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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM BACHARELADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Udnilson Soares da Silva Pereira

RESUMO DO LIVRO: O processo civilizador – uma historia


dos costumes de Norbert Elias

Juazeiro
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM BACHARELADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Udnilson Soares da Silva Pereira

RESUMO DO LIVRO: O processo civilizador – uma historia


dos costumes de Norbert Elias

Trabalho apresentado a
Universidade Federal do Vale do
São Francisco – UNIVASF, Campus
Juazeiro, como requisito avaliação
da disciplina Teoria Sociológica II
Professor: Denes Dantas Vieira

Juazeiro-BA
2016
“É possível que, com uma compreensão mais clara deles (os processos
civilizadores), possamos, algum dia, tornar acessíveis a um controle mais consciente
esses processos que hoje ocorrem em nós e a nossa volta de uma forma não muito
diferente dos fenômenos naturais, processos que enfrentamos da mesma maneira
que o homem medieval enfrentava as forças da natureza.”

Esta citação resume as inquietações de Norbert Elias e os problemas a partir delas


levantados. Como nos tornamos o que somos? Nossas instituições e nossas
relações sociais, comportamentos, crenças e sentimentos, tudo isto é fruto de um
processo civilizador. Que ocorre em nós e em nossa volta. Que por nós é operado e
que em nós opera. Um processo tão autonomizado que é algo dito como “natural”
por Elias, e que, por sua natureza transformadora, do homem e de seu meio,
segundo ele, poderia se chamar de "mecânica evolucionaria da historia”.
Compreender este processo em sua psicogênese e sociogênese. Trazê-lo ao nível
da consciência, desmistifica-lo, dá-lhe a dimensão não natural de tudo que pertence
ao homem para além do seu do ser orgânico. Ou pelo menos compreende a sua
natureza, enquanto potencial singular ao homem e sua estreita relação com o fazer
humano.
Todo sentimento, costume, e ação do homem, compartilhado por outros homens e
instituído como algo desejável aos outros, traz em si a potencialidade de ser
“mecânica evolucionaria da historia”. As “banalidades” das relações humanas são tal
como a base de um iceberg, uma vez que sustentam grandes fatos e feitos
históricos, os quais são confundidos com a própria historia, tal como confundimos a
ponta do iceberg como sendo ele próprio.
O livro O Processo Civilizador – uma historia dos costumes, buscar lançar
questionamentos e reflexões sobre a civilização humana, sobre tudo a ocidental,
com base nas relações e costumes, que não se assemelham as grandes realizações
históricas, e que não ocupam pagina de destaque no conjunto das realizações da
humanidade. Mas, que influenciaram nas relações entre os indivíduos, e nas
relações dos indivíduos consigo mesmo, de tal maneira à modificar as estruturas
sociais e culturais que embasam o processo histórico.
O autor traz inicialmente, uma reflexão sobre o que seria civilização, focando
principalmente o conceito e sentimento de civilização ocidental. Destaca o processo
de construção do sentimento de civilização na França, Inglaterra e Alemanha.
Demonstrando que a construção histórica deste sentimento se deu de forma
diferenciada nestes países, sobretudo na Alemanha em relação a França e
Inglaterra. Enquanto nestes últimos, civilização tomou contornos sempre conectados
no comportamento, conquistas técnicas, materiais e politicas dos homens, na
Alemanha este processo se deu paulatinamente partindo, do conceito de kultur, e
suas conexões ligadas a realizações do espirito de razão do homem e ao
desenvolvimento do conhecimento potencialmente universal, até chegar ao conceito
de civilização, que embora de certa maneira contraponha-se a conceito de Kultur,
acaba por englobar os sentimentos de civilização ocidental francês e inglês e de
kultur alemão.
Este processo de civilização, enquanto internalização da cultura das aparências, e
dos comportamentos externos, e intencionalmente diferenciador de classes da
França e Inglaterra, presente também nas cortes da Alemanha, assim como esta
civilização na internalização de valores culturais de conhecimentos potencialmente
universais vivenciados na Alemanha, deu bases para a formulação de
