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Organizadoras: Ana Paula Megiani e Marcella Miranda

ACESSE GEHIM-USP

1
GEHIM-USP
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA / CÁTEDRA JAIME CORTESÃO

Ana Paula Torres Megiani


Marcella Miranda (Orgs.)
Coleção Cátedra Digital
..............................................................................................................................................

Edição: Pablo Oller Mont Serrath, Natalia Tammone, Marco Volpini Micheli
Projeto Gráfico: Danilo F. S. de Lucena
Diagramação e revisão: Natalia Tammone, Marcella Miranda
Capa: Os quatro filósofos, Peter Paul Rubens (1577-1640)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Caderno de resumos [livro eletrônico] : 1º


Colóquio Internacional : Cultura Política e
Artes de Governar : Séculos XVI-XVIII / Cátedra
Jaime Cortesão - USP. -- São Paulo, SP : Pensante,
2021.
PDF

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-993127-3-1

1. Cultura política 2. Ciências políticas


3. Ibérica, Península (Espanha e Portugal) - História
4. Política e governo. I. Cátedra Jaime Cortesão -
USP

21-77053 CDD-306.4
Índices para catálogo sistemático:

1. Cultura política : Península Ibérica : História


946.02

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Cátedra Jaime Cortesão- USP

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Apresentação

O Grupo de Estudos de História Ibérica Moderna (GEHIM) da Universidade de São Paulo pro-
moveu, entre os dias 13 e 16 de abril de 2021, o I Colóquio Internacional Cultura Política e Artes de
Governar no Mundo Ibérico (Séculos XVI-XVIII). Tratou-se de um encontro acadêmico entre pesquisa-
dores brasileiros, portugueses e espanhóis para divulgar e debater pesquisas atuais relacionadas aos te-
mas da cultura política e circulação de ideias e textos no mundo ibérico, entre os séculos XVI-XVIII. As
pesquisas apresentadas e as arguições revelam que o eixo temático proposto pelo colóquio se mantém
relevante e consistente no mundo acadêmico brasileiro e europeu. As pesquisas atuais também demons-
tram que o campo das culturas políticas na época moderna adquiriu mais plasticidade, tanto pelo diálogo
interdisciplinar com a literatura, história da arte, filosofia e teologia, como pelas contribuições mais
recentes dentro do próprio campo da história, principalmente os aportes inovadores da cultura escrita.
Os estudos sobre a circulação de pessoas, ideias e objetos no que se convencionou chamar de Primeira
Mundialização enriqueceram e ampliaram as fronteiras das culturas políticas, no plural, pensadas para
além dos cânones e dos clássicos, incorporando aqueles do andar de baixo, e mais além da velha Europa,
alargando os limites geográficos para as quatro partes do mundo.
A comissão organizadora do colóquio tem a satisfação de apresentar, neste volume, o resumo
das comunicações proferidas pelos professores e pesquisadores da pós-graduação e pós-doutorado que
se inscreveram no evento. As pesquisas foram divididas em cinco eixos temáticos: Sociedade, Inquisi-
ção e Governo na Monarquia Hispânica; Sociedade, Igreja e Governo no Império Português; Culturas
Políticas na Europa Moderna; O Antigo Regime na Península Ibérica; Cultura Escrita nos Impérios
Ibéricos e Milenarismo, Diplomacia e Exílio na Europa Moderna.

São Paulo, 12 de julho de 2021

Profa Dra Ana Paula Torres Megiani


Profa Dra Marcella Miranda
1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Sumário

Ágatha Francesconi Gatti ................................................................... 6


André Sekkel Cerqueira .....................................................................7
Bruno Romano Rodrigues ................................................................... 8
Carolina Vaz de Carvalho .....................................................................9
Caroline Garcia Mendes ......................................................................10
Daniel Carvalho de Paula ....................................................................11
Daniel Pimenta Oliveira de Carvalho ................................................12
Fernanda Deminicis de Albuquerque .................................................14
Francisco Fontanesi Gomes .................................................................15
Francisco José García Pérez ................................................................16
Héctor Linares González ......................................................................17
Ivan Luiz Chaves Feijó .........................................................................18
Janaina Guimarães da Fonseca e Silva................................................19
Leandro Ferreira Lima da Silva ..........................................................20
Marcella Miranda .................................................................................22
María Concepción Gutiérrez Redondo................................................23
Marcos Antonio Lopes Veiga ................................................................24
María Sol García González ..................................................................25
Marília de Azambuja Ribeiro Machel .................................................26
Michelle Carolina de Britto ..................................................................27
Ranieri Emanuele Mastroberardino....................................................28
Raphael Henrique Dias Barroso ..........................................................29
Régis Quintão ........................................................................................30
Tomás L’Abbate Moreira .....................................................................31
Verônica Calsoni Lima .........................................................................32
Victor Sciré Queiroz .............................................................................33

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Ágatha Francesconi Gatti


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: O Padroado régio português no Pós-Restauração. Justificativas e


sentidos para os rumos de um Estado em reconfiguração.

Resumo: A presente comunicação pretende refletir sobre como o discurso em


defesa do Padroado régio da Coroa lusitana se vinculou à política portuguesa de
fortalecimento do reino e de defesa de suas possessões ultramarinas na segunda
metade do século XVII. Nesse período, assistimos ao fortalecimento de uma Igreja
missionária romana, a qual paulatinamente se desenvolveu ancorada especialmente
na atuação da Sagrada Congregação ‘De Propaganda Fide’. Criada em 1622 pelo
Papa Gregório XV por meio da bula Inscrutabili Divinae, essa Congregação da
Cúria Romana recebeu a incumbência de, primeiramente, conhecer o estado da
cristandade nos mais distintos territórios devendo, posteriormente, impulsionar e
coordenar a expansão do Catolicismo entre os povos. O progressivo desempenhar
de suas funções deu ensejo a um longo – e por vezes tenso – debate entre Portugal e a
Santa Sé em torno do reconhecimento, por parte desta, das prerrogativas espirituais
asseguradas à Coroa portuguesa pelo direito de Padroado através de uma série de
bulas quatrocentistas e quinhentistas. Tendo como documento principal da reflexão
o Discurso Histórico, Jurídico sobre o Direito, que tem Sua Majestade de mandar
missionários, de não irem outros, sem seu beneplácito, e de Padroado nas Terras
das Conquistas desta Coroa de Portugal, atribuído a D. Luís de Sousa, embaixador
português na Cúria Romana entre 1676 e 1682, esta comunicação pretende, num
primeiro momento, identificar os argumentos centrais desse extenso arrazoado.
Feito isso, buscaremos identificar em que medida as justificativas utilizadas para
defender a legitimidade do direito de Padroado estão ancoradas em aspectos que
recuperam momentos cruciais da história de Portugal e de sua expansão ultramarina.
Por fim, tencionamos compreender o discurso formulado em defesa do Padroado
régio à luz da política portuguesa de fortalecimento do reino na conjuntura do pós-
Restauração.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

André Sekkel Cerqueira


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: Mais fortuna do que prudência: as críticas à Espanha em La Mothe


Le Vayer.

