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TEORIA GERAL DO PODER PÚBLICO

CAPÍTULO I

OBJETO DA CIÊNCIA POLÍTICA E PODER

O facto político: é definido como “todo o conhecimento ligado à instituição,

existência e exercício do poder político.

O objeto de estudo da ciência política (fenómeno/facto político): é uma ciência social e

humana que estuda a dimensão política do Ser Humano em sociedade.

O PODER (elementos constituintes)

O poder envolve o conjunto de meios capazes de coagir os outros a um

determinado comportamento.

Os elementos que ajudam a compor a nação de poder são 3:

a. O poder é um fenómeno biológico- resultado que decorre das características

pessoais dos sujeitos envolvidos

b. O poder é um fenómeno de força e coação (o domínio do mais forte) – coação

económica e coação de outros tipos.

c. O poder assenta em grande parte sobre crenças – os governados acreditam que

é preciso obedecer aos governantes e estes procuram fazer-se estimados

através do sistema de crenças.

O poder político é uma autoridade de domínio, que impõe a obediência a quantos

pertençam à sociedade política, constrangendo-os à observância de normas jurídicas e

quebrando resistências eventuais.

O monopólio do poder está no Estado.

Tipos de poder: Aristóteles, Locke e Boobbio.

PODER SEGUNDO ARISTÓTELES:

- Poder paternal: é exercido no interesse do filho e tem por isso tal limite.

- Poder do senhor sobre o escravo: exercido no interesse exclusivo, daquele, é o poder despótico, porque
é absoluto e sem limite.

- Poder governamental: o poder político, é exercido no interesse comum de todos.

PODER SEGUNDO JOHN LOCKE:

- Poder paternal: funda-se na natureza das coisas.

- Poder despótico: funda-se na punição dos culpados de um delito.

- Poder civil ou político: funda-se no consenso daqueles a quem se destina.

PODER SEGUNDO NORBERTO BOBBIO:

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- Poder económico: posse de bens, necessários numa situação de escassez, para induzir

aqueles que os não possuem a um certo comportamento.

- Poder ideológico: traduz-se na influência que os ideias formuladas por certa pessoa

revestida de autoridade e defendidas por certos meios têm no comportamento dos

comandados.

- Poder político: supõe a detenção de instrumentos através dos quais se exerce a força

física.

Diferentemente de Aristóteles que utilizava o critério do interesse, ou de Locke que

recorria à ideia do fundamento, Bobbio socorre-se da análise dos meios de que um

sujeito se serve para condicionar outro.

PODER, DOMINAÇÃO, INFLUÊNCIA E AUTORIDADE

Dominação e poder (Max Weber): a primeira é qualquer possibilidade de fazer valer a

sua vontade dentro de uma relação social, até perante uma oposição, e seja qual for a

base dessa possibilidade.

Poder é a possibilidade de obter obediência, em certas pessoas, a uma ordem que

tenha um conteúdo determinado.

Dominação (Maurice Duverger) – não se situa no domínio do poder, das relações entre

governantes e governados.

DOMINAÇÃO: chama-se dominação ao facto de, num grupo social, existirem

elementos mais fortes que outros ao quais impõem o seu ponto de vista. É a situação

dos indivíduos mais bem classificados nas provas académicas ou mais bem colocados

nas empresas. A dominação é, pois, um atributo do mais forte fisicamente, do mais

inteligente, do mais organizado, ou do mais rico.

Ora na realidade no poder é substancialmente diferente. O poder não é um

mero facto material, é um fenómeno de crença. Admite-se o poder e a necessidade de

lhe obedecer, embora se possa combatê-lo se for entendido que a sua forma não é

adequada, ou se for questionada a sua legitimidade. Por outro lado, o poder tem um

carácter organizado, já que aparece como a coluna vertebral da sociedade. Ao invés, a

dominação é inorganizada e resulta de meros conflitos entre governados.

INFLUÊNCIA (capacidade de convencer/influenciar):

Influência e poder também não devem ser confundidos. A influência não passa de uma

forma de poder mais ampla e moderada. Influência é a capacidade de orientar os juízos

ou os comportamentos de outrem sem recorrer à coação (Durão Barroso). Nem todos

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os que têm influência dispõem de poder, mas todos os que têm poder também têm

influência. (Karl Deutsch).

AUTORIDADE:

A distinção entre poder e autoridade é mais difícil de fazer, pois trata-se de conceitos

relativos a um mesmo objeto.

A autoridade é tão só uma forma de poder, qual seja um poder legítimo ou, um

poder que se faz obedecer voluntariamente (Schmitter).

A questão subjacente é, portanto, de legitimidade, na medida em que o poder pode

ser exercido de acordo com os interesses dos seus destinatários e por estes aceite

espontaneamente, porque o consideram como adequado. Se o seu exercício não for

atacado por aqueles a quem se destina, que contra ele se manifestam e a ele se

sujeitam pelo exercício da coação em que normalmente se traduz, estaremos apenas

perante o poder.

Poder: elementos constituintes

➢ Elementos que ajudam a compor a noção de poder por recurso a três ideias:

• O poder é um fenómeno biológico  é o resultado de uma determinada superioridade, que passa pelas
características pessoais dos sujeitos envolvidos (ex: o mais forte, o mais inteligente).

• O poder é um fenómeno de força e coação  coação física (o mais forte); coação económica (aquele que
priva outro de algo, pode mais facilmente obter a sua obediência); e a coação de outros tipos.

• O poder assenta em grande parte sobre crenças  os governados acreditam que é preciso obedecer aos
governantes e estes procuram fazer-se estimados, através do sistema de crenças.

▪ Este problema das crenças está intimamente ligado à noção de legitimidade, especialmente quanto à
questão da legitimidade de exercício ou seja, “em dado grupo social, a maior parte dos homens acredita
que o poder deve ter uma certa natureza, repousar sobre certos princípios, revestir uma certa forma,
fundar-se sobre uma certa origem é legítimo o poder que corresponde a essa crença dominante”.

➢ Não existe uma única legitimidade, mas várias, que variam consoante os tempos históricos e os grupos
sociais assim, quanto maior for a legitimidade do poder, menor será o recurso à força ou à coação para o
impor.

Poder Político: Primeira aproximação

➢ Em termos gerais o poder é a possibilidade de impor aos outros um determinado comportamento.

➢ Ainda de acordo com Marcello Caetano o poder político é “uma autoridade de domínio, isto é, que
impõe obediência a quantos pertençam à sociedade política, constrangendo-as à observância de normas
jurídicas e quebrando resistências eventuais.

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Esta parece, a perspetiva analítica mais adequada, por agregar os dois aspetos que se apresentem como
centrais no poder político:

• O direito e a responsabilidade de tomar decisões;

• Disponibilidade nos meios para as tornar efetivas no caso do seu incumprimento.

Referência às principais conceções

➢ Os factos políticos  são tudo o que se prende com o poder político.

♣ Por isso, para alguns a ciência política deve limitar-se a estudar poder político  e, para outros
existem aspetos do mundo político que fogem à ciência política e por isso devem ser abrangidos
por outras disciplinas, como a Filosofia Política, a Sociologia Política ou a História Política.
Existem ainda outros, que veem a ciência política como a ciência do Estado.

