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A Avaliação Psicológica como colaboradora na orientação profissional de jovens e

adultos

RESUMO

Contemporaneamente, a Psicologia vivencia um momento de expansão dos campos


de trabalho, sobretudo no ambiente escolar. No âmbito da educação, o trabalho do
Psicólogo se realiza por meio de uma multiplicidade de ações, atuando na defesa e
orientação profissional aos estudantes jovens e adultos. Assim, o objetivo geral deste
trabalho foi analisar o papel do psicólogo na escola, à luz da discussão teórica sobre
a Orientação Profissional. Nesta direção, o presente artigo se divide em duas seções.
Na primeira seção propõe-se a apresentar, de modo introdutório, como o trabalho está
organizado. A segunda seção trata das concepções sobre a relevância e o desafio da
Orientação Profissional para o jovem escolher uma carreira. Como resultado da
pesquisa, conclui-se que o trabalho do Psicólogo na escola contribui para diagnosticar
problemas que se relacionam a questões sociais que envolvem o educando, e, se
conhecendo esses problemas, é possível agir no sentido de possibilitar a melhoria do
processo de ensino e aprendizagem dos estudantes ao ingressar nas universidades.

PALAVRAS-CHAVE: Orientação Profissional; Jovem; Adulto; Psicologia.

INTRODUÇÃO

A escola, espaço singular no desenvolvimento dos jovens, tem a cátedra de,


além da educação formal, educar para a cidadania, promover a autonomia, o senso
de pertencimento, o bom exercício profissional e a destreza de lidar com as diferenças.
Logo, o contexto escolar – formado pelo ambiente físico, social e de aprendizagem -
deve estar disposto a transformar o aluno, tenha ele qualquer idade, em um membro
inserido e produtivo na sociedade. No ensejo de cumprir com essa função e auxiliar
os alunos em suas jornadas de aprendizagem e autoconhecimento colocamos a
necessidade de que, além das atividades acadêmicas e Curriculares, também sejam
oferecidas ações que Contemplem conteúdos e práticas psicológicas, uma vez que a
Psicologia Escolar assume “características de utilidade social, ao buscar a promoção
do bem-estar humano” (PFROMM NETTO apud MARINHO-ARAÚJO e ALMEIDA,
2010).
A escola funciona como um importante agente socializador, que amplia as
possibilidades de aquisição de conhecimento e de experiências afetivas, na medida
em que se configura como uma das primeiras situações instituídas, além da família, a
proporcionar experiências e desafios, constituindo-se em espaço privilegiado para o
desenvolvimento humano.
A Teoria dos Sistemas Ecológicos, de Bronfenbrenner, entende o
desenvolvimento humano como “um processo contínuo de mudanças, as quais se
tornam cada vez mais complexas, respondendo às demandas do ambiente em que as
pessoas vivem”. Tais mudanças, no entanto, geralmente envolvem algum estresse.
Por exemplo, durante a vida escolar, os alunos podem experimentar “momentos de
desadaptação/desajustamentos” diante de algumas situações ou novos papéis sociais
conquistados, até que desenvolvam estratégias específicas para lidarem com isso
(BORUCHOVITCH e BZUNECK, 2010).
Este processo de adaptação e desenvolvimento implica conquistar um conjunto
pessoal de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores, necessidades e
motivações, entre tantos outros aspectos. Por isso, a escola deve reconhecer que sua
função não é lidar apenas com o aprendizado formal, mas, especialmente, com o
alcance dos objetivos educacionais, conforme preconizado pela LDB: aprender a
aprender, aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conviver (BRASIL, 1996).
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 2000), o ensino
médio tem passado por significativas alterações em virtude do atual arranjo social.
Para tanto, o indivíduo necessita adquirir atrelados ao conhecimento formal,
competências para lidar com a vida em sociedade; ou seja, deter saberes que
propiciem lidar com as demandas sociais e contribuir com um legado para o avanço
da comunidade em que estiver inserido. Deste modo, a educação deverá estar voltada
para o desenvolvimento pleno do indivíduo, contemplando-se elementos como a
subjetividade e o protagonismo necessários ao exercício da cidadania.
Dado o exposto, entende-se que é importante oferecer formação subjetiva ao
alunado, além da formação clássica e técnica contemplada nos conteúdos de sala de
aula, pois compreende-se que o ser humano é um sujeito de escolhas que precisam
de maturação para serem realizadas. Tal formação, no entanto, não tem encontrado
espaço suficiente nos atendimentos psicológicos individualizados. Para isso, é
fundamental um ambiente em que seja acolhido, receba informações e reflita
amplamente sobre os reflexos do que aprende para o futuro, fortalecendo o papel da
escola enquanto “meio de proteção para as crianças, adolescentes e adultos nela
inseridos” (BORUCHOVITCH E BZUNECK, 2010).
2 O QUE É A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: CONCEITOS E PRÁTICAS
Há muito, já em 1964, Reger propunha que o psicólogo assumisse o papel de
educador, com a função de auxiliar na melhoria da qualidade e eficiência do processo
educacional, por meio da aplicação dos conhecimentos psicológicos. Passa a ser visto
como eficaz um modelo de atuação profissional chamado de proativo, onde toda a
intervenção psicológica teria um caráter sistêmico, com focos mais em grupos do que
em indivíduos. Nesse contexto, o psicólogo escolar, como agente de mudanças, pode
promover uma atuação que supere o enfoque no binômio saúde-doença,
transformando a demanda individualizante, numa demanda institucional, que dê conta
do todo, com o intuito de favorecer o sucesso escolar, o desenvolvimento integral e a
promoção de saúde mental (NOVAES, 2004).
Desse modo, o Conselho Federal de Psicologia estabelece que o psicólogo
escolar/educacional:

envolve em sua análise e intervenção, todos os segmentos do sistema


educacional que participam do processo de ensino- aprendizagem. Nessa
tarefa, considera as características do corpo docente, do currículo, das
normas da instituição, do material didático, do corpo discente e demais
elementos do sistema. Em conjunto com a equipe, colabora com o corpo
docente e técnico na elaboração, implantação, avaliação e reformulação de
currículos, de projetos pedagógicos, de políticas educacionais e no
desenvolvimento de novos procedimentos educacionais. (RESOLUÇÃO
CRP, 2001)

Partindo-se dos marcos teóricos e legais citados, é que se justifica a atividade


avaliação psicológica, um tema relevante em Psicologia Escolar e Educacional.
A avaliação psicológica se traduz enquanto um processo que leva a conhecer
as funções psíquicas do indivíduo, investigando os sintomas e possibilitando
compreender o caso atendido. O diagnóstico permite, também, escolher a abordagem
terapêutica que deve ser usada com o paciente (NUNES et. al. 2006).
Anastasi e Urbina (2000) caracterizam o teste psicológico como tendo uma
medida objetiva e padronizada que diz respeito a uma amostra comportamental, a
qual deve ter uma uniformidade de procedimento ao ser aplicada à medida em que se
pontua o instrumento. Tal instrumento deve representar a amostra de comportamento,
se usando a análise estatística dos dados para sustentar as características
psicométricas.
Nesse sentido, a avaliação psicológica pode ser considerada como um conjunto
de itens que medem determinado fenômeno psicológico (PASQUALI, 1999).
Conforme Cronbach (1996) o termo avaliação é mais abrangente que testagem.
Cunha (2000), analisa que a avaliação psicológica consiste em um processo científico,
que utiliza testes e técnicas para entender problemas psicológicos à luz de
pressupostos teóricos.
A princípio, a avaliação psicológica se apresenta por meio da identificação do
fenômeno a ser avaliado e do teste a ser utilizado com seus métodos e técnicas
inerentes. A esse respeito, o objeto de estudo da avaliação psicológica pode ser um
sujeito, um grupo, uma instituição ou uma comunidade, sendo um sistema complexo,
integrado e composto por subsistemas que se integram.
A solicitação de um psicodiagnóstico é demandada pela aplicação de um teste
específico, embora este seja considerado somente um instrumento para atingir um
fim.
Uma forma de se fazer a avaliação psicológica é por meio da Orientação
Profissional, prática voltada para estudantes que aspiram à carreira universitária. No
próximo subtópico se analisa essa questão.