Resumo: A proposta da comunicação é analisar as críticas que F. de La Mothe


Le Vayer faz à Espanha no contexto da guerra entre este reino e a França (1635-
1659). Iremos analisar o Dialogue traitant de la politique sceptiquement (1632)
e o Discours de l’histoire (1638). Nessas duas obras Le Vayer tece críticas à
política espanhola e constrói uma defesa das políticas francesas que estavam sob
o comando de Richelieu. Dentre os conceitos mobilizados pelo autor, destacamos
o de prudência para uma análise mais aprofundada. Pretendemos, então, discutir
a noção do par prudência e fortuna não apenas na obra do autor, mas também na
literatura política dos séculos XVI e XVII. O conceito de φρονησις (phronésis)
aparece, inicialmente, na Ética Nicomaquéia, de Aristóteles. Na tradição latina, ele
foi traduzido por prudência e foi ressignificado por Cícero, que juntou à noção de
uma razão prática os valores da moral. O prudente, portanto, não é apenas quem sabe
tomar boas decisões, mas é aquele que toma boas decisões de acordo com o útil e o
honesto. A prudência passou por uma outra ressignificação na obra de Maquiavel.
A prudência deixou de ter uma relação com os valores morais e passou a significar
a virtù para se conquistar os objetivos desejados. Se em Cícero o orador prudente
não devia agir como a raposa e o leão, que representavam a fraude e a força, em
Maquiavel o modelo passou a ser justamente o da raposa e do leão. O modelo de
pessoa prudente em Aristóteles era Péricles, o lendário governante de Atenas. Para
Maquiavel, o modelo é Júnio Bruto, que simulou a estultícia e com isso foi capaz de
agarrar a oportunidade para acabar com a monarquia em Roma. Em La Mothe Le
Vayer não há um personagem modelo, porém os espanhóis são classificados como
imprudentes e praticantes do que ele chama de “razão de Estado”. Suas conquistas,
tanto de territórios quanto de riquezas, seriam o resultado das obras da fortuna e
não das decisões prudentes do governante. Pretendemos, então, entender qual é a
diferença entre razão de Estado e prudência e qual o papel da fortuna na política.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Bruno Romano Rodrigues


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: Sebastianismo além fronteiras: novos olhares sobre o messianismo de


D. João de Castro (1604-1605).

Resumo: O presente artigo recupera diferentes enfoques analíticos acerca do exílio


em busca de compreender a vida e obra do letrado lusitano D. João de Castro
(1550?-1628?), considerado o teorizador do sebastianismo durante a União Ibérica
(1580-1640). A análise de parte da bibliografia sobre a temática do desterro,
enquanto fenômeno social, servirá como guia para interpretarmos a Aurora da
Quinta Monarquia (1604-1605), uma das inúmeras obras escritas por Castro
durante sua estadia em Paris. O exercício reflexivo aqui proposto visa contribuir
com o debate intelectual que problematiza as origens do sebastianismo, sugerindo
que uma nova abordagem do messianismo português possa residir no mapeamento
das redes políticas e sociais estabelecidas em diferentes partes da Europa, e não
apenas dentro de Portugal, em fins do século XVI e início do século XVII.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Carolina Vaz de Carvalho


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: Uma “Galleria” em Roma, uma “Librería” em Huesca: Algumas


observações sobre dimensões políticas das práticas de colecionamento de
Vincencio Juan de Lastanosa e Athanasius Kircher.

Resumo: Um cavalheiro na península ibérica e um padre na península itálica.


A despeito das muitas diferenças, algumas paixões em comum moveram à
correspondência Don Vincencio Juan de Lastanosa, habitante de Huesca, no Reino
de Aragão, e Athanasius Kircher, germânico alocado no Collegium Romanum
da Companhia de Jesus, na cidade sede do papado – em especial, a erudição e o
colecionismo.
As coleções, no período moderno, se multiplicaram nas diversas regiões da
Europa, investidas de um reconhecido viés político. Uma instância das complexidades
das sociedades de corte, em sua multiplicidade de formas consolidaram-se como
lugar e como meio de articulação e precipitação de identidades de sujeitos e de
relações entre atores diversos, reafirmando ou sutilmente subvertendo códigos de
funcionamento do tecido social. Por meio do conjunto de práticas que envolviam
sua formação e manutenção – mobilização de redes de mecenas e colaboradores;
obtenção, reunião, ordenação, disposição e exibição dos objetos; produção e
divulgação de estudos baseados nos acervos; circulação de notícias e informações
entre curiosos ou colegas colecionadores; trocas de objetos “colecionáveis” como
presentes; recepção de visitantes e visitas às coleções de renome –, posições sociais
e relações de poder eram atualizadas e coletivamente reconhecidas ou desafiadas.
A proposta da presente comunicação é traçar comparações entre algumas
dimensões políticas das práticas de colecionamento de Lastanosa e Kircher,
com especial atenção a visitas de dignitários, buscando evidenciar elementos
compartilhados e elementos peculiares da cultura colecionista entre os contextos
de Roma e Huesca.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Profª Drª Caroline Garcia Mendes


Instituição: Modernitas – Universidade Estadual de Campinas

Título: O “Mercurio Portuguez” e a Guerra da Restauração: servindo ao


“bem público da Europa com as novas certas da guerra”.

Resumo: Nos últimos anos da guerra entre Portugal e a Monarquia Hispânica (1640-
1668), período conhecido como Restauração Portuguesa ou Guerra de Portugal – a
depender do lado em que se está da fronteira – começou a ser publicado em Lisboa
o periódico de notícias denominado Mercurio Portuguez. Os periódicos, que teriam
chegado à Península Ibérica em meados do século XVII, foram utilizados durante
todo o conflito para divulgar os movimentos dos dois exércitos e conseguir aliados
não só entre as populações dos locais afetados como também dos demais reinos
europeus. O Mercurio foi a primeira publicação portuguesa de notícias a estabelecer
uma periodicidade mensal, circulando entre os anos de 1663 e 1667. Nos últimos
anos do conflito, assim, Portugal tomou a frente da divulgação das notícias sobre a
guerra com o Mercurio, enquanto Madrid pouco publicava sobre o tema. As poucas
publicações castelhanas sobre a guerra, assim, foram respondidas prontamente pelo
governo português, e um dos principais veículos utilizados para isso foi o Mercurio.
Sua permanência ao longo dos anos e os recursos dispensados com sua publicação
– que poderia contar com mais de duas dezenas de páginas, a depender dos
acontecimentos e do interesse em abordá-los – denotam não só sua importância no
contexto da guerra mas também o reconhecimento da Coroa portuguesa em divulgar
informações que beneficiassem Dom Afonso VI e seu governo. Suas intenções, de
acordo com o autor Antonio de Souza de Macedo, seriam trazer a verdade sobre
as batalhas entre as duas coroas, desmentindo as ditas “invenções castelhanas”. A
análise sobre esse periódico, porém, demonstra outros interesses por trás de sua
publicação, como a exaltação do rei Dom Afonso VI, que acabara de assumir o
trono português. Essa comunicação tem o intuito, assim, de discutir as intenções
que moviam o secretário de Estado com a publicação do Mercurio, demonstrando as
principais “frentes” estabelecidas por ele ao escrever todos os meses sobre a guerra
contra Castela. Ainda que as batalhas tivessem destaque na publicação, pretendemos
demonstrar como suas páginas foram utilizadas para tratar do dia-a-dia do novo rei
e de suas qualidades, além de atacar o inimigo através da escrita, diminuindo suas
habilidades bélicas ou ridicularizando-o sempre que possível. 

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Daniel Carvalho de Paula


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: Léxico cortesão: apontamentos sobre uso e história de palavras


denotativas de nobreza no Antigo Regime ibérico.

