Ey solo = ∑ ⎨ − ⎬ (3.28c)
⎪⎩ ( xi − xp ) + ( yi − yp ) ( xi − xp ) + ( yi − yp ) ⎪⎭
2 2
i=1 2π ε 2 2

Onde qi é a carga no i-ésimo condutor de coordenada (xi, yi). No caso,


para se calcular o campo elétrico no solo, sem considerar a presença da pes-
soa ou qualquer outro objeto próximo, basta fazer yp = 02.
Como se pode notar, o campo elétrico no solo é função, basicamente,
da geometria da linha. Então, os efeitos do campo podem ser minimizados
modificando-se a geometria da linha como, por exemplo, espaçamento en-
tre fases; disposição dos condutores horizontal, vertical ou em delta; e altura
mínima em relação ao solo. Porém, a alteração mais efetiva para minimizar
o campo no solo é a elevação da altura mínima dos condutores em relação

2 É comum se calcular o campo elétrico a uma altura um pouco acima do solo, e.g., yp = 1,80 m, isto porque as
pessoas são mais sensibilizadas pelo campo na altura da cabeça.

94 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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ao solo3 [16]. Inclusive, em [16] é apresentada uma fórmula empírica para


expressar a relação entre a altura dos condutores e o campo elétrico do solo:

κ
⎛ Esolo 1 ⎞ ⎛ H1 ⎞
⎜⎝ E 2 ⎟⎠ = ⎜⎝ H ⎟⎠ , (3.29)
solo 2

Onde Esolo 1 e Esolo 2 são os campos elétricos no solo correspondentes


para as alturas mínimas, H1 e H2, dos condutores, respectivamente. E κ é
uma constante que depende da geometria da linha que, para uma linha com
as fases dispostas horizontalmente, tem-se que κ = −1,4.
A metodologia adotada para impor a restrição de campo elétrico no so-
lo foi determinar a altura mínima dos condutores (hmin) em relação ao solo,
a partir de uma configuração inicial adequada para a linha, de maneira que
o limite de campo elétrico no solo (|Esolo max|) não fosse ultrapassado. Então,
a restrição imposta no processo de otimização é definida pela inequação:

hi ≥ hmin (3.30)

Onde hi é a altura do i-ésimo condutor.


Depois de se obter um resultado preliminar para a geometria da linha,
o valor de hmin é atualizado, e um novo resultado subotimizado é obtido.
Este processo é repetido duas ou três vezes, não necessitando de mais repe-
tições porque neste ponto já se está próximo da solução final desejada, e a
altura mínima dos condutores sofre pouca variação. Desse modo, evita-se
incluir restrições não lineares no problema de otimização, i.e., o cálculo do
campo elétrico no solo diretamente. Em vez disso, utilizam-se restrições
simples como mostrado em (3.30), trazendo vantagens no tempo de cálcu-
lo e simplificando a programação do problema.
Não existe um estudo conclusivo quanto ao valor máximo permitido
para o campo elétrico no solo, porém um campo elétrico no solo inferior
a 10 kVrms/m pode ser perfeitamente tolerado por uma pessoa, desde que
o tempo de exposição não seja muito longo [24], caso contrário este valor
deve ser menor. No entanto, em regiões em que são pouco povoadas este

3 O campo elétrico no solo também pode ser minimizado adicionando cabos de blindagem aterrados, dispostos
em paralelo aos cabos de fases e situados nos pontos de maiores magnitudes de campo. Ou, no caso de linha de
circuito duplo, pode-se alterar o “faseamento” para reduzir os valores do campo. Porém, essas alternativas não foram
analisadas porque o objetivo do trabalho é otimizar a linha através da otimização de sua configuração geométrica.

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valor pode ser superior como, por exemplo, cita-se o caso da Rússia em que
para regiões povoadas adotam-se 5 kVrms/m, para regiões pouco povoadas
e reservadas, basicamente para agricultura este limite sobe para 15 kVrms/m.
Já para regiões pouco povoadas em que o maquinário da agricultura não
tem acesso, o limite é elevado para 20 kVrms/m4 [17]. No Brasil, FURNAS
adotou os limites 5/10/15 kVrms /m para esses três tipos de regiões, povoa-
da, pouco povoada com agricultura e pouco povoada sem maquinário, res-
pectivamente [17].
Neste trabalho, no processo de otimização, adotou-se para limite de
campo elétrico no solo o valor de (Esolo max), i.e.,

|Esolo| ≤ Esolo max (3.31)

O valor de 10 kVrms /m para o valor máximo de campo elétrico no solo.

3.3.2  Restrições geométricas

Somente a maximização do fator de utilização e o atendimento das res-


trições de campo elétrico, na superfície dos condutores e no solo, não são
garantias de que o resultado obtido será uma configuração geométrica fac-
tível de ser construída na prática.
Em busca de aumentar o campo elétrico nas superfícies dos condutores
e, por conseguinte, as cargas nestes e, então, o fator de utilização, a solução
do problema pode apresentar resultados em que as distâncias de isolamento
sejam violadas – compactação excessiva da linha –, o que tornaria imprati-
cável sua operação. Assim, é necessário ainda impor outras restrições que li-
mitem a região em que os condutores podem ser posicionados. Além disso,
restrições quanto à simetria e à forma dos feixes são importantes, pois per-
mitem que as formas finais das fases sejam possíveis de serem construídas.
A seguir, são apresentados alguns critérios que foram utilizados na de-
terminação de algumas das restrições citadas acima, como critérios de coor-
denação de isolamento, de simetria e de forma do feixe.

4 Na Rússia, para regiões não povoadas como o deserto gélico da Sibéria, ou regiões montanhosas, não existe um
limite para o campo elétrico no solo [17].

96 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


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3.3.2.1  Coordenação de isolamento

Não é objetivo aqui fazer uma análise extensa sobre coordenação de


isolamento, mas o principal objetivo deste item é apresentar alguns crité-
rios de coordenação de isolamento ligados à determinação das distâncias
mínimas de isolamento e mostrar como essas informações são inseridas no
problema de otimização como restrições. Para aprofundamento no assunto
de coordenação de isolamento e desempenho de linha frente às descargas
atmosféricas, existe uma vasta literatura científica [19], [2], [1], [9], [25], [3].
Pode-se entender por coordenação de isolamento um conjunto de cri-
térios que conduz à definição de materiais, equipamentos de redes, distân-
cias de isolamento e procedimentos de operação, de tal forma que a proba-
bilidade de falha do sistema pela disruptura do dielétrico do isolamento seja
inferior a um limite que se julgue aceitável.
Para linha de extra-alta tensão, as condições mais severas a que os iso-
ladores são submetidos são devidas às sobretensões de manobra. Para este
tipo de linha, a blindagem oferecida pelos cabos para-raios é suficiente para
que descargas atmosféricas não atinjam diretamente os condutores de fase5.
E, quando isto ocorre, a amplitude da corrente de descarga não é suficiente-
mente elevada a ponto de acarretar sobretensões que superem a tensão de
suportabilidade dos isoladores. Por este motivo, neste item é apresentado
somente o cálculo de coordenação de isolamento considerando sobreten-
sões de manobra.
A proteção de linha quanto a descargas atmosféricas consiste em loca-
lizar os cabos para-raios com o objetivo destes oferecerem uma blindagem
para os condutores de fase. Isto foi feito aplicando o modelo eletrogeométrico
[31], [19] e [16], e os resultados são apresentados mais adiante, na seção 3.5.
Os procedimentos de coordenação de isolamento aqui empregados
consistem, então, em:

• Determinar, através de métodos estatísticos, a tensão crítica em que


ocorre a disruptura, ou escorvamento de arco, no isolamento analisado.
• Determinar as distâncias de isolamento, de forma que a probabilidade
de falha de um elemento, dentre n isoladores considerados (submeti-
dos à mesma sobretensão), seja inferior a um limite preestabelecido.

5 Para o caso de descargas de correntes elevadas atingirem os cabos para-raios sem que haja escorvamento de
tensão, são calculadas as alturas mínimas entre estes e os cabos de fase, e supõe-se que os aterramentos de “pé de
torre” são adequados, projetados criteriosamente aplicando metodologias baseadas em conceitos robustos, de
base física, e, se possível, avaliando a resistividade do solo para uma ampla gama de frequências.

Capítulo 3 97
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Para isolamentos autorregenerativos como o ar, é, em geral, suficiente con-


siderar que a distribuição de probabilidade de ocorrer escorvamento de arco é
aproximadamente uma gausseana em função da tensão aplicada U. Exceto pa-
ra valores muito pequenos de U, em que não se verifica escorvamento, ou pa-
ra valores muito elevados de tensão, em que sempre se verifica escorvamento.
Define-se por U0,5 a tensão crítica em que a probabilidade de ocorrên-
cia de escorvamento é igual a 0,5, i.e., o valor médio da gausseana, e a dis-
tribuição de probabilidade, no intervalo que se possa considerá-la gaussea-
na, pode ser caracterizada ainda por seu desvio quadrático médio, σ. Para
sobretensões com frente de onda lenta6, do tipo associadas à sobretensão de
manobra, o desvio quadrático médio é, em geral:

σ  0,05 U0,5

A tensão crítica de escorvamento – considerando ondas de polaridades


positivas, ar seco e condições normais de referência7 – pode ser definida por:

U0,5 = 0,50 km d0,6 (3.32)

Onde d é a distância entre os eletrodos, sendo da ordem de 2 m ou


superior, e km é um fator que depende da forma do eletrodo e definido de
acordo com a tabela 3.2.

Tabela 3.2:  Valores de km


Eletrodos km
Condutor – plano paralelo ao condutor 1,15
Condutor – estrutura metálica inferior 1,30
Haste – haste inferior com 3 m 1,30
Haste – haste inferior com 6 m 1,40
Condutor – estrutura metálica superior ou lateral 1,35
Condutor – haste vertical inferior com 3 m 1,65
Condutor – haste vertical inferior com 6 m 1,95
Condutor – janela de torre quadrada 1,20
Peças metálicas suspensas de isolador rígido-estrutura 1,20

6 Pode-se entender como tensão de frente de onda lenta como sendo um impulso unidirecional, caracterizado por
um valor máximo de tensão, Um, pelo tempo de frente de onda, t1 = 250 µs, e pelo tempo de duração de meia-
onda, t2 = 2.500 µs.
7 Segundo a CEI (Commission Electrotechnique Internationale), as condições de referências correspondem a uma
pressão de 1.013 mb (760 mmHg), a 20°C, com umidade absoluta de 11 g/m3 [19].

98 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


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A tensão crítica de escorvamento é afetada pelas condições meteoro-


lógicas, como a densidade do ar, umidade absoluta e existência, ou não, de
chuva. Esta última tem efeito reduzido na tensão de escorvamento, e pode-
se considerar que a tensão de escorvamento sob chuva é 5% inferior para a
tensão sem chuva. Para incluir os efeitos das outras condições meteoroló-
gicas, são aplicados fatores de correção em U0,5. Assim, a tensão de escor-
vamento corrigida é dada por:

α α
′ = 0,95 U0,5 (δ ) (γ )
U 0,5 (3.33a)

Sendo,

γ = 0,0118 u + 0,87 (3.33b)

⎛ 1 ⎞, para d ≤ 1,5 m
α = − 0,1428 d + 1,2143 ⎟, para 1,5 < d < 3,6 m
⎜ (3.33c)
⎜ ⎟, para d ≥ 3,6 m
⎜⎝ 0,7 ⎟⎠

Onde δ é a densidade relativa do ar, definida por (3.23), γ é o fator de cor-


reção associado à umidade absoluta e α é um fator definido empiricamente.
A partir da determinação da tensão de escorvamento, é possível deter-
minar a probabilidade acumulada, p1, de haver escorvamento em um único
isolador. Então, a probabilidade de não ocorrer escorvamento em um único
elemento é dada por:

p1 = 1 − p1 (3.34)

Porém, sobretensões de manobra sofrem pouca atenuação ao longo da


linha, logo, não é suficiente determinar somente a probabilidade de falhar
um elemento, porém é necessário determinar a probabilidade de não ocor-
rer escorvamento em nenhum dos n elementos que estão em paralelo sob
a mesma sobretensão.
A probabilidade de não ocorrer escorvamento em nenhum dos n ele-
mentos em paralelo, sob a mesma tensão, é igual a (1 − p1)n. Logo, a proba-
bilidade acumulada de haver escorvamento em pelo menos um dos isola-
mentos é dada por:

Capítulo 3 99
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pn = 1 − (1 − p1)n (3.35)

Assim, conclui-se que para que o conjunto de n elementos em paralelo


tenha uma probabilidade acumulada de escorvamento pn, é necessário que
a probabilidade de escorvamento de um único elemento seja de:
1
p1 = 1 − (1 − pn)n (3.36)

Dessa forma, é possível determinar a distância mínima de isolamen-


to, d, entre dois eletrodos, de modo que a probabilidade de ocorrer falha de
isolamento seja p1, quando n elementos estão sob a máxima sobretensão es-
perada Umax. Vale ressaltar que, apesar de distribuição de probabilidade de
haver escorvamentoem um único elemento ser guasseana, a probabilidade
de haver escorvamento em um dos n elementos em paralelo não é uma dis-
tribuição do mesmo tipo.
Para uma linha muito longa, considerando as perdas, a máxima sobre-
tensão de manobra a ser considerada na faixa de 1,8 a 2,0 vezes a tensão no-
minal da linha. Na figura 3.4 são mostradas as distâncias mínimas de iso-
lamento em função da probabilidade acumulada de ocorrer escorvamento
em 150 elementos em paralelo, em uma linha cuja tensão nominal é igual a
1.000 kV. Nota-se que para uma tensão máxima de 1,9 p.u. e uma probabi-
lidade p150 igual a 0,01, é necessário que a distância mínima entre os con-
dutores de fases diferentes seja igual a d = 9 m, aproximadamente.

11

10 2,0
1,9
9 1,8
1,7
8

6
0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 0,1
p150

Figura 3.4:  Distâncias de isolamento entre fases para uma linha de 1.000 kV,
considerando probabilidade acumulada para 150 elementos em paralelo.
Com temperatura ambiente de 45°C, altitude de 1.000 m e fator km = 1,2

100 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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Na figura 3.5, são mostradas as distâncias mínimas em função da pro-


babilidade p150 para o caso da tensão nominal da linha ser U1 = 765 kV.
Neste caso, a distância mínima entre fase, considerando uma máxima so-
bretensão de 1,9 p.u., é igual a d = 5,8 m, aproximadamente.

Figura 3.5:  Distâncias de isolamento entre fases para uma linha de 765 kV,
considerando probabilidade acumulada para 150 elementos em paralelo.
Com temperatura ambiente de 45 °C, altitude de 1.000 m e fator km = 1,2

Obtidas essas informações, é então imposta a restrição de que nenhum


subcondutor de uma fase pode ter uma distância inferior a d, em relação ao
subcondutor da fase vizinha. Tem-se que as restrições são expressas mate-
maticamente por:

( xi ,1− xj ,2) + ( yi ,1− yj ,2 ) ≤ d 2 2


(3.37a)

( xi ,2 − xj ,3)2 + ( yi ,2 − yj ,3) ≤ d (3.37b)


2

Onde (xi,k , yi,k) são as coordenadas do subcondutor i, ou j, da fase k,


sendo que i = j = 1, 2, 3 . . . ns e k = 1, 2, 3. Neste trabalho, foi considerada
somente disposição horizontal das fases. Por esse motivo, apenas as distân-
cias entre subcondutores de fases vizinhas foram consideradas, supondo
que a fase 2 é a fase central.

Capítulo 3 101
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

3.3.2.2  Restrições de simetria e forma

Para que as soluções do problema de otimização sejam restringidas às


configurações que sejam exequíveis na prática, algumas restrições, quanto à
simetria e às formas dos feixes, devem ser incluídas na formulação do proble-
ma. Além dos feixes, é desejável também que as fases externas sejam equidis-
tantes da fase central, e esta, por sua vez, seja localizada na linha central ver-
tical da torre. Essas restrições refletem em questões mecânicas da linha, e.g.,
quando se considera um feixe com número par de subcondutores, e este feixe
é simétrico em relação à sua linha vertical central, cada subcondutor de um
lado serve de contrapeso para o subcondutor do outro lado, o que minimiza
problemas de vibrações. Isso também se pode dizer para o caso de as fases
externas serem simétricas em relação à central, existindo um equilíbrio de
forças que minimizam os esforços na estrutura. Dessa forma, indiretamente,
pode-se incluir restrições relacionadas às questões mecânicas no processo de
otimização. Além disso, questões relacionadas à manutenção da linha tam-
bém podem ser consideradas e incluídas de forma indireta.
Assim, uma das restrições de simetria imposta é a simetria entre as fa-
ses externas, equidistantes do plano vertical central da torre, conforme mos-
trado na figura 3.6. Isto é, a altura de cada subcondutor de uma fase é igual
à altura do subcondutor simétrico correspondente da outra fase, e a média
das abscissas destes é igual à abscissa do plano central [31].

Figura 3.6:  Simetria das fases externas em relação ao plano vertical central da linha

Com relação aos feixes das fases, podem-se impor restrições que garan-
tam que a forma final seja regular. No caso deste trabalho, determinou-se
que a forma final dos feixes fosse elíptica, o que já inclui o caso convencio-
nal que é a forma circular. Para isto, as coordenadas dos subcondutores dos
feixes devem atender à equação da elipse, i.e.:

102 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

( xi − xc ext )2 ( yi − yc ext )
2

+ = 1 (3.38a)
Rx2 ext R y2 ext

Para as fases externas, e

( xi − xc int )2 ( yi − yc int )
2

+ = 1 (3.38b)
Rx2 int R y2 int

Para a fase central, onde (xc ext, yc ext) e (xc int, yc int) são as coordenadas
dos centros das elipses das fases externas e central, respectivamente; Rx ext e
Ry ext são os raios das elipses externas, nas direções x e y, respectivamente;
e, Rx int e Ry int são os raios da elipse interna, nas direções x e y, respectiva-
mente. Rearrumando (3.38), tem-se:

(xi − xc ext)2 + Kext (yi − yc ext)2 = R2, (3.39a)

(xi − xc int)2 + Kint (yi − yc int)2 = R2 (3.39b)

Rx2 ext Rx2 int


Onde Kext = R y2 ext
e Kint = R y2 int
. Para garantir que as elipses dos feixes
possuam o eixo vertical (direção x) maior do que o eixo horizontal (direção
y), deve-se incluir as restrições:

Kext ≤ 1 (3.40a)

Kint ≤ 1 (3.40b)

Contudo, a aplicação somente de (3.39) e de (3.40) não é garantia de


que os subcondutores sejam distribuídos regularmente espaçados ao longo
do feixe, pois pode ocorrer que os subcondutores fiquem mais agrupados
em umas regiões da elipse do que em outras. Além disso, não é suficien-
te impor apenas simetria dos subcondutores em relação ao eixo vertical da
elipse, pois este pode ocorrer, por exemplo, todos os subcondutores locali-
zados acima do eixo horizontal. Então, para evitar que isto ocorra, deve-se
incluir mais uma equação que deve ser atendida, i.e.:

Capítulo 3 103
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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⎛ π 2(i −1)π ⎞ (3.41a)


yi = yc − Ry cos ⎜ + ⎟
⎝ ns ns ⎠

Para o caso de ns ser par, e

⎛ 2(i −1)π ⎞ (3.41b)


yi = yc − Ry cos ⎜ ⎟
⎝ ns ⎠

Para o caso de ns ser ímpar, onde yi é a ordenada do subcondutor i, yc é


a ordenada do centro do feixe a que os subcondutores pertence e Ry é o raio
na direção vertical deste. Nota-se que apenas foi imposta restrição para a
distribuição vertical, pois, no caso da direção horizontal, não é necessário
porque se impõe simetria em relação ao eixo vertical. Com isso, a coordena-
da do subcondutor, ao atender a equação da elipse, (3.39), e da distribuição
vertical, (3.41), a equação de distribuição na direção x passa ser redundan-
te, podendo, assim, ser omitida.
Além dessas restrições que foram apresentadas, outras podem ser incluí-
das, como a região em que os condutores de uma fase podem ocupar e/ou ou-
tras formas de feixes [31]. Contudo, estes tipos de restrições não foram apre-
sentados porque não foram utilizados no processo de otimização em questão.

3.4  Formulação do problema


Após a determinação da função objetivo a ser maximizada e de todas
as restrições do problema, o passo seguinte é, então, reunir todas as equa-
ções em um problema de otimização estática, i.e.:

i. max Fobj = F (x, y)


ii. l1  ≤ ψ (x, y)  ≤ u1
iii. l2  ≤  A1 x + A2 y  ≤ u2 (3.42)
iv. l3  ≤  x ≤ u3
v. l4  ≤  y ≤ u4

Onde a função F (x, y) é a função objetiva que se deseja maximizar, de-


finida por (3.8); as linhas de ii. a v. representam as restrições do problema,
não lineares (ii.), lineares (iii.) e relações de desigualdades (iv. e v.). Defini-
da a formulação do problema, é possível resolvê-lo utilizando programa-
ção não linear.

104 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

O procedimento adotado consiste em estimar os valores iniciais das coorde-


nadas de todos os condutores, exceto os para-raios. Após um resultado preliminar
da configuração da linha, os cabos para-raios são calculados para oferecer a blin-
dagem necessária, através do modelo eletrogeométrico (vide apêndice B). Então,
os resultados preliminares obtidos, juntamente com os cabos para-raios, servem
de valores iniciais para um novo cálculo. Em seguida, verifica se há necessidade
de realocar os cabos para-raios e, em caso afirmativo, o processo é repetido, mas,
caso contrário, considera-se a solução da iteração como o resultado desejado. Esta
metodologia de localizar os cabos para-raios através de um procedimento externo
ao da otimização, não necessita de muitas repetições, pois os cabos de blindagem
têm pouco influência da maximização da carga de sequência positiva da linha.
Eles alteram, basicamente, os campos elétricos nas superfícies dos condutores,
contudo, após a primeira iteração do processo, pouco influenciam nestes também.

3.5 Resultados
A seguir são apresentados alguns dos resultados obtidos de configura-
ções geométricas para linhas de 765 kV e 1.000 kV. Os resultados foram divi-
didos em duas subseções. Na primeira, são mostrados resultados para o caso
de não fixar as formas dos feixes, e, na segunda, são mostrados os resulta-
dos para o caso de se incluir todas as restrições apresentadas anteriormente.
Vale ressaltar que o fato de as fases serem compostas por feixes de sub-
condutores, o fator de utilização sempre será menor do que o máximo teórico
e, além disso, a existência das restrições limita ainda mais a maximização do
fator de utilização. Por este motivo, o seu valor final será ainda menor. Para o
caso de não fixar a forma dos feixes, os valores alcançados para ku serão maio-
res do que quando se fixa. Para o caso de se fixar a forma do feixe, o máximo
valor obtido para ku não ultrapassou 0,83, tratando-se de um valor aceitável,
haja vista que linhas convencionais muitas vezes têm fator de utilização inferior
à metade deste valor. Para todos os casos analisados, o condutor comercial cal-
culado foi o bluejay – resultado obtido pela metodologia apresentada na seção
3.2.3 –, lembrando ainda que todos os cálculos foram feitos considerando uma
altitude de 1.000 m, temperatura ambiente de 45 °C, temperatura na superfície
do condutor igual a 65 °C. Porém, não se considerou a ação do vento, nem a
dilatação dos cabos com a temperatura, porque julgou-se que esses resultados
servem como diretrizes a serem seguidas em busca da otimização final da li-
nha. Em casos práticos, cálculos para o refinamento dos resultados devem ser
aplicados para se chegar à solução final da geometria da linha.

Capítulo 3 105
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

3.5.1  Sem fixar as formas dos feixes

A figura 3.7 apresenta a localização dos condutores para uma linha de


765 kV, com oito condutores por fase, com potência característica igual a
Pc = 4,8 GW. Neste caso, não foram considerados os cabos para-raios. O fa-
tor de utilização desta linha é igual a ku = 0,98, que é muito próximo do valor
máximo teórico, para as condições de altitude e temperaturas consideradas.
50

Torre

40
h m

30

Meio do vão

20

10
20 15 10 5 0 5 10 15 20
y m

Figura 3.7:  Linha de 765 kV com oito subcondutores por fase e Pc = 4,8 GW

Na figura 3.8, são apresentados os resultados para um nível de tensão


de 765 kV com 10 subcondutores por fase. Para este caso o fator de utiliza-
ção é igual a ku = 0,97 e a potência característica é Pc = 6,0 GW.
50

Torre

40
h m

30

Meio do vão

20

10
20 15 10 5 0 5 10 15 20
y m

Figura 3.8:  Linha de 765 kV com 10 subcondutores por fase e Pc = 6,0 GW

106 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Elevando-se o nível de tensão para 1.000 kV e o número de subcondu-


tores por fase para 12, é possível obter uma linha cuja potência característi-
ca é aproximadamente igual a Pc = 9,35 GW, com um fator de utilização de
ku = 0,97, conforme mostrado na figura 3.9.
55

Torre

45
h m

35

Meio do vão

25

15
20 15 10 5 0 5 10 15 20
y m

Figura 3.9:  Linha de 1.000 kV com 12 subcondutores por fase e Pc = 9,35 GW

A figura 3.10 mostra uma linha de 1.000 kV com potência característica


igual a Pc = 9,35 GW e ku = 0,97, porém, para esta linha, os valores iniciais
são diferentes do que no caso anterior. O que demonstra que a solução de
otimização da linha é um ótimo local, e não um ótimo global, mostrando
assim que o problema tem inúmeras soluções, devendo-se então limitar as
soluções existentes através das restrições, como será feito adiante.
55

Torre
45
h m

35

Meio do vão

25

15
20 15 10 5 0 5 10 15 20
y m

Figura 3.10:  Linha de 1.000 kV com 12 subcondutores por fase e Pc = 9,35 GW,
alterando-se os valores iniciais
Capítulo 3 107
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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3.5.2  Com as formas dos feixes fixas

Os resultados obtidos até aqui apresentam linhas com elevada capacida-


de de transmissão. Porém, são linhas muito complicadas de serem implemen-
tadas na prática, que apresentam, aparentemente, feixes com pouca robus-
tez mecânica, propensos a apresentarem problemas de vibrações mecânicas.
Por isso, há a necessidade de incluir todas as restrições vistas na seção
3.3, e a inclusão dessas restrições faz com que a máxima potência caracte-
rística alcançada seja inferior àquela obtida anteriormente.
Pode-se compensar esta redução de Pc, elevando-se o número de sub-
condutores por fase8, como é mostrado na figura 3.11, em que se obteve para
uma linha de 765 kV uma potência característica de Pc = 4,8 GW (ku = 0,8),
o mesmo valor anterior para o caso de se ter oito condutores por fase. Na
figura 3.12, é mostrado o campo elétrico no solo, observa-se que está abai-
xo do limite estabelecido de 10 kVrms/m, atendendo às restrições de campo,
simetria e de forma para cada fase.
50

40 Torre
h m

30

Meio do vão
20

10
15 10 5 0 5 10 15
y m

Figura 3.11:  Linha de 765 kV com 10 subcondutores por fase e Pc = 4,8 GW

8 Outra forma de compensar a redução em Pc é elevando o nível de tensão, e.g., para 800 kV, como foi apresentado
em [20], em que se obteve uma potência característica de 4,8 GW com oito condutores por fase.

108 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

10

Esolo  kVrmsm
6

0
100 75 50 25 0 25 50 75 100
y m

Figura 3.12:  Campo elétrico no solo para a linha de 765 kV

Para uma linha de 1.000 kV, como 12 condutores por fase, a máxima
potência característica obtida foi de Pc = 8,0 GW – para as condições de
temperatura e altitude consideradas. Neste caso, o fator de utilização obtido
é aproximadamente igual a ku = 0,83, e o campo elétrico no solo é mostrado
na figura 3.14, em que seu valor máximo é de aproximadamente 8 kVrms/m.
65

55

Torre

45
h m

35

Meio do vão

25

15
20 15 10 5 0 5 10 15 20
y m

Figura 3.13:  Linha de 1.000 kV com 12 subcondutores por fase e Pc = 8,0 GW

Capítulo 3 109
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10

Esolo  kVrmsm
6

0
100 75 50 25 0 25 50 75 100
y m

Figura 3.14:  Campo elétrico no solo para a linha de 1.000 kV

As condições meteorológicas e a altitude exercem grande influência


sobre o limite máximo que se pode alcançar para Pc, pois influenciam di-
retamente no campo elétrico crítico (limite do corona) e nas distâncias de
isolamento e, por conseguinte, na compactação da linha. Dependendo dos
parâmetros escolhidos, pode-se chegar a potências mais elevadas mesmo
para o caso de se considerar as restrições, como é mostrado em [21], onde é
apresentada uma linha de transmissão de 1.000 kV com 12 condutores por
fase, porém com uma potência característica de 8,6 GW, 600 MW acima da
potência característica da linha apresentada na figura 3.13.

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[29] ______, Electrostatic Effects Of Overhead Transmission Lines Part
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112 Aspectos Importantes de Linhas de Transmissão Não Convencionais Longas


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

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Considerando Novas Concepções Construtivas para os Feixes de
Condutores. Tese de Mestrado, Universidade Federal do Rio de
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Japan: Springer-Verlag, 2001, ch. Electric Energy and Environ-
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Capítulo 3 113
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 4

Transmissão em CA com Suporte de Tensão

115
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Com o objetivo de limitar o exame da aplicação da transmissão em CA


a grandes distâncias, vamos definir:

• Grandes distâncias de transmissão: distâncias de transmissão da or-


dem de 1.200 km a 2.400 km, cobrindo assim uma faixa de cerca de
λ/4 a λ/2 a 60 Hz.
• Nível de potência transmitida: acima de 1,0 GW (bulk power trans-
mission).

Uma resposta ao problema da transmissão em CA a grandes distân-


cias com base em conhecimentos e técnicas estabelecidos desde longos
anos recorreria a uma solução de transmissão em EAT, a mais alta possível
(800/1.000 kV), e a linhas de potência natural elevada com compensação sé-
rie. Este capítulo procura rever o assunto diante da perspectiva de aplicação
de compensação shunt controlada (CER, STATCOM), realizando estruturas
de transmissão com suporte de tensão. Em essência, busca-se resgatar este
tipo de transmissão – voltage supported systems, sugerido no passado [1] [2],
e revisitado em trabalhos mais recentes [3]. No trabalho não são abordados
os aspectos de aplicação de estratégias de controle coordenado dos disposi-
tivos shunts tipo SVC distribuídos ao longo da transmissão, nem são consi-
derados aplicações de sinais de controle com origem em PMU. Buscou-se no
texto explorar tão somente os aspectos básicos associados à estrutura com
compensação shunt controlada pela tensão local, mantendo a compensação
clássica com reatores (fixos) de linha.

4.1 Compensação shunt na transmissão a longa distância


Apresentam-se a seguir elementos da teoria clássica de linhas de trans-
missão em CA. O tratamento dado utiliza as constantes ABCD na repre-
sentação da linha, que facilita o tratamento e análise posterior da compen-
sação da linha.

116 Transmissão em CA com Suporte de Tensão


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Considere uma linha trifásica de comprimento (s), transposta e sem


perdas, operando em regime permanente equilibrado (carga e geração). Seu
desempenho nos terminais pode ser caracterizado por conjunto de relações
fasoriais de sequência positiva, a saber:

ES = AER + BIR (1)


IS = CER + DIR

Figura 4.1:  Convenção para os sinais das tensões e correntes no quadripolo

Onde:
ES = fasor tensão no extremo gerador (tensão aplicada)
IS = fasor corrente no extremo gerador (injetada na linha)
ER = fasor tensão no extremo recebedor (queda de tensão)
IS = fasor corrente no extremo recebedor (saindo da linha)

As constantes ABCD do quadripolo “linha” são definidas pelas relações:


A = D = cos βs = cos (2πs/λ)
B = j Zs sen βs = j Zs sen (2πs/λ)
C = j Ys sen βs = j Ys sen (2πs/λ)

A constante de propagação γ é função dos parâmetros L e C da linha e


da frequência:

γ = jβ = j 2 π f LC (2)

O comprimento de onda λ e a impedância de surto Zs são dados pelas


relações:

Capítulo 4 117
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.


λ=
β
(3)
1 L
Zs = =
Ys C

As constantes ABCD do quadripolo “linha” podem ser expressas também


em função das impedâncias (primitivas) do circuito equivalente π da linha:

Yb 1
A = 1+ B=
Yc Yc
(4)
Y Y Y +Y Y +Y Y
D = 1+ a C= a b a c b c
Yc Yc

Figura 4.2:  Circuito π equivalente da linha

Entende-se por compensação reativa da transmissão o conjunto de téc-


nicas de manipulação (balanço) de reativos da linha. Dentre os inúmeros
métodos de compensação reativa, selecionou-se para este trabalho a com-
pensação reativa shunt. Na análise comparativa das características técnicas
de linhas compensadas apresentada no item 4.2, são examinadas duas con-
dições operativas em regime permanente, a saber:

• Linha operando com terminal recebedor (R) aberto (correspondente


à condição de energização).
• Linha com carga, de valor correspondente a um ângulo de trans-
missão de 30° (critério de 30° como requisito de boa margem de es-
tabilidade).

118 Transmissão em CA com Suporte de Tensão


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

A tensão terminal para a linha em vazio vem expressa pela relação:

1 E 1
E R0 = ES ∴ R0 = (5)
A Es 2π s
cos
λ

Verifica-se que esta tensão cresce com o comprimento da linha (Efei-


to Ferranti), tendendo a infinito à medida que este se aproxima de λ/4. Es-
te resultado leva a concluir que para viabilizar a aplicação na transmissão a
longa distância, como definido neste trabalho, é necessário recorrer a sua
compensação.
Para o caso de uma operação com tensões terminais iguais, a simetria
da rede leva a expressar a tensão no meio da linha:
δ
Emeio da linha = ES cos (6)
2

A potência elétrica transferida ao terminal recebedor pode ser calcula-


da pela expressão:
ES E R
P= sen δ (7)
B

O reativo fornecido no terminal gerador, estando a linha em vazio, po-


de ser expresso pela relação:

QG 0 = E R0 C * (8)

4.2  Linha de transmissão em CA com compensação shunt


Considere uma linha de transmissão em 500 kV, de potência natural ele-
vada referida em [4]. Os parâmetros desta linha vão listados a seguir.

• Tensão nominal: 500 kV (tensão máxima em permanência 550 kV).


• Impedância característica: Zs =146,6 Ω.
• Potência característica: PC = 1.632 MW.

Capítulo 4 119
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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• Parâmetros a 60 Hz: L = 0,507439 10-3 H/km.


C = 23.611 10-9 F/km.
R = 0,0126 Ω/km.

A aplicação a esta linha das relações apresentadas na secção anterior


conduz aos seguintes resultados:

• β = 1,30491 rad/1.000 km (desconsiderando as perdas).


• λ/4 = 1.203,76 km.

As grandezas de regime permanente calculadas para uma distância de


transmissão de 1.000 km, sem perdas, empregando diferentes graus de com-
pensação, vão apresentadas na tabela 4.1. Estes resultados foram obtidos com
base nos elementos do quadripolo equivalente à associação em cascata dos
quadripolos de linha e de compensação shunt correspondentes.

Tabela 4.1:  Grandezas de regime permanente


Transmissão em CA 500 kV – Linha tipo LNC 500 sem perdas
Linha em vazio Linha com carga
Reator/ Vgerador = 0.95 Vgerador = Vrecebedor = 1,00
Comprimento Reator de Capacitor
# (compensação linha (barra Potência
fixa total) (Mvar) intermediária) Vrecebedor Qgerador transferida
(Mvar) (PU) (Mvar) δ= 30°
(MW)
Transmissão com 1.000 km de comprimento sem SE intermediária
1.000 km
5.945
1 não – – 3,61 883,7
(capacitivo)
compensada
1.000 km 1.546
2 2 x 667 – 1,48 883,7
60% (capacitivo)
Transmissão com 1.000 km de comprimento com SE intermediária
2 x 500 km 884
3 4 x 333 – 1,42 768,7
60% (capacitivo)
2 x 500 km 400 613
4 4 x 333 1,18 713
60% indutivo (capacitivo)

120 Transmissão em CA com Suporte de Tensão


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

A primeira linha da tabela leva a concluir que a transmissão em 500 kV


a uma distância de 1.000 km, empregando a linha LNC500 indicada antes no
texto, não é viável sob o ponto de vista prático. É necessário recorrer a uma
adaptação; a solução clássica para viabilizar a sua aplicação tem por base a
compensação dos reativos da linha.
Entende-se por compensação reativa da transmissão o conjunto de téc-
nicas de manipulação (balanço) de reativos da linha. Dentre os inúmeros
métodos de compensação reativa, selecionou-se para este trabalho a com-
pensação reativa shunt.
As demais linhas da tabela apresentam resultados para configurações
com compensação shunt, utilizando reatores de linha (reatores permanen-
temente ligados na linha), e reator de barra (chaveavel), ligado à barra cen-
tral. As linhas 3 a 4 da tabela correspondem aos casos da linha seccionada no
meio. Este seccionamento dá origem a dois novos terminais de linha, e uma
subestação (estação de chaveamento). O grau da compensação fixa total con-
siderada em cada caso é de 60% do efeito capacitivo da linha (line charging),
e distribuída nos terminais da linha ou secções de linha.
Os resultados da tabela mostram que a aplicação da compensação shunt
tem por efeito a redução das sobretensões de energização. Nota-se também
que a compensação reduz a capacidade de transmissão da linha, tendo em
vista os requisitos de desempenho eletromecânico estável (refere-se aqui ao
critério de 30° como requisito de boa margem de estabilidade). Esta redu-
ção, no entanto, não deve ser atribuída exclusivamente à compensação shunt;
basta ver que a transmissão em exame, mesmo sem nenhuma compensação
shunt (caso 1), apresenta uma redução de 46% em relação a sua potência ca-
racterística, redução esta devida à reatância indutiva série da linha de 1.000
km. A compensação shunt fixa, por sua vez, potencializa este efeito. Relacio-
nando o resultado do caso 3 (com 60% de compensação) com o valor obti-
do para o caso 1 (sem compensação), obtém-se um valor de cerca de 20% de
redução, que reflete o efeito intrínseco da compensação shunt.
A limitação da capacidade de transmissão a longa distância por razões
de estabilidade sugere a aplicação de compensação shunt variável na barra
intermediária, com o objetivo de controlar o balanço de reativos nas diversas
condições de carregamento da linha. É o caso da transmissão com suporte de
tensão mostrada na figura 4.3. A adição de uma compensação shunt variável
de (+550 Mvar, -400 Mvar) na barra intermediária, reconstitui a capacidade
de carregamento da transmissão ao nível do caso 1 (sem comprometer o de-
sempenho no caso de energização).

Capítulo 4 121
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Figura 4.3:  Transmissão com suporte de tensão

4.3  Aplicação da compensação shunt controlada


na transmissão a longa distância
A aplicação da CA na transmissão de energia elétrica a grandes dis-
tâncias apresenta condicionamentos de estabilidade eletromecânica. Estes
condicionamentos devidos em parte ao emprego da compensação shunt da
linha se refletem na redução do carregamento das linhas em função da dis-
tância de transmissão. A figura 4.4 mostra a curva de capacidade de transfe-
rência de potência de uma linha, calculada tendo em vista o atendimento a
limitações de natureza térmica (máxima elevação de temperatura), elétrica
(máxima queda de tensão), e eletromecânica (margem de estabilidade), pa-
ra dadas condições de contorno (sistema elétrico nos terminais, velocidade
do vento, temperatura ambiente). Esta curva relativa à capacidade “efetiva”
de transmissão (loadability) e empregada na avaliação aproximada do má-
ximo carregamento, referido à potência característica da linha – SIL -, em
função da distância de transmissão, recorda os trabalhos de St. Clair [5]. A
figura mostra que a capacidade de transmissão de linhas longas é bastante
reduzida por imposição de desempenho dinâmico estável. Para o caso de
uma transmissão de 965,6 km, por exemplo, o gráfico indica um carrega-
mento limitado a cerca de 50% da potência característica da linha. Para es-
tender este limite, ou seja, aumentar o carregamento sem violar os requisi-
tos de estabilidade eletromecânica, recorre-se a uma compensação reativa
shunt controlada da linha.

122 Transmissão em CA com Suporte de Tensão


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Comprimento – km
3,0

2,5

2,0

Carregamento – SIL
1,5

1,0

0,5

0,0
0 200 400 600 800

Figura 4.4:  Curva de capacidade de transferência de potência

A aplicação da compensação reativa shunt controlada em subestações


intermediárias (SE de chaveamento), ao longo da linha de transmissão, resul-
ta numa estrutura identificada como transmissão suportada em tensão (vol-
tage supported system). Sugeridas por Crary (1945), a compensação reativa
utilizaria compensadores síncronos. A implementação desta solução nos dias
atuais tem por base o emprego de reatores controlados (SVC), ou dispositi-
vos STATCOM. Convém notar que estas soluções recomendam a aplicação
de estratégias de controle coordenado.

Figura 4.5: Compensação shunt através de compensadores síncronos (Crary)

Capítulo 4 123
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Figura 4.6:  Compensação shunt através de compensadores estáticos (Gyuggi, Edris,


Hammad)

4.3.1  Controle de tensão na transmissão e seu


reflexo na estabilidade eletromecânica

Considere um sistema de transmissão interligando duas fontes de ten-


são com uma compensação shunt instalada numa barra intermediária. A fi-
gura 4.7 apresenta o diagrama unifilar do sistema.

Figura 4.7:  Transmissão entre duas fontes com compensação shunt

Para o sistema dado, podemos escrever as seguintes relações:


E1E 2
P= se n δ , (9)
x12

x12 = x1 + x 2 − x1x 2 B, (10)

1
V= (E1x 2 )2 + (E 2 x1 )2 + 2E1E 2 x1x 2 cos δ , (11)
x12

Onde (9) fornece a potência transferida, (10) a reatância equivalente e


(11) a tensão na barra intermediária.

124 Transmissão em CA com Suporte de Tensão


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

O controle torna a tensão na barra intermediária realizado via compen-


sação shunt B; neste caso a reatância transversal x12 torna-se dependente do
angulo δ. Nesta estrutura de transmissão, com tensão controlada numa bar-
ra intermediária, o torque de sincronização entre as fontes assume, então, a
seguinte expressão:

dP ∂P ∂P ∂x12
= +
dδ ∂δ ∂x12 ∂δ
(12)
dP ⎛ E E ⎞ ⎛ P 2 x x ⎞
= K = ⎜ 1 2 cos δ ⎟ + ⎜ 2 1 2 ⎟
dδ ⎝ x12 ⎠0 ⎝ V x12 ⎠0

Nota-se a existência de uma componente de sincronização adicional à


sincronização de natureza eletromecânica, que se reflete num aumento do
limite de estabilidade clássico.
O diagrama de blocos relativo ao movimento do rotor em um sistema
com controle de tensão na transmissão vai mostrado na figura 4.8. Pode-se
ver que o controle da tensão na transmissão da origem a uma malha (laço
reativo) adicional à malha eletromecânica.

ΔP
K1

+ - Δω Δδ
ΔPm 1/2Hs 377/s
-

K2 K4

ΔX12 ΔB ΔV + Outros
-X1X2 GCER + Sinais
+

ΔX12
K3
Figura 4.8:  Diagrama de blocos do sistema relativo ao movimento do rotor em um
sistema com controle de tensão na transmissão

Capítulo 4 125
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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4.4  Aplicação da compensação shunt controlada - Caso teste


4.4.1  Sistema teste

O trabalho examina em um estudo de caso, relativo à transmissão, em


CA 500 kV, de cerca de 2 GW, a uma distância de 1.000 km com compensa-
ção shunt no meio da linha.
A figura 4.9 mostra um sistema de transmissão em CA interligando um
extremo gerador a um sistema; a transmissão é constituída por dois circuitos,
com compensação shunt controlada realizada por um compensador estático
instalado numa barra intermediária.

Figura 4.9:  Diagrama unifilar do sistema com compensação shunt controlada

No estabelecimento do caso estudo procurou-se impor condicionamen-


tos à solução do problema no que se refere ao perfil de tensão na linha (ma-
nutenção de um perfil entre 1.02 – 0.97 PU nas barras da transmissão), e a
limitação em ±500 Mvar na compensação controlada instalada no meio da
linha. Os dados relativos ao sistema vão apresentados a seguir:

• Extremo Gerador – Nove unidades geradoras de 325 MVA/0,95 in-


dutivo – transformador elevador de 12% de impedância de curto­
circuito, 3.000 MVA – sistema de excitação SCRX – PSS com sinal
de velocidade – regulador de velocidade.
• Sistema recebedor – barra infinita; potência de curto de 6.7 GVA.
• Linha de transmissão – dois circuitos em 500 kV LNPE – SIL 1.705
MW - com um comprimento de 1.000 km cada um – uma SE de cha-
veamento localizada no meio da linha – SVC ± 500Mvar – reatores
de linha de 360 Mvar.

126 Transmissão em CA com Suporte de Tensão


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

4.4.2  Desempenho em regime permanente

A figura 4.10 apresenta o caso base de fluxo de potência elaborado para


o estudo, correspondente a uma injeção de 2.200 MW no extremo gerador
(barra 10). Este valor foi tomado como limite máximo para o estudo, uma
vez que tentativas como valores mais altos se apresentaram dinamicamente
instáveis frente a pequenas perturbações.
Gerador B10 B11-CER B12-B2BS Sistema
1 10 11 12 2
1100.0 -1067.3 1067.3 -1034.8
2200.0 -2200.0
-29.0j 43.3j 28.7j 7.0j
128.7j 58.0j 2069.6-2069.6
1.000 1100.0 -1067.3 1067.3 -1034.8 -14.0j 702.7j
2200.0 128.7 -29.0j 43.3j 28.7j 7.0j
1.020
G

1.019 144.0 1.003 0.966 1.020

 
Figura 4.10:  Caso base de fluxo de potência (caso 31) – Injeção máxima de 2.200 MW

4.4.3  Desempenho dinâmico

No estudo, examinou-se o comportamento dinâmico da transmissão


para duas situações de perda simples de transmissão, a saber;

• Distúrbio A – saída do circuito (2) de transmissão entre as barras 11 e 12.


• Distúrbio B – saída do circuito (2) entre as barras 11 e 12 como aci-
ma, seguida da saída do circuito (2) entre as barras 10 e 11.

No estudo, considerou-se uma ação de corte de geração, posterior à ocorrên-


cia A, com a finalidade de remover a sobrecarga do circuito que permaneceu em
serviço. No estudo, simulou-se um corte de geração correspondente a cinco má-
quinas, ocorrendo num tempo de 200 milissegundos após a saída da linha. Alguns
resultados da simulação vão apresentados nas figuras 4.11 à figura 4.20 a seguir.
Os resultados mostram que a operação pré-falta é estável, não obstante
uma defasagem angular de 100 graus. A ocorrência A leva a valores transi-
tórios máximos maiores, sem perda de estabilidade, e recuperação posterior
do sincronismo entre máquinas. Estes resultados confirmam assim as con-
clusões resultantes da análise da estrutura de transmissão com suporte de
tensão apresentada no item anterior.

Capítulo 4 127
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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Resultados da simulação do distúrbio A

Figura 4.11:  Potência elétrica e mecânica do gerador para o evento A

Figura 4.12:  Ângulo delta do gerador para o evento A


Figura 4.13:  Tensão no compensador estático (barra 11) para o evento A

128 Transmissão em CA com Suporte de Tensão


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 4.14:  Susceptância do compensador estático (barra 11) para o evento A

Figura 4.15:  Fluxo de potência ativa nas linhas entre as barras 12 e 11 para o evento A

Figura 4.16:  Fluxo de potência ativa nas linhas entre as barras 10 e 11 para o evento A

Capítulo 4 129
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Resultados da simulação do distúrbio B

Figura 4.17:  Potência elétrica e mecânica no gerador para o evento B

Figura 4.18:  Ângulo delta do gerador para o evento B

Figura 4.19:  Tensão no compensador estático na barra 10 para o evento B

130 Transmissão em CA com Suporte de Tensão


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 4.20:  Fluxo de potência nas linhas entre as barras 10 e 11 para o evento B

4.5 Conclusões
Os resultados do estudo comprovam a eficácia da compensação shunt
controlada na estabilidade. Este benefício se traduz no aumento do grau de
carregamento da linha sem prejuízo do desempenho dinâmico, mesmo no
caso da manutenção de uma compensação fixa por reatores de linha. É im-
portante frisar que o emprego desta compensação fixa por reatores de linha
vem atender a requisitos de desempenho transitório.

Referências
[1] CRARY, S. B. Power System Stability, v. I. Steady State Stability, John
Wiley, 1945.
[2] VENIKOV, V. Transient Process In Electrical Power Systems. MIR
Publishers, 1980.
[3] GYUGGI, L. Dynamic Compensation Of AC Transmission Lines
By Solid-State Synchronous Voltage Sources. IEEE – PES Summer
Meeting – Paper 434-1 PWRD, 1993.
[4] PORTELA, C. M. et al. Solicitação de Disjuntores de Manobra de Li-
nhas Não Convencionais. SNPTEE XIX, Rio de Janeiro, RJ, out. 2007.
[5] CLAIR, H. P. St. Practical Concepts In Capability And Performance
Of Transmission Lines. AIEE Trans, v. 72, Dec.1953.

Capítulo 4 131
Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

CAPÍTULO 5

Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais


de Meio Comprimento de Onda

133
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5.1  Princípios básicos de operação

Historicamente, para distâncias superiores a 600 km, têm sido consi-


derados apenas os sistemas de transmissão em corrente contínua em alta
tensão (CCAT) [4][12]. Para essa faixa de distância, esses sistemas possuem
custos mais competitivos do que os sistemas convencionais de transmissão
em corrente alternada em extra-alta tensão (EAT). Porém, para distâncias
da ordem de 2.000 a 3.000 km, a transmissão de grandes blocos de energia
por circuitos CA de pouco mais de meio comprimento de onda se apresen-
ta como uma possibilidade factível1 [9]–[2].
A prática convencional de reduzir o comprimento elétrico do circuito
de transmissão através da compensação de reativos, quando aplicada a li-
nhas de transmissão muito longas, acarreta em níveis de compensação de
reativos elevados, podendo haver severas sobretensões (transitórias ou sus-
tentadas), ressonância, instabilidade de tensão e um aumento considerável
no custo da instalação do circuito de transmissão, bem como significativos
impactos ambientais [15]. Soma-se a isso a necessidade de subestações in-
termediárias, à medida que as distâncias tornam-se muito elevadas. Assim,
novas soluções devem ser investigadas para transmissão de energia a dis-
tâncias muito longas.

1 A linha com comprimento elétrico equivalente exatamente igual a meio comprimento de onda apresenta incon-
venientes que impossibilitam sua operação [7][8]. Por esse motivo, neste trabalho a linha de transmissão, ou o
tronco de transmissão, sempre terá um comprimento um pouco maior do que meio comprimento de onda. E,
para simplificar e encurtar o termo designado para identificá-la, optou-se por se utilizar o termo meia-onda mais
ou então o símbolo MO+, para sempre lembrar que o comprimento elétrico equivalente da linha é ligeiramente
superior a meio comprimento de onda.

134 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

Um circuito MO+ apresenta diversas vantagens em relação aos sistemas


de transmissão CA convencionais. Por exemplo, considere um sistema de
transmissão com 2.800 km baseado em troncos MO+. Diferentemente do
que se imagina, o custo por quilômetro é da ordem do custo de uma linha
de 400 km compensada, e as sobretensões de energização são equiparadas
a um sistema de transmissão de 300 km convencional [10].
Neste capítulo, são apresentados alguns aspectos básicos importantes
sobre a meia-onda mais, uma vez que não há muitos estudos sobre o assun-
to, tornando fundamental uma abordagem mais detalhada.
Uns dos aspectos que são influenciados pelo comprimento elétrico de
uma linha, e por isso devem ser analisados, são: a estabilidade eletrome-
cânica e o perfil de tensão ao longo da linha. O primeiro está relacionado
à transferência de potência ativa, e o segundo está relacionado à energia re-
ativa presente na linha. Tal análise permite definir o melhor ponto de ope-
ração da linha, bem como a performance desta.

5.1.1  Relações de potências e perfil de tensão

Para uma linha ideal, seu comportamento elétrico (a frequência in-


dustrial) é definido, com boa aproximação, pelo seu comprimento elétrico
(Θ) e por sua impedância característica (ZC). Considerando que as tensões
terminais da linha possuem o mesmo módulo (U0), mas defasadas de um
ângulo δ, exceto por um fator proporcional à potência característica (PC), a
potência ativa transmitida e o balanço de potência reativa dependem, basi-
camente, de Θ e de δ [11].

I1 Z I2

U1 Y Y U2
2 2

Figura 5.1: Circuito π-equivalente de uma linha de transmissão

Capítulo 5 135
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A figura 5.1 mostra o circuito π-equivalente de sequência positiva de


uma linha de transmissão, para dois subsistemas interligados por uma linha
de transmissão ideal, cujas tensões dos terminais 1 e 2 (emissor e receptor)
são iguais a U1 = U0 ej δ1 e U2 = U0 ej δ2, respectivamente. Como a linha não
tem perdas, a potência transmitida do terminal 1 (P1) é igual à potência re-
cebida no terminal 2 (P2), podendo deduzir que o fluxo de potência ativa
(P = P1 = P2) é dado por:
U 02
P= sen(δ ) cossec(Θ) (5.1)
ZC

Onde δ é a defasagem angular (δ1 − δ2) entre as tensões terminais da linha.


Define-se balanço de potência reativa, ou somente balanço de reati-
vos, ∆Q, por:
U 02
ΔQ = Im(S1 )−Im(S2 ) = Q1 +Q2 = [cot(Θ)−cossec(Θ) cos(δ )] (5.2)
ZC
A seguir, são apresentados alguns aspectos do comportamento elétri-
co de linhas ideais, no que tange ao fluxo de potência, balanço de reativos e
perfil de tensão, para diversos comprimentos elétricos [9]:

a) Θ = 0,05 π (≈ 124 km @ 60 Hz).


b) Θ = 0,10 π (≈ 248 km @ 60 Hz).
c) Θ = 0,90 π (≈ 2.228 km @ 60 Hz).
d) Θ = 0,95 π (≈ 2.351 km @ 60 Hz).
e) Θ = 1,05 π (≈ 2.599 km @ 60 Hz).
f) Θ = 1,10 π (≈ 2.722 km @ 60 Hz).

Os comprimentos elétricos equivalentes foram calculados supondo


que a impedância de sequência positiva da linha pode ser representada pela
combinação dos modos não homopolares. Estes modos por sua vez apresen-
tam, para a frequência industrial, uma velocidade de fase entre 96% a 99%
da velocidade da luz no vácuo. Para os cálculos em questão, supôs-se que a
velocidade de fase corresponde a 99% da velocidade da luz.
Na figura 5.2 e na figura 5.3 são apresentados a potência transmitida,
o balanço de potência reativa para os diversos comprimentos elétricos aci-
ma, respectivamente.

136 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

10
8

ad a
6

Potência Transmitida pu


4 b
2 bc c
0
d
2 f
e
4
6 f
e
8
10
90 60 30 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270
Ângulo de Potência graus

Figura 5.2:  Potência transmitida

20

15 e a a
10
Balanço de Reativos pu

f b b
5
c
0
d
c
5 e
10 d f
15

20
90 60 30 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270
Ângulo de Potência graus

Figura 5.3:  Balanço de potência reativa

Um ponto que se deve observar é a amplitude da tensão no meio da li-


nha. O módulo desta tensão normalizada em relação ao módulo das tensões
terminais é dado por (5.3). A figura 5.4 mostra sua variação em função da
defasagem angular e do comprimento da linha.

Um 1+cos(δ ) (5.3)
=
U0 1+cos(Θ)

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Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

16
1.0 
14
Detalhes a
de 0.5
12

pu
b
10 0 c
Tensão pu
170 175 180 185 190
8
graus d
cf
6 e
4 f
2 ab
0
0 30 60 90 120 150 180 210 240
Ângulo de Potência graus

Figura 5.4:  Módulo da tensão no meio da linha em função de δ e Θ

Os exemplos a e b correspondem a comprimentos de linhas médias


usualmente utilizadas, ao passo que os exemplos c, d, e e f correspondem a
comprimentos de linhas muito longas, sendo que c e d são um pouco me-
nores do que o meio comprimento de onda (½ λ = π, ≃ 2.475 km@60Hz) e
e e f são um pouco maiores do que π.
As linhas curtas e/ou médias/longas compensadas devem operar na vizi-
nhança do ponto δ = 0, onde a derivada da potência ativa transmitida em rela-
ção a δ é positiva (estabilidade eletromecânica), podendo esta potência ultra-
passar a potência característica da linha. Contudo, isto causa um aumento do
balanço de potência reativa na linha, como pode ser observado na figura 5.3.
No caso das linhas muito longas, observa-se nas figuras 5.3 e 5.4 que,
na vizinhança do ponto δ = 0, o balanço de reativos e a tensão no meio da li-
nha são excessivamente elevados em relação à potência transmitida e às ten-
sões nos terminais das linhas, respectivamente. Isto torna esta região inviável
para operação. Por outro lado, na região próxima ao ponto δ = π o mesmo
não acontece, tornando-se uma região candidata à operação de linhas mui-
to longas. Para os exemplos c e d, na região próxima de δ = π, a derivada da
potência transmitida em relação a δ é negativa, não existindo, dessa forma,
o efeito natural de estabilidade eletromecânica. Sendo assim, linhas cujos
comprimentos elétricos equivalentes estão compreendidos na faixa entre um
quarto e meio comprimento de onda (π/2 ⩽ Θ ⩾ π) não são adequadas para
operar sem nenhum tipo de compensação ou controle. Já para os exemplos
e e f, a derivada é positiva na vizinhança de δ = π, permitindo a estabilidade
natural conforme acontece nos exemplos a e b na região próxima de δ = 0.
Outro aspecto importante que se deve analisar é o perfil de tensão ao
longo da linha de acordo com seu carregamento. Considerando que em um
dos terminais de uma linha ideal seja conectada uma carga cuja impedância

138 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

seja igual a ZT, é possível determinar a tensão em qualquer ponto da linha


em função desta tensão terminal.

U1  U2 
Fluxo de Potência
#1 #2

Linha de
Transmissão

x=L x=0
Terminal Terminal
Emissor Receptor

Figura 5.5:  Representação esquemática da LT

Supondo que a carga seja conectada ao terminal 2 (x = 0), vide figura


5.5, nesse terminal vale a relação I2 = UZ , onde U2 = U0 e− j δ é a tensão im-
2

posta no terminal 2.
A tensão e a corrente em qualquer ponto da linha podem ser determi-
nadas por:
⎡ ⎤
⎡ U ⎤ ⎢ cosh(γ x) ZC senh(γ x) ⎥ ⎡ U 2 ⎤
⎢ x ⎥ = ⎢ 1 ⎥ = ⎢ ⎥ (5.4)
⎢⎣ I x ⎥⎦ ⎢ senh(γ x) cosh(γ x) ⎥ ⎢⎣ I 2 ⎥⎦
⎣ Z C ⎦

Substituindo os respectivos valores de U2 e I2 em (5.4), e fazendo as de-


vidas simplificações, chega-se às equações que determinam o valor da ten-
são transversal fase-terra e da corrente longitudinal ao longo da linha em
função do seu carregamento:

⎡ Z ⎤
U x =U 0 ⎢cos(δ ) cosh(xγ ) + C sen(δ ) senh(xγ )⎥ −
⎣ ZT ⎦
(5.5)
⎡ Z ⎤
j U 0 ⎢sen(δ ) cosh(xγ )+ C sen(δ ) senh(xγ )⎥
⎣ ZT ⎦

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U 0 ⎡ ZC ⎤
Ix = ⎢ cos(δ ) cosh(xγ ) + cos(δ ) senh(xγ )⎥ −
ZC ⎣ ZT ⎦
(5.6)
U ⎡ Z ⎤
j 0 ⎢sen(δ ) senh(xγ )+ C sen(δ ) cosh(xγ )⎥
ZC ⎣ ZT ⎦

Normalizando para a tensão nominal (U0) e para a corrente caracterís-


tica da linha Ic = ( UZC0 ), respectivamente, e lembrando que se trata de uma li-
nha ideal (γ = j β), obtém-se:

Ux Z
U x pu = = cos(δ ) cos(Θ) + C sen(δ ) sen(Θ)−
U0 ZT
(5.7)
⎡ Z ⎤
j ⎢sen(δ ) cos(Θ)− C cos(δ ) sen(Θ)⎥
⎣ ZT ⎦

I x ZC
I x pu = = = cos(δ ) cos(Θ) + sen(δ ) sen(Θ)+
I C ZT
(5.8)
⎡ Z ⎤
j ⎢cos(δ ) sen(Θ)− C sen(δ ) cos(Θ)⎥
⎣ ZT ⎦

Analisando (5.7) e (5.8), observa-se que os perfis de tensão e de corren-


te são funções do comprimento elétrico da linha (Θ), da defasagem angular
entre as tensões terminais (δ) e da relação entre a impedância característi-
ca (ZC) e a impedância da carga (ZT). Como se está interessado em analisar
os perfis de tensão e de corrente em linhas muito longas, escolheu-se como
valores máximos para o comprimento elétrico e o ângulo de defasagem en-
tre as tensões terminais o valor de 1,10 π radianos. Dessa forma, quando a
relação ( ZZTC ) for igual a 1, a potência transmitida será igual à potência ca-
racterística para qualquer comprimento de linha.
Na figura 5.6 e na figura 5.7 são apresentados os perfis de tensão e de cor-
rente em função do comprimento elétrico da linha, para uma carga com fator
de potência unitário e variando o módulo da relação ( ZZTC ) desde 0 a 2 em in-
tervalos de 0,5. Observa-se que, quando esta relação é igual à unidade, ambos
os perfis são constantes e igual a 1 pu para todos os comprimentos de linha.
Para este valor, a potência transmitida é igual à potência característica. Para

140 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

uma relação igual a 0, o que significa que a linha está em aberto (ZT = ∞), a
tensão no meio de uma linha de 1,10 π é igual a zero, ao passo que a corrente
permanece igual a 1 pu. Por outro lado, à medida que a relação entre as im-
pedâncias aumenta, a tensão no ponto central se eleva proporcionalmente a
este aumento, tendendo para infinito quando a linha está em curto ( ZZTC ) = ∞,
novamente observa-se que a corrente neste ponto é igual a 1 pu.
É importante frisar que, quando a relação ( ZZTC ) é maior do que a uni-
dade, a potência transmitida é maior do que a potência característica, e tal
fato faz com que a tensão ao longo da linha alcance valores muito elevados
para o caso de linhas longas, o mesmo não acontece para linhas curtas. Isso
se apresenta como um fator desfavorável ao se optar por linhas muito lon-
gas, contudo pode-se otimizar a linha de forma a aumentar a potência ca-
racterística e, por conseguinte, a potência máxima transmitida.
2,5

2,0
2,0

1,5
1,5
Tensão pu

P  1,0  Pc
1,0

0,5
0,5

0
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.6:  Perfil de tensão em função do comprimento elétrico equivalente da linha,


variando-se | ZTC | de 0 a 2 e fator de potência unitário
Z

2,5

2,0
2,0

1,5
1,5
Corrente pu

P  1,0  Pc
1,0

0,5
0,5

0
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.7:  Perfil de corrente em função do comprimento elétrico equivalente da linha,


variando-se | ZTC | de 0 a 2 e fator de potência unitário
Z

Capítulo 5 141
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Os perfis de tensão e de corrente são fortemente influenciados pela im-


pedância terminal quando esta é reativa, na figura 5.8, figura 5.9, figura 5.10,
figura 5.11 figura 5.12 e figura 5.13, são mostrados os perfis de tensão e de
corrente em função do comprimento elétrico, variando-se a fase da relação
( ZZTC ) desde −90° a 90°, com passo de 30°, mantendo seu módulo constante
e igual a 0,2, a 1,0 e a 1,2, respectivamente. As curvas tracejadas correspon-
dem às cargas capacitivas (∠ ZZTC > 0) e as curvas contínuas correspondem às
cargas indutivas (∠ ZZTC < 0), exceto a curva em preto que corresponde à carga
puramente resistiva (∠ ZZTC = 0).

2,0
 Zc ZT

90°
1,5
60°
Tensão pu

30°
1,0 0°
90° 30°
60°
0,5 90° 90°

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.8:  Perfil de tensão ao longo da linha, para | ZTC | = 0,2 e variando ∠ ZTC de -90° a 90°
Z Z

2,0
 Zc ZT

90°
1,5
60°
Corrente pu

30°
1,0 0°
30°
90° 60°
0,5 90°
90°

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.9:  Perfil de corrente ao longo da linha, para | ZTC | = 0,2 e variando ∠ ZTC de -90° a 90°
Z Z

142 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


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2,0
 Zc ZT

90°
1,5 90°
60°
Tensão pu
30°
1,0 0°
30°
60°
0,5 90°
90°

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.10:  Perfil de tensão ao longo da linha, para | ZZ | = 1,0 e variando ∠ ZZ


C
T
C
T
de -90° a 90°

2,0
 Zc ZT

90°
1,5 90° 60°
Corrente pu

30°
1,0 0°
30°
60°
0,5 90°
90°

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.11:  Perfil de corrente ao longo da linha, para | ZTC | = 1,0 e variando ∠ ZTC de -90° a 90°
Z Z

2,0
 Zc ZT
90° 90°
1,5
60°
Tensão pu

30°
1,0 0°
30°
60°
0,5 90°
90°

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.12:  Perfil de tensão ao longo da linha, para | ZZ | = 1,2 e variando ∠ ZZ


C
T
C
T
de -90° a 90°

Capítulo 5 143
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2.
 Zc ZT

90°
1.5 90°
60°
Corrente pu

30°
1. 0°
30°
60°
0.5
90°
90°

0.
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.13:  Perfil de corrente ao longo da linha, para | ZTC | = 1,2 e variando ∠ ZTC de -90° a 90°
Z Z

Analisando as figuras é possível notar o efeito da carga reativa. Com-


parando os perfis de tensão para o caso em que a relação ( ZZTC ) é menor do
que 1, o aumento de tensão antes do um quarto de onda é atenuado pelas
cargas indutivas. O contrário ocorre para o caso da relação ser maior do
que 1, as cargas capacitivas elevam a tensão. Nota-se, ainda, a simetria dos
perfis em relação ao quarto de onda, e que os padrões dos perfis tanto de
tensão quanto de corrente se repetem a cada meio comprimento de onda.
Percebe-se que, apesar de os perfis terem comportamentos bem diferen-
tes de acordo com o carregamento da linha, na região de um quarto de com-
primento de onda (0,5 π) o valor da corrente é sempre constante e igual a 1 pu.
Ao se considerar as perdas na linha MO+, seu comportamento elétrico
não difere de maneira considerável do qual foi apresentado até o momento.
Para exemplificar, tomou-se como base o circuito π-equivalente da linha,
figura 5.1, e considerou-se que a parte real da impedância longitudinal por
unidade de comprimento fosse igual a um fator fp da parte imaginária. Além
disso, manteve-se a hipótese de que as correntes de fugas são desprezíveis,
de forma que se possa dizer que a condutância em derivação seja nula, i.e.:

Zuʹ′ = f p + j ω ℒ
(5.9) ( )

Yuʹ′ = j ω ℒ (5.10)

Diante dessas hipóteses, e utilizando a mesma metodologia aplicada


para se obter (5.7) e (5.8), tem-se que os perfis de tensão e corrente em fun-
ção de fp e do comprimento elétrico equivalente da linha são dados por:

144 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


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⎡ Z ⎤
(
U ʹ′x pu = e− j δ ⎢cosh −1+ j f p x puΘ + C 1− j f p senh
⎣ ZT
) ( )
−1+ j f p x puΘ ⎥
⎦
(5.11)
⎡ ZC ⎤
U ʹ′x pu = e− j δ ⎢cosh
⎣
( −1+ j f p x puΘ +
ZT
)
1− j f p senh −1+ j f p x puΘ ⎥
⎦
( )
⎡
⎢ ZC cosh
senh ( −1+ j f p x puΘ ⎤)
I xʹ′ pu = e −j δ

⎢⎣ ZT
( −1+ j f p x puΘ + ) 1− j f p
⎥
⎥⎦
(5.12)
⎡
⎢ ZC cosh
senh ( −1+ j f p x puΘ ⎤ )
I xʹ′ pu = e −j δ

⎢⎣ ZT
( −1+ j f p x puΘ + ) 1− j f p
⎥
⎥⎦

Onde ZC e Θ são a impedância característica e o comprimento elétrico equi-


valente para o caso ideal, respectivamente. Foi utilizado o símbolo (′) para dis-
tinguir as grandezas aqui definidas com as que foram definidas anteriormente.
A figura 5.14 e a figura 5.15 mostram os perfis de tensão e corrente ao
longo da linha de transmissão com perdas, respectivamente, para o caso de
fp igual a 10%. Nota-se que há pouca diferença entre estes e os perfis mos-
trados anteriormente, figuras 5.6 e 5.7. A diferença principal está no fato de
haver a necessidade de se elevar a tensão do terminal emissor para se ga-
rantir a tensão nominal no terminal receptor, devido à queda de tensão en-
tre os terminais emissor e receptor causada pelas perdas resistivas da linha.
Isto fica evidente quando a relação | ZZTC | é igual a 1. Neste caso, o balanço de
reativos é relativamente equilibrado, e a queda de tensão se dá basicamente
devido ao efeito resistivo adicionado pelas perdas.
2,5

2,0
2,0

1,5
1,5
Tensão pu

P  1,0  Pc
1,0

0,5
0,5

0
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.14:  Perfil de tensão em função do comprimento elétrico para um fator de


perdas fp = 10%, variando | ZTC | de 0 a 2
Z

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2,5

2,0 2.0

1.5
1,5
Corrente pu

P  1.0  Pc
1,0

0.5
0,5
0

0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1  Π
Comprimento Elétrico rad

Figura 5.15:  Perfil de corrente em função do comprimento elétrico para um fator de


perdas fp = 10%, variando | ZTC | de 0 a 2
Z

5.1.2 Compensação reativa de linhas

A compensação reativa de linhas de transmissão tem como objetivo


principal reduzir seu comprimento elétrico, de forma que a linha compen-
sada possa ter um comportamento elétrico similar ao de uma linha curta.
A compensação reativa pode ser feita em série e/ou em derivação.
Um dos principais objetivos da compensação série é diminuir a im-
pedância longitudinal permitindo ajustar a potência ativa transferida, en-
quanto que o da compensação em derivação é dar suporte de reativos para
ajustar o perfil de tensão ao longo linha. A figura 5.16 mostra a variação dos
parâmetros longitudinais e transversais do circuito π-equivalente de acordo
com o comprimento elétrico, Θ, para uma linha ideal, sem perdas.
5
Parâmetros do circuito Πequivalente pu


4
3
2
1
0
1 ZΠ
2
3
4
5
0 3Π 5Π 3Π 7Π 2Π
Π Π
4 2
Π
4 4 2 4

Comprimento elétrico equivalente, , rad

Figura 5.16:  Variação dos parâmetros do circuito π-equivalente em função de Θ

146 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
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Como se pode verificar, a impedância longitudinal varia proporcional-


mente ao seno do comprimento elétrico, ao passo que admitância transver-
sal possui uma variação proporcional à tangente de Θ. No caso de uma li-
nha cujo comprimento elétrico encontra-se próximo de π, observa-se que
a impedância longitudinal é igual, em módulo, à região próxima de zero
(δ ≤ π4 ) , região onde se operam as linhas curtas, enquanto que a admitância
transversal possui valores bem diferentes, o que leva a concluir que o com-
portamento elétrico de linhas muito longas é bem diferente de uma simples
extrapolação do comportamento elétrico de uma linha curta.
Supondo que uma linha ideal, de comprimento L, com compensação em
série e em derivação distribuídas regularmente a uma distância relativamente
pequena, muito menor que um quarto de comprimento de onda2, e definindo
ξs e ξd como índices de compensação série e em derivação, respectivamente,
os quais representam a relação entre os parâmetros da linha compensada e os
parâmetros para a linha não compensada. Pode-se definir os parâmetros mé-
dios por unidade de comprimento da linha compensada como sendo:

X = ξs X0 (5.13)
Y = ξd Y0 (5.14)

Onde o subíndice “0” indica os valores para a linha não compensada.


Assim, neste caso, os índices de compensação são ξs = 1 e ξd = 1, respectiva-
mente. O valor de compensação série é dado por ηs = (1 ± ξs) pu, (−) para
compensação capacitiva série e (+) para indutiva série. E, para compensa-
ção em derivação, o valor é dado por ηd = (1 ± ξd) pu, (+) para compensa-
ção capacitiva e (−) para indutiva em derivação.
O comprimento elétrico e a impedância característica são modificados
com a compensação da seguinte forma:

Θ = ξ s ξ d Θ0 (5.15)

ξs
ZC = Z (5.16)
ξ d C0

Tomando como referência a tensão nominal da linha, U0, pode-se defi-


nir a potência característica para a linha sem compensação, Pc0, como sendo:

2 Em termos práticos, pode-se considerar essa distância igual ou inferior a 300 km.

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2
U0
PC0 = (5.17)
ZC0

No caso da linha compensada, a potência característica fica:

ξd
PC = P (5.18)
ξ s C0

Como exemplo numérico, pode-se citar o exemplo apresentado em


Watanabe et. al. [15] para uma linha de 600 km (Θ0 = 0,762), com 40% de
compensação capacitiva série (ξs = 0,60) e 65% de compensação indutiva em
derivação (ξd = 0,35). Para esses valores, tem-se que Θ é reduzido para 0,349
(equivalente a 275 km, em 60 Hz), a impedância característica é multipli-
cada por um fator de 1,31 e a potência característica por um fator de 0,76.
No caso de linhas de algumas centenas de quilômetros, a compensação
reativa é usada para reduzir o comprimento elétrico para valores muito me-
nores do que um quarto de comprimento de onda, e para adaptar a potência
característica. Já para linhas muito longas (2.000 a 3.000 km), a compensa-
ção reativa, com o objetivo de reduzir o comprimento para valores muito
menores do que um quarto de onda, pode representar elevados custos para
transmissão de energia.
A linha de meio comprimento de onda não é um conceito novo. Alguns
estudos analisaram o emprego deste tipo de linha em sistemas de potência
[13], [14] e [6]. Em 1965, foi publicado um estudo econômico comparativo
[5] onde é mostrado que, para comprimentos acima de 1.450 km, a trans-
formação da linha em uma linha de meio comprimento de onda é mais eco-
nômica do que se tentar reduzir seu comprimento para valores muito infe-
riores a um quarto de comprimento de onda.
Deve ser ressaltado que esses estudos consideram a linha com compri-
mento elétrico exatamente igual ao meio comprimento de onda, diferen-
te da proposta de Portela e Gomes Jr. em [9], onde é proposta a operação
da linha ligeiramente superior ao meio comprimento de onda, pois o meio
comprimento de onda trata-se de uma singularidade, o que torna a opera-
ção neste ponto muito instável. A linha nessa região não necessita de quase
nenhuma compensação reativa para operar, ou quando necessita é apenas
uma pequena parcela para ajustar o comprimento elétrico da linha.

