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Revisão
André Luís Masiero
edue © Í ditora
São Paulo
2004
Ficha c a ta lo g ráfic a elaborada pela Biblioteca Reitora N adir G ouvêa Kfouri / PUC -SP
ISBN 8 5 -2 8 3 -0 3 0 0 -4 (Educ)
ISBN 8 5 -2 4 9 -1 0 8 8 -7 (Cortez)
Direção
Maria Eliza Mazzilli Pereira
Denize Rosana Rubano
Produção Editorial
Magali Oliveira Fernandes
Preparação e Revisão
Tereza Lourenço Pereira
Editoração Eletrônica
Artsoft Informática
Capa
Sara Rosa
Realização: Waldir Antonio Alves
educ
Rua Ministro Godói, 11 97 Rua Bartira, 3 1 7 - Perdizes
0 5 0 1 5 -0 0 1 - São Paulo - SP 0 5 0 0 9 -0 0 0 - São Paulo - SP
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APRESENTAÇÃO
Marina M assim i
Marina Massimi
Professora Associada do Departamento de Psicologia e Educação da
FFCLRP-USP - Campus de RibelrSo Preto. E-mail: mmarlni@ffclrp.u8p.br
SU M ÁRIO
(Foucault, 1991, p. 7)
' Sflo multas as polêmicas acerca do sentido a atribuir aos termos multidiscipli-
ntr, plurldlsclptlnar, Interdisclpllnar e transdisciplinar, e uma análise detalhada des-
taa, no momanto, axcadarla oa limites do texto. A opção pela expressão multiV
lnt*rdl»olplln§r dacorra da Anfaaa oolooada am uma daaa]6val "indisciplina", em
faoa do paradigma aapaelflolata até antlo hagamflnloo.
14 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS
2 Nesta seqüência, Louis Dumont é outra referência central. Cabe destaque, ain
da, à fertilidade de desenvolvimentos teóricos que se deram nesta linha, em nosso
país, com Gilberto Velho, Roberto Da Matta, Jane Russo e Luís Fernando Dias
Duarte, para citar alguns.
HISTÓRIA E PSICOLOGIA: UM ENCONTRO NECESSÁRIO E SUAS "ARMADILHAS" 19
i
/
f Enquanto privilegiarm os o epistem ológico e o técn ico , em detrim en-
( to do histórico (político e m icro -p olítico ), não estarem o s, necessa-
^ riam en te, legitim ando sab eres-com petências-dom inações, ao invés
Nde análise e intervenção social? ( 1 9 9 9 , p. 4 1 )
Considerações finais
Referências bibliográficas
De/se Mancebo
Professora titular e pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro; doutora em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia
Unlvcraldadt Católica de São Paulo.
Il
AS IDÉIAS PSICOLÓGICAS NA PRODUÇÃO
CULTURAL DA C O M P A N H IA DE JESUS NO BRASIL
DO SÉCULO X V I E XVII
Marina M assim i
1 Com efeito, assim como muitos entre os europeus que vieram para as Arriéri
ons, os jesuítas chegaram ao Brasil carregando consigo fermentos milenaristas
qua, expressivos da crise cultural e social da Europa quinhentista, levavam-nos a
•iperança de que aqui, no Novo Mundo, seria possível realizar o que fora impossí
vel em seu contexto de origem. As Américas seriam, então, o contexto onde seria
possível realizar a "utopia". Nesta perspectiva, a criação de escolas seria um dos
namlnhos para possibilitar a realização do ideal preconizado. Tal objetivo fora re
forçado pela constatação - após alguns anos de experiência com os índios brasilei
ros -, de que estes não seriam propriamente tabula rasa, como era esperado; pelo
oontrárlo, eram portadores de uma cultura e de um ethos muito diferentes, e às
vezes radicalmente opostos à cultura e aos valores religiosos e morais dos euro
peus, conforme é documentado pela correspondência jesuítica escrita do Brasil ao
longo do século XVI (Massimi et alii, 1997). Daqui nasceu a necessidade urgente
(!• orlaçâo de escolas para formação dos meninos, pois na tenra idade seria mais
ftoll Inoulcar neles os caracteres da nova humanidade que se pretendera moldar. E,
OOm •falto, o resultado foi surpreendente, pois em poucos anos os jesuítas conse-
|Ulram construir a tornar operativas uma rede de Instrução de primeiro, segundo e
Uroalro grau* na» dlvaraaa raglOtt da tua presença missionária no pata.