2.1 A orientação profissional: uma análise em prática

Devido ao fato do estudante aspirar o acesso à universidade, a orientação


profissional se faz necessária, à medida que objetiva atender às redes da Educação
e Trabalho e aperfeiçoamento das práticas instituídas.
Inicialmente se questiona o que significa orientação. Na língua portuguesa,
orientação consiste em “ato ou arte de orientar (se) ” (FERREIRA, 1986, p. 1232). Tal
definição sugere que uma pessoa pode ser orientada por profissionais qualificados,
havendo a possibilidade do próprio indivíduo se orientar, ou seja, “reconhecer a
situação do lugar onde se acha, para guiar-se no caminho” (FERREIRA, 1986, p.
1233).
Assim, as pessoas tomam decisões por si mesmas sem precisar da ajuda de
um especialista em Orientação Profissional. Mas, essa orientação pode ser
necessária em determinados momentos da carreira. Nessa perspectiva, quanto mais
pessoas puderem beneficiar-se dos Serviços de Orientação qualificados e
desenvolvidos por técnicos credenciados, melhorará o desenvolvimento da carreira
pessoal e profissional.
Recentemente, se observa o uso da expressão ocupacional. O conceito
vocacional se refere à vocação. Vocação se origina do latim vocatione, que significa
ato de chamar, escolha, chamamento, predestinação, tendência, disposição, talento,
aptidão (MELO-SILVA, et. al. 2004). O conceito profissional tem haver “como
respeitante ou pertencente à profissão, ou a certa profissão”; “que exerce uma
atividade por profissão ou ofício” (MELO-SILVA, et. al. 2004, p. 02).
No que se relaciona ao conceito orientação profissional, na visão psicológica,
este significa a ajuda prestada a uma pessoa para solucionar problemas relacionados
à escolha de uma profissão, sendo considerado as características do interessado e a
relação entre essas e as possíveis condições do mercado de emprego” (BRASIL, s/d).
O conceito orientação profissional se usa para denominar muitas disciplinas e estágios
dos cursos de Psicologia e Pedagogia (MELO-SILVA, 2003).
No senso comum se usa o termo orientação vocacional, que se caracteriza
enquanto um “processo intencional e metódico destinado a acompanhar, segundo
técnicas específicas, o desenvolvimento intelectual e a personalidade integral dos
estudantes, sobretudo os adolescentes, orientação escolar” (FERREIRA, 1986, p.
1232). Nesse sentido, se questiona o que influencia as escolhas profissionais do
adolescente?
As estratégias de intervenção que se destinam a jovens que aspiram à
Educação Superior e o acesso à universidade, se dá por meio do exame vestibular. O
significado do termo “vestibular” na língua portuguesa é relativa a “vestíbulo”, “espaço
entre a rua e a entrada de um edifício”.
Pode significar, também “exame de admissão a um curso superior, aberto aos
candidatos que houveram concluído o ensino médio, e designado a avaliar o preparo
de tais candidatos e sua aptidão intelectual”, “exame vestibular” (FERREIRA, 1986, p.
1771). Nesse contexto, a Orientação Profissional no Brasil desenvolveu-se para
orientar estudantes do ensino médio a frequentar cursos preparatórios para o
vestibular, tendo em vista entrar na universidade.
A procura de jovens estudantes pelas universidades públicas é grande, tendo
em vista o ensino ser gratuito e de qualidade nacional e internacional. Nesse aspecto,
a universidade constitui-se em espaço de manutenção do status da classe média alta
mas dá a possibilidade de ascensão social de indivíduos da classe média baixa. Os
estudantes que tem seus estudos custeados pela família possuem maior liberdade em
escolher uma carreira universitária ou tecnológica.
Outros jovens estudantes precisam trabalhar para se manter, não existindo a
liberdade de escolher sua profissão ou uma carreira universitária ou tecnológica.
Ainda, estes estudantes podem desistir de estudar nesse percurso, pois tem a
necessidade de trabalhar.
O processo de democratização do sistema educacional brasileiro vem
oportunizando maior acesso à escola de educação básica, o que não repercute sobre
a garantia de que este estudante continue a estudar, pois muitos desistem antes da
conclusão do ano letivo. Assim, existe uma descontinuidade no processo educacional
que se materializa por meio da desistência escolar, fenômeno ocasionado por fatores
diversos e interdependentes que podem se apresentar por meio de categorias
institucionais, socioeconômicos e pessoais.
No contexto da desistência enquanto fracasso escolar, Charlot (2002) analisa
que existem alunos em situação de fracasso escolar que por vários motivos desistem
da escola. Um dos motivos desse fracasso pode estar relacionado ao fato de que a
escola não oportuniza condições básicas para que o aluno aprenda. Outrossim, esse
fracasso escolar pode ser concebido como expressão social, resultante da
desigualdade presente nas diferentes classes sociais que compõem a sociedade
capitalista. Pois, para Arroyo, (1991, p. 21) [...] “não são as diferenças de clima ou de
região que marcam as grandes diferenças entre escola possível ou impossível, mas
as diferenças de classe“.
Ainda, essa desigualdade social se enraíza na política neoliberal excludente
que não visa a promoção das transformações estruturais sociais e nem tampouco a
incorporação da cidadania à população brasileira, pois a crise social do país é
marcada por mecanismos de exclusão que regulam o capital a serviço de uma minoria
(MANCE, 1998).
Nesse sentido, se torna difícil pensar a política de educação dissociada dos
apelos conjunturais, pois esta apresenta a capacidade de atender/facilitar em grande
medida a materialização dos interesses do capital, principalmente quando se trata das
políticas voltadas para a classe menos favorecida da população. Como nos aponta
Lessa “a educação tem a capacidade de preparar os mais pobres para uma vida
subordinada e desprotegida, mas denominada ideologicamente empreendedora”
(LESSA, 2013, p. 108).
A esse respeito, em decorrência de escolhas limitadas por fatores educacionais
e socioeconômicos, observa-se problemas de adaptação ao curso (ALMEIDA e
SOARES, 2003).
O exame vestibular tem sido realizado, objetivando selecionar os alunos que
apresentam melhores resultados quantitativos nas provas. De acordo com Melo-Silva,
2003:

