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SOCIOLOGIA

RICHARD T. SCHAEFER
6a EDIÇÃO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

S294s Schaefer, Richard T.


Sociologia [recurso eletrônico] / Richard T. Schaefer ;
tradução: Eliane Kanner, Maria Helena Ramos Bononi ;
revisão técnica: Noêmia Lazzareschi, Sérgio José Schirato. –
6. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014.

Publicado também como livro impresso em 2006.


ISBN 978-85-8055-316-1

1. Sociologia. I. Título.

CDU 316
Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052

Índice para catálogo sistemático:


1. Sociologia 301
Governo, Economia e Meio Ambiente 369

do governo, onde ganhavam salários


mais altos do que os outros traba-
lhadores. Nas empresas particulares,
porém, o que contava era o tempo
no emprego e a experiência admi-
nistrativa ou empresarial. Como era
de esperar, ser homem e ter escola-
ridade também ajudava.
As mulheres foram mais lentas
no seu avanço no local de traba-
lho do que os homens. Tradicional-
mente, as mulheres chinesas foram
relegadas a papéis subservientes na
estrutura familiar patriarcal. O do-
mínio do Partido Comunista lhes
permitiu obter ganhos significativos
em termos de emprego, renda e edu- Alan Greenspan, ex-presidente da diretoria do Federal Reserve, reúne-se
cação, embora não tão rapidamente com alguns dos outros membros. Essa diretoria, com 12 integrantes, é um
quanto o prometido. Para as mulhe- órgão governamental que exerce poder econômico controlando as taxas
res rurais na China, o crescimento de juros. As reuniões desse Conselho acontecem a portas fechadas, o que
de uma economia de mercado sig- aumenta a influência desses tomadores de decisão de elite.
nificou ter de optar entre trabalhar
em uma fábrica ou em uma fazenda.
Dadas as recentes mudanças econô-
micas, que foram enormes, os estudiosos estão esperando tre as pessoas e os grupos e o seu impacto sobre a ordem
para ver se as mulheres chinesas irão manter o progresso política e econômica maior.
que iniciaram sob o comunismo (Bian, 2002; Lu et al.,
2002; Shu e Bian, 2003). Poder
Os chineses que dirigem pequenas empresas fami-
liares estão prosperando no novo clima econômico. Em p. 208 O poder está no centro de um sistema polí-
uma pesquisa nacional de 3 mil famílias feita em 1996, o tico. Segundo Max Weber, o poder é a capacidade de uma
sociólogo Andrew Walder (2002) descobriu que, no geral, pessoa impor sua vontade sobre a vontade das demais.
esses negócios familiares geravam muito mais renda do As relações de poder podem envolver grandes organiza-
que outras formas de ganhar a vida. Mas em locais onde os ções, pequenos grupos ou até pessoas em uma associação
trabalhadores tiveram a oportunidade de desertar da fa- íntima.
zenda para fazer trabalho assalariado em fábricas e empre- Como Weber elaborou o seu conceito de poder no
sas, eles estavam se saindo tão bem quanto os empresários início da década de 1900, ele se concentrou basicamente
locais. Walder acha que, à medida que a economia chinesa no país-Estado e na sua esfera de influência. Hoje em dia,
continuar se desenvolvendo, a concorrência irá aumentar os estudiosos reconhecem que a tendência para a globali-
tanto dentro quanto fora da China, e as vantagens econô- zação trouxe novas oportunidades e, com elas, novas con-
micas do espírito empreendedor irão diminuir. centrações de poder: o poder como capacidade de impor
a vontade de uma pessoa sobre a vontade dos outros em
âmbito global e nacional, à medida que os países e as mul-
PODER E AUTORIDADE tinacionais competem para controlar o acesso a recursos
e administrar a distribuição do capital (Sernau, 2001).
Em qualquer sociedade, alguém ou algum grupo toma Existem três fontes básicas de poder em um sistema
decisões importantes sobre como utilizar os recursos e político: força, influência e autoridade. Força é o uso real
como alocar bens, quer seja o chefe de uma tribo, um ou a ameaça de coerção para impor a vontade de uma
parlamento quer seja um ditador. Um elemento cultural pessoa sobre as outras. Quando os líderes prendem ou
comum a todas as sociedades, portanto, é o exercício do até executam dissidentes políticos, estão aplicando força,
poder e da autoridade. Inevitavelmente, a luta pelo poder assim como o fazem terroristas que atacam ou bombar-
e pela autoridade envolve política, que o cientista político deiam uma embaixada ou assassinam um líder político. A
Harold Lasswell (1936) definiu como “quem obtém o quê, influência, por outro lado, refere-se ao exercício do poder
quando e como”. Nos seus estudos de política e governo, por meio de um processo de persuasão. Um cidadão pode
os sociólogos se preocupam com as interações sociais en- mudar a sua opinião sobre uma pessoa nomeada para a
370  Capítulo 14