30 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS
4 Uma análise das fontes citadas pelos comentaristas pode fornecer uma idéia
mais concreta acerca da estrutura do conhecimento psicológico proposta pelos
filósofos jesuítas, verdadeira e complexa síntese entre antigos e modernos.
No comentário ao De Anima, por exemplo, além de outros tratados aristotélicos,
Oltam-se, entre as fontes médicas, desde Hipocrates e Galeno até o anatomista
msdleval Realdo Colombo e o mais recente trabalho de Vesálio (De fabricatione
oorporis humani). Entre as fontes filosóficas, citam-se juntamente aos mestres
Oláaaicos e medievais, Platão, Cícero, Agostinho, Alberto Magno, Santo Tomás e
Puna Scot, autores modernos, tais como o referido Nicoló Pomponazzi, os filóso-
foa humanistas Simone della Porta, Pico delia Mirandola e Costantino Nifo.
* As origens históricas dos tratados Conimbricences remontam aos 10 de setem
bro de 1555, quando, por decreto régio, ao Colégio das Artes de Coimbra fora
•ntrague a responsabilidade da Companhia de Jesus. Todavia, somente em 1592
fol Impresso o primeiro tomo do Curso, na tipografia de Antônio Mariz, de Coimbra,
QOm 0 título Commentaríi Collegii Conimbricensis Societatis lesu in octo libros
Phyalcorum Aristote/is Stagiritæ. Em 1593, foram impressos vários outros tomos,
•ntra 08 quais alguns dedicados à discussão das obras psicológicas de Aristóteles:
If) Libro Aristotelis qui Parva Naturaiia appellantur H 04 p.), In Libro Ethicorum
Arittotelis ad Nichomacum (95 p.), todos em Lisboa, na Oficina de Simão Lopes.
Noa anos sucessivos, foram aparecendo os demais textos, sendo o De Anima e o
Anima Separata impressos em 1598. O autor anônimo dos tratados parece ter
\ lido na maioria dos casos o padre Manuel Góis.
I A Influência dos conimbricences no século XVI foi muito grande, chegando a atin-
I fir Daicartes e Leibniz (cit. Andrade, p. XXII).
: • Naases comentários, aparece uma discussão que atravessa todo o aristotelis-
t (TIO renascentista, na qual se explicita a divergência entre a interpretação humanista
Aristóteles e a leitura medieval. Em 1516, o filósofo italiano Pietro Pomponazzi
•leravara o Tractatus de immortalitate animæ, cuja tese defendia a impossibilidade
I 0 1 damonatrar filosoficamente a imortalidade da alma segundo os princípios de
Í
ltòtalaa. Com efeito, definindo aristotelicamente o homem enquanto corpo anima-
I • alma enquanto forma da matéria, esta possuiria a mesma qualidade de corrup-
lldada da matéria a, portanto, ela mesma seria mortal. A tese de Pomponazzi
lltlonara aaalm a conoapçlo da concordância existente entre a filosofia aristoté-
| • vlalo orlstl, pola o arlatotallamo, aagundo Pomponazzi, afirmaria uma dou-
Hi contrária ao dogma orlatlo da Imortalidade da alma humana.