➢ Marcello Caetano, propõe dois conceitos de ciência política:

♣ Um restrito  no qual a ciência política se define por ser a disciplina que estuda as
manifestações, formas e as regularidades dos factos políticos, em si mesmos ou através do
comportamento dos indivíduos, a partir de métodos de observação;
♣ O outro amplo  no qual esta englobaria todos os conhecimentos, independentemente de qual
tenha sido o método utilizado na sua obtenção, relativos à explicação, compreensão e
fundamento racional dos factos políticos, ordenados e sistematizados em função do seu objeto.

Assim, o conceito amplo de ciência política abrangeria disciplinas e métodos de análise muito variados,
incluindo aspetos da história política, da sociologia política e da filosofia política.

➢ Deste modo, a ciência política no sentido estrito  utilizaria os métodos cientificos da observação,
histórico e comparativo, de forma a tornar objetivos os factos políticos e sobre eles formular regras (leis).

➢ Freitas do Amaral define a Ciência Política  como a disciplina que “estuda os problemas do Estado e
do Poder político na atualidade, através da observação dos factos e da sua explicação racional mediante
conceitos”.

➢ Formulada de forma mais ampla, a definição de Marcelo Rebelo de Sousa  entende que a ciência
política é a “disciplina cientifica que estuda o facto político na atualidade, através da sua observação e
subsequente conceptualização”  a maior amplitude desta conceção, está no facto de Marcelo Rebelo de
Sousa afirmar que a ciência política não se reduz ao estudo dos factos políticos estaduais, abrangendo
outras realidades para além dessas.

➢ Jorge Miranda  procura conciliar o estudo da teoria do Estado do Direito Constitucional comparado e
da história política, no âmbito da ciência política.

➢ Gomes Canotilho  começa por definir a ideia de “objeto político”  ocupada pelos termos centrais
de diretividade e agregação.

♣ Deste modo, o universo político será o “espaço socialmente constitutivo de contradições e


agregações de interesses, regulado pelos titulares do poder político que dispõem do monopólio
de coação física legitima”  com base nesta noção, este discute depois as tarefas do Direito
Constitucional e da Ciência Política, sem as desligar  chama também à atenção para o discurso
crítico e construtivo que a Ciência Política permite.

➢ Adriano Moreira  considera que a ciência política estuda o fenómeno político enquanto aspeto do
fenómeno social  porém, o fenómeno político reduz-se “à luta pela aquisição, uso e manutenção do
poder político”.

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Defende que “o poder, mais do que o Estado, tende para ser o fenómeno central da ciência política”  daí
que o seu estudo, que é no fundo o estudo do sistema político implique saber três coisas:

Onde está o poder (a sede do poder);


Qual o modo da sua revelação (forma do poder);
Quais as ideias que lhe estão subjacentes (ideologias políticas).

A Ciência Política e as restantes ciências sociais

➢ Os fundadores das ciências sociais modernas abordavam vários aspetos da realidade social de forma
integrada e unitária.

▪ Entendia-se que o político, o económico e o jurídico faziam parte de um sistema de ação mais geral, o
sistema da sociedade total.

▪ O desenvolvimento e a complexificação dessa sociedade levou ao desdobramento das várias ciências


sociais ou disciplinas sociais que existem atualmente.

▪ Esta multiplicação não deixou de ter em consideração que as ciências sociais, onde está incluída a
ciência política  têm um objeto comum: instituições, ideias, relações práticas que se materializam no ser
humano, enquanto membro da sociedade.

➢ Do ponto de vista analítico os fenómenos políticos não deixam de ser fenómenos sociais.

▪ Procurando enquadrar a ciência política no contexto das outras ciências sociais, o fenómeno social é um
único, mas essa unidade é analisada por diversos pontos de vista como o da economia, o do direito, o da
sociologia, o da história e o da ciência política.

➢ Por outro lado há quem entenda que se deve identificar o objeto da ciência política de forma
autónoma, já que o político tem a sua própria esfera.

▪ Neste sentido cada ciência social teria a sua própria esfera identificada a partir da especialidade de que
se reveste.

▪ Esta conceção defende uma superior autonomia da ciência política e facilita a sua especialização.

O objeto da Ciência Política

➢ O objeto da ciência política flutua principalmente entre dois polos: Poder e Estado.

➢ Jellinek fazia uma associação estreita e exclusiva ao Estado na sua definição de ciência política
“science politique, scienza politica, political science ou politics, abrange o conjunto da ciência do Estado”
nos dias de hoje esta não parece ser a conceção mais adequada.

▪ A principal crítica à mesma  é a de que a ciência política assenta numa construção meramente jurídico-
formal, ligada à ideia de soberania estadual e ao facto de aquele estar situado no topo da hierarquia dos
grupos sociais.

▪ Atualmente  tende-se para uma definição realista do Estado, com base na análise sociológica  que vê
como a comunidade humana aonde a organização política e as sanções estão mais aperfeiçoadas.

➢ Na visão sociológica  o Estado não difere das outras sociedades humanas devido a ter uma natureza
própria (conceção jurídica do Estado)  mas sim pelo seu grau de complexidade.

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➢ A ciência política é a ciência do poder  mas não de todas as formas de poder  apenas do poder
político como autoridade de domínio, que impõe obediência a todos quantos pertençam à sociedade
política  assim, o cientista político deve isolar o poder político de modo a dar corpo ao objeto do seu
estudo.

➢ A ciência política não está limitada ao estudo do Estado  pois existe poder político em sociedades
pré-estaduais e infra-estaduais, bem como na comunidade internacional.

A ciência política não se limita a uma Teoria Geral do Estado  mas também não se alonga por tudo o
que são manifestações de poder.

➢ “A ciência política é a ciência do poder político em todas as suas formas”.

O objeto da Ciência Política e o objeto do Direito Constitucional

➢ O Direito Constitucional corresponde ao “estatuto jurídico do Político”  é um ramo do Direito


formado por normas jurídicas com características idênticas às demais normas e é a base principal do
Direito Público.

• O seu objeto é o da realidade normativa;

• Outra parte essencial do Direito Constitucional é a parte da ordem jurídica que se reporta ao Estado.

• O mesmo é hoje consumido pelo estudo das normas e dos princípios patentes nas constituições.

A Teoria Geral do Poder Político

➢ A teoria geral do poder político é área do saber que estuda “o poder político em todas as suas formas”.

➢ A teoria geral do poder político trata do Estado e trata do poder oferece a dimensão jurídica do poder
político, mas recupera a dimensão unicamente política dos cidadãos como centro de qualquer regime
político.

➢ Assim esta assume-se como uma designação mais adequada a explicar o estudo da ciência política
tanto na parte da atividade pública dos cidadãos como no que toca ao Estado Constitucional
contemporâneo.

CAPÍTULO II

O ESTADO

O Estado: Primeira aproximação

➢ O Estado é uma realidade objeto de interesse de várias ciências e de diversos métodos de análise 
dele se ocupam a ciência política, a sociologia política, a Filosofia política ou a ciência jurídica, por
exemplo.

➢ O Estado é simultaneamente “uma ideia e um facto, uma abstração e uma organização”.

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Como refere Jimenez de Parga é uma espécie de “organização política” ou como sustenta Fausto Cuocolo
é um ente político, territorial e soberano.

➢ Existem várias formas de encarar o Estado:

• Para Duguit seria qualquer “sociedade humana em que existe diferenciação entre governantes e
governados, segundo a expressão consagrada, uma autoridade política”.

• Para Mortati é “uma ordem jurídica com objetos gerais, exercendo o poder soberano sobre um dado
território, ao qual estão subordinados, de modo necessário, os sujeitos pertencentes aquele”.

