Você está na página 1de 3

A sociedade dos indivíduos - Norbert Elias

Norbert Elias no livro “A sociedade dos indivíduos”, “parte III- mudanças na balança nós -
eu”, busca fazer uma análise na relação entre indivíduo e sociedade. Através de uma
sociologia processual e histórica. O que é o indivíduo? E a sociedade? Como acontece essa
relação indivíduo e sociedade?

Segundo Elias, “atualmente a função primordial do termo indivíduo consiste em expressar a


ideia de que todo ser humano do mundo é, em certos aspectos, diferente de todos os
demais, e talvez deva sê-lo”. “O conceito de sociedade costumava referir-se, implicitamente,
às sociedades organizadas como Estados, ou talvez como tribos” (ELIAS, p.132, I987)

Norbert Elias tenta explicar essa relação indivíduo e sociedade a partir de um processo de
desenvolvimento da humanidade, desde a era primitiva, medieval, até o período
contemporâneo. Os conceitos foram se aprimorando de acordo com o tempo, a relação
entre indivíduo e sociedade, modifica-se de modo característico. Cada indivíduo possui sua
identidade – eu, e sua identidade – nós, em algumas sociedades e dependendo do tempo,
uma prevalece mais que a outra.

Nos países ditos em desenvolvimento, as pessoas são mais ligadas à família, a identidade –
nós, visto que nos países desenvolvidos, a identidade – eu, é quem prevalece. Elias faz até
uma crítica com relação a chamar um país de “em desenvolvimento”, será que os países
desenvolvidos não estão sempre em constante desenvolvimento?

O homem contemporâneo, involuntariamente, sem perceber coloca uma barreira entre ele e
o homem “primitivo”, quando usa expressões como “homem das cavernas”, querendo ou
não, ele se acha melhor por causa do conhecimento por ele obtido. Apresentando certo
egoísmo. Norbert Elias cita o habitus, que Bourdieu o denomina como a relação entre as
práticas do cotidiano e as condições de classe produzidas por uma sociedade. Na visão de
Elias é um saber ligado à vida em sociedade, ou seja, uma segunda natureza.

O habitus, desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, “Esse habitus, a


composição social dos indivíduos, como que constitui o solo de que brotam as
características pessoais mediante as quais um indivíduo difere dos outros membros de sua
sociedade”. (ELIAS, p.150, 1987). Em suma, Norbert Elias busca fazer um equilíbrio na
relação nós – eu, dentro das mudanças ocorridas durante o desenvolvimento histórico da
sociedade.
O PROCESSO CIVILIZADOR (II) – NORBERT ELIAS

O autor tenta mostrar como o processo civilizador se deu a partir da passagem da Idade
Média para a Modernidade com um período fundamental de transição ocorrido na sociedade
cortesã. Diz ele que os hábitos mais grosseiros e desinibidos da sociedade medieval são
suavizados, civilizados na sociedade posterior. A guerra e a violência deixam de ser a
prática comum para conquistar favores e terras, para dar espaço a aspectos relativamente
menos violentos, como a diplomacia e intriga. A sociogênese do absolutismo ocupa, de fato,
uma posição decisiva no processo global de civilização (p. 19)

Com a ascensão da economia monetarizada em face da economia de troca, há por parte


das casas reais uma maior dependência de seus governados. Há uma relativa
burocratização e, principalmente, uma maior divisão das funções, tornando o rei cada vez
mais dependente de outros. Logo, sua função de protetor pela espada e pela guerra não
deixa de perder totalmente seu sentido, mas o seu nível de dependência torna-se maior.
Com isso, seu poder de influência mora, para além do monopólio da força e da economia,
em conseguir centralizar na sua pessoa as tensões ambivalentes existentes na sociedade.
Uma nobreza guerreira em decadência, que perde sua função social e adentra à corte, ou
seja, torna-se uma nobreza de status e com uma função social reduzida à própria corte. E
uma burguesia em ascensão que gostaria de ter a mesma posição social dos nobres, mas,
por sua vez, dispõe de suprema importância econômica. O rei consegue controlar ambos.
Os interesses dessa classe superior burguesa nem sempre eram idênticos aos de outros
grupos burgueses. Comum a todos eles, porém, havia um interesse superior a todos os
demais: a preservação de seus vários privilégios. A própria burguesia não dispunha do
mesmo pensamento, demorou para levar ao fim e a cabo a estrutura do privilégio cortesão,
ou seja, só com a revolução de 1789, porque ela mesma gozava desta estrutura.

O aspecto fundamental a ser destacado nesse resgate histórico feito por Elias é como se
deu a formação do monopólio da violência e o econômico. Sendo inicialmente, em tempos
medievais, conquistado por quem tinha maior capacidade de dominação, de vencer guerras
e conquistar terras, isso evoluiu a um passo que o suserano, através da taxação de
impostos, tornou-se o que mais detinha guerreiros para defender suas terras. Com isso,
desenvolveu seu monopólio militar. No declínio da feudalização e na concentração de terras,
a nobreza que, outrora, era guerreira, torna-se cortesão, “sem função”, a não ser aquela de
diferenciação da classe em ascensão, a burguesia.
A estabilidade peculiar do aparato de autocontrole mental que emerge como traço decisivo,
embutido nos hábitos de todo ser humano “civilizado”, mantém a relação mais estreita
possível com a monopolização da força física e a crescente estabilidade dos órgãos centrais
da sociedade. Só com a formação desse tipo relativamente estável de monopólios é que as
sociedades adquirem realmente essas características, em decorrência das quais os
indivíduos que as compõem sintonizam-se, desde a infância, com um padrão altamente
regulado e diferenciado de autocontrole; só em combinação com tais monopólios é que esse
tipo de autolimitação requer um grau mais elevado de automatismo, e se torna, por assim
dizer, uma “segunda natureza”.

As divisões de funções para Elias é possível ser observada a partir do desenvolvimento de


instrumentos de medição do tempo e da consciência do tempo: a moeda é outro instrumento
que possibilita a divisão de funções. É importante ter em vista que a conduta civilizatória no
Ocidente tem decisiva influência a partir do aumento da divisão de funções, tornando a
sociedade interdependente e reduzindo as diferenças das classes baixas para as altas, o
que não necessariamente refere-se a desigualdade social no sentido vulgar do termo, e sim
a práticas que outrora eram exclusivas de determinadas classes (como o trabalho com as
classes baixas) e agora estão disseminadas na “civilização”, é isso que Elias classifica como
“redução de contrastes”, que tem no Ocidente o seu surgimento e que é peculiar a todas as
ondas de movimento civilizador.

Elias diz que em todos os grandes processos civilizadores, uma das transições decisivas é a
de guerreiros para cortesãos

Você também pode gostar