32 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS
Ante esta polêmica, os jesuítas tiveram que se posicionar, assim como os demais
filósofos da Segunda Escolástica. A opção foi de defender a enciclopédia aristoté-
lica em sua unidade e aprofundar a leitura e a interpretação de Aristóteles. Acaba
ram, assim, propondo um novo aristotelismo, elaborado principalmente nas univer
sidades espanholas, do qual Francisco Suarez (1 5 4 8 -16 1 7 ) fora o representante
mais significativo. Autor das Disputationes metaphysicæ (1 5 9 7 ), publicadas em
Salamanca, e que tiveram dezenove edições entre 1597 e 17 5 1 , Suarez aborda a
questão da relação entre ser finito e ser Infinito, afirmando a possibilidade de tratar
ambos de modo independente um do outro. Portanto, o problema de Deus e o
problema do mundo criado, da Teologia e da Filosofia Natural, podem ser tratados
de forma autônoma. O ser finito é aquele que o poder de Deus constitui na existên
cia real. Deus é o ser por essência; as criaturas são seres por participação e por
dependência de Deus. O ser das criaturas enquanto criado é participação ou imita
ção do ser de Deus e, portanto, depende de Deus essencial e intrinsecamente.
Nesse sentido, a criatura é analogia com o seu Criador. O ser das criaturas pode ser
comparado ao ser de Deus, já que é participação deste. A conseqüência da posição
de Suarez, no plano da teoria do conhecimento, é a divisão da Metafísica em três
partes: a Teologia Natural, a Psicologia Racional e a Cosmologia. A Metafísica é a
Filosofia primeira, ou seja, a que enuncia os princípios comuns de todas as ciên
cias; seu objeto é o ser real e o seu domínio abrange todos os seres.
Os Comentários Conimbricences são elaborados paralelamente à elaboração da
filosofia suareziana, refletindo, portanto, a problemática acima apontada e deixan
do em aberto as soluções possíveis.
7 Esta posição faz parte de um projeto de renovação da Filosofia proposto pelos
padres de Coimbra. A condição para enfrentar a res filosofica é a ordenação da
vida, pois as faculdades cognitivas não funcionam bem se antes não tiverem
adquirido a vis morai.
8 Os Comentários Conimbricenses à Moral a Nicômaco, impressos em Lisboa em
1 593, foram elaborados por Manuel de Góis, que, servindo-se dos manuscritos
correntes nas aulas dos jesuítas em Portugal (ex. Pedro Luís, 1567; Lourenço Fer
nandes, 1 5 7 5 -1 5 7 8 ) e de outros comentários impressos, redigiu o texto.
AS IDÉIAS PSICOLÓGICAS NA PRODUÇÃO CULTURAL DA COM PANHIA DE JESUS 33
* As fontes citadas por Vieira são textos clássicos ou medievais, tais como a
Ítlc /1 a Nicômaco e a Retórica, de Aristóteles; a República, o Timeu e outras obras
d» Platão; os tratados médicos de Galeno e Hipocrates; a Cidade de Deus de
Aflostlnho de Hipona; a Suma Teológica de Tomás de Aquino; mas trata-se tam-
M m de textos produzidos pela cultura humanista e renascimental, tais como o De
Vlln triplici (1475) e a Theologia Platônica de Marsilio Ficino; o De Anima et Vita
Llbrl Tres (1538) de Luís Vives, entre outros. A teoria psicossomática tomista
•cerca das paixões parece constituir-se no fundamento principal da visão dos je-
RUftfls: dita teoria encontra-se formulada principalmente na Suma Theologica e no
trotado De veritate (nas Cuestiones disputadas).
No caso específico de Vieira, a influência da Retórica aristotélica (cf. o Livro II) é
tiara: por exemplo, a afirmação da determinação exercida pelas paixões sobre a
paroepçlo, o entendlmtnto t o juízo, formulada pelo grande pregador jesuíta no
IfCSho citado da 1 608, anoontra-te explicitada nos primeiros parágrafos do dito
ttNto arletotélloo, oonatltulndo-ae o oonhaclmanto e a modificação da disposlçio
emeelonal do ouvlnta numadia eondlpflai fundamental! para a afloáola do dlaourao.
