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ABORDAGENS TEÓRICO-METODOLÓGICAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS EM SAÚDE

Docente: Rachel Aisengart Menezes


Doutoranda em estágio docente: Renata Morais Machado

Relatoria da 3ª sessão – 18/05 – Cultura: o processo civilizador

Texto base:
Elias, Norbert. O processo civilizador. Volume 2: formação do Estado e Civilização.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994 (ou outras edições) - Parte dois - Págs. 193-
215; Pág. 248-274.

Apresentações (Parte 2: Sugestões para uma Teoria de processos civilizadores):


Capítulos I ao III – Betina Carnevale Nessimian
Capítulos VII e VIII – Natália Gil

Relatores:
Eduardo Fernandes Felix de Lima
Luzinete Oliveira Sales

Antes de iniciar as apresentações, Rachel mencionou a articulação entre as


esferas macro e micro, fundamental para pensar a abordagem das Ciências Sociais
e Humanas em Saúde. Uma possibilidade de pensar o micro consiste no contexto
do profissional de saúde, na relação com seu “cliente”. Num panorama, é preciso
fazer análises históricas, políticas e ideológicas. Nesse sentido, é importante
considerar diferentes contextos e situações de maneira ampla e sua consequente
repercussão na instância micro (na pessoa, na família), nas configurações de
família, de redes de sociabilidade. Elias indica essa possibilidade de pensamento, do
macro para o micro, de efetuar essa articulação.
Como na aula anterior, a apresentação de Betina teve início com uma linha
do tempo, para contextualização da obra estudada. Publicada em 1930, ganha
visibilidade a partir de sua tradução para a língua francesa em 1975. Diferentemente
do primeiro volume, o segundo não tem boa aceitação na França, pois é criticado
por seu pensamento evolucionista. Assim, os historiadores dividem a obra em
partes aceitáveis e não aceitáveis. Os evolucionistas foram posicionados entre os
não aceitáveis. No entanto, a pesquisa histórica que Norbert Elias apresenta nesse
volume foi aceita. Distintamente da França, na Holanda ocorreu uma boa aceitação
dessa obra, em 1984. Em 1990 o autor morre em Amsterdã, aos 93 anos.
No primeiro capítulo, o autor explica o que é o processo civilizador,
caracterizado por mudanças que ocorrem nos comportamentos, condutas e
sentimentos de sociedades, grupos ou culturas, ao longo do tempo. Esse processo
não ocorre de forma planejada. Ele é dinâmico, com alterações ao longo do tempo.
O processo civilizador instaura determinada ordem social, uma sequência de ações
e condutas encadeadas, uma rede de interdependência. Por consequência, essa
ordem social não resulta de ações previamente deliberadas e elaboradas. Não é
uma ordem considerada irracional, pois também não ocorre de maneira
incompreensível.
Norbert Elias refere a importância das funções sociais, ao longo do processo
civilizador. Elas são cada vez mais diferenciadas, impulsionadas pela competição
que essa rede de interdependência proporciona. A partir desses pressupostos, o
autor indica a existência de um processo de mudanças psicológicas, a partir do
controle das condutas e comportamentos, desde a infância. Em outras palavras, o
estabelecimento de um automatismo e autocompulsão, que seriam o autocontrole
das ações, comportamentos e sentimentos, baseado no medo de uma possível
punição por transgressão de comportamentos considerados civilizados. Nesse caso,
também está associado ao medo o sentimento de vergonha.
Norbert Elias refere-se a sentimentos que poucos autores abordaram e
desenvolveram até então, como o sentimento de vergonha. A palavra vergonha,
além do termo medo, é muito importante, pois, como enfatizado pelo autor, as
atividades humanas voltadas ao sentido animalesco são progressivamente
afastadas da cena pública são investidas por sentimentos de vergonha. Pensando
nos dias atuais, esse sentimento de vergonha pode não ser considerado como um
sentimento que domina nossa cultura e sociedade e, sobretudo, em figuras públicas.
É importante o entendimento desses sentimentos e dessa produção social, para
uma compreensão do outro lado.
Quanto mais emaranhado o tecido social, mais diferenciado, complexo e
estável é o aparato sociogênico de autocontrole individual.
A mudança “civilizadora” do comportamento consiste no controle das
emoções tidas como espontâneas, do comportamento animalesco “não civilizado”,
na ampliação do espaço mental para além do aqui e agora, e no estabelecimento de
relações de causa e efeito. Essa mudança civilizadora ocorre a partir da
monopolização da força física violenta pelas autoridades, que gera no indivíduo uma
constante luta interna, entre seus desejos e pulsões, o que o autor associa à função
do “superego” e aceitação das normas sociais. Quando não está presente o