148 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
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Um outro ponto interessante da linha muito longa é sua sensibilidade


quanto à compensação reativa longitudinal (série), e isto é verificado anali-
sando a elasticidade da potência transmitida em relação ao índice de com-
pensação série ξs.
Como visto, o fluxo de potência para uma linha ideal é dado por (5.1).
Substituindo (5.16), (5.15) e (5.17) em (5.1), obtém-se:

P ξd sen(δ )
= (5.19)
PC0 ξ s sen ξ ξ Θ
(
s d 0 )
E, derivando (5.19) em relação a ξs, tem-se:

∂ ⎛ P ⎞ 1 P ⎡ 1 1 ⎤
⎜ ⎟ = − − ξ s ξ d Θ cot
∂ξ s ⎝ PC0 ⎠ ξ s PC0 ⎢⎣ 2 2
( )
ξ s ξ d Θ ⎥
⎦
(5.20)

A elasticidade da potência transmitida em relação ao índice de com-


pensação série é definida como sendo:

E (PPc 0 ) ξ s ∂ (Pc 0 )
P
1 1
Eξ s
= P
(Pc 0 ) ∂ξ s
= − − ξ s ξ d Θ cot
2 2
( )
ξ s ξ d Θ (5.21)

A figura 5.17 mostra a variação da elasticidade da potência transmiti-


da de acordo com o comprimento elétrico da linha. Pode-se notar que, na
região de operação das linhas curtas, o valor da elasticidade é em torno de
−1, o que significa que cada 1% de compensação série causa um aumento
de aproximadamente 1% na potência transmitida. Para a região compre-
endida entre 1,05 π ≤ Θ ≤ 1,10 π (189° ≤ Θ ≤ 198°), a elasticidade varia
desde −10,91 a −5,81, respectivamente, significando que o aumento da po-
tência transmitida pode chegar a aproximadamente 11% para cada 1% de
compensação em série. Isto que dizer que o efeito da compensação em série
pode chegar a ser 11 vezes maior em linhas muito longas do que em linhas
curtas, o que representa um menor custo para compensação desse tipo de
linha. Comportamento similar da elasticidade pode ser observado em re-
lação à compensação em derivação.

Capítulo 5 149
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

15

10
1,05 Π
5
1,10 Π
EPEΞs pu

1,0
0
5,81
5
10,91
10

15
0 2Π 5Π 7Π 4Π 3Π
Π Π Π
6 3 2
Π
3 6 6 3 2

Comprimento elétrico equivalente, , rad 

Figura 5.17:  Elasticidade da potência transmitida versus comprimento elétrico, Θ

5.1.3  Sobretensões de manobra em linhas de


pouco mais de meio comprimento de onda

Para se fazer uma análise qualitativa da relação entre as sobretensões de


manobra e o comprimento elétrico da linha, pode-se tomar como base o mo-
delo de uma linha ideal e analisar as sobretensões no terminal receptor, oriun-
das da energização da linha em aberto a partir de uma barra infinita [10].
Ao se energizar uma linha, uma onda de tensão e corrente propaga do
terminal transmissor em direção ao terminal receptor, com uma velocidade
de fase constante e igual a υ. Dá-se o nome de Tempo de Propagação (T)
ao tempo que essa onda leva para percorrer toda a extensão da linha, sen-
do definido como T = υL .
Quando essa onda incide no receptor, dá origem a outra onda refleti-
da. Esta podendo ser positiva, negativa ou nula, dependendo da impedân-
cia terminal da linha, (ZT). A tensão em qualquer ponto da linha é definida
como sendo a soma algébrica das duas ondas, a incidente (u+(t)) e a refleti-
da (u−(t)), propagando-se no sentindo positivo e negativo de x, respectiva-
mente. Nos terminais da linha se resume a:

u1(t ) = u+(t ) +u−(t ) i1(t ) = 1 ⎡⎣u+(t ) +u−(t ) ⎤⎦


ZC

u2(t ) = u+(t −T ) +u−(t +T ) i2(t ) = 1 ⎡⎣u+(t −T ) +u−(t +T ) ⎤⎦


ZC

150 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

A relação entre as ondas trafegantes é dada por:

u−(t ) = Γu u+(t ) (5.22)

Onde Γu é o coeficiente de reflexão, que depende tanto da impedância


terminal quanto da impedância característica da linha:
ZT − Z C
Γu = (5.23)
ZT + Z C

No caso de a linha em aberto ser energizada a partir de uma barra in-


finita (impedância da fonte, Zs, nula), tem-se que Γu = +1 (ZT = ∞) no ter-
minal receptor e que Γu = −1 no terminal emissor (ZT = Zs = 0). E as gran-
dezas terminais da linha são definidas como:

i2 = 0 →u−(t ) = u+(t − 2T )

u1(t ) = u+(t ) +u+(t − 2T ) i1(t ) = 1 ⎡⎣u+(t ) −u+(t − 2T ) ⎤⎦ (5.24)


ZC

u2(t ) = 2u+(t −T ) (5.25)

Supondo que a tensão da fonte seja uma função do tempo genérica, f(t),
pode-se definir as tensões terminais da linha para cada intervalo de tempo
T de acordo com a tabela 5.1.

Tabela 5.1:  Tensões terminais em cada intervalo de tempo T


Intervalo de tempo u1 (t) u2 (t)
0<t<T f (t) 0
T<t<2T f (t) 2 f (t − T)
2T<t<3T f (t) − f (t − 2 T) 2 f (t − T)
3T<t<4T f (t) − f (t − 2 T) 2 [ f (t − T) − f (t − 3 T)]
4T<t<5T f (t) − f (t − 2 T) + f (t − 4 T) 2 [ f (t − T) − f (t − 3 T)]
5T<t<6T f (t) − f (t − 2 T) + f (t − 4 T) 2 [ f (t − T) − f (t − 3 T) + f (t − 5 T)]

Assumindo que a tensão da fonte é f (t) = Û cos(ωt + δs), e utilizando a


representação por números complexos, pode-se fazer as seguintes definições:

Capítulo 5 151
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f (t)= Re [U e j ω t ] U = Û e j δs

u2(t ) = Re [u02 (t) Ψ (t) e j ω t ] u02 (t) = 2 U e − j ω T

Onde u02(t) é o valor de (5.25) para t = 0, e ψ(t) é uma função que re-
presenta a propagação de onda em cada intervalo de tempo T, definida de
acordo com a tabela 5.2.

Tabela 5.2:  Valores de ψ (t) para cada intervalo de tempo T


Intervalo de tempo ψ (t)
0<t<T 0
T<t<3T 1
3T<t<5T 1 − e− j κ
5T<t<7T 1 − e− j κ + e− j 2 κ
7T<t<9T 1 − e− j κ + e− j 2 κ − e− j 3 κ

Lembrando que o comprimento elétrico é dado por:
ωL
Θ= → Θ = ωT (5.26)
υ

Definindo κ = 2 ω T = 2 Θ, então para cada intervalo [(2n − 1) T < t <


(2n + 1) T ], ψ é uma soma geométrica cuja razão é:

q = −e − j κ = −e − j 2Θ
Assim,
2 3 4 5 n
Ψ (t) =1+q+q +q +q +q +…+q      n = 0, 1, 2,…

A soma dos n termos da progressão acima é dado:

1−qn
Sn = (5.27)
1−q

Considerando a energização da linha, a máxima sobretensão parcial


no terminal 2 será o valor máximo de u2(t) (Maxn[u2(t)]) obtido em cada
intervalo de tempo. Para os intervalos [(2n − 1) T < t < (2n + 1) T ] este va-
lor máximo será [10]:

152 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

n 1−qn
Max n[u2 (t)]= S Û = 2
max Û (5.28)
1−q

Em regime permanente (n → ∞), o máximo global é a envoltória dos


máximos relativos para todos os valores de n, e é dado por [10]:
4
Max n[u2 (t)]= SmaxÛ = Û = 2 |sec(Θ)| Û (5.29)
1+e − j 2Θ

A figura 5.18 apresenta a variação dos fatores de Snmax e Smax em função


do comprimento elétrico da linha, para alguns valores de n. Observa-se que
o fator de sobretensão máxima global Smax para comprimentos elétricos pe-
quenos é na ordem de 2, e à medida que o comprimento aumenta este fa-
tor cresce, tendendo para infinito em um quarto de comprimento de onda
(π /2). Após o quarto de onda, o fator volta a decrescer voltando a ser da or-
dem de 2 para comprimentos próximos a π. Cabe ressaltar que a atenuação
das ondas eletromagnéticas foi desprezada, para o caso de se considerar a
atenuação em linhas longas, o valor do fator Smax para região próxima de π
será menor do que 2 pu.
Ainda de acordo com a figura 5.18, pode-se observar, por exemplo,
que para um comprimento elétrico igual a Θ = π/3 (≈ 825 km, @ 60 Hz e
υ = 297 103 km/s), o fator de sobretensão máxima global é igual a 4,0, ao
passo que para uma linha de pouco mais de meio comprimento de onda,
1,10 π (≈ 2.722 km, @ 60 Hz e υ = 297 103 km/s), este fator é aproximada-
mente igual a 2,10.
10
n5

8
n4
Smax

6
n3
4,0
n
Smax
4
n2
2,1

2
n1

0
0 Π Π Π 2Π 5Π Π 7Π
6 3 2 3 6 6

Figura 5.18:  Variação dos fatores Snmax e Smax em função do comprimento elétrico, Θ

Capítulo 5 153
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Como exemplo numérico de energização de uma linha MO+, consi-


derou-se uma linha de 2.700 km, otimizada para uma tensão de 1.000 kV
fase‑fase, energizada a partir de uma fonte trifásica ideal, cujas tensões fase-
-terra são iguais a u1a(t) = 1,0 × sen(2π60t + 23π ) pu, u1b(t) = 1,0 × sen(2π60t
− 23π ) pu e u1c(t) = 1, 0 × sen(2π60t + 23π ) pu, respectivamente. Na figura
5.19 é mostrada a tensão na fase a no terminal 2 (i.e., u2a), quando a fonte
é conectada à linha em t = 0 por meio de um disjuntor trifásico sem resis-
tor de pré-inserção. Neste caso, a máxima tensão nesta fase é de 1,92 pu e
nas outras fases são iguais a u2b max = 2,09 pu e u2c max = 1,91 pu, resultados
coerentes com os valores teóricos apresentados acima (vide figura 5.18).
No entanto, esses valores podem ser reduzidos com a utilização de re-
sistores de pré-inserção, conforme mostrado na figura 5.20 para a fase a, on-
de foi utilizado um resistor de pré-inserção de 77,5 Ω em cada fase, por um
tempo igual a duas vezes ao tempo de propagação das ondas eletromagné-
ticas na linha. Para este caso, as máximas tensões são iguais a u2a max = 1,22
pu, u2b max = 1,29 pu e u2c max = 1,20 pu, respectivamente.

2,50
1,50
Tensão pu

0,50
0,50
1,50
2,50
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tempo ms
Figura 5.19:  Tensão na fase a do terminal 2 de uma linha energizada a partir de um
barramento “infinito”, em t = 0, sem resistor de pré-inserção

2,50
1,50
Tensão pu

0,50
0,50
1,50
2,50
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tempo ms
Figura 5.20:  Tensão na fase a do terminal 2 de uma linha energizada a partir de um
barramento “infinito”, em t = 0, com resistor de pré-inserção

154 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

Mesmo quando a linha é energizada a partir de uma condição mais se-


vera, por exemplo, quando as tensões fase-terra são iguais a u1a(t) = 1,0 ×
cos(2π60t) pu, u1b(t) = 1,0 ×cos(2π60t − 23π ) pu e u1c(t) = 1,0 × cos(2π60t
+ 23π ) pu, e supondo que a linha é energizada em t = 0, as sobretensões são
moderadas, mesmo para o caso sem resistor de pré-inserção. Conforme mos-
trado na figura 5.21 para a fase a, em que o máximo valor atingido é igual a
u2a max = 2,18 pu, e para as outras fases os valores máximos são u2b max = 1,97
pu e u2c max = 1,99 pu, respectivamente. No caso de se utilizar um resistor de
pré-inserção de mesmo valor do caso anterior (77,5 Ω), os valores máximos
reduzem para u2a max = 1,34 pu, u2b max = 1,23 pu e u2c max = 1,24 pu, respec-
tivamente. A figura 5.20 mostra a tensão na fase a para este caso.

2,50
1,50
Tensão pu

0,50
0,50
1,50
2,50
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tempo ms
Figura 5.21:  Tensão em uma das fases no terminal 2 de uma linha energizada a partir de
um barramento “infinito”, em t = 0, sem resistor de pré-inserção, em condições mais severas

2,50
1,50
Tensão pu

0,50
0,50
1,50
2,50
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tempo ms
Figura 5.22:  Tensão em uma das fases no terminal 2 de uma linha energizada a partir de
um barramento “infinito”, em t = 0, com resistor de pré-inserção, em condições mais severas

Além disso, pelo fato de que com o resistor de pré-inserção as tensões


transitórias são menores, a tensão em regime permanente é alcançada em
um tempo menor do que no caso de não se utilizar o resistor, conforme ob-
servado pelas envoltórias das tensões mostradas na figura 5.23. E o valor da

Capítulo 5 155
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tensão a vazio, em regime permanente, é de aproximadamente 1,018 pu. E,


na figura 5.24, mostra para o caso de se energizar a partir de uma condição
mais severa, conforme apresentado acima.

5,0
2,5 u2 a
4,0 1,5 u2 b
0,5
u2 c
3,0 0,5
1,5
2,0
Tensão pu

2,5
0,00 0,05 0,10
1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Tempo s

(a)

4,0 2,5 u2 a
1,5 u2 b
3,0 0,5 u2 c
0,5

2,0 1,5
Tensão pu

2,5
0,00 0,05 0,10
1,0

0,0

1,0

2,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Tempo s

(b)
Figura 5.23:  Tensões de fase no terminal 2 da linha energizada a partir de um
barramento “infinito” (a) sem resistor de pré-inserção e (b) com resistor de pré-inserção

156 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

5,0
2,5 u2 a
4,0 1,5 u2 b
0,5
u2 c
3,0 0,5
1,5
2,0
Tensão pu

2,5
0,00 0,05 0,10
1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Tempo s

(a)

5,0
2,5 u2 a
4,0 1,5 u2 b
0,5
u2 c
3,0 0,5
1,5
2,0
Tensão pu

2,5
0,00 0,05 0,10
1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Tempo s

(b)
Figura 5.24:  Tensões de fase no terminal 2 da linha energizada a partir de um
barramento “infinito”, em condições mais severas, (a) sem resistor de pré-inserção e (b)
com resistor de pré-inserção

Conclui-se, assim, que linhas cujo comprimento elétrico esteja na faixa


próxima ao meio comprimento de onda possuem sobretensões moderadas,
mesmo sem nenhum tipo de compensação, conforme uma linha de trans-
missão curta e/ou médias compensadas [10].

Capítulo 5 157
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5.2  Perdas relativas


O objetivo da análise em regime permanente é verificar o comporta-
mento tanto da potência transmitida como das perdas do circuito em con-
dições operativas normais. Para tanto, são considerados diferentes cenários
de carregamento. Contudo, o fator de potência no terminal emissor é sempre
considerado próximo ao unitário. A razão para tanto se deve a alguns fatos:

• Na investigação de interligações é costumeiro o uso de fator de potên-


cia unitário e, de fato, um circuito com pouco mais de meio compri-
mento de onda é uma interligação entre dois pontos distintos do SIN.
• É mais interessante do ponto de vista operativo possuir um circuito
de pouco mais de meio comprimento de onda operando com fator
de potência unitário, pois permite uma melhor distribuição do per-
fil da tensão ao longo do circuito.
• A operação com fator de potência não unitário implica a circulação
de uma corrente no circuito de pouco mais de meio comprimento
de onda maior, elevando as perdas e aumentando o custo da trans-
missão de energia.

Para a avaliação das perdas são consideradas quatro configurações,


conforme a tabela 5.3.

Tabela 5.3:  Configurações consideradas


Configuração Arranjo dos feixes Nível de tensão (kV) Potência nominal (GW)
#1 Elíptico 800 4,85
#2 Circular 800 3,30
#3 Elíptico 1000 8,60
#4 Circular 1000 5,20

Em circuitos convencionais, com comprimentos da ordem de até 400


km, é comum considerar como limite para operação do circuito a potên-
cia associada ao limite térmico do circuito. No caso de um circuito de pou-
co mais de meio comprimento de onda, carregamentos acima do nominal
devem ser evitados, com o intuito de manter o perfil de tensão abaixo da
tensão nominal. Contudo, para a concreta avaliação do perfil de tensão ao
longo de um circuito de pouco mais de meio comprimento de onda, é ne-
cessário considerar fenômenos como o efeito coroa, que não é considerado

158 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

nas análises apresentadas a seguir, em que é considerado apenas as tensões


terminais do circuito de pouco mais de meio comprimento de onda. A po-
tência nominal a ser considerada é a potência no terminal emissor e não no
terminal receptor. Em circuitos convencionais, com comprimentos da or-
dem de até 400 km, é comum avaliar o comportamento em regime quando
o circuito tem a potência nominal igual à potência no terminal receptor.

5.2.1  Circuitos de 800 kV

Em todas as configurações considera-se um comprimento de 2.550 km.


A tensão no terminal emissor é definida, em regime permanente pelo fasor
U̇ 1, e a tensão no terminal receptor é dada pelo fasor U̇ 2 (5.30).

U 2 = rU1∠(δ +180) (5.30)

Onde U1 é a amplitude do fasor de tensão no terminal emissor. É su-


posto também que a tensão no terminal emissor é controlada e fixa, no valor
nominal da tensão, i.e., 800 kV e 1.000 kV. A tensão no terminal emissor é
permitida variar entre os limites de 0,95 a 1,05 pu, i.e., condições normais
de operação da tensão em redes de ultra-alta tensão do SIN.
Em todas as configurações analisadas, usa-se a defasagem δ para rela-
cionar a potência. Contudo o ângulo real entre os fasores é δ + 180°. A op-
ção por esse tipo de notação é para facilitar a compreensão e apresentar uma
avaliação da configuração no caso do uso de um transformador defasador
de 180° no terminal receptor.

Circuito com feixes elípticos

As curvas apresentadas na figura 5.25 indicam o comportamento da


potência em função do ângulo δ. Dessas curvas, é possível notar que para
uma injeção de potência próxima da potência nominal (4,85 GW) o ângu-
lo de defasagem das tensões é de 10,6°. Com isso, a potência no terminal
receptor fica próxima a 4 GW.

Capítulo 5 159
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8
Tensão pu
6 u2  0,95

u2  1,0
Potência GW

4
u2  1,02
2
u2  1,05

2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(a) Terminal Emissor

8
Tensão pu
6 u2  0,95

u2  1,0
Potência GW

4
u2  1,02
2
u2  1,05

2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(b) Terminal Receptor


Figura 5.25:  Potência em função ângulo de carregamento – 800kV com feixe elíptico

Desses resultados, é possível observar que a defasagem entre os termi-


nais permanece essencialmente a mesma, independentemente da tensão no
terminal receptor. A potência entregue no terminal receptor é mais afetada
pela tensão nesse terminal.
A figura 5.26 apresenta as perdas no circuito para essa topologia. É pos-
sível notar que para carregamentos próximos do nominal, as perdas são ba-
sicamente constantes e independentes da tensão no terminal receptor. Uma

160 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
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característica interessante no circuito de meia-onda mais é o comportamen-


to crescente das perdas em função do ângulo de carregamento.
As perdas são relativamente baixas para carregamento próximos do nomi-
nal. A figura 5.27 apresenta o percentual de perdas, onde, para carregamentos
próximos ao nominal, as perdas variam de 12 a 15% da potência transmitida.
Desse gráfico, nota-se que para baixos carregamentos as perdas percentuais são
bastante elevadas, embora o valor efetivo destas ainda seja pequeno.
1,2
Tensão pu
1,0 u2  0,95

0,8 u2  1,00
Perdas GW

0,6 u2  1,02

0,4 u2  1,05

0,2

0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

Figura 5.26:  Perdas no circuito de 800 kV com feixe elíptico

100
Tensão pu
80 u2  0,95
Perdas Relativas 

u2  1,00
60
u2  1,02
40
u2  1,05

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

Figura 5.27:  Perdas percentuais, em relação à potência transmitida, no circuito de


800 kV com feixe elíptico

Capítulo 5 161
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Circuito com feixes circulares

O comportamento da potência injetada, no terminal emissor, e da po-


tência entregue, no terminal receptor, em função do ângulo de carregamen-
to, é apresentado na figura 5.28. Para essa configuração, o ângulo δ, que for-
nece a potência de 3,3 GW injetada no terminal emissor, corresponde a 9,4°.
No caso da potência injetada, há um distanciamento maior entre os ní-
veis de tensão no que se refere à potência injetada. Os níveis mais “extremos”
de tensão, i.e., 0,95 pu e 1,05 pu, estão mais distantes dos valores de potência
próximos ao nominal, a saber 1 pu e 1,02 pu. Como ocorre no caso anterior,
para a potência no terminal receptor esse distanciamento é ainda maior.
8
Tensão pu
6 u2  0,95

u2  1,00
Potência GW

4
u2  1,02
2
u2  1,05

2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(a) Terminal Emissor

8
Tensão pu
6 u2  0,95

u2  1,00
Potência GW

4
u2  1,02
2
u2  1,05

2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(b) Terminal Receptor


Figura 5.28:  Potência em função ângulo de carregamento – 800kV feixe circular

162 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

As perdas no circuito com feixes circulares apresentam um comporta-


mento similar, contudo, para uma tensão de 1,05 pu no terminal emissor, as
perdas são consideravelmente maiores que nos outros níveis de tensão. To-
davia, quando comparado à configuração com feixe elíptico, as perdas são
maiores, mesmo se considerando apenas as perdas percentuais. Conforme
mostra a figura 5.29, o percentual de perdas varia de 12% a 15% da potên-
cia transmitida, para carregamentos próximos ao nominal.
1,2
Tensão pu
1,0 u2  0,95

0,8 u2  1,00
Perdas GW

0,6 u2  1,02

0,4 u2  1,05

0,2

0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

Figura 5.29:  Perdas no circuito de 800 kV com feixe circular

100
Tensão pu
80 u2  0,95
Perdas Relativas 

u2  1,00
60
u2  1,02
40
u2  1,05

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

Figura 5.30:  Perdas percentuais no circuito de 800 kV com feixe circular

Capítulo 5 163
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

5.2.2  Circuitos de 1.000 kV

Circuito com feixes elípticos

O circuito com feixes elípticos é responsável pela maior potência no-


minal e, como pode ser visto na figura 5.31, o ângulo nominal de operação
é de cerca de 10,5°. Conforme nos casos anteriores, a potência entregue é
mais dependente da tensão no terminal receptor. Similar à configuração de
800 kV com feixes circulares, há uma maior separação entre os níveis de
tensão no terminal receptor no que se refere à potência injetada.
14
Tensão pu
12
u2  0,95
10
u2  1,00
Potência GW

6 u2  1,02

4 u2  1,05
2

2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(a) Terminal Emissor

14
Tensão pu
12
u2  0,95
10
u2  1,00
Potência GW

6 u2  1,02

4 u2  1,05
2

2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(b) Terminal Receptor


Figura 5.31:  Potência em função ângulo de carregamento – 1.000kV feixe elíptico

164 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

Muito embora as perdas nessa configuração sejam maiores que nos ca-
sos anteriores (cerca de 1 GW), como o circuito possui uma potência nomi-
nal bem superior, as perdas percentuais são da mesma ordem de grandeza
que nas configurações anteriores. As perdas percentuais, em condições nor-
mais de operação, variam de 11% a 14%.
1,8
1,6 Tensão pu

1,4 u2  0,95

1,2 u2  1,00
Perdas GW

1,0
u2  1,02
0,8
0,6 u2  1,05

0,4
0,2
0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

Figura 5.32:  Perdas no circuito de 1.000 kV com feixe elíptico

100
Tensão pu
80 u2  0,95
Perdas Relativas 

u2  1,00
60
u2  1,02
40
u2  1,05

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

Figura 5.33:  Perdas percentuais no circuito de 1.000 kV com feixe elíptico

Capítulo 5 165
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Circuito com feixes circulares

O comportamento dessa configuração não é muito diferente do com-


portamento da configuração anterior, contudo a potência nominal é bas-
tante inferior. O ângulo da operação nominal é de 9 graus.
14
Tensão pu
12
u2  0,95
10
u2  1,00
Potência GW

6 u2  1,02

4 u2  1,05
2

2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(a) Terminal Emissor

14
Tensão pu
12
u2  0,95
10
u2  1,00
Potência GW

6 u2  1,02

4 u2  1,05
2

2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(b) Terminal Receptor


Figura 5.34:  Potência em função ângulo de carregamento – 1.000 kV feixe circular

166 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

1,8
1,6 Tensão pu

1,4 u2  0,95

1,2 u2  1,00
Perdas GW

1,0
u2  1,02
0,8
0,6 u2  1,05

0,4
0,2
0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

Figura 5.35:  Perdas no circuito de 1.000 kV com feixe circular

100
Tensão pu
80 u2  0,95
Perdas Relativas 

u2  1,00
60
u2  1,02
40
u2  1,05

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

Figura 5.36:  Perdas percentuais no circuito de 1.000 kV com feixe circular

Capítulo 5 167
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

5.2.3  Operação com tensão reduzida

Os resultados mostram que, para carregamentos baixos, as perdas per-


centuais são bastante elevadas. Uma opção para minimizar essas perdas
consiste em operar o circuito com tensão reduzida. Por exemplo, em situ-
ações de baixo carregamento, a linha pode operar com metade da tensão
nominal reduzindo, assim, em um quarto a potência nominal do circuito. A
figura 5.37 apresenta as perdas absolutas para circuitos em 1.000 kV, tanto
para feixes circulares quanto para feixes elípticos, respectivamente.
0,5
Tensão pu
0,4 u2  0,95

u2  1,00
Perdas GW

0,3
u2  1,02
0,2
u2  1,05

0,1

0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(a) Feixe Circular

0,5
Tensão pu
0,4 u2  0,95

u2  1,00
Perdas GW

0,3
u2  1,02
0,2
u2  1,05

0,1

0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(b) Feixe Elíptico


Figura 5.37:  Perdas nos circuitos de 1.000 kV operando em 500 kV

168 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

Ao operar com metade da tensão nominal, ângulo δ que fornece a


nova potência nominal se mantém. Portanto, no caso da configuração de
1.000 kV com feixe elíptico, operando em 500 kV, a potência nominal pas-
sa a ser de 2,15 GW e o ângulo δ, que fornece a potência injetada nominal,
permanece igual a 10,5°. A figura 5.38 mostra as perdas dos circuitos de
1.000 kV em função do ângulo δ. O comportamento é similar, mas o cir-
cuito ainda apresenta elevadas perdas percentuais para baixo carregamento.
100
Tensão pu
80 u2  0,95
Perdas Relativas 

u2  1,00
60
u2  1,02
40
u2  1,05

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(a) Feixe Circular

100
Tensão pu
80 u2  0,95
Perdas Relativas 

u2  1,00
60
u2  1,02
40
u2  1,05

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(b) Feixe Elíptico


Figura 5.38:  Perdas percentuais nos circuitos de 1.000 kV operando em 500 kV

Desses resultados, pode-se inferir que o comportamento dos circuitos


é similar ao apresentado no item anterior. A diferença está em um aumento

Capítulo 5 169
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

das perdas relativas. O valor absoluto das perdas é menor, visto que a “no-
va” potência nominal é um quarto da potência nominal original, mas a per-
centagem dessas perdas em relação à potência injetada no circuito sofre um
aumento de cerca de 2 a 3 por cento.
Para o circuito de 1.000 kV, a operação em 500 kV não apresenta maio-
res dificuldades. Para os circuitos de 800 kV, a operação com metade da ten-
são nominal implica operar com 400 kV, que não é um dos níveis de tensões
considerados na rede básica. A figura 5.39 avalia as perdas para o circuito de
800 kV com feixe elíptico operando em 400 kV e 500 kV, onde se vê que não
há grandes mudanças das perdas, muito embora as potências sejam bastan-
te diferentes. No caso da operação em 500 kV, a potência nominal é da or-
dem de 1,9 GW, enquanto que em 400 kV a potência nominal é de 1,2 GW.
0,5
Tensão pu
0,4 u2  0,95

u2  1,00
Perdas GW

0,3
u2  1,02
0,2
u2  1,05

0,1

0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(a) 400 kV

0,5
Tensão pu
0,4 u2  0,95

u2  1,00
Perdas GW

0,3
u2  1,02
0,2
u2  1,05

0,1

0,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(b) 500 kV
Figura 5.39:  Perdas nos circuitos de 8.000 kV operando com tensão reduzida

170 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

A opção de operar em 500 kV em vez de de 400 kV não afeta sensivel-


mente as perdas, mesmo se considerando as perdas percentuais. Inclusive,
o ângulo que ocorre a potência nominal varia muito pouco com a alteração
da tensão nominal de 400 kV para 500 kV.
100
Tensão pu
80 u2  0,95
Perdas Relativas 

u2  1,00
60
u2  1,02
40
u2  1,05

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(a) 400 kV

100
Tensão pu
80 u2  0,95
Perdas Relativas 

u2  1,00
60
u2  1,02
40
u2  1,05

20

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ângulo de Potência graus

(b) 500 kV
Figura 5.40:  Perdas percentuais para o circuito de 800kV operando com tensão reduzida

5.2.4  Discussão dos resultados

Os circuitos envolvendo feixes elípticos apresentam um melhor perfil de


perdas. Ou seja, para carregamentos próximos ao nominal as perdas nesses
circuitos é constante. Já no caso dos circuitos com feixes circulares, a operação
em condição nominal apresenta-se próxima a um mínimo das perdas. Des-

Capítulo 5 171
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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vios de operação desses pontos podem causar um aumento considerável nas


perdas. A tabela a seguir resume os resultados no que se refere às perdas per-
centuais (Pp) e ao ângulo para o qual ocorrem as condições nominais.

Tabela 5.4:  Resumo do percentual de perdas das configurações consideradas


Configuração δn Pp
#1 11,1 12,4 ≤ Pp ≤ 14,8
#2 10,2 12,8 ≤ Pp ≤ 16,3
#3 10,5 11,3 ≤ Pp ≤ 13,6
#4 9 9,6 ≤ Pp ≤ 11,9

Os resultados indicam que há um fluxo de potência mínimo a ser con-


siderado em circuitos envolvendo linhas de transmissão com pouco mais
de meio comprimento de onda. Para fluxo muito baixo, possivelmente não
haveria o interesse em utilizar um circuito não convencional.
A comparação entre os circuitos com feixes circulares e elípticos mostra
que os últimos apresentam-se como alternativas mais interessantes do pon-
to de vista das perdas. Além de transportarem um maior fluxo de potência,
apresentam perdas relativas menores e com um perfil melhor, principalmen-
te o circuito de 800 kV com feixes elípticos. Já os circuitos com feixes circu-
lares fora da condição nominal apresentam variações maiores das perdas.

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To Very Long Distance Transmission Lines. Proceedings 2003 Inter-
national Conference On AC Power Delivery At Long And Very Long
Distances, p. 395-403, Sept. 2003, Novosibirsk, Rússia.
[2] AREDES, M.; PORTELA, C. M.; EMMERIK, E. L.; SILVA DIAS,
R. F. da. Static Series Compensators Applied To Very Long Distance
Transmission Lines. Electrical Engineering (Archiv fur Elektrotech-
nik), v. 86, n. 2, p. 69-76, 2004. [Online]. Available: <http://dx.doi.
org/10.1007/s00202-003-0191-5>.
[3] AREDES, M.; SASSO, E. M.; EMMERIK, E. L.; PORTELA, C. M.
The Gto-Controlled Series Capacitor Applied To Half-Wave Length
Transmission Lines. IPST – International Conference on Power Sys-
tems Transients, 2003.

172 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para a
Transmissão de Energia Elétrica – Estado da Arte

[4] CLERICI, A.; LONGHI, A.; TELLINI, B. Long Distance Transmis-


sion: The DC Challenge, n. 423, London, UK, 1996, p. 86-92.
[5] HUBERT, J. F.; CENTER, M. R. Half-Wavelenght Power Transmis-
sion Lines. IEEE - Spectrum, p. 87-92, Jan.1965.
[6] ILICET, F.; CINIERI, E. Analysis Of Half-Wave Length Transmis-
sion Lines With Simulation Of Corona Losses. IEEE Transactions on
Power Delivery, v. 3, n. 4, p. 2081-2091, 1988. [Online]. Available:
<http://dx.doi.org/10.1109/61.194020>.
[7] PORTELA, C. M.; ALVIM, M. Soluções Não Convencionais em
CA Adequadas para Transmissão a Distância Muito Longa – Uma
Alternativa para o Sistema de Transmissão da Amazônia. In Sym-
posium: Transmissão de Energia Elétrica a Longa Distância – Uma
Análise das Perspectivas de Transmissão de Energia Elétrica a Lon-
ga Distância em Corrente Alternada, out. 2007.
[8] PORTELA, C. M.; TAVARES, M. C.; MORENO, G. Condicionamen-
tos Básicos da Transmissão a Muito Longa Distância. XII SNPTEE –
Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica,
1993.
[9] PORTELA, C. M.; JÚNIOR, S. G. Analysis And Optimization Of
Non-Conventional Transmission Trunks Considering New Techno-
logical Possibilities. VI SEPOPE – Symposium of Specialists in Elec-
trical Operational and Expansion Planning, 1998.
[10] PORTELA, C. M. Some Aspects Of Very Long Lines Switching. CI-
GRÉ SC 13 Colloquium, 1995.
[11] PORTELA, C. M.; TAVARES, M. C. Modeling, Simulation And
Optimization Of Transmission Lines. Applicability And Limitations
Of Some Used Procedures. In IEEE PES T&D 2002 – Transmission
And Distribution. São Paulo, SP. IEEE – Institute of Electrical and
Electronic Engineers, 2002, p. 1-38.
[12] PRAÇA, J.; DRUMMOND, M.; GUIMARÃES, E.; RIBEIRO, D.;
PIMENTEL, G.; SALOMÃO, J. Amazon Transmission Technologi-
cal Challenge, n. 345, London, England, 1991, p. 79-84, Amazon
Transmission System; AC Transmission.
[13] PRABHAKARA, F. S.; PARTHASARATHY, K.; RAO, H. N. R.
Analysis Of Natural Half-Wave-Length Power Transmission Lines,
v. PAS-88, n. 12, p. 1787-1794, 1969.

Capítulo 5 173
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

[14] ______, Performance Of Tuned Half-Wave-Length Power Trans-


mission Lines, v. PAS-88, n. 12, p. 1795-1802, 1969.
[15] WATANABE, E. H.; AREDES, M.; PORTELA, C. M. Energy And
Environment – Technologial Challenges For The Future. Tokyo, Ja-
pan: Springer-Verlag, 2001, ch. Electric Energy and Environment:
Some Technological Challenges in Brazil, p. 10-40.

174 Análise de Linhas de Transmissão de Pouco Mais de Meio Comprimento de Onda


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 6

Análise de Regime Permanente de Sistemas de


Transmissão Meia-onda+

175
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

6.1 Introdução
Os trabalhos relacionados à transmissão a longas distâncias utilizan-
do linhas com pouco mais de meio comprimento de onda usualmente con-
centram-se em sistemas radiais, onde a geração é conectada diretamente a
um centro de carga. No âmbito do Projeto Transmitir, porém, acordou-se
pela necessidade de se considerar o atual modelo do sistema elétrico brasi-
leiro, o qual, em algumas situações, irá requerer a integração da transmis-
são utilizando sistemas de mais de meia-onda ao sistema interligado, não
se tendo simplesmente uma transmissão ponto a ponto. Deste modo, pro-
cura-se apresentar neste capítulo alguns resultados que permitam analisar
esta operação.
Os casos analisados tomam como base dados fornecidos pela Empresa
de Pesquisa Energética - EPE, os quais foram utilizados em estudos referen-
tes à integração da Usina de Belo Monte. Nos casos recebidos, a interligação
entre Belo Monte e o Sudeste é realizada através de elos de corrente con-
tínua, e o procedimento adotado neste trabalho é a substituição de um ou
mais bipolos por linhas de transmissão de pouco mais de meio comprimen-
to de onda (MO+). Inicialmente, procura-se analisar o efeito do ponto de
conexão na distribuição do fluxo em algumas interligações do sistema elé-
trico. Porém, chama-se a atenção de que em todos os casos simulados é ado-
tado um comprimento fixo de 2.600 km para a linha de transmissão MO+,
mesmo que isto não reflita a distância real entre os dois pontos conectados.
Em uma segunda etapa, fixado um ponto de conexão no Sudeste, anali-
sa-se a operação do tronco em MO+ com diferentes níveis de carregamento
e cenários de intercâmbio. Esta análise é feita considerando-se troncos em
800 kV e 1.000 kV. É apresentada, também, uma rápida comparação com a
transmissão utilizando elo CCAT.

176 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

As análises de regime permanente foram feitas utilizando-se o progra-


ma ANAREDE desenvolvido pelo Centro de Pesquisas de Energia Elétri-
ca – CEPEL.
A análise da operação da linha de transmissão MO+ inserida no Sis-
tema Interligado Nacional (SIN) é realizada avaliando-se a distribuição de
fluxos em determinados trechos do sistema elétrico diante de diferentes ce-
nários de geração.

6.2  Parâmetros das linhas de transmissão utilizadas


As análises realizadas neste capítulo consideraram linhas de transmis-
são MO+ em 800 kV e 1.000 kV otimizadas e não otimizadas. As topologias
e os principais parâmetros dessas linhas são apresentados a seguir.

6.2.1  Linhas de transmissão MO+ não otimizadas

Os parâmetros unitários de sequência, em regime trifásico balancea-


do, a frequência industrial de 60 Hz, obtidos para uma dada alternativa de
solo, transposição e orografia, são apresentados na tabela 6.1. Neste caso, é
considerada uma linha de transmissão com feixes circulares e um número
máximo de seis subcondutores por fase, o que permite a obtenção de uma
potência característica de 3.228 MW. A figura 6.1 mostra o arranjo de con-
dutores na torre para a alternativa em 800 kV com feixes circulares.

Figura 6.1:  Arranjo dos condutores para o sistema de 800 kV convencional

Capítulo 6 177
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Tabela 6.1:  Parâmetros unitários da linha de transmissão em 800 kV com feixes circulares
Impedância longitudinal (Ω /km) Admitância transversal (µ S/km)
Sequência positiva 0,0106439 + j 0,255654 6,51233
Sequência zero 0,304346 + j 1,31062 3,23774

6.2.2  Linhas de transmissão MO+ 800 kV otimizadas

A figura 6.2 mostra o arranjo de condutores na torre para a alternati-


va em 800 kV com feixes elípticos. Os parâmetros unitários de sequência,
em regime trifásico balanceado, a frequência industrial de 60 Hz, obtidos
para um determinado tipo de solo, transposição e orografia, são apresen-
tados na tabela 6.2. A potência característica obtida para essa configuração
é de 4.850 MW.

Figura 6.2:  Arranjo dos condutores para o sistema de 800 kV - feixes elípticos

Tabela 6.2:  Parâmetros unitários da linha de transmissão em 800 kV com feixes elípticos
Impedância longitudinal(Ω /km) Admitância transversal(µ S/km)
Sequência positiva 0,006600 + j 0,17248 9,902
Sequência zero 0,3415 + j 1,07154 3,23774

178 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

6.2.3  Linhas de transmissãoMO+1.000 kV otimizadas

A figura 6.3 mostra o arranjo de condutores na torre para a alternativa


em 1.000 kV com feixes elípticos. Essa alternativa apresenta 12 condutores
por fase e potência característica de 8.520 MW. Os parâmetros obtidos para
essa configuração de linha são mostrados na tabela 6.3.

Figura 6.3:  Arranjo dos condutores para o sistema de 1.000 kV - Feixes elípticos

Tabela 6.3:  Parâmetros unitários da linha de transmissão em 1.000 kV com feixes elípticos
Impedância longitudinal (Ω /km) Admitância transversal (µ S/km)
Sequência positiva 0,00545812 + j 0,152339 11,0871
Sequência zero 0,293417 + j 1,21478 3,85937

6.3  Estudo de caso


O sistema analisado considera que a conexão da Usina Hidrelétrica de
Belo Monte ao SIN é feita a partir da SE Xingu através de circuitos de 500
kV. O caso base recebido da EPE considera dois troncos de transmissão em
corrente contínua (2 x 4.000 MW) interligando as subestações Xingu e Es-
treito. Considera-se uma capacidade instalada de 11.000 MW na Usina Hi-
drelétrica de Belo Monte. Um diagrama representando este sistema, bem
como o fluxo em algumas interconexões, é mostrado na figura 6.4.

Capítulo 6 179
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Xingu
11000 MW 40 MW Tucurui
BELO
MONTE 40 MW
Parauapebas

1900 MW Miracema
1,058 30 pu

2700 MW
1,062 41,5 pu
4000 MW

4000 MW
Serra da Mesa
1,038 50,5 pu
3800 MW
3800 MW

Estreito
1,087 12 pu
SUDESTE

Figura 6.4:  Diagrama do caso de estudo 1 com transmissão CCAT para o Sudeste –
Caso original

Uma primeira análise do desempenho de uma transmissão com linhas


de transmissão MO+ é feita substituindo-se os dois bipolos que interligam
Xingu a Estreito por linhas 1.000 kV – 8.520 MW otimizadas com compri-
mento equivalente de 2.600 km. As linhas são conectadas ao sistema através
de transformadores 500 kV/1.000 kV, sendo que os transformadores em Es-
treito impõem uma defasagem fixa de 180°. Não foi efetuada nenhuma ou-
tra alteração no sistema original. O efeito da utilização de um tronco utili-
zando linhas de transmissão MO+ na distribuição de fluxos é apresentado na
figura 6.5, indicando que o novo tronco torna-se um caminho preferencial
para este cenário, esvaziando a interligação Norte-Sul. Neste caso, em cada
uma das linhas de transmissão MO+ escoam 5.500 MW, o que é inferior à
sua capacidade térmica. Ressalta-se que nesta simulação não são conside-
rados reforços no sistema que permitam alterar esta distribuição de fluxo.
A figura 6.6 apresenta mais detalhadamente o desempenho da linha de
transmissão MO+, indicando a variação de tensão ao longo da linha bem
como o fluxo de potência.

180 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Xingu
600 MW Tucurui

11000 MW 600 MW
BELO
MONTE 1,10 7,2 pu Parauapebas

10 MW Miracema
1,093 4,1 pu

330 MW
5500 MW 1,10 1 pu
1600 Mvar
5500 MW
1600 Mvar
1,078 0,89 pu
Serra da Mesa
2 LTs λ/2+ 1000kV
8520 MW
55 Mvar

4800 MW
55 Mvar
4800 MW

Estreito
1,074 13 pu

SUDESTE

Figura 6.5:  Distribuição de fluxos, duas LTs MO+, 1.000 kV - 8,52 GW, Xingu-Estreito

XINGU--PA500
10008
70001 70002 70003 70004 70005
5520.1 -5520.1 5520.1 -5472.0 5472.0 -5410.0 5410.0 -5309.6 5309.6 -5173.4

-1441.1j 1641.1j -1641.1j


-1092.2j 1092.2j -3011.3j 3011.3j-2809.1j 2809.1j-624.6j
1.025 1.062 1.066 0.944 0.745
1.078

ESTREI-MG500
4302 0.975 70009 70008 70007 70006
-4793.3 4793.3 -4793.3 4836.4 -4836.4 4911.1 -4911.1 5029.2 -5029.2 5173.4
80.6j 55.0j -55.0j -2485.4j 2485.4j -3393.6j 3393.6j
-2051.5j 2051.5j 624.6j
1.047 0.991 0.826 0.637 0.590

1.074

Figura 6.6:  Tronco de transmissão com linhas de transmissão MO+

O perfil de tensão ao longo de uma das linhas de transmissão MO+ em


1.000 kV para o carregamento apresentado na figura 6.6 é mostrado na fi-
gura 6.7, indicando que, para carregamentos abaixo da potência nominal da
linha, esta apresenta níveis baixos de tensão em sua região central.

Capítulo 6 181
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1.1
1
Tensão (pu)

0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
70001 70002 70003 70004 70005 70006 70007 70008 70009
Barras
Figura 6.7:  Perfil de tensão na linha de transmissão MO+ referente às condições
apresentadas na figura 6.6

6.3.1  Conexão do tronco em MO+ em


diferentes pontos do sistema

A partir do caso base, com linhas de transmissão MO+, procura-se, ago-


ra, analisar o efeito da conexão do tronco utilizando linhas de transmissão em
MO+ em diferentes pontos do sistema receptor. Nestas simulações, são utili-
zadas linhas de 800 kV e 1.000 kV já apresentadas na seção 6.2. Alguns des-
tes casos estão listados na tabela 6.4, e os reflexos no carregamento do tronco
MO+ e em alguns outros troncos do SIN são apresentados nas figuras 6.8-
6.13. Nestas simulações, considera-se triplicada a LT 500 kV Assis-Londrina.

Tabela 6.4:  Casos de fluxo de potência simulados


Linhas de transmissão em 1.000 kV com feixes elípticos (8.520 MW)
Caso 1 LTs MO+ chegando a Assis 440 kV e Bauru 440 kV
Caso 2 LTs MO+ chegando a Assis 500 kV e Bauru 440 kV
Caso 3 Duas MO+ chegando a Bauru 440 kV
Caso 4 Duas LTs MO+ chegando a Assis 500 kV

Linhas de transmissão em 800 kV com feixes elípticos (4.850 MW)


Caso 5 Duas LTs MO+ chegando a Bauru 440 kV
Caso 6 Duas LTs MO+ chegando a Assis 500 kV

A figura 6.8 mostra a distribuição de fluxos obtida quando os pontos


de injeção no SIN são as barras de Assis 440 kV e Bauru 440 kV. A linha de
transmissão MO+ 1.000 kV – 8.520 MW que interliga as barras de Xingu a
Assis transmite 3.900 MW. Através da linha de transmissão MO+, que inter-
liga as barras Xingu e Bauru, o fluxo de potência é de 6.000 MW.

182 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

No caso em que pontos de injeção são Assis 500 kV e Bauru 440 kV, fi-
gura 6.9, 4.100 MW escoam de Xingu a Assis e 5.900 MW escoam de Xin-
gu a Bauru. Em ambos os casos, as linhas de transmissão MO+ 1.000 kV –
8.520 MW escoam grande parte do fluxo de potência, operando abaixo da
capacidade térmica.
Os resultados obtidos para os casos 3 e 4 são apresentados nas figuras
6.10 e 6.11. No caso 3, o ponto de injeção no SIN é Bauru. O fluxo de po-
tência em cada linha de transmissão MO+ 1.000 kV – 8.520 MW é de 4.900
MW. Para o caso 4, em que o ponto de injeção no SIN é Assis, são transmi-
tidos 4.800 MW através de cada uma das linhas de transmissão MO+ 1.000
kV – 8.520 MW.

Xingu
420 MW Tucurui
11000 MW
420 MW
BELO
MONTE 1,098 2 pu Miracema
Parauapebas 1,084 16 pu
1200 MW

620 MW

1,089 11 pu

Serra da Mesa
5900 MW
-600 Mvar 2 LTs λ/2+ 1000kV
8520 MW
4100 MW
5200 MW
600 Mvar

-1000 Mvar
1025 Mvar
3300 MW

1,054 7,5 pu

Bauru 1,022 21 pu

Assis SUDESTE
1,047 16 pu

Figura 6.8:  Caso 1 – Distribuição de fluxos para o caso com duas LTs MO+ 1.000 kV –
8.520 MW chegando a Assis 440 kV e Bauru 440 kV

Capítulo 6 183
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Xingu
470 MW Tucurui
11000 MW
470 MW
BELO Miracema
MONTE 1,099 2,6 Parauapebas 1,086 16
480 MW

960 MW
1,096 11

2 LTs λ/2+ 1000kV Serra da Mesa


5500 MW 8520 MW
800 Mvar

4700 MW

4800 MW
600 Mvar
1400 Mvar
1,067 8,9
200 Mvar
4100 MW

Bauru
1,029 21
Assis
SUDESTE
1,064 19

Figura 6.9:  Caso 2 – Distribuição de fluxos para o caso com duas LTs MO+ 1.000 kV –
8.520 MW chegando a Assis 500 kV e Bauru 440 kV

Xingu
370 MW Tucurui
11000 MW
370 MW
BELO Miracema
MONTE 1,10 1.3 pu Parauapebas 1,082 17 pu
820 MW
1400 MW

1,093 10 pu

2 LTs λ/2+ 1000kV Serra da Mesa


8520 MW
4900 MW
1100 Mvar

4900 MW
600 Mvar
4200 MW

1100 Mvar
600 Mvar
4200 MW

1,067 6,2 pu

Bauru
0,99 17 pu
SUDESTE

Figura 6.10:  Caso 3 – Distribuição de fluxos para o caso com duas LTs MO+ 1.000 kV –
8.520 MW chegando a Bauru

184 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Xingu
340 MW Tucurui
11000 MW
340 MW
BELO
MONTE 1,1 9.9 pu Parauapebas Miracema
1,081 6 pu
920 MW

1500 MW
1,092 1.23 pu
2 LTs λ/2+ 1000kV
8520 MW Serra da Mesa
4800 MW
-1100 Mvar

4800 MW
-1100 Mvar
1,068 5.41 pu -530 Mvar

-530 Mvar
4100 MW
4100 MW

Assis
1,05 5.2 pu
SUDESTE

Figura 6.11:  Caso 4 – Distribuição de fluxos no SIN para o caso com duas LTs MO+ 1.000
kV – 8.520 MW chegando a Assis 500 kV

Na figura 6.12, é mostrada a distribuição de fluxos no SIN para o caso


em que duas linhas de transmissão MO+ 800 kV – 4.850 MW interligam a
barra Xingu 500 kV à barra Bauru 500 kV. As linhas de transmissão MO+
escoam grande parte do fluxo de potência, 4.700 MW, operando abaixo da
capacidade térmica.
Na figura 6.13, é mostrada a distribuição de fluxos no SIN para o caso
em que duas linhas de transmissão MO+ 800 kV – 4.850 MW interligam a
barra Xingu 500 kV à barra Assis 500 kV. São transmitidos 4.600 MW atra-
vés de cada uma das linhas de transmissão MO+.
A figura 6.14 apresenta mais detalhadamente o desempenho da linha
de transmissão MO+, no caso em que duas linhas de transmissão MO+ 800
kV – 4.850 MW interligam Xingu a Assis, figura 6.13.

Capítulo 6 185
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Xingu
280 MW Tucurui
11000 MW
280 MW
BELO
Miracema
MONTE 1,09 5,9 puParauapebas
1,073 11 pu
1100 MW

1800 MW
1,069 1 3.1 pu

2 LTs λ/2+ 800kV Serra da Mesa


4700 MW 4850 MW
300 Mvar

4700 MW
300 Mvar

340 Mvar
4100 MW
340 Mvar
4100 MW
1,024 2,2 pu

Bauru
0,976 17 pu
SUDESTE

Figura 6.12:  Caso 5 – Distribuição de fluxos para o caso com duas LTs MO+ 800 kV –
4.850 MW chegando a Bauru

Xingu
270 MW Tucurui
11000 MW
270 MW
BELO Miracema
MONTE 1,091 16 pu Parauapebas 1,073 1.3 pu
1100 MW
1800 MW

1,071 7,05 pu

2 LTs λ/2+ 800kV Serra da Mesa


4600 MW 4850 MW
140 Mvar

4600 MW
140 Mvar
490 Mvar
4000 MW

4000 MW
490 Mvar

1,029 12,4 pu

Assis
1,056 4,8 pu
SUDESTE

Figura 6.13:  Caso 6 – Distribuição de fluxos para o caso com duas LTs MO+ 800 kV –
4.850 MW chegando a Assis 500 kV

186 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

XINGU--PA500 70005
10008 70001 70002 70003 70004
4625.6 -4625.6 4625.6 -4560.6 4560.6 -4484.8 4484.8 -4397.7 4397.7 -4307.4

311.8j -140.5j 140.5j -781.8j 781.8j -820.5j 820.5j -230.8j 230.8j 578.9j
0.938 1.096 1.038 0.943 0.869
1.029

ASSIS--SP500
4282
70009 70008 70007 70006
-4046.8 4046.8 -4046.8 4101.2 -4101.2 4157.3 -4157.3 4225.1 -4225.1 4307.4

-488.6j 631.8j -631.8j-125.2j 125.2j -852.3j 852.3j -1048.4j 1048.4j -578.9j


0.952 1.010 1.048 1.017 0.939 0.870
1.056

Figura 6.14:  Tronco de transmissão MO+ referente às condições apresentadas na figura 6.13

A título de ilustração do efeito do carregamento de uma linha de MO+


no perfil de tensão longo da linha, a figura 6.15 apresenta este perfil para o
caso apresentado na figura 6.13.
1.15
Tensão (pu)

1.05

0.95

0.85
70001 70002 70003 70004 70005 70006 70007 70008 70009
Barras
Figura 6.15:  Perfil de tensão na linha de transmissão MO+ referente às condições
apresentadas na figura 6.13

6.3.2  Operação com diferentes cenários de despacho de geração

Uma vez que o objetivo deste capítulo é analisar o desempenho de li-


nhas de transmissão MO+ quando inseridas no Sistema Elétrico Brasilei-
ro, são apresentados a seguir resultados considerando diferentes cenários
de geração no SIN. De forma a permitir uma comparação sobre diferentes
opções de tronco de transmissão, os estudos são efetuados considerando-
-se a conexão na subestação Assis 500 kV. São considerados troncos MO+
utilizando linhas de transmissão de 1.000 kV – 8.520 MW e 800 kV – 4.850
MW. A título de ilustração, apresentam-se também resultados onde o tronco
MO+ é substituído por um tronco CCAT com dois bipolos de 800kV – 4.000
MW. Porém, ressalta-se que nenhuma das alternativas é otimizada não se
procurando efetuar análises conclusivas, as quais estão fora do escopo deste
projeto e demandam estudos mais abrangentes.

Capítulo 6 187
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

6.3.2.1  Tronco com duas LTs 1.000 kV – 8.520 MW

Esta alternativa parte do caso base apresentado na figura 6.11. A partir


deste caso, procurou-se variar o carregamento no tronco Xingu-Estreito,
incluindo a reversão no fluxo.
Na figura 6.16 é mostrada a distribuição de fluxos considerando uma
redução na geração em Belo Monte. Este cenário será referência neste tra-
balho como Norte Exportador Intermediário. Fluxos de aproximadamente
3.500 MW escoam por cada uma das linhas de transmissão MO+ de 1.000
kV – 8.520 MW.

Xingu
270 MW Tucurui
8200 MW
270 MW Miracema
BELO
MONTE 1,1 5,1 pu 1,096 11 pu
Parauapebas

1700 MW
1000 MW

1,1 4,0 pu
2 LTs λ/2+ 1000kV
8520 MW Serra da Mesa
3500 MW
1800 Mvar

3500 MW
1800 Mvar
1,094 0,44 pu
370 Mvar
2900 MW

2900 MW
370 Mvar

Assis
1,096 7,2 pu

SUDESTE

Figura 6.16:  Distribuição de fluxos – tronco MO+ com duas LTs de 1.000 kV – 8.520 MW
– Fluxo intermediário

A figura 6.17 mostra a distribuição de fluxos obtida para o cenário de


intercâmbio próximo de zero. Neste caso, cada uma das linhas de transmis-
são MO+ 1.000 kV – 8.520 MW injeta 70 MW na barra de Assis 500 kV.
Uma vez que os estudos relacionados à transmissão de Belo Monte
contemplam a inversão de fluxo no tronco CCAT, esta situação também é
considerada, neste estudo, sendo referida como cenário Norte Importador.
Este cenário é mostrado na figura 6.18 que apresenta um intercâmbio de
cerca de 2.100 MW por linha entre as subestações 500 kV Assis e Xingu.

188 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Xingu
400 MW Tucurui
4300 MW
400 MW
BELO
MONTE 1,059 17.5 pu
Parauapebas
1600 MW Miracema
1,058 24 pu

500 MW
1,077 19 pu

2 LTs λ/2+ 1000kV


460 MW 8520 MW
-2100 Mvar
Serra da Mesa
460 MW
-2100 MVar
1,09 12 pu 250 Mvar

250 Mvar
70 MW

70 MW
Assis
1,089 13 pu
SUDESTE

Figura 6.17:  Distribuição de fluxos – tronco MO+ com duas LTs de 1.000 kV – 8.520 MW
– Fluxo Próximo de Zero

Xingu
825 MW Tucurui
1400 MW 825 MW
BELO
MONTE
1,105 44,6 pu
Parauapebas
1900 MW
Miracema
1,10 44 pu
1,108 41 pu
2100 MW

2 LTs λ/2+ 1000kV


1600 MW 8520 MW
1600 Mvar

1600 MW Serra da Mesa


1600 Mvar
1,096 33 pu
2100 MW
140 Mvar
2100 MW

140 Mvar

Assis
1,098 29 pu
SUDESTE

Figura 6.18:  Distribuição de fluxos – tronco MO+ com duas LTs de 1.000 kV – 8.520 MW
– Norte Importador

Capítulo 6 189
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

O efeito da variação do intercâmbio na linha MO+ pode ser visto na


figura 6.19, a qual mostra os perfis de tensão ao longo da linha para os di-
ferentes cenários.
1.2
1
Tensão (pu)

0.8
0.6 Norte Exp.
0.4 Norte Exp. Int.
Intercâmbio zero
0.2
Norte imp.
0
70001 70002 70003 70004 70005 70006 70007 70008 70009
Barras
Figura 6.19:  Comparação entre os perfis de tensão da linha de transmissão MO+ 1.000
kV – 8.520 MW para os diferentes cenários analisados

6.3.2.2  Tronco com duas LTs 800 kV − 4.850 MW

Nesta seção são apresentados resultados referentes aos efeitos no tron-


co MO+ de 800 kV – 4.850 MW da variação dos cenários de geração no SIN.
Os cenários são os mesmos apresentados na seção 6.3.2.1 e tomam como
caso base aquele apresentado na figura 6.13.
Na figura 6.20, é mostrada a distribuição de fluxos no SIN para o ce-
nário Norte Exportador Intermediário. Fluxos de aproximadamente 3.400
MW escoam para cada uma das linhas de transmissão MO+ de 800 kV –
4.850 MW.

190 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Xingu
240 MW Tucurui
8200 MW
240 MW
BELO
MONTE 1,098 9,85 pu
Parauapebas
1200 MW
Miracema
1,087 6,3 pu
1,089 1.29 pu

1800 MW
2 LTs λ/2+ 800kV
4850 MW
3400 MW
-500 Mvar
Serra da Mesa
3400 MW
-500 Mvar
1,056 6,76 pu

360 Mvar
2900 MW

2900 MW
360 Mvar

Assis
1,09 5,5 pu

SUDESTE

Figura 6.20:  Distribuição de fluxos – tronco MO+ com duas LTs de 800 kV – 4.850 MW –
Fluxo intermediário

A figura 6.21 mostra a distribuição de fluxos obtida para o cenário de


intercâmbio próximo de zero de potência. Neste caso, cada uma das linhas
de transmissão MO+ 1.000 kV – 8.520 MW injeta 115 MW na barra de As-
sis 500 kV.
A distribuição de fluxos no SIN para o cenário Norte Importador é
mostrada na figura 6.22. Um intercâmbio de cerca de 2.100 MW por linha
escoa de Assis a Xingu.
A figura 6.23 mostra o resultado da comparação entre os perfis de ten-
são obtidos nos diferentes cenários.

6.3.2.3  Tronco com dois bipolos 800 kV– 4.000 MW

As análises realizadas até aqui procuram fornecer subsídios para a ava-


liação da adequabilidade da utilização de troncos de transmissão em MO+
em um sistema interligado. Porém, no desenvolvimento do Projeto Trans-
mitir, acordou-se ser conveniente apresentar informações sobre o desem-
penho de um tronco HVDC interligando os mesmos pontos. Desta forma,

Capítulo 6 191
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

foram realizadas simulações onde o tronco com duas LTs com MO+ foi subs-
tituído por um tronco CCAT com dois bipolos de 800 kV-4.000 MW cada.
Os dados do elo CCAT são os mesmos utilizados nos estudos relacionados
à transmissão de Belo Monte, corrigindo-se o comprimento da linha para
2.600 km. O sistema, bem como os cenários de geração, são os mesmos uti-
lizados na análise do tronco MO+.
Xingu
450 MW Tucurui
4300 MW
450 MW
BELO
MONTE 1,054 13 pu
Parauapebas
1600 MW
Miracema
1,062 20 pu

1,067 14 pu

470 MW
2 LTs λ/2+ 800kV
440 MW 8520 MW
1200 Mvar
Serra da Mesa
440 MW
1200 MVar
1,065 7 pu
210 Mvar

210 Mvar
115 MW
115 MW

Assis
1,089 8,5 pu
SUDESTE

Figura 6.21:  Distribuição de fluxos – tronco MO+ com duas LTs de 800 kV – 4.850 MW –
Fluxo Próximo de Zero

A figura 6.24 mostra a distribuição de fluxos no SIN para o caso em


que dois bipolos CCAT (2.600 km – 4.000 MW) interligam as subestações
500 kV Xingu e Assis.
A distribuição de fluxos no SIN, para o caso em que dois bipolos CCAT
interligam as barras Xingu e Assis – cenário Norte Exportador Intermedi-
ário, é mostrada na figura 6.25.
Na figura 6.26 são mostrados os fluxos no SIN para o cenário com in-
tercâmbio quase zero. Escoam através de cada bipolo aproximadamente
200 MW. A distribuição de fluxos no SIN para o cenário Norte Importa-
dor com a interligação Xingu-Assis sendo em corrente contínua é mostra-
da na figura 6.27. Um intercâmbio de cerca de 2.100 MW por bipolo escoa
de Assis a Xingu.

192 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

6.3.2.4  Efeito do controle de tensão em uma linha de transmissão MO+

Um dos critérios adotados na comparação entre alternativas de trans-


missão é o seu custo global, no qual é considerado o custo das perdas elétri-
cas referentes a esta alternativa. Apesar de este trabalho não estar dedicado
à otimização de um sistema de transmissão utilizando linhas de MO+, nesta
seção são apresentados resultados que visam identificar como podem ser
minimizadas as perdas referentes a esta alternativa.
Xingu
830 MW Tucurui
1400 MW 830 MW
BELO
MONTE
1,104 43 pu Parauapebas
Miracema
1800 MW
1,97 43 pu

2100 MW
1,099 40 pu

2 LTs λ/2+ 1000kV


1600 MW 8520 MW
800 Mvar Serra da Mesa

1600 MW
800 Mvar
1,075 32 pu
1900 MW
470 Mvar
1900 MW

470 Mvar

Assis
1,076 25 pu
SUDESTE

Figura 6.22:  Distribuição de fluxos – tronco MO+ com duas LTs de 800 kV – 4.850 MW –
Norte Importador

1.2
1
Tensão (pu)

0.8
0.6
Norte Exp.
0.4 Norte Exp. Int.
Intercâmbio zero
0.2
Norte imp.
0
70001 70002 70003 70004 70005 70006 70007 70008 70009
Barras
Figura 6.23:  Comparação entre os perfis de tensão da linha de transmissão MO+ 800 kV
– 4.850 MW para os diferentes cenários analisados

Capítulo 6 193
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A tabela 6.5 apresenta um sumário dos diversos casos apresentados nas


seções 6.3.2.1, 6.3.2.2 e 6.3.2.3, sendo que a potência informada correspon-
de à potência total transmitida pelo tronco, ou seja, por duas linhas MO+
ou dois elos CCAT. Uma primeira indicação das perdas referentes a cada
alternativa pode ser feita observando-se a geração em Ilha Solteira, que foi
utilizada como barra swing nos estudos.

Xingu
40 MW Tucurui
11000 MW
BELO 40 MW
MONTE 1.091 36, 6 pu
Parauapebas

1900 MW
Miracema
1.057 15,3 pu

2700 MW
1.067 27,3 pu
HVDC 800kV

4000 MW

4000 MW Serra da Mesa


3800 MW

3800 MW

1.044 36, 2 pu

Assis
1.016 3, 2 pu

SUDESTE

Figura 6.24:  Distribuição de fluxos no SIN – Interligação Xingu-Assis em corrente


contínua – Máxima geração em Belo Monte

Tabela 6.5:  Comparação entre alternativas de transmissão utilizando linhas MO+ e elo CCAT
Belo Monte Xingu Assis 500 kV I. Solteira
Cenário P (MW) V (pu) θ (°) P (MW) V (pu) θ (°) P (MW) P (MW)
Base 11.000 1,068 5,41 9.600 1,05 -5,2 8.250 3.170
MO+ Intermediário 8.200 1,094 0,44 7.000 1,096 -7,2 5.800 2.900
1.000 kV N. Importador 1.400 1,09 -33 3.200 1,098 -29 4.200 2.800
Zero 4.300 1,09 -12,4 920 109 -13 -140 1.860
Base 11.000 1,029 12,4 9.200 1,056 -4,8 8.000 3.000
MO+ Intermediário 8.200 1,056 6,76 6.800 1,09 -5,5 5.800 2.640
800 kV N. Importador 1.400 1,075 -32 3.200 1,076 -25 3.800 2.380
Zero 4.300 1,065 -7 880 1,089 -8,5 230 1.390
Base 11.000 1,044 36,2 8.000 1,016 -3,2 7.600 2.650
Intermediário 8.200 1,05 6,23 7.000 1,014 2,05 6.600 2.080
HVDC
N. Importador 1.400 1,043 -11 4.000 1,065 -22 4.200 1.800
Zero 4.300 1,094 5,44 400 1,096 -4,4 320 830

194 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Uma análise desta tabela indica uma maior parcela de perdas referen-
te à transmissão em MO+, sendo que a alternativa em 1.000 kV apresenta
as maiores perdas. Estes resultados estão de acordo com a característica já
conhecida de uma linha MO+, qual seja seu rendimento cai drasticamen-
te quando se transmite potências inferiores à sua potência nominal. Este é
o caso do tronco de 1.000 kV, com capacidade de transmitir 17.000 MW, e
para alguns cenários utilizando tronco MO+ de 800 kV, com capacidade de
transmitir 9.700 MW. Deste modo, pode-se obter uma redução das perdas
associadas ao tronco MO+ alterando-se sua potência nominal através da
variação de sua tensão de operação. Este processo é ilustrado na tabela 6.6
que apresenta a comparação entre o desempenho do tronco de transmissão
MO+ 800 kV, com e sem controle de tensão, e do tronco HVDC 800 kV. Para
os casos utilizando MO+, permitiu-se que os transformadores associados à
linha operassem com taps na faixa de 0,6 a 1,4 pu.

Xingu
280 MW Tucurui
8200 MW
BELO 280 MW
MONTE 1.097 9,9 pu
Parauapebas
Miracema
1000 MW
1.089 5,5 pu
1500 MW

1.088 1, 42 pu
HVDC 800kV

3500 MW
Serra da Mesa
3500 MW
3300 MW

3300 MW

1.05 6, 23 pu

Assis
1.014 2, 05 pu

SUDESTE

Figura 6.25:  Distribuição de fluxos no SIN – Interligação Xingu-Assis em corrente


contínua – Fluxo intermediário

Capítulo 6 195
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Tabela 6.6:  Efeito do controle de tensão nas perdas de uma LT MO+ 800 kV
Belo Monte Xingu Assis 500 kV 70001 70009 I. Solteira
Caso P (MW) V (pu) θ (°) P (MW) V (pu) θ (°) P (MW) V (pu) V (pu) P (MW)
MO+
4.300 MW 1,065 -7,0 880 1,089 -8,5 230 1,025 1,052 1.384
800 kV **
MO+
4.300 MW 1,029 -4,6 820 1,099 -6,5 500 0,735 0,695 1.150
800 kV *
HVDC 4.300 MW 1,080 -19 800 0,98 -3,9 796 – – 925
* Com controle de tensão; ** Sem controle de tensão

Xingu
540 MW Tucurui
4300 MW
BELO 540 MW
MONTE 1.086 1,8 pu
Parauapebas
2000 MW Miracema
1.06 9, 7 pu

1.078 3,1 pu

24 MW
HVDC 800kV

200 MW

Serra da Mesa
200 MW

1.094 5, 44 pu
160 MW

160 MW

Assis
1.096 4, 4 pu

SUDESTE

Figura 6.26:  Distribuição de Fluxos no SIN – Interligação Xingu-Assis em corrente


contínua – Fluxo Próximo de Zero

Os dados apresentados na tabela 6.6 indicam para uma redução das


perdas com a redução da tensão de operação da linha e apontam um pos-
sível caminho a ser seguido, onde este efeito pode ser aumentado utilizan-
do-se transformadores com faixa de tap mais ampla. Esta alternativa, no
entanto, não foi explorada neste trabalho entendendo-se que a otimização
do sistema irá depender de estudos mais amplos. Também não foi analisa-
do o efeito do tempo de resposta deste controle de tensão em condições de
sobrecarga em uma das linhas, devido à emergência na linha em paralelo.

196 Análise de Regime Permanente de Sistemas de Transmissão Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Xingu
1000 MW Tucurui
1400 MW
BELO 1000 MW
MONTE 1.095 25.7 pu
Parauapebas
2200 MW
Miracema
1.098 28 pu

1.079 22 pu

1400 MW
HVDC 800kV

2000 MW

2000 MW Serra da Mesa

2100 MW

2100 MW
1.043 11 pu

Assis
1.065 22 pu

SUDESTE

Figura 6.27:  Distribuição de fluxos no SIN – Interligação Xingu-Assis em corrente


contínua – Norte Importador

6.4  Comentários finais


Neste capítulo foram apresentados estudos em regime permanente vi-
sando explorar a operação de linhas de transmissão MO+ inseridas no SIN,
e não puramente o emprego em uma transmissão radial. De forma a com-
patibilizar a defasagem angular acima de 180° característica da linha com
as defasagens usualmente encontradas em um sistema elétrico, foi utiliza-
do um transformador defasador com defasagem fixa de 180° em uma de
suas extremidades.
Os estudos indicaram a factibilidade desta operação interligada, explo-
rando o efeito da conexão em diferentes pontos do sistema recebedor bem
como o desempenho da linha com diferentes carregamentos. Neste sentido,
mostrou-se que se pode obter uma redução das perdas, quando operando
com carregamentos abaixo da capacidade nominal, utilizando um transfor-
mador com comutação em carga com ampla faixa de variação.

Capítulo 6 197
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 7

Desempenho Dinâmico da Meia-onda+

199
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

7.1 Introdução
O objetivo deste capítulo é apresentar alguns estudos relacionados ao
comportamento transitório da meia-onda+ (MO+). Para tanto, o capítulo
está basicamente dividido em três partes. Na primeira, considera-se o com-
portamento da MO+ face aos transitórios eletromagnéticos como surtos de
manobra e surtos atmosféricos. Em todas essas análises, considera-se a MO+
de “forma isolada”, i.e., sem a inserção desta no sistema interligado nacional
brasileiro (SIN). Na segunda parte, é avaliado o comportamento da MO+,
inserida no SIN, durante a ocorrência de transitórios eletromecânicos. Al-
guns dos resultados dessa seção indicaram a presença de sobretensões sus-
tentadas bastante elevadas, o que levou a um estudo adicional do efeito co-
roa na propagação de sinais lentos. Esse último estudo não é, estritamente
falando, um estudo típico de transitórios eletromagnéticos, contudo faz-se
necessário o emprego de modelos detalhados do circuito de transmissão
como ocorre nas análises envolvendo a propagação de surtos em linhas de
transmissão aéreas.
O surto de manobra considerado foi o de energização do circuito de
MO . Para a análise de surto atmosférico, foi primeiro realizada uma ava-
+

liação com base do modelo eletrogeométrico, para a estimação do número


de desligamentos do circuito por 100 km por ano e depois foi realizada a
determinação do comportamento das sobretensões nas cadeias de isolado-
res para a incidência de descargas ao meio do vão e na torre. Para os estu-
dos de surtos atmosféricos, faz-se necessária uma representação mais deta-
lhada dos componentes envolvidos, incluindo estuturas metálicas e sistema
de aterramento. Esses estudos relativos ao desempenho transitório face às
descargas atmosféricas são úteis para verificar o comportamento do circui-
to de forma abrangente, avaliando o impacto do posicionamento dos cabos
para-raios. Diferentemente do que ocorre com os condutores de fase, onde o
arranjo dos condutores de fase e do feixe propriamente dito podem ser esta-

200 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

belecidos através de uma rotina de otimização, no caso dos cabos para-raios,


dispõe apenas do modelo eletrogeométrico. A definição do posicionamen-
to dos cabos para-raios acaba impactando o desempenho de um circuito
aéreo de transmissão de energia elétrica. Isso posto, há atualmente uma va-
riação no emprego de cabos para-raios com o emprego de cabos para-raios
dotados de fibra ótica, cabos OPGW em conjunção com os condutores de
aço 3/8” EHS comumente encontrados nos circuitos de extra-alta tensão.

7.2  Desempenho da MO+ face a surtos atmosféricos


Antes da análise propriamente dita do comportamento da MO+ duran-
te surtos atmosféricos, apresentam-se algumas das características principais
da representação de descargas atmosféricas. A representação do comporta-
mento de descargas atmosféricas é um assunto bastante abrangente que vem
sendo analisado na literatura técnica desde o estabelecimento dos primeiros
circuitos aéreos de transmissão de energia elétrica. Há diversos fenômenos
físicos envolvidos na geração das descargas atmosféricas e do canal de des-
carga relativo à região do espaço que existe entre acumulação de cargas nas
nuvens até o “espraiamento” da descarga quando esta toca o solo. O intuito
dessa seção não é prover uma descrição detalhada do comportamento e da
modelagem das descargas atmosféricas, e sim apresentar, em linhas gerais,
o que norteou a modelagem adotada para a representação desta no que se
refere aos estudos de desempenhos de linhas de transmissão de pouco mais
de meio comprimento de onda. Maiores detalhes sobre o assunto podem
ser encontrados em [28, 38].
Há um grande número de teorias sobre o mecanismo responsável pela
geração de cargas nas nuvens. Em comum a todas as teorias, há que reco-
nhecer a ação do vento na separação das partículas de polaridade opostas.
De forma generalista, podemos considerar que o movimento ascendente
de correntes de ar proporciona o transporte de íons positivos e gotículas de
água para a parte superior da nuvem, e íons negativos para a base da nu-
vem. Com isso, há uma grande quantidade de carga na região inferior da
nuvem, induzindo em uma dada área do solo, correspondente ao tamanho
da nuvem, uma mesma quantidade de carga de polaridade oposta. Isso le-
va à criação de uma tensão entre a nuvem e o solo. Esse “grupo” de carga
se desloca pelo solo paralelamente ao deslocamento da nuvem. De acordo
com [8], para a África do Sul foram observadas distâncias até a vase da nu-
vem da ordem de 2 km com cargas na nuvem da ordem de 40 a 10 coulomb.

Capítulo 7 201
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A maioria das descargas ocorre dentro de uma nuvem e entre duas nu-
vens, sendo apenas uma pequena parcela das descargas que ocorre entre
nuvem e solo. A relação entre o número de descargas entre nuvens e o nú-
mero de descargas para o solo varia com a latitude. Em [9] emprega-se uma
expressão empírica baseada em dados de 13 países. As descargas atmosfé-
ricas entre nuvem e solo compõem o fator preponderante para a definição
do isolamento dos equipamentos de extra-alta tensão e naturalmente os de
ultra-alta tensão. A importância da representação adequada do comporta-
mento da rede face à incidência das descargas atmosféricas reside no fato
que a grande maioria dos curtos-circuitos e interrupções não programadas
são causadas por estas, no Brasil, em particular, onde há uma elevada inci-
dência de descargas e conjunção com terrenos onde o comportamento do
solo não é favorável ao escoamento da descarga atmosférica.
A grande maioria das descargas ocorre dentro de uma nuvem e entre
duas nuvens, e somente uma pequena parcela ocorre entre uma nuvem e o
solo. Tipicamente, tem-se que a relação entre o número de descargas entre
nuvens e o número de descargas para o solo varia entre dois perto dos polos
até mais de seis nas regiões tropicais [9]. As descargas entre nuvem e solo
podem ser caracterizadas pela polaridade da carga da nuvem e pela direção
do precursor da descarga.
Após a formação do primeiro canal, há um efeito em cascata que leva a
progressão de canais, permitindo o deslocamento de cargas. Na extremida-
de do último canal, há um acúmulo de carga elétrica que leva a um intenso
campo elétrico na vizinhança, gerando uma ionização da área e conseguente
formação de um novo canal condutor. Esse último canal descendente é co-
nhecido como precursor de descarga. A velocidade de progressão é da or-
dem de 105 m/s a 106 m/s, com um tempo de ocorrência entre 25 µ s a 50 µ
s [28]. Esse movimento das cargas induz, no solo e em outros objetos metá-
licos não muito elevados, um campo elétrico capaz de causar o movimento
ascendente de canais de cargas de sinal oposto a dos canais descentes. Isso
se mantém até que ocorra a conexão entre canais ascendentes e descenden-
tes. Dessa maneira, fica estabelecido um canal “condutor” ionizado entre a
nuvem e o solo. Em sequência, esse canal é atravessado por uma corrente
relativamente intensa, a média global apresenta um valor de pico da ordem
de 30 kA. Essa corrente, conhecida também como corrente de retorno, é
responsável pela descarga parcial ou total da nuvem, tem velocidade de pro-
pagação entre 107 m/s a 108 m/s, representando o ponto alto da descarga
atmosférica, quando o relâmpago e o aquecimento causam uma expansão
do ar na região levando ao trovão.