relacionamento e disputas de classes que resultaram em formulações históricas tais
como o absolutismo e mais tarde aos estados.
O autor nos leva a uma compreensão na difusão e internalização dos costumes
civilizados a partir do sentimento ocidental de costumes.
A cada época determinados povos empoem a outros povos sua força e seu poder
politico e econômico, às vezes conquistando e dominando suas instituições de
governo, mas não necessariamente impondo a estes povos uma nova maneira de
viver. “Expansões” como a do império romano antigo dava-se preservando os
costumes locais.
Na idade média a expansão e domínio ocidental sobre outros povos, e mesmo
conquistas internas, dava-se não só na dimensão politica e econômica, mas também
na propagação de costumes e valores ocidentais. Os costumes e valores do
cristianismo romano-latino opõem-se ao paganismo e até mesmo ao cristianismo
grego e oriental.
Em nome da cruz e da civilização, se empoe a outros povos o sentimento e
comportamento civilizado em conformidade com os sentimentos de civilização
ocidental.
Se inicialmente os povos eram submetidos à força bélica, gradualmente constrói-se
um novo instrumento que se apresenta como natural ao homem e muito sutilmente
imposto a cada homem e a todos dentro e fora do ocidente. Instrumento este que
embora produzido por homens automatizam-se de tal maneira que parecem naturais
a o homem ou pelo menos destinado naturalmente ao homem.
Os costumes civilizados eram capazes de distinguir de forma classificatória não só
povos e nações diferentes, mas também os indivíduos dentro da mesma nação.
Assim os costumes civilizados poderiam justificar e perpetua diferenças entre o Rei e
a corte, entre a corte e os burgueses, entre os burgueses e os plebeus.
Porem enquanto na França e na Inglaterra esta diferenciação deu-se centrado nas
aparências e comportamento externo. Na Alemanha, apesar de sofrer forte
influencia francesa, conviveu-se dois sentimentos de civilização. Se por um lado as
cortes alemãs buscavam aproximassem da reprodução dos costumes civilizados
franceses, a sua burguesia desenvolvia outro sentimento que se centrava nos
sentimentos de Kultur, o qual valorizava civilização, enquanto moldador de homens
não em seu comportamento e aparência externa, mas em seu espirito de razão e de
valorização do homem em si. Se da França e Inglaterra encontra-se uma burguesia
ávida em internalizar os costumes e comportamento civilizado da corte utilizando-se
deste instrumento para asserção pessoal ou aceitação e inserção na corte, na
Alemanha a intelligentsia contrapunha esta civilização baseada do homem exterior e
buscava afirmar a civilização baseada no homem interior. Este processo histórico
resultou no complexo sentimento de civilização que hoje se impõe a cada um e a
todos, adestrando indivíduos e instituições.
Assim ao nascer de cada novo animal humano, selvagem em sua condição
orgânica, começasse um infinito processo de civilização. E por sua vez, cada
homem civilizado, por força da sua condição social colocasse a fazer nova e
atualizada a civilização.
Ao condicionar-se a ser civilizado e condicionar aos demais que também o seja, o
homem torna-se refém das regras e costumes que ele mesmo criou. E conforme
este processo se renova em cada homem e em suas instituições, renovam-se novas
bases de relação, algumas se reafirmam, outras desaparecem e surgem novas
relações e costumes.
Este processo engloba desde mais banais relações humanas, até mais complexa,
como a atividade politica, em uma dinâmica e interdependência capaz de fazer um
ato isolado de um homem torna-se gradativamente um sentimento de uma nação.
Diante do exposto voltamos a começo deste texto fazendo nossa as inquietações de
Elias:
“É possível que, com uma compreensão mais clara deles, possamos, algum dia,
tornar acessíveis a um controle mais consciente esses processos que hoje ocorrem
em nos e a nossa volta de uma forma não muito diferente dos fenômenos naturais,
processos que enfrentamos da mesma maneira que o homem medieval enfrentava
as forças da natureza.”

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ELIAS, Norbert, O Processo Civilizador. Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1993.

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