sentimento de vergonha, há uma tendência à expressão por intermédio do uso da
força física. Hoje vivemos essa questão presente no discurso que defende que a
população deve se proteger com uso de armas, para autodefesa. A partir desse
posicionamento, diversas consequências podem ocorrer pela não regulação da
violência e valorização desse tipo de força e de poder. Trata-se de uma situação
diferente da valorização de um comportamento distintivo, de cultura e refinamento.
Para além do processo civilizador social, o autor refere-se ao processo
civilizador individual, que também não ocorre de forma planejada, é moldado pelo
contexto social e não é indolor. Segundo o viés da psicologia, é possível afirmar que
situações não resolvidas ao longo do processo civilizador durante a infância e
juventude podem se manifestar como traumas na vida adulta. Dessa forma, a
formação da personalidade se estrutura e desenvolve.
No processo civilizador individual, a maioria das pessoas civilizadas vive no
meio-termo entre os extremos “bem sucedido” e “mal sucedido”. O processo
civilizador individual bem sucedido ocorre quando o individuo consegue estabelecer
um padrão de conduta bem adaptado ao contexto social. No processo civilizador
individual mal sucedido, o indivíduo não estabelece padrão de condutas bem
adaptados, não alcança as renúncias da satisfação e não há fruição dos momentos
de prazer. A maioria das pessoas civilizadas não se encaixa por completo em um
desses termos. Não há dúvidas de que Norbert Elias leu e teve conhecimento das
obras de Freud. Nesse caso, no que diz respeito ao princípio da realidade (conduta,
adaptação, contexto, normas) e ao princípio do prazer. Elias efetuou conexão entre
estes conceitos freudianos, no que tange à possibilidade de o indivíduo se adequar
minimamente. O autor utiliza o conceito de superego nos termos freudianos de
estrutura superegóica. Todavia, diferente de Freud, que pensava essa questão
“dentro da cabeça do indivíduo”, Elias tende a refletir sobre a interdependência entre
as pessoas, como no mito/fantasia da autonomia na sociedade civilizada, moderna,
expresso no artigo “A solidão dos moribundos”. Nesta obra, o autor se refere à
produção do mito de autonomia individual, fantasia que o ser humano da sociedade
moderna e civilizada faz. Um mito da autonomia completa, um mito, pois não é
possível viver sem qualquer relação social, uma vez que todos somos dependentes
e interdependentes.
O grupo discutiu também a importância da palavra “tédio”, que passa a ser
muito utilizada naquele momento histórico. Esse termo guarda relação com a ideia
de pacificação das culturas e previsibilidade da vida, tema também abordado em “A
solidão dos moribundos”. O tédio possui relação, ainda, com a busca da intensidade
do viver. Luiz Fernando Dias Duarte desenvolve esse tema no artigo “O império dos
sentidos”, publicado na coletânea organizada por Maria Luiza Heilborn (1999), que
aborda a tensão entre intensidade e extensão da vida. Elias também aborda esse
tema, ainda que de maneira embrionária. O tema é importante quando pensamos na
saúde, seja na pesquisa ou na clínica. Trata-se do autocontrole como extensão da
vida versus intensidade (fruição); entre o máximo de prazer e a negociação. Nesse
sentido, foi levantada a questão dos deficientes e a necessidade de entendimento,
da parte dos profissionais de saúde, para ajudar os indivíduos, o que pode significar,
por exemplo, o que a pessoa faz com a receita ao sair de uma consulta (adesão ou
adaptação) e a mentira na relação com o profissional de saúde, que também pode
estar associada aos sentimentos de medo e/ou vergonha.
Com relação à situação da pandemia, podemos verificar tais tensões na (in)
capacidade de autocontrole e de seguir as orientações. A transgressão, na busca
pelo prazer, está associada à indiferença com relação ao grupo e à sociedade.
As esferas do público e do privado, do individual e do social são complexas
em cada cultura e a tendência é de permeabilidade entre as classes sociais. A
imagem pública e os trajes sofreram mudanças ao longo do tempo. No Brasil
ocorreu um processo de globalização, com a entrada da televisão no interior do país,
o que acarretou mudanças nos padrões estéticos, de comportamento e linguagem.
Houve uma busca de aquisição, da parte das pessoas do interior, do “jeito da
capital”, uniformizando condutas. Assim, na atualidade, na sociedade ocidental, seria
mais difícil afirmar o pertencimento social de uma pessoa pela roupa, por exemplo, o
que no passado era fácil. O filme “Bye bye Brasil” trata da entrada da TV pelo
interior do país e globalização de padrões, a partir da difusão da TV.