202 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Na sequência pode aparecer um novo precursor, entre nuvem e solo


sem ramificações e com uma velocidade de propagação superior à do pre-
cursor inicial. Quando esse novo precursor atinge o solo, há uma nova des-
carga de retorno, usualmente com magnitude de corrente inferior. Outras
descargas ainda podem ocorrer com magnitudes de correntes superiores às
da primeira descarga. Tipicamente, observa-se que o número de descargas
subsequentes é próximo a três [34, 40, 46]. Apesar de muitas descargas sub-
sequentes atingirem o mesmo ponto que a descarga anterior, aproximada-
mente cerca de 30% a 50% das descargas subsequentes atingem pontos dis-
tintos, sendo que a distância entre os pontos atingidos pelas descargas pode
variar de centenas de metros até alguns quilômetros [34].
Desde o trabalho pioneiro de [3] até trabalhos mais recentes [40, 6], há
uma grande concordância em relação a alguns aspectos básicos das descar-
gas atmosféricas, a saber:
• As descargas podem ser descendentes ou ascendentes.
• As descargas descentes podem ser positivas ou negativas.
• Cerca de 90% das descargas descendentes são negativas e 10% são
positivas.
• Descargas descendentes negativas são constituídas por algumas
descargas intermitentes, separadas por um intervalo de tempo va-
riando entre 30 a 80 ms.
• Descargas descendentes negativas apresentam diversas repetições,
tendo uma média entre duas a três descargas.
• Descargas ascendentes também podem ser positivas ou negativas e
estão associadas a estruturas muito altas.

7.2.1  Características das descargas atmosféricas

Em função do local de incidência, as descargas atmosféricas que atin-


gem os circuitos de transmissão de energia podem ser definidas como:

• Descargas diretas:
▷▷ Quando incidem em algum ponto da torre.
▷▷ Quando incidem nos cabos para-raios ou em algum dos condu-
tores ou subcondutores de fase.

• Descargas indiretas:
▷▷ Quando incidem em ponto do solo próximo à linha de transmissão.

Capítulo 7 203
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Após a incidência da descarga na linha de transmissão, o comporta-


mento subsequente dependerá dos parâmetros elétricos e geometria do cir-
cuito, i.e., arranjo dos condutores, configuração e aterramento da torre e pa-
râmetros da própria descarga. Como os parâmetros da descarga possuem
um comportamento estatístico, é necessário o emprego de uma distribuição
estatística. Basicamente podemos dividir em dois grandes grupos, a saber:

• Incidência da descarga na torre ou nos cabos para-raios, sendo que


neste dependerá do ponto de incidência, i.e., próximo à torre ou na
região central do vão.
• Incidência da descarga nos condutores de fase.

Em ambos os casos, tensões e correntes transitórias serão induzidas e


se propagam por todos os condutores envolvidos, incluindo torres, estais
(quando houver) e sistema de aterramento da torre. Caso alguma das ten-
sões exceda a tensão suportável do isolamento há, na grande maioria dos
casos, um curto-circuito fase-terra.
Para os estudos de desempenho transitório de linhas e equipamentos
devido às descargas atmosféricas, a corrente de descarga atmosférica tem
papel fundamental. Os parâmetros mais relevantes dessa corrente são:

• Forma de onda.
• Amplitude máxima.
• Polaridade.
• Tempo de frente de onda.
• Derivada máxima da corrente na frente de onda em relação ao tempo.

No caso das descargas atmosféricas de interesse para o projeto de li-


nhas de transmissão, temos três tipos básicos em função da polaridade da
carga da nuvem, a saber:

1. Descargas descendentes positivas, normalmente caracterizadas por


um único impulso de descarga.
2. Descargas descendentes negativas com um único impulso de corren-
te e primeiro impulso de descarga negativa com impulsos de descar-
ga subsequentes.
3. Descargas descendentes negativas subsequentes ao primeiro impulso.

Devemos observar que, no caso de tratadas em separado, as descar-

204 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

gas possuem características probabilísticas homogêneas. O conhecimento


desses parâmetros demanda uma análise de medições. Atualmente já estão
disponíveis diversos sistemas de detecção de descargas atmosféricas, per-
mitindo-se o acompanhamento da progressão da descarga e a identificação
do ponto de queda. Eventualmente, esses sistemas de detecção podem ser
capazes de apresentar uma estimativa, mais ou menos precisa, da amplitu-
de da corrente e de outros parâmetros característicos.
A definição da forma de onda da descarga foi fortemente influencia-
da pelo trabalho em [3] a partir de medidas experimentais no topo de duas
torres de cerca de 55 m de altura localizadas na Suíça. Para a extração dos
parâmetros da forma de onda da corrente de descarga atmosférica, várias
definições são utilizadas a partir da idealização da forma de onda apresen-
tada na figura 7.1, retirada de [38].

tf 10/90
dIo/dtf 10
tf 30/90
t [µs]
10%

30%

dIo/dtf 10/90 dIo/dtf max

dIo/dtf 30/90

90%
o
1 pico - 100%
2o pico

i [kA]

Figura 7.1:  Forma de onda típica de uma corrente de descarga com polaridade
negativa [38]

A partir dos dados da NASA1, a maior incidência de descargas encon-


tra-se nas regiões entre os trópicos e sobre as massas de terra. Infelizmente,
esse sistema não permite distinguir se as descargas ocorrem entre nuvens
ou entre nuvem e solo.
O número de descargas para o solo por área por um dado período é
um dado importante para identificar pontos mais susceptíveis à ocorrência
de curtos-circuitos devido à incidência de descargas. Atualmente, além do

1 http://thunder.nsstc.nasa.gov/data/OTDsummaries

Capítulo 7 205
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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uso de contadores de descargas atmosféricas nuvem-solo, há diversos sis-


temas de detecção e acompanhamento das descargas atmosféricas, embora
nessas informações haja também algumas aproximações.
O nível ceráunico não distingue entre descargas entre nuvem e descar-
gas nuvem-solo. Para a conversão do nível cerâunico para densidade de des-
cargas para o solo, é realizado através de equações empíricas [16],

N g = aN ib (7.1)

Sendo Ng a densidade de descargas para solo expressa em descargas/


km2/ano, Ni é o nível cerâunico, e a e b são constantes empíricas. Algumas
ressalvas devem ser realizadas com relação à aplicação dessa formulação
empírica, uma vez que não incorpora qualquer variação com a latitude cli-
ma ou orografia. Conforme mostrado em [38], a expressão empírica não
consegue produzir uma curva que se ajuste adequadamente aos resultados
medidos. Portanto, deve-se evitar o emprego de expressões como a (7.1) e
adotar, sempre que possível, o parâmetro densidade de descargas, de prefe-
rência obtido por fonte experimental e validada.

Figura 7.2:  Mapa isoceráunico do Brasil

206 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Dada a grande gama de parâmetros envolvidos no processo de geração


da corrente de descarga, há um inerente comportamento estocástico com
grande dispersão. Tal comportamento deve ser considerado quando dos cál-
culos das tensões e correntes induzidas na linha de transmissão.
Dentre as possíveis formulações existentes na literatura técnica para a
representação das correntes de descargas, há uma grande influência do tra-
balho pioneiro de [3]. É usual encontrar na literatura a representação das
probabilidades por uma distribuição log-normal e de acordo com a norma
IEEE-1410, os valores máximos da corrente de descarga, I0 em kA é defi-
nido pela faixa,

5 ≤ I0 ≤ 200

E a probabilidade pode ser dada por (7.2).

1
P(I 0 ) = 2,6 (7.2)
⎛ I 0 ⎞
1+ ⎜ ⎟
⎝ 31 ⎠

A maior dificuldade no que tange a essa avaliação é o comportamen-


to multimodal que pode ocorrer [28, 38]. Todavia, de uma maneira geral,
adota-se a distribuição log-normal unimodal. Nesse caso a densidade de
probabilidade da variável x, PDF (x), é caracterizada por (7.3) onde µx re-
presenta a média e o desvio padrão é dado por σx.

1 ⎛ (ln x − µ )2 ⎞
PDF(x) = exp⎜− ⎟ (7.3)
x 2πσ x ⎝ 2σ x2 ⎠

Já a probabilidade que a variável x seja maior que um determinado va-


lor x0, P(x) é dada por (7.4).

P(x \ x > x 0 ) = ∫ x0
PDF(x)dx (7.4)

A figura 7.3 apresenta o comportamento da função distribuição de pro-


babilidade para a amplitude máxima de corrente descarga atmosférica, con-
siderando uma média igual a 30 kA e com um desvio padrão igual a 0,53.

Capítulo 7 207
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

0.025

0.020
Probabilidade

0.015

0.010

0.005

0.000
0 20 40 60 80 100 120
I0 kA

Figura 7.3:  Função densidade de probabilidade para a corrente de descarga

Para a análise de desempenho de linhas de transmissão devido à inci-


dência de descargas atmosféricas, é interessante a representação da forma de
onda de corrente por uma aproximação analítica que se aproxime da forma
de onda de uma descarga real. Dessa maneira, a aproximação da forma de
onda deve ser o mais próxima possível da forma de onda de descarga real.
Dentre as possíveis aproximações, uma forma de onda muito comum
se refere à função conhecida como dupla exponencial. A forma de onda da
descarga, supondo que esta é dada por uma fonte de corrente

i(t) = kI0 (exp(−at) − exp(−bt)) u(t) (7.5)

Onde u(.) é a função degrau, a e b são constantes reais que definem as


constantes de tempo da frente de onda e da cauda, k é um fator de correção
empregado para que o pico da forma de onda seja igual a I0.
Uma formulação alternativa foi proposta em [14], dada por

(at)n
i(t) = kI 0 exp(−bt)u(t) (7.6)
1+(at)n

Onde n é um número inteiro, representando a ordem do polinômio em


at a ser empregado, u(.) é o mesmo da expressão anterior e k é uma cons-
tante dada por (7.7).

208 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

⎛ 1 ⎞
b ⎛ na ⎞ n
k = exp⎜ ⎜ ⎟ ⎟ (7.7)
⎜ a ⎝ b ⎠ ⎟
⎝ ⎠

Muito embora as expressões em (7.5) e (7.6) sejam bastante úteis, elas


apresentam algumas limitações, a saber:

• O máximo da função corresponde com um ponto onde a derivada é


nula ou próximo de ser nula.
• A forma de onda representa uma função com um decaimento lento,
o que pode gerar incovenientes quando for necessário supor algu-
ma periodicidade.
• O ajuste das constantes não é necessariamente trivial e pode ocorrer
problemas de convergência.

Uma outra abordagem tem sido empregada nos trabalhos realizados


na UFRJ. Consite numa adaptação da representação da frente de onda pro-
posta em [7] e mostrada abaixo,

exp( tαft ) −1
i(t) = I 0 (7.8)
exp(α )−1

Onde I0 é a amplitude da corrente de impulso, tf é o tempo de frente


de onda e α é um parâmetro adimensional que permite a representação da
frente de onda.
A figura 7.4 apresenta a frente de onda normalizada para diferentes valo-
res de α. Uma das vantagens dessa formulação reside no fato de que o máximo
da derivada da corrente ocorre simultaneamente com o máximo da corrente,
diferentemente do que ocorre quando se emprega a dupla exponencial ou a
expressão proposta por Heidler. Essa é uma característica útil, pois se apro-
xima da severidade real que é imposta aos isolamentos durante a propagação
da descarga. Além disso, é possível propor condicionantes que permitem que
a forma de onda da descarga tenha um comportamento próximo ao da forma
de onda medida por Berger. Isso consiste em definir a corrente de descarga
através de uma função linear por partes conforme mostra (7.9).

Capítulo 7 209
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

⎧
exp( tf )−1
αt
⎪
⎪ I0 exp(α ) − 1
t ≤ tf
⎪
i(t) = ⎨ I0 tf < t ≤ t1 (7.9)
⎪
⎪ I 0 (1 − tt−t1
2 −t1
) t1 < t ≤ t2
⎪
⎩ 0 t > t2

A figura 7.5 ilustra o comportamento da forma de onda da corrente


considerando α = −6, o tempo tf = 1µs, t1 = 10µs e t2 = 100µs.
Para estudos na região Amazônica, há uma incerteza com relação aos
valores típicos dos parâmetros, devido à escassez de medições. Contudo,
algumas extrapolações podem ser feitas das medições existentes no Brasil
e no exterior. Para os estudos relativos aos sistemas de pouco mais de meio
comprimento de onda, optou-se por usar as seguintes faixas para os parâ-
metros que definem a forma de onda da corrente de descarga,
40 ≤ I0 ≤ 100
1 ≤ tf ≤ 2
(7.10)
10 ≤ t1 ≤ 20
100 ≤ t2 ≤ 120

Onde I0 é expresso em kA, tf, t1 e t2 em µs.

1.0
Α6

0.8 Α4
Α2
Amplitude p.u.

0.6
Α0
0.4 Α2
Α4
0.2 Α6

0.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Tempo em p.u. ttf 

Figura 7.4:  Frente de onda normalizada da forma de onda da corrente de descarga

210 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

7.2.2  Aplicação aos circuitos com pouco


mais de meio comprimento de onda

Apresentamos aqui uma avaliação de diferentes circuitos de pouco


mais comprimento de onda no que se refere à determinação do número de
descargas direta que possam incidir nas possíveis configurações, de forma
a acarretar curtos-circuitos. São consideradas as seguintes configurações

1. Circuito de 800 kV com feixes elípticos.


2. Circuito de 800 kV com feixes circulares.
3. Circuito de 1.000 kV com feixes elípticos.
4. Circuito de 1.000 kV com feixes circulares.

Os detalhes dos arranjos e dos condutores usados foram apresentados


nos capítulos anteriores e não são repetidos aqui. Para avaliação, são consi-
derados os seguintes dados:
2
pθ(θ) = π cos2 θ
csolo = 10β
cfase = 10 (7.11)
d = 0,65
I 0 = 30kA
σ = 0,53

1.0

0.8
Amplitude p.u.

0.6

0.4

0.2

0.0
0 20 40 60 80 100
Tempo Μs

Figura 7.5:  Forma de onda da corrente de descarga

Capítulo 7 211
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Onde ci corresponde à constante que define a distância de salto para os


condutores de fase e cabos para-raios, i.e. rs = c Id0, β é um parâmetro adi-
mensional dado por [2]

β = 0,36 + 0,168 ln (43 − Hm)

Uma vez que a ideia principal é avaliar o comportamento de um circui-


to que atravessa regiões com diferentes níveis ceráunico, a densidade de des-
cargas ao longo da linha de transmissão Ng é considerada desconhecida. Isso
permite uma avaliação comparativa das diferentes topologias de circuito.
A figura 7.6 apresenta as zonas de atração nas condições mencionadas
para o circuito de 800 kV com feixes elípticos. O solo foi considerado plano
e uniforme e sem a presença de estruturas outras que possam ser atingidas
pelas descargas atmosféricas. Para a análise, cada um dos subcondutores
nos feixes foi tratado de forma independente. Considera-se o arranjo dos
condutores nas torres e ao meio do vão. Os cabos para-raios foram consi-
derados como sendo de 3/8” EHS.
O número de descargas incidentes no circuito é obtido pela integração
numérica da densidade de probabilidade, conforme descrito de forma redu-
zida nesse item. Uma outra possível abordagem é o emprego de uma simu-
lação de Monte Carlo onde há um sorteio de configurações possíveis para
as condições de descarga. A comparação realizada com o circuito de 800 kV
com feixes elípticos não indicou uma diferença significativa, uma vez que os
resultados encontrados apresentam valores da mesma ordem de grandeza.
É possível realizar os cálculos empregando eletrodos tridimensionais, mas
nesse caso seria necessário incluir também em detalhe a geometria da torre
e do sistema de aterramento destas. Contudo optou-se por manter a análi-
se bidimensional dada a incerteza nos dados envolvidos, i.e., avaliação de
um circuito cujo traçado não foi estabelecido e, portanto, não há maiores
informações sobre o comportamento da descarga ao longo do circuito. Para
as análises, são ainda consideradas as seguintes hipóteses:

212 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1. Circuito com tensão de 800 kV na frequência industrial.


140

120

100

80

60

40

20

0
100 50 0 50 100

Figura 7.6:  Modelo eletrogeométrico aplicado ao circuito de 800 kV não convencional

2. Comprimento do vão de 500 m.


3. Resistência de aterramento das torres igual a 25 Ω.m.
4. Velocidade de propagação das ondas nos cabos igual a 300 Mm/s.
5. Velocidade de propagação das ondas nas torres igual a 280 Mm/s.
6. Modelagem bidimensional (2D) dos condutores envolvidos e dos
aterramentos das linhas de transmissão por linha sem perdas e re-
sistência.
7. Distribuição estatística das amplitudes das correntes das descar-
gas atmosféricas (negativas), tempos de frente e derivada no tem-
po do tipo log-normal: base medições de Berger e com correlação
bivariável.
8. Distâncias de isolamento junto à torre iguais a 8 m para cada fase.
9. Modelo de captação das descargas pela linha: modelo eletrogeo-
métrico bidimensional conforme proposto em [48] com variação
do ângulo de incidência da descarga.
10. 60% das descargas incidem junto às torres.
11. Não há representação do canal de descarga atmosférica.
12. Não se considera o impacto do efeito coroa na propagação das
ondas de tensão, contudo este poderia ser incluído de forma sim-
plificada caso fosse considerado um raio “aumentado” dos con-
dutores envolvidos.
13. Densidade de descarga atmosférica na região igual a 1 descarga/
km2 por ano.

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A tabela 7.1 apresenta os resultados obtidos para o número de descar-


gas diretas em cada um dos circuitos considerados. A tabela 7.2 apresenta
o cálculo para o número de curto-circuito por 100 km/ano para os quatro
circuitos considerados. A título de verificação, o mesmo tipo de cálculo foi
repetido considerando ondas trafegantes onde tanto as torres quanto os
condutores são considerados sem perdas. Os detalhes desse procedimento
se encontram no apêndice de [38]. Nesse caso, os resultados para o número
de curtos-circuitos por 100 km/ano (Ncc) são:

1. Circuito elíptico, 800 kV, Ncc = 0,80.


2. Circuito elíptico, 1.000 kV, Ncc = 0,89.
3. Circuito circular, 800 kV, Ncc = 0,91.
4. Circuito circular, 1.000 kV, Ncc = 0,96.

Note-se que esses resultados são de ordem da grandeza aproximada aos


resultados encontrados com métodos mais detalhados.

Tabela 7.1:  Número de descargas diretas que atingem os circuitos de pouco mais de
meio comprimento de onda
800 kV 800 kV 1.000 kV 1.000 kV circ.
elip. circ. elip. circ.
fase < 10−3 < 10−3 0,001 0,001
para-raios 20,8 19,6 21,4 22,3

Tabela 7.2:  Número de curtos-circuitos/100 km/ano para os quatro circuitos de pouco


mais de meio comprimento de onda
800 kV 800 kV 1.000 kV 1.000 kV circ.
elip. circ. elip. circ.
fase < 10−4 < 10−4 < 10−4 < 10−4
Para-raios (torre) 0,004 0,004 0,006 0,008
Para-raios (meio vão) 0,64 0,69 0,752 0,786
Para-raios (total) 0,644 0,694 0,757 0,794

7.2.3  Modelagem de linhas de transmissão CC e CA


para estudos envolvendo descargas atmosféricas

A modelagem de linhas de transmissão, seja em corrente contínua ou


em corrente alternada para surtos atmosféricos, é similar à empregada nos
estudos de surtos de manobra. Para a representação adequada, devem ser
considerados o efeito pelicular nos condutores e no solo e a representação

214 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

distribuída dos parâmetros unitários. O que difere os estudos de surtos de


manobra com os estudos envolvendo descargas atmosféricas é com relação
à faixa de frequências envolvidas. Para surtos de manobra, usualmente lida-
mos com frequências da ordem de alguns kHz, e para os surtos atmosféricos
a faixa de frequência pode atingir alguns poucos MHz. Nesse cenário, faz-se
necessário representar o comportamento dos condutores ao longo do vão,
discretizando os condutores de forma a representar as catenárias dos condu-
tores e dos cabos para-raios, e o efeito das estruturas e do aterramento destas.
Para os estudos de transitórios de manobras, há duas possibilidades:

• Representação no domínio da frequência.


• Representação no domínio do tempo.

Conforme mencionado em etapa anterior, a COPPE/UFRJ vem desen-


volvendo ao longo dos anos um programa de transitórios no domínio da
frequência. Desenvolvido empregando-se o MATHEMATICA, esse progra-
ma foi usado anteriormente para verificar a adequação das respostas para
energização da linha de pouco mais de meio comprimento de onda. No seu
atual estágio, o programa permite a representação de condutores em con-
dições e comprimentos arbitrários, incluindo estruturas metálicas, sendo
que nessas duas modelagens são usados eletrodos cilíndricos. O programa,
contudo, permite o cálculo de tensões de toque e passo e cálculo de campos
eletromagnéticos devido às descargas atmosféricas. Alguns elementos cha-
veados, como os circuitos empregados para a representação do efeito coroa,
já estão implementados, mas ainda não há elementos para a utilização de
para-raios de ZnO, resistências não lineares e saturação.
No caso do emprego de programas com base no domínio do tempo
como ATP, PSCAD/EMTDC ou mesmo EMTP-RV, o procedimento é um
pouco distinto, sendo descrito de forma sucinta a seguir:

• Deve-se obter um equivalente dos elementos considerados no do-


mínio da frequência e, a partir da matriz de admitância nodal equi-
valente, realizar uma síntese da resposta em frequência dos elemen-
tos envolvidos.
• A partir da síntese obtida, deve-se verificar se o equivalente é estável
em toda a faixa de frequência e não somente nas bandas onde há a
síntese do equivalente.
• Implementar o equivalente através da realização por espaço de esta-
dos ou por um circuito equivalente com elementos RLCs.

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Há uma preferência pelo uso da realização por espaço de estados, pois é


computacionalmente superior ao emprego de RLCs. Os circuitos RLCs po-
dem apresentar problemas de síntese, conforme mostrado em [19]. No caso
do ATP, para a realização por espaço de estados, demanda a criação de um
programa auxiliar que deve ser “linkado” ao ATP durante a execução. Alguns
detalhes adicionais sobre essa implementação estão apresentadas em [39].

Breve revisão da modelagem de linhas de transmissão,


estruturas metálicas e aterramento no domínio do tempo

A necessidade de simular fenômenos transitórios em larga faixa de fre-


quência exige efetuar a modelagem dos diferentes elementos dos circuitos de
transmissão no domínio da frequência, para sua posterior inclusão em pro-
gramas com base no domínio do tempo, sendo comumente utilizado para is-
so o ajuste por funções racionais e posterior transformação frequência-tempo
dos parâmetros calculados.
No entanto, a aplicação dessa abordagem em programas do tipo EMTP
está limitada a linhas de transmissão, sendo as estruturas metálicas comu-
mente modeladas a partir de sua impedância característica, e os aterramen-
tos a partir de elementos RLC calculados a frequência industrial [43].
No que segue, descreve-se brevemente os principais modelos de circui-
tos de transmissão, utilizados em simulações de transitórios eletromagnéti-
cos no domínio do tempo efetuadas em programas tipo EMTP.
Uma correta modelagem de linhas de transmissão demanda considerar
a variação de seus parâmetros em uma faixa de frequência representativa
da perturbação avaliada.
De acordo com seu desenvolvimento teórico, os principais métodos
de modelagem da linha usados na atualidade se dividem em dois grandes
grupos:

• Modelagem por Admitância Nodal.


• Modelagem pelo Método das Características.

O uso de ambos os modelos em programas de transitórios eletromag-


néticos no domínio do tempo demanda o ajuste de uma amostragem da
resposta em frequência de parâmetros diferentes.
A Modelagem por Admitância Nodal permite calcular a Matriz de Ad-
mitância Nodal (Yn) a partir de um modelo de circuito-π equivalente va-

216 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

riante na frequência, e representar a linha como um sistema multientrada


multissaída. Embora esta abordagem seja principalmente usada em progra-
mas com base no domínio da frequência, possibilita-se sua utilização em
simulações no domínio do tempo, sendo necessário um processo prévio de
imposição da passividade.
A Modelagem pelo Método das Características é a mais usada em pro-
gramas de transitórios eletromagnéticos com base no domínio do tempo.
Utiliza a teoria de ondas trafegantes para modelar a Linha por funções ra-
cionais ajustadas com uma ordem reduzida. Apresenta duas formulações:

• A formulação de fases, que permite modelar a linha em coordena-


das de fases acopladas utilizando sua Admitância Característica (Yc)
e Função de Propagação (H). Utiliza-se esta abordagem nos mode-
los de Linha Idempotente [20, 4], Decomposição Polar [12], Mode-
lo ARMA [26] e no Modelo de Linha Universal (ULM) [25], que é o
modelo de estado da arte para simulações em programas de transi-
tórios eletromagnéticos [23].
• A formulação modal, que utiliza uma matriz de transformação real e cons-
tante para calcular em coordenadas modais desacopladas a Admitância
Característica modal (YC′ ) e a Função de Propagação modal (H′). Esta
abordagem simplificada se utiliza no modelo “JMarti” do EMTP-ATP pa-
ra modelar uma linha de parâmetros variantes na frequência [21].

Em programas tipo EMTP, existe a rotina auxiliar “Line Constants”


para implementar o modelo “JMarti” no EMTP-ATP e o Modelo ULM no
EMTP-RV; no entanto, ambos os modelos carecem da capacidade de mo-
delar a variação da condutividade elétrica (σ) e da permissividade dielétrica
(ε) do Solo com a frequência.
Apesar da representação precisa da Estrutura Metálica na faixa de fre-
quências de interesse dos transitórios eletromagnéticos, requer um mode-
lo variante na frequência calculado a partir das equações de Maxwell e que
considere sua forma geométrica e reticulado estrutural. É prática comum
fazê-la em termos de elementos RLC para possibilitar sua representação em
programas tipo EMTP com um mínimo de dados geométricos.
Os tipos de modelo de estrutura podem ser categorizados em dois gru-
pos: o primeiro, em modelos desenvolvidos a partir de um enfoque teórico,
e o segundo, em modelos desenvolvidos a partir de medições experimentais.
Os primeiros modelos representavam a estrutura metálica mediante
uma linha de transmissão de parâmetros distribuídos sem perdas, defini-

Capítulo 7 217
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da a partir de sua impedância característica e tempo de viagem da onda, e


calculando a estrutura mediante formas geométricas simples como cilin-
dros e cones [47].
Logo, para a modelagem das estruturas metálicas localizadas perto do
ponto de queda do raio em linhas de transmissão e para o cálculo das ten-
sões no corpo da estrutura, requereram-se modelos mais detalhados; para
isso, representa-se cada trecho do corpo da estrutura e cada um dos seus
braços por linhas de transmissão de parâmetros distribuídos sem perdas,
conectadas mutuamente nos seus pontos de união, tendo uma impedância
igual à impedância característica do trecho ou corpo avaliado, e com tem-
pos de viagem da onda superiores àquele da velocidade da luz [13, 22]. Esta
representação tem a desvantagem de requerer passos de tempo muito pe-
quenos, com o risco de ter erros de interpolação.
Finalmente, o modelo “Multistory”, deduzido a partir de resultados ex-
perimentais em estruturas de linhas de transmissão de 500 kV, representa a
estrutura mediante quatro seções de linhas sem perdas de parâmetros dis-
tribuídos conectadas em série, com um ramal R-L em paralelo. No entanto,
segundo [18], sua utilização tal como foi proposta em [17] não é adequada
para representar estruturas de linhas de transmissão.
A modelagem da impedância de aterramento depende da faixa de fre-
quência e módulo da corrente que passa do aterramento para o solo, sendo ne-
cessário se incluir o efeito de ionização do solo para correntes de módulo supe-
rior àquele que origine um gradiente maior que o gradiente disruptivo do solo.
Os primeiros modelos de aterramento, estritamente válidos para cál-
culos a frequência industrial, estavam baseados no uso de circuitos-π de
parâmetros concentrados e mutuamente acoplados para a modelagem de
eletrodos horizontais com resultados reportados como aceitáveis [44]; no
entanto, seu uso na modelagem de aterramentos de geometrias mais com-
plexas mostrou-se pouco prático e de difícil implementação.
Posteriormente e ao longo dos anos, devido ao interesse de simular
transitórios eletromagnéticos, foram desenvolvidos modelos válidos para
correntes de maiores frequências.
Papalexopoulos e Meliopoulos desenvolvem em 1987 um modelo ba-
seado na aplicação da teoria de ondas trafegantes de linhas de transmissão,
mostrando resultados precisos em configurações de eletrodo horizontal
para tempos da ordem de dezenas de microssegundos [27]. Uma vantagem
deste modelo consiste em que pode ser facilmente incluído em programas
tipo EMTP-ATP [24]. Infelizmente, este modelo desconsidera o acoplamen-
to mútuo entre eletrodos [15].

218 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Logo, depois de muitos anos de investigação, Dawalibi publica em 1990


o primeiro modelo de cálculo de aterramentos em que amplia faixa de fre-
quência, deduzido a partir das Equações de Maxwell simplificadas e usan-
do as integrais de Sommerfield em conjunto com transformações tempo-
-frequência e frequência-tempo [10].
Pouco depois, Visacro em 1992 [45], e logo Portela em 1997 [30] e 1999
[32], propõem modelos baseados nas Equações de Maxwell com um me-
nor número de simplificações e que incluem o comportamento variante na
frequência dos parâmetros do solo. Paralelamente, Grcev em 1997 apresen-
ta uma técnica para gerar um modelo de aterramento variante na frequên-
cia em simulações no EMTP-ATP a partir de um modelo de linha “JMarti”
modificado, reportando bons resultados apesar de ser um modelo de difícil
implementação prática [15]. Portanto, é possivel concluir que, apesar de sua
maior precisão, a modelagem pelas Equações de Maxwell apresenta a difi-
culdade da sua inclusão em simulações efetuadas em programas tipo EMTP.
Foi assim que, posteriormente, Montana em 2006 consegue incorporar
o valor da admitância de aterramento de eletrodos horizontais e verticais
em uma faixa de frequência de até dois MHz calculados para solos de pa-
râmetros invariantes na frequência em simulações no EMTP-ATP usando
as rotinas de ajuste vetorial, imposição da passividade e síntese de circuitos
RLC descritas em [5, 11]. É possível realizar a síntese de um circuito RLC
equivalente para o aterramento calculado a partir de um modelo de solo de
parâmetros variantes na frequência [37, 36].
No caso da modelagem de aterramentos, embora na literatura técnica
exista informação sobre a introdução de modelos em programas tipo EMTP
a partir da síntese em circuitos RLC equivalentes [42, 35, 5] ou por outras
modelagens alternativas [24, 15], estes se limitam a modelar o aterramento
com um ponto de injeção de corrente, sendo que um modelo estritamente
mais preciso deve considerar as conexões de cada cabo condutor que se co-
necta da estrutura metálica com um ponto de injeção de corrente individual.
Finalmente, apesar dos diversos desenvolvimentos brevemente aqui
apresentados, a falta de um consenso ou guia padrão para a modelagem
na faixa de frequências das centenas de kHz até os MHz, e a que os progra-
mas tipo EMTP não contam com modelos de aterramento predefinidos de
parâmetros variantes na frequência, é pratica comum usar a resistência de
aterramento calculada a frequência industrial como abordagem “conserva-
dora” na modelagem de transitórios eletromagnéticos de tempos da ordem
de poucas dezenas de microssegundos, faixa onde predomina o efeito de
componentes de frequência maiores [43].

Capítulo 7 219
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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Limitações dos modelos de circuitos de transmissão

Atualmente, para a representação geral de um circuito de transmissão,


os programas do tipo EMTP possuem duas limitações, a saber:

• Incapacidade de representação da variação da condutividade elétri-


ca e da permissividade dielétrica do solo com a frequência, condição
que limita seriamente suas capacidades de modelagem frente a pro-
gramas que trabalham de forma exclusiva no domínio da frequência.
• Limitação à representação apenas do modo TEM ou quase-TEM,
admitindo-se que a propagação transversal do campo eletromagné-
tico é instantânea.

A segunda hipótese implica a impossibilidade da representação de li-


nhas de transmissão não uniformes ou linhas onde os condutores possuem
comprimento da mesma ordem de grandeza que a altura. A representação
das estruturas metálicas tem uma configuração que corresponde a essa úl-
tima condição.
No caso da modelagem de estruturas metálicas, esta vê-se limitada pela
capacidade computacional requerida para processar os elementos estruturais
que definem cada estrutura, condição que obrigou nas décadas passadas ao uso
de modelos simplificados calculados a partir de desenvolvimentos teóricos ou
medições experimentais. Atualmente, estes modelos continuam sendo usados
em favor de um processamento computacional mais rápido e eficiente. Para a
implementação de elementos cujo equacionamento é realizado via eletrodos
cilíndricos em programas de transitórios como o ATP ou PSCAD/EMTDC, é
necessário realizar a síntese da resposta em frequência desses elementos.

Circuito de meia-onda mais 800 kV

A incidência da descarga na torre de um circuito de transmissão ou nos


cabos para-raios origina um fenômeno eletromagnético transitório, que se
propaga pelos cabos para-raios, condutores de fase, pelas estruturas das tor-
res, incluindo estais e também pelo sistema de aterramento. Tal fato origina
sobretensões que, caso superem a tensão suportável do isolamento, haverá
um curto-circuito tipicamente fase-terra. Para o correto dimensionamento
e representação das sobretensões passíveis de ocorrer, um dos pontos im-
portantes é a representação dos aterramentos das estruturas.

220 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Para uma análise mais pormenorizada desses pontos, consideramos o


circuito de 800 kV empregando feixes elípticos. As duas configurações con-
sideradas são mostradas na figura 7.7. Todos os elementos tracejados são
representados via eletrodos cilíndricos, i.e, torres, aterramentos e conduto-
res, os elementos da caixa LT correspondem à representação convencional
da linha de transmissão usando o método das características. Os conduto-
res aéreos são representados considerando a variação dos parâmetros unitá-
rios com a frequência, modelo JMarti no ATP. O primeiro “trecho” de linha
considerado possui 500 m de comprimento, já o segundo possui três km.
Resistores são conectados no terminal da última linha de transmissão para
evitar reflexões espúrias da tensão durante o tempo máximo de simulação.
(a)
(b)

LT LT LT LT

(a) descarga incide na torre e (b) descarga incide nos cabos para-raios ao meio do vão

Figura 7.7:  Estrutura do circuito para análise das sobretensões no caso da incidência
de descarga atmosférica

Como pode-se notar da figura 7.7, um ponto importante é o sistema de


aterramento da torre. No item anterior foi avaliado o número de desligamentos
por 100 km, por ano para o circuito. Os resultados indicam que a resistência de
aterramento, para atender a índices que podem ser considerados aceitáveis deve
estar na ordem de 20 Ω ou menos. Com isso, levando-se em conta a gama de pos-
sibilidade de variação da resistividade do solo, investigamos algumas possíveis
configurações de aterramento das estruturas. Para determinar qual a configura-
ção de cabos contrapesos mais indicada, foi realizado o seguinte procedimento:

• Estruturas metálicas (torres) representadas apenas por uma linha de


transmissão sem perdas e com velocidade de propagação de 290 m/µs.
• Considera-se a incidência da descarga na torre e nos cabos para-raios
sem a presença do canal de descarga. As possíveis configurações do
sistema de aterramento das torres são apresentadas na figura 7.8,
onde o aterramento é realizado por cabos contrapesos enterrados a
0,5 m de profundidade. Os condutores empregados nos cabos con-
trapesos são de cobre e com um raio de 0,5 cm.

Capítulo 7 221
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

As diferentes configurações foram analisadas com relação aos possíveis


comprimentos dos cabos contrapesos, marcações “a” e “b” na figura 7.8. Na
figura 7.8c, os pequenos pontos indicam o ponto de aterramento dos mastros
no anel de equalização. Deve-se atentar que o comprimento dos cabos contra-
pesos deve ser inferior à faixa de servidão da linha de transmissão, portanto
um projeto eficiente de cabo contrapeso pode influenciar na redução da faixa
de servidão em pontos críticos do circuito, onde haja restrição de dimensões.
A tabela 7.3 apresenta as configurações de aterramento testadas. A re-
sistência efetiva do “pé de torre” foi calculada a partir dos eletrodos cilín-
dricos e considerando a frequência dominante da descarga atmosférica na
ordem de centenas de kHz. Esses resultados indicam que, mesmo no caso
de um aumento considerável do comprimento dos cabos contrapesos, não
há uma mudança efetiva do aterramento das estruturas. Isso ocorre porque
a corrente injetada no meio decai rapidamente ao longo do cabo.
Para o primeiro sistema de aterramento, figura 7.8a, a maior dificul-
dade está no surgimento de uma diferença de potencial entre os pontos de
aterramentos dos mastros. Uma alternativa é a conexão dos mastros, a co-
nexão simples dos mastros, conforme mostrado na figura 7.8b, indica que é
possível reduzir o comprimento do cabos contrapesos. Uma solução que se
mostrou mais adequada é o emprego de um “anel de equalização” nos pon-
tos que conectam os mastros, conforme mostra a figura 7.8c.

b
a

(a) configuração #1

b
a

36 m

(b) configuração #2 – conectando os mastros

a 18m

b
(c) configuração #3 – com “anel de equalização”

Figura 7.8:  Aterramento das estruturas metálicas para o circuito de λ /2+ 800 kV

222 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

As configurações foram analisadas ainda com relação ao perfil de ten-


são no solo e com relação a tensões de toque e passo. Os resultados indicam
que a configuração com anel de equalização é a mais adequada produzindo
os menores valores de tensão de passo e toque e o melhor perfil de campo
elétrico na superfície do solo.

Tabela 7.3:  Configurações de aterramento das estruturas metálicas


da torre de 800 kV meia-onda+
a b Rmin
5 20 > 25Ω
10 30 > 25Ω
10 40 > 25Ω
configuração #1
10 50 ≈ 25Ω
10 60 < 20Ω
10 70 < 20Ω
5 20 > 25Ω
10 30 ≈ 25Ω
configuração #2
10 40 < 25Ω
10 50 < 25Ω
5 20 > 25Ω
configuração #3 10 20 ≈ 25Ω
10 30 < 25Ω

Uma vez definido o sistema de aterramento, as torres, estais e cabos de


conexão são calculados considerando novamente os eletrodos cilíndricos.
Tanto os mastros como os cabos são discretizados em pequenos elementos
cilíndricos acoplados, conforme mostra a figura 7.9.

Figura 7.9:  Esquemático da representação dos mastros, estais e cabos de sustentação

Capítulo 7 223
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Como o interesse é apenas nos pontos de conexão entre mastros, estais


e cabos de sustentação, é possível realizar uma redução de nós, levando a re-
presentação da estrutura como um elemento multifásico acoplado. Esse ele-
mento pode ser representado no ATP através da síntese de um circuito RLC
ou pela implementação da integração trapezoidal da integral de convolução.
No caso da representação das estruturas, é possível empregar a síntese via RLC
já que não há elevadas ressonâncias no intervalo de frequência de interesse.
Este mesmo procedimento é realizado para a representação do circuito
aéreo. Contudo, devido às muitas ressonâncias existentes, o mais adequa-
do é o emprego do equivalente de Norton com a discretização da equação
de espaço de estado.
Após a implementacão do sistema no ATP, foram considerados diver-
sos casos de descargas atmosféricas. A descarga é representada por uma fon-
te de corrente em paralelo com uma resistência constante. Para os estudos
aqui considerados, o canal de descarga é representado de forma simplifi-
cada por uma resistência de 400 Ω em paralelo com a corrente de descar-
ga, conforme adotado em [1]. A forma de onda da descarga considerada é
apresentada na figura 7.10. O valor base da corrente de descarga é alterado
conforme o caso. Foram considerados casos onde a amplitude máxima da
descarga chega a 120 kA. Dada a natureza aleatória do comportamento do
solo e das descargas atmosféricas, é realizada a seguinte avaliação:

• Correntes de descarga com amplitude máxima variando de 10 a 120


kA, sorteadas aleatoriamente com resistividade do solo a baixa fre-
quência escolhida de forma aleatória entre 1.000 e 5.000 ohms.metro.

É suposto ainda que as descargas podem incidir na torre ou ao meio


do vão. Para o sorteio dos valores de amplitude da corrente de descarga foi
considerada uma distribuição log-normal, e para o solo considerou-se uma
distribuição normal. Os resultados mostraram que as fases externas estão
sujeitas às maiores solicitações de tensões, conforme ocorre em linhas de
transmissão convencionais. A mediana dos valores das descargas é apro-
ximadamente de 90 kA. Esse tipo de análise é importante para identificar
possíveis falhas de blindagens.

224 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Apresenta-se na figura 7.11 a seguir o resultado do pior caso de sobre-


tensão encontrado que corresponde a uma descarga de 120 kA incidindo
na torre e no meio do vão supondo um solo com resistividade constante
igual a mil ohms.metro. Da figura nota-se que as descargas ao meio do vão
apresentam maiores solicitações à cadeia de isoladores. Isso ocorre porque
nesse caso não há como a estrutura metálica “ajudar” a escoar a corrente
durante os instantes iniciais.

1.0

0.8
Amplitude [p.u]

0.6

0.4

0.2

0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
Tempo [μs]

Figura 7.10:  Forma de onda da corrente de descarga

Após identificar a possibilidade de desligamento durante a ocorrência


de descarga, é importante avaliar o comportamento das tensões no caso da
descarga incidente em um condutor de fase e não nos cabos para-raios, i.e.,
no caso de falha de blindagem. Para tanto, foi necessária uma segunda aná-
lise, considerada aqui apenas de forma determinística. A amplitude máxima
da corrente de descarga é de 90 kA, e solo com resistividade do solo a baixa
frequência igual a mil ohms.metro. A incidência da descarga é considera-
da na fase externa junto à torre e ao meio do vão. As descargas ao meio do
vão apresentaram valores de tensão bem mais elevados que os encontrados
nas descargas incidindo nos cabos para-raios ou nas torres, conforme era
esperado. Uma possibilidade para a mitigação das sobretensões seria o em-
prego de para-raios de linhas. Contudo, esssa investigação não é realizada
nessa pesquisa, haja vista as necessidades maiores de informações sobre o
comportamento de um para-raios de linha em 800 kV.

Capítulo 7 225
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2
Torre
Meio vao
1.5

1
Tensao [MV]

0.5

−0.5

−1
0 5 10 15 20
Tempo [µ s]

Figura 7.11:  Sobretensão na cadeia de isoladores para uma descarga incidindo junto à
torre e nos cabos para-raios ao meio do vão para um circuito de meia-onda+ 800 kV

7.3  Energização da MO+


Este capítulo apresenta os resultados dos estudos de transitórios eletro-
magnéticos de energização de linhas de meia-onda+, tendo como objetivo
complementar e consolidar as soluções apresentadas nos capítulos anteriores.
Conforme mencionado, quatro configurações de linhas foram indica-
das para balizar os estudos referentes à solução de meia-onda+. Tendo em
vista que os estudos de fluxo de potência apontaram as linhas de feixes elíp-
ticos como soluções mais interessantes para o Sistema Elétrico Brasileiro,
por apresentarem potências caraterísticas mais elevadas. Neste documento,
as análises para cada classe de tensão serão iniciadas com as linhas de fei-
xes elípticos. A tabela 7.4 apresenta o resumo das alternativas de linhas de
transmissão identificadas naquele documento. Cabe ressaltar que a análise
do efeito corona não será incluída na simulação da energização.

226 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Tabela 7.4:  Resumo das alternativas preliminares para transmissão em meia-onda+


Nº Tensão nominal Potência característica Forma do feixe Subcondutores/fase
1 800 kV 4,85 GW Elíptico 8
2 800 kV 3,3 GW Circular 6
3 1.000 kV 8,6 GW Elíptico 12
4 1.000 kV 5,2 GW Circular 8

Todos os estudos apresentados foram realizados utilizando a versão


mais atual do PSCAD/EMTDC que, no momento, é a versão 4.4. Essa ver-
são apresenta algumas vantagens em relação à representação de linhas de
transmissão, as que merecem destaque são:

• Possibilidade de representar mais de 10 subcondutores por fase.


• Reutilizar as definições da linha para diferentes trechos.
• Representação do solo com os parâmetros dependentes na frequên-
cia, conforme indicado em [29],[31] e [33].

Para avaliar o modelo do PSCAD/EMTDC, alguns resultados de energi-


zação obtidos com o programa foram comparados com os resultados calcula-
dos através de rotinas e algoritmos desenvolvidos pela equipe da COPPETEC.
Essas rotinas foram desenvolvidas e implementadas com o rigor matemáti-
co apresentado no Apêndice e calculados com o programa Mathematica. A
comparação foi feita a partir de dois tipos de energização da linha em vazio. O
primeiro, a linha é energizada, simultaneamente, por meio de um barramento
“infinito”. O segundo, a mesma linha é energizada por apenas uma das fases,
com as outras fases aterradas. No primeiro método, os modos de propagação
não homopolares têm maior influência na composição da tensão da linha, e
o modo homopolar é praticamente nulo, enquanto que no segundo método
existe a componente homopolar, podendo assim ser analisada.
Como os feixes das fases externas são diferentes do feixe da fase central, é
necessário utilizar torres individuais para representação de cada fase da linha.
Assim, para evitar eventuais erros no processo de eliminação dos cabos para-
-raios, estes foram aterrados externamente à definição da configuração da linha.
A figura 7.12 apresenta as tensões abc no terminal em vazio, quando
a linha é energizada de forma direta, i.e., sem resistor de pré-inserção, si-
multaneamente, por três fontes de tensões ideais. Nota-se que os resulta-
dos obtidos com os dois softwares são, visualmente, coincidentes. A mesma
observação pode ser feita para o segundo tipo de energização, conforme é
mostrado na figura 7.13.

Capítulo 7 227
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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(a) Fase a

(b) Fase b

(c) Fase c

Figura 7.12:  Comparação dos resultados calculados com o Mathematica e o PSCAD, da


energização de uma linha meia-onda+, a partir de um barramento infinito trifásico, (a)
fase a, (b) fase b e (c) fase c

228 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

(a) Fase a

(b) Fase b

(c) Fase c

Figura 7.13:  Comparação dos resultados calculados com o Mathematica e o PSCAD, da


energização de uma linha meia-onda+, a partir de um barramento infinito monofásico e
com as outras fases aterradas, (a) fase a, (b) fase b e (c) fase c

Capítulo 7 229
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Diante dos resultados obtidos, considerou-se adequado o modelo dispo-


nível no PSCAD/EMTDC para as análises de transitórios eletromagnéticos.
Durante os estudos utilizando o PSCAD/EMTDC, foram identificados
alguns problemas na atual versão (v4.4), sendo, o mais importante, o fato de
que o número de mensagens não pode ser superior a mil mensagens. Esse in-
conveniente foi identificado durante os estudos de energização com variação
estatística do tempo de fechamento dos polos dos disjuntores, em que foi utili-
zado o recurso de múltiplas simulações. Esse problema já foi reportado ao su-
porte técnico do desenvolvedor do programa e será resolvido na versão 4.4.1.
Nos estudos realizados, uma linha de comprimento igual a 2.600 km
foi considerada. A linha é dividida em oito trechos de transposição comple-
ta, cada um com o comprimento de 325 km, conforme indicado na figura
7.14. Os resultados são analisados na seção seguinte.

A A
B B
C C

54,16 km 108,33 km 108,33 km 54,16 km


325 km
Figura 7.14:  Trecho de transposição completa considerado nos estudos de
energização da meia-onda+

Três tipos de estudos foram realizados, conforme descrito a seguir.

• Energização com resistor de pré-inserção: esse estudo engloba


as análises de energização da linha a vazio e, para evitar sobreten-
sões muito elevadas, utiliza-se um resistor inserido em série com
a fonte, chamado de resistor de pré-inserção. No caso ideal, o va-
lor ótimo do resistor, cuja sobretensão máxima no terminal é igual
à tensão do terminal emissor, é igual à impedância característi-
ca da linha. Porém, para o caso real de uma linha de pouco mais
de meio comprimento de onda, tendo em vista a resistência, o va-
lor do resistor de pré-inserção pode ser inferior ao da impedância
característica da linha. Nesse estudo, é avaliado o valor mais ade-

230 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

quado do resistor de pré-inserção através de múltiplas simula-


ções, em que se variou o resistor dentro de uma faixa de valores.
Um outro ponto que também deve ser estudado é o tempo em que
o resistor deve ser mantido em série com a linha. Em linhas curtas
convencionais, esse tempo varia entre 8 a 10 ms, tempo suficiente
para que haja algumas reflexões no terminal emissor, o que garante
que o efeito ferranti seja minimizado. Já no caso de uma linha meia-
-onda+, considerando uma linha ideal, o tempo de propagação da
onda entre os dois terminais, é da ordem de 8 ms. Como é necessá-
rio que haja pelo menos uma reflexão no terminal emissor, o tem-
po mínimo para manter o resistor é de 16 ms. Esse tempo irá afetar
diretamente a energia dissipada no resistor. Por isso, também será
apresentada uma análise avaliando o tempo de inserção do resistor.

• Análise estatística: tendo em vista que o não fechamento simultâ-


neo dos polos do disjuntor de energização pode provocar sobreten-
sões, é apresentado um estudo estatístico do fechamento não sincro-
nizado dos polos. Os instantes de fechamento de cada polo foram
considerados independentes entre si e cada um com uma distribui-
ção guassiana, com um atraso máximo de 3ms entre um polo e outro.
Para cada caso analisado, mais de 500 simulações foram realizadas.

• Energização sob curto: esse estudo tem como objetivo avaliar as so-
bretensões ao longo da linha quando esta é energizada na presença
de um curto-circuito. A resistência de falta considerada foi de 10 Ω.

A seguir, são apresentados os principais resultados da análise de tran-


sitórios de energização para todas as alternativas identificadas como poten-
cialmente interessante para a solução de meia-onda+.

7.3.1  Linhas de 800 kV com feixes elípticos

A figura 7.15 mostra o arranjo dos condutores na torre da linha anali-


sada. Os condutores de fase são “Bittern”, e os cabos guarda são de Aço 3/8”.

Capítulo 7 231
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44

Distância Vertical (m)


40

30

24
-15 -10 -5 0 5 10 15
Distância Horizontal (m)
Figura 7.15:  Arranjos dos condutores na torre, para uma linha de 800 kV com feixes
elípticos de oito subcontudores por fase

Energização com pré-resistor

Este estudo é dividido em duas partes. A primeira parte consiste em


avaliar a máxima tensão no terminal a vazio da linha em função do valor
do resistor de pré-inserção para indicar o valor do resistor em que a sobre-
-tensão é menos severa. Após isso, de posse do valor da resistência obtida
no passo anterior, a segunda parte do estudo consiste em avaliar a influência
do tempo de inserção do resistor durante a energização da linha.
Para a primeira parte, considerou-se o fechamento sincronizado do
disjuntor no ponto de máxima tensão na fase a do terminal emissor, e o re-
sistor é mantido por um tempo fixo igual a 19 ms. E o valor da resistência é
variado de 50 Ω a 200 Ω, em passos de 2,5 Ω. A figura 7.16 mostra o valor
da máxima tensão no terminal em vazio normalizado em relação à tensão
do terminal emissor. Para indicar o valor mais adequado de resistor, é im-
portante analisar a energia dissipada nos resistores de cada fase. A figura
7.17 mostra a energia dissipada em cada resistor durante a energização da
linha. Avaliando os resultados apresentados nas figuras 7.16 e 7.17, o valor
escolhido para a resistência de pré-inserção foi o de 77,5 Ω.

232 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.16:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.17:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

O segundo passo da análise consiste em avaliar a influência do tempo


de permanência do resistor durante a energização. Os mesmos critérios de
energização foram considerados, isto é, fechamento sincronizado dos po-
los no ponto de máxima tensão da fase a da fonte, e com a resistência de
pré-inserção de 77,5 Ω. O tempo de permanência do resistor foi variado de
5 ms a 20 ms, em passos de 0,5 ms. As figuras 7.18 e 7.19 mostram a máxima
tensão no terminal receptor e a energia dissipada em cada resistor, respec-
tivamente. Nota-se que a máxima tensão é mais severa quando o tempo de
pré-inserção é inferior a 18 ms, e para valor mais elevado a máxima tensão
permanence inalterada e aproximadamente igual a 1,3 pu.

Capítulo 7 233
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Figura 7.18:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.19:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

Para tempo de pré-inserção inferior a 18 ms, a máxima tensão será pró-


xima a 1,9 a 2,0 pu mesmo para valores diferentes de resistência, conforme
indicado na figura 7.20. Por outro lado, o tempo de pré-inserção reflete di-
retamente na energia dissipada na resistência, como pode ser observado na
figura 7.21. É possível notar que existe um compromisso entre a máxima ten-
são e a energia dissipada, o que indica que o valor do resistor é determinado
por fatores econômicos, pois será função da máxima tensão admissível e da
máxima energia dissipada durante o processo de energização.

234 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.20:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.21:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

Capítulo 7 235
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Análise estatística

Um outro ponto que deve ser analisado em termos de transitórios ele-


tromagnéticos durante a energização da linha é a possibilidade de o fecha-
mento dos polos do disjuntor não ser sincronizado, pois a exigência do sin-
cronismo representa maiores custos na especificação do disjuntor. Então,
para avaliar as consequências do fechamento não sincronizado, uma análise
estatística com mais de 500 simulações foi realizada. Os instantes de fecha-
mento de cada polo, após o comando de fechamento do disjuntor, foram
sorteados seguindo uma distribuição normal entre os valores 0 e 3 ms, con-
forme indicado na figura 7.22.

(a) tA

(b) tb (c) tc
Figura 7.22:  Distribuição dos tempos de fechamento dos polos utilizados no estudo
estatístico

A figura 7.23 mostra a densidade de probabilidade da distribuição das má-


ximas tensões obtidas no estudo estatístico. Nota-se que a distribuição tem ade-
rência guassiana, sendo a média µ = 1,35464 pu e o desvio padrão σ = 0,0466857.

236 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.23:  Densidade de probabilidade de máximas tensões

Energização sob curto

É importante avaliar as tensões máximas ao longo da linha, quando


energizada na presença de um curto-circuito. Nos estudos de energização
sob curto, foi considerado um curto fase-terra na fase a com uma resistên-
cia de 10 Ω, localizada em diferentes pontos ao longo da linha. Foi consi-
derada a energização com o fechamento sincronizado dos polos no ponto
de máxima tensão da fase a da fonte, e com a resistência de pré-inserção de
77,5  Ω. A figura 7.24 mostra a máxima tensão ao longo da linha em função
da localização da falta. A sobretensão é mais severa quando existe um curto
localizado a 1.950 km do terminal emissor.

Figura 7.24:  Máxima tensão na linha em função da localização de uma falta


monofásica, distância em relação ao terminal emissor da linha

Capítulo 7 237
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7.3.2  Linhas de 800 kV com feixes circulares

A figura 7.25 mostra o arranjo dos condutores na torre da linha ana-


lisada para a linha de 800 kV com feixes circulares de seis condutores por
fase. Os condutores de fase são “Rail” e os cabos guarda são de Aço 3/8”.

50
Distância Vertical m

45

40

35

30
20 15 10 5 0 5 10 15 20
Distância Horizontal m
Figura 7.25:  Arranjos dos condutores na torre, para uma linha de 800 kV com feixes
circulares de seis subcontudores por fase

Energização com pré-resistor

A mesma metodologia apresentada no item anterior será utilizada para


indicar o valor mais adequado para o resistor de pré-inserção. Inicialmente,
foi considerado o fechamento sincronizado dos polos do disjuntor de ener-
gização e, após 19 ms, o resistor é retirado através de um curto-circuito. O
valor do resistor foi variado entre 50 e 200 Ω, em passos de 2,5Ω. A figura
7.26 apresenta o valor da máxima tensão ao longo da linha em função do
valor da resistência. Esse valor é o maior valor máximo das tensões trifásicas
“medidas” em diferentes pontos da linha desde o instante de energização até
um tempo de 200 ms. O critério utilizado para definir o valor do resistor de
pré-inserção baseou-se na máxima tensão e no valor da energia dissipada
nos resistores. A figura 7.27 mostra a energia dissipada em função do valor
da resistência. De acordo com a figura 7.26, a máxima tensão ao longo da
linha decresce à medida que a resistência de energização aumenta, porém, a
partir de 130 Ω esse decréscimo torna-se pequeno. Tendo em vista a energia
dissipada, o valor de 130 Ω foi escolhido como sendo o mais adequado para
ser utilizado na energização da linha, com base nas condições analisadas.

238 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.26:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.27:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

Como o objetivo de reduzir a energia dissipada, o tempo de inserção


do resistor também foi avaliado. A figura 7.28 mostra a máxima tensão em
função do tempo de inserção do resistor de 130 Ω, e a figura 7.29 mostra a
energia dissipada. Nota-se que, para valores de tempo de inserção inferio-
res a 18 ms, o resistor de pré-inserção não reduz o valor da máxima tensão,
cujos valores variam entre 1,9 a 2,0 pu. Para valores superiores a 18 ms, a
máxima tensão é praticamente constante e igual a 1,18 pu. Diante disso, o
tempo indicado para a linha analisada é de 18 ms.

Capítulo 7 239
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.28:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.29:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

240 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Análise estatística

A figura 7.30 mostra a distribuição dos instantes de fechamento dos


polos, a partir do ponto de máxima tensão da fase a da fonte.

(a) tA

(b) tb (c) tc
Figura 7.30:  Distribuição dos tempos de fechamento dos polos utilizados no estudo
estatístico

A figura 7.31 mostra a densidade de probabilidade da distribuição das


máximas tensões obtidas no estudo estatístico. A função de distribuição é
uma gaussiana com média µ = 1,27037 pu e desvio padrão de σ = 0,049614.

Capítulo 7 241
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.31:  Densidade de probabilidade de máximas tensões

Energização sob curto

Nos estudos de energização sob curto, foi considerado um curto fase-


-terra na fase a com uma resistência de 10 Ω, localizada em diferentes pon-
tos ao longo da linha. Foi considerada a energização com o fechamento sin-
cronizado dos polos no ponto de máxima tensão da fase a da fonte, e com a
resistência de pré-inserção de 130 Ω. A figura 7.32 mostra a máxima tensão
ao longo da linha em função da localização da falta. A sobretensão é mais
severa quando existe um curto localizado a 1.950 km do terminal emissor,
sendo inferior a 2,5 pu.

Figura 7.32:  Máxima tensão na linha em função da localização de uma falta


monofásica, distância em relação ao terminal emissor da linha

242 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

7.3.3  Linhas de 1.000kV com feixes elípticos

A figura 7.33 mostra o arranjo dos condutores na torre da linha ana-


lisada para a linha de 1.000 kV com feixes elípticos. Os condutores de fase
são “Rail” e os cabos guarda são de Aço 3/8”.

55

50
Distância Vertical m

45

40

35

30
20 15 10 5 0 5 10 15 20
Distância Horizontal m
Figura 7.33:  Arranjos dos condutores na torre, para uma linha de 1.000 kV com feixes
elípticos de 12 subcontudores por fase

Energização com pré-resistor

Para definição do valor de resistor de pré-inserção, os mesmos crité-


rios anteriores foram adotados, i.e., fechamento sincronizado no ponto de
máximo valor da tensão na fase a da fonte com tempo de inserção de 19 ms.
O valor da resistência de pré-inserção foi variado de 50 a 200 Ω, em passos
de 2,5 Ω, correspondendo a valores entre 40% a 170% da impedância ca-
racterística da linha (parte real). A figura 7.34 apresenta os valores de má-
xima tensão em função do valor da resistência de pré-inserção, e a figura
7.35 mostra a energia dissipada por fase para os valores correspondentes de
resistores. O valor da máxima tensão decresce à medida que se aumenta o
valor da resistência de pré-inserção, até o valor de 97,5 Ω, porém, a partir
do valor de resistência de 72,5 Ω, esse decréscimo não é tão significativo.
Dessa forma, o valor do resistor de pré-inserção foi de 72,5Ω, por corres-
ponder à menor energia dissipada.

Capítulo 7 243
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.34:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.35:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

Da mesma forma que nos casos anteriores, o tempo de inserção não deve
ser inferior a 18 ms. Depois desse tempo de inserção, a máxima tensão é apro-
ximadamente 1,26 pu, conforme indicado na figura 7.36. A figura 7.37 mos-
tra a energia dissipada por fase em função do tempo de inserção do resistor.

244 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.36:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.37:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

Capítulo 7 245
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Análise estatística

A figura 7.38 mostra a distribuição dos instantes de fechamento dos


polos, a partir do ponto de máxima tensão da fase a da fonte.

(a) tA

(b) tb (c) tc
Figura 7.38:  Distribuição dos tempos de fechamento dos polos utilizados no estudo
estatístico

A figura 7.39 mostra a densidade de probabilidade da distribuição das


máximas tensões obtidas no estudo estatístico. Nota-se que a distribuição
dos valores de máxima tensão tem aderência gaussiana, sendo a média µ =
1,34524 pu e desvio padrão de σ = 0,0303675.

246 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.39:  Densidade de probabilidade de máximas tensões

Energização sob curto

Nos estudos de energização sob curto para linha de 1.000 kV com fei-
xes elípticos, foi considerado um curto fase-terra na fase a com uma resis-
tência de 10 Ω, localizada em diferentes pontos ao longo da linha. Foi con-
siderada a energização com o fechamento sincronizado dos polos no ponto
de máxima tensão da fase a da fonte, e com a resistência de pré-inserção de
72,5 Ω. A figura 7.40 mostra a máxima tensão ao longo da linha em função
da localização da falta. A sobretensão é mais severa quando existe um curto
localizado a 1.950 km do terminal emissor.

Figura 7.40:  Máxima tensão na linha em função da localização de uma falta


monofásica, distância em relação ao terminal emissor da linha

Capítulo 7 247
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

7.3.4  Linhas de 1.000 kV com feixes circulares

A figura 7.41 mostra o arranjo dos condutores na torre da linha de


1.000 kV com feixes circulares de oito condutores por fase. Os condutores
de fase são “Ortolan”, e os cabos guarda são de Aço 3/8”.

55
Distância Vertical m

50

45

40

35
20 15 10 5 0 5 10 15 20
Distância Horizontal m
Figura 7.41:  Arranjos dos condutores na torre, para uma linha de 1.000k V com feixes
circulares de oito subcontudores por fase

Energização com resistor de pré-inserção

A definição do valor da resistência de pré-inserção seguiu os mesmos cri-


térios anteriores adotados, i.e., fechamento sincronizado no ponto de máximo
valor da tensão na fase a da fonte com tempo de inserção de 19 ms. O valor
da resistência de pré-inserção foi variado de 50 a 200 Ω, em passos de 2,5 Ω.
A figura 7.42 apresenta os valores de máxima tensão em função do valor da
resistência de pré-inserção, e a figura 7.43 mostra a energia dissipada por fase
para os valores correspondentes de resistores. Da mesma forma, como indica-
do nos casos anteriores, o valor da máxima tensão decresce à medida que se
aumenta o valor da resistência de pré-inserção até o valor de 165 Ω, que cor-
responde a 85% da impedância característica. Porém, a partir de 120 Ω, esse
decréscimo não é tão significativo. Dessa forma, o valor do resistor de pré­
inserção foi de 120 Ω, por corresponder à menor energia dissipada.

248 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.42:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.43:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

A figura 7.44 mostra a máxima tensão em função do tempo de inser-


ção do resistor de 120 Ω. Nota-se que a partir de 18,5 ms a máxima tensão
é aproximadamente igual a 1,20 pu, e tal valor de tempo foi utilizado nos
estudos subsequentes. A energia dissipada em função do tempo de inserção
do resistor é mostrada na figura 7.45.

Capítulo 7 249
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.44:  Máxima tensão no terminal em vazio da linha em função da resistência de


pré-inserção

Figura 7.45:  Energia dissipada nos resistores de fase em função do valor da resistência
de pré-inserção

Análise estatística

A figura 7.46 mostra a distribuição dos instantes de fechamento dos


polos, a partir do ponto de máxima tensão da fase a da fonte.

250 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

(a) tA

(b) tb (c) tc
Figura 7.46:  Distribuição dos tempos de fechamento dos polos utilizados no estudo
estatístico

A figura 7.39 mostra a densidade de probabilidade da distribuição das


máximas tensões obtidas no estudo estatístico. Nota-se que a distribuição
dos valores de máxima tensão tem aderência gaussiana, sendo a média µ =
1,29838 pu e desvio padrão de σ = 0,0494516.

Figura 7.47:  Densidade de probabilidade de máximas tensões

Capítulo 7 251
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Energização sob curto

Nos estudos de energização sob curto, foi considerado um curto fase­


terra na fase a com uma resistência de 10 Ω, localizada em diferentes pon-
tos ao longo da linha. Foi considerada a energização com o fechamento sin-
cronizado dos polos no ponto de máxima tensão da fase a da fonte, e com a
resistência de pré-inserção de 120 Ω. A figura 7.48 mostra a máxima tensão
ao longo da linha em função da localização da falta. A sobretensão é mais
severa quando existe um curto localizado a 1.950 km do terminal emissor.

Figura 7.48:  Máxima tensão na linha em função da localização de uma falta


monofásica, distância em relação ao terminal emissor da linha

7.4  Transitórios eletromecânicos


O objetivo desta seção é avaliar o desempenho de linhas de transmis-
são com mais de meio comprimento de onda (MO+), integrando a Usina de
Belo Monte ao SIN. Para isso, serão apresentados resultados de simulações
realizadas no ANATEM, com o intuito de avaliar o desempenho dinâmico
de alguns cenários apresentados no capítulo 6.
A análise dinâmica do sistema considerou os casos listados na tabela
7.5. Nas análises realizadas, foram observadas as variações de carregamen-
to em alguns trechos do SIN e tensões.

252 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Tabela 7.5:  Casos simulados


Linhas de transmissão em 1.000 kV com feixes elípticos
Caso 1 Duas LTs MO+ chegando a Assis
Linhas de transmissão em 800 kV com feixes elípticos
Caso 2 Duas LTs λ /2+ chegando a Assis

7.4.1  Caso 1: duas LTs MO+ chegando a Assis

O cenário analisado considera que a conexão da Usina Hidrelétrica de


Belo Monte ao SIN é feita a partir da SE Xingu através de circuitos de li-
nhas de transmissão MO+ em 1.000 kV, como mostrado na figura 7.49. Es-
sas linhas interligam as subestações Xingu e Assis. A capacidade instalada
na Usina Hidrelétrica de Belo Monte é de 11.000 MW.

Figura 7.49:  Caso 1 - Duas LTs MO+ chegando a Assis

• Perda de uma linha de transmissão MO+.

A figura 7.50 mostra a representação das linhas de transmissão MO+


interligando Xingu a Assis, com algumas informações sobre sua operação
em regime permanente. Conforme mostrado, cada uma das linhas de trans-

Capítulo 7 253
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

missão foi dividida em oito trechos. Os fluxos de potência transmitidos pe-


las linhas de transmissão MO+ diante da perda de uma dessas linhas no ins-
tante t = 2 s são mostrados na figura 7.51. Neste caso, o fluxo de potência na
linha remanescente é de aproximadamente 8.300 MW. As tensões ao longo
da linha de transmissão remanescente, numeradas de 70.010 a 70.018, são
mostradas na figura 7.52.

XINGU--PA500
10008 70001 70002 70003 70004 70005
4790.9 -4790.9 4790.9 -4753.2 4753.2 -4694.1 4694.1 -4592.5 4592.5 -4457.1
-1034.4j 1183.8j -1183.8j -1675.5j 1675.5j -3332.2j 3332.2j -2658.0j 2658.0j -113.7j
1.021 1.053 1.031 0.879 0.655

1.068

ASSIS--SP500
4282
MO6-1000
70009 70008 70007 70006
-4125.8 4125.8 -4125.8 4157.0 -4157.0 4215.9 -4215.9 4320.1 -4320.1 4457.1
-529.6j 636.4j -636.4j -2170.1j 2170.1j -3550.6j 3550.6j -2565.0j 2565.0j 113.7j
1.050 0.975 1.027 0.994 0.833 0.614 0.511

Figura 7.50:  Caso 1 – Interligação Xingu-Assis.

Figura 7.51:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência na linha de
transmissão MO+ diante da perda de uma linha de transmissão MO+.

Figura 7.52:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Tensões ao longo da linha MO+
diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+

254 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Na figura 7.53 é mostrado o fluxo de potência no trecho Colinas-Mira-


cema da interligação Norte/Sul. A perda de uma das linhas de transmissão
MO+ não alterou significativamente o carregamento nesse trecho do SIN.
No trecho Xingu-Tucuruí, figura 7.54, observa-se que houve uma re-
dução significativa no carregamento.

• Curto na Barra Xingu seguido da Perda da LT Xingu-Tucuruí

A figura 7.55 apresenta os fluxos de potência nos dois circuitos do tre-


cho Xingu-Tucuruí diante da ocorrência de um curto-circuito na Barra Xin-
gu seguida da saída do circuito 1 desse trecho.

Figura 7.53:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Colinas-Miracema da interligação Norte/Sul diante da perda de uma das linhas de
transmissão MO+

Figura 7.54:  Duas LTs MO+ 1000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Xingu/Tucuruí diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+

Capítulo 7 255
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.55:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Xingu/Tucuruí diante da ocorrência de um curto-circuito em Xingu seguido da perda de
um dos circuitos do trecho Xingu-Tucuruí

Devido à perda de um dos circuitos do trecho Xingu-Tucuruí, ocorre


uma diminuição no carregamento das linhas de transmissão MO+, figura
7.56. O perfil de tensão ao longo de uma das linhas de transmissão MO+ é
mostrado na figura 7.57. O fluxo de potência do trecho Colinas-Miracema
da interligação Norte/Sul é mostrado na figura 7.58.

Figura 7.56:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Xingu seguido da perda
de um dos circuitos do trecho Xingu-Tucuruí

256 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.57:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Tensões na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Xingu seguido da perda
de um dos circuitos do trecho Xingu-Tucuruí

Figura 7.58:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência em um dos
circuitos da interligação Norte/Sul diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+

• Curto na Barra Assis seguido da Perda da LT Assis-Marimbondo

A figura 7.59 mostra o fluxo de potência nas linhas de transmissão


MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da per-
da do trecho Assis-Marimbondo. Observa-se uma pequena diminuição no
carregamento dessas linhas. As tensões ao longo de uma das linhas de trans-
missão MO+ são mostradas na figura 7.60.

Capítulo 7 257
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.59:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis, com abertura do
trecho Assis-Marimbondo

Figura 7.60:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Tensões na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis, com abertura do
trecho Assis-Marimbondo

O fluxo de potência de um dos circuitos no trecho Colinas-Miracema


da interligação Norte/Sul é mostrado na figura 7.61. A tensão em Araraqua-
ra diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda do
trecho Assis-Marimbondo é mostrada na figura 7.62.
O fluxo de potência no trecho Xingu-Tucuruí para este caso é mostra-
do na figura 7.63

258 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.61:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Colinas-Miracema da interligação Norte/Sul da ocorrência de um curto-circuito em
Assis, com abertura do trecho Assis-Marimbondo

Figura 7.62:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Tensão em Araraquara diante
da ocorrência de um curto-circuito em Assis, com abertura do trecho Assis-Marimbondo

Figura 7.63:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Xingu/Tucuruí diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+, com abertura do
trecho Assis-Marimbondo

Capítulo 7 259
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

• Curto na Barra Assis seguido da perda de uma das LTs Assis-Londrina

A figura 7.64 mostra o fluxo de potência nas linhas de transmissão


MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda
de uma das linhas Assis-Londrina. Observa-se uma pequena diminuição
no carregamento dessas linhas. As tensões ao longo de uma das linhas de
transmissão MO+ são mostradas na figura 7.65

Figura 7.64:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda
de uma das LTs Assis-Londrina

Figura 7.65:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Tensões na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda
de uma das LTs Assis-Londrina

No trecho Xingu-Tucuruí, figura 7.66, observa-se que houve uma re-


dução no carregamento.

260 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.66:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Xingu/Tucuruí diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+

O fluxo de potência no trecho Colinas-Miracema da interligação Nor-


te/Sul é mostrado na figura 7.67. A tensão em Araraquara diante da ocor-
rência de um curto-circuito em Assis seguido da perda do trecho Assis­
Londrina é mostrada na figura 7.68.

Figura 7.67:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Colinas-Miracema da interligação Norte/Sul da ocorrência de um curto-circuito em Assis
seguido da perda de uma das LTs Assis-Londrina

Capítulo 7 261
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.68:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Tensão em Araraquara diante da
ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda de uma das LTs Assis-Londrina

7.4.2  Caso 2: duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis

A figura 7.69 mostra que a conexão da Usina Hidrelétrica de Belo Mon-


te ao SIN é feita a partir da SE Xingu através de circuitos de linhas de trans-
missão MO+ em 800 kV, interligando as subestações Xingu e Assis.

Figura 7.69:  Caso 2 – Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis

A figura 7.70 mostra representação das linhas de transmissão MO +


800 kV interligando Xingu a Assis, com cada uma das linhas de transmis-
são dividida em oito trechos.

262 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.70:  Caso 2 – Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis

• Perda de uma linha de transmissão MO+

Os fluxos de potência transmitidos pelas linhas de transmissão MO+,


diante da perda de uma dessas linhas no instante t = 2 s, são mostrados na
figura 7.71. Neste caso, o fluxo de potência na linha remanescente é de apro-
ximadamente 8.000 MW. As tensões ao longo da linha de transmissão re-
manescente são mostradas na figura 7.72. Muito embora, nesse caso, ocor-
ram sobretensões sustentadas da ordem de 1,6 pu, e em condições reais de
operação essa sobretensão será reduzida em virtute das perdas por corona.
Cabe frisar que as sobretensões são mais severas na região central da linha.
Para reduzir a probabilidade de haver escorvamento de tensão, uma pos-
sível solução seria o reforço do isolamento na região de sobretensões mais
severas. Dessa forma, de acordo com as considerações anteriores, a perda de
uma linha não compromete a operação dessa configuração de MO+ no SIN.
No trecho Xingu-Tucuruí, figura 7.73, observa-se que houve uma re-
dução significativa no carregamento.

Figura 7.71:  Duas LTs λ /2+ 800 kV chegando a Assis – Fluxos de potência na linha de
transmissão MO+ diante da perda de uma linha de transmissão MO+

Capítulo 7 263
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.72:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis - Tensões ao longo da linha MO+
diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+

Figura 7.73:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis - Fluxos de potência no trecho
Xingu/Tucuruí diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+

• Curto na Barra Xingu seguido da perda da LT Xingu-Tucuruí

Os fluxos de potência nos dois circuitos do trecho Xingu-Tucuruí dian-


te da ocorrência de um curto-circuito na Barra Xingu seguida da saída do
circuito 1 desse trecho são mostrados na figura 7.74.