• Kelsen define-o como “uma ordem jurídica relativamente centralizada, limitada no seu domínio espacial
e temporal de vigência, soberana ou imediatamente subordinada ao Direito Internacional, globalmente e
em regra eficaz”.

• Hauriou vê-o como um “agrupamento humano, fixado num território

determinado e em que existe uma ordem social, política e jurídica, orientada para o bem comum,
estabelecida e mantida por uma autoridade dotada de poderes de coação”.

• Marques Guedes afirma que o Estado é a “coletividade politicamente organizada e estabelecida em


território delimitado”.

• José Carlos Moreira considera-o como a “comunidade constituída por um povo que, afim de realizar os
seus ideais de segurança, justiça e bem-estar, se assenhoreia de um território e nele institui, por autoridade
própria, o poder de dirigir, os destinos nacionais e de impor as normas necessárias à vida coletiva”.

➢ A ciência política costuma assinalar a teoria liberal, a teoria marxista e a teoria realista.

➢ O Estado que hoje conhecemos tem uma definição com base na “teoria dos três elementos do Estado”
que considera que este é constituído por:

☺ Um povo
☺ Um território
☺ Um poder político

Aproximando-se assim da definição de Marcello Caetano  que vê o Estado como “um povo fixado num
território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse território institui, por autoridade própria, os
órgãos que elaboram as leis necessárias à vida coletiva e imponham a respetiva execução”.

➢ Marcello Rebelo de Sousa  explica o porquê da delimitação do conceito jurídico de Estado por
recurso a estes três elementos fundamentais, ser a mais difundida  pode- se dizer que se deve sobretudo
a três razões:

• “A primeira de natureza didática, traduzindo a observação das comunidades estaduais, constituiria um


razoável ponto de partida para o estuda da sua estrutura”;

• “A segunda de ordem filosófica, evitaria árduas discussões, sem prejuízo da formulação de conceitos
teóricos mais aperfeiçoados”;

• “A terceira, eminentemente prática, traduziria a relevância que efetivamente têm o povo, o território e o
poder político na definição dos Estados contemporâneos”.

➢ Portanto, para existir um Estado é indispensável:

• Um povo um substrato pessoal, a existência de uma comunidade que busca uma forma conjunta de
resolução dos seus problemas. Não pode existir um Estado sem um Povo, assim como não pode existir
um povo sem um Estado.

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• Um território é necessário um espaço físico geograficamente localizado, um sítio onde os indivíduos
possam instalar-se de modo a levarem a cabo as tarefas indispensáveis à afirmação dos seus interesses
coletivos.

• Poder político  é necessária a existência de um elemento de natureza instrumental e voluntarista.

▪ Instrumental  porque é através da sua instituição que a comunidade vai procurar resolver os desafios
que se lhe colocam e alcançar os objetivos que define.

▪ Voluntarista  devido a ter como origem uma manifestação de vontade.

O poder político:

 é a vontade transformada num ato;


 é o último dos elementos do Estado;
 mas é também, o elemento mais importante já que é no momento da sua instituição que surge o
Estado é este que vai conduzir o Estado depois da sua criação, já que não pode existir um
Estado sem alguém que o dirija, que defina orientações para a sua atividade e os objetivos a
atingir daí, que só se possa considerar que o Estado surgiu, a partir do momento em que surge o
poder político, a autoridade.

➢ Alguns dos aspetos básicos que o Estado Moderno reúne são:

 Monopólio da violência legítima como assinala Max Weber;


 O conceito de Soberania;
 A existência de uma burocracia civil e militar que se encarrega de levar a cabo as finalidades e
funções de organização estadual;
 A homogeneização do direito no âmbito das suas fronteiras;
 A despersonalização do poder.

TIPOS DE ESTADO:

♠ Estado Oriental

♠ Estado Grego

♠ Estado Romano

♠ Estado Medieval

♠ Estado Moderno:  Estamental ou corporativo

 Absoluto

 Constitucional

ESTADO ORIENTAL:

- Monarquia despóticas;

- Nulo significado dos direitos dos cidadãos;

- Baseado no Poder teocrático;

- Grande extensão territorial, portanto baseavam-se numa forte tendência imperialista

e expansionista (pela via da conquista quer pela submissão de Estados + fracos à

proteção de outros mais fortes).

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ESTADO GREGO:

- Reduzida extensão territorial;

- Centro da vida política constituída pelo povo que, em assembleia, exerciam a

autoridade Suprema;

- Forma democrática de governo, elitista, desigualitária e direta.

ESTADO ROMANO:

-- Depois do séc. V.C.C constituiu-se a criação de um Império Gigantesco em termos

territoriais e autocrático em termos políticos;

- Desenvolve-se a nação de poder político como poder supremo e uno.

- Distinção conceptual entre o poder público do Estado e o poder privado;

- Extensão da Cidadania (sec. VI)

- Consagração do cristianismo como religião atual (sec. IV)

- Contestação do carácter absoluto do poder imperial

ESTADO MEDIEVAL:

- Incerteza doutrinal quanto à questão de saber se deve ou não se falar do Estado (X, XI, XII)

Difícil compatibilização entre a organização política estadual e as características

próprias do regime feudal.

ESTADO MODERNO:

-- Idade moderna e da Idade Contemporânea (Séc. XVI a XX)

♠ Rápida centralização dos poderes políticos no Rei;

♠ Distinção precisa dos limites do território e o controlo efetivo deste pelos

♠ Órgãos do Estado.

♠ A conceptualização e afirmação da ideia de Estado-Nação

♠ Distinção do Estado como ente Soberano, isto é, dotado de um poder político

♠ Secularização do Estado

♠ Aperfeiçoamento das garantias individuais

♠ Início do período Constitucional (Rev America/Francesa)

Dentro do Estado Moderno temos o estado estamental ou corporativo, o estado

absoluto e o estado constitucional.

ESTADO ESTAMENTAL OU CORPORATIVO

-- A ideia central é a de que o Rei e os estamentos, ou seja, as ordens (clero, nobreza e

povo), desenvolvem entre si uma relação na qual o primeiro deve ter em consideração

a opinião dos segundos, os quais ganham voz através de assembleias estamentais

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(Cortes, estados Gerais, Dietas).

ESTADO ABSOLUTO

-- Centraliza o poder no rei, ou seja, à medida que o rei vai centralizando o poder, os

estamentos desvanecem-se. O rei tem o poder todo e, portanto, faz a lei. A expressão

melhor que traduz esta evolução do Estado é (L’État c’est moi”. O Rei afirma-se por

direito divino.

-- O estado absoluto permitiu a unidade do Estado, através da elevação do papel da lei

como fonte de direito, pela formação de exércitos nacionais e pela intervenção em

áreas até aí inéditas, como a economia ou a assistência.

ESTADO CONSTITUCIONAL

-- Representa a etapa final e mais caracterizadora do Estado moderno. Contemporâneo

das revoluções liberais (séc. XVIII), pode, contudo, subdividir-se na sua evolução

histórica em três fases essenciais.

♣ Um primeiro momento no séc. XVIII, em que prevalece a afirmação dos direitos civis

(liberdade de consciência, liberdade de expressão, igualdade perante a lei).

♠ Um segundo momento no séc. XIX, em que a afirmação dos direitos políticos é a

pedra de toque (sufrágio universal) e finalmente o séc. XX, onde a presença dos

direitos sociais se afirma de forma radical (educação, saúde, proteção no emprego,

reformas).