Resumo: A comunicação pretende traçar apontamentos sobre uso e história de


palavras denotativas de nobreza,  identificando a construção dos seus diversos
campos semânticos na língua portuguesa e espanhola.  Através do estudo de
vocábulos que exprimem relações nobiliárquicas, como “amigo”, “vassalo”,
“suserano”, “criado”, “criatura”, “corte”, “cortesão”, “discernir”, “homenagem”,
etc., pretendemos contribuir com alguma luz sobre a questão dos expedientes
discursivos e lexicográficos de legitimação e confirmação da nobreza pela
língua no Antigo Regime ibérico.  Não faremos um histórico compreensivo
desse vocabulário, mas apresentaremos usos presentes em algumas obras, como
o Vocabulário Latino e Português (BLUTEAU, 1712-1728), Tesoro de la Lengva
Castellana, o Española  (COBARRUVIAS-OROZCO, 1611),  Diccionario das
Antiguidades de Portugal (FONSECA, 1779-1810), entre outras obras referidas
por estes autores. Buscar-se-á mapear o aparecimento e utilização desses termos,
cotejando, quando possível, o trajeto em inglês e/ou francês, na Época Moderna. Os
verbetes dos dicionários contêm notas e abreviaturas que se referem a autores e
obras, em sua maioria, portugueses e espanhóis, construindo uma densa malha
de referências. Pelo estudo “arqueológico” das camadas textuais que compõem
as entradas pode-se perceber o esforço em se produzir discursos e mobilizar
usos de um léxico propriamente cortesão de reconhecimento dos privilégios,
honras e mercês e obrigações do ser nobre pelos membros das cortes portuguesa
e espanhola, perante as quais era preciso provar lealdade e pertença (FRANÇA,
1997; MEGIANI, 2004). Prova da importância desses expedientes legitimadores
é a profusão de escritos de natureza lexicográfica que correram manuscritos e
impressos e procuravam atestar a nobreza, erudição e discernimento (saber o lugar
de cada coisa e pessoa) (BOUZA-ALVAREZ, 2000, 2001; CASTILLO-GÓMEZ,
2006; CURTO, 2007; MEGIANI, 2006: 231-250). Talvez o trabalho aqui lançado
não se preste a grandes explicações, mas, sim, tenha por resultado oferecer novos
subsídios e demonstração empírica de um fenômeno já extensamente trabalhado
pela historiografia especializada na cultura política ibérica do período. 

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Prof. Dr. Daniel Pimenta Oliveira de Carvalho


Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro

Título: Narrativas, informação e argumentação política: a divulgação da


Restauração portuguesa na chegada da primeira embaixada de D. João IV à
França.

Resumo: O estudo da interação entre atividades diplomáticas e a publicação de


livros, panfletos e periódicos na Europa do século XVII pode se revelar um viés
dos mais interessantes para que se observe o modo como a diplomacia, em pleno
desenvolvimento de suas práticas e competências neste período, punha em contato
diferentes mundos políticos, através principalmente do confronto entre culturas
políticas distintas. Esta possibilidade se aplica particularmente, neste caso, ao âmbito
da relação estabelecida entre agentes políticos e a publicização de informações e
argumentos. A reflexão proposta nesta comunicação partirá do exame do ambiente
editorial francês quando da chegada da embaixada extraordinária de Francisco de
Melo e Antonio Coelho de Carvalho em março de 1641. Trata-se de apresentar um
apanhado significativo das folhas de notícias e outros livretos que circulavam já na
França, ou cuja redação foi suscitada pela presença dos embaixadores, tratando da
Restauração do trono português e da aclamação do rei D. João IV, visando avaliar
os mecanismos operantes na formação das estratégias de publicação dos seus
representantes diplomáticos. Neste contexto, destaca-se a edição de um punhado
de narrativas e outros textos relativos ao golpe de Estado do dezembro anterior
e aos primeiros gestos do novo governo, compostos em tipografias provinciais
e parisienses, alguns deles inclusive incorporados a números da Gazette de
Théophraste Renaudot. Diante desta diversidade de impressos, torna-se necessário
não apenas comparar suas exposições dos acontecimentos e a construção de
seus discursos, mas também aquilo que se pode saber ou inferir sobre a gênese
e a circulação de cada um deles, de maneira a identificar convergências, pontos
sensíveis, e mesmo as repercussões e reflexões que sua leitura podia provocar.
Neste sentido, em primeiro lugar, a aparição de publicações sobre os eventos
portugueses em diferentes cidades da França convidará a não restringirmos nosso
olhar à paisagem editorial parisiense, e ainda menos a um universo de leitores

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

estritamente cortesão, para identificar os meios sociais interessados pelo assunto,


ou os públicos visados pela iniciativas editoriais associadas à diplomacia da
Restauração. Por outro lado, a análise das informações e documentos portugueses
publicados na Gazette atestará a centralidade do periódico de Renaudot no que tange
à recepção e à difusão pública de notícias e comentários sobre Portugal, assim como
o interesse que tinha a sua diplomacia em tirar partido daquele veículo para divulgar
a versão dos fatos mais adequada para o governo de D. João IV. Por fim, comparação
entre as diferentes publicações indicará como a propaganda do novo aliado podia
ativar discussões políticas indesejáveis para a coroa francesa, suscetíveis de afetar o
desenrolar das negociações diplomáticas nos meses e anos por vir, notadamente em
se tratando de suas definições de tirania e dos abusos de poder do rei espanhol como
fundamentos para a tomada do poder em Lisboa. Como poderemos vislumbrar, a
experiência dos agentes lusos com o problema da prevenção francesa em relação
a temas sensíveis evocados pela argumentação portuguesa seria de grande valor
para a sequência do trabalho de escrita e de publicação a serviço da diplomacia da
Restauração.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Fernanda Deminicis de Albuquerque


Instituição: Universidade Federal Fluminense

Título: Entre advertências e lembranças: discurso e finalidade em “Da fábrica


que falece a cidade de Lisboa”, de Francisco de Holanda.

Resumo: Em 1571, o artista luso Francisco de Holanda escrevia Da fábrica


que falece a cidade de Lisboa como uma “lembrança ao muito sereníssimo e
cristianíssimo rei Dom Sebastião”. Com formação humanística consolidada,
Francisco de Holanda circulou em diferentes localidades da Europa, detendo-
se em Roma para estudos que certamente refletiriam em sua obra pictórica e
escrita. Autor de diversos escritos que mobilizam conceitos filosófico-políticos,
Holanda reivindicava uma valorização da arte ou, nomeadamente, do que chamou
de “ciência do Desenho”. Esta comunicação versa sobre a obra referida, em que
Holanda formaliza advertências de largo espectro que visavam ao bem comum
da cidade de Lisboa, buscando inclusive, em suas próprias palavras, a “quietação
e paz destes reinos”. As proposições de Holanda abarcavam desde pavimentação
de calçadas, incremento de fortalezas e dispositivos militares, captação de água
através de construção de aquedutos e fontes que também poderiam embelezar a
cidade, palácios que deveriam ser dignos de Portugal, além da edificação de uma
capela e custódia para o Santíssimo Sacramento. Em geral, Da fábrica que falece é
classificada como um tratado de arte em que se destaca a arquitetura, prevalecendo a
preocupação com valores formais e estéticos advindos da península itálica. De outra
parte, a obra também é comumente tomada como fonte para amealhar informações
acerca do plano urbanístico da cidade de Lisboa naquela época. Contudo, também
pode ser examinada a partir de outras perspectivas: um arquétipo de cidade ideal
neoplatônica? Um arbítrio que propicia remediar os males causados por faltas
que compadecem a cidade? Uma análise de conjunto permite correlacionar as
proposições de Holanda com as noções de bem comum e de bom governo do rei.
Em outros termos, intervir no arranjo arquitetônico e estético da cidade é uma
ação necessária e competente a um rei virtuoso e comprometido com a “verdadeira
política”. Assim, o propósito desta comunicação é não apenas discutir os elementos
políticos mobilizados por Holanda para tessitura do seu discurso, mas também
investigar a própria natureza da obra enquanto representação pertencente a uma
cultura política, sua tipologia e finalidade.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Francisco Fontanesi Gomes


Instituição: Universidade Federal de São Paulo

Título: O retrato de corte e seus teóricos: Francisco de Goya e os teóricos do


retrato na península Ibérica durante os séculos XVIII e XIX.