34 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS
polícia, que estes, não lhes veio de terem naturalmente melhor en
tendimento, mas de terem melhor criação, e criarem-se mais politi
camente" (1988, p. 240).
De modo semelhante, declarava José de Anchieta numa sua
carta: "os filhos dos índios criados nisto ficarão firmes cristãos,
porque é gente que por costume e criação com sujeição farão dela
0 que quiserem" (carta de 1 557, ed. 1988, p. 159).
O homem em sua origem é, portanto, uma tabula rasa, e o seu
desenvolvimento é um processo em que esta tabula poderá ser
preenchida, dependendo do projeto de homem e de sociedade que
lerá proposto e eventualmente imposto.
A apresentação clara desse pensamento pode ser encontrada
nos textos escritos já no século XVII por um jesuíta brasileiro, padre
Alexandre de Gusmão (1629-1725), pedagogo e literato, fundador
(Io Colégio de Belém, em Salvador da Bahia, autor entre outros do
tratado A arte de cr ear bem os filhos na idade da puerícia {1685a) e
da novela História de Predestinado Peregrino e de seu irmão Precito
(1685b).
Construído conforme o modelo dos tratados humanistas e re-
M ecentistas, A arte de crear bem os filhos abarca as várias dimen-
lõea da pedagogia. O objetivo do livro (de 387 páginas) é colocado
í já no Proêmio: a formação de um "perfeito minino, para que nos
ifW O S da Adolescencia chegue a ser hum perfeito m ancebo" ( 1685a,
. II). Ao definir a "puerícia" (infância) como o período da existência
R limana em que “ a creança (...) de sy nam tem acçam racional e,
, fitra viver, necessita do alheio socorro" (p. 170), Gusmão, reto-
mando Aristóteles, Tomás e os humanistas, apresenta uma visão
; d l criança como tábua rasa, “ disposta para se formarem nella qua-
§iQUer imagens" (p. 4). Encara assim a educação como um recurso
fundamental para o desenvolvimento infantil e para a formação do
i homem enquanto tal: "Conforme fo r a primeira doutrina, conforme
| primeira educaçam, que deres a vossos filhos, podereis conhecer,
f § que ham de vir a ser " (p. 2). De modo que Gusmão exorta os
; Iducadores a não desanimar ante a incapacidade de "lavrar" o me-
l^lno: nflo se deve atribuir as causas da ineficácia à personalidade
H ilt a , mas ocorre recorrer aos “políticos previstos nesta m atéria"
■tffci 139). Com efeito:
H r Nenhum mlnlno h» de tem ruim condlçam, que nem possa ser corre-
H f gtvaf » domeatloavel, Nam davam oa paya desamparar aos
H r flfhoa, qua aentlram da mia oondlçoana, deaconfiando da taxer net-
42 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS
itlo (itt hominis dignitate, de Pico delia Mirandola, invertera o sentido tradicional
rtlaplo entre ser e agir. A dignidade humana não residirá mais no ser, no lugar
| e homem ocupa no cosmos e que prescreve de uma vez por todas a direção de
I Cimlnho de formação; pelo contrário, o ser do homem nasce de seu fazer.
M l modo, o homem criado "nem anjo, nem demônio, nem celeste, nem terreno"
|erá dar a al mesmo, oomo "livre artifice", a forma que ele mesmo escolhe
b ti< 0 prooaaao eduoaolonsl 4 aaalm expressBo deste "fazer-se a si mesmo"
iW n em , parafraseando uma axprasslo do humanlata espanhol Luís Vives (em
Rimiau, 1983, v. 2).