Esta última fase é acompanhada de um enfoque ideológico significativo, com o

contributo do marxismo, do socialismo e da social-democracia, que se orientam para uma progressiva


valorização do papel do Estado como corretor das desigualdades socias.

O Estado Constitucional é, pois, o produto de matrizes e experiências muito diversas, mas todos se
encaminhado para pontos comuns:

-- A constitucionalidade jurídica do poder através da Constituição;

-- A ideia de soberania nacional una e indivisível;

-- A transformação dos súbditos em cidadãos titulares de direitos que as cortes e

declarações de direito enfatizavam;

-- A marginalização da ideia do exercício por vários, eleitos pelo povo e representantes da coletividade;

CONSTITUIÇÃO

 Integra as regras da lei fundamental, que estabelece em toda a estrutura

fundamental do Estado e consagram os direitos, liberdade e garantias dos

cidadãos

 Delimita o poder de quem governa e apresenta os direitos dos cidadãos face

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aos abusos do Estado

ESTADOS E FIGURAS AFINS:

São necessários 3 elementos fundamentais para a existência do Estado:

a. Comunidade ou Povo

b. Território (terrestre, aéreo e marítimo)

c. Poder Político próprio

Desta forma, nem todas as sociedades políticas organizadas revestem a natureza de Estado, o qual é
apenas uma categoria, embora a mais evoluída, de um conjunto muito mais vasto.

Mais próximo do Estado estão realidades como é o caso das regiões autónomas ou dos territórios
coloniais.

No caso das regiões autónomas, a diferença essencial que as separa do Estado é o facto de o poder
político de que dispõem, e que decorre de um fenómeno de descentralização política, não ser exercida por
uma autoridade própria. Por isso, o poder político que exercem não é próprio nem originário, mas
delegado e derivado, resultada da Lei Fundamental, que a cria e lhe delimita o âmbito. As RA não
dispõem de uma Constituição.

As colónias por seu lado, eram sociedades politicamente dependentes geralmente fixas num território
inexplorado, geograficamente separado daquele em que estão situados os órgãos supremos do poder
político e formados por grupos étnicos e culturalmente diferenciados.

SOBERANIA

Nem todos os Estados têm o mesmo poder (Soberania).

A Soberania caracteriza-se assim, por ser um poder político Supremo e independente.

Supremo: não está limitado por nenhum outro na ordem interna de um determinado Estado.

Independente: porque na ordem internacional não têm de coatar normas que não sejam voluntariamente
aceites e está ao mesmo nível do poder supremo dos outros Estados.

ESTADOS (classificação jurídico constitucional)

Podem ser (classificação jurídico constitucional)

a. Soberanos

b. Não soberanos

SOBERANOS: capacidade jurídica plena

NÃO SOBERANOS: capacidade jurídica limitada

A diferença entre os Estados com capacidade jurídica plena e os Estados com

capacidade jurídica limitada é por estes se encontrarem num estatuto jurídico

diminuído, em maior ou menor grau face aos outros Estados que sobre eles exercem algum tipo de
autoridade.

Desta forma vêm afetada, em maior ou menor grau, a sua capacidade de agir internacionalmente.

DIREITOS JURÍDICOS QUE O DIREITO INTERNACIONAL ATRIBUI AO ESTADO:

A. Jus tractum (tratados)

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B. Jus Belli (direito de guerra)

C. Jus legacion (manter relações com outros países)

JUS TRACTUM

Define-se como sendo o direito de celebrar e presenciar convenções internacionais com o propósito
soberano.

JUS BELLI

Direito de guerra ou poder bélico através do uso do mesmo em situação de retaliação, defesa de ataque ou
utilização do mesmo em casa de ataque eminente. Deverá ser entendido como um meio de combate em
proporções comparáveis e nunca um excesso de força aplicada.

JUS LEGACION

Poder de representação através de embaixadas e embaixadores em nome do Estado.

Direito concedido de poder a representantes competentes e representativos do Estado.

ESTADO E NAÇÃO

Estado e Nação são dois conceitos distintos e que muitas vezes são confundidos ou

entendidos de forma equívoca.

ESTADO define-se nação politicamente organizada por leis próprias, terras ou países, sujeitos à mesma
jurisdição, conjunto de poderes políticos de uma nação. Importa ressalvar que o conceito de Nação não é
anterior ao de Estado e onde não existe nenhuma subjugação de um em relação ao outro.

NAÇÃO entende-se uma comunidade estável de natureza cultural com uma identidade de origem étnica,
de língua, de história, de tradição, dinamizada pelas mesmas aspirações matérias e espirituais, pelos
mesmos ideais coletivos, e que tem, quase sempre, por base um território. A nação é, pois, um agregado
de indivíduos constituído por vontade própria e geralmente com pretensão de vir a construir uma
comunidade política.

Em suma, poderá dizer-se que engloba o conjunto de características objetivas, exteriores e hereditárias,
que se impõem aos indivíduos. Raça, etnia, língua e território, os costumes, a religião constituem nesta
vertente, caracteres comuns à Nação, que são alheios a uma consciencialização.

Numa abordagem não tão claramente objetiva, o conceito passa por uma posse em comum de um rico
legado de recordações e o consentimento de um desejo por viver em conjunto.

Segundo o italiano Mazzini a “nação é uma associação de todos os homens que agrupados pela
linguagem, quer pelo papel que lhes foi conferido pela história, quer por certas condições geográficas,
reconhecem um mesmo princípio e caminham, sob um império de um direito unificado, à conquista de
um único objetivo definido”.

Existem diferentes tipos de relações entre o Estado e a Nação:

a. O Estado e a Nação coincidentes: aonde o território do Estado coincide com o

da Nação, por exemplo Portugal.

b. O Estado com várias nações ao qual sob o mesmo poder político convivem

diferentes nações sendo exemplo desse fenómeno Espanha, Bélgica ou a República da África do Sul.

c. A Nação repartida por vários Estados: de que é exemplo claro disso mesmo a nação árabe.

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d. A Nação sem Estado: que exemplificou os judaicos, os polacos ou os curdos aonde não existia perante
esta nação um poder político vigente.

e. O Estado sem Nação: por fim, aonde existe a entidade jurídica, sujeito ao Direito Internacional, mas
que não possui qualquer cultura associada, sendo o casos dos primórdios dos EUA.

Marcelo Caetano clarifica:

Povo= “conjunto de indivíduos que para a realização de interesses comuns se reúne em

comunidade política, sob a égide de leis próprias e a direção de um mesmo poder.

Nação= “comunidade cultural de base” corresponde “todos quantos nascem num certo

ambiente cultural feitos de tradições e costumes, geralmente expresso numa língua

comum, atualizado num idêntico conceito de vida, dinamizado pelas mesmas

aspirações de futuro e os membros ideais coletivos”.

E onde a população “abrange o conjunto de pessoas residentes num território, quer se trate de nacionais
quer se trate de estrangeiros”.

ELEMENTOS DO ESTADO: POVO, TERRITÓRIO E PODER POLÍTICO

POVO

“Conjunto de cidadãos ou nacionais de cada Estado, isto é, ligados a um certo Estado por um vínculo
jurídico de nacionalidade”. O povo é, pois, o conjunto de indivíduos que se encontram ligados ao Estado
pelo vínculo jurídico da nacionalidade ou da cidadania.

A Constituição Portuguesa de 1976 estabelece que são cidadãos portugueses, todos aqueles que como tal
sejam considerados pela lei ou por convenção internacional.