Resumo: Esta apresentação propõe uma discussão sobre os retratos da família real
espanhola produzidos pelo pintor Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828) e a
ligação com teóricos da pintura que escreveram sobre o retrato oficial durante os
séculos XVI, XVII e XVIII e podem ter servido como modelo para o artista aragonês.
Esta proposta é um aspecto da pesquisa em andamento intitulada “Francisco de
Goya e os retratos de Maria Luísa, Carlos IV e sua família: a retratística de Estado
no contexto espanhol pós-revolução francesa”, que tem como objetivo realizar
uma análise histórica e artística de três retratos representando membros da família
real espanhola: Carlos IV como cazador (1799, Palácio Real de Madrid), La reina
María Luisa a caballo (1799, Museu do Nacional Prado) e La familia de Carlos IV
(1801, Museu Nacional do Prado). Para esta comunicação, propõe-se a análise dos
tratados de teóricos importantes da pintura no mundo ibérico, como Francisco de
Holanda (1517-1585), Vicente Carducho (1578-1638), Francisco Pacheco (1564-
1644) e Johan Lavater (1741-1801). É importante frisar que Holanda, Carducho
e Pacheco também foram importantes artistas que marcaram presença na corte
espanhola dos séculos XVI e XVII e podem ter servido como referência a Goya e
seus patronos reais durante os séculos XVIII e XIX. Já Lavater, foi responsável por
disseminar as ideias da Fisiognomonia, o que pode ter afetado a forma como Goya
produziu seus retratos de corte.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Prof. Dr. Francisco José García Pérez


Instituição: Universitat de les Illes Balears

Título: Los predicadores de Carlos II y la construcción del príncipe perfecto:


entre ideales y fracasos.

Resumo: Durante el último tercio del siglo XVII, los predicadores reales
continuaron una tradición ya veterana cuando se dirigían al monarca: enseñarle
el arte del buen gobierno. Con Carlos II, precisamente en un momento en el que
la Monarquía Hispánica se veía condicionada por las tensiones políticas, muchas
de ellas originadas durante el período de la regencia y el gobierno de don Juan, y
las guerras con Francia se estaban cobrando un precio cada vez más alto, aquellos
oradores continuaron insistiendo en la idea de que su rey podía convertirse en un
príncipe perfecto. De hecho, sus sermones contienen
numerosas referencias a cuestiones que ya estaban en boca de todos: desde la
presencia de ministros-favoritos alrededor del trono, el papel político que debía
desempeñar la reina madre, hasta llegar a la convicción de que tenía que ser el
propio soberano quien encabezase personalmente sus ejércitos, como único modo
de obtener la victoria. Esta comunicación pretende ofrecer una imagen doble sobre
el modelo de rey que los predicadores reales pregonaron desde los púlpitos y las
verdaderas circunstancias que rodearon a Carlos II durante sus años en el trono. Para
tal fin, se presentarán cuestiones que fueron ampliamente debatidas por aquellos
oradores áulicos, analizando hasta qué punto se trataba de imágenes fidedignas o,
en cambio, de ideales inalcanzables que reflejaban la realidad que ellos mismos
deseaban construir con sus palabras.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Héctor Linares González


Instituição: Universidad Autónoma de Madrid

Título: Gobernar por decreto y sin consultas. La concesión de mercedes de las


órdenes militares en el reinado de Felipe III, 1598-1621.

Resumo: En esta comunicación presentaremos de forma general la vía utilizada por


Felipe III para el despacho de las mercedes de encomienda de las órdenes militares
de Castilla a principios del siglo XVII. A diferencia de lo que la historiografía
tradicional sobre la administración y gobierno de los consejos de la monarquía
ha venido apuntando, los beneficios y honores de las órdenes no se estaban
concediendo por consultas de los consejos, sino por decreto ejecutivo regio, como
ya han apuntado, para otros sínodos, autores como Francisco Andújar, Domingo
Marcos Giménez, o Mª del Mar Felices de la Fuente. El caso de las encomiendas
militares, además, resulta del todo interesante, dado que en la tramitación de las
mismas intervenía tanto el Consejo de las órdenes como la Cámara de Castilla, en
la que, sobre todo, destacará como brazo ejecutor de la voluntad del soberano el
secretario del real patronato que, desde 1588, también ejercía como secretario del
consejo de las órdenes. En definitiva, en esta comunicación intentaremos mostrar
una panorámica general del entramado administrativo del honor y el privilegio.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Ivan Luiz Chaves Feijó


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: Um homem incomum: ilustração, profecia e mito na obra de um letrado


toureiro andaluz, Dom Josef Daza (1720-1785).

Resumo: Das escassas informações sobre José Daza, a maior parte das notícias que
temos foram fornecidas pelo próprio toureiro, por meio de sua única obra escrita,
que é também autobiográfica. Sabe-se que Daza nasceu em Manzanilla, um pequeno
povoado, pertencente hoje à província de Huelva. As atividades de Daza junto às
irmandades religiosas de sua região, os anais da Real Maestranza de Caballería de
Sevilla e os cartéis das corridas de touro, constituem-se nos principais indícios que
temos de sua vida. Portanto, baseando-se apenas em seu percurso como toureiro
e produtor de touradas para o clero, José Daza nasceu provavelmente no primeiro
terço do século XVIII, e segundo as informações que constam no seu manuscrito,
era de uma família com tradições equestres e teve sua primeira experiência com o
toureio aos onze anos. Em sua formação profissional, Daza foi discípulo de Juan
Merchante, membro de uma célebre dinastia de varilargueros. Atuou por todas
as regiões da Espanha, durante trinta e dois anos, em corridas de touros reais e
particulares. Daza foi contemporâneo dos maiores toureiros a pé do século XVIII,
como José Cândido, Costillares, Pepe Hillo e Pedro Romero, presenciando a
ascensão e glória dessa modalidade de toureio, e a decadência do toureio a cavalo
que ele praticava. 
Em 1778 envia sua eclética obra de mais de novecentas páginas para o rei
Carlos III, pedindo explicitamente ajuda real para alcançar seu êxito de publicação,
após serem frustradas todas as suas tentativas de edição da obra. Mas qual foi
a formação educacional de Daza? Como e onde ele adquiriu seu conhecimento
literário e sua erudição? 
É possível identificar na argumentação de Daza as ideias seiscentistas dos Novatores,
as argumentações nacionalistas de Benito Jeronimo Feijóo e a retórica de outros
ilustrados da primeira geração espanhola do século XVIII. Sua lógica está inserida
num contexto de crise, de um homem que se vê diante de um mundo que ele julga
desmoronar. Esse ignorado manuscrito de José Daza, por onde se descortinam

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos
diversos discursos elaborados por ele, é um documento surpreendente, uma obra
que dialoga com sua época, analisando publicação de livros, argumentos ilustrados
sobre os mais diversos temas, mas principalmente defendendo um conceito de
nacionalismo espanhol, integrado à uma retórica teológica muito específica. É uma
obra coesa, dotada de uma lógica narrativa muito particular, imersa num debate
pungente de um período conturbado e repleto de incógnitas, que Paul Hazard
contextualizou como sendo produto de uma grande crise, a crise da consciência
europeia.

Profª Drª Janaina Guimarães da Fonseca e Silva


Instituição: Universidade de Pernambuco

Título: Comércio e circulação de notícias e pessoas pela Capitania de


Pernambuco: o caso da família Fidalgo (1595-1626).