44 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NO VO S ESTUDOS
Referências bibliográficas
Bibliografia
Marin* Maaaiml
Profaaaora Aaaoolada do Oapartamanto da Psicologia e Educaçlo da
PPCLRP-USP - Campua ds Rlbalrlo Prato. S-ma/h mmarlnaQffolrp.uap.br
Ill
C om que razão se poderá negar que não seja Filósofo, e bom Filóso
fo , aquele a quem Deus tiver participado um en ten d im en to perspi
caz, ainda que não tenha a m ínim a luz das platônicas e aristotélicas
ciências? (...) C om o se define a Filosofia? Não é a sua definição um
co n h ecim en to das cousas assim com o são? É sem dúvida que sim.
Logo, concluam os, se este conhecim ento pode te r um hom em de
bom discurso e claro e n ten dim en to , ainda que não te n h a cursado as
aulas, claro está que, sem a aprender, se pode saber Filosofia. (1 8 3 1 ,
pp. 2 9 -3 0 )
(...) não vivo tã o pobre, com o eles cuidam ; porque ainda conservo,
o m ais precioso que tive: que se no estado de m endigo m e puseram
os h om ens, estes só podem fa ze r o que p odem , e nunca podem
ta n to , q u an to querem ; a sua jurisdição não passa do caduco; e o
en ten d im e n to é potência da alm a, que, por ser im ortal, p erten ce ao
foro E terno, e d este, só Deus é juiz, e Senhor S up rem o. (Fl. 10)
(...) quatro hum ores, produto da com posição dos quatro elem entos,
de que necessita a criatura viv e n te para se conservar, que foram :
terra, água, ar e fogo; dando a terra a m atéria de que foi criado;
a á g u a , para a com posição da m assa; o ar, o refrigério para respirar;
o fo g o, para o calor natural. (Pereira, 1 9 3 9 , v. 1, p. 9 5 )
O Peregrino vai por onde há de achar cada dia novos co stu m es, e os
deve seguir e aprovar; e não repreendê-los; pois é mais razão aco
m odar-se ao uso da te rra , que p ertencer, e querer aos mais ao cos
tu m e da sua Pátria. Há de considerar que vai obedecer às leis que
achar estab elecid as, e não dar regra ao m a is 1, e que vai aprender, e
nâo ensinar. E peregrinando assim , se qualificará em um p erfeito
H erói, (Ib id em , p. 2 3 )
Ou, em outro trecho: "Quem não quer mais do que tem, logra
tudo o que deseja" (fl. 83).
Assim, a prudência - virtude por excelência no enfoque aris-
totélico-tom ista - não garante a felicidade, pois "não está na tua
mão evitar as desgraças" (fl. 83), mas "a conformidade tem mais
poder, para fazer ditoso o desgraçado, do que a prudência, para o
constituir venturoso" (ibidem). Não vale a posse das virtudes por
elas mesmas, se não forem acompanhadas pelos "teus rendimen
to s" úteis à sociedade.