A população é um conceito económico-demográfica que designa o conjunto de residentes em dado


território, independentemente de seres nacionais, estrangeiros apátridas.

O povo, é, também, o corpo social sobre o qual o Estado exerce o seu poder.

Ao conceito de povo liga-se o de cidadania.

A nacionalidade revela a pertença à Nação e não ao Estado. É um atributo de pessoas

coletivas ou mesmo de coisas. A cidadania é específica das pessoas singulares, dos

seres humanos, dos cidadãos num Estado Democrático.

A determinação da cidadania dos indivíduos corresponde à delimitação do povo de

cada Estado.

O Direito Internacional reconhece aos Estados a liberdade de conceder ou não a

sua nacionalidade. A convenção de Haia de 1930 declarou que:

a. Todo o individuo tem direito a uma nacionalidade;

b. Ninguém pode ser privada da sua nacionalidade nem do direito de mudar de

nacionalidade.

c. A definição do regime de aquisição e perda de nacionalidade é da competência

de cada Estado.

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A cidadania:

➢ Ao conceito de povo, liga-se o de cidadania como qualidade do individuo.

• Nacionalidade Pertença à nação e não ao Estado.

• Cidadania Especifica das pessoas singulares, dos seres humanos, dos cidadãos de um Estado
Democrático.

➢ Antigamente a cidadania era entendida apenas como um vínculo jurídico-político que unia um
individuo ao Estado hoje é concebida como um verdadeiro direito de cada individuo, revestindo a
natureza de direito fundamental.

➢ A constituição portuguesa no nº.1 do artigo 26º estabelece que a todos é garantido o direito à
cidadania.

➢ A determinação da cidadania dos indivíduos corresponde à delimitação do povo de cada Estado.

• Ex: O povo português é constituído pelo conjunto de cidadãos portugueses, independentemente de se


encontrarem ou não, em território nacional.

➢ A análise da constituição portuguesa demonstra a imprescindibilidade do conceito de povo para a


construção do Estado:

• O nº. 1 do artigo 3.º estipula que a soberania, una e indivisível, reside no povo ideia sublinhada no
artigo 108º., ao estabelecer que o poder político pertence ao povo e desenvolvida no nº. 1 do artigo 10º.
segundo o qual o poder político é exercido pelo povo através do sufrágio universal, direto, secreto e
periódico, do referendo e das demais formas previstas na constituição.

➢ O nº. 6 do artigo 19º. inclui o direito à cidadania no catálogo dos direitos que não podem ser afetados
(suspensos ou limitados) numa situação de Estado de exceção.

➢ O problema da determinação dos cidadãos é uma questão fundamentalmente de direito interno de cada
Estado.

➢ O Direito Internacional reconhece aos Estados o direito de estabelecer os critérios de concessão da


cidadania, porém não deixa de estabelecer que a sua atribuição deve decorrer da existência de um
relacionamento real e concreto entre o individuo e o Estado atribuinte.

• A Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece que:

▪ Todo o indivíduo tem o direito a uma nacionalidade (Nº1 do Artigo 15.º);

▪ Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
nacionalidade (Nº2 do Artigo 15.º).

➢ A Convenção Europeia sobre a Nacionalidade  reforça a ideia de que cabe a cada Estado a
determinação de acordo com o seu próprio direito, de quem são os seus nacionais e que afirma a esse
propósito três princípios essenciais:

• O de que todos os indivíduos têm direito a uma nacionalidade;

• O de que ninguém deve ser arbitrariamente privado da nacionalidade que tem;

• O de que a apatrida deve ser evitada.

➢ Existem dois critérios fundamentais para a atribuição de cidadania:

14
• jus sanguinis segundo o qual ela é determinada pelos laços de sangue ou de filiação em relação a
nacionais decerto Estado;

• jus soli de acordo com o qual o que a motiva é o local de nascimento.

➢ É possível distinguir entre:

• Aquisição originária da cidadania eficácia reporta-se ao nascimento;

• Aquisição derivada da cidadania apenas têm efeitos posteriores a esse nascimento.

➢ A cidadania é um direito, porém, tal como se adquire também se pode perder através de:

• Renuncia decisão/vontade do próprio

• Privação decisão do Estado de retirar a cidadania a um nacional seu por razões de origem jurídica ou
política.

➢ Diferenciação entre as situações de cidadania plena, de semi-cidadania, de cidadania ativa e de


cidadania passiva:

• Cidadania plena envolve o reconhecimento do conjunto de direitos e deveres que certa ordem jurídica
atribui aos seus cidadãos.

• Semi-Cidadania situações relacionadas com as sociedades colonizadas, nas quais os súbditos não eram
considerados cidadãos para efeitos do respetivo estatuto, por isso não tinham direitos políticos.

• Cidadania ativa consiste no exercício concreto de direitos que traduzem uma efetiva participação na
escolha e condução do poder político (ex: o voto).

• Cidadania passiva aquela em que os direitos políticos sofrem limitações (ex: menores ou quem deles é
privado por decisão judicial).

• Cidadania dupla ou múltipla ocorre quando o mesmo indivíduo é considerado cidadão por dois ou mais
Estados.

➢ O vínculo da cidadania pode sofrer importantes alterações por ocorrência do fenómeno da sucessão de
Estados, situação que se verifica quando um Estado se substitui a outro Estado, a título permanente,
relativamente a um território e à população do mesmo.

Se um Estado desaparece, um Estado se cria, ou uma parte do território de um Estado passa para a
jurisdição de outro tal facto não poderia deixar de se refletir no estatuto jurídico dos indivíduos
abrangidos por essas mutações territoriais.

• Exemplos: Timor, onde os cidadãos eram legalmente tidos como portugueses, mas a partir de 1975
passaram a ser considerados indonésios e desde 2002, data da sua independência, passaram a gozar da
cidadania timorense.

Regime Constitucional e legal da cidadania em Portugal

➢ A lei distingue quanto aos dois grandes tipos de aquisição da nacionalidade entre a aquisição originária
(“atribuição de nacionalidade”) e a aquisição derivada (“aquisição da nacionalidade).

15
➢ A cidadania originária obtém-se por mero efeito da lei ou por efeito conjugado da lei e da vontade e
por virtude dos factos ligados ao nascimento conciliando o jus sanguinis e o jus soli.

➢ Assim são portugueses de origem por mero efeito da lei:

• Os filhos de pai português ou de mãe portuguesa nascidos em território português;

• Os filhos de pai português ou de mãe portuguesa nascidos no estrangeiro, se o progenitor português aí se


encontrar ao serviço oficial do Estado português;

• Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros, se pelo menos um dos seus
progenitores já tiver nascido em Portugal e aqui tiver a sua residência, e isto independentemente de, ao
tempo do seu nascimento, dispor ou não de um titulo de residência legal;

• Os indivíduos nascidos em território português e que não possuam outra nacionalidade.

➢ Por outro lado são portugueses de origem por efeito da lei e da vontade:

• Os filhos de mão portuguesa ou de pai português nascidos no estrangeiro se tiverem o seu nascimento
inscrito no registo civil português ou declararem que querem ser portugueses;

• Os indivíduos nascidos no estrangeiro com, pelo menos um ascendente de nacionalidade portuguesa do


2ºgrau na linha reta que não tenha perdido essa nacionalidade, se declararem querer ser portugueses,
possuírem laços de efetiva ligação à comunidade nacional e, verificados esses requisitos, inscreverem o
nascimento no registo civil português;

• Os indivíduos nascidos em território português, filhos de estrangeiros que não se encontrem ao serviço
do respetivo Estado, que não declarem não querer ser portugueses, desde que, no momento do
nascimento, um dos progenitores aqui resida legalmente há pelo menos dois anos.