Resumo: Nesta comunicação será analisada a participação de cristãos-novos e


judeus portugueses nos negócios da Capitania de Pernambuco durante o Período
Filipino, mais precisamente entre 1595 e 1626, por meio da reconstituição de
suas relações a partir dos contratos e protocolos publicados sistematicamente pela
Studia Rosenthaliana, se apoiando também em alguns processos inquisitoriais
e documentações da Primeira e da Segunda Visitação do Santo Ofício às partes
do Brasil. A explanação sobre o funcionamento dessas redes se dará por meio da
descrição e análise da família Fidalgo, as trajetórias de seus membros e ramos do
comércio aos quais se dedicavam. Pretendemos assim compreender a dinâmica
específica desse período a partir da abordagem desses bem-sucedidos comerciantes.
A trajetória dos Fidalgo é de intensa relação com a Capitania de Pernambuco desde
fins do século XVI. Afonso Fidalgo foi um importante comerciante de açúcar, nascido
em Funchal em 1567. Em 1595 estava em Pernambuco, de onde fazia viagens
sistemáticas a Angola, para obtenção de escravos; era irmão de Diogo Mendes
Fidalgo, que vivia em Angola, e Rodrigo Fidalgo, estante em Pernambuco, ambos
envolvidos no comércio de açúcar e escravos. Tinha outros dois irmãos, Manuel
e Gabriel, descritos como menores de dezoito e dezesseis anos, na genealogia de

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos
seu processo, datada de 28 de abril de 1597. Tanto Afonso quanto Rodrigo foram
presos durante a Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil e levados
para Lisboa para processo. Os longos deslocamentos desses personagens, traziam
também notícias acerca da Inquisição, a vida na corte, dos preços que subiam
ou desciam, dos conhecimentos tecnológicos desenvolvidos e dos parentes e
amigos afastados. Essas notícias serão também aqui observadas.  Para a análise da
relação entre judeus e cristãos-novos nos parece importante pontuar que não era a
manutenção das práticas judaicas que unia estas pessoas, mas sim uma ascendência
comum, uma forte memória histórica, que os ligava independente de pertencerem a
classes ou religião distintas.

Leandro Ferreira Lima da Silva


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: Os carmelitas calçados da Bahia entre a Secretaria de Estado e


a Nunciatura Apostólica: a transferência da corte para o Rio de Janeiro e
inflexões da comunicação política (c.1773-c.1820).

Resumo: Sob D. José I e seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, Portugal
e seu Império assistiram não apenas ao aprofundamento, mas à sistematização
das políticas regalistas que já se vinham desenhando desde a primeira metade da
centúria. O fechamento dos noviciados, as restrições da posição da Igreja como
beneficiária de testamentos, a necessidade de prévia placitação de documentos
emanados pela Cúria Romana e seus representantes e as restrições à apelação de
clérigos e religiosos a instâncias que fugissem à alçada régia são apenas alguns
dentre os muitos dispositivos legislativos, novos ou renovados, que vieram à tona
àquele momento. Tudo embasado por um imenso arcabouço teórico patrocinado
pela Coroa. 
Sob as engrenagens do padroado colonial, não era incomum que conflitos
internos às ordens religiosas extrapolassem os muros dos conventos em busca de
protetores externos, tanto na colônia (como governadores ou vice-reis), quanto na

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos
metrópole (como secretários de Estado ou o próprio monarca). Alvo especial da
política regalista pombalina, as ordens religiosas se constituíram crescente alvo
de queixas entre os bispos e arcebispos na segunda metade do Setecentos e, neste
contexto, a busca por mediadores externos não deixou de converter-se em porta
de entrada para ingerências nestes institutos. Na década de 1780, o secretário
ultramarino Martinho de Melo Castro mostrou-se bastante aberto às recorrentes
queixas que cruzavam o Atlântico contra frades das mais diversas províncias e
ordens. Como resultado, por mediação régia junto da Nunciatura Apostólica em
Lisboa, muitos daqueles antístites foram nomeados visitadores e reformadores de
províncias regulares ao longo do território colonial. 
A transferência da corte para o Rio de Janeiro em 1808 parece, entretanto, ter
ensejado alguma inflexão nos canais de comunicação política entre as províncias
religiosas do Brasil e outras esferas decisórias de poder. É o que sugere uma
análise combinada entre os documentos sobre os carmelitas da Antiga Observância
da Bahia depositados no Arquivo Histórico Ultramarino e os documentos
referentes aos mesmos frades do Fundo Nunziatura Apostolica di Lisbona do
Arquivo Apostólico do Vaticano: enquanto os primeiros são abundantes (e os
segundos, escassos) nos registros que buscavam mediação externa de conflitos
e eventualmente desembocavam ingerências igualmente externas durante a
administração monárquica a partir de Lisboa, o quadro se mostra diverso após a
transferência da corte e da chegada do núncio Lorenzo Caleppi ao Rio de Janeiro.
Nesta comunicação, buscaremos analisar como o estabelecimento da monarquia
lusitana e da Nunciatura Apostólica no Brasil se viu acompanhada da vertiginosa
perda de espaço dos Secretários de Estado como interlocutores daqueles religiosos
e do exponencial aumento da busca direta pelo Núncio Apostólico como mediador
e delegado de conflitos num contexto de prosseguimento das políticas regalistas
que não abria mão do controle sobre o clero regular.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Profª Drª Marcella Miranda


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: O neoestoicismo e a prática da política: uma análise da obra El


Enbaxador (1620) de Juan Vera y Zuñiga.

Resumo: O propósito desta comunicação é apresentar um estudo sobre o pensamento


político contido na obra El Enbaxador, de Juan de Vera y Zuñiga (1586-1658).
O livro, que pertence ao gênero do diálogo, foi publicado pela primeira vez em
1620. O autor, quando viveu na corte em Madrid, fez parte do núcleo cortesão que
apoiava o conde-duque de Olivares. De fato, foi durante o valimento de Olivares
que Vera y Zuñiga alcançou o maior prestígio e reconhecimento da coroa, tendo
sido nomeado Conde de la Roca em 1627.
O autor foi um típico representante da nobreza que integrou o corpo
administrativo da Monarquia Hispânica. Cavaleiro da ordem de Santiago, começou
a carreira como militar e logo se tornou diplomata renomado, passando a maior
parte do serviço diplomático na Itália. Além disso, era um escritor talentoso, autor
de poemas, panegíricos e histórias, amigo de Lope de Vega, Cervantes e Quevedo.
O diálogo diplomático de Vera y Zuñiga é extremamente relevante porque trata-
se de uma das poucas obras da época que procurou discutir e teorizar a figura e, em
conseguinte, a função do embaixador. Com tantos espelhos de príncipes circulando
nas cortes europeias, de fato era novidade que se dedicasse uma obra sobre o cargo
de plenipotenciário, apesar de ser cada vez mais importante para as monarquias
europeias no desenrolar da Guerra dos Trinta Anos. O autor se apropriou do modelo
do príncipe neoestoico, muito em voga na Espanha por conta da disseminação de
autores como Justo Lípsio e Tácito. De fato, Vera y Zuñiga foi acusado por um
dos seus inimigos de ter plagiado Lípsio. Nos interessa compreender como o autor
interpretou os tópicos da linguagem da razão de Estado, em particular a prudência
e a dissimulação como base para construir o seu arquétipo do embaixador. Temas
esses que, no campo do pensamento político, são indissociáveis ao problema da
conservação do Estado, como testemunha o nosso autor: “Que no es bueno para
reinar quien no sabe fingir” (VERA Y ZUÑIGA, 1620: fol. 101v)

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

María Concepción Gutiérrez Redondo


Instituição: Universidad Nacional de Educación a Distancia

Título: Gobierno y traducción: “El Enbaxador” (1620) en la Francia de


Richelieu.