Da mesma form a, a noção da estreita correspondência entre
higiene moral e higiene física, própria da teoria aristotélica e da
teoria dos temperamentos, é rejeitada:
nos parece virtu d e. Tudo são efeito s da tristeza; esta nos obriga a
seguir os partidos mais violentos, e mais duros; raras vezes nos faz
refletir sobre o passado; quase sem pre nos ocupa em considerar
fu turos; por isso nos infunde te m o r e covardia, na incerteza de acon
tec im en to s felizes ou infaustos; e verd ad eiram en te a alegria nos
governa em fo rm a, que seguim os com o por força os m ovim entos
dela; e do m esm o modo os da tristeza. (Eça, 1 9 9 3 , pp. 8 8 -8 9 )
Por m ais, um a razão sem exercício, e pela m aior parte já corrom pida
por costum es e usos brutais, além de apático, o deve fa z e r tam bém
es tú p id o . F alta de razão ap u ra d a , fa lta de p re c a u ç ã o . É com o
o anim al silvestre, seu com panheiro: tudo o que vê, p od e, talvez,
atrair-lhe a aten ção ; do que não vê , nada lhe im porta. Para ser feliz,
o hom em civilizado precisa calcular, e uma a ritm ética, por mais gros
seira e m anca que seja, lhe é indispensável. M as o índio, bravo, sem
bens e sem dinheiro, nada te m que calcular, e todas as idéias abs
tratas de quan tid ade e núm ero, sem as quais a razão do hom em
pouco difere do instinto dos brutos, lhe são desconhecidas. (Ibidem)
Referências bibliográficas
Bibliografia
Mtrin» Maaslml
Profusora Asaoclada do Departamento de Psicologia e Educação da
PPCLRP-U8P - Ctmpui d l Rlbelrlo Prato. E-m§ll\ mmarlna@ffolrp.uap.br
IV
FR AG M E N TO S PSICOSSOCIAIS NA HISTÓ RICA
C O N S TR U Ç Ã O DA IDENTIDADE N A C IO N A L
Elizabeth de Melo Bomfim
U
fcíiàSLS-1
74 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS
A id en tid ad e nacional
R eferências bibliográficas
Teses localizadas
Personalidades
A EDUCAÇÃO DE GORA,
SHail)*!'
«■ fH E C IK X O MO RAI., P O L IT IC O , B R W iC I O K » ,
mi»m*BoKoxsfctnrmo
DR. JOSÉ LINO COUTINHO,
E PUUI.ICADAS P0 R
IKVESTIGAÇ0ES
fcs
P S Y C H O L0 G ÏA
\m anu»,
TVFOGRAfíllA DE E. PEDROZA,
Kiu Cajúüíí o. *».
I«í$4. Figura 2 - Folha de rosto do livro In
vestigações de Psicologia. Autoria de
Eduardo Ferreira França.
NINA RODRIGUES
ÀS
COLLECTIVIDADES
ANORMAES
Prefacio e Notas de
A rth u r R am os
'■ B - 5 . ■: c .
n /Mel-
BÎBLÏOTHHCA DH LHVULGAÇAQ SCIENTÍFICA
DmrciDAHaoprov. Du. Arthur K am os ~ Vo»,. 19
CIVIL1ZAÇAO B R A SILE IR A S. A. - EDITORA
Rio deJaneiro
1 9 3 9 Figura 4 - Folha de rosto do livro
A s Collectividades Anorm aes.
Autoria de Nina Rodrigues
R eferências bibliográficas
que dirigiu esse centro por cerca de quinze anos. Não há registros
sobre a produção desse laboratório, embora em suas obras de Psi
cologia e Pedagogia seu diretor fizesse referência às pesquisas lá
realizadas. Curiosamente, nessas obras, o autor apresenta uma bem
argumentada crítica às pesquisas realizadas em laboratório; para
ele, as condições restritas e artificiais deste não permitiam a apre
ensão da complexidade e das múltiplas determinações do fenôm e
no psicológico, especialmente do pensamento, visto por ele como ;
função psíquica superior. Bomfim considerava o psiquismo como <
um fenôm eno de caráter histórico-social, devendo ser estudado
segundo o m étodo interpretativo, o qual deveria recorrer ao estudo j
de suas múltiplas manifestações, dando especial atenção à imensa .j
obra humana forjada ao longo da história. É im portante lembrar que
Bomfim não foi um partidário do escolanovismo, embora sua produ- ;
ção nesse âmbito fosse eminentemente voltada para a psicologia i
da educação, podendo ele ser considerado, por sua obra em geral, |
como um intelectual que não se alinhava ao que era hegemônico na
época.