➢ Já a cidadania não originária ou derivada adquire-se por efeito da lei e da vontade, por adoção ou por
naturalização.

➢ Podem por isso, adquirir cidadania portuguesa por efeito da lei e da vontade:

• Os filhos menores ou incapazes de pai ou mãe que adquiriu a cidadania portuguesa, mediante
declaração;

• O estrangeiro casado há mais de 3 anos com cidadão português, mediante declaração feita na constância
do matrimónio;

• O estrangeiro que, à data da declaração, viva em união de facto há mais de 3 anos com nacional
português, após ação de reconhecimento dessa situação, a interpor no tribunal cível;

• Aqueles que a tenham perdido por efeito de declaração prestada durante a sua incapacidade, mediante
declaração, quando tiverem readquirido a sua capacidade jurídica.

Nestes casos a aquisição da cidadania pode ser objeto de oposição judicial  por parte do ministério
público (nº1 Art.10º.) devido a:

• Inexistência de ligação efetiva à comunidade nacional;

• A condenação, com trânsito em julgado da sentença, com pena de prisão igual ou superior a três anos;

• O exercício de funções públicas sem caráter predominantemente técnico ou a prestação de serviço


militar não obrigatória a Estado estrangeiro;

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• A existência de perigo ou ameaça para a segurança ou a defesa nacional, pelo seu envolvimento em
atividades relacionadas com a prática do terrorismo, nos termos da lei atinente a essa matéria.

A condição dos estrangeiros e apátridas

➢ Devido à sua própria condição os estrangeiros não se encontram ou não se podem encontrar,
relativamente à ordem jurídica de um Estado terceiro, numa posição idêntica à dos cidadãos deste por
isso, o seu estatuto assenta, desde logo, em regras de direito internacional.

➢ A Declaração Universal dos Direitos do Homem e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
bem como a Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954 assentam em duas regras fundamentais:

• Os estrangeiros (e os apátridas) devem ter uma condição jurídica compativel com a dignidade da pessoa
humana e usufruir dos direitos que daí decorrem;

• Os estrangeiros e apátridas podem, em princípio, não gozar de direitos políticos no país onde se
encontram.

A cidadania europeia

➢ A entrada em vigor do Tratado de Maastricht veio colocar pela primeira vez, a questão da cidadania da
União o Tratado de Amesterdão, por seu lado, clarificou a natureza dessa cidadania e acrescentou-lhe
novas dimensões, tendência que veio a acentuar-se com a adoção do Tratado de Lisboa.

➢ Nos termos do artigo 20º. do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia é instituída a
cidadania da União da qual goza qualquer pessoal com a nacionalidade de um Estado-membro.

➢ A cidadania europeia não é uma cidadania em sentido técnico-jurídico aceita-se, porém, a utilização do
termo, tendo em conta o objetivo que se visa atingir e a dimensão específica que, por essa via, se pretende
imprimir ao processo de construção europeia. Assim se compreende que o Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia refira que “a cidadania da União é complementar da cidadania
nacional e não a substitui”.

TERRITÓRIO

O 2º pressuposto da existência do Estado é o território dado que não se pode conceber a existência de um
Estado contemporâneo sem um território onde aquele exerça o seu poder soberano.

O território do Estado pode dividir-se em:

a. Território Terrestre;

b. Território Aéreo;

c. Território Marítimo (espaço de água salgada que comunicam livremente entre si);

TERRITÓRIO TERRESTRE

É delimitado pelas suas fronteiras naturais ou convencionais do Estado e engloba todo o subsolo que lhe
corresponde, onde o Estado exerce a sua jurisdição.

É a dimensão mais significativa de um Estado e por isso está sujeito a uma soberania do

17
Estado. A entrada no território de um Estado pressupõe de autorização

TERRITÓRIO AÉREO
Abrange todo o espaço aéreo compreendido entre as verticais traçadas a partir das fronteiras e, no caso do
Estado ribeirinho, inclui ainda o espaço sobre o mar territorial, e vai até ao limite da atmosfera.

Quais as suas fronteiras?

R: Não há nenhum tratado que o diga, mas a Linha de Kárman, que é uma linha traçada a 100km e faz a
distinção entre aquilo que é aeronáutica ou astronáutica.

Os espaços aéreos podem ser divididos em 3 categorias:

a. Espaços marítimos sobre os quais o Estado exerce jurisdição e soberania, mas não fazem parte do seu
território;

b. Espaços marítimos sobre os quais o Estado exerce apenas poderes parcelares e por isso não integram o
seu território;

c. E o património de todos.

5 GRANDES LIBERDADES EM SEDE DE UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO AÉREO:

1. A liberdade de sobrevoar território estrangeiro sem aí aterrar;

2. A liberdade de aterragem em território estrangeiro com fins não comerciais (abastecimento ou situação
de emergência);

3. A liberdade de desembarcar passageiros, carga e correio provenientes do país de origem da aeronave;

4. A liberdade de embarque com destino ao país de origem da aeronave;

5. A liberdade de embarque de passageiros e mercadorias no território de um

Estado para desembarque no território de outro Estado;

TERRITÓRIO MARÍTIMO

O território marítimo divide-se em:

a. Águas interiores;

b. Mar Territorial;

c. Plataforma Continental;

➢ A delimitação doutrinária remonta a Grócio e aos pensadores do século XVII que dizem que o Estado
tem domínio de uma certa extensão de mar a partir das suas costas.

➢ Ao longo século XX, sob o impulso da ONU houve várias conferencias com o objetivo de definir o
regime jurídico das zonas que compõem os diversos espaços marítimos.

➢ Em 1958 foi assinada uma convenção sobre o mar territorial e a zona contigua de acordo com a qual
existia uma zona denominada mar territorial, adjacente às costas do Estado e à qual se estendia a
soberania estadual.

➢ Foram assim definidas várias zonas adjacentes ao território marítimo:

• Maré baixa: define o ponto 0;

• Primeira parcela: águas interiores que ficam antes do ponto 0.

18
▪ O Estado exerce aqui soberania plena pois está dentro do território terrestre.

▪ É o único espaço prévio das águas marítimas.

• Mar territorial: adjacente às costas do Estado e onde se estende a soberania estadual.

▪ A sua linha de base para medir a sua largura é a linha de maré baixa, que tem 12 milhas marítimas.

▪ O estado exerce quase plena soberania nas águas e no solo e subsolo a si correspondente.

▪ Este espaço inclui o direito da passagem inofensiva no qual os navios de qualquer Estado podem passar,
quer para se dirigirem às águas interiores, a um porto ou para atravessarem esta passagem não deve ser
prejudicial à paz, boa ordem ou segurança do Estado Costeiro, o qual pode apenas delimitar essas rotas.

• Zona contigua: tem uma largura máxima de 12 milhas marítimas e sobre a qual, o Estado costeiro pode
exercer poder de fiscalização, emigração, sanitária e aduaneira.

▪ A zona contigua perdeu bastante importância com a criação da Zona Económica Exclusiva.

• Zona Económica Exclusiva: tem uma extensão de 200 milhas e é um espaço onde o Estado costeiro
detém a exploração económica total, mas com poderes limitados.

▪ Os outros Estados têm liberdade de navegação, sobrevoo e colocação de cabos submarinos nessa área,
exceto atividades económicas sem autorização.