Resumo: Las transferencias culturales con el extranjero ponen de manifiesto que


unas culturas nacionales beben incesantemente de otras, y esto ocurre también
en momentos clave de  construcción de la cultura política propia. Así ocurre
entre Francia y España, potencias vecinas y rivales en la hegemonía europea en
la temprana Edad Moderna. La transferencia de ideas políticas estaba motivada
por la creación y el enriquecimiento del saber político, lo que a menudo incluía
el adoctrinamiento y la activación de la práctica política. Este proceso resultó
crucial para el cardenal ministro Richelieu en su objetivo de instruir y gobernar
los intelectos (esprits) franceses. A ello contribuyó un influyente texto generado
en el seno de la Monarquía de España, El Enbaxador (1620) de Juan Antonio de
Vera, el primer tratado en castellano sobre el oficio de embajador. El vehículo fue
la traducción del texto de Vera al francés como Le Parfait Ambassadeur (1635),
en realidad toda una operación de reescritura. Ocurría en un momento clave de
construcción de la cultura política francesa y su relato hegemónico, pues desde
1630 Richelieu se situó en la cima del poder, que conservó hasta el fin de sus
días. En esta comunicación se trata de reflexionar sobre el contexto francés de la
literatura política generada entre 1630 y 1635, en particular sobre los tratados de
gobierno, entre los cuales Le Parfait Ambassadeur tiene un buen encaje, lo cual
sirve para explicar el sentido de la traducción. 

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Prof. Dr. Marcos Antonio Lopes Veiga


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: Felipe II, a Inquisição da Galícia e a Monarquia Hispânica (1562-1609).

Resumo: O estabelecimento formal e definitivo do Santo Ofício da Inquisição em


Santiago de Compostela em 1574 revela como a instauração desse poder naquela
cidade serviu de espaço privilegiado para o planejamento e a execução de ações
religiosas e políticas estratégicas de Felipe II em relação aos cristãos-novos de
Lisboa. Revela também como esse espaço estratégico foi controlado e protegido
por seu contato com Europa do norte. As preocupações do monarca se voltaram para
a entrada pelos portos galegos, sobretudo pelo porto de La Coruña, de protestantes
e livros proibidos que pudessem circular livremente pelos espaços reinóis. Ao
mesmo tempo, e muito especialmente, as conhecidas conexões entre cristãos
novos peninsulares e conversos das regiões do norte europeu e do Mediterrâneo
levaram Felipe II, a Igreja, e a Inquisição, a criarem uma rede de barreiras,
mapeamento e seleção de pessoas, objetos, livros e moedas nos portos, estradas,
vilas e municipalidades. Essas preocupações se revelaram também através de uma
acomodação com as elites locais através da manutenção e incentivo de arranjos
político-clientelares, o funcionamento de uma rede de observação e comunicação
da circulação de certos grupos de cristãos-novos galego-portugueses, e um projeto
articulado de criação de edifícios de defesa militar. Dessa sorte, Santiago se tornou
uma de ‘antessala’ ou ponto privilegiado de observação dos interesses da corte de
Madrid e do Consejo de la Suprema Inquisición em relação ao reino lusitano. Trata-se
de refletir, portanto, como os primeiros anos de negociações e criação da Inquisição
na Galícia (1562-1574) coincidem com os movimentos antecedentes à instauração
do Pacto de Tomar e como o enraizamento e institucionalização da Inquisição de
Santiago guardam um parentesco com a união dos poderes peninsulares na figura
de Felipe II.

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Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

María Sol García González


Instituição: Universidad Nacional de Educación a Distancia

Título: El gobierno de las relaciones en el estado de Milán a principios del


siglo XVII.

Resumo: Scipio Di Castro escribía en su Relatione e instruttione per lo Stato


di Milano recogida en la primera edición del Thesoro político de 1589 que dos
consideraciones principales abrazan enteramente el gobierno de cualquier estado:
la primera sobre las cosas intrínsecas, la segunda sobre las extrínsecas. De estas
últimas el erudito napolitano señalaba el modo de “gobernarse con los estados
vecinos o la diligencia para penetrar en sus proyectos”. Además, en el gobierno con
los demás príncipes, siempre que la intención fuera mantener la paz, el gobernador
del estado debía procurar el lugar de moderador y árbitro, sin mostrar tal ambición.
Esta relación dedicada a uno de los gobernadores de Milán recogía principios
fundamentales de la práctica de gobierno y en ella además se percibía la inmersión
del autor en los debates sobre la razón de estado, refiriéndose al buen gobernador
como “aquel que querrá gobernar y no ser gobernado sino con la ragione”.
Dentro del actual trabajo de investigación, que estudia el ducado de Milán
como espacio político, la perspectiva que se pretende adoptar pone la atención en
el gobierno de las relaciones no solo como instrumento para gobernar el estado,
sino también, como recurso que el estado aportaba al gobierno de la Monarquía,
expresado a través de la negociación y la mediación. Además, el gobernador como
ministro del soberano era también sus ojos y oídos a través de los cuales podía ver
y remediar los problemas de su gobierno, podía prever y anticipar sus acciones.
En las instrucciones que recibían del monarca los gobernadores de Milán en el
momento de su nombramiento, se insistía en dar noticia puntualmente y tener una
buena inteligencia. La información constituía otro recurso esencial para gobernar la
Monarquía y sus intereses, no solo en el norte de Italia sino en el contexto político
europeo de principios del siglo XVII.
Si bien sobre el estado de Milán han predominado los estudios que identificaban los
recursos militares, y la gestión de los mismos como una característica fundamental que
hacía del ducado un territorio clave para la Monarquía de España, la perspectiva del
presente estudio, propone un análisis de recursos como la negociación, la mediación
o la información en el arte de gobernar y el papel estratégico que el estado de Milán
desempeñó en el gobierno de la Monarquía durante el periodo de 1618 a 1634.

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Caderno de resumos

Profª Drª Marília de Azambuja Ribeiro Machel


Instituição: Universidade Federal de Pernambuco

Título: O enviado de Luís XIV, Claude de Guénégaud Des Brosses, e a impressão


clandestina de um papel político durante a regência de D. Pedro de Portugal.

Resumo: Com o intuito de esclarecer a intrínseca relação entre propaganda e


diplomacia na cultura política do Antigo Regime português, a presente comunicação
visa promover uma reflexão sobre a produção e a difusão de papéis políticos como
parte integrante do processo de tomada de decisão na corte portuguesa durante
a segunda metade do século XVII. Para tanto, nos propomos a analisar o caso
do papel intitulado Advertencia que hum Ministro do Princepe D. Pedro lhe faz
sobre o Estado do Reyno de Portugal publicado clandestinamente em Lisboa no
ano de 1677 por Claude de Guénégaud des Brosses, enviado da França em Lisboa
entre os anos de 1675 e 1681. Tal impresso veio a luz no contexto da regência do
príncipe D. Pedro de Portugal (1668-1683), momento marcado pelo grande peso
político do partido francês na corte lisboeta e pela ambição da França de alcançar a
maior tutela possível sobre as decisões portuguesas em matéria de política externa.
Guénégaud que havia sido enviado a Portugal com a missão de obter do governo
português a deliberação por um rompimento da paz com a Espanha e a adesão
a uma liga contra as Províncias Unidas, aproveitando uma conjuntura específica
ligada ao início das negociações do Tratado de Nimega, lançou mão do dito panfleto
como instrumento de convencimento político. Escrito pelo próprio Guénégaud em
língua francesa, traduzido para o português pelo Pe. Rafael Bluteau e impresso
na residência do diplomata francês com uma máquina que ele havia secretamente
comprado de uma oficina de impressão não mais ativa, este papel, ao nosso ver,
serve como exemplo das formas de comunicação política então empregadas na
corte lusa. Com pequena tiragem e enviado diretamente a membros da primeira
nobreza próximos ao regente, tal panfleto, ainda que não tenha obtido os resultados
políticos esperados, revela como a produção desse tipo de peça propagandística era
parte integrante das estratégias de manipulação da opinião pública colocadas em
ato pelos representantes diplomáticos não só em Portugal mas nas principais cortes
europeias do Antigo Regime.