Outros laboratórios foram criados em Escolas Normais, princi
palmente vinculados às denominadas Reformas Estaduais da Edu*
cação dos anos 20, realizadas por aqueles que personificaram os>
primeiros profissionais da Educação no Brasil, dentre os quais aN
guns dos pioneiros da Psicologia, como Lourenço Filho e Isaías
Alves. Essas reformas seguiam fundamentalmente os princípios d#i
Escola Nova, tendo a Psicologia como um dos principais sustentât
culos para a prática pedagógica, envolvendo estudos sobre desen*
volvim ento infantil, processos de aprendizagem, relações entre pro*
fessores e alunos, além de dar início ao emprego de técnicas oriun*]
das da Psicologia, como os testes pedagógicos e psicológicos, utHj
lizados como instrumentos de racionalização da prática educativa. 1
Dentre outras, destacam-se as Escolas Normais de São Paulo, For-1
taleza, Salvador, Recife e Belo Horizonte.
As Escolas Normais foram também base para o ensino de
Psicologia, e continuaram sendo após os anos 30, pois foram elas
os alicerces para as futuras seções de Pedagogia das Faculdades de j
Filosofia, Ciências e Letras - FFCL, nas quais a Psicologia se esta»
beleceu como matéria de ensino superior, concom itantem ente ao
que ocorria nas seções de Filosofia. Como já foi dito, nessas esco*
Ias foi introduzida a disciplina Psicologia e Pedagogia, um dos malt
Importantes meios pelos quais s clèncla pslcológloi • • difundiu • t i
A PSICOLOGIA NO BRASIL NO SÉCULO XX 115
Publicações
Ensino
A p lic a ç ã o
E stu d o s e p e sq u isa s
Referências bibliográficas
Introdução
Segundo Bernardo,
N o e m y da S ilveira R u d o lfe r (1 9 0 2 -1 9 8 8 )
O sw a ld o de B arros S a n to s (1 9 1 8 -1 9 9 8 )
Referências bibliográficas
Bibliografia
p r e c o n c e it o e o e r r o , o f a n a t is m o d a o p in iã o p a r t ic u la r q u e s e fa z
p a s s a r p o r v e r d a d e ir a e s e ju lg a t a l s e m r a z ã o . N ã o é p o r c u lp a s u a
s e a s u a c r í t i c a lh e d e ix a a s m ã o s v a z ia s : d e f a t o , n a d a é m a is q u e
" o p i n i ã o " n u m m u n d o in c e r t o . ( K o ir é , 1 9 6 3 )
0 p r im e ir o e ra o d e ja m a is a c o lh e r a lg u m a c o is a c o m o v e r d a d e ir a
q u e e u n ã o c o n h e c e s s e e v id e n t e m e n t e c o m o t a l; is t o é , d e e v it a r
c u id a d o s a m e n t e a p r e c ip it a ç ã o e a p r e v e n ç ã o , e d e n a d a in c lu ir e m
m e u s ju í z o s q u e n ã o s e a p r e s e n t a s s e t ã o c la r a e t ã o d is t in t a m e n t e a
m eu e s p í r it o , que e u n ã o t iv e s s e nenhum a o c a s iã o de p ô - lo em
d ú v id a .
(...) o m étod o científico que levou à dom inação cada ve z mais eficaz
da natureza passou assim a fornecer ta n to os conceitos puros como
os instrum entos para a dom inação cada vez mais e fic a z do hom em
pelo hom em através da dom inação da natureza. (A pud Haberm as,
1 9 6 8 /1 9 8 0 , p. 3 1 5 )
Ainda que isso seja importante, acredito todavia que não seja»,
suficiente, já que a própria convergência dos significados que t r
com unidade psicanalítica empresta aos term os que designam»,
os elementos teóricos centrais está colocada am questfio. Isso é
PSICANÁLISE, PSICOLOGIA E CIÊNCIA 225
3 No original: "With relation to unity and diversity o f our field, we have tried to
show that these different paradigms are irreducible to one another, since there is
no agreement between them about general premises (which they do not share) or
about experience (which Is not seen in the same way). It Is not easy to say either
whether they HMtfl In llm» to greater convergence or Increasing differentiation
226 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS
Referências bibliográficas
Introdução
Existe uma pergunta que acaba sendo feita de forma muito fre
qüente, em diferentes épocas sucessivas: quem foi o primeiro a aplicar
a técnica psicanalítica no Brasil? Aparentemente, a resposta a encon
trar pode ser fácil: foi quem primeiro aplicou na sua clínica o método
de Freud. Se for assim, após alguns vacilos de dados coletados, a
prioridade foi sendo cada vez mais regredida cronologicamente.