ESTES TERRITÓRIOS ESTÃO SUJEITOS À SOBERANIA DO ESTADO

O Estado não exerce jurisdição:

a. Zona Contígua;

b. ZEE;

ÁGUAS INTERIORES

Ficam para cá do ponto de partida que os espaços marítimos se contam. Englobam baías, portos etc.

É abrangido por uma política económica

MAR TERRITORIAL

Abrange atualmente uma extensão de 12 milhas contadas a partir da linha do baixamar ao longo da costa.
O mar territorial é a porção do oceano imediata ao território terrestre em toda a superfície e profundidade.

Há, neste território, o direito de passagem inofensiva, isto é, há uma limitação que o Estado exerce sobre
os seus limites territoriais, por exemplo há o direito de passagem de um navio por mares portugueses
desde que exerçam o exercício de passagem inofensiva (Direito Consuetudinário)

PLATAFORMA CONTINENTAL:

Corresponde ao ponto de vista geológico.

É a continuação do nosso território só que na condição de este se encontrar submerso pela água do mar.
Corresponde, assim, ao prolongamento natural da costa sob as águas. Regra geral: a plataforma
continental pode ir até às 350 milhas.

Este território compreende o leito e o subsolo das águas que se estendem do seu território.

O Estado tem direitos de soberania (plena/exclusiva) para efeitos de exploração e aproveitamento dos
recursos naturais e por outro lado assume um papel de relevo em termos de estratégicos e militares.

QUANTO MAIS PERTO DA COSTA MAIS PODER TEM O ESTADO.

19
As 12 milhas náuticas seguintes até às 24 milhas são consideradas é a ZONA CONTÍGUA que
compreende uma predisposição do Estado de manter uma política de vigilância e patrulha marítima. Neste
território o Estado não exerce uma jurisdição, mas pode exercer direitos de fiscalização antes de entrar no
território do Estado. Permite intervir em matéria sanitária, fiscalização, aduaneira, fiscal, imigração.

Em suma: COM JURISDIÇÃO, MAS SEM SOBERANIA

O território fluvial inclui os rios e bacias hidrográficas. São considerados rios internacionais os que
atravessam dois Estados e que ou servem de fronteira ou são geridos equitativamente (em caso de
barragens);

O território lacustre engloba lagos e complementam a mesma forma de poder

político que os rios.

Por sua vez, a ZEE (Zona Económica Exclusiva) não é considerada propriedade do Estado. É uma
afetação do território ribeirinho onde o Estado detém direitos económicos e políticos.
É assim, a entrega ao Estado de explorar os recursos económicos dessa zona.

Prolongasse até Às 200 milhas marítimas a partir do ponto 0, sendo que para lá dessa distância o território
é internacional (res comuni).

O Estado, na ZEE, exerce poderes limitados, mas com direitos de exploração dos recursos económicos:

a. Controlo de pesca;

b. Exploração dos recursos naturais;

c. Investigação científica;

d. Proteção do meio marinho;

Assim, temos de ser capazes de distinguir os espaços que integram o território do Estado, porque sobre
eles exerce soberania e territórios que não fazem parte do território do Estado, mas que o mesmo exerce
poderes embora que limitados.

Um determinado espaço marítimo, aéreo e territorial integra o território do Estado, então o mesmo deve
poder exercer um poder plano sobre ele o que significa que qualquer circulação deve estar submetida pelo
Estado.

O mar territorial tem uma limitação (direito de passagem inofensiva) e isto, é uma figura que surgiu de
um costume internacional até que se transformou num direito.

Um navio estrangeiro civil pode livremente fazer a passagem livremente com rumo a outro país, desde
que seja uma passagem inofensiva, isto é, desde que não ponha em causa a segurança, a ordem e a
estabilidade do Estado. Mas se criar desacatos, este pode ser expulso. Esta entrada tem de ser pacífica,
pois se não for o Estado pode expulsar está é a única limitação de soberania, desde que essas condições se
verifiquem.

Alterações territoriais

➢ Território de um Estado não é fisicamente imutável, podendo ser objeto de mudanças.

➢ Existem três formas de alteração territorial a ocupação, anexação e a retificação e a sucessão de


Estados.

• A ocupação: é a aquisição de um território despovoado e não sujeito a qualquer soberania, este é


historicamente muito relevante.

20
• A anexação: é a integração parcial ou total do território de um Estado noutro Estado, contra a sua livre
vontade, e em geral por recurso à força. Trata-se assim de um modo de aquisição que atualmente deve ser
classificado como ilegal.

• A retificação de fronteiras: é o acordo entre Estados contiguos para a definição dos contornos concretos
do respetivo território. É feita com recurso a tratados internacionais e visa proceder apenas a pequenos
ajustamentos, não determinando significativas alterações, tendo por objetivo a definição de acordo com o
princípio da razoabilidade, dos limites exatos de cada território.

• Por fim a sucessão de Estados que pode ocorrer em quatro tipos de situações:

▪ Cessão: passagem de parte do território de um estado para a soberania de outro estado, pode ocorrer a
título gratuito ou oneroso.

▪ Descolonização: ascensão à independência de um Estado que era anteriormente um território


dependente.

▪ Unificação: União de dois ou mais estados num mesmo estado.

▪ Separação: criação de dois ou mais estados a partir do território de um estado, independentemente do


desaparecimento ou da manutenção do anterior estado.

Relevância Jurídico-Política do Território

➢ O território é bastante importante pois tem uma condição de independência nacional tem também a
delimitação do poder do soberano do estado e por fim representa um meio de atuação jurídico-política do
Estado.

• A independência nacional: tem uma relação intrínseca com o território pois a existência e manutenção
deste só é possível se dispuser de um território próprio assim a perda por um Estado de todo o seu
território iria conduzir diretamente ao seu desaparecimento, isto é, ao fim da independência nacional por
isso uma das tarefas fundamentais do Estado é a defesa dessa independência nacional (alínea a do artigo
9º da constituição).

• A delimitação do poder do soberano do estado: pois embora os órgãos de soberania exerçam o seu poder
no território, o ordenamento jurídico do estado aplica-se também no estrangeiro  ou seja, o direito de
um Estado é aplicado dentro das suas fronteiras a todos que aí residem (nacionais, estrangeiros e
apátridas) mas também é aplicável aos seus nacionais onde quer que estes se encontrem.

• A relevância jurídica do território: projeta-se na atuação do poder político do Estado  na medida em


que as zonas que pertencem a entes públicos são utilizadas para os objetivos que aquele se propõe a
realizar importa no caso do estado referir que os direitos do estado em relação ao território não são como
que com a propriedade privada neste caso importa apenas distinguir o domínio publico, do domínio
privado:

▪ Domínio

público: conjunto de coisas públicas, submetidas por lei ao domínio de uma pessoa coletiva de direito
público, tem assim uma utilidade coletiva.

▪ Domínio privado: é composto pelos bens que o Estafo ou qualquer outro ente público é proprietário.

• A soberania do território do Estado tem exceções que ocorrem no caso de imunidade diplomática ou de
decisões da União Europeia (que se podem sobrepor a leis jurídicas dos seus membros, menos à
Constituição da República Portuguesa).

21
O Território Português

➢ A Constituição da República Portuguesa  afirma que Portugal abrange o território historicamente


definido no continente europeu e os arquipélagos dos Açores e da Madeira.