transmitia-se de uma geração para a outra. Em um


sistema político baseado na autoridade tradicional, o
poder legítimo é conferido por costume ou prática aceita.
Um rei ou uma rainha são aceitos como governantes de
um país simplesmente por herança da coroa, um chefe de
tribo comanda porque essa é a prática aceita.
O governante pode ser amado ou odiado, compe-
tente ou destrutivo, em termos de legitimidade isso não
importa. Para o líder tradicional, a autoridade está no
costume e não nas características pessoais, competên-
cia técnica ou nem mesmo na lei. As pessoas aceitam a
autoridade do governante porque as coisas foram fei-
tas sempre assim. A autoridade tradicional é absoluta
quando o governante tem a capacidade de determinar
leis e políticas.

O carismático Nelson Mandela tornou-se o primeiro Autoridade Legal-Racional


presidente eleito democraticamente na África do A constituição norte-americana delega ao Congresso
Sul. Ele presidiu de 1994 a 1999. e ao presidente a autoridade de elaborar e colocar em
vigor leis e políticas. O poder tornado legítimo por lei é
conhecido como autoridade legal-racional. Os líderes
Suprema Corte em razão do editorial de um jornal, do derivam a sua autoridade legal-racional das normas e
testemunho do reitor de uma faculdade de direito perante regulamentações escritas dos sistemas políticos, como
o Comitê Judiciário do Senado ou de um discurso incita- a Constituição. Em geral, nas sociedades baseadas na
dor de um ativista político em uma manifestação de pro- autoridade legal-racional, entende-se que os líderes têm
testo. Em cada um desses casos, os sociólogos consideram áreas específicas de competência e autoridade, mas eles
esses esforços para persuadir as pessoas como exemplos não são considerados dotados de inspiração divina, como
de influência. Agora vamos examinar uma terceira fonte em determinadas sociedades com formas tradicionais de
de poder, a autoridade. autoridade.

Autoridade Carismática
Tipos de Autoridade
Joana D’ Arc era uma camponesa simples na França me-
O termo autoridade se refere ao poder institucionali- dieval, porém foi capaz de arregimentar o povo francês e
zado, reconhecido pelas pessoas sobre as quais é exercido. liderá-lo em batalhas importantes contra os invasores bri-
Os sociólogos utilizam esse termo em relação àqueles que tânicos. Como foi possível isso? Como observou Weber, o
detêm poder legítimo mediante cargos eletivos ou reco- poder pode ser legitimado pelo carisma de uma pessoa. A
nhecidos publicamente. A autoridade de uma pessoa em expressão autoridade carismática refere-se ao poder tor-
geral é limitada. Assim, um árbitro tem autoridade para nado legítimo pela excepcional atração pessoal ou emo-
decidir se uma penalidade deve ser marcada em um jogo cional exercida por um líder sobre os seus seguidores.
de futebol, mas não tem autoridade sobre o preço dos O carisma permite que uma pessoa lidere ou inspire
ingressos para a partida. sem se basear em um conjunto de regras ou na tradição.
Max Weber ([1913] 1947) criou um sistema de clas- Na verdade, a autoridade carismática é derivada mais das
sificação de autoridade que se tornou uma das contribui- crenças dos seguidores do que das qualidades reais dos
ções mais úteis e citadas dos primórdios da sociologia. Ele líderes. Enquanto as pessoas perceberem o líder como al-
identificou três tipos ideais de autoridade: a tradicional, guém que tem qualidades que o distinguem dos cidadãos
a legal-racional e a carismática. Weber não insistiu que comuns, a autoridade desse líder será segura e, muitas
apenas um tipo se aplica a uma dada sociedade ou or- vezes, inquestionável.
ganização. Os três tipos podem estar presentes, mas sua Ao contrário dos governantes tradicionais, os líderes
importância relativa varia. Os sociólogos consideraram carismáticos se tornam famosos por romper com as ins-
a tipologia de Weber valiosa para entender as diferentes tituições estabelecidas e defender mudanças drásticas na
manifestações de poder legítimo em uma sociedade. estrutura social e no sistema econômico. O seu forte poder
sobre os seus seguidores torna mais fácil criar movimen-
Autoridade Tradicional tos de protesto que desafiem as normas dominantes de
Até a metade do século passado, o Japão era comandado uma sociedade. Conseqüentemente, líderes carismáticos,
por um imperador reverenciado cujo poder absoluto como Jesus, Joana D’Arc, Gandhi, Malcolm X e Martin Lu-
Governo, Economia e Meio Ambiente 371

