Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio de
Janeiro. Jorge Zahar Editor, 1994.
1
Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos.
momento histórico, o contexto de transição de uma sociedade feudal para
moderna, é o ponto de partida da argumentação de sua sociologia histórica.
Para isso, o autor alemão se utiliza De Civilitate Morum Puerilium (Da
Civilidade em Crianças), de 1530, escrito por Erasmo de Rotterdam. Ele,
justifica Elias (1994), presencia a transição do período medieval para a
modernidade e a formação dos Estado-nações. Seus escritos de bons
costumes serão norteadores no desenvolvimento social da sociedade
ascendente e seu tratado será de extrema importância “menos como fenômeno
ou obra isolada do que como sintoma de mudança, uma concretização de
processo sociais” (p.69).
Para a nobreza feudal certos padrões de comportamento eram um modo
de distinção social e os demais modos de vida da estrato camponês eram
postos como um mau exemplo a ser seguido. Por meio dessas normas de
etiquetas se sustentava uma hierarquização que distinguia a classe alta dos
plebeus. O padrão de comportamento se constituía por uma simplicidade e
certa ingenuidade, com pouca influência psicológica e qualquer tipo de
complexidade, com a lógica maniqueísta prevalecendo. É interessante como
Norbert Elias formula sua teoria, pois é na Idade Média que começa a ocorrer a
dissolução do poder da Igreja, surgimento da Reforma Protestante e o
desdobramento do movimento barroco. As dicotomias (“bem” e “mal”, “desejo”
e “aversão”, etc.) concebem a conjuntura que vive o sujeito medieval. Com a
centralização do poder aos cuidados de um monarca, essa nobreza
gradativamente perde sua característica militar e desempenha uma nova
comportamental, tornando-se cortesã. É a partir desse fenômeno, segundo o
autor, que cria-se uma base para a formação do Estado-nação.
A simplicidade que o padrão medieval manifestava é transformada junto
com a estrutura social. Um Estado com maior racionalidade, por consequência,
desenvolve sujeitos mais racionais, tirando de cena o maniqueísmo e
produzindo indivíduos que exibem um controle mais forte de suas emoções . A
coletividade que predominava na Idade Média se transforma com a transição
para a Modernidade, que se caracteriza pela lógica individualista. Os sujeitos,
dessa maneira, passam a moldar mais deliberadamente uns aos outros.
Um processo que colabora para isso é o surgimento da classe burguesa,
que difunde e frouxa certos aspectos que antes jamais seriam violados. O
intelectual burguês tem a possibilidade de mobilidade social, renome e
autoridade e, por isso, começa a demonstrar mais imparcialidade e franqueza.
Não é casualidade Norbert Elias dar destaque para Erasmo de Rotterdam. Ele
é um produto da ascensão burguesa, que produz não somente para seu grupo
social, mas para uma maior parte do tecido social.
Com o desenvolvimento do comércio, o sociólogo alemão argumenta
que a imagem pessoal começa a pesar, pois a concepção de se vender uma
boa imagem para o outro ganha importância.
Forçadas a viver de uma nova maneira em sociedade, as
pessoas tornam-se mais sensíveis às pressões das outras. Não
bruscamente, [...], o código de comportamento torna-se mais rigoroso
e aumenta o grau de consideração esperado dos demais (p.91).
2
“No processo civilizador, a sexualidade, também, é cada vez mais transferida para trás da cena da vida
social e isolada em um enclave particular, a família nuclear” (Elias, 1994, pg.180).
a “parede da consciência” que delimita o distanciamento da sociedade
moderna com as anteriores. O conflito interior do sujeito, que Freud expressa
na ideia de superego, é moldado desde a infância, em relação aos modos
corporais, de sexualidade e alimentação, por um autocontrole desenvolvido
pela estrutura da vida social e por órgãos executivos socialmente estabelecidos
em particular como, por exemplo, a família. O hábito, portanto, se impregna
como um código de conduta “de tal forma no ser humano [...] que se torna
elemento constituinte do indivíduo” (Elias, 1994, pg.189).
A contribuição teórica deixada por Norbert Elias é volumosa e não se
finda em O Processo Civilizador. Continua sendo um dos principais autores a
fornecer mecanismos de análise para a compreensão da sociedade
contemporânea.
Bibliografia:
ELIAS, Norbert. Os Alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos
séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.