De início, foi atribuída a Durval Marcondes. Virgínia Bicudo
(1948), autora de um dos primeiros estudos sobre a história da
psicanálise em São Paulo, deu a prioridade da clínica psicanalítica a
Durval Marcondes, no período autodidático referente aos anos 20
até meados dos 30. Em outro estudo ainda mais elaborado do que
a da professora Virgínia Bicudo, Galvão (1967) estabeleceu os prin
cipais fatos e personagens da psicanálise em São Paulo: Franco da
Rocha, no plano teórico, e Durval Marcondes, no plano do exercício
da prática clínica psicanalítica.
Depois de algumas décadas, questionou-se essa prioridade
atribuída a Durval Marcondes e passou-se a considerar os médicos
cariocas (ou estabelecidos no Rio de Janeiro), sobretudo, porque se
passou a pensar em Brasil e não mais em São Paulo somente. Foi o
caso de incluir outros precursores, como Júlio Porto-Carrero e, em
seguida, Juliano Moreira e Genserico A. de Souza Pinto. Tal traba
lho de pesquisa bio-bibliográfica foi desenvolvido, em duas etapas
complementares e sucessivas, pela dra. Marialzira Perestrello (1 987;
1992), que chegou a estabelecer a cronologia mais exata possível
da prioridade da aplicação da psicanálise no Brasil. Uma contribui
ção recente é a publicação do Dicionário biográfico da Psicologia no
Brasil (2001), que reuniu os principais pesquisadores de História da
Psicologia, no qual constam inúmeros verbetes com os precursores
da psicanálise, como os já citados: Juliano Moreira, J. Porto-Carrero,
Genserico A. S. Pinto, entre outros.
Ainda entre os primeiros estudos1 referentes à história da
Psicologia no Brasil, deve constar o de Lourenço Filho, que, ao
(...) foi o prim eiro a divulgar, entre nós, a teoria periférica das e m o
ções, de W illiam Jam es e Lang; dos prim eiros a escrever sobre
psicanálise e o primeiro tam bém a publicar um livro sobre testes
(Os te s te s , em 1 9 2 4 ); editou um volum e sobre hipnotism o, cujos
fu n d am e n to s estudou seriam ente, e em cujas técn icas se tornou
co nsu m ad o . (Ibidem , pp. 2 7 4 -2 7 5 )
(...) m as, aos poucos, com ecei a analisar atos falhados; fiz associa
ções de idéias sobre sonhos meus e pedi que as fizessem , perante
m im , outras pessoas, a respeito de seus sonhos; surpreendi-m e com
a chusm a de idéias sexuais que vinham , ao cabo da cadeia de idéias
associadas. A profundei m inha observação; reli os livros de que d u
vidava. A nalisei, por fim , um d oente e consegui-lhe a cura. H i mais
de doza anoa aatudo ou pratico a Psicané/isa. Tenho tirado o melhor
242 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: NOVOS ESTUDOS
resu ltado , com a m elhora ou a cura dos doentes que durante anos
se arrastavam de consultório em consultório. A penas seleciono meus
casos, não atendo a quaisquer solicitações, por mais vantajosas que
me pudessem ser econom icam ente, desde que tenha dúvida no êxito.
(Ibidem ).
Observações finais
Referências bibliográficas
Bibliografia