em média, nas universidades públicas (cerca de 30% de vagas da Educação


Superior no Brasil), onde estão as carreiras mais disputadas, concorrem em
média 10 candidatos para cada vaga disponível. Isso significa que mais de
90% dos jovens são impedidos de ingressar na universidade pública a cada
ano (MELO-SILVA, 2003, p. 04).

Nos Estados Unidos da América - EUA, o sistema de entrada na Universidade


é realizado por meio de um Exame Nacional (SCHOLASTIC ASSESSMENT TEST -
SAT), por meio da análise do histórico escolar do ensino secundário. Ainda, se analisa
o Curriculum vitae, além de cartas de recomendação de professores e orientadores
educacionais. Nesse sentido, o aluno elenca as universidades para as quais enviará
a documentação pedida e a universidade o seleciona baseado nessa documentação
apresentada.
O estudante poderá escolher sua carreira durante o exercício de cursar o curso
universitário, por meio de um trabalho conjunto com os orientadores educacionais da
universidade. Contraditoriamente à realidade do sistema brasileiro, que o estudante
ao sair da universidade tem uma profissão, o sistema norte-americano só
profissionaliza o estudante em uma área específica na pós-graduação, alongando o
período de formação, dificultando a possibilidade de pessoas de baixa renda
continuarem no sistema de educação superior, à medida em que permanecem com a
formação genérica.
A vantagem desse sistema diz respeito à valorização de elementos utilizados
para avaliar os candidatos às vagas, levando em consideração se o estudante realizou
atividades extracurriculares, atividades na comunidade, estágios, dentre outros.
Nesse sentido, o jovem americano não experimenta situações de ansiedade e
depressão que enfrentam os jovens brasileiros por precisarem definir a carreira antes
de prestar o exame vestibular. Faz-se necessário esclarecer que alguns cursos são
muito concorridos, o que aumenta a ansiedade.
O exame vestibular no Brasil se diferencia também do Bacalauréat (BAC), ou
seja, do sistema francês. O exame Francês é realizado na saída do ensino médio,
habilitando o jovem a ingressar no mercado do trabalho ou em um curso superior que
foi aprovado no BAC.
No Brasil, o Exame Nacional de Ensino Médio - ENEM, tem as mesmas
características do BAC, em que a nota pode ser utilizada como um dos critérios para
acesso ao ensino superior, sendo que algumas universidades oferecem 20% a 30%
de suas vagas para os alunos aprovados no ENEM. O que dizer da orientação
profissional no Brasil?