264 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.74:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis - Fluxos de potência no trecho
Xingu-Tucuruí diante da ocorrência de um curto-circuito em Xingu seguido da perda de
um dos circuitos do trecho Xingu-Tucuruí

Neste caso, a perda de um dos circuitos do trecho Xingu-Tucuruí tam-


bém implica diminuição no carregamento das linhas de transmissão MO+,
figura 7.75. O perfil de tensão ao longo de uma das linhas de transmissão
MO+ é mostrado na figura 7.76.

Figura 7.75:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis - Fluxos de potência na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Xingu seguido da perda
de um dos circuitos do trecho Xingu-Tucuruí

Capítulo 7 265
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.76:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis - Tensões na linha de transmissão
MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Xingu seguido da perda de um dos
circuitos do trecho Xingu-Tucuruí

O fluxo de potência do trecho Colinas-Miracema da interligação Nor-


te/Sul é mostrado na figura 7.77.

Figura 7.77:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis - Fluxos de potência em um dos
circuitos da interligação Norte/Sul diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+

• Curto na Barra Assis seguido da perda da LT Assis-Marimbondo

A figura 7.78 mostra o fluxo de potência nas linhas de transmissão


MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito na Barra Assis seguido da
perda do trecho Assis-Marimbondo. Observa-se uma pequena diminuição
no carregamento dessa linha. Tensões ao longo de uma das linhas de trans-
missão MO+ são mostradas na figura 7.79
O fluxo de potência de um dos circuitos no trecho Colinas-Miracema
da interligação Norte/Sul é mostrado na figura 7.80. A tensão em Arara-
quara diante da ocorrência de um na Barra Assis seguido da perda da LT
Assis-Marimbondo é mostrada na figura 7.81.

266 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.78:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Fluxos de potência na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda
do trecho Assis-Marimbondo

Figura 7.79:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Tensões na linha de transmissão
MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda do trecho
Assis-Marimbondo

Figura 7.80:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Colinas-Miracema da interligação Norte/Sul da ocorrência de um curto-circuito em Assis
seguido da perda do trecho Assis-Marimbondo

Capítulo 7 267
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.81:  Duas LTs MO+ 1.000 kV chegando a Assis – Tensão em Araraquara diante da
ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda do trecho Assis-Marimbondo

O fluxo de potência no trecho Xingu-Tucuruí para este caso é mostra-


do na figura 7.82.

Figura 7.82:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Xingu/Tucuruí diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda do
trecho Assis-Marimbondo

• Curto na Barra Assis seguido da perda de uma das LTs Assis-Londrina

A figura 7.83 mostra o fluxo de potência nas linhas de transmissão


MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda
de uma das linhas Assis-Londrina. Observa-se uma pequena diminuição no
carregamento dessa linha. As tensões ao longo de uma das linhas de trans-
missão MO+ são mostradas na figura 7.84.

268 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 7.83:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Fluxos de potência na linha de
transmissão MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda
de uma das LTs Assis-Londrina

Figura 7.84:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Tensões na linha de transmissão
MO+ diante da ocorrência de um curto-circuito em Assis seguido da perda de uma das
LTs Assis-Londrina

No trecho Xingu-Tucuruí, figura 7.85, observa-se que houve uma re-


dução no carregamento.
O fluxo de potência no trecho Colinas-Miracema da interligação Nor-
te/Sul é mostrado na figura 7.86. A tensão em Araraquara diante da ocor-
rência de um curto-circuito em Assis seguido da perda de uma das LTs As-
sis- Londrina é mostrada na figura 7.87.

Capítulo 7 269
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 7.85:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Xingu/Tucuruí diante da perda de uma das linhas de transmissão MO+

Figura 7.86:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Fluxos de potência no trecho
Colinas-Miracema da interligação Norte/Sul da ocorrência de um curto-circuito em Assis
seguido da perda de uma das LTs Assis-Londrina

Figura 7.87:  Duas LTs MO+ 800 kV chegando a Assis – Tensão em Araraquara diante da
ocorrência de um curto- circuito em Assis seguido da perda de uma das LTs Assis-Londrina

270 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

7.4.3 Comentários

Os estudos de desempenho dinâmico realizados, considerando diferen-


tes cenários para a avaliação de linhas de transmissão MO+ na transmissão
de energia a longas distâncias, demonstraram a viabilidade técnica dessas li-
nhas, mesmo em cenários originalmente preparados para transmissão CC.
Como visto, essas linhas apresentam flexibilidade limitada, necessitando de
controladores (por exemplo, defasadores) para ter a mesma flexibilidade da
transmissão CC. A sessão a seguir apresenta uma investigação do compor-
tamento das tensões sustentadas no caso de um circuito MO+.

7.5  Efeito corona na propagação de sinais lentos


O efeito coroa afeta diversos fenômenos que ocorrem em uma linha de
transmissão, desde surtos atmosféricos até mesmo à operação em regime
permanente. A inclusão desse efeito é importante, pois permite uma melhor
adequação da coordenação de isolamento do circuito e evita superdimen-
sionamento das distâncias de isolamento e dos níveis de tensão que podem
vir a ocorrer no circuito.
O efeito corona, ou coroa, está associado à ionização do ar devido ao
campo elétrico na vizinhança dos condutores. Devido à intensidade elevada
do campo gerado pelos condutores, há a emissão fotônica, podendo ocor-
rer em parte no espectro visível. É por essa razão que ocorre a formação de
uma coroa luminosa em torno do condutor. O efeito coroa está relacionado
com a formação de cargas espaciais que afetam o campo elétrico na região
em que ocorre a ionização e também em pontos afastados.
As irregularidades da superfície do condutor, que podem ter diversas
causas, acarretam um aumento do campo elétrico, levando a uma ionização
localizada, antecendo, assim, a formação de um efeito coroa generalizado
na superfície do condutor. Portanto, esse efeito é bastante afetado pelo es-
tado da superfície do condutor, inclusive com relação à umidade e outros
fenômenos que acarretem alterações locais do campo elétrico na região que
se encontra próxima aos condutores. Um dos problemas atuais é a determi-
nação correta da incepção, i.e., do instante inicial que dá origem a um com-
portamento mais “intenso” do efeito coroa.
Podemos associar alguns fenômenos ao efeito coroa como:

Capítulo 7 271
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• Perdas, o efeito coroa acarreta na alteração da condutância do ar, mo-


dificando-se assim as correntes transversais da linha de transmissão.
• Impulsos de corrente transversal, responsáveis pela propagação e
radiação de impulsos eletromagnéticos guiados pela linha de trans-
missão capazes de provocar interferência eletromagnética em largo
espectro de frequências, incluindo-se aí radiointerferência e inter-
ferência de televisão.
• Dissipação ou absorção de energia relacionada aos mecanismos de
ionização e à absorção de cargas e à difusão, originando flutuações
rápidas de temperatura e pressão locais do ar, especialmente na vizi-
nhança imediata dos condutores, originando ruídos audíveis.
• Efeito de uma coroa na vizinhança do condutor, “corona visual”.
• Formação de íons.

Basicamente, a ionização associada ao efeito coroa pode ser analisada a


partir do campo elétrico em partículas ionizadas, empregando-se modelos
como o de Bohr para os átomos. Portanto, na presença de campos elétricos
intensos, há uma aceleração de elétrons que ao se chocar com outros áto-
mos ocasionam a liberação de outros elétrons, podendo ocorrer na emissão
de fótons levando à ionização do meio. Como esse processo tende a um au-
mento essencialmente crescente, é comum se referir a este como um pro-
cesso em avalanche.
No caso de tensão alternada à frequência industrial, o valor de pico
do campo elétrico para qual ocorre o início do efeito coroa pode ser obti-
do por formulações similares à de Peek. Vale lembrar que o trabalho de Pe-
ek é válido para condutores de um mm de raio, estando aquém dos valores
de raios dos condutores empregados na transmissão de grandes blocos de
energia. A fórmula de Peek apresenta uma inconsistência, pois com um au-
mento do raio do condutor, o campo elétrico tende a um valor de campo
crítico de 3,1 MV/m, enquanto que, na verdade, esse valor deveria tender
a 2,43 MV/m, que corresponde ao valor de disruptura do campo elétrico
no ar para campos uniformes. Conforme no caso do projeto do circuito de
pouco mais de meio comprimento de onda, adota-se a seguinte expressão
para determinar o campo crítico,

2
1 ⎛ E ⎞ ⎛ E E ⎞
= −A0 ⎜ cr −1⎟ + A1 Ecr ⎜ cr −1− ln cr ⎟ (7.12)
r ⎝ E0 ⎠ ⎝ E0 E0 ⎠

272 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Onde E0 = 2,438 MV/m, e os parâmetros Ai são ajustados de acordo com


os dados experimentais de Peek, sendo A0 = 829,70 m−1 e A1 = 781,53 MV−1.
Um outro ponto importante é que o comportamento do efeito coroa em
corrente alternada é bastante distinto do comportamento para corrente con-
tínua. O valor do campo elétrico, a partir do qual há a incepção do efeito co-
roa, depende da sua polaridade. No caso de um campo elétrico positivo, esse
valor é superior em módulo ao encontrado para o campo no caso da incepção.
1.0 Ecr1

0.5
Ec [pu]

0 Ecr1 ≠ Ecr2

-0.5

-1.0 Ecr2
0 50 100 150 200 250 300 350
Graus [º]

Figura 7.88:  Estilização do comportamento do campo elétrico em determinado ponto


de uma linha de transmissão onde há a incepção de efeito coroa

Para ilustrar esse comportamento, a figura 7.88 apresenta de forma


esquemática o comportamento do campo elétrico em um dado ponto do
circuito, onde o campo elétrico excede os valores de campo crítico. Note-
mos que, a partir da figura 7.88, o valor para qual há a incepção da coroa
é distinto se o campo elétrico é positivo ou negativo. Atualmente, está em
desenvolvimento na COPPE/UFRJ uma tese de doutorado que visa avaliar
as principais diferenças entre o efeito coroa em linhas de transmissão em
corrente contínua. É um estudo que visa detalhar o comportamento das
cargas espaciais que ocorrem nas regiões próximas a um circuito de CCAT.
Devido ao campo unidirecional do campo elétrico que ocorre em circuitos
de CCAT, a carga espacial pode ser importante até pontos relativamente
afastados do circuito, modificando sensivelmente o comportamento global
relativo do efeito coroa e implicando alterações não somente na vizinhança
imediata do condutor. A presença do campo elétrico unidirecional acarreta
polarização de partículas em suspensão no ar e que eventualmente se acu-
mulam na superfície dos condutores, consequentemente alterando o esta-

Capítulo 7 273
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do da superfície. Dadas as condicionantes de tempo do Projeto Transmitir,


não são realizadas maiores análises com respeito ao efeito coroa em linhas
de transmissão em corrente contínua.
Fundamentalmente, a modelagem para o efeito corona deve envolver
a representação das perdas e a variação da capacitância da linha de trans-
missão, em consequência desta ionização do ar ao redor do condutor. É um
fenômeno bastante complexo, em que se procura descrever seus principais
aspectos, a dissipação de energia e a variação da capacitância da linha de
transmissão, através das curvas carga versus tensão (q x v). Estas curvas são
obtidas em laboratório para um condutor sob este efeito. Sobre o efeito co-
rona, de natureza não linear, consegue-se rapidamente uma gama de traba-
lhos e publicações para aplicação em fenômenos rápidos, muitos deles vol-
tados para a inclusão do efeito coroa em programas da série EMTP, ou seja,
visando a abordagens no domínio do tempo. Ao se caminhar em outra di-
reção, para o domínio da frequência, é devido à proposta de incorporação
deste fenômeno não linear a um sistema de equações, onde todo o restante
do sistema já esteja modelado no domínio da frequência e se poder obter,
desta maneira, uma solução global para as diferentes frequências.

7.5.1  Perdas por efeito corona

As perdas por efeito corona dependem do campo elétrico máximo na


superfície dos condutores, do estado da superfície, da amplitude de varia-
ção do campo elétrico ao longo do perímetro dos condutores, do períme-
tro dos condutores, da densidade e umidade absoluta do ar e das condições
atmosféricas, incluindo umidade do ar, densidade de chuva e existência de
gotas de água na superfície dos condutores. As perdas por efeito coroa têm
um caráter em grande parte estatístico, devio às características dos vários
fenômenos envolvidos.
De uma forma um tanto generalista, as perdas por efeito coroa, em termos
médios, pode-se considerar função do campo elétrico máximo na superfície
dos condutores e o campo elétrico crítico de formação de efeito coroa visual.
Há numerosas fórmulas existentes na literatura sobre as perdas por efeito co-
roa com alguns dos parâmetros de maior influência, em geral, adaptadas para
determinadas condições experimentais. Todavia, devido ao grande número
de efeitos a serem considerados e à dificuldade de se caraterizar as condições
atmosféricas, essas expressões não devem ser empregadas de forma irrestrita.
Por exemplo, as perdas por efeito coroa dependem da velocidade do vento.

274 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Há um grande número de expressões publicadas na literatura técnica


relacionado às perdas por efeito corona com alguns parâmetros de maior
influência, baseadas para determindas condições experimentiais. Todavia,
devido ao grande número de efeitos envolvidos e à influência e dificuldade
de caracterização das condições atmosféricas, há necessidade de bastante
cuidado no uso das fórmulas pulicadas. É importante uma comparação com
vários resultados experimentais baseados nas configurações consideradas.
Por exemplo, há uma pesada dependência da carga espacial para a caracte-
rização do efeito corona intenso. Esse processo é muito mais importante em
linhas de transmissão em corrente contínua do que na corrente alternada.
As perdas por efeito corona são tipicamente função crescente da velocida-
de do vento para ventos entre 0 e 10 m/s, mas praticamente independem dos
ventos acima desses valores. Essa influência ocorre porque a carga espacial re-
duz o campo elétrico superficial do condutor e, consequentemente, a intensi-
dade do efeito corona. Pela ação do vento, as cargas resultantes da ionização são
levadas para regiões afastadas da linha levando a uma redução da carga espa-
cial. Esse processo é tão mais acentuado quanto maior a velocidade do vento.
Os condicionantes de radiointerferência e ruído audível e a compara-
ção ecônomica com as perdas Joule conduzem, frequentemente, a campos
elétricos na superfície dos condutores para os quais as perdas por efeito co-
rona são bastante inferiores às perdas Joule.

7.5.2  Modelagem do efeito corona

Uma LT longa pode ser representada através da sua divisão em i seções


de circuitos π -equivalentes, i.e., todos os elementos são variantes na frequên-
cia e são distribuídos. O ramo não linear, dependente da frequência, para a
representação dos parâmetros transversais, a saber, a capacitância C e a con-
dutância G, bem como os parâmetros longitudinais, que são a resistência R
e a indutância L, para cada seção, vão compor a representação da LT, como
pode ser visto na figura 7.89, sendo todos estes parâmetros citados por uni-
dade de comprimento.
R L R L R L

C1 G2
G1 C1 G1 C2 G2 C2 Gn Cn Gn Cn

Figura 7.89:  Representação da linha de transmissão sob corona

Capítulo 7 275
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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Devido G ser muito pequeno para cada seção quando comparado aos
outros parâmetros, será desprezado, considerando-se somente C como pa-
râmetro transversal da linha. Para uma LT trabalhando na região linear, sig-
nifica que C é a capacitância geométrica, e que a tensão é inferior à tensão
crítica, ou seja, à tensão limiar antes da ocorrência do corona. Atingida e
ultrapassada esta tensão, ocorrerá o corona.
O efeito corona apresenta características não lineares, em que ocor-
re dissipação de energia, associada à ionização, e aumento da capacitân-
cia, que, diferentemente da capacitância geométrica, será definida como a
capacitância dinâmica, devido ao aumento do raio da camada ionizada ao
redor do condutor. Em regimes transitórios, o efeito corona provoca maior
atenuação, pois dissipa energia e maior distorção dos surtos durante a pro-
pagação por causa do atraso nesta, em razão da parcela da onda de surto
com tensão superior à tensão crítica.
A dissipação de energia e o aumento da capacitância constituem os as-
pectos essenciais associados ao efeito corona, e podem ser observados nas
curvas carga-tensão (qv) medidas em um condutor sob este efeito. Esta cur-
va pode ser aproximada por segmentos de reta, conforme mostra a figura
7.90a. Esse tipo de abordagem é conhecido como Aproximação Estática. O
segmento ab indica tensões inferiores à tensão crítica, vc, onde a capacitân-
cia é igual à capacitância geométrica da LT. O segmento bc, cujas tensões
são superiores à tensão crítica, mostra uma capacitância dinâmica, cd1, com
valor superior à capacitância geométrica da LT, até atingir a tensão, vt. Já o
segmento cd mostra um aumento da capacitância dinâmica, cd2, até atingir
a tensão máxima, vmax. Por último, o segmento de, com tensões inferiores
à tensão máxima, retornando à capacitância geométrica da LT.
Para estudos envolvendo sinais rápidos, há uma grande excursão da
tensão ao longo da curva qv da linha de transmissão, sendo necessária uma
maior discretização da curva qv para obtenção de respostas mais próximas
ao real. Naturalmente, com o aumento no número de segmentos, maior é a
aproximação da modelagem à curva original. Contudo, nos casos de sinais
lentos, as variações de tensão são menores, sendo possível empregar uma
aproximação mais simples, com apenas três segmentos de reta, conforme
mostra a figura 7.90b. A legenda C0 indica a capacitância geométrica do cir-
cuito, i.e., sem efeito corona. Uma alternativa a ambas as abordagens é o em-
prego da Aproximação Dinâmica, encontrada em [41]. Considerando ape-
nas a aproximação por três segmentos de reta, é possível obter um circuito
equivalente para a representação do efeito corona como mostra a figura 7.91.

276 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

q d

q2

c
q1

b
C0
v
a vc vʼ vmax
v v1 v2

(a) com 4 segmentos de reta (b) com 3 segmentos de reta


Figura 7.90:  Aproximação da curva qv por segmentos de reta

C0
V1

Figura 7.91:  Circuito equivalente para a representação do efeito corona

7.5.3  Efeito corona para fenômenos lentos

O estudo do efeito corona tem sido realizado basicamente para o es-


tudo de fenômenos ditos rápidos associados com a propagação de descar-
gas atmosféricas. Contudo, há no caso de linhas com pouco mais de meio
comprimento de onda a necessidade de se implementar a representação do
efeito corona também para sinais lentos. Isso se dá, pois, como mostrado
em relatórios anteriores, no caso das linhas de pouco mais de meio com-
primento de onda, há cenários onde a tensão ao longo do circuito pode ser
bastante elevado, podendo chegar a dois pu.
Similarmente ao realizado nos outros estudos realizados ao longo des-
se projeto de pesquisa, há duas possibilidades para a representação do efei-
to corona:

• Domínio do tempo.
• Domínio harmônico.

Capítulo 7 277
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O domínio harmônico é uma extensão da chamada Análise Tensorial


desenvolvida pelo Professor Carlos Portela e permite a inclusão dos elemen-
tos não lineares, tendo um cerne principal no domínio da frequência. Os
elementos não lineares são tratados a partir da expansão em série de Fou-
rier de suas respostas não lineares no domínio do tempo. Naturalmente,
há um procedimento de interação para a determinação desses coeficientes.
Em ambos os domínios, há a necessidade da discretização do circuito
da linha de transmissão em segmentos de comprimento limitado. No caso
do domínio da frequência, o procedimento tem a ver com a modelagem da
linha por quadripolos, levando-se em conta a variação das correntes trans-
versais nos cabos ao longo da linha. Então, o corona pode ser visto como
uma injeção de uma fonte de corrente ao longo da linha. Numa análise in-
cremental, considerando um trecho de comprimento infinitesimal dx, fonte
δ será diferente de zero na presença do corona, e zero na ausência do fenô-
meno, vide figura 7.92, sendo Zdx e Ydx a impedância longitudinal e a ad-
mitância transversal, respectivamente, neste trecho.
dx
x x+dx
Ix I
dx Z x+dx

Vx dxY eY YeY
dx
δ Vx+dx
22 2

Modelo π

Figura 7.92:  Trecho de linha para análise incremental do efeito corona

Percebe-se, como ratificado [38], que, para a fonte de corrente δ, não é


possível uma formulação simples envolvendo as tensões, as correntes e a pró-
pria fonte em função de dx. Contudo, pode ser estabelecido um processo de
cálculo relativamente simples, passível de ser realizado na busca de solução
do corona. Vai-se dividir a LT em trechos de comprimento ∆lLT, e representar
o efeito corona em cada trecho como por uma fonte de corrente J, condensa-
da no final de cada trecho, como apresentado na figura. Então,
δ lLT
J (ω ) = ∫ 0
δ ((ω ),x ) dx (7.13)

278 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Representa-se na figura 7.93 um trecho da LT, substituindo-se o Mo-


delo π, pelo Quadripolo Equivalente neste trecho, onde

⎛ A B ⎞
QLT = ⎜ ⎟ (7.14)
⎝ C D ⎠

Junto à fonte de corrente devida ao corona J.

Δ l LT
1 2
I1 I2
Z

Y
Ye YYe
V1 V2
22 2 J
Quadripolo

Figura 7.93:  Representação de um trecho LT, substituindo o Modelo π por seu


Quadripolo Equivalente, junto à fonte de corrente J representativa do corona

Se a LT for dividida em i trechos, haverá i conjuntos de QLT i quadri-


polos e fontes Ji em cascata,entre as barras j e k. Então, podem-se conside-
rar os quadripolos equivalentes, dependentes da geometria da linha, como
constantes, somente sendo não lineares as fontes de corrente representativas
do efeito corona, resultando no sistema mostrado em (7.15).
⎧ ⎛ V ⎞ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞
⎪ ⎜ j ⎟ = Q .⎜ V1 ⎟ + ⎜ 0 ⎟
⎪ ⎜ I j ⎟ LT1 ⎜ ⎟ ⎜ J ⎟
⎪ ⎝ ⎠ ⎝ I1 ⎠ ⎝ 1 ⎠
⎪
⎛ V1 ⎞ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞
⎟ = QLT 2 .⎜ V2 ⎟ + ⎜ 0 ⎟
⎪
⎪ ⎜
⎨ ⎜ I1 ⎟⎠ ⎜ I2 ⎟ ⎜ J 2 ⎟ (7.15)
⎪ ⎝ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠
⎪ ...
⎪
⎛ Vi−1 ⎞ ⎛ V ⎞ ⎛ ⎞
⎪
⎪ ⎜ ⎟ = QLTk .⎜ k ⎟ + ⎜ 0 ⎟⎟
⎜ Ii−1 ⎟⎠ ⎜ I k ⎟ ⎜ J k
⎪⎩ ⎝ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠

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Combinando-se estas equações, vem,

⎛ V ⎞ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞
⎜ j ⎟ = Q .⎜ Vk ⎟ + ⎜ 0 ⎟⎟ (7.16)
⎜ I j ⎟ eqLT ⎜ I k ⎟ ⎜⎝ J m ⎠
⎝ ⎠ ⎝ ⎠

onde

QeqLT1 .QLT1 .QLT 2 ...QLT (i−1) .QLTk (7.17)

⎛ 0 ⎞ ⎛ 0 ⎞ ⎛ 0 ⎞ ⎛ 0 ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ = ⎜⎜ ⎟⎟ +QLTk .⎜⎜ ⎟⎟ +...+QLTk .QLT (i−1) ...QLT 3 .QLT 2 .⎜⎜ ⎟⎟ (7.18)
⎝ J m ⎠ ⎝ J k ⎠ ⎝ J i−1 ⎠ ⎝ J1 ⎠

Estrutura de cálculo no domínio harmônico

O domínio harmônico pode apresentar a formulação de matrizes de


imitâncias complexas ou em blocos de matrizes reais contendo a parte real
e a parte imaginária da matriz de imitâncias. Os resultados indicam que a
formulação, separando-se em blocos de matrizes, obteve um desempenho
computacional e uma convergência um pouco superior que o caso comple-
xo. Por isso, esse tipo de abordagem foi empregada na análise do efeito co-
rona para sinais lentos.

• Definição dos dados principais para o processo:

▷▷ i: quantidade de trechos i da linha a ser empregada na simulação,


definindo-se assim i pontos de cálculo principais ao longo da linha.
▷▷ n: quantidade de frequências para a representação das tensões,
correntes e cargas nos cabos em função do tempo.
▷▷ m: quantidade de frequências para a representação de capacitân-
cias próprias e mútuas entre os cabos em função do tempo.
▷▷ Curva qv: definição da curva típica para os cabos empregados
na linha.

280 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

• Cálculo dos valores iniciais das tensões e correntes para os i+1 pontos
da linha: considera-se uma iteração de ordem 0, que nenhum cabo está
sob o efeito do coroa; portanto as correntes [J] são iguais a zero. Então:

⎛ V ⎞ ⎛ ⎞
⎜ j ⎟ = Q .⎜ Vk ⎟ (7.19)
⎜ I j ⎟ eqLT ⎜ I k ⎟
⎝ ⎠ ⎝ ⎠
Sendo

QeqLT = QLTk .QLT (i−1) ...QLT 2 .QLT1 (7.20)

Destes valores, relativos aos pontos j e k, são conhecidos os demais va-


lores, para todos os i pontos ao longo da linha por meio da seguinte equação:

⎛ V ⎞ ⎛ V ⎞
⎜ i−1 ⎟ = QLTi .⎜ i ⎟ (7.21)
⎜ Ii−1 ⎟ ⎜ Ii ⎟
⎝ ⎠ ⎝ ⎠

• Cálculo dos valores iniciais das matrizes [J] para os i pontos da linha:
calculadas as tensões em todos os i pontos da linha, considera-se que
os cabos possam estar sob o efeito corona, calculam-se as densidades
de corrente auxiliar δ em todos estes pontos. Por fim, calculam-se as
componentes de J nestes pontos.

• Cálculo dos incrementos das correntes [J] para os i pontos da linha:


tendo sido calculadas na iteração anterior todas as correntes longi-
tudinais para os i pontos da linha, as correntes transversais totais [JT]
para o cabo de índice a, em componente da frequência n em cada
ponto de índice p, relativas a todo o trecho definido situado entre os
pontos p-1 e p, são dadas por:

⎧ J
⎪ TaRen,p = I aRen,p − I aRen,p−1
⎨ (2.22)
⎪⎩ J TaImn,p = I aImn,p − I aImn,p−1

A diferença entre cada valor obtido e os correspondentes calculados


pela eq. (7.19) fornece o valor do incremento ∆J desejado.

Capítulo 7 281
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⎧
⎪ J aRen,p = J aRen,p − J TaRen,p
⎨
⎪⎩ J aImn,p = J TaImn,p − J TaImn,p
(7.23)

• Cálculo dos incrementos ∆V e ∆I: com os incrementos ∆J calcula-


dos no item anterior, e devendo ser previamente conhecidos os ele-
mentos de duas matrizes [∆Vj] e [∆I j], calculam-se os novos valores
[∆Vk] e [∆Ik]. Destes valores, podem ser derivados os demais valo-
res para todos os pontos ao longo da linha.

• Inspeção da convergência: inspecionam-se as relações entre os des-


vios [∆V] e [∆I] e os respectivos valores de V e de I. Se estes forem
inferiores a limites preestabelecidos, interrompe-se o processo. Caso
contrário, continua-se o mesmo.

• Atualização dos valores de V e de I: sendo conhecidos os incremen-


tos de V e de I, e chamando a iteração corrente de índice r, num
ponto da linha de índice i, atualizam-se os valores de V e de I da se-
guinte forma:
⎧ ⎡⎣Vk(r ) ⎤⎦ = ⎡⎣Vk(r−1) ⎤⎦+[Vk]
⎪
⎨ (7.24)
⎪ ⎡⎣I k(r ) ⎤⎦ = ⎡⎣I k(r−1) ⎤⎦+[Ik]
⎩
Podem-se utilizar fatores de aceleração para os incrementos das tensões
e correntes. E se retorna ao processo iterativo.

Estrutura de cálculo no domínio do tempo

Para o cálculo no domínio do tempo, foi empregado o ATP e o circuito


equivalente para a representação do efeito corona. O único detalhe é que o
efeito corona para sinais lentos é bidirecional e o circuito equivalente deve
ser alterado adequadamente. Isso consiste em incluir um outro ramo trans-
versal contendo uma fonte de tensão com polaridade negativa, correspon-
dendo à tensão onde há a incepção do corona no semiciclo negativo, um
diodo conectado, de forma que só haverá corrente passante nesse ramo se
o módulo da tensão no nó for superior ao módulo da tensão negativa. Esses

282 Desempenho Dinâmico da Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

dois ramos são conectados ao final de pequenos trechos de linha represen-


tados considerando o modelo a parâmetros distribuídos variantes na fre-
quência, modelo JMARTI. Para as análises aqui em questão, consideramos
que o circuito era discretizado a cada um km.

Análise da tensão no meio de um circuito não convencional de 800 kV

Considera-se um circuito de pouco mais de meio comprimento de on-


da, em 800 kV e empregando feixes elípticos. O comprimento do circuito
é de 2.600 km. Os procedimentos de cálculo no domínio harmônico e no
domínio do tempo foram descritos nos itens anteriores. O sistema consi-
derado consiste em tensão atrás de reatância, o circuito de transmissão e
uma fonte de corrente representando o carregamento. A fonte de corrente
foi ajustada para garantir que a potência entregue no terminal receptor do
circuito seja constante.
O objetivo dessa análise é verificar o ponto de máxima tensão no circui-
to quanto a corrente excede o valor nominal. A princípio, no caso sem per-
das, as tensões poderiam chegar a dois pu, conforme mencionado anterior-
mente. A tabela 7.6 mostra os resultados obtidos para os máximos de tensão
ao longo do circuito. Como pode-se notar, há uma boa concordância no que
diz respeito aos valores máximos encontrados empregando duas metodolo-
gias completamente distintas. Os resultados mostram que, embora ocorram
tensões elevadas, elas estão consideravelmente abaixo do nível de dois pu.

Tabela 7.6:  Tensões máximas encontradas ao longo do circuito para diferentes valores
de carregamento
Carregamento (pu) Vmax (pu) (DH) Vmax (pu) (ATP)
1,5 1,358 1,349
1,7 1,519 1,501
2,0 1,675 1,649
2,1 1,717 1,701

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Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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Capítulo 7 287
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 8

Aplicação de Eletrônica de Potência em


Troncos de Transmissão de Meia-onda+

289
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A solução de se transmitir em corrente alternada por meio de linhas


de transmissão de pouco mais de meio comprimento de onda, MO+, torna-
-se interessante quando o objetivo é conectar dois grandes subsistemas cuja
distância entre eles está na ordem de 2.500 a 3.000 km. Todavia, um circui-
to MO+ é indicado para transmissão ponto a ponto. Por questões sociopo-
líticas, é interessante realizar derivações ao longo da linha, de forma a for-
necer energia elétrica às comunidades que se encontram nas cercanias do
corredor de transmissão, o que torna uma tarefa complicada, pois a simples
instalação de uma subestação pode descaracterizar o comprimento elétrico
da linha e afastá-la do seu ponto de operação, podendo prejudicar a estabi-
lidade do sistema como um todo [31],[32] e [30].
Para alcançar o objetivo de drenar/injetar energia em circuito MO+,
neste capítulo, analisa-se duas soluções baseadas em conversores de eletrô-
nica de potência: um Tap CAAT Série (TCAS) e um Tap CAAT em Deri-
vação (TCAD). Um estudo qualitativo sobre o comportamento da linha de
transmissão MO+ diante da utilização desses dispositivos é realizado, bem
como simulações digitais em programas de transitórios eletromagnéticos.
Uma outra questão tratada neste capítulo é a aplicação de conversores
de eletrônica para aumentar a controlabilidade da linha MO+, pois esta é
similar à de um sistema ca convencional. Para prover uma controlabilidade
maior e com mais rapidez, é proposta a utilização de dispositivos FACTS
(Flexible AC Transmission System) para o controle do fluxo de potência da
linha MO+. Os estudos analíticos indicam que o dispositivo FACTS pode ser
tanto em derivação quanto em série com a linha, dependendo de sua posi-
ção ao longo desta. E os resultados de simulação confirmam essas análises.
Nas seções seguintes são apresentadas as principais análises sobre a
aplicação de eletrônica de potência em linhas MO+, bem como os resulta-
dos provenientes de cada análise.

290 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.1  Análise qualitativa de Tap de Corrente


Alternada (TCA) em linhas MO+
Para analisar o efeito devido à inserção do tap ao longo da linha MO+,
adotaram-se duas abordagens. Na primeira, modelou-se o equipamento co-
mo um elemento passivo, i.e., ou como uma impedância série ou como uma
admitância em derivação (shunt), correspondendo a um tap série e a um
tap em derivação passivo, respectivamente. Na outra abordagem, conside-
rou-se o tap como um elemento ativo, i.e., uma fonte de corrente para o tap
em derivação e uma fonte de tensão para a série. Com estas duas aborda-
gens, será possível delinear a definição da melhor topologia do TCA – série
(TCAS) ou derivação (TCAD) –, bem como o efeito de se drenar ou injetar
energia ao longo da linha.
Para melhor definir o efeito da inserção do tap, considerou-se a inser-
ção de uma impedância tanto com parte real positiva quanto negativa, re-
presentando um dreno ou uma injeção de energia ativa, respectivamente,
analisando-se o efeito da variação da magnitude, da fase e da posição do
elemento na linha. Fez-se o mesmo para o caso fonte de tensão/corrente,
porém o dreno/injeção de energia ativa é determinado pela fase da fonte.
A análise é feita para uma linha de transmissão ideal, de comprimen-
to elétrico equivalente a 1,1 π radianos, com cada extremidade conectada
a um barramento “infinito”. As tensões terminais possuem módulos iguais
a U0, e a diferença de fases entre elas é igual a δ. Para o caso de δ = 1,1 π, na
ausência do tap, a potência transmitida entre os dois sistemas será igual à
potência característica da linha.

8.1.1  Análise do TCA como elemento passivo

Nas duas subseções seguintes, são apresentadas as análises para o caso de


se inserir um elemento passivo ao longo da linha, tanto em série quanto em de-
rivação1. Esta abordagem pode ser interpretada como o caso de conectar uma
subestação ao longo da linha, porém se trata de um caso hipotético, onde é
possível controlar a fase e amplitude da impedância equivalente da subestação.

1 Para evitar eventuais mal-entendimentos, será utilizado o termo "tap passivo" para o tap que foi modelado como
um elemento passivo, seja como impedância ou como admitância, conforme mostrado nesta seção. E, para seguir
a mesma linha de raciocínio, sera utilizado o termo "tap ativo" quando o tap for modelado como um elemento ati-
vo, i.e., fonte de corrente ou de tensão, conforme mostrado adiante.

Capítulo 8 291
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Na subseção 8.1.2, o tap é considerado como um elemento passivo co-


nectado em série na linha. Por conveniência para o equacionamento, ele é
modelado como uma impedância série. Pelo mesmo motivo, na subseção
8.1.3, o elemento passivo, conectado em derivação na linha, é modelado co-
mo uma admitância em derivação.

8.1.2  Impedância série

Como o interesse é identificar as consequências de se inserir um tap


na linha, seja por meio de elementos passivos ou por meio de conversores
de eletrônica de potência, definiu-se a impedância série do tap como Ztap,
disposta a uma distância xtap, equivalente a um comprimento elétrico Θtap,
do terminal 1 da linha. O sistema analisado está representado pelo circuito
equivalente de sequência positiva mostrado na figura 8.1 – para o caso do
ponto de observação estar localizado antes do tap.
I1 U tap1 U tap 2 I2
Z 1 Ux Z 2 Z 3
Z tap
+ +
U1 Y 1 Y 1 Y 2 Y 2 Y 3 Y 3 U2
2 2 2 2 2 2
- -

x tap

Figura 8.1:  Circuito equivalente com o tap série.

Supondo que as tensões terminais sejam iguais a U1 = U0ejδ e U2 = U0ej0, e


que os sentidos das correntes sejam considerados conforme apresentados na
figura 8.1, aplicando-se então a Lei dos Nós nos pontos em que o tap está in-
serido, e no ponto de observação, chega-se ao seguinte sistema de equações:

−1
⎡U x ⎤ ⎡ Y11′ Y12′ Y13′ ⎤ ⎡ − 1 0 ⎤
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ Zπ 1 ⎥ ⎡ U1 ⎤
⎢U tap1 ⎥ = − ⎢ Y21′ Y22′ Y23′ ⎥ ⎢ 0 0 ⎥ ⎢ ⎥ (8.1)
⎢U ⎥ ⎢ Y′ Y′ Y′ ⎥ ⎢ 0 − Z1π 3 ⎥ ⎢⎣ U 2 ⎥⎦
⎣ tap2 ⎦ ⎣ 31 32 33 ⎦ ⎢⎣ ⎥⎦

1 1 Y Y (8.2a)
Y11′ = + + π1 + π 2
Zπ 1 Zπ 2 2 2

292 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1 (8.2b)
′ = Y12′ = −
Y21
Zπ 2

′ = Y13′ = 0
Y31 (8.2c)

1 Y 1 (8.2d)
′ =
Y22 + π2 +
Zπ 2 2 Ztap

1 (8.2e)
′ = Y23
Y32 ′ −
Ztap

1 Yπ 3 1 (8.2f)
′ =
Y33 + +
Zπ 3 2 Ztap

(8.2g)

Sendo, Zπ e Y2π os elementos do circuito π-equivalente, que para o caso


da linha ideal, tem-se:

Zπ 1 = j Zc sen ( Θx ) (8.3a)

(
Zπ 2 = j Zc sen Θtap − Θx ) (8.3b)

Zπ 3 = j Zc sen ( Θ − Θtap ) (8.3c)

Yπ 2 1
=j tan ( Θx ) (8.3d)
2 Zc

Yπ 2
2
=j
1
Zc
(
tan Θtap − Θx ) (8.3e)

Yπ 3
2
=j
1
Zc
(
tan Θ − Θtap ) (8.3f)

L
Com Zc = C11 , em que L1 e C1 são a indutância e capacitância por uni-
dade de comprimento de sequência positiva da linha.

Capítulo 8 293
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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Substituindo (8.3) em (8.2) e, em seguida, em (8.1), obtém-se a tensão


no ponto x. Utilizando o mesmo procedimento para quando o ponto de ob-
servação encontra-se depois da posição do tap, tem-se que a tensão ao longo
da linha, normalizada em relação à tensão nominal, é dada por:

⎧ ⎧ ⎡Z ⎫
⎪ 1 ⎪⎨e j δ ⎢ tap cos Θ − Θtap cos Θtap − Θx + j sen ( Θ − Θx ) ⎤⎥ + j sen ( Θx ) ⎪⎬
( ) ( )
⎪ Δ ⎪⎩ ⎣ Zc ⎦ ⎪⎭
Z
⎡ tap ⎪ ⎤ ⎫ ⎫ , Θ < Θ
(
⎢ ZΘ −cos
cos
⎣ c
() () ( )
Θ −cos
Θtap Θtap
Θtap ⎪Θxtap+−j Θ
cos− Θ
Ux ⎪
sen )
x (+Θj − Θ(xΘ
sen )



−+ Θ x ) ⎥(+Θj xsen
j sen

) ⎪
⎪⎭

⎬ ( Θx ) ⎬
⎪⎭
x tap

=⎨ (8.4)
U0 ⎪ 1 ⎧ Ztap ⎫
( ) (
⎪ Δ ⎨ Z cos Θtap cos Θtap⎫− Θx + j ⎡⎣e sen,(Θ ) jδ
Θ − Θx ) ⎤⎦ + sen ( Θx ) ⎬
x > Θtap
) ( ) ⎩ c
Θtap cos Θtap − Θx + j ⎡⎣e⎪j δ sen ( Θ − Θx ) ⎤⎦ + sen ( Θx ) ⎬


ap
( ) ( ⎪
)
cos Θtap cos Θtap − Θ⎪x + j ⎡⎣e j δ sen ( Θ − Θx ) ⎤⎦ + sen ⎭ (Θ )
x ⎬

c ⎩

Onde: Θ é o comprimento da linha; Θtap é a posição do tap; Ztap é a im-


pedância equivalente do tap; e:

Ztap
Δ=
Zc
( ) ( )
cos Θ − Θtap cos Θtap + j sen( Θ )

Considerando-se uma impedância série localizada no meio da linha e


variando sua amplitude em passos de 0,1 Zc (∠Ztap = 0), pode-se verificar
pela figura 8.2 que à medida em que se aumenta a amplitude da impedân-
cia série, as máximas tensões aumentam proporcionalmente no meio da li-
nha. A brusca variação da tensão corresponde exatamente à queda de ten-
são sobre o tap série, sendo tanto maior quanto maior for sua amplitude, e
para Ztap = 0 o perfil de tensão é constante em toda a extensão da linha, pois
corresponde à ausência de tap.

294 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Ztap pu
1,6

1,4 0,0
0,1
1,2 0,2

Tansão Ux pu
0,3
0,4
1,0
0,5
0,6
0,8 0,7
0,8
0,6 0,9
1,0

1,1  Π
0,4
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Posição ao longo da linha rad

Figura 8.2:  Perfil de tensão, variando |Ztap| com ∠Ztap = 0, para Θx = 0,55 π (rad)

As potências complexas nos terminais 1 e 2, normalizadas em relação


à potência característica da linha, são dadas por:

S1 U 1 I 1 ⎡⎣e + cos( Θ )⎤⎦ − j Zc sen Θtap cos Θ − Θtap


= =
jδ tap Z
( ) ( ) (8.5)
Pc Pc Z tap
(
Zc cos Θ − Θtap cos Θtap − j sen ( Θ ) ) ( )
S 2 U 2 I 2 ⎡⎣ −e
= =
−j δ
+ cos( Θ )⎤⎦ − j ( ) (
Z tap
Zc )
cos Θtap sen Θ − Θtap
(8.6)
cos ( Θtap )cos ( Θ − Θtap ) − j sen( Θ )
Pc Pc Z tap
Zc

Onde Ztap é o conjugado complexo de Ztap e, como, Zc é sempre real para


uma linha ideal, não foi considerado seu conjugado complexo.
Na figura 8.3, é possível observar a potência transmitida referida ao termi-
nal emissor e o balanço de reativos2 em função da abertura angular δ, respec-
tivamente, variando-se a amplitude da impedância Ztap, localizada no meio da
linha, em passos de 0,1 Zc. Nota-se que o balanço de reativos é pouco afetado
com a inserção do tap série no meio da linha. Percebe-se também que, com o
aumento da amplitude da impedância, a potência transmitida sofre um aumen-
to proporcional à tensão imediatamente antes do tap, para o caso de este estar
no meio da linha. Em geral, é desejável que a potência transmitida seja igual a
1,0 p.u., e para isso deve-se diminuir a abertura angular entre as tensões termi-
nais à medida que se aumenta a impedância inserida, aumentando a estabilida-

2 Entende-se por balanço de reativos a soma das partes imaginárias das potências complexas nos terminais 1 e 2.

Capítulo 8 295
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

de eletromecânica e amenizando as sobretensões ao longo da linha. Porém, co-


mo será visto adiante, isso implica redução da potência recebida no terminal 2.

(a)

(b)
Figura 8.3:  Detalhes da (a) potência transmitida e do (b) balanço de reativos

Por outro lado, a inserção do tap afeta a potência recebida no terminal


2, conforme pode ser observado na figura 8.4, diminuindo-a proporcional-
mente à tensão imediatamente após o tap, para o caso de este estar posicio-
nado no meio da linha. Por exemplo, quando a impedância série for igual
a 1,0 p.u., a tensão, logo após este, é igual a 0,5 p.u. e a potência no terminal
receptor é, também, igual a 0,5 p.u.. Neste caso, como a potência transmiti-
da é igual a 1,5 p.u., significa que o tap está drenando 1,0 p.u. de potência e
apenas 0,5 p.u. está sendo entregue ao terminal receptor.

296 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Ztap pu
1

0,0

Potência Recebida P2 Pc pu


0 0,1
0,2
0,3
1 0,4
0,5
0,6
0,7
2
0,8
0,9
1,0
3
180 190 200 210 220
Ângulo de potência ∆ graus

Figura 8.4:  Detalhes da potência recebida P2 em função de δ,


variando |Ztap| com ∠Ztap = 0, para Θx = 0,55 π (rad)

A figura 8.5 apresenta a máxima tensão ao longo da linha em função do


ângulo de abertura entre as tensões terminais (δ), com a amplitude de Ztap
variando em passos de 0,1 p.u.. Nota-se que quando a linha está sem o tap,
Ztap = 0, para ângulos menores que 198° (≃ 1,1 π), a máxima tensão é igual a
1,0 p.u., que são as próprias tensões terminais, haja vista que nesta situação a
linha transmite abaixo de sua potência característica. A partir desse ângulo
o valor da potência transmitida aumenta e, por conseguinte, as tensões ao
longo da linha se elevam proporcionalmente. Com a inserção do tap, as so-
bretensões aparecem para valores inferiores a δ = 198°, conforme mostrado
na figura 8.2. Para se evitar essas sobretensões, deve-se reduzir o ângulo de
abertura entre as tensões terminais à medida que se aumenta o valor de Ztap.

Ztap pu
3

0,0
0,1
Máxima Tensão Umax pu

2 0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
1
0,7
0,8
0,9
1,0
0
180 190 200 210 220
Ângulo de potência ∆ graus

Figura 8.5:  Máxima tensão ao longo da linha (Umax) em função de δ,


variando |Ztap| com ∠Ztap = 0, para Θx = 0,55 π (rad)

Capítulo 8 297
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Para o caso extremo, quando |Ztap| = 1,0 p.u., o ângulo de abertura deve
ser igual a δ ≃ 3,29571 rad (δ ≃ 188,83°) para se transmitir 1,0 p.u. de po-
tência no terminal emissor. O perfil de tensão para este valor de δ, variando
a amplitude da impedância desde 0 até 10 p.u., é apresentado na figura 8.6,
onde pode ser observado que as tensões ao longo da linha praticamente não
ultrapassam a tensão nominal. Sendo o valor máximo obtido, para o pior ca-
so, aproximadamente igual a 102% da tensão nominal U0.

Figura 8.6:  Perfil de tensão para δ = 3,29571 rad,


variando |Ztap| com ∠Ztap = 0, para Θx = 0,55 π (rad)

Surge, então, um limite operacional quanto à abertura angular δ, pois


para receber 1,0 p.u. de potência no terminal 2, é necessário aumentar a de-
fasagem entre as tensões terminais, aumentando as sobretensões ao longo
da linha e diminuindo a estabilidade eletromecânica do sistema. Em con-
trapartida, para se transmitir 10 p.u. de potência no terminal 1 deve-se di-
minuir a abertura angular, melhorando o perfil de tensão em detrimento da
potência recebida do terminal 2. Como solução para este impasse, baseado
nos resultados analisados até este ponto, conclui-se que a impedância equi-
valente do tap não deve ser muito elevada, de forma a não comprometer o
perfil de tensão e a potência no terminal receptor.
Até o momento, analisou-se o caso da inserção de uma impedância sé-
rie puramente resistiva simulando um dreno de energia na linha. Para o caso
de uma injeção de energia (resistência negativa), o perfil de tensão é simé-
trico em relação à posição do tap, e as curvas das relações de potências são
simétricas em relação à curva de quando não se tem o tap inserido (Ztap = 0).

298 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Contudo, falta analisar o efeito quanto à posição e quanto à fase da impe-


dância. Para proceder a essas análises, considerou-se a impedância do tap igual
a |Ztap| = 0,2 p.u. e variou-se tanto sua fase quanto sua posição ao longo da linha.
Primeiramente, analisou-se o efeito causado quando a impedância lo-
calizada no meio da linha não é puramente resistiva. Para tanto, variou-se a
fase da impedância desde puramente capacitiva (∠Ztap = −90°) à puramen-
te indutiva (∠Ztap = +90°) em passos de 30°. As sobretensões no meio da li-
nha são tanto maiores quanto maior for a parte real da impedância. Contu-
do, quando a impedância é puramente imaginária (capacitiva ou indutiva),
a tensão central sofre uma ligeira variação quando comparada às tensões
terminais. Para o caso indutivo, a tensão sofre uma elevação até um quarto
da linha e volta a reduzir até o meio da linha, acontecendo o mesmo entre
o meio e o final da linha. Comportamento simétrico ocorre para o caso ca-
pacitivo (figura 8.7).

Figura 8.7:  Perfil de tensão variando ∠Ztap em passos de 30°,


com |Ztap| = 0,2 p.u. e Θtap = 0,55 π (rad)

A potência transmitida no terminal 1, a potência recebida no terminal


2 e o balanço de reativos são apresentados na figura 8.8, na figura 8.9 e na
figura 8.10, respectivamente. Onde se observa que nenhuma das três gran-
dezas sofre grandes variações quando se modifica a fase da impedância, já
que a impedância está localizada no meio da linha.

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3  Ztap

90°
Potência transmitida P1 Pc p.u. 2
60°

1 30°

0 30°
60°
1
90°

2

3
150 160 170 180 190 200 210 220
Ângulo de potência ∆ graus

Figura 8.8:  Potência transmitida, variando ∠Ztap em passos de 30°,


com |Ztap| = 0,2 p.u. e Θtap = 0,55 π (rad)

Figura 8.9:  Potência recebida, variando ∠Ztap em passos de 30°,


com |Ztap| = 0,2 p.u. e Θtap = 0,55 π (rad)

Figura 8.10:  Balanço de reativos, variando ∠Ztap em passos de 30°,


com |Ztap| = 0,2 p.u. e Θtap = 0,55 π (rad)

300 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Conclui-se que o controle do fluxo de potência depende da posição em que a


impedância série é inserida, tanto para o caso da impedância ser capacitiva quanto
indutiva. Na figura 8.11 e na figura 8.12 são mostrados a potência transmitida no
terminal 1 e o balanço de reativos em função da posição do tap, respectivamente.
É notório que as sensibilidades tanto da potência transmitida quanto do balanço
de reativos são maiores quando o tap série localiza-se próximo às extremidades
da linha, sendo maiores para o caso da impedância ser capacitiva. Esta afirmação
está de acordo com os resultados obtidos em estudos anteriores, quando se bus-
cava controlar o fluxo de potência em uma linha longa através de um dispositivo
FACTS, no caso, o GCSC (Gate Controlled Series Capacitor) [9] e [8].

3.

2.5

2. Impedância Capacitiva
P1 Pc p.u.

1.5

1.

0.5 Impedância Indutiva

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
tap rad

Figura 8.11:  Potência transmitida P1, variando Θtap de uma impedância


puramente reativa, com |Ztap| = 0,2 p.u.

1.

0.75
Q1 Q2 Pc p.u.

0.5
Impedância Capacitiva
0.25

0.

0.25
Impedância Indutiva

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
tap rad

Figura 8.12:  Balanço de reativos ∆Q, variando Θtap de uma impedância


puramente reativa, com |Ztap| = 0,2 p.u.

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Como será visto adiante na subseção 8.1.3, este comportamento é dual


ao que foi observado para o tap em derivação, permitindo concluir que pa-
ra o controle do fluxo de potência por meio de um tap série é conveniente
inseri-lo próximo às extremidades, enquanto que para drenar energia, a re-
gião central da linha é a mais indicada porque causa menos impacto à po-
tência transmitida e ao perfil de tensão ao longo da linha.
Continuando a análise quanto à posição do tap, a figura 8.13 apresenta
o perfil de tensão ao longo da linha quando se varia a posição (Θtap) de uma
impedância resistiva, desde 0 até Θ em passos de 0,1 Θ. Para facilitar a visu-
alização, a figura foi dividida em dois gráficos. Pode-se notar que as tensões
são mais elevadas quando o tap encontra-se na região próxima de π/3, e,
quando este se encontra após o meio da linha, as tensões são as mais baixas.

tap 
1.6

1.4
0.1
0.2
1.2
0.3
Uxpu p.u.

1. 0.4
0.5
0.8

0.6

1.1  Π
0.4
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

1.6
tap 
1.4
0.6
1.2
0.7
Uxpu p.u.

1. 0.8

0.9
0.8

0.6

1.1  Π
0.4
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.13:  Perfil de tensão variando Θtap em passos de 0,1 Θ

302 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Para cada valor de Θtap e de |Ztap| , existe um valor para a abertura an-
gular δ em que se mantém a potência transmitida constante e igual a 1,0
p.u., e, analogamente, existe um valor para o caso de se desejar manter a
potência recebida constante. Os valores de δ para manter P1 = 1,0 p.u. ou
P2 = 1,0 p.u. são mostrados na figura 8.14 e na figura 8.15, respectivamen-
te. Onde se mostra que no ponto Θtap = 0,6 π rad (≃ 1.483 km) é possível
manter a potência transmitida constante independentemente da amplitude
do tap, sem precisar alterar a abertura angular. E, no ponto Θtap = 0,5 π rad
(≃ 1.236 km), consegue-se manter a potência recebida constante. Esses pon-
tos apresentam-se como pontos notáveis e, aparentemente, ideais para se in-
serir o tap série com a função de drenar/fornecer energia. Esses pontos são
uma consequência das ondas estacionárias ao longo da linha de transmis-
são, correspondendo a nós de corrente. A existência destes pontos pode ser
explicada analisando as equações de uma linha de transmissão. Para o caso
em questão se está considerando que as tensões nos terminais emissor e re-
ceptor são impostas, i.e., as tensões nos terminais são definidas pelas fontes
de tensão, então a tensão e corrente em qualquer ponto da linha podem ser
definidas a partir das condições de contorno em um dos terminais. Consi-
derando inicialmente o caso de se determinar a tensão a partir do terminal
emissor, a tensão e a corrente no ponto x para uma linha ideal são dadas por:

(8.7)
Ux = U 1 cos(Θx )− j Z c I1 sen(Θx )
U1
I x = −j sen(Θx )+ I1 cos(Θx ) (8.8)
Zc

Onde Θx é a distância em radianos do terminal emissor. Nota-se que


para Θx = π/2 a corrente neste ponto é constante, uma vez que a impedân-
cia característica e a tensão U1 são constantes, i.e.:

U1 (8.9)
Iπ = −
2 Zc

O mesmo acontece para o ponto Θx = 0,6 π quando se define a tensão


e a corrente ao longo da linha em função da tensão do terminal 2. Assim, Ux
e Ix em função de U2, mantendo-se a referência para Θx, são definidos por:

Ux = U 2 cos(Θ− Θx )+ j Z c I 2 sen(Θ− Θx ) (8.10)

Capítulo 8 303
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U2
Ix = j sen(Θ− Θx )+ I 2 cos(Θ− Θx ) (8.11)
Zc

Neste caso, a corrente será constante quando a diferença entre o com-


primento elétrico total da linha e o ponto Θx for igual a π/2, e para uma li-
nha de 1,1 π isto ocorre quando Θx = 0,6 π, sendo a corrente neste ponto
igual a I0,6 π = U2/Zc. Dessa forma, os pontos em que o tap série não interfere,
ou na potência transmitida ou na potência recebida, são os pontos em que
a corrente da linha é constante e é definida somente por umas das tensões
terminais, ou do receptor ou do emissor, respectivamente.

Ztap p.u.
260

250
0
240 0.1
230 0.2
0.3
220
∆ graus

0.4
210 0.5
0.6
200
0.7
190 0.8
0.9
180
1.

1.1  Π
170
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
tap rad

Figura 8.14:  Variação da defasagem angular δ em função de Θtap,


mantendo P1 igual a 1,0 p.u., variando |Ztap| e com ∠Ztap = 0

220
Ztap p.u.
215
0

210 0.1
0.2
∆ graus

205

200

195

1.1  Π
190
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
tap rad

Figura 8.15:  Variação da defasagem angular δ em função de Θtap,


mantendo P2 igual a 1,0 p.u., variando |Ztap| e com ∠Ztap = 0

304 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Analisando o perfil de tensão (vide figura 8.16 e figura 8.17) quando o


tap é inserido nos pontos indicados acima, tanto para drenar (resistência po-
sitiva) quanto para injetar energia (resistência negativa), percebe-se que o
ponto Θtap = 0,6 π rad é indicado para a inserção de um tap que drene ener-
gia, pois nesse caso não existem sobretensões ao longo da linha, ao passo que
o ponto Θtap = 0,5 π rad é indicado para inserir uma fonte de energia, pelo
mesmo motivo.
1.5 Ztap p.u.

0
0.1
1.
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.5 0.5
0.6
0.7
0. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

Ztap p.u.
2.5

0
2. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.5
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.16:  Perfil de tensão quando Θtap = 0,6 π rad,
variando |Ztap| com (a) ∠Ztap = 0 e (b) ∠Ztap = 180°

Capítulo 8 305
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Ztap p.u.
2.5

0
2. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.5
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

1.5 Ztap p.u.

0
0.1
1.
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.5 0.5
0.6
0.7
0. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.17:  Perfil de tensão quando Θtap = 0,5 π rad,
variando |Ztap| com (a) ∠Ztap = 0 e (b) ∠Ztap = 180°

8.1.3  Admitância em derivação

De forma análoga ao que foi feito para o tap série, será feita uma análise
qualitativa da inserção de uma admitância em derivação, permitindo dimen-
sionar as consequências da inserção de um tap em derivação na linha, anali-
sando os efeitos no perfil de tensão, potência transmitida e balanço de reativos,
em função da amplitude, da fase e da posição dessa admitância.
A figura 8.18 apresenta o circuito de sequência positiva do sistema idealizado,
para o caso do ponto de observação encontrar-se antes da posição do tap, sendo
Ux a tensão no ponto de observação (Θx) e Utap a tensão na posição do tap (Θtap).

306 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 8.18:  Circuito equivalente para análise do TCAD passivo

Seguindo os mesmos passos da subseção 8.1.2, i.e., supondo que as ten-


sões terminais sejam iguais a U1 = U0 ejδ e U2 = U0 ej0, e que os sentidos das
correntes sejam considerados conforme apresentados na figura 8.18, apli-
cando-se então a Lei dos Nós nos pontos em que o tap está inserido e no
ponto de observação, chega-se ao seguinte sistema de equações:
−1
⎡U x ⎤ ⎡ Y11′ Y12′ ⎤ ⎡ − Z1π 1 0 ⎤ ⎡ U ⎤
⎢U ⎥ = − ⎢ Y ′ Y ′ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ 1 ⎥ (8.12)
⎢ 0 − Zπ 3
1
⎣ tap ⎦ ⎢⎣ 21 22 ⎥⎦ ⎥ ⎢⎣ U 2 ⎦⎥
⎣ ⎦

Onde,

⎡ Y11′ Y12′ ⎤ ⎡ − Z1π 2 ⎤


Yπ 1 Yπ 2
1 1
Zπ 1 Zπ 2 + 2 + 2
⎢ ⎥=⎢ ⎥
(8.13)
⎢⎣ 21 22 ⎥⎦ ⎢
Y ′ Y ′ − Z1π 2 1
Zπ 2 + Z1π 3 +
Yπ 2
2 +
Yπ 3
2 +Ytap ⎥
⎣ ⎦

Sendo, Zπ e Yπ/2 os elementos do circuito π-equivalente, em (Ω) e (S)


respectivamente dados por (8.3).
Substituindo (8.3) em (8.13) e em seguida em (8.12), obtém-se a ten-
são no ponto x. Utilizando o mesmo procedimento para quando o ponto
de observação encontrar-se depois da posição do tap, tem-se que a tensão
ao longo de toda a extensão da linha, normalizada em relação à tensão no-
minal (U0), é definida por:

Capítulo 8 307
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⎧ ⎧ ⎡ Y ⎫
⎪ 1 ⎪⎨e j δ ⎢ sen ( Θ − Θx ) + j tap sen Θ − Θtap sen Θtap − Θx ⎤⎥ + sen ( Θx ) ⎪⎬
( ) ( )
⎪ Δ ⎪⎩ ⎣ Yc ⎦ ⎪⎭
⎧ ⎪ , Θx < Θtap
1 ⎪⎧ j δ ⎡ ⎪ Ytap sen Θ − Θ ⎤ ⎪⎫


⎨e ⎢ sen ( ΘU− Θx )⎪+ j
Δ ⎩⎪ ⎣ Yc
( ) (
tap sen Θtap − Θx ⎥ + sen ( Θx ) ⎬ )
x
=⎨ ⎦ ⎭⎪ (8.14)
⎪ U0 ⎪ 1 ⎧ Y ⎫

⎪ ⎩

( ) (
⎪ Δ ⎨e sen ( Θ − Θx ) − j Y sen Θtap sen Θtap − Θx + sen ( Θx ) ⎬
tap
)
=⎨ ⎪ c
, Θx > Θtap ⎭
⎧ ⎪ Y ⎫


1 jδ
Δ⎩
⎨e sen ( Θ − Θx )⎪− j

tap
Yc
( ) (
sen Θtap sen Θtap − Θx + sen ( Θx ) ⎬

)


⎪ Onde, Yc = 1/Zc é a admitância característica da linha, em (S), e:

Ytap
Δ = sen( Θ ) + j
Yc
(
sen Θ − Θtap sen Θtap ) ( )
Sendo Θ o comprimento elétrico equivalente da linha, em radianos.
A figura 8.19 apresenta o perfil de tensão, considerando o tap posicio-
nado no meio da linha (Θx = Θ/2 = 1.728 rad, ≃ 1.361 km), para a amplitu-
de da admitância Ytap variando de 0 a 1,0 p.u., em passos de 0,1 p.u. e com
fase igual a 0 – o que corresponde ao dreno de energia ativa da linha.
Para o caso em que a fase da relação Ytap/Yc seja igual a 180° – corresponden-
te a uma condutância negativa, por conseguinte, fornecendo energia – exis-
te um efeito simétrico ao caso anterior, em relação ao meio da linha, como
observado na figura 8.20.

Ytap p.u.
1.4

1.2 0
0.1
1. 0.2
0.3
0.8
Uxpu p.u.

0.4
0.5
0.6
0.6
0.4 0.7
0.8
0.2 0.9
1.

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

Figura 8.19:  Perfil de tensão ao longo da linha, variando |Ytap| em passos de 0,1 p.u. e
com ∠Ytap = 0, para Θx = 0,55 π (rad)

308 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Ytap p.u.
1.4

1.2 0
0.1
1. 0.2
0.3
0.8
Uxpu p.u.
0.4
0.5
0.6
0.6
0.4 0.7
0.8
0.2 0.9
1.

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

Figura 8.20:  Perfil de tensão ao longo da linha, variando |Ytap| em passos de 0,1 p.u. e
com ∠Ytap = 180°, para Θx = 0,55 π (rad)

É possível observar que a presença de uma admitância na linha cau-


sa sobretensões que, dependendo da magnitude desta admitância, podem
ser consideradas muito elevadas, em se tratando de uma análise de regime
permanente. As sobretensões mais elevadas ocorrem quando a magnitude
da admitância é igual 0,2 e 0,3 p.u., ao passo que a sobretensão mais baixa,
quando |Ytap| = 1,0 p.u.. Não foi considerado o caso no qual a admitância é
igual a zero porque corresponde à ausência de tap (Ztap = ∞) e, como espe-
rado, o perfil de tensão é constante em toda a extensão da linha.
Definida a tensão no ponto de inserção do tap, Utap (8.12), pode-se de-
terminar as correntes I1 e I2 (vide figura 8.18), da seguinte forma:

1 ⎡⎢ ⎤
I1 = j
Zc ⎢
tan Θtap − ( ) 1
sen Θtap ( )
⎥ U1 + j 1

1
Z c sen Θtap
Utap
( )
(8.15)
⎣ ⎦

1 ⎡⎢ ⎤
I2 = j
Zc ⎢
(
tan Θ − Θtap −
1
sen Θ − Θtap
) ( )
⎥ U2 + j 1

1
(
Z c sen Θ − Θtap
Utap
)
⎣ ⎦ (8.16)

( )
n Θ − Θtap −
(
1
sen Θ − Θtap )
⎥ U2 + j 1
⎥ Z
1
c sen Θ − Θtap
Utap
( )

Além da análise do perfil de tensão, é importante analisar a influência


da admitância do tap nas potências transmitidas e o efeito sobre o balan-

Capítulo 8 309
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

ço de reativos. A partir de (8.15), (8.16) e das tensões U1 e U2, obtêm-se as


potências complexas nos terminais emissor e receptor da linha (terminais
1 e 2, respectivamente), de acordo com (8.17) e (8.18), respectivamente –
normalizadas em relação à potência característica, em valores por unidade.

=

= Y tap
tap Y
S1 U 1 I 1 e − cos( Θ ) + j Yc cos Θtap sen Θ − Θtap ( ) ( ) (8.17)
Pc Pc (
Yc sen Θ − Θtap sen Θtap + j sen ( Θ )) ( )
S2 U 2 I 2 e
= =
−j δ
− cos( Θ ) + j
Y tap
Yc ( ) ( )
cos Θ − Θtap sen Θtap
(8.18)
sen ( Θ − Θtap ) sen ( Θtap ) + j sen( Θ )
Pc Pc Y tap
Yc

Onde Ytap é o conjugado complexo de Ytap. Como a linha é ideal, sua


admitância característica é sempre real, por isso não foi considerado o con-
jugado complexo de Yc.
As potências ativas nos terminais 1 e 2 são as partes reais de (8.17) e
(8.18), respectivamente. E o balanço de reativos é dado pela soma de suas
partes imaginárias, o que significa a energia reativa “consumida” pela linha.
É possível então analisar o efeito causado pela inserção do TCAD sobre as
potências transmitidas e o balanço de reativos. A figura 8.21 mostra a po-
tência transmitida no terminal 1 e o balanço de reativos, respectivamen-
te para a mesma variação de amplitude |Ytap| considerada anteriormente e
fase 0, para Θx = 0,55 π (rad), na região próxima do ponto de operação da
linha. Observa-se que à medida que se aumenta a admitância, tanto a po-
tência transmitida quanto o balanço de reativos diminuem. Como linhas
muito longas são indicadas para interligar grandes subsistemas e transmitir
a máxima potência possível3, é então desejável que se transmita 1,0 p.u. de
potência no terminal 1 da linha. Para tanto, de acordo com as figuras apre-
sentadas, é necessário aumentar a defasagem angular entre as tensões ter-
minais, o que, por sua vez, diminui a estabilidade eletromecânica do sistema
e, ainda, tem como consequência elevar as sobretensões ao longo da linha.

3 Não foi considerada nenhuma limitação na capacidade de geração do sistema.

310 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Ytap p.u.
3

0
0.1
2 0.2
P1 Pc p.u. 0.3
0.4
0.5
0.6
1
0.7
0.8
0.9
1.
0
180 190 200 210 220
∆ graus

(a)

Ytap p.u.
2

0
0.1
0.2
Q1 Q2 Pc p.u.

1
0.3
0.4
0.5
0.6
0
0.7
0.8
0.9
1.
1
180 190 200 210 220
∆ graus

(b)
Figura 8.21:  Detalhes da (a) potência transmitida e do (b) balanço de reativos

Tomando o caso extremo apresentado, |Ytap| = 1,0 p.u., o valor da aber-


tura angular para transmitir 1,0 p.u. deve ser igual a δ ≅ 4,476 rad, ou
δ ≃ 256,4°. Esse valor de abertura angular é muito elevado, o que pode cau-
sar instabilidade ao sistema. Por esse motivo, considerou o caso em que a
admitância do tap fosse igual a 0,6 p.u., e a abertura angular necessária para
garantir a potência desejada é aproximadamente δ = 4,0 rad, ou δ ≃ 229,3° –
correspondendo a um ângulo de carga de (δ − 1,1 π) = 0,546 rad, i.e., 31,3°,
que é um valor mais aceitável. Para este valor de δ, as sobretensões ao longo
da linha são elevadas como mostrado na figura 8.22, onde se considerou o
TCAD no meio da linha, variando-se a amplitude de Ytap de 0 a 1,0 p.u., em
passos de 0,1 p.u..

Capítulo 8 311
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Ytap p.u.
3.5

3.
0
2.5 0.1
0.2
2.
Uxpu p.u.

0.3
0.4
1.5
0.5
1. 0.6

0.5

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

Figura 8.22:  Perfil de tensão para δ = 4,0 rad, variando |Ytap| em passos de 0,1 p.u.
com ∠Ytap = 0, para Θx = 0,55 π (rad)

Existe ainda o efeito na potência entregue no terminal 2 decorrente da


inserção do tap em derivação. A figura 8.23 apresenta a variação da potên-
cia recebida neste terminal. De acordo com a convenção de sentidos adota-
da para as correntes (vide figura 8.18), a potência no terminal 2 é negativa
quando o fluxo de energia segue do terminal 1 para o 2, i.é., quando recebe
energia, e positiva no caso contrário, i.e., transmitindo energia para o ter-
minal 1. Observa-se que o aumento da admitância do tap faz com que a po-
tência no terminal 2 diminua. Nos casos mais extremos, a fonte do terminal
receptor chega a fornecer energia para linha (P2 > 0).

Ytap p.u.
5
4
0
3
0.1
2 0.2
1 0.3
P2 Pc p.u.

0.4
0
0.5
1 0.6
2 0.7
0.8
3
0.9
4 1.
5
90 60 30 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270
∆ graus

Figura 8.23:  Potência recebida P2 em função de δ, variando |Ytap| em passos de 0,1 p.u.
com ∠Ytap = 0, para Θx = 0,55 π (rad)

312 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Até o presente momento, foi verificado apenas o efeito da variação da


admitância do tap em derivação, considerando-o puramente resistivo e lo-
calizado no meio da linha. Cabe analisar agora o efeito do tap quando este
é posicionado em outros pontos da linha e o que acontece quando se varia o
ângulo de sua admitância equivalente, ou seja, quando ele não corresponde
somente a uma condutância. A partir dos resultados obtidos acima, pode­
se afirmar que não é viável inserir um TCAD cuja admitância equivalen-
te seja muito elevada. Por esse motivo, as análises subsequentes do TCAD
são baseadas em uma admitância igual a 20% da admitância característica
da linha, que, em se tratando do caso ideal, corresponde a 20% da potência
característica da linha.
Diferentemente do que ocorre quando se insere uma admitância pu-
ramente capacitiva (∠Ytap = +90°) no meio de uma linha média – cujo efei-
to é elevar a tensão nesse ponto –, a inserção de uma admitância capacitiva
numa linha de pouco mais de meio comprimento causa um efeito contrá-
rio, a inserção do tap capacitivo em derivação causa uma redução na tensão
no meio da linha. E de forma dual, a inclusão de uma admitância indutiva
causa uma elevação da tensão no ponto em que foi inserido. Isto pode ser
explicado analisando os parâmetros longitudinais e transversais do circuito
π-equivalente, onde se observa que a impedância longitudinal é capacitiva
e a admitância transversal é essencialmente indutiva. Assim, supondo um
circuito formado por uma impedância indutiva (Zind = j ω Lind) em paralelo
( )
com uma impedância capacitiva Z cap = −j ω C1 cap , a impedância equivalente
do circuito é dada por:

ω Lind
Z cap = j
1− Ccap Lind ω 2

Nota-se que o efeito do capacitor em paralelo é aumentar a amplitude


da impedância equivalente, refletindo em uma redução na tensão no caso
da linha de transmissão. Raciocinando para o caso de um indutor em pa-
ralelo com outro indutor, percebe-se que o efeito é a redução da amplitude
da impedância equivalente, elevando assim a tensão no ponto de inserção.
O que pode ser confirmado na figura 8.24, onde é mostrado o perfil de ten-
são para uma admitância posicionada no meio da linha com amplitude de
0,2 p.u. e variando o ângulo desde puramente indutiva (∠Ytap = −90°) a pu-
ramente capacitiva (∠Ytap = +90°), em passos de 30°.

Capítulo 8 313
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3.5
Ytap
3.
90
2.5 60
30
2.
Uxpu p.u.

0
1.5 30

1. 60
90
0.5

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

Figura 8.24:  Perfil de tensão variando ∠Ytap de −90° a 90° em passos de 30°,
para |Ytap| = 0,2 p.u.

O efeito da variação do ângulo da admitância do tap se reflete nas po-


tências transmitidas e recebidas. A figura 8.25 mostra o efeito sobre essas
potências quando se varia o ângulo da admitância localizada no meio da li-
nha e de amplitude igual a |Ytap| = 0,2 p.u., desde puramente indutiva (∠Ytap
= −90°) a puramente capacitiva (∠Ytap = +90°), em passos de 30°. Nota-se
que a inserção de uma admitância indutiva no meio da linha faz aumentar
tanto a potência transmitida no terminal 1 quanto a potência recebida no
terminal 2. Vale ressaltar que os ângulos das tensões terminais estão fixos.
Para o caso analisado, este aumento foi de aproximadamente 2,7 vezes, para
ambas as potências (uma vez que neste caso não existem perdas). Ao passo
que no caso da inserção de uma admitância capacitiva acontece o inverso,
uma vez que para este caso as potências diminuíram de um fator de 0,613.
Vale ressaltar que a magnitude da admitância considerada é de 0,2 p.u., e
que para esta magnitude é possível aumentar o fluxo de potência em mais de
duas vezes a potência característica da linha (no caso indutivo). Este fato vai
de encontro ao que foi apresentado a respeito da alta “elasticidade” da linha
de pouco mais de meio comprimento de onda em relação à compensação
de reativos. Entretanto, sabe-se que não é recomendado transmitir além da
potência característica, tratando-se apenas de um caso teórico.

314 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

6
 Ytap

90
4 60
30
P1 Pc p.u.
0
2
30
60
0 90

2
180 190 200 210 220
∆ graus

(a)

2
 Ytap

90
0 60
30
P2 Pc p.u.

0
2
30
60
4 90

6
180 190 200 210 220
∆ graus

(b)
Figura 8.25:  Potências transmitidas no (a) terminal 1 e no (b) terminal 2,
variando ∠Ytap de −90° a 90°, em passos de 30°, para |Ytap| = 0,2 p.u.

O balanço de reativos em função do ângulo da admitância inserida no


meio da linha comporta-se conforme mostrado na figura 8.26. Nesta figu-
ra, pode ser observado que a inserção da admitância indutiva faz com que
o balanço de reativos aumente, haja vista que a tensão ao longo da linha
cresce quando um indutor é inserido. Isto está fortemente relacionado com
o balanço de reativos, sendo que o inverso acontece para uma admitância
capacitiva. O valor do balanço de reativos obtido com a inserção da admi-
tância indutiva foi 0,543 p.u., enquanto que para a admitância capacitiva
foi de −0,123 p.u., refletindo na tensão ao longo da linha como subtensões.
No entanto, os valores apresentados acima não são válidos quando o tap
encontra-se posicionado em outro ponto da linha.

Capítulo 8 315
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20
 Ytap

90
15
60
Q1 Q2 Pc p.u.

30
10
0

5 30
60

0 90

5
180 190 200 210 220 230 240 250 260 270
∆ graus

Figura 8.26:  Balanço de reativos variando ∠Ytap de −90° a 90°,


em passos de 30°, para |Ytap| = 0,2 p.u.

O controle sobre o fluxo de potência por meio de uma admitância pu-


ramente reativa varia de acordo com o ponto em que ela é inserida. Para
proceder com a análise do controle do fluxo de potência, foram considera-
dos dois casos: um para admitância puramente capacitiva e outro para pu-
ramente indutiva, com amplitudes iguais a 0,2 p.u., e analisou-se a potência
transmitida e o balanço de reativos quando se varia a posição do tap.
A figura 8.27 mostra a potência transmitida em função da posição do
tap, quando este é uma admitância ou puramente indutiva ou capacitiva.
Observa-se que quando o tap se aproxima da região central da linha, o flu-
xo de potência aumenta quando indutivo, e quando capacitivo sofre uma
redução. Como será apresentado mais adiante, existem dois pontos, um em
que a potência transmitida na entrada e outro em que a potência recebida
na saída, não varia. Independentemente da admitância do tap, esses pontos
são exatamente os pontos de intersecção das duas curvas, em Θtap = 0,1 π rad
≃ 247,5 km) e em Θtap = π rad (≃ 2.475 km).