O capítulo II destaca a formação de uma rede de interdependência e seu
consequente fortalecimento do autocontrole do indivíduo e a permanência das
compulsões. Esses dois elementos formariam o ritmo individual que cada pessoa
molda, a partir das exigências das redes de interdependência e demandas externas.
No capitulo III foi apresentado que Elias argumenta que o processo civilizador
é um evento cíclico, caracterizado pela classe oprimida que, ao ascender, ocupa o
lugar do opressor. O autor também distingue a compulsão das classes sociais mais
baixas (natureza externa – morte, fome, dor...) da compulsão nas classes sociais
mais altas (natureza interna – poder, prestígio, status social...). Ademais, o autor
caracteriza a peculiaridade da sociedade ocidental, que é a diminuição das
diferenças entre as classes sociais, cada vez mais entrelaçadas e semelhantes.
Todavia, ocorre uma disseminação da civilização, do povo ocidental que se
autodeclara superior, propagação baseada no padrão de comportamento do homem
branco. Essa civilização também ocorre por meio do medo e ameaça com forma de
controle da conduta, que instaura no indivíduo um “sentimento” de ansiedade
pessoal por perda de prestígio e status.
Rachel menciona a importância da palavra sentimento. É um nexo muito
importante entre o macro e o micro. Pensar a produção de sentimentos a partir
dessa instância de cobrança. A articulação entre psicologia e ciências sociais, como
uma imagem de uma dobradiça. São dois campos de conhecimento diferentes, que
dialogam. Nesse sentido, é importante pensar no ser humano, inclusive em sua
saúde – o corpo, emoção, sentimento.
Ao final da primeira apresentação, o grupo discutiu o quanto avançamos no
sentido de controlar as instâncias (metereológicas, geográficas...), animais,
epidemias, guerras, de modo a produzir um sentimento de segurança, de controle
do ser humano sobre o meio ambiente, ainda que possamos seguir convivendo com
epidemias e guerras.
Com o desenvolvimento do processo civilizador, cada vez mais o homem (no
sentido de ser humano) acha que é possível um controle e, assim, somos seres
orientados pela previsão (epidemiologia) e toda cultura/grupo conta com um sistema
preditivo. Se anteriormente o sistema preditivo era baseado em oráculos, atualmente
é possível afirmar que busca do oráculo é pela orientação da ciência. Os
profissionais de saúde trabalham orientados por um sistema de previsão. Vivemos
numa sociedade em que a noção de previsibilidade é um referencial central, o que
consiste em um dado importante, para pensar sobre os resultados do processo
civilizador, e acerca das maneiras de condução de nossas práticas de vida.
Na segunda parte da aula foram apresentados os capítulos VII e VIII. O cap.
VII contem um trecho no qual o autor afirma que o presente ilumina a compreensão
do passado, e a imersão neste tempo é capaz de elucidar o presente, em
movimentos e contra movimentos. O aumento da pacificação da sociedade ocorreu
com a gradual consolidação dos monopólios de poder. Assim, a nobreza guerreira
transformou-se em uma nobreza cortesã. Concomitantemente, nobreza e burguesia
passaram a conviver, com alto grau de tensão e interdependência. Outro dado
importante sobre a secularização consistiu na separação entre Igreja e Estado, “em
teoria”.
Os comportamentos também se modificaram. A nobreza/aristocracia buscou
se distinguir da burguesia. Com a ascensão da burguesia ao poder, o trabalho
recebeu uma nova posição social e status, inclusive com associação ao privilégio.
A nobreza buscou se proteger por meio do controle social, da vigilância na fala, nos
gestos, nas distrações e maneiras, com o objetivo de manter os privilégios
hereditários. Em outras palavras, havia uma relação de interdependência, com
restrita costura social. As classes eram, de fato, separadas.
O declínio da aristocracia se deu com a ascensão econômica e política da
burguesia, com seu desempenho nas funções produtoras de renda. Assim, a
burguesia profissional passa a determinar condutas sociais. O ethos* aristocrático é
relegado à esfera privada.
No processo civilizador ocorre tanto um processo de igualação quanto de
diferenciação, o que significa que os membros da classe em ascensão
desenvolveram um “superego” modelado pela classe superior colonizadora, porém
mais rigoroso. A busca é centrada nos instrumentos de prestígio, com foco no
instrumento de poder, de domínio, de governar as pessoas (modo de ser, modo de
se portar, as funções sociais). Trata-se da modelagem do superego.
A ascensão da burguesia é caracterizada pela valoração do trabalho e não
nos privilégios. Em outros termos, trata-se da oposição à frivolidade da nobreza e a
ruptura com a aristocracia. Tal valorização do trabalho guarda importante relação