2.2 A Orientação Profissional no Brasil ao adulto

A Orientação Profissional no Brasil se destina, prioritariamente, ao atendimento


a jovens do ensino médio, os quais escolhem as profissões e o vestibular.
Contemporaneamente existe o sistema de cotas, o qual gera possibilidades para
adentrar na carreira universitária por meio de bolsas de estudos, objetivando o acesso
mais democrático à universidade. A esse respeito, Lessa (2013) analisa que a
priorização da permanência dos mais frágeis economicamente nas instituições
educacionais trata-se de um fenômeno novo que precisa ser acompanhado e
problematizado. Pois a educação, mais do que qualquer outra força social é espelho
refletor da realidade, constituindo-se como um aparelho de legitimação e de
manutenção da ordem estabelecida, fator eficaz na conservação social (JOHANN,
2008; BOURDIEU, 2010).
O cenário atual é de mudanças, não podendo o Orientador Profissional se
ausentar desses debates, deixando de avaliar as consequências das mudanças na
vida de jovens e adultos.
O atendimento em Orientação Profissional destinado a adultos tem-se
acentuado no Brasil. Tal fato pode ser motivado pela situação de instabilidade no
trabalho, devido ao emprego precarizado e às situações de desemprego. O adulto
pode ser uma pessoa em processo de planejamento de carreira, reorientação ou
redefinição do projeto de vida.
Alguns destes indivíduos apresentam questões psicológicas que criam
dificuldades em relação à escolha da carreira e permanência no trabalho. Conforme
com Melo-Silva, 2003:
nesses casos, a intervenção em Orientação Profissional tem uma
convergência importante com o paradigma clínico, uma vez que o
aconselhamento não consiste em prática difundida entre os psicólogos
brasileiros. No Brasil tenta-se diferenciar Orientação Profissional de
Psicoterapia, embora seja consenso entre os profissionais que em inúmeras
situações atuam na interface entre uma intervenção focal, no caso, a tomada
de decisão sobre estudos e/ou trabalho, e um atendimento psicológico que
requer atenção a sentimentos, emoções e vínculos interpessoais (MELO-
SILVA, 2003, p. 08).