316 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

3.5

3.

2.5
Admitância Indutiva
P1 Pc p.u.
2.

1.5

1.

0.5 Admitância Capacitiva

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

Figura 8.27:  Balanço de reativos ∆Q, variando-se a posição de uma admitância


puramente reativa (indutiva ou capacitiva), de amplitude |Ytap| = 0,2 p.u.

20
 Ytap

90
15
60
Q1 Q2 Pc p.u.

30
10
0

5 30
60

0 90

5
180 190 200 210 220 230 240 250 260 270
∆ graus

Figura 8.28:  Potência transmitida P1, variando-se a posição de uma admitância


puramente reativa (indutiva ou capacitiva), de amplitude |Ytap| = 0,2 p.u.

Na figura 8.28 é apresentado o balanço de reativos para ambos os ca-


sos de admitâncias. Percebe-se que o balanço de reativos é tanto menor, em
módulo, quanto mais próximo das extremidades da linha o tap estiver lo-
calizado. Na região central, o balanço alcança os maiores valores – máximo
para a admitância indutiva e mínimo para o caso capacitivo.
Portanto, dependendo do objetivo do tap, drenar/fornecer energia ou
controlar o fluxo de potência, este deve ser inserido próximo das extremida-
des ou próximo da região central da linha, respectivamente. Assim, pode-se
controlar o fluxo de potência através de um SVC (Static Var Compensator)
conectado na região central da linha, como é mostrado mais adiante.

Capítulo 8 317
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Continuando a análise quanto à posição do tap na linha, a figura 8.29 mos-


tra o perfil de tensão, quando se varia a posição de uma admitância real, com
|Ytap| = 0,2 p.u., em passos de 0,1 Θ. Dependendo da posição do tap, a tensão ao
longo da linha pode chegar a valores (elevados) de até 1,4 p.u., sendo que as so-
bretensões menos severas acontecem quando o tap está posicionado antes do
meio da linha, considerando o sentido do fluxo de energia do terminal 1 para o 2.
tap 
1.75

1.5 0.1
0.2
1.25 0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.
0.5

0.75 0.6
0.7
0.5 0.8
0.9

1.1  Π
0.25
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

Figura 8.29:  Perfil de tensão ao longo da linha, quando se varia a posição do tap,
Θtap, em passos de 0,1 Θ, para Ytap = 0,2 ∠0 p.u.

A potência transmitida do terminal 1 e a recebida no terminal 2 para o


caso de se variar a posição do tap são apresentadas na figura 8.30 e na figu-
ra 8.31, respectivamente, onde é mostrado que, para cada posição do tap, o
ângulo de abertura entre as tensões terminais são diferentes, tanto para se
transmitir 1,0 p.u. quanto para se receber 1,0 p.u. de potência.

5
4 tap 

3 0.1
2 0.2
1 0.3
P1 Pc p.u.

0.4
0
0.5
1
0.6
2
0.7
3
0.8
4 0.9
5
90 60 30 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270
∆ graus

Figura 8.30:  Potência transmitida no terminal 1, variando-se Θtap em passos de 0,1 Θ,


para Ytap = 0,2 ∠0 p.u.

318 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

5
4 tap 

3 0.1
2 0.2
1 0.3
P1 Pc p.u.
0.4
0
0.5
1
0.6
2
0.7
3
0.8
4 0.9
5
90 60 30 0 30 60 90 120 150 180 210 240 270
∆ graus

Figura 8.31:  Potência recebida no terminal 2, variando Θtap, em passos de 0,1 Θ, para
Ytap = 0,2 ∠0 p.u.

Caso o interesse seja transmitir a potência máxima permitida, a variação


da abertura angular é tanto maior quanto maior for a amplitude da admi-
tância, e possui uma variação não linear em função da posição do tap, como
mostrado na figura 8.32. De acordo com a figura, aparentemente existe um
ponto ótimo de inserção do TCAD que, independentemente de sua ampli-
tude, mantém-se a potência transmitida no terminal 1 igual a 1,0 p.u., sem
precisar alterar a abertura angular δ. Este ponto é igual a Θtap = 0,1 π rad (≃
247,5 km), e, neste caso, somente a potência recebida no terminal 2 é afetada,
de forma complementar à potência do tap. Então, é de se esperar que exista
um ponto ótimo para inserção do tap que não afete a potência recebida, de-
vendo apenas aumentar a potência transmitida para suprir energia ao tap.

Ytap p.u.
260

250
0
240 0.1
230 0.2
0.3
220
∆ graus

0.4
210 0.5
0.6
200
0.7
190 0.8
0.9
180
1.

1.1  Π
170
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
tap rad

Figura 8.32:  Variação da defasagem angular δ em função de Θtap,


mantendo P1 igual a 1,0 p.u., variando |Ytap| e com ∠Ytap = 0

Capítulo 8 319
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Para manter a potência recebida sempre igual a 1,0 p.u., a defasagem


angular δ varia conforme mostrado na figura 8.32. Para valores de |Ytap|
maiores do que 0,24 Yc, não é possível manter a potência recebida constante,
por isso é mostrada a variação de δ somente para |Ytap| ⩽ 0,2 p.u.
Existe um ponto para inserção do tap em derivação que mantém a po-
tência recebida constante e igual a 1,0 p.u. sem precisar alterar a abertura
angular, desde que sua amplitude não supere 0,2 p.u. Este ponto é igual a
Θtap = π rad (∠ 2.475 km).
A justificativa para existência desses pontos é similar à apresentada
para o caso do tap série, e se deve ao fato de que a tensão nesses pontos é
constante, uma vez que só depende de uma das tensões terminais. De acor-
do com (8.7) e (8.10), a tensão no ponto Θx = π rad é igual a Ux = π = −U1 e
a tensão no ponto Θx = 0,1 π rad é igual a Ux = 0,1 π = −U2, respectivamente.
Para finalizar esta análise, será apresentado o perfil de tensão conside-
rando o tap em ambas as posições previamente citadas, tanto para um dre-
no de energia (condutância positiva) quanto para uma injeção de energia
(condutância negativa).

220
Ytap p.u.
215
0

210 0.1
0.2
∆ graus

205

200

195

1.1  Π
190
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
tap rad

Figura 8.33:  Variação da defasagem angular δ em função de Θtap,


mantendo P2 igual a 1,0 p.u., variando |Ytap| e com ∠Ytap = 0

320 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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1.5 Ytap p.u.

0
0.1
1.
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.5 0.5
0.6
0.7
0. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

Ytap p.u.
2.5

0
2. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.5
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.34:  Perfil de tensão, quando Θtap = 0,1 π rad (≃ 247,5 km), variando |Ytap|
considerando (a) ∠Ytap = 0 e (b) ∠Ytap = 180°

Capítulo 8 321
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Ytap p.u.
2.5

0
2. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.5
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

1.5 Ytap p.u.

0
0.1
1.
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.5 0.5
0.6
0.7
0. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.35:  Perfil de tensão variando-se |Ytap|, para Θtap = π rad (≃2.475 km),
considerando (a) ∠Ytap = 0 e (b) ∠Ytap = 180°

Como pode ser observado na figura 8.34a, a injeção de energia no


ponto Θtap = 0,1 π rad causa severas sobretensões, considerando a potência
transmitida constante. Isso pode ser explicado pelo fato de o ponto estar no
início da linha e, como neste caso a potência transmitida no terminal 1 é
igual a 1,0 p.u., toda energia fornecida pelo tap é somada à energia fornecida
pela fonte terminal, fazendo com que a potência transmitida seja superior
à potência característica na maior parte da linha. Lembrando que, quando
a potência transmitida é superior à potência característica, surgem sobre-
tensões que são proporcionais à relação entre essas potências. Ao passo que
a inserção de um dreno neste ponto significa uma diminuição na potência
transmitida, fazendo com que ocorra subtensões ao longo da linha.

322 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Analogamente, para o caso do tap ser inserido no ponto Θtap = π rad


(figura 8.35), o efeito é contrário ao caso anterior, pois, quando o tap é um
dreno de energia, significa que a potência transmitida na maior parte da li-
nha é superior à potência característica, uma vez que este ponto foi calcu-
lado considerando a potência recebida constante e igual a 1,0 p.u. Então,
surgem sobretensões proporcionais à relação entre a potência transmitida
e a potência característica. Cabe ressaltar que mesmo que não exista solu-
ção para a defasagem angular δ para todas as posições do tap quando sua
amplitude é superior a |Ytap| > 2,4 Yc, o ponto em questão é uma solução in-
dependente da amplitude da admitância do tap. Por isso, foram considera-
das amplitudes de valores maiores que 0,2 p.u. Quando o tap é uma injeção
de energia, esta é subtraída da energia transmitida do terminal 1, fazendo
com que a potência transmitida seja menor que a potência característica na
maior parte da linha, explicando as subtensões na linha.
Finalizando a análise qualitativa do tap passivo em derivação, verifica­
se que o balanço de reativos sofre pequenas variações quando se modifica
sua posição, considerando uma amplitude de Ytap = 0.2 p.u., como pode ser
observado na figura 8.36.

tap
2

0
0.1
Q1 Q2 Pc p.u.

1 0.2
0.3
0.4
0.5
0 0.6
0.7
0.8
0.9
1
180 190 200 210 220
∆ graus

Figura 8.36:  Balanço de reativos, variando Θtap, em passos de 0,1 Θ, para Ytap = 0,2∠0 p.u.

8.2  Análise do TCA como elemento ativo


Até o momento foi feita uma análise do comportamento da linha quan-
do um elemento passivo é inserido para drenar ou fornecer energia, i.e.,
uma impedância fixa, sujeita portanto às condições elétricas do ponto em
que está inserida. Apesar de a análise anterior ter esclarecido alguns pontos

Capítulo 8 323
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

quanto à possibilidade de se inserir um tap passivo, julga-se importante que


seja feita outra análise, considerando o tap como um elemento ativo, i.e.,
como uma fonte de energia seja de corrente ou de tensão.
A seguir é feita uma análise expedita do comportamento elétrico da li-
nha quando uma fonte é inserida para drenar ou fornecer energia. Esta parte
dos estudos servirá para expandir alguns resultados que foram obtidos para
o caso de se considerar um elemento passivo.
Assim, para modelar o tap em derivação, optou-se por modelá-lo como
uma fonte de corrente, o que facilita a formulação nodal e a interpretação
dos resultados. Além disso, na simulação em programas de transitórios ele-
tromagnéticos, o controle de um conversor sintetizando uma fonte de cor-
rente em derivação é mais simples do que o controle de uma fonte de ten-
são em derivação. Isto porque a fonte de tensão em derivação é muito mais
sensível a variações de tensões nas proximidades do ponto em que está in-
serida. De forma dual, o tap série foi modelado como uma fonte de tensão.

8.2.1  Fonte de tensão em série

Nesta subseção, será analisado o tap série como uma fonte de tensão.
A figura 8.37 apresenta o modelo do circuito analisado.

Figura 8.37:  Circuito equivalente para análise do TCAS ativo

Seguindo a mesma metodologia das subseções anteriores, i.e., resol-


vendo as equações nodais no ponto de observação e no ponto em que o tap
é inserido, e aplicando alguns conceitos básicos de circuitos, é possível de-
finir o perfil de tensão ao longo da linha como:

324 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada


{ ( ) }
⎪ cossec ( Θ ) e U0 sen ( Θ − Θx ) + ⎡⎣U0 +U tap cos Θ − Θtap ⎤⎦ sen ( Θx ) ,para Θx < Θtap

+ 0⎡U
U ( (
+U+U coscos
⎣ 0 tap tap ) )
Θ −ΘΘ−tapΘtap
⎦ ⎦U }}
( Θx( Θ) ⎪⎪x ,para
⎤ sen
⎤ sen
x =⎨
) ,para
Θx Θ < xΘ<tapΘtap
(8.19)
{ ( ) }
⎪ cossec ( Θ ) ⎡e j δ U0 −U tap cos Θtap ⎤ sen ( Θ − Θx ) + U0 sen ( Θx ) , para Θx > Θtap
⎣ ⎦
) )
tap
⎦ ⎦ ( Θ (−ΘΘ−x Θ
⎤ sen
⎤ sen ) +x )U+0 Usen
0 (}}
senΘx( Θ
) x

,)para


Θx Θ
, para > xΘ>tapΘtap

Onde Utap é a diferença de potencial nos terminais do tap. Para facilitar


a interpretação dos resultados e ajudar a identificar a relação do comporta-
mento elétrico da linha com a tensão do tap, definiu-se a tensão do tap série
em função da tensão nominal da linha, i.e.:

U tap = K u U 0 (8.20)

Sendo Ku uma constante de proporcionalidade, {Ku ∈ | |Ku| ≤ 1}. As-


sim, a tensão normalizada ao longo da linha, em função do fator Ku, é da-
da por (8.21).


{ ( ) }
⎪ cossec ( Θ ) e sen ( Θ − Θx ) + ⎡⎣1+ K u cos Θ − Θtap ⎤⎦ sen ( Θx ) ,para Θx < Θtap

⎣ ) ⎣u u
+Θ⎡x1+ ( ( ) )
+K⎡1+cos K Θ cos
−Θ
⎦ ⎦U } }
sen⎤( Θ
− Θ⎤ tap
Θtap sen
=⎨
⎪Θ ) ,para
x x )( ⎪ ,para
x Θx <ΘΘxtap
< Θtap
(8.21)
{ ⎣ ( )
U0 ⎪ cossec ( Θ ) ⎡e j δ − K cos Θ ⎤ sen Θ − Θ + sen Θ
u tap ⎦ ( x) ( x) } , para Θ x > Θtap

} }

() )⎦
sen⎤⎦( Θ
osap Θ⎤ tap − (Θ
sen )
Θx−) +Θxsen+( Θ
sen (
x) x ⎪
Θ , )
para , para
Θ >ΘΘ
⎩ x xtap tap
> Θ

A figura 8.38a mostra os perfis de tensão ao longo da linha em função da


amplitude de tensão quando o tap é inserido no meio da linha, para os casos
de se drenar e injetar energia. Observa-se que o comportamento é idêntico ao
caso do tap passivo (vide figura 8.2). O mesmo pode ser dito quando o tap é
posicionado no ponto em que a potência transmitida não varia, independen-
temente da amplitude da tensão do tap, (Θtap = 0,6 π rad ≃ 1.483 km), figura
8.39. Ou no ponto em que é a potência recebida que não sofre variações em
função da amplitude, (Θtap = 0,5 π rad ≃ 1.236 km), figura 8.40.

Capítulo 8 325
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Utap  p.u.
1.6

1.4 0
1.2 0.1
0.2
1. 0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.8
0.5
0.6 0.6
0.7
0.4 0.8
0.9
0.2
1.

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

Utap  p.u.
1.6

1.4 0
1.2 0.1
0.2
1. 0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.8
0.5
0.6 0.6
0.7
0.4 0.8
0.9
0.2
1.

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.38:  Perfis de tensão ao longo da linha, quando uma fonte de tensão
é conectada em série no meio da linha, (a) drenando e (b) injetando energia,
considerando a fase da tensão da tap igual à da corrente no ponto em questão

326 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.5 Utap  p.u.

0
0.1
1.
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.5 0.5
0.6
0.7
0. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

Utap  p.u.
2.5

0
2. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.5
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.39:  Perfis de tensão ao longo da linha, quando uma fonte de tensão é
conectada em série no ponto Θtap = 0,6 π rad tanto (a) drenando quanto (b) injetando
energia na linha, considerando a fase da tensão da tap à da corrente no ponto em questão

Capítulo 8 327
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Utap  p.u.
2.5

0
2. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.5
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

1.5 Utap  p.u.

0
0.1
1.
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.5 0.5
0.6
0.7
0. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.40:  Perfis de tensão ao longo da linha, quando uma fonte de tensão é
conectada em série no ponto Θtap = 0,5 π rad, (a) drenando (b) injetando energia,
considerando a fase da tensão da tap igual à da corrente no ponto em questão

Como pode ser observado na figura 8.41a, a potência transmitida so-


fre pouca variação quando o tap é inserido no meio da linha. Porém, dife-
rentemente do que foi mostrado para o tap série passivo (vide figura 8.3), o
balanço de reativos varia proporcionalmente à amplitude do tap série ativo
ao se drenar energia da linha, figura 8.41b. Dessa forma, conclui-se que a
energia drenada ou injetada pelo tap série, localizado na região central da
linha, será limitada praticamente pelo balanço de reativos e pelos valores
de tensão nesta região. Por esse motivo, ao analisar a influência da fase da
fonte de tensão, limitou-se a amplitude da tensão Utap em 0,2 p.u. A figura

328 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.42 mostra o perfil de tensão em função da fase da tensão do tap. Nova-


mente, os resultados obtidos são idênticos aos obtidos para o caso do tap
passivo (vide figura 8.7), confirmando as inferências feitas anteriormente.

Utap p.u.
3

0
0.1
2 0.2
0.3
P1 Pc p.u.

0.4
0.5
0.6
1
0.7
0.8
0.9
1.
0
180 190 200 210 220
∆ graus

(a)

Utap p.u.
3

0
2 0.1
0.2
Q1 Q2 Pc p.u.

0.3
1 0.4
0.5
0.6
0.7
0
0.8
0.9
1.
1
180 190 200 210 220
∆ graus

(b)
Figura 8.41:  (a) Potência transmitida e (b) balanço de reativos de acordo com a
variação da amplitude da tensão do tap ativo no meio da linha, considerado a fase igual
à da corrente no ponto em questão

Capítulo 8 329
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1.4
 Utap

90
1.2
60
Uxpu p.u.

30
1. 0
30
60
0.8
90

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

Figura 8.42:  Perfil de tensão ao longo da linha, para um tap localizado


no meio da linha, em função da fase da tensão Utap

Para finalizar, a figura 8.43 mostra a potência transmitida no terminal 1


em função da localização do tap série com sua fase constante e igual a ±90°,
em relação à tensão terminal U2 (vide figura 8.37). Nota-se que a potência
transmitida possui um comportamento diferente do que no caso em que
se varia a posição de um tap passivo com amplitude constante e fase igual a
±90° (vide figura 8.11). Isto pode ser explicado pelo fato de que a fonte de
tensão possui sua fase constante em relação ao terminal receptor da linha e,
como as fases das tensões e correntes variam ao longo da linha, a fonte terá
um efeito diferente dependendo do ponto de inserção.

2.
 Utap

1.5 90

90
P1 Pc p.u.

1.

0.5

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
tap p.u.

Figura 8.43:  Potência transmitida no terminal 1 da linha em função


da localização de uma fonte com fase ±90°

330 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Para esclarecer o exposto, considera-se um caso hipotético de uma li-


nha ideal com um comprimento elétrico igual a Θ = 1,1 π rad, e transmi-
tindo sua potência característica. Toma-se como referência para as fases das
tensões fase-terra e correntes longitudinais ao longo da linha a fase da ten-
são no terminal receptor, i.e., U2. De acordo com as hipóteses acima, a cor-
rente estará em fase com a tensão em todos os pontos da linha, pois se trata
de uma linha ideal. Assim, se uma fonte de tensão com fase −90° for inserida
em série com a linha no terminal 2, seu efeito equivalente em regime será o
de um capacitor em série, ao passo que se esta mesma fonte for inserida no
terminal 1, o seu efeito em regime será o de uma impedância indutiva, pois
a fase da tensão e da corrente neste terminal é igual a 1,1 π, isto pode ser ob-
servado no diagrama fasorial apresentado na figura 8.44. Por esse motivo,
na figura 8.43 a potência transmitida é menor quando a fonte é inserida no
início da linha e maior no final. Neste exemplo hipotético, não foi conside-
rado o efeito sobre a corrente ao longo da linha quando a fonte é inserida,
o objetivo é simplesmente mostrar, de forma qualitativa, o efeito da inser-
ção da fonte com fase constante em relação às grandezas terminais da linha.

(a) (b)
Figura 8.44:  Diagrama fasorial da tensão e corrente quando uma fonte com
fase igual a −90° é inserida no (a) terminal 2 e no (b) terminal 1

Ao se variar a fase da fonte de acordo com sua posição, o efeito sobre a


potência transmitida é similar aos resultados obtidos com o tap série passi-
vo (vide figura 8.11), e isto é ilustrado na figura 8.45, confirmando as con-
clusões de que na região central, o tap série é o mais indicado para se dre-
nar/injetar energia.

Capítulo 8 331
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

2.
 Utap

1.5 90

90
P1 Pc p.u.

1.

0.5

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
tap p.u.

Figura 8.45:  Potência transmitida no terminal 1 da linha em função da localização de


uma fonte com fase ±90° em relação ao ponto de inserção do tap, e |Utap| = 0,2 p.u.

8.2.2  Fonte de corrente em derivação

No caso do tap ativo em derivação, a energia injetada/drenada pode


ser controlada pela corrente do tap (Itap). O circuito utilizado na análise é
mostrado na figura 8.46. Vale ressaltar que o tap em derivação possui um
comportamento dual ao do tap série, o que será confirmado com muitos
dos resultados aqui apresentados.

Figura 8.46:  Circuito equivalente para análise do TCAD ativo

De forma análoga ao caso do item anterior, obtém-se que o perfil de


tensão ao longo da linha é dado por:

332 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada


{ ( )
⎪ cossec ( Θ ) e U0 sen ( Θ − Θx ) + ⎡⎣U0 − j I tapZ c sen Θ − Θtap ⎤⎦ sen ( Θx ) ,

}
⎣ ) ⎣u u
+Θ⎡x1+ +K⎡1+cos( ( ) )
K Θ cos
−Θ − Θ⎤ tap
Θtap } }
sen ⎪Θ,para,para
⎦ ⎦(Ux x=)( ⎪⎨ x )
sen⎤ Θ Θx <ΘΘxtap
< Θtap
(8.22)
{ ( )
⎪ cossec ( Θ ) ⎡e j δ U0 − j I tapZ c sen Θtap ⎤ sen ( Θ − Θx ) +U0 sen ( Θx ) ,
⎣ ⎦ }
() ) sen⎤⎦( Θ
s Θ⎤ tap
ap ⎦
− (Θ
sen )
Θx−) +Θxsen+( Θ} }
senx (
) )

Θ, xpara


Θx >ΘΘxtap
, para > Θtap

Onde Itap representa a corrente do tap, e os elementos dos circuitos


π-equivalentes são definidos conforme (8.3). Pelo mesmo argumento uti-
lizado para o tap série, definiu-se a corrente Itap em função da corrente ca-
racterística da linha, i.e.:
U0
I tap = K i = Ki Ic (8.23)
Zc

Sendo Ki uma constante de proporcionalidade, {Ki ∈ | |Ki| ≤ 1} . Assim,


a tensão normalizada ao longo da linha, em função do fator Ki, é dada por:


{ ( )
⎪ cossec ( Θ ) e sen ( Θ − Θx ) + ⎡⎣1− j K i sen Θ − Θtap ⎤⎦ sen ( Θx ) ,

}
⎣ ) ⎣u u
+Θ⎡x1+ +K⎡1+cos ( ( ) )
K Θ cos
−Θ Θtap sen⎤( Θ
− Θ⎤ tap
⎦ ⎦U } }
sen
=⎨
⎪Θ,para,para
x x )( ⎪ x )
Θx <ΘΘxtap< Θtap
(8.24)
{ ⎣ i( )
U0 ⎪ cossec ( Θ ) ⎡e j δ − j K sen Θ ⎤ sen Θ − Θ + sen Θ
tap ⎦ ( x) ( x) , }
() )
⎦ ⎦(

osap Θtap ⎤
sen Θ − (Θ
sen Θx−) +Θxsen } }
) +( Θsenx )( Θ, xpara

) ⎪⎩, para
Θx >ΘΘxtap
> Θtap

A figura 8.47a e a figura 8.47b mostram os perfis de tensão quando uma


fonte está localizada no meio da linha, ou injetando energia ou drenando
energia, respectivamente. Nota-se que a inserção de um tap em derivação
no meio da linha traz o inconveniente de apresentar elevadas sobretensões,
confirmando que se trata de um ponto inadequado para esta conexão. Po-
rém, os perfis de tensão são diferentes do que os apresentados para o caso do
tap passivo (vide figura 8.19 e figura 8.20), além das sobretensões possuírem
valores maiores. Isso pode ser explicado pelo fato de que no caso do tap ati-
vo a corrente injetada/drenada é independente da tensão no ponto de cone-
xão, enquanto que no tap passivo a corrente injetada/drenada varia de acor-
do com a tensão do ponto. Portanto, no caso do tap passivo, quanto menor
for a tensão no ponto de conexão menor será a energia injetada ou drenada.

Capítulo 8 333
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Itap  p.u.
4.

0
3. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
2.
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

Itap  p.u.
4.

0
3. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
2.
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.47:  Perfil de tensão, quando uma fonte de corrente é inserida
no meio da linha, tanto (a) injetando quanto (b) drenando corrente

Quando a fonte é localizada próximo às extremidades da linha, mais


precisamente nos pontos identificados anteriormente como notáveis –
Θtap = 0,1 π rad (x ≃ 247,5 km) e Θtap = π rad (x ≃ 2.475 km) –, os perfis de
tensão, figuras 8.48 e 8.49, são idênticos aos perfis apresentados na análise
do tap passivo (vide figuras 8.34 e 8.49), confirmando que essas regiões são
mais indicadas para a inserção do TCAD.

334 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Itap  p.u.
2.5

0
2. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.5
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

1.5 Itap  p.u.

0
0.1
1.
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.5 0.5
0.6
0.7
0. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.48:  Perfil de tensão quando uma fonte de corrente é conectada
em Θtap = 0,1 π rad, tanto (a) injetando quanto (b) drenando corrente

Capítulo 8 335
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1.5 Itap  p.u.

0
0.1
1.
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
0.5 0.5
0.6
0.7
0. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

Itap  p.u.
2.5

0
2. 0.1
0.2
0.3
Uxpu p.u.

0.4
1.5
0.5
0.6
0.7
1. 0.8
0.9
1.

1.1  Π
0.5
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.49:  Perfil de tensão quando uma fonte de corrente é
conectada em Θtap = π rad, (a) injetando (b) drenando

336 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

A figura 8.50 apresenta o perfil de tensão quando a fonte de corrente é


conectada no meio da linha e sua fase varia de −90° a 90°, em passos de 30°.
Observa-se que os resultados obtidos são similares aos apresentados na fi-
gura 8.24, valendo a mesma justificativa com relação à elevação de tensão
quando um elemento, seja ele puramente indutivo ou capacitivo.
2.
 Itap

90
1.5
60
Uxpu p.u.

30
1. 0
30
60
0.5
90

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

Figura 8.50:  Perfil de tensão ao variar a fase da fonte de corrente,


localizada no meio da linha

Para finalizar a análise, são mostradas as variações da potência trans-


mitida no terminal 1 e do balanço de reativos em função da posição da fonte
de corrente, com Itap = 0,2∠ − 90° p.u., equivalente a um indutor com cor-
rente fixa, e com Itap = 0,2∠+90° p.u., equivalente a um capacitor com cor-
rente fixa, respectivamente.
Apesar de não se ter o mesmo “ganho” na potência transmitida, con-
forme ocorreu para o caso passivo, o aumento na potência transmitida foi,
aproximadamente, de 50% para o caso da fonte indutiva, ao passo que o
balanço de reativos sofre pequena influência, em acordo com os resultados
obtidos para o tap passivo (vide figura 8.30).

Capítulo 8 337
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

2.
 Itap

1.5 90

90
P1 Pc p.u.

1.

0.5

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)

1.
 Itap

0.5 90
Q1 Q2 Pc p.u.

90

0.

0.5

1.1  Π
1.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.51:  Variação da (a) potência transmitida e do (b) balanço de reativos,
variando a posição da fonte de corrente com fase de −90° (indutiva) e 90° (capacitiva),
em relação à tensão no ponto em que se encontra o tap

Assim, conclui-se a análise dos TCAs ativos e, como principal contri-


buição desta análise, está o fato de se ter agora uma melhor compreensão do
comportamento elétrico da linha em regime permanente. Quando um tap é
conectado, seja este em série ou em derivação, pode-se prever possíveis in-
convenientes como, por exemplo, sobretensões ao longo desta. Apesar de
toda a análise ter sido feita considerando a linha ideal, as conclusões aqui
obtidas são válidas para um estudo qualitativo e preliminar, e muitos dos fe-
nômenos aqui previstos foram comprovados em simulações utilizando pro-
gramas de transitórios eletromagnéticos, como será visto a seguir.

338 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.3  Modelos utilizados nas simulações dos TCAs


Como visto na seção anterior, é possível inserir um TCA para se drenar
ou injetar energia em uma linha MO+. Porém, na análise apresentada, a linha
foi considerada ideal e representada por seu modelo de sequência positiva,
e o TCA foi modelado ou como um elemento passivo (impedância/admi-
tância constantes) ou como uma fonte de energia (tensão/corrente). Além
disso, todas as análises foram feitas para a frequência industrial em regime
permanente, e não foi considerado nenhum tipo de controle no modelo do
TCA. Diante disso, faz-se necessária uma análise mais detalhada da inser-
ção dos TCAs na linha, para avaliar a influência de sua inserção e consolidar
as inferências já feitas. Optou-se por se utilizar um programa de transitó-
rios eletromagnéticos para desenvolver tais análises, PSCAD/EMTDC [24].
O TCA foi idealizado como um dispositivo baseado em eletrônica de
potência capaz de sintetizar uma fonte de corrente, ou de tensão, de tal for-
ma que se tenha total controle sobre o fluxo de energia drenado, ou injetado,
por ele, sem que, contudo, prejudique a operacionalidade da linha MO+ e do
sistema ao qual o TCA é conectado. Novamente ressalta-se a importância
de se analisar a inserção do dispositivo através de um programa de transi-
tórios eletromagnéticos, pois, como se trata de um dispositivo com chaves
que comutam a uma frequência de alguns quilohertz, é possível que exis-
tam ressonâncias ou mesmo problemas de instabilidade no sistema. Além
disso, o controle deve ser rápido o suficiente para detectar uma rejeição de
carga do sistema local e transferir o excedente de energia para o sistema de
transmissão. Nesta seção, são mostrados os principais resultados obtidos
nas simulações dos TCAs com o programa de transitórios eletromagnéticos.
Para proceder com esta análise, foi considerado um sistema hipotético,
que engloba a maioria dos dispositivos de um sistema elétrico de potência.
Este sistema é mostrado na figura 8.52, o qual é composto por dois subsis-
temas conectados por duas linhas MO+, e o TCA é inserido em uma delas,
ou em derivação ou em série. Cabe ressaltar que os sistemas de controle e
de potência são distintos, dependendo do tipo da conexão do TCA.

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Pc = 2 × 8.0 GW
2700 km
1000 kV 1000 kV
18 kV 500 kV 500 kV 500 kV

∆ TCA ∆
∆− Equivalente
Geração 69kV 69kV SIN
P = 3000 MW
Q = 986 MVAr
TCAD TCAS
LT LT LT

Geração 18 kV 230 kV
Local P = 1000 MW
Q = 328.68 Mvar
Figura 8.52:  Sistema simulado

8.3.1  Topologia do TCA

Para desempenhar a função de drenar/injetar energia da linha, algumas


topologias de conversores foram analisadas, desde os conversores mais sim-
ples, como o conversor de seis pulsos, até conversores mais complexos, co-
mo os multiníveis e multipulsos [27]–[22]. Com o objetivo de definir uma
topologia que fosse capaz de ser bidirecional em fluxo de energia (i.e., dre-
nar/injetar), a análise foi feita com o intuito de se encontrar uma topologia
que possibilitasse a configuração back-to-back e ao mesmo tempo apresen-
tasse um número razoável de componentes.
No que tange à questão da configuração back-to-back, as topologias
com fontes CC separadas e as com o neutro “grampeado” por capacitor, ou
capacitor flutuante (Flying Capacitor) [37], foram consideradas inadequa-
das. A primeira, por existir a possibilidade de curto-circuito entre as fontes
CC e, a segunda, por apresentar um alto grau de complexidade para balan-
cear as tensões sobre os capacitores, além, é claro, pelo número elevado de
capacitores necessários.
Além disso, por se estar buscando o fluxo de energia entre a linha e o
conversor, a regulação de tensão sobre os capacitores dos conversores multi-
níveis torna-se uma tarefa árdua. Diferentemente do que acontece quando se

340 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

está basicamente interessado compensar reativos, onde a energia ativa serve


apenas para compensar as perdas neste. Isso ocorre na maioria dos compen-
sadores estáticos baseados em conversores VSC (Voltage Source Converter).
Por esse motivo, as topologias com mais de três níveis também foram des-
consideradas, independentemente do tipo do conversor multinível.
Outro ponto importante é buscar a minimização das perdas por chave-
amento, sem que com isso a distorção harmônica total (THD – Total Har-
monic Distortion) de tensão seja afetada consideravelmente. Uma solução
seria adotar uma topologia de conversores multipulsos [10], onde é possí-
vel sintetizar as tensões sem a utilização de técnicas de modulação por lar-
gura de pulsos (PWM – Pulse Width Modulation), chaveando na frequên-
cia fundamental. Contudo, para se obter um baixo THD, é necessário um
elevado número de conversores e transformadores (no caso do conversor
de 48-pulsos). O problema persiste, mesmo que se adote uma topologia de
conversores multipulsos compostos por conversores multiníveis. Neste caso,
é ainda necessário controlar as tensões sobre os capacitores [33], [39] e [25].
Diante do exposto, duas topologias foram consideradas adequadas pa-
ra o TCA, i.e., dentro dos critérios que foram impostos na análise destas. A
topologia do conversor trifásico em ponte completa de dois níveis e o con-
versor de três níveis com o neutro “grampeado” por diodo (NPC – Neutral
Point Clamped). Esta última apresentada por Nabae et. al. [27]. Apesar do
número maior de componentes, optou-se pela segunda topologia, porque
a tensão sobre os capacitores é a metade da tensão do elo de corrente contí-
nua, e as chaves de estado sólido são submetidas a tensões menores do que
no caso do conversor dois níveis. Além disso, a tensão sintetizada apresenta
menor distorção harmônica para uma mesma frequência de chaveamento.
Assim, a topologia utilizada é apresentada na figura 8.53.

C1

n
C2

Figura 8.53:  Topologia NPC back-to-back

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Como se necessita de uma topologia back-to-back, é interessante que


o número de componentes seja minimizado, de forma a tornar o conversor
menos oneroso. Então, uma outra solução é utilizar módulos de conversores
multiníveis empregando técnicas de modulação PWM associados a filtros
harmônicos passivos para minimizar o THD (Total Harmonic Distortion)
de tensão [35]–[34]. Esta solução apresentou-se como a mais indicada, uma
vez que se pode diminuir o número de módulos, à medida que se diminui
a potência nominal do TCA. Na simulação, não foi considerada a constru-
ção do TCA por meio de módulos de conversores de menor potência, haja
vista que o objetivo principal era analisar a viabilidade e os efeitos causados
com a inserção de um TCA na linha MO+. Sendo assim, o TCA simulado é
composto por apenas dois conversores NPC na configuração back-to-back.
A modulação utilizada foi a SPWM (Sine PWM).

8.3.2 Transformadores

O modelo de transformador utilizado nas simulações foi o Unified


Magnetic Equivalent Circuit do PSCAD [24].
Para representar as capacitâncias das buchas do transformador, in-
cluem-se capacitores entre as fases e o terra. Como não se está analisando a
resposta destes transformadores frente a fenômenos rápidos (e.g., descargas
atmosféricas), é de se esperar que essas capacitâncias tenham pouca influ-
ência na resposta do sistema, que de fato se confirmou. Elas foram consi-
deradas apenas para caracterizar a presença do fenômeno.
O valor utilizado para a capacitância de bucha foi de 300 pF, o mesmo
utilizado em [41] para um transformador de ultra-alta tensão [1].

8.3.3  Subsistema local

Apesar de não fazer parte do TCA propriamente dito, o subsistema lo-


cal será descrito nesta subseção, por se entender que ele é “visto” da linha
por meio do TCA.
O subsistema local foi representado por uma geração local alimentan-
do uma carga de 1.000 MW, conforme mostrado na figura 8.54. O objetivo
é representar um sistema hipotético que seja capaz de tanto drenar a ener-
gia quanto de fornecê-la à linha.

342 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

umec

18/230 kV
Geração
1100 MVA
Local 0.08 p.u.
Figura 8.54: Subsistema local

Esse subsistema também pode ser interpretado como uma possível co-
nexão interáreas.

8.3.4 Sistema simulado

O sistema simulado foi baseado em estudos realizados pela Eletronorte e


pela EPE sobre a implantação dos grandes complexos hidrelétricos na Ama-
zônia como, por exemplo, o de Belo Monte (CHE Belo Monte) [45]–[43].
Estima-se que a potência instalada deste complexo será de mais de 11 GW,
e grande parte será destinada para atender à demanda das regiões Sudeste e
Nordeste. Nesse caso, a geração está distante dos grandes centros consumi-
dores mais de 2.000 km como mostrado na figura 8.55. As análises apresen-
tadas aqui tem o intuito apenas de ilustrar o comportamento da linha MO+
com a inserção dos taps em corrente alternada.

Figura 8.55: Distâncias dos complexos de Belo Monte aos grandes centros
consumidores do país

cApÍtuLo 8 343
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O sistema simulado foi dividido em três subsistemas, além do TCA


propriamente dito:

• Subsistema 1 (Geração): compreende todos os elementos de rede


desde a geração até a linha MO+. Estão incluídos nesse subsistema os
equivalentes dos geradores, os transformadores elevadores, a carga
local e os autotransformadores que elevam a tensão para adequar à
tensão nominal da linha.

• Subsistema 2 (Equivalente do SIN): ponto de conexão na região Su-


deste, estão incluídos os autotransformadores e o equivalente elétrico
do sistema elétrico brasileiro no ponto de conexão.

• Subsistema 3 (Transmissão): composta por duas linhas de pouco


mais de meio comprimento de onda com 2.700 km, Θ ≃ 1,1 π, com
tensão nominal de 1.000 kV e, potência característica de Pc = 8 GW
cada uma, o que garante uma capacidade de transmissão de 16 GW.

A seguir, cada um desses subsistemas é descrito em maiores detalhes.

8.3.4.1  Subsistema 1: Geração

Como o objetivo principal deste trabalho é analisar o comportamento


do TCA inserido em uma linha MO+, o sistema de geração foi considerado
como um barramento “infinito” de 18 kV, i.e., não foi considerada a dinâ-
mica das máquinas nem o sistema de regulação das turbinas. Os geradores
são conectados ao sistema de transmissão por meio de 40 transformadores
elevadores de 500 MVA/18 kV/500 kV, com XT = 12,8% cada um, ligados
em delta-estrela (∆ − Y).
Segundo os estudos [45]–[43], 3.000 MW serão destinados para aten-
der à região Nordeste, no caso de Belo Monte. Então, baseado nesta infor-
mação, no modelo simulado, esta parcela foi representada por uma carga
de 3.000 MW com fator de potência igual a 0,95 indutivo conectada ao se-
tor de 500 kV.
E, por fim, o subsistema de geração é conectado ao setor de 1.000 kV
por meio de 10 autotransformadores de 2.000 MVA, 1.000 kV/500/69 kV
(Y-Y-∆), com Zp = 0,79%, Zs = −0,12% e Zt = 3,45% cada um.

344 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.3.4.2  Subsistema 2: Equivalente do SIN

Para representar o sistema elétrico brasileiro, foi calculado seu equiva-


lente de Thévenin no ponto de conexão, obtido com o programa Anafas do
Cepel. Analisaram-se três possíveis pontos de conexão, todos consideran-
do a expansão do sistema até o horizonte 20094 SE Cachoeira Paulista, SE
Araraquara 500 kV e SE Emborcação. Cabe ressaltar que todos esses pon-
tos estão a uma distância da ordem de 2.600 km dos centros de geração. De
acordo com os resultados obtidos, o ponto de conexão escolhido foi a SE
Emborcação por ter as menores impedâncias de sequências, caracterizando
o ponto mais “forte” dentre os três.
Além do equivalente do SIN, o subsistema 2 é composto por 10 auto-
transformadores de 2.000 MVA, 1.000 kV/500/69 kV (Y-Y-∆), com as mes-
mas características dos apresentados no subsistema 1.

8.3.4.3  Linha de transmissão

Os dois subsistemas descritos acima são interconectados por duas li-


nhas de transmissão MO+, cujos comprimentos são iguais a 2.700 km, que
correspondem a comprimentos elétricos equivalentes de aproximadamen-
te 1,1 π radianos, considerando a velocidade de propagação igual a 99% da
velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas no vácuo.
Uma linha de transmissão convencional de 765 kV (nível de tensão
mais elevado no Brasil), normalmente possui quatro condutores por fase
dispostos no vértice de um quadrado de lado igual a 45,7 cm, e sua potência
característica é em torno de 2,1 GW [8]. As linhas utilizadas na simulação
foram otimizadas de acordo com a metodologia apresentada nos capítulos
anteriores, para uma tensão nominal de 1.000 kV. Cada linha tem 12 con-
dutores Bluejay (1.113 MCM) por fase e potência característica de 8 GW,
calculada para uma altitude de 1.000 m, considerando a temperatura am-
biente igual a 40°C e temperatura dos condutores igual a 65°C. A geometria
da linha simulada é mostrada na figura 8.56. Outras geometrias foram es-
tudadas, contudo esta foi a que melhor atendia aos objetivos deste trabalho.

4 Dados obtidos diretamente no sítio eletrônico do ONS: http://www.ons.org.br/conheca sistema/dados tecnicos.aspx,


em 10/07/2005.

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65

55

Torre

45
h m

35

Meio do vão

25

15
20 15 10 5 0 5 10 15 20
y m

Figura 8.56:  Geometria da linha simulada

A linha foi modelada no programa de transitórios eletromagnéticos


PS-CAD/EMTDC utilizando o modelo que considera os parâmetros de-
pendentes da frequência no domínio das fases [26] e [16]. As duas linhas
de 2.700 km foram subdivididas em 18 trechos de transposição, cada um
com 150 km de comprimento com esquema de transposição de 1/6 − 1/3
− 1/3 − 1/6 de seu comprimento, conforme mostrado na figura 8.57, totali-
zando os 2.700 km. Isto foi feito por dois motivos principais, primeiro para
minimizar os possíveis erros no cálculo dos parâmetros das linhas, pois o
tamanho máximo das subdivisões existentes é de 50 km (≪ λ/4). E, segun-
do, para se ter acesso às tensões ao longo das linhas, o que permite traçar os
perfis de tensão. Cabe ressaltar que as linhas foram consideradas suficien-
temente distantes uma da outra, de modo que se pudesse desprezar as im-
pedâncias mútuas entre elas.

346 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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LT1
A A
B B
C C

LT2
A A
B B
C C

25 km 50 km 50 km 25 km
150 km
Figura 8.57:  Esquema de transposição em cada trecho de 150 km

8.4  Simulação do TCA série


Nesta seção, são apresentados os principais resultados obtidos na si-
mulação do TCAS, com o programa PSCAD. A descrição do controle e do
princípio de funcionamento é feita supondo o TCAS inserido no meio da
linha MO+. Como os controles de cada conversor do TCAS são distintos, é
feita a descrição de cada um e, em seguida, são apresentados os resultados
correspondentes.
O TCA é bidirecional em energia, logo ambos os conversores podem
operar tanto com retificador como inversor. Porém, para dar clareza à ex-
planação do controle de cada um, considerou-se a configuração padrão de
operação do TCA como sendo o modo dreno de energia. Dessa forma, por
convenção, designou-se o conversor que está do lado da linha MO+ como
retificador e o conversor que está do lado do sistema local como inversor,
como mostrado na figura 8.58.

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Figura 8.58:  Convenção adotada para designar os conversores do TCAS

O tempo simulado no PSCAD® foi de 5 s, com passo de integração de


10 µs. Os principais eventos da simulação são citados abaixo:

t1 = 1,4 s ⟹ liga retificador.


t2 = 1,7 s ⟹ habilita o inversor e o conecta ao retificador, mas a ordem
de potência permanece em zero, Pref = 0.
t3 = 2,0 s ⟹ é dada a ordem para que o inversor forneça 1 GW ao sis-
tema local, i.e., Pref = 1 GW, essa energia é drenada da linha.
t4 = 3,0 s ⟹ muda-se a referência do inversor para Pref = −1 GW, i.e.,
inversão total do fluxo de energia e o tap injeta essa energia na linha.
t5 = 4 s ⟹ finalmente, muda-se a referência do inversor para Pref = 0,5
GW, e o TCAS fornece apenas uma parte da energia demandada
pela carga do sistema local.

Nas simulações, apenas se ordenou que o TCA injetasse, ou drenasse,


energia ativa do sistema local, supôs-se que a energia reativa fosse forneci-
da pela a geração local.

8.4.1  Controle do retificador

Como a linha na região central possui um comportamento de fonte


de corrente, independentemente do seu carregamento, o TCAS deve gerar
uma tensão tal que seja possível drenar/injetar energia da linha. Para mini-

348 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


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mizar a energia drenada/injetada da linha, a melhor solução é que a tensão


gerada esteja em fase com a corrente da linha, variando-se apenas sua am-
plitude, o que equivale a uma resistência de amplitude variável inserida em
série na linha. As tensões geradas pelo retificador são sincronizadas com
as correntes de linha por meio de um circuito de sincronismo, PLL (Phase­
Locked-Loop) [38].
Para o conversor do lado da linha, o controle utilizado foi baseado na
Teoria Dual das potências real e imaginária instantâneas [4], em que as ten-
sões a serem sintetizadas são definidas a partir das correntes da linha, i.e.:

⎡ υα cret ⎤ ⎡ i α LT −i β ⎤ ⎡ pref ⎤
⎢ ⎥= 1 ⎢ LT
⎥ ⎢ ⎥
⎢ iβ ⎥ (8.25)
⎢ υ βcret ⎥ iα2 LT + iβ2 i α LT ⎢ qref ⎥
⎣ ⎦ LT ⎢⎣ LT ⎥⎦ ⎣ ⎦

Onde iαLT e iβLT são as correntes da linha no referencial αβ, de acordo


com (8.28).
O sinal da potência de referência, (pref), é obtido da comparação entre as
tensões dos capacitores, enquanto que a potência imaginária, (qref), é man-
tida igual a zero. Isto é, o controle determina o quanto de energia ativa deve
entrar, ou sair, no conversor para manter a tensão do elo de corrente contí-
nua igual ao valor de referência. Por se estar trabalhando com conversores
de três níveis, existe ainda o problema de balancear as tensões nos dois ca-
pacitores, pois apenas aquela malha de controle não garante o balanço das
tensões, garante somente que a soma das tensões será igual à referência. Pa-
ra contornar este problema, acrescentou-se mais uma malha que trabalha
com a diferença entre as tensões do capacitor superior (UC1) e do capacitor
inferior (UC2). Essa diferença (ε∆m) serve de entrada para um controlar PI, e
a saída é um sinal (∆υctrl) que será subtraído, e somado, com os sinais mo-
dulantes do PWM, gerando um padrão de chaveamento ligeiramente as-
simétrico, permitindo ao controle determinar qual capacitor deve receber
mais ou menos energia em cada semiciclo do PWM. A figura 8.59 mostra
o diagrama esquemático do controle do retificador, onde são mostradas as
duas malhas de controle. Cabe ressaltar que, no caso em questão, uma vez
as tensões estando balanceadas, o sinal de saída do PI será nulo ou muito
próximo disso, o que garante que o impacto na tensão ca seja muito peque-
no em regime permanente.

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Figura 8.59:  Controle do retificador utilizando a estratégia de modulação SPWM PD

Para confirmar o funcionamento da estratégia de controle, a figura


8.60 apresenta as tensões sobre os capacitores do elo CC, onde se confirma
a eficácia do controle.
80
UC1
UC2
60
u kV

40

20

0
0 1 2 3 4 5
tempo s

Figura 8.60:  Tensões sobre os capacitores do elo CC

350 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.4.2  Controle do inversor

Partindo da hipótese de que as tensões sobre os capacitores estão re-


guladas e balanceadas pelo retificador, o lado inversor tem como objetivo
controlar o intercâmbio de energia entre o TCAS e o subsistema local. Para
isso, as tensões a serem sintetizadas devem ser calculadas a partir das cor-
rentes que devem ser injetadas no ponto de conexão comum (PCC). Essas
correntes são determinadas de acordo com a potência desejada do inversor
(pref) e as tensões medidas na carga.
A partir dos conceitos da Teoria das potências real e imaginária instan-
tâneas [3], [48], [5] e [4], as correntes a serem injetadas são calculadas por:

⎡ iα c ⎤ ⎡ υ α carga υ β ⎤ ⎡ pref ⎤
⎢ inv ⎥= 1 ⎢ carga
⎥ ⎢ ⎥ (8.26)
⎢ i βc inv ⎥ υ α carga + υ 2β carga
2 ⎢ υβ −υ α carga ⎥ ⎢ qref ⎥
⎣ ⎦ ⎢⎣ carga ⎥⎦ ⎣ ⎦

Onde υαcarga e υβcarga são as tensões medidas na carga no sistema de co-


ordenadas αβ, obtidas por meio da Transformada de Clarke (8.27). E iαcinv e
iβcinv são as correntes instantâneas que devem ser injetadas pelo inversor no
PCC, em coordenadas αβ. A transformada de Clarke para as tensões é dada
por (8.27) e, para correntes, por (8.28).

⎡υ ⎤
⎡ υα ⎤ ⎡ 1 − 12 − 12 ⎤ ⎢ a ⎥
⎢ ⎥= 2 ⎢ ⎥ ⎢ υb ⎥ (8.27)
⎢ υβ ⎥ 3 ⎢ 0 23 − 23 ⎥⎦ ⎢ ⎥
⎣ ⎦ ⎣
⎢⎣ υc ⎥⎦
⎡ i ⎤
⎡ iα ⎤ ⎡ 1 − 12 − 12 ⎤ ⎢ a ⎥
⎢ ⎥= 2 ⎢ ⎥ ⎢ ib ⎥ (8.28)
⎢ iβ ⎥ 3 ⎢ 0 23 − 23 ⎥⎦ ⎢ ⎥
⎣ ⎦ ⎣
⎢⎣ ic ⎥⎦

De posse das correntes no referencial αβ, faz-se a transformação para


um referencial síncrono dq, para que em regime permanente e grandezas
senoidais as referências de correntes idcinv e iqcinv sejam valores constantes, o
que permite obter erros de correntes nulos através de um controlador PI. A
relação entre as componentes dos referenciais αβ e dq é dada pela transfor-
mada de Park modificada [4]:

Capítulo 8 351
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

⎡ υ d ⎤ ⎡ cos(ω t ) sen(ω t ) ⎤ ⎡ υα ⎤
⎢ ⎥=⎢ ⎥ ⎢ ⎥ (8.29)
⎢ υ q ⎥ ⎢ −sen(ω t ) cos(ω t ) ⎥⎦ ⎢ υβ ⎥
⎣ ⎦ ⎣ ⎣ ⎦
ou
⎡ id ⎤ ⎡ cos(ω t ) sen(ω t ) ⎤ ⎡ iα ⎤
⎢ ⎥=⎢ ⎥ ⎢ ⎥ (8.30)
⎢ iq ⎥ ⎢ −sen(ω t ) cos(ω t ) ⎥⎦ ⎢ iβ ⎥
⎣ ⎦ ⎣ ⎣ ⎦

Onde ω é a frequência angular dos eixos dq.

A figura 8.61 apresenta o diagrama de bloco do controle do inversor.

Figura 8.61:  Controle do inversor

352 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Como principal resultado de simulação, com relação ao funcionamen-


to do inversor, na figura 8.62 e na figura 8.63 são apresentadas as potências
ativas e reativas instantâneas do inversor, da fonte local e da carga, respecti-
vamente, o que caracteriza o intercâmbio de energia no sistema.

2.5
pinv
2. pGL
pcarga
1.5
1.
p GW

0.5
0
0.5
1.
1.5
0 1 2 3 4 5
tempo s

Figura 8.62:  Potências ativas instantâneas no PCC do lado do inversor.

600
qinv
qGL
qcarga
400
q Mvar

200

200
0 1 2 3 4 5
tempo s

Figura 8.63:  Potências reativas instantâneas no PCC do lado do inversor

8.4.3  Resultados de simulação do TCAS


quanto à sua localização na linha

Nesta subseção, são apresentados os resultados de simulação do TCAS


com enfoque no desempenho das linhas, mais especificamente quanto ao
perfil de tensão e as potências transmitidas e recebidas nos terminais das
linhas. Como foi concluído anteriormente, o TCA série é mais indicado pa-
ra ser inserido na região central da linha e que, quando inserido nas regi-
ões terminais, haveria sobretensões, além de afetar a potência transmitida.
Com objetivo de confirmar o que foi exposto na análise analítica do tap,
foram feitas simulações com o TCAS em três pontos, separadamente. O pri-

Capítulo 8 353
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

meiro, no meio da linha. O segundo, a 450 km do terminal emissor (termi-


nal 1), que foi designado como início da linha, e o terceiro, a 450 km do ter-
minal receptor (terminal 2), que foi considerado como região final da linha.
Para que não haja sobretensões ao longo da linha, em operação normal,
a potência transmitida não deve exceder sua potência característica. Por este
motivo, a potência transmitida no terminal emissor, de ambas as linhas, foi
ajustada para ser igual a 7,0 GW, deixando assim uma margem para o caso
do TCAS injetar energia, haja vista que a potência característica das linhas é
de 8,0 GW. Porém, foi simulado um caso considerando a potência transmi-
tida pela linha muito abaixo da potência característica, i.e., igual a 1,0 GW,
que corresponde a 12,5% de Pc, com o TCAS localizado no meio da linha.
Isto demonstra que para esta região é possível se drenar, ou injetar, energia
mesmo quando o carregamento da linha for “baixo”. A seguir são mostra-
dos os resultados obtidos.

8.4.3.1  TCAS no meio da linha

A figura 8.64 apresenta as potências transmitidas e recebidas, nos ter-


minais 1 e 2, das duas linhas, respectivamente. Observa-se que, logo após
que o TCAS entra em funcionamento, existe uma oscilação nas potências
das linhas, isto porque quando o TCAS é conectado à linha seu controle ain-
da não está estabilizado, porém o conversor já está chaveando, e por isso ele
funciona apenas como retificador, mas com a tensão não sendo controla-
da. Isto mostra a importância do TCAS ser uma fonte de tensão controlada
e não meramente uma carga sem controle. O que justifica, mais um vez, a
utilização de um conversor de eletrônica de potência. Logo após o instante
inicial, o controle é habilitado e as oscilações são minimizadas.
No instante t = 2 s, é dada a ordem para que o TCAS drene 1,0 GW da
linha, e isto é feito sem afetar a operação da linha, conforme foi previsto na
análise qualitativa da seção 8.1. Da mesma maneira, a injeção de 1,0 GW, a
partir de t = 3 s, não causa problemas para a operação da linha. Vale frisar
que a linha sem o TCA sofre muito pouco com a inserção do dispositivo.
Sabe-se que se trata de um sistema hipotético e que, na prática, não
existem variações tão bruscas de fluxo de energia em um período de tempo
tão curto. Porém, o objetivo é mostrar o funcionamento do TCAS dentro
dos limites previstos.

354 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

10.
psend LT1
prec LT1
8.

p GW
6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
10.
psend LT2
prec LT2
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.64:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAS
inserido na região central da LT #1, (a) LT #1 (com TCAS) e (b) LT #2 (sem o TCAS)

O outro critério de análise de desempenho de linha utilizado neste tra-


balho é o perfil de tensão ao longo da linha, que é mostrado na figura 8.65a,
quando o TCAS está drenando 1,0 GW, e na figura 8.65b, para uma injeção
de 1,0 GW. Os resultados obtidos estão em perfeita concordância com os
resultados previstos, conforme pode ser visto ao se comparar estes resul-
tados com os apresentados na figura 8.2. A diferença está no fato de que a
potência transmitida na linha não é igual à sua potência característica e, por
isso, a tensão no meio da linha é inferior à tensão previamente calculada.

Capítulo 8 355
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.65:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAS inserido na região inicial
da LT #1 (a) drenando 1,0 GW e (b) injetando 1,0 GW

Mesmo para o caso em que a linha esteja transmitindo uma potência


muito abaixo de sua potência característica, é possível ainda drenar ou in-
jetar energia. De acordo com figura 8.66, em que são mostradas as potên-
cias transmitidas e recebidas em ambas as linhas. Nota-se que as variações
de potência, tanto da transmitida quanto da recebida, são similares às que
foram observadas no caso anterior. A diferença é que, no caso em questão,
essas variações são da mesma ordem de grandeza da potência que se está
transmitindo. Mas, apesar disso, a linha continua operando normalmente.

356 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

3.
psend LT1
prec LT1
2.
p GW

1.

1.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
3.
psend LT2
prec LT2
2.
p GW

1.

1.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.66:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAS
inserido na região central da LT #1, considerando um carregamento igual a 12,5% de Pc,
(a) LT #1 (com TCAS) e (b) LT #2 (sem o TCAS)

Os perfis de tensão são mostrados na figura 8.67, tanto quando se drena


quanto quando se injeta energia, observa-se que a tensão no meio da linha
é muito baixa para este carregamento.

Capítulo 8 357
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1.2
LT1
1. LT2

0.8
Ux  p.u.

0.6
0.4
0.2

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.2
LT1
1. LT2

0.8
Ux  p.u.

0.6
0.4
0.2

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.67:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAS inserido na região central
da LT #1, considerando um carregamento igual a 12,5% de Pc,
(a) drenando 1,0 GW e (b) injetando 1,0 GW

Muitas vezes, é questionado o fato de que, mesmo para baixos carrega-


mentos, as perdas na linha permanecem elevadas. De fato, nestes casos, as
perdas são elevadas em comparação à potência transmitida. Entretanto, é
possível reduzir as perdas na linha reduzindo-se a tensão de operação quan-
do se estiver com baixo carregamento.

8.4.3.2  TCAS no início da linha

Confirmada que a região central da linha é uma região adequada para


se inserir um TCAS, o próximo passo é buscar a consolidação dos outros
resultados quanto à posição do TCA ao longo da linha. Por isso, simulou-se
o TCA no início da linha, a 450 km do terminal emissor, com os mesmos
eventos já descritos anteriormente.

358 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Os resultados obtidos com relação ao intercâmbio de energia, entre a li-


nha e o sistema local, foram os mesmos obtidos que no caso de o TCAS estar
inserido no meio da linha. Por isso, não serão reapresentados aqui. Apenas
se preocupou em mostrar a influência sobre o desempenho da linha com
relação à inserção do dispositivo em outro ponto.
A figura 8.68 apresenta os perfis de tensão ao longo das linhas para dois
instantes: um, quando se está drenando 1,0 GW e, o outro, quando se está
injetando 1,0 GW. Ressalta-se que o resultado obtido para o caso de se dre-
nar energia é similar ao apresentado na figura 8.13a, inclusive na ordem de
grandeza da sobretensão apresentada5.
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.68:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAS inserido na região inicial
da LT #1, (a) drenando 1,0 GW e (b) injetando 1,0 GW

Já na figura 8.69, são mostradas as potências transmitidas e recebidas


nos terminais das linhas, e observa-se que a inserção do TCAS causa certa
oscilação nessas potências. Isto porque, na região em questão, as potências

5 Esta comparação não foi feita para o caso de se injetar energia porque esse resultado não foi contemplado na análise
qualitativa do TCAS.

Capítulo 8 359
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

são mais sensíveis à presença do TCAS, pois, neste ponto, a linha não ope-
ra mais com uma fonte de corrente, como na região central, pois seu perfil
de corrente varia de acordo com o carregamento da linha, e como o TCAS
causa perturbações no carregamento da linha, isto se reflete em oscilações
na corrente e, por conseguinte, na potência transmitida.
10.
psend LT1
prec LT1
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
12.
psend LT2
prec LT2
10.
p GW

8.

6.

4.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.69:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAS
inserido na região inicial da LT #1, (a) LT #1 (com TCAS) e (b) LT #2 (sem o TCAS)

8.4.3.3  TCAS no final da linha

Outra região em que o TCAS foi inserido foi a região final da linha, a
450 km do terminal receptor. A figura 8.70 apresenta os perfis de tensões ao
longo das linhas, para o caso de se estar drenando e injetando energia. No-
vamente, os resultados estão de acordo com os resultados analíticos apre-
sentados.

360 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.
1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.70:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAS inserido na região final da
LT #1, (a) drenando 1,0 GW e (b) injetando 1,0 GW

Na figura 8.71 são apresentadas as potências nos terminais das linhas. É


importante notar que a injeção de energia causou instabilidade ao sistema,
isto porque existe um limite para se injetar energia nesta região, principal-
mente, devido às sobretensões. Outras simulações foram realizadas, redu-
zindo o valor máximo drenado/injetado e.g., 800 MW e 500 MW. E essas
oscilações só não ocorreram quando se reduziu o limite para 500 MW, co-
mo pode ser observado na figura 8.72. Nesta figura, do instante t = 2 s a t =
3 s, o TCAS está drenando 500 MW; do instante t = 3 s a t = 4 s, passa a in-
jetar 500 MW; e, do instante t = 4 s a t = 5 s volta a drenar, porém, 333 MW.
Com relação ao dreno de energia, não houve problema de se manter a
potência do TCAS igual a 1,0 GW, porém ambos os limites foram reduzidos
para quando o TCAS está nesta região. Um dos fatores que podem ter con-
tribuído para a instabilidade do sistema é o fato de que nenhum ajuste foi
feito ao controle do TCAS, sendo o mesmo para as três regiões analisadas.

Capítulo 8 361
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

12.
psend LT1
10. prec LT1

8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
10.
psend LT2
prec LT2
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.71:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAS
inserido na região final LT #1, (a) LT #1 (com TCAS) e (b) LT #2 (sem o TCAS)

362 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

10.
psend LT1
prec LT1
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
10.
psend LT2
prec LT2
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.72:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAS
inserido na região final LT #1, (a) LT #1 (com TCAS) e (b) LT #2 (sem o TCAS)

Finalizando a análise do TCAS na região final da linha, a figura 8.73


mostra os perfis de tensão ao longo das linhas para o caso de o limite máximo
de potência do TCAS ser 500 MW. Onde se observa que a máxima sobreten-
são ocorre quando se está drenando energia da linha, porém não ultrapassa
10% da tensão nominal da linha. Aqui vale frisar que a linha não está no seu
carregamento nominal, caso contrário a sobretensão seria maior.

Capítulo 8 363
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.73:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAS inserido na região final da
LT #1, (a) drenando 500 MW e (b) injetando 500 MW

Mesmo o TCAS, nesta região, ter apresentado o pior desempenho, ain-


da assim foi possível drenar/injetar energia na linha MO+. A única ressalva
é que existe um limite para a realização desta tarefa, de acordo com a região
em que o dispositivo é inserido.

8.5  Simulação do TCA em derivação


Nesta seção, são apresentados os resultados de simulação para o TCAD.
A mesma metodologia de análise aplicada ao TCAS é adotada para este ca-
so, i.e., são descritos os controles dos conversores do TCAD e, em seguida,
são apresentados os resultados de simulação quanto ao desempenho da li-
nha MO+. A designação dos conversores segue a mesma convenção ante-
rior, o conversor ligado à linha é chamado de retificador, e o conectado ao
sistema local, de inversor, conforme mostrado na figura 8.74. Além disso,
uma vez que os conceitos fundamentais já foram desenvolvidos nas descri-

364 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

ções dos controles dos conversores do TCAS, as descrições aqui feitas são
breves e objetivas.

Figura 8.74:  Convenção adotada para designar os conversores do TCAD

Os principais eventos da simulação são os mesmos realizados para o


TCAS, e repetidos abaixo por comodidade, o tempo total simulado tam-
bém é de 5 s.

t1 = 1,4 s ⟹ liga retificador.


t2 = 1,7 s ⟹ habilita o inversor e o conecta ao retificador, mas a ordem
de potência permanece em zero, Pref = 0.
t3 = 2,0 s ⟹ é dada a ordem para que o inversor forneça 1 GW ao sis-
tema local, i.e., Pref = 1,0 GW, essa energia é drenada da linha.
t4 = 3,0 s ⟹ muda-se a referência do inversor para Pref = −1,0 GW, i.e.,
inversão total do fluxo de energia e o tap injeta essa energia na linha.
t5 = 4 s ⟹ finalmente, muda-se a referência do inversor para Pref =
0,5 GW, e o TCAD fornece apenas uma parte da energia deman-
dada pela carga do sistema local.

8.5.1  Controle do retificador

Como o retificador é conectado em derivação no TCAD, é necessário


que se determine as correntes que devem ser injetadas na linha para o correto
funcionamento do retificador. Por isso, o seu controle é baseado na teoria pq,
e segue os mesmos princípios do controle do inversor do TCAS, que também
é conectado em derivação. A diferença está no fato de que o sinal de referência

Capítulo 8 365
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

de potência, Pref , é proveniente da comparação da tensão total (U1 + U2) do elo


de corrente contínua com um valor desejado, Uref . Novamente, uma malha de
controle foi adicionada para realizar o balanço das tensões sobre cada capa-
citor do elo. A figura 8.75 mostra o diagrama de blocos do controle do retifi-
cador, onde se observa que o controle do retificador do TCAD é uma mescla
entre o controle do retificador com o controle do inversor do TCAS. Porém,
apesar da similaridade dos controles, os valores dos ganhos são diferentes.

Figura 8.75:  Controle do retificador do TCAD

366 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Apenas para mostrar o correto funcionamento do controle, a figura


8.76 apresenta as tensões sobre cada capacitor, onde se observa que a ten-
são total do elo é igual ao valor de referência, e as tensões sobre os capaci-
tores estão balanceadas.
80
UC1
UC2
60
u kV

40

20

0
0 1 2 3 4 5
tempo s

Figura 8.76:  Tensões sobre os capacitores do elo CC

8.5.2  Controle do inversor

Uma vez que a tensão do elo CC está regulada e, como para este caso,
o sistema local é o mesmo, o controle utilizado para o inversor do TCAD
é idêntico ao controle do inversor do TCAS, sem nenhuma alteração (vi-
de figura 8.61). E o desempenho do controle é o mesmo apresentado para
o TCA anterior. Como pode ser observado na figura 8.77 e na figura 8.78,
onde são apresentadas as potências ativas e reativas calculadas no ponto de
conexão com o sistema local, respectivamente. O que caracteriza o correto
intercâmbio de energia. Como já foi dito, maiores detalhes podem ser vis-
tos na descrição do controle do inversor do TCAS.

Capítulo 8 367
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

2.5
pinv
2. pGL
pcarga
1.5
1.
p GW

0.5
0
0.5
1.
1.5
0 1 2 3 4 5
tempo s

Figura 8.77:  Potências ativas instantâneas no PCC

600
qinv
qGL
qcarga
400
q Mvar

200

200
0 1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.78:  Potências reativas instantâneas no PCC

8.5.3  Resultados de simulação do TCAD


quanto à sua localização na linha

Além da análise do TCAD isoladamente, é importante analisar a influ-


ência de sua inserção na linha MO+, com o objetivo de averiguar seu desem-
penho quanto ao perfil de tensão e às potências transmitidas e recebidas. Na
seção 8.1, concluiu-se que o TCAD seria mais indicado para ser inserido
próximo às regiões terminais da linha. Mais especificamente, concluiu-se
que a região em torno do ponto Θtap = 0,1 π rad (247,5 km) seria uma re-
gião propícia para se drenar energia, e que a inserção do TCAD teria pouca
influência sobre a potência transmitida da linha. Por outro lado, a região
próxima à outra extremidade, em torno do ponto Θtap = π rad (2.475 km),
seria uma região indicada para a injeção de energia. E, por fim, concluiu­
se que o TCAD não seria o dispositivo mais indicado para drenar/injetar
energia na região central da linha, pois isto seria uma tarefa para o TCAS.

368 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Assim, o objetivo desta seção é consolidar as inferências feitas ante-


riormente, mostrando os perfis de tensão ao longo das linhas, com e sem o
TCAD, bem como as potências transmitidas e recebidas nos terminais. Isto
foi feito, inicialmente, para o TCAD posicionado nas regiões indicadas co-
mo adequada para sua inserção, i.e., as regiões inicial e final da linha. Co-
mo região inicial, considerou-se o ponto localizado a 450 km do terminal
emissor (terminal 1) e, como região final, o ponto localizado a 450 km do
terminal receptor (terminal 2). O dispositivo não foi conectado exatamen-
te nos pontos indicados, Θtap = 0,1 π rad e Θtap = π rad, porque eles foram
considerados muito próximos às extremidades, e, talvez, não se justificaria a
inserção de um tap com o objetivo de drenar/injetar energia. E, finalmente,
a análise foi feita para o TCAD posicionado no meio da linha. Dessa forma,
pôde-se analisar a influência do TCAD sobre a linha, com relação à posi-
ção em que ele é inserido. Os principais resultados são mostrados a seguir.
Além disso, foi feita uma simulação considerando a linha com “baixo” car-
regamento, transmitindo uma potência igual a 12,5% de Pc (1,0 GW), para
o caso em que o TCAD está localizado na região final da linha.

8.5.3.1  TCAD no início da linha

A figura 8.79 apresenta as potências transmitidas e recebidas nos termi-


nais emissor e receptor de cada linha. É possível observar que, na linha em
que o TCAD foi inserido (LT #1), a potência transmitida, em regime per-
manente, praticamente permanece inalterada, e é a potência recebida que
sofre as variações, conforme foi previsto.
Por outro lado, ambas as potências da LT #2, transmitida e recebida,
são afetadas. Isto é explicado pelo fato de que a potência entregue ao sub-
sistema 2 é praticamente a mesma. Assim, a diferença de energia causada
pelo dreno, ou injeção, de energia pelo TCAD é compensada por esta linha.
Contudo, isso não representa nenhum problema para as linhas, pois, como
já mencionado, existe uma margem permitida para a variação da potência
transmitida em ambas as linhas.
Vale frisar que o transitório observado ocorre logo que o TCAD é conec-
tado à rede (t = 1,4 s) porque o controle ainda não está habilitado, o que só se
faz em t = 1,7 s. Isto demonstra a importância de se realizar o dreno/injeção de
energia na linha MO+ através de conversor de eletrônica de potência.

Capítulo 8 369
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

10.
psend LT1
prec LT1
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
12.
psend LT2
prec LT2
10.
p GW

8.

6.

4.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.79:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAD
inserido na região inicial da LT #1, (a) LT #1 (com TCAD) e (b) LT #2 (sem o TCAD)

A figura 8.80 apresenta os perfis de tensão ao longo das linhas. Nota­-


se que esses resultados estão em concordância com os resultados calcula-
dos com o modelo analítico apresentado na seção 8.1, bastando se com-
parar com os resultados apresentados na figura 8.29, para quando se está
drenando energia6. Apenas observou-se uma pequena elevação de tensão
de 3.5% ao se injetar energia, em relação à tensão do terminal 1. O que não
representa nenhuma limitação de operação, haja vista que se está injetan-
do 1,0 GW na linha.

6 Esta comparação não foi feita para o caso de se injetar energia porque não foram calculados com o modelo analítico.

370 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.80:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAD inserido na região inicial
da LT #1, (a) drenando 1,0 GW e (b) injetando 1,0 GW

8.5.3.2  TCAD no final da linha

De acordo com os resultados obtidos com o modelo analítico simplifi-


cado, a região próxima ao terminal receptor também é uma região indicada
para se inserir o TCAD. A figura 8.81 apresenta as potências transmitidas e
recebidas nas duas linhas. Observou-se que, ao se drenar 1,0 GW, o sistema
apresentou oscilações tendendo para a instabilidade.

Capítulo 8 371
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A razão pela qual surgem essas oscilações é porque as tensões ao lon-


go da linha variam de acordo com o carregamento desta, e essa variação
é maior à medida que se aproxima da região central. No caso analisado, o
TCAD causa uma perturbação no carregamento da linha, que por sua vez
perturba as tensões ao longo da linha causando uma realimentação positi-
va, o que levou o sistema se tornar instável. Além disso, ao se drenar ener-
gia nesta região, o carregamento da linha se eleva praticamente em toda a
sua extensão, elevando as tensões ao longo desta, o que pode levar à insta-
bilidade também. O oposto ocorre quando se está injetando energia, pois o
carregamento da linha se reduz. A figura 8.82 apresenta os perfis de tensão
quando se está drenando ou injetando energia.

12.
psend LT1
10. prec LT1

8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
10.
psend LT2
prec LT2
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.81:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAD
inserido na região final da LT #1, (a) LT #1 (com TCAD) e (b) LT #2 (sem o TCAD)

372 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.
1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.82:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAD inserido na região final
da LT #1, (a) drenando 1,0 GW e (b) injetando 1,0 GW

Como as variações de tensões dependem fortemente do carregamen-


to da linha, ao se reduzir a perturbação é possível que o sistema permaneça
estável, como ocorreu quando se estava drenando 500 MW, do instante t =
4 s ao instante t = 5 s. Com esse objetivo, os valores máximos das potências,
drenada e injetada, foram reduzidos para 10% da potência características
da linha, i.e., 800 MW. Os resultados são mostrados na figura 8.83. Nes-
te caso, o TCAD drena 800 MW do instante t = 2 s a t = 3 s; de t = 3 s a t =
4 s, injeta 800 MW; e, de t = 4 s a t = 5 s volta a drenar energia, porém, 500
MW. Observa-se que o sistema não entrou em colapso, o que permite con-
cluir que existe um limite para se drenar/injetar energia na linha que, no
caso analisado, ficou em aproximadamente 10% da potência característica
da linha. Este resultado ficou abaixo do valor indicado do capítulo anterior,
de aproximadamente 20%, porque naquele estudo não se tinha levado em
consideração as perdas na linha que, para o carregamento de 7,0 GW, são
da ordem de 629 MW, i.e., 7.8% da potência característica.

Capítulo 8 373
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Outro ponto a ser observado é que a potência recebida no terminal 2 da


linha com o TCAD sofre pouca variação, e é a potência transmitida no ter-
minal 1 que varia de acordo com o dreno/injeção de energia. E, pelos mes-
mos argumentos apresentados anteriormente, as potências transmitidas e
recebidas na LT #2 variam para garantir a potência entregue ao subsistema 2.

10.
psend LT1
prec LT1
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
10.
psend LT2
prec LT2
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.83:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAD
inserido na região final da LT #1, com potência máxima de 800 MW, (a) LT #1 (com TCAD)
e (b) LT #2 (sem o TCAD)

Na figura 8.84, são apresentados os perfis de tensão ao longo das li-


nhas, tanto quando se está drenando energia como quando se está injetan-
do energia.

374 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.84:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAD inserido na região final
da LT #1, (a) drenando 800 MW e (b) injetando 800 MW

Para o caso quando a linha está transmitindo uma potência muito abai-
xo de sua potência característica, também foi possível drenar/injetar 800
MW nesta região. Conforme mostrado na figura 8.85, observa-se que pra-
ticamente toda energia injetada pelo TCAD serve para compensar as perdas
na linha, uma pequena parcela vai para o terminal 2 e outra para o terminal
1, onde inclusive a potência torna-se negativa, mas a linha e o TCAD per-
manecem operando “normalmente”.

Capítulo 8 375
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

4.
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p GW

1.
0
1.
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tempo s

(a)
4.
psend LT1
3. prec LT1

2.
p GW

1.
0
1.
2.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.85:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAD
inserido na região final da LT #1, com potência máxima de 800 MW, considerando um
carregamento igual a 12,5% de Pc, (a) LT #1 (com TCAD) e (b) LT #2 (sem o TCAD)

Na figura 8.86, são mostrados os perfis de tensão para as duas situa-


ções (drenando/injetando energia). Como o carregamento é muito inferior
à potência característica da linha, a tensão no meio desta é muito baixa. No
entanto, próximo às extremidades a tensão é mais elevada, o que garante a
operação do TCAD. É possível ainda confirmar o que foi dito anteriormen-
te sobre as variações de tensão para a região em que o TCAD foi instalado,
que corresponde a xpu ≃ 0,83 p.u. Comparando com o caso anterior, em que
se transmitia aproximadamente 7,0 GW, a tensão no ponto é de aproxima-
damente 1,0 p.u.; enquanto que para o caso de se transmitir 1,0 GW, o valor
da tensão reduz para aproximadamente 0,9 p.u..