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Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Michelle Carolina de Britto


Instituição: Universidade Federal da Bahia

Título: Missões indígenas e governo episcopal na comarca diocesana paulista


(1680-1730).

Resumo: Esta comunicação discorrerá sobre as atribuições do chamado “bispo 


missionário” no tocante a conversão e catequese indígena na freguesia de
São Paulo, no  período de 1680 a 1700, por meio das consultas da Junta das
Missões do Rio de Janeiro e Conselho Ultramarino. Marcada pela presença de
missionários, notadamente os jesuítas,  e por ser uma zona de missionação, a
freguesia de São Paulo foi palco de inúmeros conflitos entre clérigos (regulares
e seculares), e entre clérigos e civis, pela jurisdição temporal e espiritual sobre
os indígenas. A expulsão dos inacianos da vila, em 1640, transferiu a jurisdição
espiritual e temporal dos nativos ao clero secular que deveria continuar a atividade
missionária junto aos índios e acelerar a conversão do gentio em consonância com
a política episcopal de Alarcão e as determinações tridentinas. A  organização
da estrutura paroquial diocesana e os inúmeros conflitos entre civis e clérigos,
muitas vezes intermediados pelo vigário da vara paulista, Pe. Mateus Nunes
da  Siqueira, resultou na fuga dos aldeados e, consequente, esvaziamento dos
núcleos missionários. Iniciou-se, assim, o processo de reposição da população
indígena das  aldeias que deveria ser conduzida pelos missionários e demais
membros do corpo clerical, uma vez que não afugentariam os nativos para os
sertões, sob a administração de um bispo missionário independente da diocese
do Rio de Janeiro. Cabe a nós refletir sobre as atribuições do chamado “bispo
missionário” e a “sua possível atuação” na circunscrição  eclesiástica paulista
em meio às tensões pelo controle dos indígenas e a necessidade de salvaguarda
e reforço da autoridade metropolitana na capitania oriunda das descobertas dos
veios auríferos na região do rio das Mortes. Procuraremos enfatizar também o
papel do bispo e do clero secular nas conquistas enquanto braços jurisdicionais
da Coroa na  América portuguesa e as possibilidades de distinção entre os
prelados “convencionais” e a categoria criada no âmbito da Junta das Missões
para solucionar os problemas referentes a missionação em São Paulo.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Ranieri Emanuele Mastroberardino


Instituição: Universidade Federal do Paraná

Título: À procura do bem comum e do triunfo da cristandade na obra Os


Lusíadas, de Luís Vaz de Camões.

Resumo: A presente comunicação visa abordar o pensamento político do escritor


português Luís Vaz de Camões (1524?-1580), na obra Os Lusíadas (1572).
Para tal fim, o livro será examinado como texto de aconselhamento, destinado,
especificamente, a D. Sebastião (1554-1578), governante do poeta. Baseado
nesse aspecto, consideraremos o autor como requerente a conselheiro oficial
desse monarca e a epopeia será considerada pertencente à literatura de espelhos
de príncipes. Caracterizada por uma gama de livros de conselhos em torno da
conduta dos soberanos renascentistas, a literatura de espelhos de príncipes,
também intitulada specula principis, contribuiu para a consolidação da instituição
monárquica, bem como para a divulgação de um modelo de governante, o qual
deveria encarnar preceitos políticos, sociais e religiosos da época. Nesse sentido, o
monarca ideal era aquele que possuía uma série de virtudes exemplares, conhecidas
como principescas, cardeais e cristãs. Diante dessa literatura política, pedagógica e
moralizadora, havia uma tentativa de instruir os soberanos, fazendo com que esses
alcançassem o caminho pessoal da glória, da honra e da fama, proporcionando,
na mesma medida, o bem comum da comunidade circundante (BUESCU, 1997;
GAMA, 2011; SKINNER, 1996). Tendo em vista essas ponderações, depreende-
se que, nas entrelinhas das recomendações, a mentalidade política de Camões
girava em torno do conceito de razão de Estado (REALE, 1977), na reconstrução
de Portugal do século XVI. Seguindo essa perspectiva interpretativa, percebemos
que D. Sebastião deveria agir na defesa do interesse público, com atos favoráveis
ao bem comum. No entanto, além de atender aos interesses da população e não
se restringir aos interesses pessoais, o monarca deveria proteger e expandir a fé
cristã, seguindo à risca os mandamentos provenientes do specula principis. Para
Camões, o ideal do bem comum caminhava paralelamente com o ideal do triunfo
da cristandade, na incessante luta contra os adeptos do islamismo. Sendo assim, a
religião não era um instrumento a serviço do poder, mas um aspecto que pertencia
à história, à política, à cultura e à vida portuguesa. Ao que tudo indica, o poeta
compreendia a esfera política e a esfera religiosa em pé de igualdade.

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Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Raphael Henrique Dias Barroso


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: A trajetória de Pedro de Mascarenhas como embaixador de D. João III.

Resumo: Ao longo dos reinados de D. Manuel (1496-1521) e de D. João III (1521-


1557) progressivamente na Europa, foram enviados embaixadores portugueses
com a função de “residir”, isto é, serem correspondentes do rei, permitindo
ampliar uma rede de comunicação que assegurasse as atividades dos governos.
Os embaixadores residentes tinham como missão essencial informarem o rei e
como tal, só eram autorizados a negociar em nome do monarca quando recebiam
instruções e credenciais para tanto. Funções restritas às cerimônias e consolidações
de tratados ou casamentos eram, na maioria das vezes, executadas por nobres e
ministros do governo, enviados de forma ordinária ou extraordinária, como condes,
duques e marqueses. Para esta apresentação, escolhemos investigar a trajetória do
embaixador Pedro de Mascarenhas (1495?-1555), terceiro filho de D. Fernando
Martins de Mascarenhas, alcaide-mor de Alcácer do Sal e de Violante Henrique,
dama da rainha Leonor, viúva do rei D. João II. Enviado às cortes da França em
1526, de Castela em 1530 e de Roma em 1538, Mascarenhas indicava ter muita
proximidade com o rei D. João III, servindo o mesmo como estribeiro-mor antes de
sua coroação. Embora não tenha sido nobilitado pelo monarca, recebeu inúmeras
mercês e benefícios, como as comendas das vilas de Trancoso e Castelo Novo.
Foi militar na defesa das praças do Marrocos, capitão das naus que levaram a
infanta D. Beatriz no casamento com Carlos II, duque de Savóia, e de frei Diogo
da Silva, durante a realização do Concílio de Trento. Além de ter sido mordomo-
mor do príncipe D. João (pai do futuro rei D. Sebastião) e Vice-rei da Índia em
1554, falecendo no ano seguinte. Fazendo uso de nobiliários, correspondências
entre o rei, embaixadores, secretários e núncios papais, além de alvarás e provisões
da chancelaria régia, esperamos com o trabalho refletir acerca do papel dos
embaixadores como instrumentos da monarquia portuguesa na organização das
atividades administrativas. Ademais, percorrer o trajeto de Pedro de Mascarenhas
nas cortes europeias permite compreender as estratégias e alianças de D. João III
no cenário geopolítico europeu de meados do século XVI.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Régis Quintão
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais

Título: A exploração dos diamantes e a conservação do patrimônio régio.