Carvalho (1995), analisa que a Orientação Profissional tem sido alvo de


atendimentos por parte de psicólogos em Clínicas-Escola.
Até o final do século XIX a Psicologia não possuía identidade específica, ou
seja, a abordagem psicológica enfocava tanto a filosofia quanto as ciências naturais.
Neste contexto, os filósofos sempre tiveram interesse em compreender o significado
da experiência humana, sendo que alguns conceitos básicos da psicologia têm sua
gênese na Filosofia.
Para que se distinguisse enquanto ciência, a Psicologia adotou o método
científico como recurso para compreender os problemas psicológicos. Assim, para
que fosse considerada uma ciência, fundamentou-se em um objeto de estudo
específico, utilizando o método científico para avaliar a evidência, elaborando técnicas
de estudo para verificar seus princípios.
A psicologia estuda o comportamento e os processos mentais, como também
as bases fisiológicas do comportamento, a aprendizagem, a percepção, a emoção, a
inteligência, a personalidade, o comportamento considerado anormal, dentre outras
temáticas. Compreende-se a psicologia enquanto uma ciência que estuda o
comportamento e os processos mentais do ser humano.
A psicologia se divide nos seguintes subcampos:
- Psicologia geral, responsável por determinar o objeto, os métodos, os
princípios gerais e as ramificações da ciência;
- Psicologia Fisiológica, que investiga o papel que os eventos e as estruturas
fisiológicas desempenham em relação ao comportamento;
-Psicologia do Desenvolvimento, que estuda o desenvolvimento ontogenético,
ou seja, as transformações que ocorrem no ciclo de vida de qualquer indivíduo;
- Psicologia Jurídica, que se aplica ao campo do Direito;
- Psicopatologia, responsável por estudar o comportamento que foge da
normalidade, como o desenvolvimento de psicoses;
- Psicologia Aplicada ao Trabalho, que busca compreender como os indivíduos
se desenvolvem no campo do trabalho, respeitando-se a subjetividade;
- Psicologia aplicada à medicina, que auxilia os profissionais da saúde no
diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças de cunho psicológico.
No curso da história da psicologia desenvolveram-se escolas de pensamento
diferenciado, dentre os quais o Funcionalismo, o Estruturalismo e o Associacionismo.
O Funcionalismo considera que o objetivo da psicologia é ajustar o organismo
às demandas do meio ambiente, devendo se preocupar com as funções adaptativas
do comportamento e processos mentais, sendo seu principal interesse de estudo
compreender a utilidade dos processos mentais para o organismo.
O Estruturalismo explora as inter-relações entre as estruturas mentais e o
significado produzido por meio da cultura. Seus teóricos definem a psicologia como a
ciência da consciência, defendendo que a mente é a soma dos processos mentais.
Wundt (1832-1920) e seus colegas psicólogos declaravam que as complexas
experiências da mente eram estruturas construídas por meio de estados mentais
simples.
A Psicologia tem a psicanálise como uma tendência teórica, existindo também
outras teorias, dentre as quais o Behaviorismo S-R, (Stimuli-Respond) e a Gestalt. O
Behaviorismo, criado por Watson, possui aplicações práticas, destacando-se por ter
definido o fato psicológico por meio da concepção de comportamento (behavior).
A Gestalt cria-se postulando compreender o homem enquanto um ser holístico.
Enquanto teoria, a Psicanálise se caracteriza por conter um conjunto de
conhecimentos sistematizados que dizem respeito à vida psíquica. O método de
investigação que fundamenta a Psicanálise caracteriza-se por possuir uma forma
interpretativa, buscando compreender o significado oculto do que está representado
por meio de ações, palavras ou produções imaginárias. Classificam-se como
produções imaginárias, os sonhos, delírios, as associações livres, os atos falhos
(BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2001). A análise busca o autoconhecimento,
reconhecendo-se a cura por meio desse autoconhecimento.

CONCLUSÃO
Na conjuntura atual, momento de aprofundamento da crise do capital, a
educação se insere no rol das políticas de cunho social e acaba sendo uma das mais
afetadas pelas estratégias de desmonte promovidas pelas reformas neoliberais. A
educação é um complexo constitutivo da vida social e das formas de reprodução do
ser social, dimensão que contribui para produção e reprodução das condições
necessárias ao processo de acumulação incessante do capital.
É, portanto, um amplo espaço de embates e interesses contraditórios, no qual
o capital tem se utilizado como forma de manipulação das massas populares, se
revelando como palco onde figuram interesses diversos. Neste contexto, o Psicólogo
demarca seu trabalho e se compromete, juntamente com outras categorias de
educadores que convivem no seio da escola, a desenvolver um trabalho de orientação
profissional.
A análise da conjuntura social, à luz dos referenciais teóricos citados no
trabalho em tela, leva-nos à constatação de que as universidades se subordinam à
lógica do capitalismo, não escapando aos ditames do capital. Não obstante essa
lógica capitalista atravessa-se um período de transformações culturais que
influenciam na mudança de atitudes e comportamentos dos jovens e adultos, os quais
refletem na realidade do entorno escolar. Essa questão, além de outras rupturas faz
com que os educadores busquem apoio em vários profissionais técnicos que estão
nesse ambiente, dentre os quais, o Psicólogo.
Ressalta-se que o exercício profissional do Psicólogo na educação se integra
ao trabalho dos outros educadores, buscando contribuir para a melhoria do processo
de ensino e aprendizagem. Sendo assim, sua presença é relevante e necessária, pois
a educação além de cumprir com o papel social de educar e transmitir conhecimento
se incumbe também de responder às problemáticas sociais apresentadas pelos
alunos.

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