376 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.2
LT1
1. LT2

0.8
Ux  p.u.
0.6
0.4
0.2

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.2
LT1
1. LT2

0.8
Ux  p.u.

0.6
0.4
0.2

1.1  Π
0.
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.86:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAD inserido na região final
da LT #1, considerando um carregamento igual a 12.5% de Pc, (a) drenando 800 MW e
(b) injetando 800 MW

8.5.3.3  TCAD no meio da linha

Com o TCAD inserido no meio da linha drenando (ou injetando)


1,0 GW, o sistema se tornou instável, como pode ser observado na figura
8.87 – que mostra as potências transmitidas e recebidas para cada linha. O
problema é mais acentuado quando se está drenando energia. Contudo, as
oscilações são amortecidas quando se está injetando energia. Este não é um
resultado que cause surpresa, pois, de acordo com as análises analíticas, esta
região não é uma região adequada para a inserção do TCAD. Além disso,
nenhum ajuste foi feito no controle do TCAD, sendo o mesmo para as três
regiões analisadas neste trabalho, o que pode ter contribuído para a insta-
bilidade do sistema como um todo.

Capítulo 8 377
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

10.
psend LT1
prec LT1
8.
p GW

6.

4.

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1 2 3 4 5
tempo s

(a)
10.
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8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.87:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAD
inserido na região central da LT #1, (a) LT #1 (com TCAD) e (b) LT #2 (sem o TCAD)

A explicação dessa instabilidade é a mesma apresentada para o caso de


o TCAD ser inserido na região final da linha, que é o fato de que a inserção
do dispositivo causa perturbações ao carregamento que se refletem em os-
cilações das tensões ao longo da linha. E são maiores para a região central,
justamente onde o TCAD está inserido. Além disso, no capítulo anterior, foi
mostrado que as tensões ao longo da linha seriam elevadas para o TCAD
inserido nesta região (vide figura 8.47) o que contribui para a instabilidade.
Na figura 8.88, são mostrados os perfis de tensão ao longo das linhas quan-
do o TCAD está drenando e quando está injetando na linha. Observa-se que
a máxima tensão é aproximadamente 20% superior à tensão nominal. Deve
ser lembrado que a linha não está transmitindo sua potência característica,
e por isso as sobretensões são inferiores às apresentadas no caso analítico,
além disso não foram consideradas as perdas neste último.

378 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.4
LT1
1.2 LT2

Ux  p.u. 1.

0.8

0.6

1.1  Π
0.4
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.88:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAD inserido na região central
da LT #1, (a) drenando 1,0 GW e (b) injetando 1,0 GW

Seguindo a mesma lógica de que existe um limite para se drenar/inje-


tar energia, reduziu-se a potência máxima do TCAD para 800 MW. Porém,
não se obteve sucesso, o sistema permaneceu instável. Por esse motivo, o li-
mite foi reduzido para 500 MW, i.e., 6,25% da potência característica da li-
nha. Só assim é que foi possível realizar o dreno/injeção de energia na linha
sem que o sistema se tornasse instável. A figura 8.89 mostra as potências
transmitidas e recebidas das duas linhas, onde, do instante t = 2 s a t = 3 s o
TCAD está drenando 500 MW; do instante t = 3 s a t = 4 s o TCAD está in-
jetando 500 MW; e, do instante t = 4 s a t = 5 s volta a drenar energia, porém,
333 MW. Nota-se que neste caso o sistema opera normalmente, sem pro-
blemas de oscilações. Ademais, a máxima sobretensão não ultrapassa 110%
da tensão nominal da linha, tanto quando está drenando como quando está
injetando energia, como pode ser visto na figura 8.90.

Capítulo 8 379
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

10.
psend LT1
prec LT1
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(a)
10.
psend LT2
prec LT2
8.
p GW

6.

4.

2.
1 2 3 4 5
tempo s

(b)
Figura 8.89:  Potências transmitidas e recebidas nos terminais das linhas, para o TCAD
inserido na região central da LT #1, (a) LT #1 (com TCAD) e (b) LT #2 (sem o TCAD)

380 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(a)
1.4
LT1
LT2
1.2
Ux  p.u.

1.

0.8

1.1  Π
0.6
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
 rad

(b)
Figura 8.90:  Perfil de tensão ao longo das linhas para o TCAD inserido na região central
da LT #1, (a) drenando 1,0 GW e (b) injetando 1,0 GW

Capítulo 8 381
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

8.6  Dispositivos FACTS para controle de fluxo


de potência em linhas meia-onda+

Esta seção apresenta aplicação de dispositivos FACTS (Flexible AC


Transmission System) a sistemas de transmissão a longas distâncias. Como
foi indicado na seção anterior, em uma linha MO+ o controle do fluxo de
potência poder ser controlado, ou ajustado, através da utilização desses dis-
positivos. Com esse intuito, duas possibilidades foram indicadas,(i): a utili-
zação de dispositivos séries localizados próximos às extremidades da linha
ou (ii) dispositivos shunt localizados na região central da linha.
Neste trabalho, são investigados dispositivos FACTS tanto de 1ª gera-
ção, os quais utilizam tiristores como chaves estáticas, quanto dispositivos
de 2ª geração que são baseados em chaves autocomutadas, e.g., IGBT (Insu-
lated Gate Bipolar Transistor), IGCT (Integrated Gate Commutated Thyris-
tor) ou GTO (Gate Turn-off Thyristor). Na tabela 8.1 são apresentados os
dispositivos FACTS investigados neste trabalho.

Tabela 8.1:  Dispositivos FACTS investigados para controle de fluxo de potência na


meia-onda+
Tipos de FACTS Série Derivação
1a geração TCSC SVC
2a geração GCSC STATCOM

8.6.1  Dispositivos FACTS de 1ª geração

Os dispositivos FACTS de 1ª geração são baseados em tiristores comu-


tados pela linha, ou comutação natural, em conjunto com grandes elemen-
tos armazenadores de energia (reatores e capacitores) e podem ser conec-
tados em série ou em derivação com o sistema de transmissão.
O dispositivo mais utilizado dessa geração, e também o mais simples,
é o TCR (Thyristor-Controlled Reactor). Trate-se de um dispositivo que é
conectado em derivação e consiste em um reator em série com dois tiristo-
res conectados em antiparalelo, i.e., conexão em paralelo mas 180° defasa-
dos um do outro. De acordo com o ângulo de disparo dos tiristores, o efei-
to equivalente, na frequência fundamental, é o de uma reatância indutiva
variável. Baseado neste dispositivo, outros FACTS foram desenvolvidos co-
mo é o caso do TCSC e do SVC que são descritos em maiores detalhes nas
seções subsequentes.

382 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.6.1.1  TCSC – Thyristor Controlled Series Capacitor

O TCSC foi proposto inicialmente como um método de ajuste rápido da


impedância equivalente de uma linha de transmissão [19]. Estas característi-
cas fazem com que o TCSC seja capaz de desempenhar funções como: rápida
regulação do fluxo de potência, aumento da margem de estabilidade, mitiga-
ção de ressonância subsíncrona (RSS), além do amortecimento de oscilações.
A figura 8.91 mostra o circuito básico do TCSC que é constituído por
um capacitor em paralelo com um TCR. Este conjunto é conectado em série
com a linha de transmissão e, dependendo do nível de compensação deseja-
da, um ou mais módulos podem ser conectados em série com o sistema [12].

Capacitor

ILinha

Reator

Valvulas de
tiristor
TCR
TCSC

Figura 8.91:  Thyristor Controlled Series Capacitor

O TCSC fornece uma impedância capacitiva variável no tempo pela


compensação parcial da reatância do capacitor em paralelo, por meio do
TCR. O TCR na frequência fundamental é uma impedância reativa indu-
tiva continuamente variável, controlada pelo atraso do ângulo de disparo
α. A relação entre o ângulo de disparo dos tiristores e a reatância do TCSC
pode ser obtida por [2]:

XTCSC = −Xc + k1{2(π − α ) + sen[ 2(π − α )]} + k 2 cos 2 (π − α(8.31)


){ϖ tan[ϖ (π − α )] − tan

CSC = −Xc + k1{2(π − α ) + sen[ 2(π − α )]} + k 2 cos 2 (π − α ){ϖ tan[ϖ (π − α )] − tan(π − α )} (8.32)

Capítulo 8 383
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

X +X X +4 X 2
Sendo, k1 = c π LC e k 2 = c π XL LC . Em que, Xc é a reatância do capacitor,
XL é a reatância do indutor, XLC é a reatância equivalente do circuito LC
formado entre o capacitor e o indutor, α é o ângulo de disparo e ϖ é um
fator dado por:

Xc
ϖ=
XLC

A figura 8.92 apresenta a reatância equivalente em função do ângu-


lo de disparo dos tiristores. Observa-se que a reatância do TCSC pode as-
sumir valores indutivos e capacitivos. Dessa forma, é possível definir três
modos distintos de operação do TCSC, modo curto-circuito, modo blo-
queado e modo contínuo.

X TCSC
Indutiva

  
2  L lim r  C lim
capacitiva

Região indutiva Região capacitiva


     L lim  C lim    
2

Ressonância
X L  r   X C
Figura 8.92:  Reatância equivalente do TCSC em função do ângulo de disparo α

• Modo TCR em condução contínua: neste modo, os tiristores são


continuamente disparados (α = 90°). A corrente da linha de trans-
missão flui através do reator do TCR, que tem um valor muito pe-
queno e encontra-se totalmente inserido no circuito.

384 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

• Modo capacitor em condução contínua: neste caso, o banco de


capacitores comporta-se como um banco fixo (alpha = 180°) for-
necendo um nível máximo de compensação capacitiva para a linha
de transmissão. A corrente da linha flui através do banco de capa-
citores apenas.

• Modo de controle contínuo (Vernier): neste modo, o ângulo de dis-


paro pode variar, dependendo das condições operacionais do siste-
ma, possibilitando que o TCSC comporte-se como uma reatância
variável, tanto na região indutiva como na região capacitiva. Porém,
é importante frisar a existência da região de ressonância, definida
nas proximidades do ponto (XL(αr) = Xc). Para evitar a ressonância,
impõem-se limites para o ângulo de disparo dos tiristores. A reatân-
cia do TCSC vista pelo sistema é a reatância equivalente da reatância
do TCR em paralelo com a reatância do capacitor.

Resultados de simulações

A figura 8.93 mostra o diagrama simplificado do sistema de potência


utilizado para investigação do TCSC usado para controle do fluxo de po-
tência. Os resultados foram obtidos em simulações no PSCAD e o modelo
detalhado do TCSC foi empregado.

Linha MO+
V1 PLT V20

TCSC

Pref X TCSC
PI
v i
PLT
Fluxo

Figura 8.93:  Diagrama simplificado do sistema simulado para investigação do TCSC


para controle de fluxo de potência na MO+

Capítulo 8 385
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Como foi indicado pelas análises qualitativas apresentadas na seção 8.1,


a utilização de uma reatância capacitiva em série é mais efetiva para o con-
trole do fluxo de potência na MO+, por isso os estudos com o TCSC foram
limitados à região capacitiva de operação do dispositivo, i.e., αC lim ≤ α ≤ π
(ver figura 8.92). A figura 8.94 mostra o fluxo de potência controlado em
função da variação da reatância equivalente do TCSC. Esse resultado con-
firma as análises apresentadas para a MO+.

PLT
1.10
Potência Transmitida (pu)

1.00

0.90

0.80

0.70

0.60
(a)
Xtcsc
-20

-40
Reatância (Ohm)

-60

-80

-100

-120
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0
Tempo (s)
(b)

Figura 8.94:  (a) Fluxo de potência na linha MO+ e


(b) variação da reatância equivalente do TCSC

386 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.6.1.2  SVC – Static Var Compensator

O SVC é um dispositivo FACTS conectado em derivação e pode sin-


tetizar tanto uma reatância indutiva quanto uma reatância capacitiva. Isto
é possível porque sua configuração trifásica é baseada em três TCRs liga-
dos normalmente em triângulo, e esse conjunto é conectado em paralelo a
um banco de capacitores. Assim, os TCRs são a base do controle do SVC.
A figura 8.95 mostra o diagrama unifilar de um SVC. Nesse circuito não
são mostrados os filtros que são normalmente necessários para o amorte-
cimento dos harmônicos. Para dar maior flexibilidade em termos da faixa
de controle do SVC, em alguns casos os bancos de capacitores podem ser
substituídos por TCS (Thyristor Switched Capacitor).
Sistema CA

TP

SVC
Trifásico

VRef
R

TC
TC

Controle

TCR

Figura 8.95:  Circuito esquemático de um SVC trifásico

A impedância equivalente do SVC varia desde o máximo capacitivo,


que ocorre quando os tiristores estão bloqueados (α = 180°), ao máximo in-
dutivo quando o ângulo de disparo é α = 90°. A figura 8.96 mostra a curva
υ × i do SVC, em que se pode notar que a capacidade de injeção de reativos
diminui de acordo com a tensão. Isso porque o controle do SVC é baseado
na síntese de uma impedância.

Capítulo 8 387
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

O SVC é um FACTS muito bem conhecido e existem diversas aplica-


ções dele ao redor do mundo.

Tensão

Capacitivo Indutivo Corrente

Figura 8.96:  Curva υ × i típica de um SVC

Resultados de simulação

A figura 8.97 apresenta o diagrama simplificado do sistema de potên-


cia utilizado para investigar a utilização do SVC para o controle do fluxo de
potência na MO+. Baseado nas análises teóricas apresentadas na seção 8.1,
o dispositivo em derivação é um efeito mais efetivo sobre a potência trans-
mitida quando está instalado na região central da linha. Por esse motivo, o
SVC foi conectado no meio da linha.

Linha MO+
V1 PLT V20

Pref
PI SVC
v i QSVC
PLT
Fluxo

Figura 8.97:  Diagrama unifilar simplificado do sistema utilizado para investigação do


SVC para controle de fluxo da MO+

388 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

A figura 8.98 mostra o fluxo de potência na MO+ em função da potên-


cia reativa do SVC. Nota-se que a injeção de 0,1 p.u. de reativos pelo SVC é
capaz de controlar aproximadamente 0,2 p.u. no fluxo principal. Apesar de
essa relação não ser linear, isso demonstra a efetividade do controle do flu-
xo da MO+ pelo SVC através da injeção de reativos e confirma as análises
apresentadas anteriormente.
PLT
0.850
Potência Transmitida (pu)

0.800

0.750

0.700

0.650

0.600

0.550
(a)
Qsvc (indutivo)
0.050
Potência do SVC (pu)

0.000

-0.050

-0.100

-0.150
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00 2.25 2.50
Tempo (s)
(b)

Figura 8.98:  (a) Fluxo de potência na linha MO+ e (b) variação da potência reativa do SVC

8.6.2  Dispositivos FACTS de 2ª geração

8.6.2.1  GCSC – Gate Controlled Series Capacitor

O GCSC é, provavelmente, o equipamento que possui a configuração


mais simples entre os dispositivos FACTS conhecidos [15]. A figura 8.99
apresenta o GCSC que é composto por um capacitor em paralelo com duas
chaves autocomutadas em antiparalelo, e é inserido em série com a linha de
transmissão. O GCSC comporta-se basicamente como uma reatância capa-
citiva variável (na frequência fundamental).

Capítulo 8 389
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

_
+ vc
i

C
S1

S2
Figura 8.99:  Gate-controlled series capacitor

O seu princípio de funcionamento é baseado na variação do ângulo de


corte (γ) das chaves, determinado a partir do instante em que a corrente de
linha cruza o zero. Assume-se que a corrente, i, da linha de transmissão seja
senoidal. Quando as chaves são mantidas permanentemente em condução
(γ = 180°), não passa corrente pelo capacitor e não há efeito de compensa-
ção. Em contrapartida, quando as chaves são bloqueadas uma vez por ciclo
em um dado ângulo de corte γ, o capacitor é carregado e descarregado com
polaridade positiva e negativa, e a tensão sobre o capacitor (υc) aparece em
série com a linha de transmissão, que tem uma componente fundamental
ortogonal (atrasada) à corrente de linha e controlável. Se as chaves estão blo-
queadas permanentemente (γ = 90°), a compensação série é máxima, dada
pela reatância do capacitor na frequência fundamental.
A figura 8.100 mostra as formas de onda da corrente de linha (i), da
tensão (υc) e corrente (ic) no capacitor para um ângulo de corte (γ) de 120°.
Maiores detalhes de operação do GCSC podem ser encontrados em [14].
i S 2
 S2

 S1  S1

ic
vc

Figura 8.100:  Formas de onda de tensão e corrente no GCSC

390 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

8.6.2.2  Impedância do GCSC na frequência fundamental

A figura 8.101 apresenta o valor da impedância fundamental do GCSC,


ZGCSC , em função do ângulo de corte (γ). O cálculo de ZGCSC é dado por [40]:

Zc
π [
ZGCSC (γ ) = 2γ − 2π − sen2γ ] (8.33)

Onde Zc é a impedância do capacitor na frequência fundamental.

0.
Impedância do GCSC pu

0.2

0.4

0.6

0.8

1.
90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Ângulo de Corte Γ graus
Figura 8.101:  Impedância do GCSC em função do ângulo de corte,
na frequência fundamental

Nota-se que para o ângulo de corte igual γ = 90° a impedância do GCSC


é igual a -1,0 p.u., significando que o capacitor está totalmente inserido no
circuito, ou seja, ZGCSC = Zc. Para o ângulo de corte igual a γ = 180°, ZGCSC é
igual a zero, pois neste ponto de operação as chaves estão em plena condu-
ção, e o capacitor série é curto-circuitado.
Como o γ pode variar entre 90° e 180°, pode-se realizar a variação con-
tínua da reatância capacitiva. Essa característica é uma das vantagens do
GCSC em relação ao capacitor chaveado a tiristor (TSC), que realiza a va-
riação da sua reatância em modo discreto, e também em relação ao capaci-
tor série controlado a tiristor (TCSC), que apresenta um modo descontínuo
na sua reatância equivalente em função do ângulo de disparo.

Capítulo 8 391
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executorA: Coppetec. proponenteS: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

O GCSC apresenta grande potencial para aplicação em sistemas de


transmissão de potência, principalmente em linhas de transmissão relati-
vamente longas. Além de possibilitar a compensação reativa contínua, es-
tudos apontam que o GCSC pode realizar o amortecimento de oscilações
de potência de baixa frequência presentes em interligação de grandes siste-
mas de potência [13].

8.6.2.3 Controle do fluxo de potência em uma LT MO+ utilizando o GCSC

Conforme apontado anteriormente, uma das possibilidades de se con-


trolar o fluxo de potência em uma linha MO+ é através de um dispositivo
FACTS conectado em série com a linha, quando este se encontra locali-
zado próximo às extremidades da linha. A título de “prova de conceito”,
a seguir são apresentados alguns resultados de simulação obtidos com o
PSCAD/EMTDC.
A figura 8.102 apresenta o sistema de transmissão modificado para si-
mulação da aplicação do GCSC para controle de fluxo em uma LT MO+. O
sistema consiste, basicamente, da interligação de dois grandes subsistemas
através de duas linhas convencionais de 750 kV. O comprimento do circuito
de transmissão é de 2.722 km, e a configuração da linha é mostrada na figu-
ra 8.103. A potência característica de cada circuito é Pc = 2, 12 GW. Maiores
detalhes podem ser obtidos em [8].

Figura 8.102: Aplicação do GCSC para controle de fluxo em uma LT MO+

392 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 8.103: Representação esquemática da configuração da linha

O controle do GCSC é baseado no fluxo de potência da LT #1. Um


circuito de sincronismo é utilizado para fornecer a referência de ângulo
de corrente para o corte das chaves autocomutadas. A potência medida é
comparada com a potência de referência (desejada), e o erro passa por um
controlador PI. A saída do PI corresponde, numericamente, ao ângulo de
corte a ser aplicado às chaves autocomutadas.

Figura 8.104: Potência transmitida e a ordem de potência para


o GCSC conectado na linha LT #1

cApÍtuLo 8 393
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executorA: Coppetec. proponenteS: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A figura 8.105 mostra os resultados obtidos. O sistema encontra-se


inicialmente em regime permanente, e o fluxo de potência é ajustado de
maneira que cada circuito transporte aproximadamente 60% de sua potên-
cia característica. No instante t = 1,0 s, a referência de potência muda de
0,6 p.u. para 1,0 p.u.. Em seguida, t = 3,0 s, a ordem de potência é alterada
para 0,8 p.u.. Nota-se que o fluxo de potência da linha controlada variou de
acordo com a ordem de potência imposta pelo controle. Esses resultados
indicam que as conclusões obtidas com a análise analítica do tap HVAC es-
tão apontando na direção correta.

Figura 8.105: Fluxo de potências pelas linhas e a ordem de potência para


o GCSC conectado na linha LT #1

8.6.3 STATCOM

O STATCOM é um FACTS conectado em derivação e é baseado em


conversores fonte de tensão (VSC – Voltage Sourced Converter). Existem di-
versas topologias de VSC que podem ser utilizadas para sintetizar um STA-
TCOM, por exemplo ponte dois níveis, três níveis com o neutro grampea-
do, multipulso, multinível e outras. Neste trabalho, a topologia escolhida foi
a mesma apresentada para o Tap HVAC (Seções 8.4 e 8.5), i.e., o conversor
três níveis com o neutro grampeado por diodos (NPC – Neutral Point Clam-
ped [27]). O STATCOM é um FACTS bem difundido e maiores detalhes
sobre seu controle e outras topologias podem ser encontrados em [47][4].

394 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulações

A figura 8.106 mostra o diagrama simplificado do STATCOM que foi


investigado para realizar o controle do fluxo de potência na MO+. Confor-
me indicado pelas análises teóricas, o FACTS em derivação é mais efetivo
quando conectado na região central da linha. Por isso, a investigação do
STATCOM se deu com ele conectado no meio da linha.

I1
V1
Linha MO 
IC
Y STATCOM

C1
C2

PWM

PORDER
Controle
V1 STATCOM
I1

VDC 2 VDC1
Figura 8.106: Diagrama simplificado do circuito do STATCOM investigado para o
controle do fluxo de potência da MO+

O controle do STATCOM é baseado na teoria das potências instantâne-


as [4], o diagrama de blocos do controle é mostrado na figura 8.107a. Além
da malha de controle do fluxo de potência, como o VSC é de três níveis, é
ainda necessário fazer o balanço de tensão no elo de corrente contínua. A
malha de controle do balanço de tensão é mostrada na figura 8.107b.

cApÍtuLo 8 395
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executorA: Coppetec. proponenteS: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Controle do Elo CC
VDC1 VDC ref
 
VDC2   V p*
PI

ialinha iα iαctrl vactrl


ABC αβ
iblinha 1  iα -i β   p*  vbctrl
to × × to
iclinha iβ iα + i β  i β
2 2
iα  q*  i βctrl vcctrl
αβ ABC
Controle do Fluxo de Potência

PORDER
vabclinha 
PLinha  q*
× PI
iabclinha

(a)

p*
VDC1 Sign(x) Balanço de Tensão

VDC2  no Elo CC
× PI

Δvctrl
vabcctrl 

SPWM
Disparos

(b)
Figura 8.107: (a) diagrama simplificado do controle do STATCOM e
(b) diagrama do controle de balanço de tensão no elo CC

A figura 8.108 mostra o fluxo de potência na MO+ variando de acordo


com a potência reativa injetada pelo STATCOM. Esse resultado demostra a
efetividade de dispositivos FACTS em controlar o fluxo de potência na MO+

396 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

e confirma as análises apresentadas anteriormente. Cabe ressaltar que, da


mesma forma que ocorre no SVC, a injeção de potência reativa indutiva faz
com que o fluxo de potência na MO+ aumente enquanto que potência rea-
tiva capacitiva reduz o fluxo.

P1_SEND P1_END
1.05
Potência Transmitida (pu)

1.00
0.95
0.90
0.85
0.80
0.75
0.70
0.65
(a)
Qstatcom
0.08
0.06
0.04
Potência Reativa
STATCOM (pu)

0.02
0.00
-0.02
-0.04
-0.06
-0.08
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 7.5
Tempo (s)
(b)

Figura 8.108:  (a) fluxo de potência na MO+ e (b) potência reativa do STATCOM

8.6.4  Outros dispositivos FACTS potencialmente


interessantes para auxiliar na controlabilidade da LT MO+

Além dos FACTS investigados, outros FACTS apresentam-se potencial-


mente interessantes para controle do fluxo de potência da linha MO+. A saber:

• SSSC – Static Synchronous Série Compensator.


• UPFC – Unified Power Flow Control.
• IPFC – Interline Power Flow Control.

Cabe ressaltar que alguns estudos mostram que é possível drenar ou


injetar energia na linha e ainda realizar o controle do fluxo de potência na
MO+[7][6].

Capítulo 8 397
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

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Capítulo 8 401
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
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402 Aplicação de Eletrônica de Potência em Troncos de Transmissão de Meia-onda+


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 9

Princípios Básicos de Operação


da Transmissão em CA Segmentada

403
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

9.1 Introdução
A transmissão em CA segmentada é um esquema inovador de trans-
missão de energia elétrica, com grande potencial para aplicação na integra-
ção de recursos hidroelétricos remotos, e na interligação entre áreas num
sistema elétrico de grande porte. O emprego da transmissão segmentada
na integração dos potenciais hidroelétricos da Amazônia viria atender aos
requisitos de inserção regional da transmissão, e de redução dos riscos de
propagação de distúrbios em cascata no Sistema Interligado Nacional (SIN).
As linhas de transmissão segmentadas podem ser vistas como resultan-
tes de um processo de seccionamento de linhas, seguido da interconexão
das seções com conversores de tensão ou Voltage Source Converter – VSC
conectados em back-to-back (B2B). A transmissão em CA segmentada con-
siste, pois, de linhas de transmissão em CA interconectadas por ligações as-
síncronas. Cada seção de um lado dos conversores em B2B operam de modo
assíncrono em relação à seção do outro lado. O modo assíncrono tem aqui
um sentido de independência de frequência. A separação em seções assín-
cronas pode ser considerada como um meio de preservar a estabilidade [1].
A transmissão em CA segmentada utiliza conversores de tensão – VSC
– configurados para operação em B2B. Eles asseguram o controle da potên-
cia transferida pela interligação, simultaneamente com o controle das tensões
nos terminais do B2B. A viabilidade da aplicação dos conversores VSC se de-
ve ao constante progresso da tecnologia de dispositivos semicondutores com
capacidade de corte (IGBT e IGCT) e os avanços nos controles de conversores
de dois níveis e três níveis e novas topologias como o Conversor Multinível
Modular (Multilevel Modular Converter – MMC [2]). Como prova do cres-
cente aumento na utilização da tecnologia VSC, menciona-se a motivação dos
fabricantes no desenvolvimento de testes de componentes de sistemas VSC
para aplicação em transmissão em HVDC (High Voltage Direct Current) [3].
A aplicação dos conversores de corrente baseado em tiristores ou Line
Commutated Inverter – LCI na segmentação de linhas não é recomendada,

404 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

pois, de um modo geral, esta utilização viria contribuir para uma redução
na confiabilidade da transmissão, especialmente em função da possibilida-
de de falha de comutação.
O texto a seguir busca desenvolver um conhecimento básico sobre o
funcionamento dos conversores VSC e o modo de interação entre os siste-
mas CA e CC que coexistem no equipamento. Perseguindo este objetivo, é
apresentada uma análise do comportamento do conversor VSC à frequên-
cia fundamental do lado CA (regime permanente), e um comportamento
em termos de valores médios do lado de CC. Na continuação, o texto exa-
mina a operação em regime permanente e o desempenho dinâmico de uma
transmissão CA segmentada por dispositivo B2B VSC, com compensação
shunt controlada. O trabalho inclui ainda estudo de casos relativos à trans-
missão da Amazônia, empregando o pacote de simulação ANAREDE [4]. Na
continuação, é apresentada uma comparação das características técnicas da
transmissão CA segmentada e de uma transmissão em HVDC. Concluindo
o capítulo, o texto inclui uma análise do comportamento transitório da trans-
missão segmentada, baseada nos resultados de simulação via PSCAD [5].

9.2  O conversor VSC


9.2.1  Estrutura e princípio de funcionamento do VSC

A figura 9.1(a) mostra o circuito e estrutura do VSC. O VSC trifásico


de dois níveis é composto por três conversores idênticos em meia ponte co-
nectados em um barramento CC comum. Cada conversor de meia ponte é
composto de dois IGBTs e dois diodos em antiparalelo, podendo ser duas
válvulas de IGBT e diodos. A válvula de IGBT pode ser com dispositivos
em série ou paralelo. O VSC é bidirecional em corrente e unidirecional em
tensão. Se diz de dois níveis, devido à tensão nos terminais CA variar entre
vCC
dois valores (− vCC
2 e 2 ), se medidos em relação do ponto neutro do lado
CC, mostrado na figura 9.1.
A figura 9.1(b) mostra o circuito equivalente, onde o lado CA do VSC
é representado por três fontes de tensões defasadas 120 graus um do outro.
Ou seja, similar ao circuito equivalente de uma máquina síncrona gerado-
ra, sem inércia mecânica. No lado CC do VSC, é conectado um capacitor
de corrente contínua. Em função da energia armazenada neste capacitor, se
define uma constante de inércia do VSC (HVSC que dá uma ideia do tama-
nho do capacitor CC ou da energia armazenada nele).

Capítulo 9 405
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Para a análise das formas de onda de tensão resultantes de um VSC


ideal em regime permanente, supõe-se a tensão vCC constante. A figura 9.2
mostra as tensões nas fases a, b e c em relação ao ponto fictício 0 que divide
a tensão vCC em duas metades.
Conversor meia ponte

van ia L s1 s3 s5
vCC
vbn 0
vcn s4 s6 s2
ic
(a)

L I2
van
ia
IC

vbn I1 C
ib
(b)
vcn
ic

Figura 9.1:  Circuito equivalente de um VSC: (a) circuito e topologia de um VSC de dois
níveis; (b) circuito equivalente para o lado CA e CC

s1 s4 s1 s4
0.5

va 0  2 3 4
0.5
s6 s3 s6 s3 s6
0.5
vb 0  2 3 4
0.5
s5 s2 s5 s2 s5
0.5
vc 0
 2 3 4
0.5

Figura 9.2:  VSC de dois níveis de seis pulsos, tensões das fases em relação ao ponto
médio fictício 0 do vCC para chaveamento à frequência fundamental

406 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

As tensões fase-fase podem ser obtidas pelas seguintes relações [6]:

vab = va0 – vb0


vbc = vb0 – vc0 (9.1)
vca = vc0 – va0

Com os resultados de (9.1), as tensões em relação ao neutro do sistema,


mostrado na figura 9.3, podem ser obtidas por:

vab − vca v −v v −v
van = ,vbn = bc ab , vcn = ca bc (9.2)
3 3 3

Sendo van + vbn + vcn = 0 para o sistema equilibrado.

A fim de se obter a componente fundamental das tensões fase-neutro,


é aplicada a série de Fourier. Assim, van da figura 9.3 é dado por:

2 ⎛ ∞
1 1 ⎞
van = vCC ⎜ senθ + ∑ ⎡⎢ sen(6k −1)θ + sen(6k −1)θ ⎤⎥⎟ (9.3)
π ⎝ k=1 ⎣ 6k −1 6k +1 ⎦⎠

0.5

van  2 3 4
0.5

0.5

vbn  2 3 4
0.5

0.5

vcn  2 3 4
0.5

Figura 9.3:  VSC de dois níveis de seis pulsos, tensões das fases em relação ao neutro do
sistema CA

Capítulo 9 407
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Os valores das componentes expressas em (9.3) são valores pico de fa-


se-neutro. Os valores eficazes fase-neutro e fase-fase da componente fun-
damental, relativos ao conversor, são dados por:

2 2 6
van− pico = v ,v = v ev = v (9.4)
π CC an−ef π CC ab−ef π CC

De acordo com (9.4), o módulo da tensão aplicada ao sistema depen-


de unicamente da tensão vCC do lado CC. A fase depende do deslocamento
angular φ entre o trem de pulsos e a referência do sistema. Portanto, o fasor
da componente fundamental máxima da tensão de linha no secundário do
transformador do conversor pode ser representado por (para a forma de
onda da figura 9.3):
6
Vs = v e jϕ (9.5)
π CC
Uma forma de reduzir harmônicos de tensão produzidos pelo VSC de
dois níveis é aumentar o número de pulsos de disparo. Nesse sentido, são três as
principais topologias de conversores que foram aplicadas em sistemas HVDC.
Estas topologias são o VSC de dois, três e multinível modular, que serão des-
critos no próximo capítulo. Em outras aplicações, tais como acionamento de
máquinas elétricas ou mesmo aplicações em FACTS [7], existem topologia
de conversores que podem sintetizar ondas de tensões de 12, 24 e 48 pulsos.

9.2.2  Modulação PWM senoidal

A modulação PWM (Modulação de Largura de Pulso ou Pulse Width


Modulation) senoidal é uma das técnicas para controle do chaveamento de
conversores VSC. O PWM senoidal [6] permite reduzir o conteúdo harmô-
nico de baixa frequência, devido à alta frequência utilizada na portadora
triangular, mostrado na figura 9.4, em alta tensão entorno a 33 vezes a fre-
quência da linha. Outra vantagem do PWM senoidal, além de sua simplici-
dade na sua implementação, permite o controle da potência ativa e reativa
de forma independente, ou seja, o controle da tensão CA e CC são mais ou
menos independentes no caso de controle por tensão. No caso de contro-
le por corrente (tratados no próximo capítulo), esta independência entre a
tensão CA e CC se logra com maior facilidade.

408 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

+1 a b c

-1
(a)
+VCC /2

Vca

+VCC /2
(b)
Figura 9.4:  Modulação PWM senoidal em VSC de dois níveis: (a) portadora triangular e
tensões de referência; (b) PWM

A largura dos pulsos é modulada pela relação entre os valores de v ref e


vtri, onde o índice de modulação de amplitude e frequência são definidas,
respectivamente, por:
ftri vref
mf = e ma = (9.6)
fs vtri

O índice mf apresenta melhores resultados se for ímpar, múltiplo de


três e com valores maiores que 10. Quanto maior o valor de mf menor é o
conteúdo de harmônicos de baixa frequência, mas maiores serão as perdas
de chaveamento. Valores de mf = 21 ou 33 são típicos. O índice ma na faixa
de 0 a 1 garante relação linear entre vref e vtri. Para ma maior que 1 a relação
é não linear [7][8].
A análise harmônica da forma de onda da tensão na fase mostra que,
para mf elevada, a componente fundamental da tensão obtido com PWM
é dada por:
vCC
van = ma sen(2π f st + ϕ ) (9.7)
2

Onde: fs é a frequência da linha, ma o índice de modulação e φ o ângulo


de fase dessa tensão em relação a uma referência.

Capítulo 9 409
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9.2.3  Elo CC B2B-VSC na transmissão CA segmentada

Uma configuração de conversores VSC para operação em B2B numa


transmissão segmentada vai ilustrada na figura 9.5. Pode-se notar que os
conversores vão ligados em derivação nos terminais de CA e interligados
entre si nos lados de CC.

P, Q

SEP1 SEP2
Filtro

Filtro
Vca Ref Vca Ref

Controle da Controle da Controle da


Controle da
Tensão CA Corrente Corrente
Tensão CA
Interna Interna

Controle Controle da P
da Potência
Tensão no Vcc Ref Ativa P Ref
Capacitor

Figura 9.5:  Elo CC B2B-VSC conectando SEP-1 (Sistema Elétrico de Potência 1) e SEP-2
(Sistema Elétrico de Potência 2)

É possível estender este esquema ligando outros conversores em para-


lelo no lado CC e em série no lado CA, buscando uma maior integração no
projeto Linha – B2B-VSC. Os conversores VSC apresentam dois graus de li-
berdade de controle. Numa configuração B2B-VSC, um dos quatro graus de
liberdade é reservado para o controle da tensão no capacitor CC (este contro-
le é prioritário, pois variações nesta tensão modulam a amplitude da tensão
CA); os restantes são utilizados no controle da potência que flui de um ter-
minal para o outro, e no controle das tensões de CA (ou potências reativas)
nos terminais CA. Na continuação, o texto apresenta um modelo matemático
para um Elo CC B2B com conversores VSC (de dois níveis, modulação PWM
senoidal e seis pulsos), para aplicação em estudos de estabilidade à frequên-
cia fundamental de sistemas elétricos com linhas de transmissão segmenta-
das. A seção 9.2 leva a concluir que os conversores do B2B numa transmissão
segmentada podem ser representados no lado CA por impedâncias em série
com fontes de tensão controladas, conforme dado em (9.7). No lado CC, eles
podem ser tratados como fontes de corrente dependentes dos fluxos de po-
tência injetados nos lados CA. A figura 9.1 (b) apresenta o circuito equiva-

410 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

lente de B2B-VSC correspondente. Por estarem ligados à rede operando em


regime permanente, as variáveis nos terminais de CA do conversor podem
ser tratadas como fasores. Os terminais de CC impõem a condição de que
o somatório das correntes injetadas pelos conversores seja igual à corrente
no capacitor. A expressão da tensão de CA gerada pelo conversor VSC apre-
sentada em (9.7) é adotada como ponto de partida na elaboração do modelo
matemático dos conversores para o lado CA; e para este caso (PWM):

6
Vs = vCCmae jϕ (9.8)
4
Onde:
Vs = fasor representativo da tensão de linha do conversor (s = 1, 2).
ma = índice de modulação normalizada e linearizada.
vCC = tensão no capacitor.
φ = fase da tensão de linha do conversor.

Para os estudos de estabilidade à frequência fundamental (no lado CA),


o modelo matemático para o lado CC dos conversores do B2B são relações de
valores médios. Cada conversor é tratado como uma fonte de corrente depen-
dente da corrente no lado CA (calculada a partir da potência ativa injetada no
lado CA do conversor, no caso de não se incluírem as perdas nos conversores).
A corrente de linha na saída CA do VSC é dada por Is = fasor de cor-
rente entrando no conversor (medida no secundário);
PCC PCAS
IS = = (9.9)
Vc Vc

Onde, PCC e PCAS são a potência do lado CC e CA do VSC.


A corrente no capacitor resulta assim igual a

IC = I1 + I 2 (9.10)

Onde, I1 e I2 são as correntes CC no lado CC do VSC-1 e VSC-2 da co-


nexão B2B. Ao sistema de CC atribui-se um comportamento dinâmico de-
finido pela relação da tensão no capacitor:
dVc 1 (9.11)
= IC (t)
dt C

Capítulo 9 411
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9.2.4  Constante de inércia de um B2B-VSC

Costuma-se estender aos VSC o conceito de constante de inércia (H)


definido para as máquinas elétricas. Define-se assim a constante de inércia
HVSC de um VSC dada pela relação entre a energia armazenada no capacitor
do lado CC e a potência aparente, SVSC, do VSC:

1 CVCC
2
HVSC = (9.12)
2 SVSC

9.2.5  Curva de capacidade de um B2B-VSC

A curva de capacidade de operação (capability) de um B2B-VSC cobre


uma região no plano PQ contendo os pontos onde a operação do equipa-
mento é segura (assim como as curvas ditas de capabilidade estabelecidas
para as máquinas síncronas). Uma das grandezas que limitam a capacida-
de de utilização de um elo CC B2B-VSC é a corrente máxima através dos
IGBTs. A tensão CA rms de operação multiplicada pela corrente CA máxi-
ma rms define a potência aparente máxima de operação e o círculo limite
de operação do equipamento. O raio deste círculo se reduz com a diminui-
ção da tensão CA de operação do conversor. Outro fator importante na de-
finição da curva de capacidade do B2B-VSC é a tensão CC de operação do
capacitor. Para uma dada tensão CC, a capacidade de injeção de reativos na
rede se reduz com o aumento da tensão CA do sistema. A figura 9.6 apresen-
ta uma curva de capacidade de um B2B-VSC para uma tensão CA de 1.0 pu.

Figura 9.6:  Curva de capacidade de um VSC

412 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

9.2.6  Operação em regime permanente


de uma linha segmentada

Considere o caso mostrado na figura 9.7 de uma linha terminada por


um conversor VSC. É possível identificá-la como uma seção de uma linha
de transmissão CA segmentada.
S R
V1 PR + jQR V2

Linha B2B-VSC
Figura 9.7:  Linha terminada por um conversor VSC

A solução do fluxo de potência no circuito corresponde a um ponto no


plano das potências, onde a curva de capacidade do conversor VSC intercepta
a característica de potência da rede. Este ponto, que vai anotado pelo comple-
xo (PR + jQR), corresponde à potência de entrada CA no conversor e ao mesmo
tempo a potência entregue pela rede no terminal CA do conversor. Definindo:

V1 ∠ δ = tensão no extremo gerador (Barra S).


V2 ∠ 0 = tensão no extremo receptor (entrada CA do conversor) (Barra R).
ZL ∠ θ = impedância série da linha = RL + jXL.
α = π/2 − θ.
B = admitância shunt da linha; a corrente na linha é calculada pela
expressão.
V ∠δ −V2 ∠0
IL = 1 (9.13)
Z L ∠θ

A potência aparente transmitida pela linha e entregue ao conversor é


dada pela relação

SR = PR + jQR = V2 IL∗ + jBV22 (9.14)

Desenvolvendo esta expressão, obtêm-se as seguintes expressões para


as potências ativa e reativa entregues pela rede no terminal receptor:

Capítulo 9 413
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2
PR = VZ1VL2 sen (δ + α )− VZ2L2 RL
2
(9.15)
QR = VZ1VL2 cos (δ + α )− VZ2L2 X L +V22 B

Estas relações são as equações paramétricas de um círculo de raio


(V1V2/ZL), com centro no ponto 0 (zero) de coordenadas (P0, Q0) definidas
pelas relações:
2 2
P0 = − VZ2L2 RL Q0 = − VZ2L2 X L + BV22 (9.16)

A figura 9.8 indica os valores das potências para uma condição opera-
tiva definida pelas tensões V1 e V2 e uma diferença angular θ.
Q

P
(PR, QR )

δ +α

0 (P0, Q0 )

Figura 9.8:  Característica de potência da rede (P ≥ 0)

A figura 9.9 mostra as características de potência da transmissão segmen-


tada: a curva de capabilidade do conversor VSC e a característica de potência
da rede. O ponto de operação do conjunto é o ponto de intersecção desta curva.

δ+α

Figura 9.9:  Ponto de operação da linha segmentada (P ≥ 0)

414 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

9.3  Desempenho dinâmico da transmissão


segmentada dotada de compensação
shunt controlada – Estudo de caso
Esta seção examina em um estudo de caso o desempenho dinâmico de
uma solução de transmissão segmentada radial, para o transporte de cerca
de 2 GW, em CA 500 kV a uma distância de 1.000 km. A transmissão seg-
mentada, neste caso, considera um sistema de compensação shunt contro-
lada no meio da linha. Como se pode perceber, trata-se de uma solução de
transmissão com alto conteúdo tecnológico cujo comportamento dinâmico
convém examinar. A figura 9.10 mostra o Sistema Teste. Trata-se de uma
transmissão em CA interligando um extremo gerador a uma estação con-
versora B2B-VSC constituída por dois circuitos, com compensação shunt
controlada realizada por um compensador estático instalado numa barra
intermediária.

Figura 9.10:  Transmissão radial segmentada com compensação paralela controlada

No estabelecimento do caso de estudo, procurou-se impor condiciona-


mentos à solução do problema no que se refere ao perfil de tensão na linha
(manutenção de um perfil entre 1,02 – 0,97 PU nas barras da transmissão),
e uma limitação em 500 Mvar na compensação instalada no meio da linha.
O caso base de fluxo de potência foi estabelecido para uma condição ope-
rativa de 1.050 MW por linha e serviu de base para a simulação dinâmica
que elevou o fluxo para 1.200 MW por linha. Em face da deterioração pro-
gressiva do comportamento dinâmico observado nesta transição, fixou-se
o carregamento limite neste valor. Os resultados da dinâmica apontam pa-
ra uma revisão da estratégia de controle de tensão do CER adotada com o
objetivo de alcançar um valor limite de carregamento mais alto.

Capítulo 9 415
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Os dados empregados na elaboração do caso base vão listados a seguir.


• Extremo gerador – nove unidades de 325 MVA / fator de potência
0,95 indutivo – total de transformador elevador: 12%, 3.000 MVA –
sistema de excitação SCRX.
• PSS com sinal de velocidade – regulador de velocidade.
• Linha de transmissão – dois circuitos em 500 kV LNPE - SIL 1.705
MW – com um comprimento de 1.000 km cada um – uma SE de
chaveamento localizada no meio da linha – CER de 500 Mvar – re-
atores de linha de 360 Mvar.
• Conversores VSC configurados para operação em B2B – 2.500 MW,
500 kV (do lado CA).

As figuras 9.11 a 9.16 mostram os resultados da simulação para a con-


tingência de perda de um circuito de transmissão junto ao terminal recebe-
dor do B2B, após o estabelecimento do regime permanente de 2.400 MW.
Convém repetir aqui a observação inicial a respeito da progressiva deterio-
ração da ação de controle do CER observada na simulação – aumento pro-
gressivo da frequência de oscilação observada na tensão da barra do CER
–, com o aumento do carregamento da transmissão, e que levou a limitação
em 2400 MW a rampa de potência seguida pelo B2B. Pode- se concluir que
o elevado carregamento dos circuitos de transmissão alcançado no caso im-
põe uma ação rápida de redução do nível de potência no B2B por ocasião
da redução da transmissão. Esta ação tem por objetivo evitar o desenvolvi-
mento de um processo de instabilidade de tensão. Por dificuldades ineren-
tes ao modelo de simulação empregado, considerou-se, na simulação, uma
ação de redução de potência em avanço a saída do circuito de transmissão.

15.01 Rampa B2B com abertura circuito 2 barras 11-12 e redução B2B para 1200MW
2595

2229

1863

PELE 1 10 Gerador
1496
PMEC 1 10 Gerador

1130
0 30 60 90 120

Figura 9.11:  Resposta dinâmica do gerador Pelet (em azul) e Pmec (em vermelho) para
a saída de um circuito de linha (trecho final) e redução simultânea da potência do
B2B‑VSC (em rampa rápida)

416 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

15.01 Rampa B2B com abertura circuito 2 barras 11-12 e redução B2B para 1200MW
66,01

64,24

62,46
FMAQ 1 10 Gerador

60,69

58,92
0 30 60 90 120

Figura 9.12:  Resposta dinâmica da frequência para o mesmo caso da figura 9.10

15.01 Rampa B2B com abertura circuito 2 barras 11-12 e redução B2B para 1200MW
1,168

1,113

VOLT 11 B11-CER
1,059

1,004

0,949
0 30 60 90 120

Figura 9.13:  Resposta dinâmica da tensão na SE intermediária para as condições da


figura 9.10

15.01 Rampa B2B com abertura circuito 2 barras 11-12 e redução B2B para 1200MW
2,14

0,35

-1,43

-3,22
BCES 11 10 B11-CER

-5,
0 30 60 90 120

Figura 9.14:  Variação do CER na SE intermediária para as condições da figura 9.10

Capítulo 9 417
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

15.01 Rampa B2B com abertura circuito 2 barras 11-12 e redução B2B para 1200MW
0

-444 FLXA 12 B12-B2BS 11 B11-CER 1

FLXA 12 B12-B2BS 11 B11-CER 2

-888

-1332

-1777
0 30 60 90 120

Figura 9.15:  Resposta dinâmica do fluxo de potência no circuito 1 e 2, segundo trecho


para as condições da figura 9.10

15.01 Rampa B2B com abertura circuito 2 barras 11-12 e redução B2B para 1200MW
1298

1129

960

792 FLXA 10 B10 11 B11-CER 1

FLXA 10 B10 11 B11-CER 2

623
0 30 60 90 120

Figura 9.16:  Resposta dinâmica da potência nos dois circuitos no primeiro trecho para
a condição da figura 9.10

Nas figuras 9.17 a 9.22 são mostrados os resultados da simulação do


caso anterior seguido da perda de um circuito de transmissão junto ao ter-
minal gerador. A transmissão segmentada segue então operando com um
único circuito de transmissão, desde o terminal gerador até a barra de seg-
mentação, e uma potência entregue de 1.200 MW. A perda de transmissão
em questão não impõe nova ação de redução de despacho do B2B, uma vez
que a transmissão operava com 1.200 MW antes da ocorrência.

418 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

15.02 Caso 15.01 com abertura posterior circuito 2 barras 10-11


2595

1773

950
PELE 1 10 Gerador

PMEC 1 10 Gerador
128

-695
0 32 65 97 130

Figura 9.17:  Resposta dinâmica da potência elétrica e mecânica do gerador durante a


contingência de abertura no circuito 1 e 2 mais a abertura da parte 10 e 11 do circuito 1
para as condições da figura 9.10

Figura 9.18:  Resposta dinâmica da frequência para o caso mostrado na figura 9.17

15.02 Caso 15.01 com abertura posterior circuito 2 barras 10-11


1042
FLXA 12 B12-B2BS 11 B11-CER 1

337 FLXA 12 B12-B2BS 11 B11-CER 2

-368

-1072

-1777
0 32 65 97 130

Figura 9.19:  Resposta dinâmica de fluxo de potência para condição da figura 9.17

Capítulo 9 419
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

15.02 Caso 15.01 com abertura posterior circuito 2 barras 10-11


1381

826

271
FLXA 10 B10 11 B11-CER 1

FLXA 10 B10 11 B11-CER 2


-285

-840
0 32 65 97 130

Figura 9.20:  Resposta dinâmica das potências nos dois circuitos para a condição da
figura 9.17

15.02 Caso 15.01 com abertura posterior circuito 2 barras 10-11


1,168

0,999

0,829
VOLT 11 B11-CER

0,659

0,49
0 32 65 97 130

Figura 9.21:  Resposta dinâmica das potências nos dois circuitos para a condição da
figura 9.17

15.02 Caso 15.01 com abertura posterior circuito 2 barras 10-11


2,29

0,47

-1,35
BCES 11 10 B11-CER

-3,18

-5,
0 32 65 97 130

Figura 9.22:  Resposta dinâmica da tensão na barra de CER para as condições da figura
9.17

420 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

9.4  Aplicação da transmissão em CA


segmentada no País - Estudo de casos
9.4.1 Introdução

A transmissão de energia elétrica no País vive hoje duas realidades. O


ambiente desregulamentado fez o sistema de transmissão tornar-se “o lu-
gar do mercado” [9]. A transmissão da Amazônia envolvendo a integração
de potenciais hidroelétricos de grande porte e, na atualidade, distantes dos
centros consumidores, domina o cenário da expansão da transmissão no
País. Estas realidades, quando analisadas nas suas diversas dimensões, ter-
minam por identificar a necessidade de se promover uma profunda revisão
dos procedimentos vigentes, acima da política de planejamento hoje forte-
mente motivada para o atendimento à modicidade tarifária. Esta revisão
passa necessariamente pelo exame e escolha da tecnologia de transmissão.
Apresentam-se a seguir dois casos de estudo elaborados com a finalidade
de avaliar o potencial de aplicação da transmissão em CA segmentada por
dispositivos B2B-VSC na transmissão no País.

9.4.2  Segmentação da interligação Norte-Sul


Convém salientar que este estudo, datado de 2009, foi desenvolvido
com base nos dados e configuração do SIN da época [10], [11]. A interliga-
ção entre as regiões Norte e Nordeste do Brasil foi concebida inicialmente
para escoar a geração excedente na UHE Tucuruí para a região Nordeste.
A implantação posterior da interligação entre as regiões Norte e Sudeste
viabilizou a troca de energia da região Norte também com a região Sudes-
te. A figura 9.23 mostra a interligação entre as regiões Norte e Sudeste, de-
nominada de interligação Norte-Sul, que é constituída atualmente por um
sistema de transmissão composto por três circuitos em 500 kV entre a sub­
estação de Imperatriz, no Estado do Maranhão, e a subestação de Serra da
Mesa, no Estado de Goiás, passando pelas subestações de Colinas, Mirace-
ma e Gurupi, no Estado do Tocantins.

Capítulo 9 421
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 9.23:  Interligação Norte-Sul

Da subestação de Miracema deriva a subestação de Lajeado na qual se


conecta a usina de mesmo nome, com capacidade instalada de 950 MW, e
da subestação de Gurupi deriva a subestação de Peixe na qual se conecta a
Usina Peixe Angical, com capacidade instalada de 450 MW. Em função dos
requisitos de energia das regiões Sudeste e Nordeste, é realizada maximiza-
ção da geração da UHE Tucuruí em determinados períodos do ano. Neste
período, os fluxos na interligação Norte-Sul ficam bastante elevados, e dis-
túrbios na região Sudeste – desligamento de máquinas da Usina de Itaipu,
por exemplo – poderão levar à abertura da interligação Norte-Sul, pela atu-
ação da proteção de perda de sincronismo – PPS. A solução adotada para

422 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

garantir a continuidade do atendimento foi a de criar uma restrição opera-


tiva de limitar os fluxos de potência na interligação entre os dois sistemas.
Essa situação é um tanto indesejada, já que em determinado período do ano
existe a disponibilidade da geração em Tucuruí, capacidade térmica para a
transmissão desta potência e, no entanto, estas não podem ser exploradas
nas suas totalidades. Visando quantificar a redução nas transferências de
energia, acarretadas pelas limitações praticadas aos fluxos nas interligações
entre os sistemas Norte/Sudeste e o fluxo no tronco de 765 kV, necessários
para garantir a continuidade do atendimento na condição de contingências
de dois circuitos entre as subestações de Foz do Iguaçu e Ivaiporã 765 kV,
foi simulada a situação limite na qual o sistema suporta estas contingências
sem colapso, porém com restrições nas transferências de potência entre os
sistemas na situação pré-falta. Em seguida examinou-se a situação com um
dispositivo B2B-VSC instalado na subestação de 500 kV de Gurupi, interli-
gando os sistemas Norte e Sudeste. Nas duas simulações foram quantifica-
dos os valores das transferências de potência entre os sistemas, resumidos
na tabela 9.1.

Tabela 9.1:  Redução-elevação na transferência de potência


FIPU RSE FNS
Caso Descrição Evento
(MW) (MW) (MW)
Sistema sem ilhamento Curto monofásico em Foz do Iguaçu 765 kV,
a 6.300 7.700 2.500
por PPS e sem o B2B-VSC com abertura de dois circuitos entre Foz do
Iguaçu e Ivaiporã e corte de quatro máquinas
b Sistema com B2B-VSC 6.300 7.700 3.500 da Usina de Itaipu 60 Hz

Os resultados da simulação dos casos a e b da tabela 9.1 vão mostrados


a seguir. Os desvios de frequência para o caso a em cada local estão nas co-
res definidas entre parênteses Ilha Solteira (vermelho), Itaipu (azul), Xingó
(sépia), Tucuruí (preto).
Os resultados apresentados nas figuras 9.24 a 9.27 permitem cons-
tatar que há redução efetiva do acoplamento dinâmico entre os sistemas
com a utilização do B2B-VSC na subestação de Gurupi 500 kV, que leva a
ampliação das transferências de potência entre as regiões Norte e Sudeste.
Elimina-se a restrição operativa de intercâmbio NS, e passa-se a uma uti-
lização plena da capacidade de transmissão existente. Uma forma simples
de avaliar sob o ponto de vista econômico a atratividade da implantação do
B2B-VSC consiste em comparar os custos dos conversores B2B-VSC (7 x
500 MW) de R$ 1.512.000.000,00 mais os custos da adaptação da subesta-
ção de Gurupi 500 kV de R$ 50.000.000,00, que aproximadamente somam

Capítulo 9 423
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executorA: Coppetec. proponenteS: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

um total de 1,56 bilhões de reais, com o custo evitado com geração térmica.
Para tal, ao considerar a repetição de situação similar à recentemente ob-
servada no primeiro trimestre de 2008, quando ocorreu atraso no início do
período úmido, tendo sido necessário o despacho na base de um montante
significativo de geração térmica na região SE/CO, destaca-se que o tronco
de transmissão de interligação entre as regiões Norte e SE/CO estava sendo
explorado em seu limite máximo, 2.500 MW. Ao levar em conta que o cus-
to médio de operação das usinas térmicas a óleo é da ordem de R$ 500,00/
MWh e a operação na base de cerca de 1.000 MW, representam dispêndio
com combustível da ordem de R$ 0,36 bilhão/mês e, ainda que com a aplica-
ção do B2B-VSC são ampliados os limites de transmissão (1.000 MW), seria
possível, com a instalação do dispositivo B2B-VSC, efetivar a transferência
dos 1.000 MW em todos os períodos de carga e evitar os dispêndios com a
geração térmica. Portanto, os custos de instalação do B2B-VSC seriam ple-
namente ressarcidos em cerca de 4,5 meses considerando somente o custo
de operação evitado com as usinas térmicas, o que permite concluir pela
grande atratividade dessa solução. Destaca-se ainda que, pelas característi-
cas hidrológicas da região Norte, a efetivação de maiores transferências pe-
la elevação da capacidade de transmissão de energia para a região Sudeste,
devido à utilização do B2B-VSC, contribui para a redução dos custos mar-
ginais de operação – CMO – da região SE e para uma operação mais eco-
nômica do SIN. A que se procurou salientar a vantagem da transmissão a
longa distância segmentada por um B2B-VSC nas interligações de sistemas
de grande porte, mostrando os ganhos nas transferências de potência e os
ganhos energéticos entre regiões mantendo a segurança do SIN.
F MAQ 501 10 I. SOLTE-14GR F MAQ 5061 10 XNGO- -5GR

F MAQ 1107 10 ITAIPU60-9GR F MAQ 6419 10 TUCURUI1-5GR


60,125

59,904
Frequência (Hz)

59,682

59,461

59,240
0,0 3,8 7,6 11,4 15,2 19,0
Tempo(s)

Figura 9.24: Desvios de frequência para o caso a I.Solteira (vermelho), Itaipu (azul),
Xingo (sepia), Tucuruí (preto)

424 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

3627,0

MW 3349,0

3072,0

2794,0

2516,0
0,0 3,8 7,6 11,4 15,2 19,0
Tempo(s)

Figura 9.25: Fluxo de potência NS caso a

F MAQ 501 10 I. SOLTE-14GR F MAQ 5061 10 XNGO- -5GR

F MAQ 1107 10 ITAIPU60-9GR F MAQ 6419 10 TUCURUI1-5GR


60,13

59,87
Frequência (Hz)

59,60

59,34

59,07
10,0 14,0 18,0 22,0 26,0 30,0
Tempo(s)

Figura 9.26: Desvios de frequência para o caso b I.Solteira (vermelho), Itaipu (azul),
Xingo (sepia), Tucuruí (preto)

Fluxo de potência NS caso a


-­‐2011,0  

-2758,3
MW

-3505,5

-4252,8

-5000,0
10,0 14,0 18,0 22,0 26,0 30,0
Tempo(s)

Figura 9.27: Fluxo de potência NS caso a

cApÍtuLo 9 425
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9.4.3  Alternativa híbrida para a transmissão de Belo Monte

Apresenta-se a seguir um sumário dos estudos realizados para uma


configuração de transmissão em CA segmentada para a integração da usi-
na de Belo Monte. O estudo considera ainda na solução a inclusão de parte
da geração da futura usina de São Luís do Tapajós [12][13].

9.4.4  Solução HVDC (EPE)

Uma das soluções examinadas pela EPE (Empresa de Pesquisa Energé-


tica) para Belo Monte consiste de três elos HVDC de 3,5 GW, 600 kV cada
um. Dois destes elos se estendem desde a SE Xingu 500 kV no Para até a SE
Estreito em Minas Gerais. O terceiro elo interliga a SE de Xingu com Paulo
Afonso. Esta solução é uma transmissão ponto a ponto, não contribuindo,
portanto, para uma efetiva inserção regional e vascularização da transmis-
são. Além disso, a injeção de 6 GW num terminal ou em barras próximas
do Sistema e a concentração na área da compensação reativa demandada
pelos elos de HVDC certamente contribuem para um risco aumentado de
bloqueio de polo por ocasião de grandes perturbações no SIN.

9.4.5  Solução híbrida

O presente estudo analisa uma solução com um dos elos de HVDC da


proposta EPE substituído por duas linhas em 500 kV segmentadas por um
conversor B2B-VSC de 3.100 MW /500 kV, como indica a figura 9.28. Por
se tratar de uma solução que emprega duas tecnologias de transmissão -
HVDC e CA -, ela é identificada como solução híbrida.

426 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Nordestes
Belo Monte
P. Afonso

Xingu

Linha CA
Segmentada
HVDC
Original
B2 B
VSC
HVDC

Luziânia Proposto

Estreito

Sul-este

Figura 9.28:  Sistema híbrido

A solução proposta resulta de uma revisão dos procedimentos vigen-


tes no planejamento do que se convencionou denominar de transmissão da
Amazônia. Busca inserir a transmissão de Belo Monte num projeto mais
amplo de expansão da transmissão para o País, capaz de agregar os diver-
sos projetos de integração dos potenciais hidroelétricos da bacia Amazôni-
ca, num horizonte de longo prazo como requer a magnitude dos recursos.
A inserção regional alcançada com a transmissão em CA vem atender às
exigências de caráter geopolítico e social. A transmissão segmentada por
B2B-VSC confere ao sistema flexibilidade de operação, robustez frente a
grandes perturbações, em especial àquelas relacionadas com o bloqueio da
transmissão em HVDC, contribuindo assim para uma redução de exposi-
ção a processos em cascata, próprios de sistemas de grande porte. Concorre
ainda para o estabelecimento gradativo de uma estrutura de transmissão de
áreas assíncronas interligadas no País.
A figura 9.29 apresenta um diagrama unifilar da transmissão segmenta-
da com indicação dos reforços de transmissão no lado receptor do dispositi-
vo B2B de segmentação. Para ilustrar o potencial da característica de inser-
ção regional da transmissão em CA segmentada proposta para Belo Monte,
o sistema de transmissão foi estendido, de modo a incluir a integração do
complexo de geração do Tapajós. A geração de São Luís do Tapajós, ora em
estudo, foi assim inserida no estudo de integração de Belo Monte, supondo
um estágio de evolução com uma geração de 3,2 GW. O tronco de trans-
missão desde a Usina até a SE Xingu PA500 num comprimento de 545 km é

Capítulo 9 427
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constituído por dois circuitos em 500 kV e uma SE de chaveamento (na lo-


calidade denominada de Transamazônica), dotada de compensação parale-
la controlável. O tronco de transmissão que parte da SE Xingu PA500 na di-
reção do Sudeste apresenta um comprimento total de cerca de 1.550 km até
a SE de Luziânia DF500. A segmentação foi feita na Barra Luziânia DF500.

Xingu
Nova Miracema

Miracema (TO)

SECH1

Luziânia (DF)

SECH2 S R

B2B Mesquita (MG)

VSC

Pirapora2 (MG)

Paracatu (MG)

a construir Bom Despacho (MG)

existente

Figura 9.29:  Unifilar do tronco de transmissão segmentado em Luziânia GO500

Esta barra por sua vez é interligada com a Barra Luziânia R do B2B,
como mostra a figura 9.29. O trecho Sul da transmissão integrada de Belo
Monte Tapajós se confunde com a rede base do SIN existente. A integração
com o sistema Sudeste se realiza a partir da SE Luziânia DF500, fazendo
uso da transmissão que dela irradia. A interligação assíncrona dos trechos
Norte e Sul da transmissão de Belo Monte-Tapajós permite utilizar plena-
mente a capacidade de transmissão destes trechos e do sistema recebedor,
sem prejuízo do desempenho dinâmico do SIN. Os reforços de transmissão
no sistema Sudeste (sistema recebedor) considerados no estudo por con-
ta da injeção de 11 GW do complexo Belo Monte-São Luís do Tapajós (8
e 3,2 GW respectivamente), se traduzem em dois circuitos em 500 kV, de
cerca de 350 km cada um, a saber:

428 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

• Um circuito entre as SEs Paracatu e Bom Despacho MG 500.


• Um circuito entre as SEs Pirapora2 e Mesquita.

É importante frisar que a seleção destas barras pode ser alterada, para
atender a limitações do sistema recebedor, ou mesmo objetivos específicos. Os
reforços de transmissão do sistema recebedor na SE considerados no estudo
foram baseados em informações disponíveis na época dos estudos sobre o sis-
tema da Cemig, com base nos arquivos de linhas do caso EPE. No trecho Norte
da transmissão em CA segmentada se localizam duas subestações, identifica-
das como SEs de chaveamento (SECH 2), aonde vão instalados compensadores
estáticos para controle do perfil de tensão e limitação das sobretensões. Esta
compensação reativa controlada concorre também para aumentar a capaci-
dade de transmissão dos trechos sem prejuízo da estabilidade eletromecânica.
Nos estudos, considerou-se também uma compensação reativa manobrável
instalada nas barras das SEs Paracatu MG500 e Transamazônia.

9.4.6  Parâmetros das linhas da transmissão segmentada

A transmissão em CA 500 kV (525 kV máximo em regime permanen-


te, 550 kV máximo do equipamento) selecionada para o estudo é de tipo
LPNE. A limitação do nível de carregamento desta configuração de linha
na transmissão a longa distância foi removida pela adoção da segmentação
da linha, combinada com o emprego de reatores controlados ao longo dos
trechos segmentados. Os parâmetros das LTs empregadas no trabalho cor-
respondem aos valores apresentados em [14], [15] relativas à configuração
identificada no trabalho pela denominação LNC500. A linha é composta
por cabos RAIL / seis condutores por fase. Os parâmetros calculados (para
condições médias de carregamento, solo homogêneo e variação de frequên-
cia) vão indicados abaixo.

Tabela 9.2:  Parâmetros da linha


Configuração V (kV) Pc (MW) Z+ S (ohms) Z+ (ohms/km) B+ (Mvar a 500 kV)
LNC 500 550 2051 146,6 0,0126 + j0,1913 2,2258

Os comprimentos das linhas em 500 kV adicionadas no estudo vão lis-


tados a seguir.

Capítulo 9 429
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No estudo foi empregada compensação paralela controlada (CER), e


reatores de linha, que são indicados nas tabelas 9.4 e 9.5.

Tabela 9.3:  Comprimentos das linhas em 500 kV adicionadas no estudo


Linha Distância
Da barra Para Barra (km)
Xingu PA500 SECH1 375
SECH1 Miracema TO500 375
Miracema TO500 SECH2 375
SECH2 Luziânia S 500 kV GO 375
Paracatu MG500 Bom Despacho MG500 350
Pirapora2 MG500 Mesquita MG500 350
S.L. Tapajós 500 TAmazon 500 300
TAmazon Xingu PA500 245

Tabela 9.4:  Compensadores estáticos na transmissão segmentada


Barra Potência (Mvar) Obs.
SECH1 -400/0 –
SECH2 -400/0 –
Paracatu MG500 -300/200 –
Lado retificador
-700/700 Compensadores empregados
B2B-VSC
apenas para cálculo de fluxo de
Lado inversor potência para simular a ação do VSC
-700/700
B2B-VSC

Tabela 9.5:  Reatores de linha transmissão em 500 kV


Linha Paralelo (de) Paralelo (para)
Circuito*
De Para (Mvar) (Mvar)
Xingu PA500 SECH1 1/2 -275 -275
SECH1 Nova Miracema 1/2 -275 -275
Nova Miracema SECH2 1/2 -275 -275
SECH2 Luziânia 1/2 -275 -275
Paracatu Bom Despacho
MG500 MG500 1 -250 -250
Pirapora2 Mesquita
MG500 MG500 1 -250 -250
S.L. Tapajós Bom Despacho
11502 10008 1/2 -150 -150
Tamazon Xingu PA500
11502 10008 1/2 -120 -120
*1/2 significa no meio do circuito; 1 significa na subestação “para”.

430 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

9.5  Desempenho em regime permanente


da alternativa híbrida
Uma série de estudos elétricos foram realizados para uma configura-
ção hipotética da EPE para o ano 2019 – carga pesada, norte exportador –,
com a alternativa híbrida de transmissão para Belo Monte, acrescida pela
transmissão em 500 kV para a integração da geração de São Luís do Tapa-
jós. Com base nesse caso da EPE, elaborou-se o caso 90 para avaliar o de-
sempenho em regime permanente e para um dimensionamento preliminar
do suporte de reativo na nova configuração. Com base em informações so-
bre a energia firme de Belo Monte, elaborou-se um segundo caso de fluxo
de potência – caso 92 –, com o despacho de Belo Monte reduzido para 5,6
GW e o despacho de Tapajós mantido em 3 GW, para uma avaliação
das perdas na transmissão segmentada. Os despachos dos bipolos de HVDC
e da transmissão segmentada adotados nos dois casos e as correspondentes
perdas nestes troncos estão indicados na tabela 9.6.

Tabela 9.6:  Diferença entre as perdas na transmissão da potência


Despacho da transmissão Perdas (Mvar)
Despacho
Geração B. Monte (MW) Bipolo 1 Transmissão Segmentada Bipolo 2
Xingu-Estreito Xingu-Luziânia Xingu- P. Afonso
8000 3100 3100 3500
Caso 90 195 260 334
5617 2200 2200 2912
Caso 92 99 119 230

A tabela 9.6 assinala uma diferença entre as perdas na transmissão da


potência firme de Belo Monte via Bipolo1 Xingu-Estreito e na transmissão
segmentada Xingu-Luziânia. Esta diferença se reduz ainda mais no caso de
troca do condutor RAIL, considerado no estudo, por ORTOLOM. A pe-
quena diferença encontrada pode ser entendida a partir de uma análise dos
diferentes carregamentos ao longo da transmissão segmentada.

9.6  Estudos de transitórios eletromecânicos


Os estudos de transitórios eletromecânicos desenvolvidos para a trans-
missão híbrida são listados na tabela 9.7. A escolha dos eventos foi limitada
a contingências nos troncos de transmissão de B. Monte e S. L. Tapajós, com

Capítulo 9 431
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

o objetivo específico de avaliar o grau de “rigidez” da estrutura da transmis-


são proposta. Mais especificamente, procurou-se no estudo caracterizar a
suportabilidade da estrutura aos impactos de redução de transmissão e/ou
geração, e eventuais restrições operativas decorrentes de sua interação com
a rede base. A avaliação do comportamento dinâmico da transmissão seg-
mentada foi estendida ao exame da operação isolada do trecho Norte, bus-
cando comprovar o potencial da segmentação na transmissão CA a longa
distância e sua sensibilidade à compensação. Os resultados obtidos da simu-
lação (estudos de estabilidade) revelamos nas seguintes partes:

• Valores elevados nas tensões ao longo da transmissão segmentada


após a saída de um circuito entre Nova Miracema SECH2, resultan-
tes da ação de controle de emergência para redução da potência do
conversor B2B. As ações para controle das tensões por atuação dos
CERs e limitadas em 300 Mvar. O desligamento dos bancos de capa-
citores instalados nas diversas barras, combinadas ou não com uma
ação de redução da tensão no conversor B2B, e simuladas nos tra-
balhos anteriores, são suficientes para a solução do problema, sem a
necessidade de ampliação da capacidade dos CERs.

• A análise dos resultados da simulação do comportamento dinâmi-


co do SIN, em especial para o evento “Apagão”, leva a concluir que
a alternativa de transmissão para a integração das gerações de Belo
Monte e São Luís do Tapajós considerada no estudo apresenta uma
estrutura que não aponta limitações de estabilidade eletromecânica.

• O emprego de conversores VSC configurados para operação em


B2B na segmentação não impõe limitações na rigidez em tensão do
extremo recebedor, além de possibilitar o exercício do controle da
tensão nos terminais e do «despacho» de potência na transmissão.

• Os comportamentos dinâmicos oscilatórios com reduzido amorte-


cimento, de ocorrência pontual nos resultados, devem receber a de-
vida atenção no momento próprio.

432 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Tabela 9.7:  Casos de dinâmica (Cenário EPE PES-2019)


# Descrição dos eventos
Caso2SLT Caso teste da estabilidade numérica e caracterização do transitório de inicialização do B2B
Saída com falta de um circuito TAmazon-Xingu 500, seguida de alívio de geração em
Caso3SLT
S.L.Tapajós
Caso4SLT Saída com falta de um circuito Xingu-SECH1 500
Saída com falta de um circuito Paracatu-Luziânia 500, seguida de desligamento de banco
Caso5SLT
de reatores de barra em Paracatu
Saída com falta de um circuito Miracema-SECH2, com redução antecipada do despacho de
Caso 10SLT
potência no B2B
Caso11SLT Saída intempestiva de Elo CC Bipolo B1-Xingu-Estreito
Caso 12SLT Saída intempestiva de Elo CC Bipolo B3-Xingu-P. Afonso
Caso Apagão Simulação da ocorrência 10/11/2009 descrita no Rel ONS-RE 3-252/2009

São incluídas a seguir as figuras de 9.30 a 9.37 que ilustram o desempenho


dinâmico à frequência fundamental para algumas das emergências listadas.

Caso11SLT - Saída Elo CC -Xingu-Estreito


8197

7942

7686

PELE 4941 10 BMONTEUHE013


7430

7174
25, 28, 31, 34, 37, 40,

Figura 9.30:  Potência elétrica em Belo Monte para o caso de perda do bipolo Xingu-
Estreito

Caso11SLT - Saída Elo CC -Xingu-Estreito


60,078

60,041

60,005
FMAQ 4941 10 BMONTEUHE013

59,968
FMAQ 3584 10 ITAIPUUHE013

59,932
25, 32, 39, 46, 53, 60,

Figura 9.31:  Frequência das máquinas em Belo Monte (vermelho) e Itaipu (azul)

Capítulo 9 433
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Caso11SLT - Saída Elo CC -Xingu-Estreito


75

41 DELT 4941 10 BMONTEUHE013 2041 10 I.SOLTUHE013

DELT 3584 10 ITAIPUUHE013 2041 10 I.SOLTUHE013


7
DELT 3594 10 S.MESAUHE013 2041 10 I.SOLTUHE013

-27 DELT 1 10 PAF1-1UHE013 2041 10 I.SOLTUHE013

-61
25, 28, 31, 34, 37, 40,

Figura 9.32:  Diferenças angulares em relação à Ilha Solteira

Caso11SLT - Saída Elo CC -Xingu-Estreito


1686

1584

1482
FLXA 65501 SECH-2 65502 LUZIAN_S 1

1380 FLXA 4300 LUZIAN-DF500 1523 PARACA-MG500 1

1278
25, 32, 39, 46, 53, 60,

Figura 9.33:  Potência nos trechos da SECH-2 para Luziânia e Luziânia – Paracatu

Disturbio "APAGÃO" Caso APAGAOMLST


60,199
FMAQ 4941 10 BMONTEUHE013

FMAQ 3584 10 ITAIPUUHE013


60,084

59,969

59,853

59,738
25, 30, 35, 40, 45, 50,

Figura 9.34:  Variação de frequência para o caso «Apagão» em Belo Monte (vermelho)
e Itaipu (azul)

434 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Disturbio "APAGÃO" Caso APAGAOMLST


1,063

0,991

VOLT 10008 XINGU--PA500


0,92
VOLT 506 SOBRAD-BA500

VOLT 1523 PARACA-MG500


0,849
VOLT 4326 N.IGUA-RJ500

0,778
25, 25,2 25,4 25,6 25,8 26,

Figura 9.35:  Tensão em várias partes da rede para o distúrbio tipo «Apagão»

Disturbio "APAGÃO" Caso APAGAOMLST


64
DELT 4941 10 BMONTEUHE013 2041 10 I.SOLTUHE013
DELT 50 10 TUC1-5UHE013 2041 10 I.SOLTUHE013
35 DELT 3584 10 ITAIPUUHE013 2041 10 I.SOLTUHE013
DELT 3594 10 S.MESAUHE013 2041 10 I.SOLTUHE013
DELT 1445 10 S.SIMAUHE013 2041 10 I.SOLTUHE013
6

-23

-52
25, 28, 31, 34, 37, 40,

Figura 9.36:  Variação do ângulo em várias partes da rede para o distúrbio tipo
«Apagão».