com a reforma protestante. A obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”,
de Max Weber, destaca o valor do espírito do trabalho. De certa maneira, o que
temos no Brasil e em outros contextos com relação aos privilégios, é a manutenção
de padrões de valorização dos privilégios, por razões políticas e ideológicas.
O autor discorre sobre a amálgama de códigos das novas classes superiores,
pois não ocorreu um rompimento total com o modelo vigente. Eles vão se fundindo
em novos modelos, no contexto da transformação geral das restrições externas em
autorrestrições internalizadas.
Os modelos de comportamento em sociedade se expandiram para além da
Europa, no processo de colonizações europeias. Trata-se da implementação de um
“modelo bom” que passa a ser internalizado, que perde espaço de diferenciação. O
processo de internalização acarreta impactos diretos sobre a estrutura das funções
psicológicas (controle do comportamento), que está vinculada às funções sociais e à
mudança de relacionamento entre as pessoas.
O tema da vergonha e do nojo foi abordado. A professora recomendou o livro
“O tabu do corpo”, de José Carlos Rodrigues, para aprofundamento.
Foi comentado então que Elias seria um otimista, ainda que tenha publicado a
obra em 1939 e depois repensou sobre o futuro. A obra é concluída pela frase “a
civilização ainda não terminou”.
Somente após 30 anos da publicação em alemão, esta obra foi traduzida
para outra língua, provavelmente por preconceito em relação à língua alemã, então
considerada bárbara e inferior. Nesse sentido, é importante entender e refletir sobre
o momento histórico em que um autor/pensador é aceito e incorporado no sentido
intelectual: qual o contexto, quais as forças político ideológicas em jogo.
Outro aspecto importante sobre a biografia do autor foi que ele viveu em
Gana, dado importante, pois ele foi um professor/escritor europeu, que valorizou um
país africano e o ensino neste contexto, o que evidencia sua perspectiva ideológica
e personalidade. Em outras palavras, ele não foi um colonialista, teve outra
perspectiva. Importante pensar o homem em seu tempo. Por exemplo, Gilberto
Freire tem um trecho em um livro, no qual descreve de modo preconceituoso os
judeus. De maneira análoga, Norbert Elias apresenta uma postura machista em um
texto, o que indica que sempre somos produtos do nosso tempo, e devemos atentar
para nosso posicionamento e desenvolver uma capacidade de reflexividade. No
entanto, Elias se dedica a dar aula em uma universidade africana, demonstrando
não ser racista.
A discussão abordou as oposições duais, entre civilização e não civilização,
cultura e barbárie, e como essas polaridades podem ser associadas a gênero.
Renata mencionou, então, a contribuição das teóricas feministas no debate acerca
da ideia de objetividade científica e indicou o verbete do “Dicionário Crítico do
Feminismo”, já enviado para a turma. No jogo de dualidades, podem ser
mencionados, em conexão ao masculino e feminino: cultura x barbárie; civilização x
primitivo; homem x mulher; razão x emoção; saúde x doença; dia x noite; claro x
escuro; competência x cuidado; racionalidade x subjetividade; controle x
descontrole; público x privado; rua x casa. Foram então sugeridos: o livro “História
das lágrimas”, de Anne Vincent Buffault e o artigo “Demanda por eutanásia e
estatuto das lágrimas”, de Rachel Aisengart Menezes. A expressão das lágrimas faz
parte do processo civilizador.
Apesar de o processo civilizador afirmar as palavras-chave da Revolução
Francesa – igualdade, liberdade e fraternidade, o homem ocidental busca, ao longo
do tempo, provar que nem todos são iguais. O homem (como representante da
humanidade e também gênero masculino) branco europeu vai defender e buscar
demonstrar, com uso de argumentos científicos, que alguns são melhores que
outros. O biólogo Stephen Jay Gould evidencia, em livros de sua autoria, os modos
como a biologia buscou demonstrar a superioridade dos brancos sobre os negros,
assim como o artigo “Esqueleto no armário”, de Londa Schiebinger, no qual a autora
explicita a produção histórica da inferioridade intelectual da mulher, que era
considerada como reprodutora e não deveria estudar nem votar. Há pesquisadores
e cientistas que se dedicaram a provar diferenças raciais, sexuais e de gêneros das
pessoas para provar que não somos iguais. No momento atual há pesquisadores
que desenvolvem este raciocínio com uso da genética. Tal panorama indica a
importância de cautela ao categorizar, classificar, valorizar e de refletir sobre os usos
do conhecimento, bem como é necessário acesso e análise dos interesses que
estão em jogo, razão de pensarmos a partir dos pressupostos das Ciências Sociais.