ther King Jr., todos utilizaram o seu


poder para pressionar por mudan-
ças no comportamento social aceito.
Mas o mesmo fez Adolf Hitler, cuja
atração carismática conduziu as pes-
soas para fins violentos e destrutivos
na Alemanha nazista.
Observando do ponto de vista
interacionista, o sociólogo Carl
Couch (1996) assinala que o cresci-
mento do meio eletrônico facilitou
a criação da autoridade carismática.
Nas décadas de 1930 e 1940, os go-
vernantes dos Estados Unidos, da
Grã-Bretanha e da Alemanha utiliza-
ram o rádio para fazer apelos diretos
aos cidadãos. Nas últimas décadas,
a televisão permitiu que os líderes
“visitassem” as casas das pessoas e se
comunicassem com elas. Em Taiwan
e na Coréia do Sul, no ano de 1996,
líderes políticos angustiados enfrentando campanhas de concorram a cargos públicos, os cubanos e chineses estão
reeleição falaram com freqüência para públicos nacionais e acostumados ao domínio do Partido Comunista. Nesta
exageraram as ameaças militares dos países vizinhos China seção analisaremos vários aspectos do comportamento
e Coréia do Norte, respectivamente. político nos Estados Unidos.

Como mencionamos, Weber utilizou as autoridades tra- Participação e Apatia


dicional, legal-racional e carismática como tipos ideais.
Na verdade, determinados líderes e sistemas políticos Teoricamente, uma democracia representativa funciona
combinam elementos de duas ou mais dessas formas. de maneira mais eficaz e justa se um eleitorado bem
Os presidentes Franklin D. Roosevelt, John F. Kennedy informado e ativo comunicar as suas opiniões aos líderes
e Ronald Reagan exerceram poder, em grande parte, por do governo. Infelizmente, isso nem sempre acontece nos
meio da base legal-racional da sua autoridade. Ao mesmo Estados Unidos. Quase todos os cidadãos estão familia-
tempo, eram líderes carismáticos que comandavam a leal- rizados com os elementos básicos do processo político
dade pessoal de um grande número de cidadãos. e a maioria tende a se identificar até certo ponto com
um partido político (ver Tabela 14-1), mas somente uma
Use a Sua Imaginação Sociológica
pequena minoria (em geral, membros das classes sociais
mais altas) participa de organizações municipais ou fe-
Como seria o seu governo se ele se baseasse na autoridade derais. Pesquisas revelaram que apenas 8% pertenciam a
tradicional e não na legal-racional? Que diferença isso faria um clube ou organização política. Não mais do que uma
para o cidadão comum? em cada cinco pessoas alguma vez foi contatada por um
representante do governo federal, estadual ou municipal
sobre uma questão ou problema político (Orum, 2001).
COMPORTAMENTO POLÍTICO
Na década de 1980 ficou claro que muitos norte-
NOS ESTADOS UNIDOS americanos estavam começando a se sentir desestimula-
dos por partidos políticos, políticos e grande governo. A
Os cidadãos norte-americanos têm como certos vários indicação mais forte dessa alienação crescente vem das
aspectos do seu sistema político. Eles estão acostumados estatísticas de voto. Atualmente, os eleitores de todas as
a viver em um país com uma Declaração de Direitos, dois idades e raças parecem menos entusiasmados quanto às
partidos políticos principais, eleição por voto secreto, um eleições e mesmo quanto a disputas presidenciais. Por
presidente eleito, governos estaduais e municipais distin- exemplo, nas eleições presidenciais de 1896, quase 80%
tos do governo federal e assim por diante. No entanto, dos eleitores foram às urnas. Entretanto, na eleição de
cada sociedade tem a sua própria maneira de governar 2000 esse índice havia caído para menos de 51% de todos
e tomar decisões. Assim como os norte-americanos os eleitores. É evidente que mesmo uma porcentagem
esperam que os candidatos democratas e republicanos modestamente mais alta poderia mudar bastante os resul-
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