Disturbio "APAGÃO" Caso APAGAOMLST


1615

1483

1351

1219 FLXA 65501 SECH-2 65502 LUZIAN_S 1

FLXA 4300 LUZIAN-DF500 1523 PARACA-MG500 1

1086
25, 28, 31, 34, 37, 40,

Figura 9.37:  Potência em SECH-2 (lado recebedor do B2B-VSC e em Luziânia)

Capítulo 9 435
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

9.8  Comentários finais


O estudo realizado para a configuração híbrida de transmissão faz par-
te de um projeto conceitual para a integração dos potenciais hidrelétricos da
Amazônia. Os resultados dos estudos e análises vêm contribuir e consolidar
as expectativas a esta alternativa inovadora para a transmissão em CA a lon-
gas distâncias. A transmissão em CA nos moldes apresentados vem aten-
der a requisitos de ordem socioambientais de desenvolvimento sustentado,
flexibilidade operativa, de traçado e ponto de injeção de potência na rede e
robustez contra a propagação de distúrbios e falhas em cascata.
Os custos de instalação e o montante de perdas no tronco de transmis-
são em CA segmentada estão sempre presentes na apreciação da aplicação
da transmissão segmentada. Estes questionamentos, de caráter puramente
econômico e financeiro, são invocados na inevitável comparação econômica
de alternativas para transmissão de energia – HVDC / HVCA –, sem levar
em conta as grandes diferenças de características técnicas entre elas. Futuras
comparações devem levar em conta estas diferenças técnicas.

Referências
[1] VENIKOV, V. Transient Processes In Electrical Power Systems, MV.
MIR Publishers, Moscow, 1977 IR.
[2] LESNICAR, A.; MARQUARDT, R. An Innovative Modular Multile-
vel Converter Topology Suitable For A Wide Power Range. Power Te-
ch Conference Proceedings, 2003 IEEE Bologna, v. 3, p. 1-6, 2003.
[3] CIGRE-B4.37. VSC Transmission. Final Report 269, CIGRÉ, Paris,
Apr. 2005.
[4] ANAREDE. CEPEL-ELETROBRAS. Disponível em: <http//www.
cepel.org.br>.
[5] PSCAD/EMTDC, Manitoba – HVDC Research Centre. [Online].
Available: <http//www.pscad.com>.
[6] LIPO, T. A. Pulse Widht Modulation For Power Converters. IEEE
Press Series, v. 1, 2003.
[7] DINIZ, R. R. Modelagem de Equipamentos FACTS, Baseado em In-
versores de Tensão, para Análise de Fluxo de Potência e Fenômenos
Eletromecânicos. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio
de Janeiro (COPPE/UFRJ), Engenharia Elétrica, 2004.

436 Princípios Básicos de Operação da Transmissão em CA Segmentada


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

[8] WATANABE, E. H.; AREDES, M.; BARBOSA, P. G.; SANTOS JR.,


G.; ARAÚJO LIMA, F. K. de; SILVA DIAS, R. F. da. Power Electro-
nics Handbook – Devices, Circuits, And Applications – Flexible AC
Transmission System. Elsevier, p. 797-822, 2007.
[9] MOHAN, N.; UNDERLAND, T. M.; ROBBINS, W. P. Power Elec-
tronics Converters, Applications And Desing, second edition, New
York, John Wiley & Sons, 1995.
[10] BITTENCOURT, S.; ERIKSSON, K.; BILEDT, G. HVDC Light pa-
ra Transmissão de Energia Elétrica num Mercado Desregulamenta-
do. XV SNPTEE, dez. 1999.
[11] GÀRDOS, R. Transmissão de Energia a Longa Distância com Linhas
CA Segmentadas por Conversores VSC B2B. Tese de Mestrado, Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), mar. 2009.
[12] GÀRDOS, R. et al. Avaliação do Comportamento do SIN com a
Aplicação de Transmissão Segmentada nas Interligações Interregio-
nais. XX Sepope, Recife, PE, nov. 2009.
[13] GARDÒS, R. et al. Long Distance Transmission - Segmented AC Li-
nes. PSCC 2011, Stockholm, Aug. 2011.
[14] PEDROSO, A. Alternativa Híbrida de Transmissão para Integração
das Usinas de Belo Monte e São Luís do Tapajós-Tronco em CA Seg-
mentado em Luziânia-DF500, out. 2010.
[15] PORTELA, C. M.; ARRUDA, C. K.; SILVA, C. J.; MIRANDA, J. A.
Solicitações de Disjuntores na Manobra de Linhas Não Convencio-
nais. SNPTEE, Rio de Janeiro, RJ, out. 2007.
[16] LIMA, A. C. Resposta Temporal de Circuito de Transmissão Utili-
zando LNC Segmentadas. Universidade Federal do Rio de Janeiro
(COPPE/UFRJ), mar. 2008.

Capítulo 9 437
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 10

Conversor de tensão (VSC)

439
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10.1 Introdução
Até o presente, quando se fala em alternativas de transmissão a longa
distância, apenas as alternativas “ponto a ponto” têm sido discutidas. No
entanto, sob a ótica evolutiva do sistema elétrico brasileiro, pode-se prever
que em um horizonte de 30 anos haverá uma redistribuição dos centros de
carga no País. Regiões que hoje são pouco povoadas passarão a demandar
um montante considerável de energia elétrica, principalmente na própria
região Amazônica. Nessa perspectiva de futuro, uma das alternativas iden-
tificadas como sendo potencialmente interessante para a transmissão a lon-
ga distância é a transmissão segmentada por conversores fonte de tensão ou
Voltage Source Converter (VSC), em inglês.
A transmissão de CA nestes moldes atende a requisitos de ordem so-
cioambientais e desenvolvimento sustentado, de flexibilidade operativa e
de traçado, bem como de robustez contra a propagação de distúrbios e fa-
lhas em cascata. Nesta avaliação, buscou-se introduzir uma parcela relati-
va a uma valoração da adaptabilidade da transmissão à inserção regional
e consequente flexibilidade à expansão integrada da rede. Esta medida se
faz necessária para a aplicação em estudos comparativos com alternativas
de transmissão do tipo High Voltage Direct Current (HVDC) e meia-onda+
(MO+) que são basicamente ponto a ponto.
É importante expressar que o potencial da transmissão em CA segmen-
tada em atender aos requisitos antes mencionados pode vir a ser ofuscado
por uma política que coloca a modicidade tarifária como o elemento de
maior peso nos empreendimentos de expansão da transmissão, em detri-
mento de itens importantes como a inserção regional ou estabilidade do sis-
tema. Tratando-se da exploração dos potenciais hidrelétricos da Amazônia
num cenário de longo prazo, cabe adotar um procedimento mais elaborado.
Esta exploração deve seguir um caminho de busca de uma solução técnica
global e de longo prazo, mais atenta às incertezas dos cenários do que nos
condicionamentos de ordem econômico-financeira atuais.

440 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

10.2  VSC de dois e três níveis


10.2.1  Conversores convencionais

Inicialmente, duas topologias convencionais/tradicionais foram consi-


deradas interessantes para aplicação em sistemas de transmissão segmen-
tada. Estas topologias são as do conversor trifásico em ponte completa de
dois níveis, e o conversor de três níveis com o neutro “grampeado” por dio-
do (Neutral Point Clamped – NPC), apresentadas nas figuras 10.1 e 10.2,
respectivamente. Nesta última, apesar do número maior de componentes,
a tensão sobre os capacitores é a metade da tensão do elo de corrente contí-
nua, e as chaves de estado sólido são submetidas a tensões menores do que
no caso do conversor dois níveis. Além disso, a tensão sintetizada apresenta
menor distorção harmônica para uma mesma frequência de chaveamento.

vCC

SEP - 1 Y Y SEP - 2
c

Filtro Filtro

Figura 10.1:  Conversor VSC de dois níveis em back-to-back

SEP - 1 Y Y SEP - 2
0

Filtro Filtro
c
+

Figura 10.2:  Conversor de três níveis em conexão back-to-back

10.2.2 Modulação

Em aplicações de Flexible AC Transmission System (FACTS), a faixa de


potência dos conversores é da ordem de alguns MW a algumas centenas de

Capítulo 10 441
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

MW. Para reduzir as perdas nos conversores, a frequência de chaveamen-


to deve ser baixa, quando comparada com as frequências de chaveamento
empregadas em conversores de filtros ativos [1], ou mesmo os de algumas
aplicações industriais. Com este intuito, diversas técnicas de modulações já
foram desenvolvidas [11] e [15].
Dois tipos de técnicas de chaveamento foram analisadas e simuladas: HE-
-PWM (Harmonic Elimination PWM) e SPWM (Sine PWM). Na primeira, os
instantes de comutação são pré-calculados para eliminação seletiva de harmô-
nicos. Na segunda, o padrão de chaveamento é definido a partir da comparação
de uma onda senoidal (sinal modulante) com uma onda triangular (portado-
ra), no caso do conversor de três níveis são usadas duas ondas triangulares. A
seguir, é feita uma comparação entre esses dois tipos de técnicas de modulação.

10.2.2.1 HE-PWM

Os harmônicos selecionados para serem eliminados foram os de 5ª, 7ª,


11ª e 13ª ordens. Os harmônicos gerados de ordens múltiplas de três (3ª, 9ª,
15ª etc.) não foram selecionados porque são de sequência zero – não se pro-
pagando para a linha, tendo em vista o VSC considerado ser trifásico a três
condutores [2]. Dessa forma, o harmônico de mais baixa ordem existente na
tensão fase-fase é o de 17ª ordem, o que torna os filtros passivos menores.
Para se obter os instantes de comutação, expande-se em série de Fou-
rier o sinal chaveado (vide figura 10.3) e igualam-se as equações dos har-
mônicos que deseja eliminar, em seguida resolve-se o sistema de equações:

⎧ π
⎪ sen(α1 )+ sen(α 2 )+ sen(α 3 )+ sen(α 4 )+ sen(α5 ) = ma
4
⎪
⎪ sen(5α1 )+ sen(5α 2 )+ sen(5α 3 )+ sen(5α 4 )+ sen(5α 5 ) = 0
⎪
⎨ sen(7 α1 )+ sen(7α 2 )+ sen(7α 3 )+ sen(7α 4 )+ sen(7α5 )
(10.1) =0
⎪
⎪ sen(11α1 )+ sen(11α 2 )+ sen(11α 3 )+ sen(11α 4 )+ sen(11α5 ) = 0
⎪ sen(13α1 )+ sen(13α 2 )+ sen(13α 3 )+ sen(13α 4 )+ sen(13α5 ) = 0,
⎪⎩

Onde ma é o índice de modulação em amplitude, dado pela relação do


valor de pico da componente fundamental de tensão pela metade do valor da
tensão do elo CC. Os ângulos α’s são definidos de acordo com a figura 10.3.

442 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

0 π
α1 2
α3 α5
α2 α4

Figura 10.3:  Definição dos ângulos de comutação na modulação por eliminação de


harmônicos (HE-PWM)

Esses ângulos são, então, pré-calculados para diversos valores de ma e


armazenados, para serem utilizados posteriormente no instante de defini-
ção do padrão de chaveamento. A figura 10.4 mostra como esses ângulos
variam em função de ma. Nota-se que ma pode chegar a valores superiores
a unidade sem, no entanto, perder as propriedades de gerar somente os har-
mônicos predefinidos.
1.4
Ângulos de chaveamento rad

1.2
1.
0.8 Α5

0.6 Α4

Α3
0.4
Α2
0.2
Α1
0.
0. 0.2 0.4 0.6 0.8 1. 1.2
Índice de modulação, m a p.u.
Figura 10.4:  Variação dos ângulos de chaveamento em função de ma

A figura 10.5 (a) e a figura 10.5 (b) mostram o padrão de chaveamento para
uma das fases do conversor, sintetizada com a estratégia HE-PWM, e o seu es-
pectro harmônico, respectivamente. Como já foi dito, os harmônicos múltiplos
de três estão presentes nas tensões de fase, contudo são cancelados nas tensões
de fase-fase, como mostrado na figura 10.6 (a) e na figura 10.6 (b), que apre-
sentam uma das tensões fase-fase e seu espectro harmônico, respectivamente.

Capítulo 10 443
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executorA: Coppetec. proponenteS: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1
Magnitude p.u.

1

2
0 2Π
Π 3Π
2
Π
2

Ωt rad
(a)
1.25

1. THD  56.03 

0.75
U p.u.

0.5

0.25

0.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
harmônico n

(b)
Figura 10.5: (a) Padrão de chaveamento para uma das fases do conversor e seu (b)
espectro harmônico para o HE-PWM

3
2
Magnitude p.u.

1
0
1
2
3
0 2Π
Π 3Π
2
Π
2

Ωt rad
(a)

444 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.25

1. THD  45.09 

0.75
U p.u.

0.5

0.25

0.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
harmônico n

(b)

Figura 10.6: (a) Tensão de fase-fase (HE-PWM) e seu (b) espectro harmônico

Uma das vantagens desta técnica de modulação é que, mesmo chave-


ando o VSC a baixa frequência (720 Hz), é possível garantir que o primei-
ro harmônico significativo seja de uma frequência mais elevada (17 x 60 =
1.020 Hz, neste caso). Porém, esta precisão só é conseguida teoricamente,
pois qualquer variação nos instantes de disparos das chaves faz com que
apareçam harmônicos não característicos que, dependendo da perturba-
ção, pode prejudicar consideravelmente o desempenho do controle do
conversor.

10.2.2.2 SPWM

Foram analisadas algumas das técnicas SPWM utilizadas para modula-


ção de conversores multiníveis, em que o padrão de chaveamento é definido
pelo cruzamento da onda modulante com (n -1) portadoras, onde n é o nú-
mero de níveis do conversor [11]. Dependendo da disposição das fases das
portadoras, as estratégias SPWM podem ser classificadas de três maneiras:

• PD (Phase Disposition): todas as portadoras possuem a mesma fase.


• POD (Phase Opposition Disposition: as portadoras que estão no se-
miplano positivo das ordenadas são defasadas de 180° em relação
às que estão no semiplano negativo.
• APOD (Alternative Phase Opposition Disposition): as portadoras es-
tão defasadas de 180° entre si.

cApÍtuLo 10 445
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Para o caso do conversor de três níveis, as estratégias POD e APOD são


equivalentes. De acordo com a figura 10.5 (a), a frequência das portadoras,
tomando como base a estratégia POD, deve ser igual a 720 Hz – que corres-
ponde a um índice de modulação em frequência igual a mf = 12, de forma
que a tensão de saída também tenha cinco pulsos em cada semiciclo. Para
esta frequência, as disposições das portadoras e os padrões de chaveamen-
to para as tensões de fase são mostrados na figura 10.7, para ambos os casos
(POD/APOD e PD).

1. 1.
Magnitude p.u.

Magnitude p.u.
0.5 0.5
0. 0.
0.5 0.5
1. 1.
0 Π
Π 3Π 2Π 0 Π
Π 3Π 2Π
Ωt rad Ωt rad
2 2 2 2

(a) (b)

2 2
Magnitude p.u.

Magnitude p.u.

1 1
0 0
1 1
2 2
0 Π
Π 3Π 2Π 0 Π
Π 3Π 2Π
Ωt rad Ωt rad
2 2 2 2

(c) (d)
Figura 10.7:  Definição dos SPWM (a) POD/APOD e (b) PD e as respectivas formas de
onda, (c) POD/APOD e (d) PD

Os espectros harmônicos das tensões de fase, tanto para a modulação


POD/APOD quanto para a PD, são mostrados na figura 10.8 (a) e na figu-
ra 10.8 (b), respectivamente. Observa-se na estratégia PD que boa parte da
energia harmônica concentra-se no harmônico cuja frequência é igual às das
portadoras, contudo esse harmônico é de modo comum, sendo cancelado
nas tensões de linha fase-fase, razão pela qual seu Total Harmonic Distortion
(THD) ou Distorção Harmônico Total é inferior nas tensões de linha fase-fase
do que na tensão de fase, como mostrado na figura 10.9.

446 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.25

1. THD  61.64 

0.75
U p.u.

0.5

0.25

0.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
harmônico n

(a)
1.25

1. THD  63.75 

0.75
U p.u.

0.5

0.25

0.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
harmônico n

(b)
Figura 10.8: Exemplo de espectro harmônico da tensão de fase para as modulações (a)
POD e (b) PD

3
2
Magnitude p.u.

1
0
1
2
3
0 2Π
Π 3Π
2
Π
2

Ωt rad
(a)

cApÍtuLo 10 447
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executorA: Coppetec. proponenteS: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1.25

1. THD  39.74 

0.75
U p.u.

0.5

0.25

0.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
harmônico n

(b)
Figura 10.9: (a) Exemplo de tensão fase-fase para a modulação PD e seu respectivo (b)
espectro harmônico

Diferente da estratégia PD, na estratégia POD a maior parte da energia


harmônica concentra-se nos harmônicos das bandas laterais da onda por-
tadora, múltiplas inteiras da frequência da onda modulante, que não são de
modo comum, e por isso não há o cancelamento na tensão de fase-fase. Isso
faz com que o seu THD seja o maior dos três casos (HE-PWM, PD e POD/
APOD). A figura 10.10 mostra a tensão de linha fase-fase e seu espectro
harmônico para a estratégia POD.
3
2
Magnitude p.u.

1
0
1
2
3
0 2Π
Π 3Π
2
Π
2

Ωt rad
(a)

448 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1.25

1. THD  51.17 

0.75
U p.u.

0.5

0.25

0.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
harmônico n

(b)
Figura 10.10: (a) Exemplo de tensão de fase-fase para a modulação POD e seu
respectivo (b) espectro harmônico

Como visto na figura 10.9, a modulação PD apresenta melhores resulta-


dos quanto à distorção harmônica, porém harmônicos significativos de baixa
ordem podem aparecer como o de ordem oito nessa figura, além de compo-
nentes pares (2ª, e 4ª ordem), o que pode exigir filtros passivos maiores quan-
do comparado com o harmônico de décima sétima ordem do HE-PWM.
Contudo, este apresenta uma distorção harmônica maior.
Para contornar a questão do harmônico de baixa ordem da modulação
PD, pode-se aumentar a frequência de chaveamento para 1.260 Hz, o que
corresponde a um mf = 21. Dessa forma, o harmônico mais significativo da
tensão fase-fase também será o harmônico de ordem dezessete, contudo
com um THD menor, como mostrado na figura 10.11.
3
2
Magnitude p.u.

1
0
1
2
3
0 2Π
Π 3Π
2
Π
2

Ωt rad
(a)

cApÍtuLo 10 449
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executorA: Coppetec. proponenteS: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

1.25

1. THD  38.96 

0.75
U p.u.

0.5

0.25

0.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
harmônico n

(b)
Figura 10.11: (a) Exemplo de tensão de fase-fase para a modulação PD, com mf = 21, e
seu respectivo (b) espectro harmônico

Somente com a análise de THD e frequência de chaveamento, não é


possível determinar qual é a técnica de chaveamento mais indicada para ser
usada no controle dos VSC. Porém, por ser mais simples e robusta, a mo-
dulação SPWM é amplamente utilizada e é a escolhida para ser empregada
no controle dos VSC convencionais.
Esta seção analisou de forma simplificada os controles de chaveamento
das chaves aplicados em VSC de dois ou três níveis. No entanto, estas téc-
nicas têm sempre resultado em conversores com eficiência relativamente
baixa se comparado com conversores a tiristor usado em sistemas HVDC.
Além disso, os seus custos não têm levado a aplicações generalizadas como
inicialmente previstos na década de 1990. Recentemente, surgiu uma nova
topologia de conversor baseada em meia ponte H que vai ser analisada em
detalhes mais adiante.

10.3 Sistema de controle do B2B-VSC


A figura 10.12 (a) mostra um B2B-VSC (bloco (i)) conectando dois sis-
temas elétricos de potência (SEP) chamados de SEP1 e SEP2, incluindo os
blocos de controle dos VSC-1 (bloco (ii)) e do VSC-2 (bloco (iii)). O sistema
de controle do VSC-1 conectado ao SEP1 é baseado no controle vetorial de
corrente em referência dq para a sequência positiva, mostrada no bloco (ii). A
referência da potência ativa é gerada por um compensador PI (proporcional-
integral) a partir do erro entre a tensão vcc do elo CC medida e sua referência,
mostrado na figura 10.12 (b). A referência da potência reativa é gerada por

450 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

um compensador PI a partir do erro entre a tensão CA medida no ponto de


conexão e sua referência (não mostrado na figura). Com essas potências, são
geradas as correntes de referências aplicando os princípios da teoria – pq [2].

VSC - B2B
(i) iCC

R L vCC
SEP1 Y Y
SEP2
vabc1 iabc1 iabc 2 vabc 2

Pulsos Pulsos
(ii) vd 1 • 1•t • 2•t vd 2 (iii)
- + + - +
* PI PI
i
d1
+ - - - -
i *
d2
id 1 • •L va*1 va* 2 • •L id 2
dq  abc
* PWM PWM abc  dq
iq1 • •L vb1 vb*2 • •L iq 2
+
-
- + vc*1 vc*2 + - - +
* PI PI
i vq1 + +
vq 2 iq*2
(a) q1

vabc • t•
PLL
vCC
*
- pRef
vCC +
PI id*
vab  rms i•* •
Teoria - pq

*
- qRef
vab  rms +
PI
• • •/ dq

v• • iq*
vabc abc / • • • v

i•* •
••
(b)

Figura 10.12:  (a) Diagrama de uma conexão B2B-VSC;


(b) Sistema de controle da tensão CC do B2B-VSC, realizado pelo VSC-2

A detecção do ângulo de fase da tensão é feita utilizando um bloco


Phase Locked Loop (PLL) [12]. A frequência do PWM [14] é 33 vezes a fre-
quência da linha. As saídas i*d e i*q desta figura 10.12 (b) são as referências de
corrente nos eixos d e q. Estas referências servem de entrada no controlador
de VSC-1 da figura 10.12 (a).
As varáveis v*a , v*b e v*c são as referências de entradas para o bloco de ge-
ração dos pulsos PWM. Estes pulsos são gerados através da comparação des-
tas referências com um sinal triangular de frequência igual a 1.980 Hz (33 x
60 Hz). O sistema de controle do VSC-2 (conectado do lado do SEP2) é si-
milar ao controle do VSC-1, porém este não possui o controle de vCC. Pref é
a ordem de potência a ser transmitida e Qref é obtida a partir do erro de ten-
são no ponto de conexão [6] [9].

Capítulo 10 451
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

10.4  Conversores multiníveis modulares


Outra topologia de conversor fonte de tensão (VSC) que merece espe-
cial atenção é a dos conversores multiníveis modulares (CMM). A figura
10.13 mostra a topologia genérica de um conversor CMM.
O VSC baseado em CMM conectado em back-to-back apresenta vanta-
gens como geração mínima dos harmônicos, modularidade e chaveamento
à frequência da rede.

+
SM 1 SM SM SM 1 SM SM

SM 2 SM SM SM 2 SM SM

SM 3 SM SM SM 3 SM SM

SM m SM SM SM m SM SM

Larm Larm

vCC
SEP - 1 Y Y SEP - 2

Larm Larm
SM m SM SM SM m SM SM

SM 3 SM SM SM 3 SM SM

SM 2 SM SM SM 2 SM SM

SM 1 SM VM SM SM 1 SM SM
-
CMM  1 CMM  2
T1

C
VSM T2
Sub-Módulo

Figura 10.13:  Topologia do conversor CMM

As diferentes tecnologias de sistemas High Voltage Direct Current


(HVDC ou CCAT, em português) hoje em dia disponíveis apresentam cada
uma suas próprias vantagens, desvantagens e limitações nesse sentido, por
exemplo: a Short Circuit Ratio (SCR) muito baixa é o principal limitante para
os sistemas HVDC convencionais, baseados em conversores Line Commu-
ted Converter (LCC) que utilizam tiristores [7]; enquanto que o HVDC-VSC
(Voltage Source Converter) conversores baseados em IGBT ou IGCT e de dois
níveis [3] podem operar com qualquer SCR (inclusive zero), mas apresentam
perdas mais altas que no LCC por causa da alta frequência de chaveamento
e característica das chaves. Já a tecnologia HVDC-CMM (Conversor Multi-
nível Modular) [10] não tem problemas com a SCR e tem perdas reduzidas
pelo chaveamento à baixa frequência quando comparada ao HVDC-VSC
tradicional, incluindo o reduzido conteúdo harmônico na tensão.

452 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Em geral o HVDC-VSC resolve importantes limitações que o HVDC-


-LCC convencional apresenta. Pelo fato de usar controle PWM, facilita o
controle da magnitude e fase das tensões nos terminais do conversor inde-
pendentemente um do outro.
Também os conversores podem operar em todas as regiões de operação
no plano P – Q (potência ativa versus reativa), porque o VSC não depende
da comutação das chaves pela tensão da linha, como no caso dos LCC. Ou-
tra característica importante é o controle da potência reativa independente
do controle da potência ativa, melhorando assim a estabilidade dinâmica
de tensão e a estabilidade transitória dos SEPs [8].
Hoje, as principais fabricantes de VSC para aplicações em HVDC são
a ABB e a Siemens. O primeiro fabrica o HVDC denominado de Light, que
usa, até agora, a tecnologia de PWM à alta frequência, conversores de dois
ou três níveis, um capacitor no link-DC, transformadores e filtros de har-
mônicos [14]. Um diagrama típico de HVDC baseado em conversores VSC
convencional em B2B foi mostrado na figura 10.1 e figura 10.2.
A Siemens usa o CMM em seu HVDC denominado comercialmente
de “HVDC-PLUS”. No controle do CMM é utilizada a tecnologia PWM à
baixa frequência (poucas vezes a frequência fundamental do SEPs). Grande
número de módulos de meia ponte H com capacitores DC, filtros de baixa
potência, transformadores não necessitam de capacitores no elo CC. Pelo
fato de que a tecnologia CMM tenha superado as limitações do HVDC com
VSC de dois ou três níveis, há fortes indícios de que esta tecnologia será do-
minante nos próximos anos. O princípio de operação do conversor MMC
é apresentado adiante.

10.4.1  Mecanismo de trabalho de um submódulo

A figura 10.14 apresenta os detalhes dos modos de operação de um


submódulo, e este é composto por um capacitor de CC e duas chaves, ge-
ralmente IGBTs em antiparalelo com diodos, sendo os estados de operação
descritos a seguir.

• Modo capacitor inserido: T1 permanece conduzindo e T2 aberto. A


corrente circula pelo capacitor nas duas direções (de CC para o CA
pelo diodo paralelo ou vice-versa pelo T1), carregando ou descarre-
gando o capacitor. Porém, a tensão nos terminais do submódulo será
igual à tensão no capacitor do submódulo.

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• Modo capacitor em bypass: T2 permanece conduzindo e T1 aberto,


nas duas direções, a corrente não circula pelo capacitor, a tensão do
submódulo é zero e o capacitor permanece com a carga inalterada.

T1

i k C i k C
T2 VC VC
VSM=VC VSM=VC

(a) Capacitor em Modo Inserido

i k C i k C
VC VC
VSM=0 VSM=0

(b) Capacitor em Modo “Bypass”

Figura 10.14:  Diagrama do submódulo: (a) Modo capacitor inserido e


(b) Modo capacitor em bypass

10.4.2  Modelagem matemática do CMM

A seguir é apresentado um resumo das principais equações do CMM [4] [5].


A tensão no terminal CA:

va =Vsen(ωt)

vb =Vsen(ωt − ) (10.2)
3

vc =Vsen(ωt + )
3

454 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Corrente de linha no terminal CA:

ia = Isen(ωt + ϕ )

ib = Isen(ωt − +ϕ ) (10.3)
3

ic = Isen(ωt + +ϕ )
3

A Corrente no braço superior e inferior do CMM é feita de modo que:

1 i
i+k = sen(ωt + ϕ )+ CC + I 2k cos(2ωt + ϕ )
2 3
(10.4)
1 i
i−k = − sen(ωt + ϕ )+ CC + I 2k cos(2ωt + ϕ )
2 3

Corrente circulante
A corrente circulante, icir, é gerada pelo desbalanço das tensões internas
do CMM e esta é dada por:

iCC
icir = + I 2 cos(2ωt + ϕ ) (10.5)
3

Onde I2 cos(2ωt + φ) corresponde ao harmônico de segunda ordem.


A corrente no braço superior e inferior, considerando fator de potên-
cia igual à fdp = 0,866, índice de modulação m = 0,9, e sem conteúdo de
harmônico de segunda ordem, é mostrada na figura 10.15 e com conteúdo
harmônico de segunda ordem, na figura 10.16.

i a
i a

Figura 10.15:  Corrente no braço superior e inferior do CMM sem harmônico

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i ah
i ah

Figura 10.16: Corrente no braço superior e inferior do CMM com harmônico de


segunda ordem

Tensão no braço superior e inferior


vCC
v+k = −Vsen(ωt + ϕ )−viCirkʹ′
2
(10.6)
v
v−k = CC +Vsen(ωt + ϕ )−viCirkʹ′
2

Onde k = a, b, c, iCC e vCC são a corrente CC e tensão no elo CC e estas


são dadas por:
vCC = v+k +v−k − 2viCirk
c c (10.7)
iCC = ∑i+k = ∑i−k
k=a k=a

No entanto, viCirk depende unicamente da parcela constante, ou seja, da


corrente iCC/3. A tensão circulante, em dependência com a tensão no elo CC,
e a tensão do braço superior e inferior é dada por:
d ⎛ v +v ⎞
viCirk = RiCirk + L (iCirk ) = vCC − ⎜ +k −k ⎟ (10.8)
dt ⎝ 2 ⎠

Onde iCirk é dada por:


iDC  i+k +i−k
iCirk = + i2k = (10.9)
3 2

456 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

A tensão no braço superior e inferior sem harmônico de segunda or-


dem é mostrada na figura 10.17.

v a
v a

Figura 10.17:  Tensão no braço superior e inferior do CMM sem harmônico de


segunda ordem

Analisando (10.8), pode se concluir que:

• A tensão va sintetizado pelo CMM depende da tensão interna do


CMM e a corrente de linha ia.
• A tensão vicir – no reator do braço – depende da tensão no elo CC e
da soma das tensões dos braços superior e inferior.

Portanto, variando a tensão do braço superior e inferior de forma equi-


librada não terá impacto no lado CA, mas sim no viCir, consequentemente,
na corrente iCir.
A figura 10.18 mostra a tensão CA no CMM, tensão obtida com 10
submódulos.

Figura 10.18:  Tensão CA do CMM com 10 submódulos (níveis)

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10.4.3  Dimensionamento do capacitor e reator


do CMM e controle da tensão no capacitor

Controlando T1, T2 e VC da figura 10.14, é possível gerar a forma da


tensão desejada na saída do conversor CMM, tal como mostrado na figura
10.18. O controle da tensão em cada capacitor é independente dos outros
capacitores, ou seja, dos outros submódulos. A quantidade de capacitores
que devem ficar conectados ao lado CA (corrente circulando pelo capaci-
tor) no braço superior e inferior do conversor depende do valor instantâneo
da tensão CA desejada na saída do CMM, sendo que o número máximo de
capacitores conectados será de até 50% do total dos capacitores por fase. O
capacitor a ser inserido ou colocado em modo bypass para a síntese da ten-
são instantânea CA desejada depende da condição da carga do capacitor.
A tensão no capacitor deve variar dentro de uma faixa desejada (como
mostrado na figura 10.19). Se estiver no limite inferior, o capacitor deve ser
carregado, mas se estiver no limite superior, o capacitor fica pronto para ser
inserido. Na operação do CMM, considera-se que:

• A tensão e corrente CA são consideradas sinoidais.


• A tensão CC é considerada constante (ripple próximo de zero).
• Correntes nas três fases são balanceadas.

kV Limite superior
T1
Referência
vC vC
i k C

T2 vC
carregando
Capacitor

vSM  vC Capacitor Capacitor


Limite inferior

em “bypass” em “bypass”

0 t0 t1 t2 [ms ]
(a)

kV

i k C
vC vC
vC
Capacitor des-
carregando

vSM  vC Capacitor Capacitor


em “bypass” em “bypass”

0 t0 t1 t2 [ms ]
(b)

Figura 10.19:  Variação da tensão no capacitor do submódulo

458 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
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Considerando a tensão do capacitor e a energia armazenada neles, tem-se:

1 1
ΔVC =
C
∫ idt = ΔVC = −iΔt
C
(10.10)

1
C= iΔt (10.11)
ΔVC

Na figura 10.19 (a), entre t0 − t1 o capacitor é carregado e na figura 10.19 (b)


o capacitor é descarregado, variando entre o limite inferior e superior.
Outra forma de calcular o capacitor é a partir da variação da energia
no braço do CMM. Esta é dada pela potência instantânea no braço. Assim:

d
(e+k ) = p+k = i+kv+k
dt
(10.12)
d
(e−k ) = p−k = i−kv−k
dt

Onde e+k , p+k , i+k e v+k são energia, potência, corrente e tensão no bra-
ço superior da fase k, respectivamente.
A figura 10.20 mostra a variação da potência instantânea no braço su-
perior do CMM.

  e a
v k
i k
t1 t2
p k

e a

Figura 10.20:  Tensão, corrente e potência no braço superior do CMM

Fazendo +∆ e+k = −∆ e+k pode-se manter equilibrada a energia que entra


e sai do CMM. Para calcular o tamanho do capacitor, integrando (10.12) e

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calculando a variação da energia no capacitor de um submódulo, obtém-se


uma relação da forma:
iCC vCC
C= 2 2
κ 2 −1 (κ 2 −1) (10.13)
6ωnSM rvCκ

Onde: nSM é o número de submódulos por braço; κ é a razão de corren-


tes de pico de linha e um terço da corrente do elo CC; r representa a variação
percentual da tensão vC do capacitor do submódulo e vCC é a tensão do elo CC.
Considerando o harmônico de segunda ordem na corrente circulante,
pode-se calcular o tamanho do reatar L do braço do CMM, lembrando que L
deve controlar as correntes produzidas pelo desbalanço das tensões internas
do CMM, ou seja, desbalanço das tensões de cada perna do CMM. Assim:

1 ⎛ vCC iCC ⎞
(10.14)
L= 2
⎜ +vCC ⎟
8ω CvC ⎝ 3I 2k cos(ϕ ) ⎠

Onde: I2k é o valor máximo do harmônico de segunda ordem, φ é o ân-


gulo que representa o fator de potência.

10.4.4  Processo de pré-carga do capacitor dos submódulos

No processo de pré-carga dos capacitares dos submódulos, inicial-


mente todos os capacitores do CMM são assumidos com carga zero. Neste
procedimento, as chaves (IGBT) da parte superior (T1) de cada submódulo
permanecem abertas e as chaves (IGBT) da parte inferior (T2) são fechadas
em n-1 submódulos. No elo CC, é aplicada uma pequena tensão Vext apro-
ximadamente igual à tensão desejada em cada capacitor. O capacitor do
único submódulo com T2 aberto é carregado a partir desta tensão Vext. Pa-
ra carregar o próximo capacitor, a chave T2 do submódulo carregado deve
conduzir antes de abrir a chave T2 do submódulo a ser carregado. Com isto,
carrega-se o segundo capacitor. E, seguindo esta sequência, todos os capaci-
tores são carregados. Este procedimento evita picos de correntes ou de ten-
sões pela conexão e desconexão dos capacitores com ou sem carga. A figura
10.21 apresenta o resultado da carga dos capacitores por simulação. A ten-
são vCC é obtida quando os capacitores dos submódulos são postos em série.

460 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

vCC vCC
[V], [A]

vC1 vC 2 i k vCj
vC
vext
0
0.0 0.1 0.2 [s]
Figura 10.21:  Tensão nos capacitores de uma perna e corrente iCC durante a carga
inicial através de aplicação de tensão no elo CC

10.5  Simulação computacional do HVDC-CMM em B2B


O sistema simulado é mostrado na figura 10.22. Na tabela 3.1 são resu-
midos os parâmetros de cada componente do sistema elétrico. Esta é com-
posta de uma máquina síncrona considerada como gerador local, transfor-
madores de potência, dois conversores CMM em B2B e um equivalente do
sistema de potência (SEP-2). O CMM é composto de seis SMs por braço.

B2B
13,8/142kV 142/500kV

Y CMM-1 CMM-2 Y SEP-2

13,8kV , 60 Hz +/-200kV CC, 600MW


 2,584o
SCR
500kV , 60 Hz.

Figura 10.22:  Sistema HVDC-CMM modelado em configuração B2B

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Tabela 10.1:  Parâmetros elétricos do sistema da figura 10.22


Parâmetros Valores Unidade
Potência nominal do HVDC-CMM 600 MW
Tensão vCC nominal +/-200 kV
Capacitar C do SM 7 mF
Número de SM por braço 6
Frequência de chaveamento 60 Hz
Reator de perna do CMM 3 mH
Tensão nominal do SEP-2 500 kV
Frequência do SEP 60 Hz
“SCR” do PCC 2,5 <85° Graus
Potência do transformador 800 MVA
Relação de transformação 13,8/142 e 142/500 kV

O evento que foi testado consiste em inversão de fluxo de potência ati-


va. Antes da inversão, 520MW é gerado pelo gerador local, em 0,32 s é in-
vertido o fluxo, passando a -550 MW. O objetivo da contingência é testar o
sistema de controle do CMM, similar ao mostrado na figura 10.12.
A figura 10.23 mostra a curva da potência ativa. Nesta figura, pode-se
observar que, durante o transitório por inicialização do CMM, a potência é
perto de 1.000 MW devido à de carga do capacitor dos submódulos e pela in-
teração transitória da máquina síncrona com o CMM e SEP-2. Este compor-
tamento pode ser melhorado através do ajuste fino do sistema de controle.
Após a ordem da inversão da potência, também ocorre um processo
transitório provocado pela inversão da corrente nos braços do CMM e a in-
teração da máquina síncrona e o resto do sistema.
A figura 10.24 mostra a corrente no braço superior e inferior da perna da
fase c do CMM e suas respectivas ampliações antes, durante e após a inversão
de potência. As correntes nas outras pernas são similares à corrente da fase c.

1000 Inversão de potência pCC

500
Potência [MW]

-500

-1000

-1500
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
Tempo [s]
Figura 10.23:  Sistema HVDC-CMM modelado em configuração B2B

462 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Corrente no braço [kA]


Inversão de potência
i-c
i+c

-5
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
Tempo [s]
Corrente no braço [kA]

Corrente no braço [kA]


Corrente no braço [kA]
3 2
2
2
1 0 0
0 -2
-2
-1 -4
0.26 0.28 0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 0.46 0.48 0.5 0.52
Tempo [s] Tempo [s] Tempo [s]
Figura 10.24:  Sistema HVDC-CMM modelado em configuração B2B

Antes da inversão de potência, a corrente no braço superior e inferior são


equilibradas, apresentam uma componente CC, uma componente oscilante
na frequência da linha, e outra oscilante a duas vezes também à frequência da
linha, confirmando, desta forma, a modelagem matemática já apresentada.
Após a inversão da potência, a componente CC passa a ser negativa.
vcj [kV]

40
vcj
[kV]

35
Capacitor
Tensãodcnovoltage

dc voltage [kV]

30
dc voltage [kV]

33.6
36
33.4
33.2 35
33 34
25 32.8
32.6
33
0.26 0.28 0.3
0.32 0.34 0.36 0.38 0.4
20 Time [s]
Time [s]
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
Time [s][s]
Tempo
Figura 10.25:  Tensão nos capacitores dos submódulos do sistema HVDC-CMM em B2B

Capítulo 10 463
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A figura 10.25 mostra as tensões nos capacitores dos submódulos dos


braços do CMM, antes e durante a inversão de potência pelo HVDC-CMM
em B2B. Observa-se que, antes do evento, as tensões nos submódulos se en-
contram balanceadas, variando dentro de uma faixa permitida (ripple). Du-
rante a inversão de potência, estas tensões incrementam, de forma balance-
ada, voltando rapidamente ao ponto de operação (33 kV para cada um dos
submódulos), mantendo-se balanceada também dentro da faixa de opera-
ção, mas com maior ripple, devido ao incremento na potência.
Na figura 10.26 mostra-se a corrente nos terminais do CMM, lado do
SEP-2. Observa-se na figura ampliada que a distorção harmônica, apesar
de não haver filtro no sistema, é desprezível.
10
ia
ib
5
ivc
Corrente [kA]

-5

(a) -10 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7


Tempo [s]
4 5
Corrente [kA]

Corrente [kA]

0 0

-2

(b) -4 (c) -5
0.26 0.27 0.28 0.5 0.51 0.52
Tempo [s] Tempo [s]
Figura 10.26:  (a) Corrente no sistema HVDC-CMM em configuração B2B, (b) e (c)
detalhe dessas correntes

464 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

10.6 Conclusões
Em geral, o HVDC-VSC resolve importantes limitações próprias do
HVDC clássico, baseado em tiristores. Isso ocorre pelo fato de o VSC usar
o controle PWM, o que facilita a regulação da magnitude e fase das ten-
sões nos terminais do conversor. Uma característica importante dos siste-
mas HVDC-VSC é o controle da potência reativa independente nos dois
terminais, podendo melhorar, assim, a estabilidade dinâmica da tensão e a
estabilidade transitória dos SEPs interligados. No entanto, nos conversores
VSC de dois níveis ainda existem problemas a serem resolvidos, sendo o
mais importante as altas perdas. Este conversor necessita também de filtro
de harmônicos. Porém, o sistema de controle de chaveamento das chaves
do VSC de dois níveis é relativamente simples, consolidado e responde bem,
tal como são mostradas nas simulações apresentadas no próximo capítulo.
O VSC de três níveis permite a aplicação em níveis de tensão e potên-
cia mais elevadas do que no conversor correspondente a dois níveis. O con-
teúdo harmônico na tensão sintetizada é menor, porém a complexidade do
sistema de controle aumenta, especialmente no balanço das tensões nos ca-
pacitores do lado CC.
No HVDC baseado em CMM, o conteúdo harmônico e perdas por
chaveamento são bastante reduzidos, mas o sistema de controle é mais com-
plexo e ainda não está consolidado.
Foram apresentados também os resultados da análise matemática do prin-
cípio de operação do CMM, junto com as simulações que validam esta análise.
O HVDC-CMM apresenta características como geração mínima de
harmônicos, mantendo balanceada a tensão nos capacitores dos submódu-
los, para chaveamento na frequência da rede. Porém, o sistema de controle
é complexo.
Apesar de o CMM ser um conversor novo e com pouca história de uso,
em 2010 foi comissionado o primeiro sistema HVDC de 400 MW [14]). Es-
te é o sistema HVDC-VSC de potência mais alta até o presente. Entendemos
que ele pode alterar profundamente a forma como os sistemas B2B – VSC
serão considerados, transformando-os em opção real para amplo uso em
sistemas elétricos.

Capítulo 10 465
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Referências
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wer Theory And Applications To Power Conditioning. IEEE Press/
Wiley, 2007.
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Press power engineering series. New York, IEEE Press, 1995.
[3] ASPLUND, G.; ERIKSSON, K.; SVENSSON, K. Dc Transmission
Based On Voltage Source Converters. In CIGRÉ SC-14 Colloquium,
Johannesburg, 1997.
[4] CHUCO, B.; WATANABE, E. H. A Comparative Study Of Dynamic
Performance Of HVDC System Based On Conventional VSC And
MMC-VSC. In IREP, 2010, p. 1-6.
[5] CHUCO, B. Estudo de HVDC-VSC Baseado em Conversores Mo-
dulares Multinível. Tese de Doutorado, Universidade Federal do
Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), 2012, a ser defendido.
[6] CIGRÉ-B4.37, VSC Transmission, CIGRÉ, Paris, Final Report 269,
Apr. 2005.
[7] CIGRÉ SC-B14 WG 07. Guide For Planning Dc Links Terminating
At Ac System Locations Having Low Short-Circuit Capacities. Part
II: Planning Guidelines. In CIGRÉ SC-14, 1997.
[8] CIGRÉ SC-B4 WG 39. Integration Of Large Scale Wind Generation
Using HVDC And Power Electronics. In CIGRÉ SC-4, v. Final Do-
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[9] OLIVEIRA, C. L. M. R. D. de; TIBURCIO, A. L. P. Prospects Of
Voltage-Sourced Converters (VSC) Applications In Power Trans-
mission Systems. ANDESCON, IEEE, p. 1-4, 2010.
[10] GEMMELL, B.; DORN, J.; RETZMANN, D.; SOERANGR, D.
Prospects Of Multilevel VSC Technologies For Power Transmission.
In Transmission and Distribution Conference and Exposition,
2008. T&D. IEEE/PES, p. 1-16, 2008.
[11] HOLMES, D. G.; LIPO, T. A. Pulse Width Modulation For Power
Converters – Principles And Practice, ser. IEEE Series on Power En-
gineering. USA: Wiley-Interscience, Inc., 2003.
[12] KARIMI, M. R. I. F. I. H.; KARIMI-GHARTEMANI, M.;
BAKHSHAI, A. R. An Adaptive Filter For Synchronous Extraction
Of Harmonics And Distortions. IEEE, USA, IEEE Transactions on
power delivery, v.18, n. 4, Oct. 2003, p. 1350-1357, Apr. 2003.

466 Conversor de tensão (VSC)


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

[13] LEMES, M. HVDC Plus For Grid Access. In IEEE/PES T&D Latin
America, São Paulo, SP, 2010.
[14] LIPO, T. A. Pulse Width Modulation For Power Converters, M. E.
E.-H. S. Editor, Ed. United States of America: IEEE Press Series,
2003, v. 1.
[15] WATANABE, E. H.; AREDES, M.; BARBOSA, P.; SANTOS JR.,
G.; ARAÚJO LIMA, F. K. de; SILVA DIAS, R. F da. Power Electro-
nics Handbook – Devices, Circuits, And Applications. Elsevier,
ch. Flexible AC Transmission System, p. 797-822, 2007.

Capítulo 10 467
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 11

Estudos da Transmissão CA Segmentada


Durante Transitório Eletromagnético

469
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11.1 Introdução
No capítulo 9, foram apresentados os princípios básicos de operação da
transmissão CA segmentada, incluindo estudos de fenômenos eletromecâ-
nicos. No presente capítulo, serão apresentados estudos de transitórios ele-
tromagnéticos para sistemas de transmissão CA segmentadas similares ao do
capítulo 9. Serão incluídos modelos detalhados da linha de transmissão e, em
especial, o modelo completo dos conversores de tensão (VSC) e seus respec-
tivos controladores. A figura 11.1 mostra o sistema básico em estudo. Nesta
figura, SEP1 significa Sistema de Potência 1 e SEP2 Sistema de Potência 2.
O SEP1 está conectado ao SEP2 através de duas linhas de transmissão CA
em paralelo, cujos parâmetros são dados na tabela 11.1. Estas linhas são seg-
mentadas por dois conversores fonte de tensão (VSC) conectados em back-
-to-back. A sigla CER significa Compensador Estático de Reativos. Os nomes
das subestações são apenas sugestivos, não tendo relação com o sistema real.

Figura 11.1:  Sistema de transmissão segmentada com B2B-VSC a ser estudado

Neste capítulo, serão apresentados estudos e simulações em regime tran-


sitório, tomando por base o circuito da figura 11.1 nas seguintes situações:

470 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

• Energização da Linha de Transmissão iniciando pelo lado do SEP1


sem Compensadores Estáticos.
• Energização da Linha de Transmissão pelo lado do SEP1 com Com-
pensadores Estáticos.
• Energização da Linha de Transmissão partindo pelo lado do B2B­
VSC sem Compensadores Estáticos.
• Limitação da contribuição de corrente de curto-circuito trifásico
através do B2B-VSC.
• Operação do B2B-VSC em condição de curto-circuito monofásico
no lado CA (SEP2).
• Operação do B2B-VSC em condição de fase aberta após um defeito
monofásico no lado CA (SEP2).
• Operação de dois B2Bs em paralelo.
• Operação dos B2Bs em paralelo diante da saída definitiva de uma
das linhas de transmissão.

Tabela 11.1:  Parâmetros Elétricos da Linha de Transmissão em 500 kV e 60 Hz


R+ (Ω /km) 0,01045
X+ (Ω /km) 0,0191
Y+ (µ S/km) 8,55
R0 (Ω /km) 0,360
X0 (Ω /km) 1,417
Y0 (µ S/km) 3,446

11.2  Definição do sistema de transmissão


CA segmentada em estudo
O diagrama unifilar mostrado na figura 11.1 representa o sistema de
transmissão (duas linhas em paralelo) de energia elétrica segmentada por
um sistema B2B-VSC. Nesta figura, o SEP1 representa o circuito equivalen-
te genérico simplificado em torno de Xingu, e o SEP2 representa o mesmo
para região Sul/Sudeste. Ainda nesta figura estão inseridos dois Compensa-
dores Estáticos de Reativos (CERs).
O sistema da figura 11.1 apresenta as seguintes características:

Capítulo 11 471
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1. Reatores de Linha (QL): a compensação reativa transversal utilizada


nas linhas de transmissão são dadas na tabela 11.2.
2. Compensadores Estáticos de Reativos (CERs): dois compensadores
estáticos são instalados diretamente nas barras em 500 kV, e estes es-
tão descritos na tabela 11.3.
3. A fim de segmentar a linha de transmissão, o sistema B2B-VSC é in-
serido no lado da Barra de Luziânia (SEP2), cujas características são
apresentadas na tabela 11.4.

A silhueta da torre da linha de transmissão é mostrada na figura 11.2.


Nesta figura, é mostrada a configuração geométrica dos condutores de fase.

Tabela 11.2:  Reatores paralelos das Linhas de Transmissão em 500 kV


De Para Reator (de) Mvar Reator (para) Mvar
Xingu PA500 SECH1 -275 -275
SECH1 NOVAMIRACEMA -275 -275
NOVAMIRACEMA SECH2 -275 -275
SECH2 LUZIÂNIA -275 -275

Tabela 11.3:  Compensadores Estáticos na Transmissão Segmentada em 500 kV


Barra Mvar
SECH1 -400/+150
SECH2 -400/+150

Tabela 11.4:  Parâmetros do B2B-VSC na Transmissão Segmentada em 500 kV


Tensão CA do VSC1 V1LL – RMS 287,5 kV
Tensão CA do VSC2 V2LL – RMS 287,5 kV
vCC 500 kV
pnominal 800 MW
Reator do conversor LC 72,4 mH
Capacitor do elo CCC 150 µF
Constante de Inércia do VSC [1] 5,8 ms
Frequência do PWM 1.980 Hz
Níveis 2
MVA Transformadores 1.500 MVA
Transformador VSC-1 500/287,5 kV
Transformador VSC-2 500/287,5/60 kV

472 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

11.2.1  Energização da linha de transmissão iniciando


pelo lado do SEP1 sem compensadores estáticos

A energização da linha de transmissão é realizada pelo lado do SEP1 in-


terligado na Barra de Xingu e por trechos em forma sequencial (figura 11.3),
ou seja, é energizado o primeiro trecho (350 km) fechando o disjuntor do
lado do SEP1, depois de 200 ms é energizado o segundo trecho de caracte-
rísticas similares ao primeiro trecho. De forma similar, é completada a ener-
gização de toda a linha de transmissão.
A compensação reativa da linha é feita através dos reatores de linha, tal
como mostrado na tabela 11.2. Neste ensaio, os Compensadores Estáticos de
Reativos não são utilizados, apenas os reatores de linha.
O resultado do perfil da tensão durante a energização é mostrado na
figura 11.4. A tensão foi medida nas extremidades de cada trecho da linha
de transmissão. A figura também mostra uma ampliação dos instantes de
fechamento dos disjuntores de energização dos trechos. Observa-se que o
maior valor de pico da tensão de fase atinge o valor de 3,3 pu, e, durante a
operação em vazio (após do amortecimento do transitório), o valor de pico
da tensão de fase no final da linha é 2,4 pu e 1,34 pu no lado da fonte, tal co-
mo mostrado na figura 11.5.

Figura 11.2:  Configuração dos condutores de fase na torre de transmissão

Capítulo 11 473
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Energização

Disjuntor Aberto
Disjuntor Fechado

1º Trecho 2º Trecho 3º Trecho 4º Trecho

Figura 11.3:  Energização do sistema de transmissão pelo lado de SEP1

11.2.2 Energização da linha de transmissão pelo


lado do SEP1 com compensadores estáticos

Neste caso, a energização da linha de transmissão também é realiza-


da pelo lado do gerador interligado na Barra de Xingu (denominado como
SEP1), seguindo o mesmo procedimento do primeiro caso (figura 11.3). A
diferença com o caso anterior, além dos reatores de linha, é que a tensão é
controlada por dois compensadores estáticos conectados no final do primei-
ro trecho e no início do último trecho da linha de transmissão.
A fim de reduzir o pico da tensão no instante do fechamento do disjun-
tor do primeiro trecho, o CER é configurado para inserir 100% do reator
(TCR operando com ângulo de disparo igual a 90 graus). De forma similar,
o terceiro trecho é energizado com 100% do reator do segundo CER.

[kV]

1500 Vabc1 Vabc2 Vabc3 Vabc4


2.4 pu
1000

500

0.0

-500

-1000

-1500
1º trecho 2º trecho 3º trecho 4º trecho
(a)
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 [s]

[kV] vabc 1º trecho [kV] vabc 2º trecho


600 1.3 pu
800 1.7 pu

474 Estudos
400
600
da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético
400
200 200
0 0.0

-200 -200
-400
-400
500

0.0

-500

-1000

-1500 Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica


1º trecho 2º trecho Meia-onda
3º trecho
+ 4º trecho
e Trasnmissão CA Segmentada
(a)
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 [s]

[kV] vabc 1º trecho [kV] vabc 2º trecho


600 1.3 pu
800 1.7 pu
600
400
400
200 200
0 0.0

-200 -200
-400
-400
-600
-600 -800
-800
(b) 0.19 0.20 0.21 0.22 0.23 [s] (c) 0.39 0.41 0.43 [s]

vabc 3º trecho vabc 4º trecho


[kV] 2.2 pu [kV] 3.3 pu
800
1000
500
300 500
0.0
0.0
-300
-500 -500
-800
-1000

(d) (e)
0.60 0.62 0.64 [s] 0.84 0.86 0.88 [s]

Figura 11.4:  (a) Tensão ao longo da linha de transmissão sem Compensadores


Estáticos durante a energização pelo lado de SEP1; (b) detalhe da tensão no primeiro
trecho no instante do chaveamento; (c), (d) e (e) idem para o segundo, terceiro e quarto
trechos, respectivamente

O resultado do perfil da tensão para este caso é mostrado na figura


11.6, mantendo a medição da tensão nos extremos de cada trecho da linha
de transmissão, igual ao caso anterior. A figura também mostra uma amplia-
ção dos instantes de fechamento dos disjuntores de energização dos trechos.
Pelo efeito dos CERs, os resultados são diferentes do caso anterior. Nes-
ta situação, o maior valor de pico da tensão de fase atinge 1,42 pu durante
a energização do segundo e o quarto trecho da linha de transmissão, sendo
controlado rapidamente pelos CERs. Durante a operação em vazio (após o
amortecimento do transitório), o valor de pico da tensão de fase no final da
linha é 1,08 pu, tal como mostrado na figura 11.6.

Capítulo 11 475
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[kV] vabc
2.4 pu 1.34 pu
1000

500

0.0

-500

-1000 Vabc1
Vabc2
Vabc3
Vabc4
1.81 1.82 1.83 [s]
Figura 11.5:  Tensão em regime permanente ao longo da linha de transmissão sem
Compensadores Estáticos e em vazio

11.2.3  Energização da linha de transmissão através


do B2B-VSC sem compensadores estáticos

Neste caso, a energização da linha de transmissão é realizada pelo


B2B‑VSC, como mostrado na figura 11.7, seguindo o sentido contrário ao
procedimento do primeiro caso. A linha de transmissão é energizada junto
com os reatores da linha e sem os Compensadores Estáticos, ou seja, neste
caso os CERs não são utilizados. Lembrando que em todos os casos não há
compensação série.
Supondo falta de energia no SEP2 e no SEP1, o B2B-VSC é energizado
utilizando uma fonte auxiliar (grupo gerador) conectado no lado do terciá-
rio do transformador de 500/355/60 kV, conforme mostrado na figura 11.7.
A energização segue as seguintes sequências de operação:

• O Capacitor do elo CC do B2B-VSC é carregado usando apenas o


retificador em ponte formada pelos diodos do VSC do lado do SEP2,
ou seja, os IGBTs ficam bloqueados por alguns segundos.
• Em seguida, a tensão no elo CC é regulada pela ação do controle
PWM dos IGBTs do VSC, após desbloqueadas.
• O controle PWM do conversor VSC-1 do B2B-VSC é ativado a
fim de energizar o respectivo transformador inicialmente em va-
zio (sem carga).

476 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

• Em seguida, o disjuntor do primeiro trecho da linha de transmissão


é fechado e, a fim de energizá-lo, a tensão aplicada na linha é con-
trolada pelo VSC-1.
• Após alguns segundos, quando a tensão do primeiro trecho da linha
de transmissão é regulada, o disjuntor do próximo trecho da linha
de transmissão é fechado. Os trechos restantes são energizados se-
guindo a mesma sequência.

Os perfis da tensão medidos nos extremos de cada trecho da linha de


transmissão são mostrados na figura 11.8. Nesta figura, observa-se que o pi-
co máximo transitório da tensão de fase após o fechamento dos respectivos
disjuntores é 1,4 pu, sendo este um pico com duração de poucos milissegun-
dos, correspondente ao último trecho da linha de transmissão.

[kV]
Vabc
1000 1.08 pu

500

0.0

-500
1º trecho 2º trecho 3º trecho 4º trecho
-1000

(a)
0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 [s]

vabc (1º trecho) vabc (2º trecho)


[kV] [kV] 1.42 pu
1.27 pu

400 400
200
200
0
0
-200
-200
-400

-600 -400

-800 -600
(b) 0.19 0.20 0.21 0.22 0.23 0.24 [s] (c) 0.395 0.405 0.415 0.425 0.435 [s]

[kV] [kV] vabc


1.13 pu vabc (3º trecho) (4º trecho)
1.42 pu
600
400
400
200
200

0 0

-200
-200
-400
Capítulo 11 477
-400
-600

-600 -800
(d) 0.600 0.640 0.680 [s] (e) 0.750 0.850 0.950 1.050 [s]
200
0
0
-200
-200
-400

-600 -400
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, -600
-800 Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.
(b) 0.19 0.20 0.21 0.22 0.23 0.24 [s] (c) 0.395 0.405 0.415 0.425 0.435 [s]

[kV] [kV] vabc


1.13 pu vabc (3º trecho) (4º trecho)
1.42 pu
600
400
400
200
200

0 0

-200
-200
-400
-400
-600

-600 -800
(d) 0.600 0.640 0.680 [s] (e) 0.750 0.850 0.950 1.050 [s]

Figura 11.6:  (a) Tensão ao longo da linha de transmissão com Compensadores


Estáticos durante a energização pelo lado do SEP1; (b), (c), (d) e (e) detalhes da tensão
no início do primeiro, segundo, terceiro e quarto trechos, respectivamente

Na figura 11.8 (b) a (e), também são incluídas ampliações para mostrar
com maior detalhe os picos da tensão após o fechamento dos disjuntores em
cada trecho.
A figura 11.9 mostra a variação da tensão no elo CC do B2B-VSC, as
correntes de linha, as variações de potência ativa e reativa e a tensão rms em
pu medido nos terminais do conversor VSC-1, assim como a referência des-
sa tensão. Este gráfico abrange todo o período de simulação.
Energização

SECH1 SECH2

Disjuntor Aberto
Disjuntor Fechado
(a)

B2B - VSC
LT
500/287,5 kV 500/60/287,5 kV
SEP1 Y VSC-1 VSC-2 Y SEP2
Filtro Filtro

500kV CC
Disjuntor a ser
G-Auxiliar
fechado
(b)

Figura 11.7:  (a) Circuito de energização da linha a partir do B2B-VSC;


(b) detalhes do B2B-VSC e conexão do gerador auxiliar

478 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Nesta figura, observa-se que a tensão no elo CC do B2B-VSC apresen-


ta variação de menos de 5% durante a sequência da energização da linha. A
corrente durante o fechamento dos respectivos disjuntores da linha também
é menor que a corrente nominal dos conversores do B2B-VSC.
A potência ativa (após a energização do último trecho da linha) é em torno
de 30 MW. Isso representa as perdas da linha de transmissão por efeito Joule.
A potência reativa nos terminais do inversor do B2B-VSC é capacitiva
devido ao efeito capacitivo dos trechos da linha de transmissão. Esta potência
é controlada pela ação do conversor e observa-se que o incremento gradual
desta é proporcional ao comprimento da linha de transmissão, onde o maior
valor (valor máximo compensado pelo conversor) corresponde à energiza-
ção do último trecho da linha (em torno de 600 Mvar). Observa-se também
que a corrente da linha é predominantemente reativa.
Para resumir os resultados obtidos através das três formas de energi-
zação testadas, a tabela 11.5 apresenta os valores de tensão por trecho da
linha de transmissão.

11.2.4  Limitação da contribuição de corrente de


curto-circuito trifásico através do B2B-VSC

A figura 11.10 mostra o diagrama que foi considerado para realizar o


teste de limitação de corrente de curto-circuito no VSC-2. Esta figura mostra,
no lado do VSC-2 do B2B-VSC, um transformador de três enrolamentos de
500/287,5/60 kV, em cujo terciário foi considerada uma fonte auxiliar que,
nesse estudo, está desligado. Entretanto, as fontes do SEP1 e SEP2 permane-
cem em operação normal durante toda a simulação.

[kV] Vabc

400

200

-200

-400

1º trecho 2º trecho 3º trecho 4º trecho


-600
(a) 0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 [s]

[kV] Vabc 1º trecho [kV] Vabc 2º trecho


1.04 pu 1.08 pu
400 400
Capítulo 11 479
200 200

0 0

-200 -200
0

-200

-400
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento
1º trecho da Aneel.
2º trecho 3º trecho 4º trecho
-600 : Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.
(a)executora
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 [s]

[kV] Vabc 1º trecho [kV] Vabc 2º trecho


1.04 pu 1.08 pu
400 400

200 200

0 0

-200 -200

-400 -400

-600
(b)-600 (c)
0.45 0.50 0.55 0.60 0.65 [s] 0.97 0.99 1.01 1.03 1.05 [s]

[kV] Vabc 3º trecho [kV] Vabc 4º trecho


1.22 pu
1.08 pu
400 400

200 200

0 0

-200 -200

-400 -400
1.40 pu
-600 -600
(d) (e)
1.48 1.50 1.52 1.54 1.56 [s] 1.99 2.01 2.03 2.05 [s]

Figura 11.8:  (a) Tensão ao longo da linha de transmissão sem Compensadores


Estáticos, energização a partir do B2B-VSC; (b) a (e) detalhes da tensão no início do
primeiro, segundo, terceiro e quarto trechos, respectivamente

Tendo em vista a necessidade de proteção das chaves (IGBTs), dos con-


versores do B2B-VSC, contra sobrecorrentes, neste trabalho são avaliados
dois mecanismos de proteção. Assim, deseja-se limitar a corrente de um
curto-circuito a um valor menor ou igual à máxima capacidade de corrente
dos IGBTs e também limitar a contribuição de corrente devido ao B2B-VSC
ao ponto do defeito durante curto-circuito no lado CA.
[kV] vcc
500
400
300
200
100
(a)
0
[kA] Iabc
1.50
1.00
0.50
0.00
480 Estudos
-0.50 da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético
-1.00
-1.50
(b) -2.00 1º trecho 2º trecho 3º trecho 4º trecho
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 [s]
[MW] P Q
[kV] vcc
500
400
300
200
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
100 Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada
(a)
0
[kA] Iabc
1.50
1.00
0.50
0.00
-0.50
-1.00
-1.50
(b) -2.00 1º trecho 2º trecho 3º trecho 4º trecho
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 [s]
[MW] P Q
0
-100
-200
-300
-400
-500
(c) -600
[pu] Vrms Vrms-ref
1.20
1.00
0.80
0.60
0.40
0.20
(d) 0.00
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 [s]
Figura 11.9:  Energização da linha de transmissão pelo lado do B2B-VSC: (a) tensão
no elo CC; (b) corrente CA nos terminais do conversor; (c) potência ativa e reativa; (d)
tensão CA em pu. na saída do VSC-1

Tabela 11.5:  Tensões máximas em pu obtidas durante a energização dos trechos da


linha de transmissão de 500 kV para as três formas de energização
Trechos Energização a partir Energização a partir Energização a partir
de 350 km de SEP1, sem CER de SEP1, com CER de B2B-VSC sem CER
1º trecho 1,30 pu 1,27 pu 1,04 pu
2º trecho 1,70 pu 1,42 pu 1,08 pu
3º trecho 2,20 pu 1,13 pu 1,40 pu
4º trecho 3,30 pu 1,40 pu 1,22 pu
R. Permanente 2,40 pu 1,08 pu 0,95 pu

Um destes dois mecanismos consiste em bloquear os IGBTs após detec-


ção da sobrecorrente ou queda de tensão por causa do defeito no lado CA
do B2B-VSC.

Capítulo 11 481
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Fluxo de potência

B2B - VSC
Xingu
LT
500/287,5 kV 500/60/287,5 kV
SEP1 Y VSC-1 VSC-2 Y SEP2
Filtro Filtro

Disjuntor Aberto 500kV CC


Disjuntor Fechado G-Auxiliar
Curto-circuito 3-fases
10 Ohms, 500 ms

Figura 11.10:  Curto-circuito trifásico no lado do SEP2

O outro mecanismo consiste em reduzir automaticamente o fluxo de


potência pelo B2B-VSC, após detecção de sobrecorrente ou queda de tensão
por causa de defeito no lado CA do B2B-VSC através da ação do controle.
O controle por corrente dos conversores do B2B-VSC aplicado neste
trabalho permitiu a limitação da corrente de defeito na linha de transmissão.
Neste tipo de controle, as correntes do conversor nos eixos d e q tem a ver
com a ordem da potência ativa e reativa, respectivamente. Portanto, o mó-
dulo dado pode ser utilizado para limitar a máxima corrente permitida no
IGBT, seja ela corrente ativa ou reativa.
Em caso de não considerar um método de controle ou um limite de so-
brecorrente, o sistema de controle, por sua própria característica, durante
defeito trifásico ou monofásico, tenta manter o fluxo de potência de acordo
com a referência. Nesse caso, o controle automaticamente incrementa a cor-
rente pelo conversor por causa da redução da tensão. Portanto, é importante
considerar o mecanismo de proteção.
Nesta situação, se |i| for maior que a corrente máxima dos IGBTs, auto-
maticamente é ativado o bloqueio ou o mecanismo de redução de fluxo de
potência a um valor que mantenha a corrente controlada ou até mesmo a zero.
Para limitar a corrente de defeito, ou seja, a contribuição de corrente no
ponto do curto-circuito, a tensão no lado CA do conversor é medida. Nesse
estudo, testou-se um método de limitação dessa corrente de defeito. Se a ten-
são medida for menor que 0,5 pu, o mecanismo de bloqueio ou de redução
de fluxo de potência é ativado.
A figura 11.11 mostra a tensão no lado do VSC-2 do B2B-VSC, onde foi
produzido o defeito. Na figura 11.11(a) está mostrada a Tensão CA no ponto
do defeito no lado do SEP2 e atinge valor pouco menor que 0,5 pu. A figura
11.11(b) mostra a tensão na saída do VSC-2 e as figuras 11(c) e (d) mostram
os detalhes durante o início e fim do afundamento de tensão. Como esperado,
os efeitos do defeito no lado do VSC-2 não é refletido para o lado do VSC‑1
do B2B-VSC, devido ao controle utilizado, conforme mostra a figura 11.12.

482 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Vabc (lado 500kV)


[kV]
400
300
200
100
(a) 0
-100
-200
< 0.5 pu
-300
-400 Defeito
trifásico
-500

[kV] Vabc-VSC2
200

100
(b) 0

-100

-200 Defeito
Início de operação do trifásico
-300
B2B-VSC
-400
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 [s]

[kV] Vabc-VSC [kV] Vabc-VSC

200 Inicio do defeito Fim do defeito


200
100
100
(c) 0
(d) 0
-100
-100
-200

-300 -200

-400 -300
1.48 1.50 1.52 [s] 1.96 1.98 2.00 2.02 2.04 [s]

Figura 11.11:  Tensão durante defeito trifásico: (a) no lado do SEP2 no ponto do
defeito; (b) no lado do VSC-2 do B2B-VSC; (c) e (d) detalhe no início e fim do defeito,
respectivamente

[kV] Vabc - lado VSC1


400

200

-200

-400

-600
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 [s]

Figura 11.12:  Tensão no lado VSC1 do B2B-VSC durante defeito trifásico do lado de SEP2

Capítulo 11 483
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A figura 11.13 mostra a variação da tensão no elo CC, corrente de linha e


a tensão em pu do lado CA do VSC-2 do B2B-VSC durante o curto-circuito.
Na figura 11.13(a) fica evidente que a perturbação na tensão do elo CC é des-
prezível em função do controle utilizado. A figura 11.13(b) mostra uma sobre­
elevação da corrente no inicio do defeito (antes do controle de limitação de
corrente atuar) e no fim, devido ao transitório da volta à operação normal. A
figura 11.13(c) mostra as tensões de referência e medida no lado CA do VSC-2.
vcc
[kV]
500
400
300
200
100
(a)
0
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 [s]
[kA] Iabc - VSC
1.00
0.50
(b) 0.00
Defeito
-0.50
trifásico
-1.00
-1.50
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 [s]
[pu] Vrms Vrms-ref

(c) 1.00
0.80
0.60 Inicio do
defeito
0.40
0.20 Inicio de operação do
B2B-VSC
0.00
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 [s]

Figura 11.13:  (a) Tensão no elo CC; (b) corrente CA no lado do VSC2 do B2B-VSC (lado
do SEP2) e (c) tensão rms em pu. de referência e medido durante o defeito trifásico

A figura 11.14 mostra as variações das potências durante o defeito. Ob-


serva-se que, antes do defeito, a potência vindo do SEP2 é negativa e de mag-
nitude equivalente à potência injetada pelo VSC-2, que opera como inver-
sor. Durante o defeito, essa potência se torna positiva e sem controle. Ela é
dada apenas pelo circuito e defeito. Entretanto, a potência vinda do lado do

484 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

SEP1 e que passa pelo B2B-VSC é limitada a zero pela ação do mecanismo
de controle. A corrente ativa também é limitada a zero, e apenas a corrente
reativa circula pelo conversor (não mostrada na figura). Após a eliminação
do defeito, o sistema volta à operação normal.
[MW]
3500
3000
2500
2000 P-SEP
1500
1000 Energização
do elo CC Defeito
500 P-VSC1
trifásico
0.0
-500 P-VSC2
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 [s]

Figura 11.14:  Potências ativas no VSC1, VSC2 e do SEP2 durante o defeito trifásico

11.2.5  Operação do B2B-VSC para curto‑circuito


monofásico no lado CA (SEP2)

A figura 11.15 mostra o esquema considerado para realizar o teste


com curto-circuito monofásico. Esta figura mostra no lado do VSC-2 do
B2B‑VSC um transformador de três enrolamentos (500/287,5/60 kV) e, no
terciário, está instalada uma fonte auxiliar que se encontra desligada. As fon-
tes do SEP1 e SEP2 estão em operação normal durante toda a simulação. O
defeito monofásico é produzido conectando uma fase à terra através de uma
resistência de 10 ohms durante 5 ms. A figura 11.16(a) mostra a variação da
tensão durante o curto-circuito, medida no lado do SEP2, e o valor da tensão
durante o defeito é menor que 0,5 pu. As figuras 16(b) e (c) mostram uma
ampliação da tensão nas fases no início e fim do período de curto-circuito.
Fluxo de potência

B2B
Xingu
LT
500/287,5 kV 500/60/287,5 kV
SEP1 Y VSC-1 VSC-2 Y SEP2
Filtro Filtro

Disjuntor Aberto 500kV CC


Disjuntor Fechado G-Auxiliar
Curto-circuito
monofásico
10 Ohms, 500 ms.

Figura 11.15:  Curto-circuito monofásico no lado CA (SEP2)

Capítulo 11 485
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

A figura 11.17(a) mostra a variação da tensão sintetizada pelo VSC-2


durante o curto-circuito. Esta figura mostra também que o valor da tensão
durante o defeito é menor que 0,5 pu. Isso pode ser observado nas amplia-
ções mostradas nas figuras 17(b) e (c), onde fica clara a semelhança dessa
tensão com a tensão no ponto do defeito.
As figuras 18 (a) e (b) mostram a variação da tensão no elo CC e a cor-
rente no conversor durante o defeito, respectivamente. Fica evidente neste
estudo que o conversor controla a corrente, não permitindo que esta ultra-
passe os limites das chaves semicondutoras.

Figura 11.16:  (a) Tensão CA no lado do SEP2 durante o curto-circuito monofásico; (b) e
(c) detalhes da tensão no início e fim do período de curto-circuito

486 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 11.17:  (a) Tensão CA nos terminais do VSC-2, lado do SEP2 durante o curto-circuito
monofásico; (b) e (c) detalhe da tensão no VSC-2 no início e fim do período de curto-circuito

Figura 11.18:  (a) Tensão no elo CC; (b) corrente no conversor durante o curto-circuito
monofásico

Capítulo 11 487
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 11.19:  (a) Potência ativa e reativa durante o curto-circuito monofásico;


(b) tensão rms em pu. nos terminais do VSC-2

A figura 11.19 (a) mostra a variação da potência ativa e potência reativa


nos terminais do VSC-2 e a figura 11.19 (b) mostra a tensão em pu. Vale no-
tar que nas potências aparecem oscilações durante o curto-circuito mono-
fásico. Estas ocorrem devido à sequência negativa que provocam oscilações
de dupla frequência nas potências.
A figura 11.20 mostra a variação de potência ativa no conversor e no
SEP2 durante o defeito. Note-se o crescimento da potência que vem do SEP2
e a limitação da potência do conversor.

Figura 11.20:  Potência do conversor e do SEP2 durante o curto-circuito monofásico

De acordo aos resultados obtidos, nota-se que o B2B-VSC pode operar


em condições de defeito assimétrico, mantendo controlado a tensão no elo
CC e limitando a contribuição na corrente de curto-circuito. Em condição
de defeito, a tensão no elo CC oscila em duas vezes a frequência da linha [1],
da mesma forma que a potência e, após o defeito, volta a operar sob controle.

488 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

11.2.6  Operação do B2B-VSC em condição de fase aberta


após um defeito monofásico no lado CA (SEP1)

A fim de testar o desempenho do B2B-VSC durante a operação da li-


nha de transmissão com uma fase aberta, foi modelada a contingência ba-
seada na figura 11.21.
Fluxo de potência

B2B - VSC
Xingu
LT
500/287,5 kV 500/60/287,5 kV
SEP1 Y VSC-1 VSC-2 Y SEP2
Filtro Filtro

Disjuntor Aberto 500kV CC


Disjuntor Fechado G-Auxiliar
Curto-circuito
monofásico
10 Ohms, 500 ms,
com perda de fase

Figura 11.21:  Sistema para estudo de curto-circuito monofásico, seguido da abertura


da fase com defeito no lado do SEP2

Durante a operação de um sistema de transmissão, a probabilidade de


ocorrer um defeito monofásico é alta. Realizar manobras sob estas condi-
ções é um trabalho que deve seguir critérios mediante estudos de contin-
gências. Para eliminar um defeito, é necessária a abertura dos disjuntores
correspondentes à fase defeituosa. O tempo que esta fase deve ficar aber-
ta depende do tempo que tarda a extinção do arco secundário e das carac-
terísticas do SEP em termos de estabilidade. Portanto, é importante que o
sistema de conversores do B2B-VSC se mantenha operando e controlando
a potência ativa e a tensão em terminais CA, mesmo que alimentado por
duas fases apenas.
A figura 11.22 (a) mostra a variação da tensão durante o defeito mo-
nofásico e o tempo morto. Nas figuras 22 (b) e (c) são mostrados os deta-
lhes da tensão trifásica no início e fim do período de defeito. Nota-se que
durante o tempo morto, a tensão na fase com defeito é nula, uma vez que o
disjuntor está aberto.