Resumo: Nos principais estudos sobre a sociedade e a administração dos


diamantes facilmente nos deparamos com a palavra corrupção, embora esta
nunca tenha figurado como objeto de pesquisa entre os especialistas da história
da região diamantina, em Minas Gerais. Em todo caso, a corrupção foi ali um
tema recorrente nos pensamentos, falas e escritos dos contemporâneos, incluindo
moradores da área demarcada, autoridades locais e lisboetas, além, é claro, da
própria Coroa portuguesa. Do ponto de vista teórico, as pesquisas mais recentes têm
debatido não apenas a aplicabilidade do conceito de corrupção e a identificação de
práticas ilícitas no período moderno, mas também a criação e o funcionamento de
mecanismos para se combater a corrupção. Nessa perspectiva, esta comunicação
tem como objetivo apresentar resultados de pesquisa em andamento sobre o
controle da corrupção no Distrito Diamantino, no século XVIII e nos primeiros
anos do século XIX. A partir, sobretudo, de fontes inéditas pertencentes a acervos
de diversas instituições portuguesas e brasileiras, analisamos as percepções coevas
a respeito de tal fenômeno, evidenciando seus principais aspectos morais e sua
relação com os interesses públicos e particulares, de acordo com as noções da
época. Assim, discutimos em que medida a corrupção poderia ser considerada mais
que um problema moral, dadas as suas consequências políticas e econômicas para
a conservação dos interesses régios, sobretudo o domínio sobre a exploração dos
diamantes do Brasil.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Tomás L’Abbate Moreira


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: Tommaso Campanella: Pensador da Monarquia Hispânica na virada


do séc. XVI ao XVII.

Resumo: Campanella (1568-1639) é um dos pensadores renascentistas mais instigantes,


mas, infelizmente, pouco estudado no Brasil. O dominicano calabrês compartilhou o
interesse de autores célebres do período, como Giovanni Botero e Justo Lípsio pela história,
pela política e pelo papel da moral e da religião na condução dos assuntos de estado
na Europa da Alta Idade Moderna. Autor de vasta obra, desde poemas, cartas, tratados
teológicos e políticos a livros sobre magia, astrologia e filosofia natural, Campanella foi
desde cedo um membro heterodoxo e combativo do clero regular numa Itália marcada,
no período, pela investida católica contra as heresias e contra quaisquer formas de desvio
em relação à ortodoxia tridentina. Processado e condenado como herege reincidente na
virada do século, Campanella passou quase trinta anos no cárcere inquisitorial e foi nessas
circunstâncias que o calabrês redigiu a maior parte de seus escritos. Dentre os principais
textos campanellianos, talvez o mais célebre à época foi a sua Monarchia di Spagna
(1620), na qual teorizou o estabelecimento de uma monarquia universal sob o poderio
espanhol. Tendo sido preso após envolver-se numa conjuração contra o “mau governo”
do vice-reinado espanhol em Nápoles, Campanella passaria as três décadas seguintes
paradoxalmente defendendo a autoridade do rei “das Espanhas”, embora submetida
àquela do papado de Roma. Vale notar, ainda, que sua teoria universalista do domínio
hispânico foi elaborada no período de União das Coroas Ibéricas e de avanço da presença
ibérica tanto no continente europeu como na América. A circulação, anterior à publicação
completa da obra, de um dos capítulos da Monarchia, o capítulo sobre a Flandres, renderia
ao autor católico certa notoriedade inclusive entre os “infiéis” e “hereges” do Norte, além
do epiteto de “segundo Maquiavel” e papista em alguns círculos protestantes alemães
e ingleses do meado do século XVII. Por outro lado, Campanella foi durante toda sua
vida um grande antagonista do “ímpio” florentino, inserindo-se numa longa e variada
lista de autores “antimaquiavelianos” que surgiram quando das assim chamadas Guerras
de Religião que assolaram o Ocidente europeu na virada dos séculos XVI-XVII. Por
fim, pode dizer sobre este pensador católico um tanto heterodoxo que, dotado de uma
perspectiva profético-milenarista e teológico-política muito particular, não deixa de ser
entretanto figura representativa da complexidade e da variedade de “vertentes”, ideias e
esperanças a povoarem uma história do pensamento e da cultura política na Itália e no
mundo hispânico do último quartel do Quinhentos e início do Seiscentos.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Verônica Calsoni Lima


Instituição: Universidade de São Paulo

Título: “Mene Tekel”: milenarismo e oposição à monarquia Stuart em


panfletos ingleses na época da Restauração.

Resumo: A Restauração de Carlos II ao trono inglês findou o período revolucionário


dos anos de 1640 a 1660, mas a volta à monarquia não apagou as experiências
políticas de outrora. A Inglaterra havia passado por: duas Guerras Civis; o regicídio
de Carlos I; uma república; um Protetorado; e o restabelecimento do poder dos
Stuarts. As constantes alterações de governo ampliaram a impressão e a circulação
de textos que apresentavam e discutiam diferentes projetos políticos. Nesse contexto,
panfletos anti-regalistas, publicados anônima e clandestinamente, desafiavam o
governo recém instaurado. Nesta comunicação, analisamos impressos oposicionistas
que combinavam expectativas milenaristas a perspectivas republicanas em suas
críticas à Restauração. Buscamos examinar como, a partir da Bíblia, três panfletos
profético-políticos, Mirabilis Annus (1660-1661), Mene Tekel (1663) e A Treatise
of the Execution of Justice (1663), rejeitaram a legitimidade da soberania régia, e
defenderam o direito à rebelião.

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1º Colóquio Internacional
Cultura Política e Artes de Governar. Séculos XVI-XVIII.

Caderno de resumos

Víctor Sciré Queiroz


Instituição: Universidade Federal de São Paulo

Título: Entre o campo de batalha e a corte: a educação da nobreza em um


tratado de duelo do século XVI.

Resumo: Quando analisamos as virtudes principescas e as teorias do bom governo


durante a modernidade, não podemos deixar de lado os pensadores que formularam
estes ensinamentos, ou então, aqueles para quem essas lições eram endereçadas.
Nesse contexto, a produção de tratados direcionados aos nobres serviu como
instrumento para a difusão e divulgação de diversos modelos, cada qual considerado
o mais pertinente para a formação deste grupo social. Tanto no mundo ibérico como
em outros territórios, a preocupação com a política estava presente nos textos dos
mais variados teóricos. Assim sendo, a península itálica, com fortes ligações com a
Espanha dos Habsburgos, foi berço de escritores e intelectuais que colocaram seus
serviços à disposição da aristocracia italiana e espanhola. Dentre os mais variados
assuntos discutidos por esses autores, a proteção da honra era uma questão tão
importante quanto os assuntos relativos ao governo. A forma mais comum de manter
a honra ou reconquistá-la em caso de perda, era o recurso ao duelo. Sendo uma
prática corrente na época, tal instituto fazia parte da realidade de muitos nobres,
dentro e fora da península itálica. Portanto, a produção e circulação de tratados
teóricos sobre a arte de duelar eram direcionados aos membros das elites europeias.
Umas dessas obras foi escrita por um cortesão italiano chamado Girolamo Muzio.
Intitulada Il Duello e publicada pela primeira vez em 1550, este trabalho alcançou
enorme sucesso editorial, sendo publicado nos idiomas: italiano, francês e espanhol.
Com passagens em cortes italianas e espanholas, Muzio tornou-se um especialista
em questões relacionas à política, cultura, religião e comportamento dos nobres.
Desse modo, pensar um tratado como o Il Duello além do combate em si, destaca-
se na obra uma tentativa de educar os leitores a partir de exemplos que indicam as
características de governantes e súditos virtuosos. Tendo a teoria do duelo como
eixo, Girolamo Muzio formulou valiosas lições para um grupo social que além
dos combates nos campos de batalha, tinha que lidar com disputas no ambiente de
corte. Pensando a tratadística de duelo italiana do século XVI como um instrumento
que ensinava muito mais que os protocolos do duelo, a presente comunicação tem
como objetivo destacar como foi construído no tratado modelos de bom cortesão e
quais os conceitos mobilizados para justificá-los.

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GEHIM-USP
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA / CÁTEDRA JAIME CORTESÃO

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