* Ethos é uma palavra grega que foi usada por Gregory Bateson, que diz
respeito ao comportamento internalizado, uma instância sobre a qual não temos
consciência da subjetivação e interiorização do comportamento. Como o ethos é
objeto desse processo de internalização desde a infância, passa a ser naturalizado.
Outrossim, ethos também diz respeito ao estado emocional, à capacidade de
reação, como o ethos profissional adquirido ao longo da formação médica, por
exemplo, ou de outras profissões de saúde. Como exemplo, as pesquisas/aulas de
Ciências Sociais e Humanas, que postulam a aquisição de um ethos próprio no olhar
e na escuta, de relativização. Ethos é, portanto, um conceito que se distingue do
habitus, cunhado por Bourdieu, já que o primeiro conta com um viés mais associado
à esfera emocional e o segundo está associado ao comportamento. Vale destacar
que também adquirimos um habitus profissional.
Tais exigências de comportamentos recaem não apenas sobre os
profissionais de saúde, como também sobre seus “pacientes”, que devem
corresponder a exigências de “boa saúde”. O ideal para o médico é que o enfermo
seja “bonzinho, cooperativo, que obedeça e cumpra as condutas recomendadas pela
equipe de saúde”. Para atender ao “ethos de paciente”, por vezes o doente pode
omitir uma informação referente a um dado. Na nossa cultura, funcionamos com
modelos ideais. Nas pesquisas em Ciências Sociais é fundamental a busca de um
posicionamento a certa distância, para entender o que se passa tanto do lado dos
profissionais quanto do “paciente”. Sem juízo de valor sobre o trabalho alheio, mas
para entender o que ocorre.

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