Capítulo 11 489
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Figura 11.22:  (a) Tensão trifásica durante o defeito monofásico; (b) e (c) detalhe das
tensões no início e fim do período do defeito

A figura 11.23 mostra a variação da tensão no elo CC e corrente CA no


conversor. Apesar da variação da tensão CC, esta se encontra dentro de li-
mites seguros para o conversor.
A figura 11.24 mostra a variação da potência ativa, reativa e a tensão rms
em pu na barra do lado da linha segmentada.
Dos resultados mostrados, pode-se observar que, durante a manobra
de liberação do defeito e o tempo morto (fase defeituosa desligada), o siste-
ma de controle dos VSCs mantém controladas as potências e tensões CC e
CA. Porém, durante a manobra de religamento, as respostas do sistema de
controle dos VSCs são mais lentas. Com isso, produz-se um incremento da
corrente e oscilações de potência, mas em poucos segundos estas variáveis
voltam a ser controladas. É notável como o sistema de conversores ajuda a
manter a estabilidade do sistema de potência, mesmo nessa situação adversa.

490 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Figura 11.23:  (a) Tensão no elo CC; (b) corrente no conversor durante o defeito
monofásico

(a)

(b)

Tempo morto

Inicio
Iníciodado Religamento
defeito
falta

Figura 11.24:  (a) Potência ativa e reativa; (b) tensão CA de referência do VSC-2 e a
tensão medida durante o defeito monofásico

Capítulo 11 491
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

11.2.7  Operação de dois B2Bs em paralelo

Por se tratar de um sistema de transmissão CA segmentada por conver-


sores em B2B e operando em 500 kV, composto de duas linhas em paralelo,
de capacidade para grandes blocos de potência de cerca de 2 GW, para seg-
mentá-los são necessários, pelo menos, dois sistemas B2B-VSC em paralelo.
Neste estudo, a fim de testar o desempenho destes conversores em parale-
lo, foram implementados modelos idênticos de B2Bs, mostrados na figura
11.25. Isso foi feito com o objetivo de distribuir o fluxo de potência em partes
iguais e de assumir o controle da tensão com a mesma hierarquia.
Durante a operação em regime permanente, o sistema da figura 11.25
não apresenta interações entre eles nem com o sistema de transmissão.

Disjuntores a serem Fluxo de potência, inicial 1,6 GW


abertos
B2B-VSC - 1
Xingu
500/287,5 kV 500/287,5 kV
LT-1
Y VSC-1 VSC-2 Y

Filtro Filtro

SEP1 500kV CC SEP2


B2B-VSC - 2
500/287,5 kV 500/60/287,5 kV
LT-2
Y VSC-1 VSC-2 Y

Filtro Filtro

Disjuntor Aberto 500kV CC

Disjuntor Fechado
G-Auxiliar

Figura 11.25:  Sistema de B2B-VSC em paralelo

11.2.8  Operação dos B2Bs em paralelo diante da


saída definitiva de uma das linhas de transmissão

Um dos cenários de operação de um sistema de potência é a operação


em condição de n − 1. Neste caso, pode ser considerado que uma linha foi
desligada de forma forçada ou por manutenção. Este cenário pode se tornar
uma condição adversa se o desligamento for forçado por causa de um de-
feito, principalmente se por ela estiver fluindo grandes blocos de potência.
Aproveitando a configuração paralela das linhas segmentadas, um dos
objetivos é manter o controle do fluxo de potência através da linha e dos
VSC-B2Bs e ajudar a estabilidade dos SEPs interligados.

492 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

A figura 11.26 mostra a potência ativa e reativa medidas no fim da linha.


Nesta figura, pode-se observar que, antes do defeito, a potência ativa é 1,6
GW. Após o desligamento da linha 2, a potência fica próxima à potência no-
minal da linha 1. Nota-se também que a oscilação é amortecida pelos B2Bs
em paralelo. Um comportamento similar acontece com a potência reativa.
Potência na linha
[MW]
P_Total

1500 P_Linha 1
1020 MW
1000 800 MW

500 P_Linha 2
0 MW
(a) 0.0

-500
Abertura da linha 2
-1000
2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20 3.40 [s]

[Mvar]
300
200
Q_Linha 1
100
(b) 0
Q_Linha 2
-100
-200
Q_Total
-300
-400 Abertura da linha 2
2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20 3.40 [s]

Figura 11.26:  (a) Fluxo de potência ativa medido nas linhas e na barra comum dos
B2Bs; (b) potência reativa no final das linhas do lado da barra comum dos B2Bs
(Q_Linha1 e Q_Linha2)

A figura 11.27 apresenta a tensão no elo CC; e a corrente CA no con-


versor do B2B-1. Nesta figura, pode-se observar que o efeito no elo CC do
evento testado no sistema de transmissão não teve impacto severo, apenas
uma variação controlada em poucos segundos. O mesmo comportamento
acontece com a corrente.

Capítulo 11 493
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

[kV]
600 Tensão no elo cc
(a) 500
400 Saída da linha 2
300
200
100
0
[kA]
2.0 Corrente no conversor
1.0
(b) 0.0
-1.0
-2.0
-3.0
2.20 2.40 2.60 2.80 3.00 3.20 3.40 [s]
Figura 11.27:  Tensão no elo CC e corrente no VSC-1 do B2B-1 (igual comportamento
no B2B-2)

As variações das grandezas elétricas nos conversores dos B2Bs em pa-


ralelo são iguais, devido ao sistema de controle e os circuitos de ambos B2Bs
serem iguais.

11.3 Conclusões
Neste capítulo foi mostrado que:

• É possível energizar uma linha longa por partes mantendo a tensão CA


limitada e com isso energizar o B2B-VSC para conexão do SEP1 ao SEP2;
• É possível energizar uma linha de transmissão a partir do conversor
do B2B com um gerador auxiliar relativamente pequeno.
• O conversor B2B-VSC pode limitar a contribuição da corrente de curto­
circuito trifásico e monofásico mantendo a conexão do SEP1 ao SEP2,
por manter o controle da tensão no elo CC e devido à não existência de
falha de comutação, apresentando rápido retorno à operação normal.
• A operação dos conversores do B2B-VSC durante a perda de uma
das fases da linha, após um defeito, não é comprometida. Todas as
grandezas elétricas permanecem controladas.
• No caso de duas linhas em paralelo e dois B2Bs também em parale-
lo, é possível manter a operação do sistema diante da saída de uma
linha de transmissão através do controle dos B2Bs.

494 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

• Os conversores B2Bs permitem sobrecarregar a linha em operação,


fazendo-a assumir parte da potência da linha que saiu de operação.

Referências
[1] CAVALIERE, C. A. C. Análise de STATCOM Operando em Siste-
mas Desbalanceados. Dissertação de Mestrado, Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), jul. 2001.
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Power Engineering Series. New York, IEEE Press, 1995.
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MMC-VSC. In IREP, p. 1-6.
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Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), 2012, a ser defendido.
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[8] CIGRÉ SC-B14 WG 07. Guide For Planning DC Links Terminating
At AC System Locations Having Low Short-Circuit Capacities. Part
II: Planning guidelines. In CIGRÉ SC-14, 1997.
[9] CIGRÉ SC-B4 WG 39. Integration Of Large Scale Wind Generation
Using HVDC And Power Electronics. In CIGRÉ SC-4, v. Final Do-
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[10] OLIVEIRA, C. L. M. R. D. de; TIBURCIO, A. L. P. Prospects Of
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Capítulo 11 495
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

[12] HOLMES, G. G.; LIPO, T. A. Pulse Width Modulation For Power


Converters – Principles And Practice, ser. IEEE Series on Power En-
gineering. USA, Wiley-Interscience, Inc., 2003.
[13] HOUSHANG, K. M. R. I. F. I.; KARIMI-GHARTEMANI, M.;
BAKHSHAI, A. R. An Adaptive Filter For Synchronous Extraction
Of Harmonics And Distortions. IEEE, USA, IEEE Transactions on
Power Delivery, v. 18, n. 4, Oct. 2003 p. 1350-1357, Apr. 2003.
[14] LEMES, M. HVDC Plus For Grid Access. In IEEE/PES T&D Latin
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[15] LIPO, T. A. Pulse Width Modulation For Power Converters, M. E. E.-H.
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[16] WATANABE, E. H.; AREDES, M.; BARBOSA, P.; SANTOS JR.,
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Flexible AC Transmission System, p. 797-822, 2007.

496 Estudos da Transmissão CA Segmentada Durante Transitório Eletromagnético


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

CAPÍTULO 12

Estrutura de Áreas Assíncronas


para Sistemas de Grande Porte

497
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12.1 Introdução
Este capítulo é dedicado ao estudo das interligações regionais de siste-
mas elétricos. Inicia-se com uma releitura da operação interligada de áreas
síncronas; recorda-se o controle primário (governing action) da frequência
no sistema interligado, e a estratégia de controle TLB (Tie Line Bias) usu-
almente adotada no controle dos intercâmbios e da frequência nas áreas
(Automatic Generation Control – AGC). Num segundo momento, busca-se
identificar as limitações desta estrutura de interligação das áreas tendo em
vista atender a requisitos operacionais mais amplos, exigidos pelos sistemas
de grande porte numa visão de longo prazo. O capítulo apresenta em segui-
da uma nova estrutura para os sistemas interligados, com base na aplica-
ção de interligações regionais em CA segmentadas. Concluindo, inclui-se o
exame de um caso teste onde são comparados os desempenhos dinâmicos
de um sistema de laboratório com as áreas interligadas por linhas em CA
convencionais, e por linhas CA segmentadas.

12.2  Sistema Interligado de Áreas


Síncronas – Controle TLB
Os sistemas elétricos de grande porte existentes no mundo cobrem ex-
tensas regiões geográficas e, de um modo geral, apresentam uma estrutura
formada por subsistemas interligados. Este tipo de configuração traz benefí-
cios de natureza econômica e técnica ao país. O Sistema Interligado Nacional
(SIN) permite aproveitar a diversidade hidrológica das bacias, e a diversida-
de da carga, com vistas à redução de custos. Sob o ponto de vista técnico, a

498 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

operação interligada de diversos subsistemas leva a uma redução do mon-


tante de reserva girante, e da amplitude dos desvios da frequência por oca-
sião da ocorrência de perturbações. É necessário reconhecer que a operação
interligada implica obrigações dos subsistemas participantes da estrutura.
Requer-se uma coordenação da operação no que diz respeito à manutenção
dos contratos de fornecimento/recebimentos e os acertos na contabilização
dos intercâmbios efetivamente realizados, bem como na assistência aos par-
ticipantes por ocasião de emergências.
Os subsistemas elétricos formadores do sistema elétrico interligado são
denominados de áreas. Esta denominação empregada no contexto de sistemas
interligados tem um significado mais amplo do que aquele de dar uma iden-
tidade a um território ou região geográfica. A cada área de um sistema inter-
ligado atribui-se certo grau de autonomia operativa, autonomia esta entendi-
da como o direito de atender prioritariamente as suas cargas e de estabelecer
contratos de recebimento/fornecimento de potência com as demais áreas.
Por fazer parte do sistema interligado, a área é chamada a participar da
operação interligada, tanto no controle primário quanto no Controle Carga­
Frequência (AGC) do sistema interligado.
Sistemas formados por áreas interligadas com base no conceito de auto-
nomia de área, e de cooperação no controle carga-frequência do sistema in-
terligado, empregando linhas de transmissão em CA, constituem uma prática
usual. A estratégia corrente empregada na operação e controle da operação in-
terligada pode ser traduzida num controle polarizado das interligações (TLB).
Para fixar ideias, considere um sistema constituído por duas áreas inter-
ligadas por linhas em CA, cuja operação atende ao princípio de autonomia de
área, aos contratos de fornecimento/recebimento e de assistência na regulação
da frequência. Neste sentido, as ações de controle das áreas desenvolvidas pe-
la estratégia TLB, definida adiante, são estruturadas no sentido de recuperar,
em tempo hábil, os valores de intercâmbio programados, e a frequência no
sistema interligado, valores estes modificados pelas ações de controle primá-
rio de frequência (ações de controle mais rápidas, exercidas pelos reguladores
de velocidade das máquinas primárias), em resposta à ocorrência de distúr-
bios de carga ou geração no sistema, independentemente de sua localização.
A estratégia de controle TLB [1] [2] é definida pelas relações:

ECAA = (TAB – TAB contratado) + βA (FA – FA programada)

e
ECAB = (TBA – TBA contratado) + βB (FB – FB programada),

Capítulo 12 499
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Onde:
ECAI ≡ erro de controle da área I.
TIJ ≡ intercâmbio de potência entre as áreas I e J, medido de I para J.
βI ≡ “bias” da área I.
FI ≡ frequência medida na área I.

A constante βI denominada de bias da área I é definida pela relação

βI = ( DI + 1/bp I ),

Onde:
DI ≡ coeficiente de variação da carga da área I com a frequência.
bpI ≡ estatismo permanente do regulador de velocidade equivalente.

A expressão do erro de controle de área (ECA) mostra que ele mede o


excesso de geração na área.
A ocorrência de um distúrbio de geração ou carga numa área dispara
um conjunto de ações de controle, a saber:

• Ações para o controle com estatismo da frequência (governing ac-


tions) do sistema interligado (controle primário).
• Ações de controle da operação interligada (AGC actions) para a re-
constituição da frequência do sistema e dos intercâmbios entre as áreas.

A participação de todas as áreas na correção com estatismo da fre-


quência no sistema interligado e a dependência do intercâmbio em relação
às condições terminais das interligações, levam a concluir que se trata de
uma estrutura que propaga distúrbios ocorridos em qualquer das suas áre-
as. Por outro lado, as ações de controle da operação interligada baseadas no
modo de controle TLB são essencialmente restritas ao controle de geração
da área afetada pelo distúrbio. O reflexo de uma ocorrência numa área no
erro de controle das demais áreas do sistema interligado é função do valor
ajustado para o bias.

500 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

12.3  Características operacionais dos


sistemas elétricos de grande porte
Um exame dos sistemas elétricos na atualidade leva à identificação de
inúmeros fatores que influem no desempenho dinâmico e na confiabilidade
da operação. Incluem-se aqui:

• O crescimento acentuado do número de participantes e das transações


(market-driven transactions), e o próprio ambiente desregulamentado.
• O aumento das distâncias de transmissão, e a expansão do sistema.
• A crescente dependência em ações especiais de proteção (SPS).

Não obstante a reduzida probabilidade de grandes ocorrências (ma-


jor disturbances) em sistemas elétricos de grande porte, os riscos associa-
dos a tais eventos são, na maioria das vezes, de grande monta, em razão dos
prejuízos que acarretam e da extensão das áreas afetadas. A análise destas
ocorrências, em particular os estudos post-mortem dos eventos denomina-
dos de apagões, é objeto de uma classe de estudos denominada de estabili-
dade de longo prazo.
Apesar dos avanços nas técnicas e equipamentos de controle e prote-
ção, é forçoso reconhecer que o número de eventos deste tipo tem aumen-
tado nos últimos anos, apanhando de surpresa os governantes, motivando
manifestações iradas dos políticos, e desafiando os órgãos de planejamento
e operação de sistemas elétricos. Fica-se com a impressão de que os siste-
mas elétricos modernos são mais suscetíveis (prone) ou vulneráveis a ocor-
rências deste tipo.
À medida que cresce o número de apagões, cresce a necessidade e o
interesse pelos estudos de estabilidade estendida, motivando o desenvolvi-
mento de técnicas de simulação e programas de estabilidade de longo pra-
zo. Os estudos de estabilidade estendida realizados no passado tinham por
objetivo analisar o comportamento dinâmico de grandes ocorrências ca-
racterizadas por desbalanços geração-carga. Os apagões de ocorrência mais
recente, no entanto, têm apresentado processos evolutivos complexos, de
falhas em cascata, resultantes de distúrbios menores, muitas vezes não cor-
relacionados e/ou com origem diversa, fatores estes que dificultam o reco-
nhecimento do efeito global e impõem um elevado grau de detalhamento
da modelagem do sistema.

Capítulo 12 501
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12.4  Sistema de áreas assíncronas interligadas


A realidade operacional descrita acima motivou a busca de uma nova
estrutura para os sistemas interligados, com maior rigidez para falhas em
cascata. Neste sentido, propõe-se uma estrutura baseada na interligação das
áreas via linhas em CA segmentadas. Trata-se de uma estrutura de transmis-
são formada por áreas assíncronas interligadas por sistemas B2B VSC como
vai mostrado na figura 12.1. Esta estrutura tem a propriedade de limitar a
propagação de distúrbios em cascata, regionalizando assim estas ocorrên-
cias de difícil previsão.

Figura 12.1:  Sistema B2B VSC conectando duas áreas assíncronas

Os conversores VSC configurados para operação em B2B realizam o


controle da potência transferida pela interligação, simultaneamente com
controle das tensões nos terminais do B2B. A estratégia de controle da ope-
ração do sistema interligado formado pelas duas áreas se resume na manu-
tenção da potência transmitida pelo B2B (despacho do B2B), restando a cada
área o controle da sua frequência. Nesta estrutura de áreas assíncronas in-
terligadas, as interligações ganham manobrabilidade, e rapidez de resposta,
viabilizando outras ações de controle do tipo aumento transitório da potên-
cia transferida (boost), ou de redução rápida do despacho (back), ou para a
interrupção da operação interligada (run back).
Uma comprovação da rigidez de uma interligação segmentada à propa-
gação de distúrbios está contida no estudo de caso relativo à segmentação da
interligação NS do SIN, apresentado na seção a seguir.
Antes de concluir a apresentação da estrutura constituída por áreas as-
síncronas interligadas, convém ressaltar alguns aspectos técnicos relaciona-
dos com a operação deste tipo de estrutura.
O controle primário da frequência do sistema interligado é realizado
individualmente pelas áreas. Este procedimento leva a concluir sobre a exis-
tência de diferentes valores de frequência, um para cada área, valores estes
certamente muito próximos entre si e a frequência nominal do sistema in-

502 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

terligado, mas não necessariamente iguais. Os requisitos estabelecidos para


o comportamento estendido no tempo (número de passagens por zero num
intervalo, desvio máximo e tempo de permanência) das frequências no caso
de áreas síncronas interligadas devem ser aplicados também para o caso das
interligações assíncronas.
Por fim, cabe comentar sobre o comportamento transitório da frequ-
ência de área, em especial do máximo desvio alcançado por ocasião de mo-
dificação de carga ou geração. Os valores obtidos no caso de interligações
síncronas podem ser menores do que aqueles alcançados no caso de interli-
gações assíncronas, em razão dos diferentes montantes de inércia que parti-
cipam do movimento nos dois casos. Esta diferença, se julgada importante,
pode ser atenuada com o emprego de ações de assistência transitória do tipo
boost/back das áreas vizinhas.

12.5  Estudo de caso


O estudo apresenta uma análise do desempenho dinâmico de um siste-
ma de áreas interligadas. São considerados no trabalho os dois tipos de es-
trutura de interligação, a saber:

• Interligações síncronas operando no modo TLB.


• Interligações assíncronas com estações conversoras B2B VSC.

12.5.1  Dados do sistema

O sistema de “laboratório” analisado apresenta duas áreas, cada uma de-


las representada por um sistema equivalente de geração, carga e transmissão.
O sistema de transmissão da área A consiste de quatro circuitos de CA em
500 kV, de 200 km cada um; o sistema de transmissão da área B é represen-
tado por sete circuitos de CA em 500 kV, de 200 km cada um. Na barra de
carga, foi incluído um compensador estático. A interligação entre as áreas é
constituída por dois circuitos em 500 kV, de 600 km cada um, seccionados
numa barra intermediária. No caso da estrutura com interligações assíncro-
nas, foi empregado um conversor B2B VSC de 2.000 MW/500 kV, instalado
na barra intermediária. Na tabela 12.1 vão listados os dados relacionados di-
retamente com a operação interligada.

Capítulo 12 503
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Tabela 12.1:  Dados das áreas do estudo de caso

Área A Área B
Item
(Exportadora) (Importadora)
2.683 9.500
Geração (MW)
(10 máquinas de 350 MVA) (27 máquinas de 390 MVA)
Carga (MW) 1.500 (k = 0,001)* 10.500 (k = 0,001)*
Fornecimento (MW) 1.154 ** - 1.154
Reserva Operativa (MW) 642 503.5
BIAS*** 21 21
Notas
* k = expoente do modelo de carga dependente da tensão
** intercâmbio medido na barra intermediária
*** expresso na base (MVA da área/60 Hz)

Para o estudo, desenvolveu-se um modelo para o controle da operação


interligada: Tine Line Bias (TLB) – no caso das interligações síncronas e Flat
Frequency (FF) – no caso das interligações assíncronas.

12.5.2  Casos base de fluxo de potência

Os diagramas unifilares correspondentes às duas configurações adota-


das no estudo são mostradas nas figura 12.2 e figura 12.3. No caso do sistema
com interligações assíncronas, as áreas A e B foram representadas por duas
redes isoladas. Nas barras 4 e 5, correspondentes aos terminais retificador e
inversor do conversor B2B e representadas por barras de tensão controlada,
foram aplicadas cargas equivalentes ao fluxo de potência ativa no conversor
(despacho do B2B). As injeções de reativos correspondentes foram compen-
sadas por elementos reativos.

ÁREA A ÁREA B

Ger-A A500 AL500 INTER BL500 B500 Ger-B


1 2 3 4 6 7 8

670.7 -666.1 582.2 -577.1 577.1 -571.1 -1336.8 1357.1


-345.0j -101.0j -117.9j -113.5j 113.5j -308.6j -241.7j 76.4j
2682.8 -2682.8 -9500.0 9500.0
3 circuitos 7 circuitos
-1218.4j 1380.1j 582.2 -577.1 577.1 -571.1 -534.7j 1583.9j
1.000 1.000
-117.9j -113.5j 113.5j -308.6j

1500.0 10500.0
1.010 1.034 1.047 1.038 0.975 1.018 1.030
1141.0
Caso 03
Caso 01
Figura 12.2:  Caso 01 – Sistema com interligações síncronas

504 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

ÁREA A ÁREA B
INTERA INTERB
Ger-A A500 AL500 4 5 BL500 B500 Ger-B
1 2 3 6 7 8
582.2 -577.0 577.0 -571.3
670.8 -666.1 -97.1j -122.4j 22.4j -213.0j -1336.8 1357.3
-320.7j-111.5j -257.1j 98.6j
2683.2 -2683.2 582.2 -577.0 577.0 -571.3 -9501.2 9501.2
3 circuitos B2B 7 circuitos
-1122.0j 1282.7j -97.1j -122.4j 22.4j -213.0j -690.5j 1746.1j
1.000 1.000

1.000 1.023 1.0331154.0 -1154.0 0.970 1.016 1.030


1500.0 1224.0
10500.0
1.020 1.010
carga area A
carga area B
Caso 20
Caso 02

Figura 12.3:  Caso 02 – Sistema com interligações assíncronas

12.5.3  Desempenho dinâmico

O exame do desempenho dinâmico do sistema nas suas duas configu-


rações de interligação entre as áreas foi realizado para dois tipos de contin-
gências localizadas na área B, a saber:

• Perda de geração – uma e duas máquinas.


• Perda de transmissão – dois circuitos.

12.5.3.1  Perda de geração

Os resultados das simulações para o caso de saída de uma máquina na


área B (usualmente considerada no dimensionamento da reserva operativa­
critério determinístico), e para saída de duas máquinas (incluído no estu-
do com o objetivo de estressar os desvios de frequência), são mostrados nas
figuras 12.1 a 12.21. O exame destas figuras permite identificar e avaliar os
reflexos das ações de controle nas frequências das áreas, bem como os va-
lores do erro acumulado no controle das áreas. Um sumário dos resultados
numéricos vai apresentado na tabela 12.2, visando facilitar uma análise com-
parativa das alternativas de interligação das áreas.

Capítulo 12 505
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Tabela 12.2:  Sumário dos resultados da simulação para saída de uma máquina da área B

Tipo de interligação entre as áreas (cargas tipo P constante)


Valor observado Assíncronas com
Síncronas Assíncronas
assistência transitória*
Valor mínimo/máximo 59,463 59,456
60
Frequência na área A (Hz) 60,195 60,43
Valor mínimo/máximo 59,463 59,267 59,37
Frequência na área B (Hz) 60,195 60,200 60,176
Valor acumulado do erro de controle da
+2,37 E-04 0 -0,84 E-04
área A (em 90 segundos)
Valor acumulado do erro de controle da
-0,071 -0,070 -0,070
área B (em 90 segundos)
*  ação de assistência transitória correspondente a um aumento de 320 MW no fornecimento da área A para a
área B, por cerca de 800 ms.

A tabela 12.2 confirma as observações feitas no texto de que os desvios


de frequência na área afetada pelo distúrbio são mais reduzidos na configu-
ração com interligações síncronas do que os valores observados no caso das
interligações assíncronas. Isto porque, no caso da ligação assíncrona, a área
A não presta nenhuma assistência na regulação da frequência da área B. Os
resultados da simulação mostram que efetivamente o distúrbio na área B não
se propaga para a área A. O exercício mostra ainda que é possível projetar
uma ação transitória de assistência, de tipo boost/back, atuando no despacho
do conversor B2B, no sentido de diminuir os desvios de frequência na área
B, com algum prejuízo na regulação transitória da frequência na área A. Esta
ação corresponde a uma rápida variação do intercâmbio, e destaca a mano-
brabilidade da interligação assíncrona com uso de B2B VSC.
Não é difícil concluir sobre a propriedade das interligações assíncronas
de atuarem como barreiras à propagação de distúrbios entre as áreas. Esta
atuação como “parede corta-fogo”, inerente às interligações assíncronas, se
deve ao controle da potência na interligação mantido pelo conversor. A limi-
tação desta ação e a utilização de sinais de modulação da ordem de potência
do conversor modificam esta característica.

506 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de um gerador na área B.

Potência mecânica área A (MW)

Figura 12.4:  Potência mecânica da área A para caso de perda de um gerador na área B

Potência mecânica área B (MW)

Figura 12.5:  Potência mecânica da área B para caso de perda de um gerador na área B

Capítulo 12 507
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Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de um gerador na área B.

Frequência nas áreas A e B

Figura 12.6:  Frequência nas áreas A e B para caso de perda de um gerador na área B

Fluxo nas interligações medidos na barra 4 (MW)

Figura 12.7:  Fluxo nas interligações medidos na barra 4 (MW) para caso de perda de

508 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de um gerador na área B.

Valor acumulado do ECA área A (PU potência base MW área A)

Figura 12.8:  Valor acumulado do ECA área A (PU potência base MW área A) para caso
de perda de um gerador na área B

Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B)

Figura 12.9:  Valor acumulado do ECA área B (PU potência base MW área B) para caso
de perda de um gerador na área B

Capítulo 12 509
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de dois geradores na área B.

Potência elétrica gerador área A (MW)

Figura 12.10:  Potência elétrica gerador da área A (MW) para caso de perda de dois
geradores na área B

Potência elétrica gerador área B (MW)

Figura 12.11:  Potência elétrica gerador da área B (MW) para caso de perda de dois
geradores na área B

510 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de dois geradores na área B.

Frequência nas áreas A e B (Hz)

Figura 12.12:  Frequência nas áreas A e B (Hz) para caso de perda de dois geradores
na área B

Fluxo nas interligações medidos na barra 4 (MW)

Figura 12.13:  Fluxo nas interligações medidos na barra 4 (MW) para caso de perda de
dois geradores na área B

Capítulo 12 511
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de dois geradores na área B.

Valor acumulado do ECA área A ( PU potência base MW área A)

Figura 12.14:  Valor acumulado do ECA área A ( PU potência base MW área A) para caso
de perda de dois geradores na área B

Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B)

Figura 12.15:  Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B) para caso
de perda de dois geradores na área B

512 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de dois geradores na área B.

Frequência nas áreas A e B

Figura 12.16:  Frequência nas áreas A e B (Hz) para caso de perda de dois geradores na
área B

Fluxo nas interligações medidas na barra 5 (MW)

Figura 12.17:  Fluxo nas interligações medidas na barra 5 (MW) para o caso de perda de
dois geradores na área B

Capítulo 12 513
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de dois geradores na área B.

Valor acumulado do ECA área A ( PU potência base MW área A)

Figura 12.18:  Valor acumulado do ECA área A ( PU potência base MW área A) para o
caso de perda de dois geradores na área B

Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B)

Figura 12.19:  Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B) para o
caso de perda de dois geradores na área B

514 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação assíncrona entre as áreas A


e B – Caso de perda de dois geradores na área B com ação de assistência
(320 MW/800 milissegundos).

Frequência nas áreas A e B

Figura 12.20:  Frequência nas áreas A e B para o caso de perda de dois geradores na
área B

Fluxo nas interligações medidas na barra 5 (MW)

Figura 12.21:  Fluxo nas interligações medidas na barra 5 (MW) para o caso de perda de
dois geradores na área B

Capítulo 12 515
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação assíncrona entre as áreas A


e B – Caso de perda de dois geradores na área B com ação de assistência
(320 MW/800 milissegundos).

Valor acumulado do ECA área A ( PU potência base MW área A)

Figura 12.22:  Valor acumulado do ECA área A ( PU potência base MW Área A) para o
caso de perda de dois geradores na área B

Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B)

Figura 12.23:  Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B) para o
caso de perda de dois geradores na área B

516 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

12.5.3.2  Perda de transmissão

No exercício considerou-se um processo de falhas em cascata na área B,


com origem num evento inicial de saída de duas linhas (correspondendo a
uma redução de 28,5% da transmissão). A redução da transmissão ocasiona
um regime de sobrecarga nas linhas que permanecem em serviço, que tende
a se agravar com a perda sucessiva de linhas, e sensível redução da tensão na
carga. Com base neste cenário, formulou-se uma sucessão plausível de even-
tos e ações de controle de emergências que vai descrita a seguir.

• Evento inicial: saída de duas linhas de transmissão na área B (t = 10 e 80s).


• Corte de geração para aliviar a sobrecarga na transmissão em servi-
ço (t = 10,5 e 81s).
• Corte de carga (500 MW) por subtensão (t = 120 s).
• Saída de mais um circuito de transmissão por sobrecarga (t = 90 e 250 s).

A tentativa de simular a saída da terceira linha esbarrou na impossibili-


dade do simulador de convergir para uma solução da rede pós-falta, motivada
possivelmente por um processo de instabilidade de tensão. O emprego de um
modelo dependente da tensão (k = 1,2) para a carga da área B não removeu a
dificuldade de obter uma solução para a Rede quando reduzida a quatro linhas.
As figuras 12.24 a 12.46 mostram os resultados da simulação para as duas al-
ternativas de interligação das áreas. Observa-se que a perda inicial de duas linhas
na área B leva a uma redução da potência elétrica das máquinas e, por consequên-
cia, um aumento da frequência. Nota-se também que a atuação do esquema de
corte de geração para perda de transmissão, por sua vez, alcança limitar as sobre-
frequências, mas tem um efeito reduzido na redução da sobrecarga na transmis-
são provocada pelo evento inicial. É interessante notar ainda que o evento inicial
provoca uma redução da tensão na carga, e uma redução no montante de carga,
contribuindo assim para o regime de sobrefrequência, não deixando margem pa-
ra atuação de esquemas de alívio de carga convencionais baseados na redução da
frequência. A manutenção do processo de sobrecarga da transmissão aponta para
atuação, no tempo, de ações de proteção das linhas. A simulação da saída de mais
uma linha, como comentado acima, dá mostras de uma possível situação de tipo
instabilidade de tensão ou até mesmo de situação de colapso de tensão na área.
As figuras 12.47 a 12.51 com a apresentação simultânea dos resultados
da simulação para as duas alternativas de interligação das áreas deixam cla-
ro a propriedade das interligações assíncronas de regionalizar os distúrbios
em cascata, limitando seus efeitos à área de origem.

Capítulo 12 517
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de duas linhas na área B.

Potência mecânica na área A (MW)

Figura 12.24:  Potência mecânica na área A (MW) para o caso de perda de duas linhas
na área B

Potência mecânica área B (MW)

Figura 12.25:  Potência mecânica na área A (MW) para o caso de perda de duas linhas
na área B

518 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de duas linhas na área B.

Frequências nas áreas A e B (Hz)

Figura 12.26:  Frequências nas áreas A e B (Hz) para o caso de perda de duas linhas na
área B

Fluxos de potência nas interligações medidos na barra 4 (MW)

Figura 12.27:  Fluxos de potência nas interligações medidos na barra 4 (MW) para o
caso de perda de duas linhas na área B

Capítulo 12 519
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B –


Caso de perda de duas linhas na área B.

Tensão na carga da área B (MW)

Figura 12.28:  Tensão na barra de carga da área B (MW) para o caso de perda de duas
linhas na área B

Carga da área B (MW)

Figura 12.29:  Carga da área B (MW) para o caso de perda de duas linhas na área B

520 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultado de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B – Ca-


so de perda de duas linhas na área B.

Fluxo de potência por linha em serviço na área B (MW)

Figura 12.30:  Fluxo de potência por linha em serviço na área B (MW) para o caso de
perda de duas linhas na área B

Capítulo 12 521
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B – Caso


de perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma máquina).

Frequência nas áreas A e B

Figura 12.31:  Frequência nas áreas A e B para o caso de perda de duas linhas na área B

Fluxo de potência por linha em serviço na área B (MW)

Figura 12.32:  Fluxo de potência por linha em serviço na área B (MW) para o caso de
perda de duas linhas na área B

522 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B.


Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma
máquina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Potência elétrica área A (MW)

Figura 12.33:  Potência elétrica área A (MW) para o caso de perda de duas linhas na área B

Potência elétrica área B (MW)

Figura 12.34:  Potência elétrica área B (MW) para o caso de perda de duas linhas na área B

Capítulo 12 523
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B.


Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma
máquina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Frequência nas áreas A e B

Figura 12.35:  Frequência nas áreas A e B para o caso de perda de duas linhas na área B

Fluxos nas interligações medidos na barra 4 (MW)

Figura 12.36:  Fluxos nas interligações medidos na barra 4 (MW) para o caso de perda
de duas linhas na área B

524 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B.


Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma
máquina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Fluxo de potência por linha em serviço na área B (MW)

Figura 12.37:  Fluxo de potência por linha em serviço na área B (MW) para o caso de
perda de duas linhas na área B

Tensão na barra de carga da área B (MW)

Figura 12.38:  Tensão na barra de carga da área B (MW) para o caso de perda de duas
linhas na área B

Capítulo 12 525
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultado de simulação: interligação síncrona entre as áreas A e B.


Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma
máquina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B)

Figura 12.39:  Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B) para o
caso de perda de duas linhas na área B

526 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação assíncrona entre as áreas A e B.


Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma
máquina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Geração da área A (MW)

Figura 12.40:  Geração da área A (MW) para o caso de perda de duas linhas na área B

Geração da área B (MW)

Figura 12.41:  Geração da área A (MW) para o caso de perda de duas linhas na área B

Capítulo 12 527
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: interligação assíncrona entre as áreas A e B.


Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma
máquina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Frequência nas áreas A e B

Figura 12.42:  Frequência nas Áreas A e B para o caso de perda de duas linhas na área B

Fluxo nas interligações medidas na barra 5 (MW)

Figura 12.43:  Fluxo nas interligações medidas na barra 5 (MW) para o caso de perda de
duas linhas na área B

528 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: interligação assíncrona entre as áreas A e B.


Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma
máquina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Fluxo de potência por linha em serviço na área B (MW)

Figura 12.44:  Fluxo de potência por linha em serviço na área B (MW) para o caso de
perda de duas linhas na área B

Tensão na carga área B

Figura 12.45:  Tensão na carga área B para o caso de perda de duas linhas na área B

Capítulo 12 529
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultado de simulação: interligação assíncrona entre as áreas A e B.


Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (uma
máquina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B)

Figura 12.46:  Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B) para o
caso de perda de duas linhas na área B

530 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultados de simulação: comparação de desempenho interligação sín-


crona (em azul) e interligação assíncrona (em vermelho).
Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (1 má-
quina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B)

Figura 12.47:  Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B):
Comparação de desempenho interligação síncrona (em azul) e interligação assíncrona
(em vermelho)

Fluxo nas interligações medidas na barra 5 (MW)

Figura 12.48:  Fluxo nas interligações medidas na barra 5 (MW): comparação de


desempenho interligação síncrona (em azul) e interligação assíncrona (em vermelho)

Capítulo 12 531
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Resultados de simulação: comparação de desempenho interligação sín-


crona (em azul) e interligação assíncrona (em vermelho).
Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (1 má-
quina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Frequência nas áreas A e B

Figura 12.49:  Frequência nas áreas A e B: comparação de desempenho interligação


síncrona (em azul) e interligação assíncrona (em vermelho)

Tensão na barra de carga da área B (MW)

Figura 12.50:  Tensão na barra de carga da área B (MW): comparação de desempenho


interligação síncrona (em azul) e interligação assíncrona (em vermelho)

532 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Resultado de simulação: comparação de desempenho interligação sín-


crona (em azul) e interligação assíncrona (em vermelho).
Caso – Perda de duas linhas na área B seguida de corte de geração (1 má-
quina), e posterior ação de alívio de carga (500 MW na barra 6), para elimi-
nação de sobrecarga na transmissão (circuitos de 3 a 7 da linha 6-7) na área B.

Figura 12.51:  Valor acumulado do ECA área B ( PU potência base MW área B):
comparação de desempenho interligação síncrona (em azul) e interligação assíncrona
(em vermelho)

12.6  Comentários finais


Os resultados obtidos no caso de estudo servem como comprovação de
princípios. A estrutura de áreas assíncronas interligadas por linhas de trans-
missão em CA segmentadas tem a propriedade de regionalizar os distúrbios,
evitando a propagação de processos em cascata através das áreas.
As interligações assíncronas com linhas em CA segmentadas trazem
maior simplicidade e controle nas transações de energia (compensação dos in-
tercâmbios inadvertidos), e maior velocidade na modificação de intercâmbios.
A estrutura de áreas assíncronas interligadas é um esquema inovador de
transmissão de energia elétrica que, numa visão de longo prazo, vem atender
a requisitos operacionais de sistemas interligados de grande porte.

Capítulo 12 533
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Nos próximos 30 anos, a expansão da transmissão no País será domi-


nada pelo desafio da integração do imenso potencial hidroelétrico da região
Amazônica. A definição de uma estratégia de expansão da transmissão a mé-
dio e longo prazo no País é, portanto, um convite a discussão. A inclusão de
alternativas de expansão dirigidas para a formação de uma estrutura de áre-
as assíncronas interligadas deve ser incluída nesta discussão. A figura 12.49
ilustra uma estrutura deste tipo para o sistema interligado resultante da apli-
cação de interligações segmentadas na integração da Amazônia.

Figura 12.52:  Brasil dividido em três áreas assíncronas

12.7 Referências
[1] KUNDUR, P. Power System Stability And Control. McGraw-Hill, 1993.
[2] ROSS, C. W. Error Adaptive Control Computer For Interconnected
Power Systems. IEEE Transactions on PAS-87/7, Jul.1966.

534 Estrutura de Áreas Assíncronas para Sistemas de Grande Porte


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

APÊNDICE A

Cálculo de Parâmetros de Linha de Transmissão


e Efeito do Solo na Propagação Modal

535
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

O objetivo principal deste apêndice é apresentar a metodologia utiliza-


da para cálculo de parâmetros de linha de transmissão nos diversos estudos
realizados pela equipe executora da COPPE/UFRJ. Essa metodologia foi di-
retamente aplicada nos diversos estudos de transitórios eletromagnéticos re-
alizados através de rotinas e algoritmos próprios desenvolvidos pela equipe.
Em casos em que foram utilizados programas comerciais como, por
exemplo, o PSCAD/EMTDC, primeiramente os resultados fornecidos pe-
lo programa comercial foram comparados com os resultados esperados,
calculados com as rotinas desenvolvidas, para só então continuar com os
estudos utilizando os programas comerciais. Como fruto dessa filosofia, a
contribuição do desenvolvimento do modelo do solo desenvolvido em [16],
[17] e [18], foi incorporada na versão 4.4 do PSCAD/EMTDC e, em versão
futura, será denominado de Portela’s Soil Model. Na seção A.2, é apresenta-
do o efeito do solo na propagação dos modos não homopares e homopolar.

A.1  Cálculo de parâmetros de linhas de transmissão


O comportamento e o desempenho de uma linha de transmissão de-
pendem quase que exclusivamente dos parâmetros unitários – impedância
longitudinal e admitância transversal, ambos por unidade de comprimento.
Esta seção apresenta um breve resumo de como esses parâmetros podem
ser calculados para uma linha aérea.
O cálculo exato desses parâmetros não é uma tarefa simples, pois exis-
tem muitos fatores que influenciam na determinação de seus valores. Con-
tudo, com algumas hipóteses simplificativas, é possível obter valores apro-
ximados para os parâmetros de uma linha de transmissão para uma faixa
de frequência de 0 − 2 MHz. Entre essas hipóteses, considerando o com-
portamento quase estacionário do campo eletromagnético, supõe-se que:

536 Cálculo de Parâmetros de Linha de Transmissão e Efeito do Solo na Propagação Modal


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

• O solo é plano e homogêneo.


• Os condutores são paralelos ao solo e entre si.
• Os condutores estão a uma altura média em relação ao solo, ao lon-
go do vão.
• É desprezível o efeito das estruturas das torres.
• A distância de um condutor para outro de fase diferente ou para solo
é muito maior do que seu raio.
• A permeabilidade magnética do solo e dos condutores são constan-
tes e igual a do ar (µ0).
• O efeito corona é desprezível.

A partir dessas premissas, pode-se desenvolver métodos para calcular


os parâmetros unitários da linha de transmissão1.

A.1.1  Impedância longitudinal unitária

Sejam m e n índices de dois condutores genéricos, variando m e n de 1


ao número máximo de condutores, nmax, e eventualmente m = n. Assumindo
as hipóteses simplificativas apresentadas, tem-se que a matriz de impedân-
cias longitudinais por unidade de comprimento de uma linha é dada por:

Zu = Z0 + Zi + Zs = Ze + Zi (A.1)

Onde:
Z0 ⇒ parcela correspondente à impedância, considerando que os con-
dutores e o solo são perfeitos (condutividade infinita), neste caso tem-se
uma linha ideal, sem perdas e sem dispersão.
Zi ⇒ parcela adicional a Z0 que corresponde a uma correção, ao con-
siderar o efeito dos condutores não serem ideais, i.e. com condutivi-
dade finita.
Zs ⇒ parcela adicional a Z0 que corresponde a uma correção, ao consi-
derar o efeito do solo não ideal.
Ze = Z0 + Zs ⇒ parcela de Zu associado ao campo eletromagnético ex-
terno aos cabos, considerando condições não ideais.

1 Para as hipóteses simplificativas adotadas, os parâmetros da linha por unidade de comprimento são considerados in-
variantes com relação à direção de propagação x. Para cálculos acurados de fenômenos rápidos, cuja frente de onda é
da ordem de um microssegundo, e.g., descargas atmosféricas, deve-se considerar o modelo tridimensional da linha,
pois nesses casos o comprimento das ondas eletromagnéticas é da ordem das alturas dos condutores ao solo [23].

Apêndice A 537
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Considerando o esquema da figura A.1, a matriz Z0 é definida por:

µ0
Z0 = jω M (A.2)

Sendo M uma matriz que caracteriza a geometria da linha, de elemento


genérico Mmn, definidos como:

⎛ 2hm ⎞
Mmm = log ⎜ ⎟   para (m = n) (A.3)
⎝ rm ⎠

⎛ Dʹ′mn ⎞
Mmm = log ⎜ ⎟   para (m ≠ n) (A.4)
⎝ Dmn ⎠

Onde:
rm é o raio do condutor em questão. 1
2
Dmn a distância entre o condutor m e o condutor n, Dmn = ⎡⎣(hm − hn ) + ymn
2 ⎤ 2
⎦
D mn a distância entre o condutor m e a imagem do condutor n,

1
2
Dʹ′mn = ⎡⎣(hm +hn ) + ymn
2 ⎤ 2
⎦

m
Dmn
n

hm hn
D mn

Solo
ymn

Imagem
n
Imagem
m
Figura A.1:  Posição relativa de dois condutores m e n,
num plano perpendicular ao eixo da linha

538 Cálculo de Parâmetros de Linha de Transmissão e Efeito do Solo na Propagação Modal


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

A parcela Zi é a impedância interna dos condutores. Para o caso dos


condutores de fase, que normalmente são condutores de alumínio com alma
de aço (ACSR – Aluminum Conductor Steel Reinforced), considera-se que
a corrente que passa no aço é desprezível comparada com a corrente que
passa pelo alumínio, devido à alta impedância interna do aço, além disso,
para altas frequências, existe ainda o efeito pelicular. A maior densidade de
corrente fica na periferia do condutor. Dessa forma, o condutor é modela-
do como uma coroa circular de raio externo r1, correspondendo à parte de
maior densidade de corrente, e de raio interno r0, correspondendo ao núcleo
de aço. Já os cabos para-raios são condutores constituídos por ligas homo-
gêneas e, por isso, considera-se que o raio interno é r0 = 0.
A impedância interna por unidade de comprimento, definida como a
relação entre o campo elétrico longitudinal na superfície exterior do con-
dutor e a corrente, será:

i ηρ I0 (η r1 ) K1 (η r0 ) +K 0 (η r1 ) I1 (η r0 ) (A.5)
Znn =
2π r1 I1 (η r1 ) K1 (η r0 ) −I1 (η r0 ) K1 (η r1 )

Fazendo r0 tender para zero, obtém-se a impedância interna para um


condutor cilíndrico homogêneo de raio r1 [20], i.e.,

i ηρ I0 (η r1 ) (A.6)
Znn =
2π r1 I1 (η r1 )

Sabendo-se que:
η= jω µ σ .
ρ = 1/σ é a resistividade do condutor.
I0, I1 ⇒ são funções de Bessel Modificadas de primeira espécie, de or-
dens zero e primeira, respectivamente.
K0, K1 ⇒ são funções de Bessel Modificadas de segunda espécie, de or-
dens zero e primeira, respectivamente.

A parcela de correção do solo, Zs, devido à condutividade finita do


solo, pode ser obtida pelas fórmulas de Carson [4], definidas por (A.7),
(A.8) e (A.9). As integrais de Carson podem ser representadas por séries
de potência para as baixas frequências, e uma expansão assintótica para
as altas frequências. Um inconveniente é a existência de descontinuidades
nessas séries quando da transição entre a aproximação por série de potên-

Apêndice A 539
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

cia para a expansão assintótica que ocorre para valores elevados de r (>5),
( 2 2
)
r = Re ( J ) +Im ( J ) . Atualmente, o emprego das séries não é mais necessá-
rio, pois os programas de cálculos matemáticos já são capazes de calcular as
integrais infinitas numericamente com boa precisão2 [6] e [11].

(A.7)µ
Zs = ω 0 J
π
Com,

∞ e −2hmξ
J mm = ∫ 2 2
dξ , para (m = n) (A.8)
0
ξ + ξ +η

∞ e −(hm+hn )ξ
J mn = ∫ 2 2
cos( ymnξ ) dξ , para (m ≠ n) (A.9)
0
ξ + ξ +η

Um modelo mais simples que leva a bons resultados foi proposto por
Dubanton e publicado por C. Gary [9]. Sua proposta era substituir o solo
por um conjunto de condutores de retorno localizados diretamente sob a
linha. O efeito deste é, então, representado ao considerar que os conduto-
res imagens estão em uma profundidade equivalente complexa. Como re-
sultado, a impedância da linha pode ser escrita por uma fórmula analítica
fechada. Mas este método não foi muito aceito no início, porque Gary não
mostrou provas teóricas rigorosas. Em 1981, A. Deri et al [7] demonstrou a
relação matemática entre o método de Carson com o de Dubanton, e pro-
vou que este era realmente uma formulação aproximada do primeiro. Por
este método, determina-se a impedância externa da linha, Ze, considerando
um solo ideal localizado a uma distância complexa do solo real, conforme
esquematizado na figura A.2. Os elementos da matriz Ze são definidos de
acordo com (A.10) e (A.11).

2 A precisão é definida pelo programador, tendo como limite a precisão do computador em que se está fazendo os
cálculos. Quanto maior a precisão definida, maior o número de iterações necessárias para alcançar a convergência
e, por conseguinte, maior o tempo de cálculo.

540 Cálculo de Parâmetros de Linha de Transmissão e Efeito do Solo na Propagação Modal


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

m
Dmn
n

hm
Dmn hn

Solo Real
p
Solo Ideal
hn
hm
Dmn
n
m

2p

m

Figura A.2:  Modelo considerando o solo a uma profundidade complexa

ωµ0 2( hm + p )   para (m = n), (A.10)


Z emm = j log
2π rm

ωµ0 ⎛ ymn + ( hm + hn + 2p ) ⎞  para (m ≠ n), (A.11)


2 2
e
Z =j log ⎜ ⎟
+ ( hm − hn )
mm 2
2π ⎜⎝ 2
ymn ⎟⎠

Onde, p é a profundidade complexa:

1
(A.12)1
p= =
ηsolo j ω µ0 σ solo

O erro do método da profundidade complexa do retorno pelo solo au-


menta à medida que a razão entre a distância horizontal dos condutores e a
altura, (y/h), cresce. Todavia, em geral, a razão (y/h) de uma linha é muito
pequena (<0,5), e o erro resultante é inferior a 0,5%. Mas, para razões (y/h)
muito altas, o erro pode chegar a 15% [7][1].
Alvarado e Betancourt [1] aperfeiçoaram as aproximações (A.10) e (A.11),
de forma que o erro para razões (y/h) elevadas, (>2), não superasse 2,5%.
Outra aproximação para a representação do solo, que introduz o con-
ceito do duplo plano complexo, foi proposta por Noda et al [12]. Para razões
(y/h) típicas de linhas de transmissão, o erro desta aproximação é da ordem
de 1%, em faixas de frequências abaixo de 1 MHz.

Apêndice A 541
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Em todos esses métodos, a permissividade elétrica (ε) do solo é despre-


zada. Para considerá-la, substitui-se o parâmetro p por pʹ, i.e.:

1 (A.13)
pʹ′ =
j ω µ0 (σ solo + j ω ε solo )

Além disso, os parâmetros elétricos do solo, σsolo e εsolo, não são modela-
dos dependentes com a frequência. Para se considerar a dependência desses
parâmetros com a frequência, pode-se utilizar os modelos desenvolvidos
por Portela em [16], [17] e [19], onde a dependência com a frequência (f)
dos parâmetros do solo é modelada de acordo com (A.14).

⎡ ⎛ π ⎞ ⎤ ⎛ f ⎞α ʹ′  (S/m) (A.14)


σ + j ω ε = σ 0 + Δi ⎢cot ⎜ α ʹ′⎟ + j⎥.⎜ ⎟
⎣ ⎝ 2 ⎠ ⎦ ⎝ 1MHz ⎠

Sendo σ0 a condutividade do solo para baixas frequências em (S/m); αʹ e


∆i são parâmetros do modelo, que, para os cálculos realizados neste trabalho,
foram utilizados os valores medianos das distribuições estatísticas, obtidas
por um número considerável de medições [19], isto é:

αʹ = 0,706
∆i = 11,71 · 10-3 S/m (A.15)
σ0 = 1 · 10-3 S/m

A.1.2  Admitância transversal

Para efeitos transversais, considerando as hipóteses simplificativas ante-


riormente citadas, o solo pode ser considerado como um condutor perfeito,
assim a superfície do solo coincide com uma equipotencial. Esta última hipó-
tese é válida quando a relação entre os parâmetros do solo é tal que |σ + j ω ε |
>> j ω ε0, o que é válido para um boa parte dos casos estudados3. Dessa forma,
é possível calcular a capacitância da linha diretamente da matriz dos coefi-
cientes de Maxwell [2], definida como a matriz inversa de P, onde:

3 O fato de se considerar o solo como um bom condutor permite supor que a profundidade de penetração do campo
seja pequena e que sua superfície é coincidente como o potencial de referência (zero) e, assim, desprezar a admi-
tância entre a superfície do solo e o real plano de referência.

542 Cálculo de Parâmetros de Linha de Transmissão e Efeito do Solo na Propagação Modal


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

1 ⎛ 2h ⎞
Pmm = log ⎜ m ⎟   para (m = n), (A.16)
2πε ⎝ rm ⎠
1 ⎛ Dʹ′ ⎞
Pmm = log ⎜ mn ⎟  para (m ≠ n). (A.17)
2πε ⎝ Dmn ⎠

Assim, a admitância transversal da linha por unidade de comprimen-


to, Yu, é dada por:

Yu = G + j ω C = G + j ω P-1 (A.18)

Devido à corrente de fuga causada pelas imperfeições dos isoladores


ser muito pequena, é comum desprezar a matriz das condutâncias transver-
sais (G), ficando somente o termo referente às capacitâncias transversais na
definição de (Yu). Entretanto, pode ser necessário, em alguns estudos, levar
em conta a condutância das cadeias de isoladores [8].
O método de cálculo de Yu com maiores detalhes, considerando o solo
real, é apresentado em [3].

A.2  Propagação modal


Um sistema de transmissão, seja ele aéreo ou subterrâneo, pode ser re-
presentado a partir da equação de onda no domínio da frequência, confor-
me mostra (A.19). 2
dU
= ZuYuU
dx 2
(A.19)
d 2I
= ZuYu I
dx 2
Para sistemas multifásicos (A.19), torna-se um sistema matricial com n
condutores equivalentes, onde as matrizes Zu e Yu são de ordem n × n. Dessa
forma, é necessário resolver a equação de onda matricial

d 2U
2
= Γ 2U
dx
(A.20)
d 2I
2
= (Γ 2 )t I
dx
Apêndice A 543
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Onde Γ = Z u Yu , lembrando que os autovalores de ambos produtos


de matrizes são idênticos, e que Zu Yu = (Yu Zu)t. A resolução do sistema
de equações em (A.20) foi proposta independemente por Wedepohl [25]
e Hedman [10] utilizando a decomposição em autovalores e autovetores.
Destarte, o sistema matricial fica decomposto em n sistemas escalares. Este
procedimento ficou conhecido como Decomposição Modal, uma vez que
os modos, ou autovalores da equação de onda são os responsáveis por ca-
racterizar o comportamento da propagação da onda eletromagnética em
uma linha de transmissão.
Uma vez que a transformação modal corresponde à aplicação da ma-
triz de autovetores da matriz do produto Zu Yu, a relação entre as tensões
modais, Um, e as tensões nas fases U é dada por

U = Tu UM (A.21)

E para as correntes

I = Ti IM (A.22)

A princípio, as matrizes Tu e Ti seriam independentes, contudo, como


os autovalores da matriz Zu Yu são os mesmos de Yu Zu, os autovetores se
relacionam por

Ti = (Tut)-1

Sendo necessário apenas calcular uma das matrizes. Aplicando-se a de-


composição em (A.20), é possível calcular os fatores de propagação modais,
conforme mostrado abaixo

Λ = Tu−1 Γ2 Tu (A.23)

Onde Λ é uma matriz diagonal e

γ ii = λii

Sendo λii os elementos diagonais de Λ. Por sua vez, esses elementos são
complexos e podem ser divididos ainda em

544 Cálculo de Parâmetros de Linha de Transmissão e Efeito do Solo na Propagação Modal


Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

λii = αii + jβii (A.24)

A parte imaginária de (A.24) relaciona-se diretamente com a velocida-


de de propagação dos modos υi [21]

ω
(A.25)
υ=
βii

A figura A.3 apresenta o comportamento das velocidades modais para


uma linha MO+. Os autovalores foram calculados de acordo com a metodo-
logia apresentada em [19] e [24]. Nota-se que há dois modos próximos, que
são chamados de modos não homopolares, e um modo mais lento, o modo
homopolar. Os modos não homopolares atingem velocidades próximas à
da velocidade da luz (c = 300 m/µs) para frequências acima de algumas de-
zenas de hertz. Portanto, é válido assumir que, para uma linha idealmente
transposta, a velocidade de propagação é de 0,99 c para a sequência positiva,
visto que esta é uma combinação linear entre os modos não homopolares.

300

250
Velocidade de Propagação (m/µs)

modos
200 não homopolares modo homopolar

150

100

50

0
10 -2 10-1 100 101 102 103 104 105 106
Frequência (Hz)
Figura A.3:  Velocidades de propagação modais

Apêndice A 545
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

APÊNDICE B

Exemplo de Aplicação da Metodologia


de Alocação dos Cabos Para-raios em
Linhas Não Convencionais

547
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B.1  Modelo eletrogeométrico


A alocação dos cabos para-raios é realizada utilizando-se o modelo ele-
trogeométrico (MEG). Com tal modelo, é possível relacionar o mecanismo
de incidência das descargas atmosféricas com os parâmetros geométricos
das linhas de transmissão. Sendo possível determinar a proteção que os ca-
bos devem oferecer à linha, pois o ângulo de proteção das linhas é função
da separação entre os cabos para-raios e da distância destes para os condu-
tores de fase (vide figura B.1) [20] e [15].
Para compreensão do MEG, é importante saber como funciona o meca-
nismo de incidência das descargas atmosféricas. Normalmente, antes de uma
descarga, observa-se a formação de canais ionizados no ar. Na extremidade
do canal formado, acumula-se uma carga elétrica apreciável, que origina um
campo elétrico intenso na vizinhança, por conseguinte forma-se, por ioniza-
ção, um novo canal “condutor” pelo qual a carga vai progredindo (precursor
de descargas). Esses canais progridem então por “impulsos”, permitindo o
deslocamento das cargas elétricas.
Enquanto os canais estão a uma distância elevada do solo e de objetos
ligados a este, o movimento do precursor é pouco influenciado pela posição
desses objetos, ou mesmo pela distância ao solo. Porém, quando se aproxi-
ma do solo, ou de objetos ligados a este, há uma disposição natural de for-
mar um último canal que dá origem à descarga final. Para que isto ocorra,
o precursor deve estar a uma distância crítica (rs), ou mais próximo do ob-
jeto ou do solo [15].
Assim, com base em formulações aproximadas dos mecanismos físi-
cos básicos de ionização dos canais e de descarga subsequente à formação
do último canal, e com ajustes semiempírico dos parâmetros, é possível re-
lacionar a distância crítica1 com o valor de pico (I0) da corrente de descarga
subsequente à formação do último canal.

1 A distância crítica rs também é denominada de distância de salto, referindo-se à formação do último canal como
o “salto final” do precursor.

548 Exemplo de Aplicação da Metodologia de Alocação dos Cabos Para-raios em Linhas Não Convencionais
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Para determinação aproximada da relação entre a distância de salto e


a corrente de descarga, considerou-se as relações publicadas por [5], isto é:

⎛ −
I
⎞ 0

rs = 2I 0 + ⎜1−e ⎟ (B.1)
6,8

⎝ ⎠

Onde rs é o valor médio, em metro, de rs – ou o valor com probabilidade


de 50% de ser excedido – e I0 é expresso em quiloampere (kA).
Em princípio, para um estudo preciso da incidência de descargas atmos-
féricas na linha, necessitar-se-ia de uma análise tridimensional do modelo
eletrogeométrico, considerando-se toda a extensão da linha de transmissão,
uma vez que está sujeita a variações do relevo e proximidade de objetos como
árvores, torres, radares, antenas etc2. No entanto, na prática, para o estudo de
desempenho de linhas com cabos para-raios, utiliza-se o modelo bidimen-
sional do MEG [15] e [23].
É possível então “definir” regiões de captação de descargas para deter-
minados valores de rs. Na figura B.1 é mostrada a representação esquemáti-
ca das regiões de exposição de uma linha de transmissão trifásica, composta
por um condutor por fase (fase) e dois cabos para-raios (pr). Supõe-se para
este esquema que os condutores estão a meio do vão, são paralelos entre si e
em relação ao solo, além de que a distância de salto rs corresponde à distância
crítica com um valor bem definido (sem dispersão estatística), sendo igual
para salto final tanto para os condutores quanto para o solo.
De acordo com a figura B.1, as descargas são atraídas para:

• O solo, quando a extremidade do precursor estiver nas regiões AB ou FG.


• As fases externas, quando estiver nas regiões BC ou EF.
• Os cabos para-raios, se estiver nas regiões CD ou DE.

2 A análise tridimensional de subestações e instalações isoladas (como radares, torres, antenas etc.) pode ser encon-
trada com detalhes em [13] e [14].

Apêndice B 549
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D
rs
C rs E
pr pr
rs 
rs rs
fase fase fase

A B F G
 ângulo
de proteção rs

Figura B.1: Regiões de exposição

Em geral, designa-se o ângulo δ (vide figura B.1) por ângulo de proteção


dos condutores das fases externas pelos cabos para-raios, sendo positivo se
os condutores de fase estiverem mais afastados do centro da torre do que os
cabos de guarda; caso contrário, diz-se que o ângulo de proteção é negativo.
Em (B.1), nota-se que a distância de salto será tanto maior quanto
maior for a corrente de descarga, e vice-versa. Dessa forma, dependendo
do valor do valor de I0, por conseguinte, de rs, as regiões de exposição dos
cabos e do solo são alteradas. Como pode ser observado na figura B.2, on-
de são mostradas as regiões de exposição dos cabos para quatro valores de
rs, rsi, rsii, rsiii e rsiv, sendo rsi < rsii < rsiii < rsiv.

iii
D

iii
D rsiv

iv iv iv
A B rsiii F G
iii iii
C E
r
iv
s C
ii
ii
D1 D2
ii
E ii

rsii
rsi
iii iii iii
A B F G
r
s
iii
ii ii
B F

Figura B.2:  Regiões de atração para quatro valores de rs

550 Exemplo de Aplicação da Metodologia de Alocação dos Cabos Para-raios em Linhas Não Convencionais
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

Nota-se que, para uma descarga cujo valor de corrente é correspondente


à distância de maior valor (rsiv), a probabilidade de se atingir os condutores das
fases é muito pequena, i.e., com probabilidade muito maior de atingir os cabos
para-raios ou, então, o solo. Assim sendo, pode se definir uma distância críti-
ca limite (rs lim), associada a um valor limite de corrente (I0 lim), abaixo do qual
sempre existirá a probabilidade de a descarga incidir diretamente nos condu-
tores de fase, sendo essa probabilidade tanto maior quanto menor a corrente
[15]. A figura B.3 mostra o esquema de definição de rs lim, em que os círculos
de raios rs lim, que envolvem os cabos para-raios e o condutor externo, inter-
ceptam o plano do solo que também está a uma distância rs lim do solo real.

rs lim

rs lim

Figura B.3:  Distância de salto limite (rs lim)

Dessa forma, é possível se determinar a região de proteção oferecida, por


um ou dois cabos para-raios, associada a uma corrente I0, traçando círculos de
raio rs tangentes ao solo que passam pelos centros dos cabos. A região de pro-
teção será dada pela região fechada, externa aos círculos, conforme mostrado
na figura B.4 e na figura B.5, para um e dois cabo para-raios, respectivamente.

rs rs

rs rs
Área
de
proteção

Figura B.4:  Região de proteção oferecida por um cabo para-raios

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rs rs

rs rs

rs Área rs

de
proteção

Figura B.5:  Região de proteção oferecida por dois cabos para-raios

Para que não haja desligamento da linha, devido às descargas atmos-


féricas que, eventualmente, incidam diretamente nos condutores de fase
ou, mesmo, nos cabos para-raios, a sobretensão ocasionada pela corrente
de descarga não deve ultrapassar a tensão de escorvamento da linha. Caso
contrário, haverá escorvamento e, por conseguinte, curto-circuito na linha.
Quando uma descarga atmosférica de corrente, com amplitude de I0,
incide diretamente um condutor de fase, duas ondas de corrente são origi-
nadas a partir do ponto de incidência, caracterizadas por uma corrente de
amplitude igual a I0/2, conforme esquematizado na figura B.6.

I0 I0
2 2

Figura B.6:  Idealização da origem das ondas de corrente após a incidência da


descarga em um condutor genérico

Supondo-se que os espaçadores vizinhos de uma mesma fase estão próxi-


mos um do outro, o suficiente para se considerar que as tensões nos subcon-
dutores do feixe se igualam instantaneamente. Então, é possível determinar
as tensões causadas pela descarga da seguinte forma:

552 Exemplo de Aplicação da Metodologia de Alocação dos Cabos Para-raios em Linhas Não Convencionais
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

U = Z onda I (B.2)

Sendo U o vetor de tensões nas fases e nos cabos para-raios; Zonda a ma-
triz reduzida das impedâncias de onda dos condutores de fase e dos cabos
para-raios; e I é o vetor de correntes, em que o único elemento não nulo3 é
o correspondente à fase onde a descarga incidiu, e é igual a I0/2.
Como descargas atmosféricas são fenômenos muito rápidos, com frente
de onda da ordem de microssegundo, a matriz de impedâncias de onda deve
ser calculada para as altas frequências. Apesar de o modelo de linha de trans-
missão pela teoria de circuito estar no limite de sua validade, pode-se ainda
empregá-lo. Então, lembrando-se das definições de ondas trafegantes, nota-
-se que a matriz de impedâncias de onda, ou impedância de surto, será igual
à matriz de impedâncias características, para frequências muito altas, i.e.:

Z onda = Z c = Z u Yu Yu−1 (B.3)

Para frequências elevadas, dado que a corrente se distribui na periferia


dos condutores, devido ao efeito pelicular, os campos elétricos e magnéticos
no exterior dos condutores tendem para campos ortogonais [20]. Portanto, os
elementos geométricos contidos em Zu e em Yu tendem para os mesmos valo-
res. Assim, para valores muito elevados de ω, tem-se, assintoticamente, que:

Zu = j ω ε0 µ0 P (B.4)

Onde P é a matriz de potenciais de Maxwell, cujos elementos são dados


por (A.16) e (A.17). Lembrando-se que a matriz P é o inverso da matriz de
capacitâncias (C), i.e.:

P = C-1 (B.5)

Então, desprezando a condutância em (A.18) e substituindo em (B.3),


juntamente com (B.4) e (B.5), obtém-se que matriz de impedâncias de on-
da é definida por:

Z onda = ε 0 µ0 C −1
(B.6)

3 As tensões e correntes de operação da linha foram desprezadas nesta análise, podendo se consideradas por superposição.

Apêndice B 553
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Logo que a descarga incide no condutor, desde que não seja muito pró-
ximo das estruturas e enquanto não houver reflexões ao longo da linha (e.g.,
aterramento dos cabos para-raios nas torres), os cabos para-raios se com-
portam como se fossem isolados. Assim, a diferença de potencial entre dois
condutores quaisquer, seja de fase ou para-raios, é dada por:
I0 (B.7)
U ij =U i −U j = (z ii − z ij )
2

Onde zii e zji são os elementos na matriz Zonda correspondente ao condu-


tor i, em qual a descarga incidiu, e a impedância mútua entre este e o con-
dutor j, respectivamente.
Obtidas as tensões entre todos os condutores, deve-se compará-las com
as tensões de escorvamento no ponto em que foram calculadas, caso esta
última seja ultrapassada haverá escorvamento.
Para alocação de cabos para-raios, pode-se considerar como caso mais
severo, quando a descarga incide o condutor em um ponto próximo às es-
truturas e os cabos para-raios são aterrados. Neste caso, tem-se que:

I cri (B.8)
U ij =U i =U cri = z ii
2

A condição para não haver escorvamento é que Ucri não exceda a ten-
são de escorvamento Ue, ou:

I cri
z ii < Ue (B.9)
2

Se a tensão Ucri for considerada igual à tensão de escorvamento, pode‑se


definir a máxima corrente de descarga que pode atingir um condutor sem
que haja escorvamento de arco, i.e.:

U e (B.10)
I cri = 2
zp

Onde zp é o maior valor de impedância de onda existente entre os


condutores.
Substituindo o valor da corrente máxima (B.10) em (B.1), obtém-se a
distância de salto máxima de uma descarga que pode incidir diretamente

554 Exemplo de Aplicação da Metodologia de Alocação dos Cabos Para-raios em Linhas Não Convencionais
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

em um condutor de fase. Acima desta distância as descargas devem somen-


te atingir os cabos para-raios. Dessa forma, pode-se alocar os cabos para-
-raios para que ofereçam a proteção adequada. Deve-se ainda calcular as
distâncias mínimas de isolamento necessárias entre os cabos para-raios e
os condutores de fase, para que minimize a probabilidade de escorvamento
de arco no caso de uma descarga incidir nos primeiros.
Além disso, outros critérios devem ser avaliados, porém não foram
analisados neste trabalho porque o objetivo deste apêndice é mostrar uma
metodologia para alocação preliminar dos cabos para-raios, não sendo ob-
jetivo de se determinar a localização ótima destes.

B.2  Alocação dos cabos para-raios


A alocação dos cabos para-raios foi feita seguindo a metodologia apre-
sentada em [22]. A explicação da metodologia é feita considerando o caso
de uma linha de 1.000 kV com 12 condutores por fase apresentada na figu-
ra B.7, com os cabos para-raios alocados. A distância de salto crítica (rs cri) é
calculada de acordo com os conceitos apresentados no item anterior.

65

60 (14 m, 58,4 m)

55
Altura (m)

50 (11,8 m, 45,4 m)
(0 m, 45,4 m)
6,0 m

45
2,3 m
40 3,2 m

35
 20  15  10 5 0 5 10 15 20
Distância Horizontal (m)
Figura B.7:  Linha não convencional de 1.000 kV com 12 condutores por fase

Apêndice B 555
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Inicialmente, determina-se quais os condutores de fase que estão mais


expostos para a distância de salto rs cri, e isto é feito traçando-se círculos de
raios rs cri que são tangentes ao solo e passem pelo centro dos condutores,
tomando-se os círculos que estão mais à esquerda e mais à direita, confor-
me mostrado na figura B.8.
Como não existe nenhuma intersecção entre os círculos escolhidos,
não é possível proteger a linha com apenas um cabo para-raios. Neste ca-
so, são necessários dois cabos. Então, traçam-se novos círculos, também de
raios rs cri, cujas abscissas são iguais à do eixo vertical da linha; e seleciona
o círculo de ordenada de maior valor. Finalmente, os cabos para-raios po-
dem ser alocados nas regiões localizadas acima dos seguimentos de retas
que unem os pontos de intersecção entre os círculos, conforme mostrado
na figura B.9. A figura B.10 mostra, com maiores detalhes, a alocação de um
dos cabos para-raios na linha.

100

80

60
h m

40

20

0
80 60 40 20 0 20 40 60 80
y m

Figura B.8:  Círculos de raios rs cri correspondentes aos condutores mais expostos

556 Exemplo de Aplicação da Metodologia de Alocação dos Cabos Para-raios em Linhas Não Convencionais
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

120

100

80
h m

60

40

20

0
80 60 40 20 0 20 40 60 80
y m

Figura B.9: Regiões onde os cabos para-raios podem ser alocados

80

70

60
h m

50

40

30

20
50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 5
y m

Figura B.10: Alocação de um dos cabos para-raios

ApÊnDice B 557
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel.
executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

Para confirmar que os cabos estão oferecendo a “blindagem” necessária


para a linha, na figura B.11 é apresentada a região de atração (hachurada)
para descargas com distância de salto igual à distância crítica, consideran-
do todos os condutores e o solo, para o caso em questão. É possível notar
que não existem regiões em que os condutores de fases estejam expostos.

150

125

100
h m

75

50

25

0
120 100 80 60 40 20 0 20 40 60 80 100 120
y m
Figura B.11:  Região de atração para descargas com distância de salto crítica,
considerando todos os condutores e o solo

Referências
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558 Exemplo de Aplicação da Metodologia de Alocação dos Cabos Para-raios em Linhas Não Convencionais
Alternativas Não Convencionais para Transmissão de Energia Elétrica
Meia-onda+ e Trasnmissão CA Segmentada

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Apêndice B 559
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executora: Coppetec. proponentes: Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Furnas, Cemig GT, CTEEP e EATE.

[15] ______, Sobretensões e Coordenação de Isolamento. Universidade


Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), v. I-IV, 1982.
[16] ______, Frequency And Transient Behavior Of Grounding Systems.
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[17] ______, Frequency And Transient Behavior Of Grounding Systems.
II – Practical Application Examples. IEEE International Symposium
on Electromagnetic Compatibility, p. 385-390, 1997.
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[21] STRATTON, J. A. Electromagnetic Theory. McGraw-Hill Company
Inc., 1941.
[22] GOMES JR., S. Otimização de Linhas Aéreas de Transmissão Con-
siderando Novas Concepções Construtivas para os Feixes de Con-
dutores. Tese de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(COPPE/UFRJ), dez.1995.
[23] FILHO, J. C. S. Efeito das Descargas Atmosféricas no Desempenho
de Linhas de Transmissão - Modelagens nos Domínios do Tempo e
da Frequência. Tese D.Sc., Universidade Federal do Rio de Janeiro
(COPPE/UFRJ), dez. 2006.
[24] WEDEPOHL, L. M.; NGUYEN, H. V.; IRWIN, G. W. Frequency­
Dependent Transformation Matrices For Untransposed Transmis-
sion Line Using A Newton-Raphson Method. IEEE Transactions on
Power Systems, v. 11, n. 3, p. 1538-1546, Aug.1996.
[25] WEDEPOHL, L. Application Of Matrix Methods To The Solution
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560 Exemplo de Aplicação da Metodologia de Alocação dos Cabos Para-raios em Linhas Não Convencionais
Operador Nacional do Sistema Elétrico Brasileiro
(ONS) e desde 2002 é professor da UFRJ, atuando
na modelagem de sistemas e equipamentos elétricos
em larga faixa de frequência. É pesquisador 2 do
CNPq e membro do IEEE.

Robson Francisco da Silva Dias


É engenheiro eletricista pela Universidade Federal
do Pará, 2002 e doutor em engenharia elétrica pela
COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2008. De 2009 a 2010, foi pesquisador visitante pos-
doutor na Universidade de Toronto. Atualmente, é
professor adjunto da UFRJ, e suas áreas de interesse
incluem aplicações de eletrônica de potência em
sistemas de potencia, linhas de transmissão e
transitórios eletromagnéticos.

Braulio Chuco Paucar


Graduou-se em engenharia elétrica com ênfase em
sistemas de potência pela Universidad Nacional
del Callao – Perú, em 2002. Obteve o título de
mestre pela Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul em 2007, atualmente é doutorando na
COPPE/UFRJ. Em 2005, juntou-se ao Centro
de Investigaciones Eléctricas – Electrónicas del
Perú – CIEEP, onde atua como colaborador na
área de pesquisa. Suas áreas de atuação incluem a
modelagem e análise de fenômenos de transitórios
eletromagnéticos em sistemas de potência,
modelagem de aerogeradores e sistemas HVDC.

Silvangela Lilian da Silva Lima Barcelos


Nasceu em São Luís - MA, Brasil, em 21 de janeiro
de 1980. Graduou-se em engenharia elétrica pela
Universidade Federal do Maranhão (UFMA),
concluiu o mestrado na área de eletrônica de
potência na COPPE, Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) em 2007. Atualmente é aluna de
doutorado no Laboratório de Eletrônica de Potência
(ELEPOT) na mesma COPPE/UFRJ. Suas áreas de
interesses incluem análise de sistemas elétricos de
potência e eletrônica de potência, especialmente, o
desempenho de equipamentos FACTS em sistemas
elétricos de potência.

EXECUTORA

PROPONENTES
PROPONENTES

EXECUTORA

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