▪ Assim Portugal é composto pela dimensão que se encontra situada na península ibérica de acordo com
os limites fronteiriços definidos com a Espanha, é ainda composto pelo espaço geográfico dos
arquipélagos dos Açores e da Madeira.

➢ No que toca ao território marítimo Portugal possui um espaço de águas interiores (aquelas que estão
situadas para cá da linha de base) possui também o mar territorial cuja largura é de 12 milhas marítimas
temos também uma plataforma continental com uma dimensão variável a zona económica exclusiva tem
uma largura de 200 milhas marítimas, no qual Portugal nessa área exerce a competência de fiscalização,
exploração, aproveitamento para fins económicos…

3º ELEMENTO DO ESTADO PODER POLÍTICO

Não é um elemento material, mas sim jurídico.

É a par da comunidade ou povo e do território, o outro elemento essencial à existência do Estado.

Podemos referir poder político como: “a faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria,
instituir órgãos que exerçam uma relativa autonomia à jurisdição de um território, nele criando e
executando normas jurídicas, usando para o efeito, os necessários meios de coação”  Marcelo Rebelo de
Sousa.

O Estado só existe quando há um conjunto de pessoas que se torna proprietário de um território e que
nesse território estabeleça uma autoridade política.

O poder político pertence ao povo, isto é, reside do povo. Os órgãos do poder político são aqueles que em
nome do povo exerce esse poder. O presidente ou o governo não são proprietários do poder político.

Em suma: O poder político é erigido por um povo num determinado território e é por isso uma
manifestação de vontade própria. É o funcionamento de um conjunto de órgãos aos quais caberá o
exercício da autoridade que pertence ao povo.

Os órgãos de soberania residem no povo, que pode delegar o seu exercício através do mecanismo da
representação política.

O exercício do poder político tem por missão a organização da vida coletiva, agindo com vista a garantir
os valores fundamentais cuja realização justificou o surgimento desse Estado: segurança, bem-estar dos
cidadãos e justiça.

O exercício do poder estadual está sempre ligado ao funcionamento de um aparelho de coerção que
dispõe dos instrumentos para impor o incumprimento das leis.

O PODER POLÍTICO ESTADUAL PODE SER VISTO EM TRÊS PONTOS DE VISTA:

a. Exclusividade: tendência que os detentores do poder político se manifestam em não permitir a


formação de grupos armados independentes.

b. Universalidade: capacidade que os detentores do poder político têm de tomar decisões apropriadas e
efetivas para toda a comunidade no que toca à distribuição de recursos não apenas económicos.

c. Inclusividade: possibilidade de intervir em toda a possível esfera de ação dos membros do grupo,
direcionando-os para fins desejados ou dissuadindo-os de um fim não desejado, através de um conjunto

22
de normas primárias e secundárias dirigidas a funcionários especializados e autorizados a intervir quando
essas são violadas

LEGITIMIDADE DO PODER POLÍTICO

1. LEGALIDADE: (é avaliada por quem te do ponto de vista jurídica de o fazer) corresponde aos
aspetos de conformidade com a lei, assumindo que a atuação dos poderes políticos deve ser regida por
normas e por si limitadas. A legalidade é assim aquilo que respeita a lei, é a conformidade com o Direito.
Tudo aquilo que viola a lei e está em desconformidade com o Direito é ilegal.

2. LEGITIMIDADE: (depende desde logo da natureza da legitimidade) É um conceito com


consequências jurídicas, mas sem origem no Direito (o Direito vai recuperá-lo mais tarde). É a
conformidade, a compatibilidade e o respeito dos valores e princípios pelos quais uma sociedade se
orienta. A legitimidade configura-se no domínio da justiça, na medida em que a verificação é ai da
compatibilidade com os valores. Legítimo será aquilo que é concordante com a um determinado sistema
de convicções e crenças. Para além de um plano interno, a legitimidade também surge na esfera da
comunidade internacional. A legitimidade é quando envolve a autoridade enquanto que a Legalidade é
quando envolve o Direito (regras jurídicas). O conceito de legalidade configura-se na base do Direito e o
conceito de Legitimidade configura-se segundo a filosofia e na ciência política.

ESTAS RELAÇÕES PODEM CRUZAR-SE EM 4 LINHAS:

A. O que é legal é legítimo (democracias);

B. O que é legal é ilegítimo (ditaduras opressoras);

C. O que é ilegal é legítimo (Rev. contra ditaduras);

D. O que é ilegal é ilegítimo (prática de crimes);

SEGUNDO WEBBER, A LEGITIMIDADE É PRODUTO DE UM DADO PRECESSO DE

LIGITIMAÇÃO, E POR ISSO PODE SER DOMINADO EM TRÊS TIPOS:

A. LEGITIMIDADE DE CARACTER TRADICIONAL: obedece-se à pessoa chamada pela tradição


ou pelo sistema tradicionalmente determinado. Deve-se assim obediência a quem governa porque é
aquele que, segundo a lei, deve governar. O mais velho é chamado a governar um grupo, por exemplo

B. LEGITIMIDADE DE ÍNDOLE CARISMÁTICA: está ligada à congregação de qualidade de


alguém, vistas como extraordinárias, que é considerado como estando na “posse de forças sobrenaturais
ou sobre-humanas”, enviado por Deus como um exemplo a seguir e por isso, um chefe ou líder. Está
relacionada com as características pessoais do líder, ou seja, o cidadão encontra nessa pessoa a qualidade
extraordinária de governar. A LEGITIMIDADE advém das qualidades que atribuem ao líder e por isso,
esse carisma acaba quando o seu líder carismático acaba.Característica específica que é o
carisma=suposta reunião numa pessoa de um conjunto de qualidades absolutamente excecionais. Alguém
que é visto pelo ser humano por um conjunto de qualidades excecionais.

C. LEGITIMIDADE DE NATUREZA RACIONAL: baseia-se na crença da legalidade das normas


estatuídas e dos direitos de comando daqueles que são chamados por essas normas a exercer autoridade. A
legitimidade do poder/ governante vem do facto de terem sido escolhidos segundo a lei e de governarem
segundo a mesma.

LEGITIMIDADE E REGIME POLÍTICO

A legitimidade de um regime assenta primeiramente na sua democraticidade, ou seja, no facto de se fixar


na vontade livremente manifestada dos cidadãos, manifestações essas inseparavelmente ligadas ao
mecanismo do sufrágio universal, ou seja, no plano da democracia representativa, seja no quadro dos
instrumentos de participação direta.

23
O poder legítimo é aquele que é aceite por ter fundamento legal e por atuar legalmente, o poder tem-se
legitimamente titulado quando se encontra na política eleitoralmente suportado.

LEGITIMIDADE DE TÍTULO: quem governa, governa porque no momento da escolha isso foi
designado segundo a lei. É o momento inicial do exercício das funções.

É a legitimidade que é apurada no momento 0. É a perceção da legitimidade que alguém tem quando
inicia o exercício das suas funções. Procedimento que permite chegar ao poder.

LEGITIMIDADE DE EXERCÍCIO: alguém pode ter legitimidade de título, mas quando começa a
exercer perde toda essa legitimidade.

A apreciação do modo de como as funções são desempenhadas.

CAPITÚLO IV

FINS E FUNÇÕES DO ESTADO

A. FINS DO ESTADO: Objetivo a atingir

B. FUNÇÕES: As atividades que visam esses fins

C. ÓRGÃOS DO ESTADO: As entidades que realizam as atividades

FINS DO ESTADO:

-- Justiça, Segurança, e Bem-estar económico e social

Os fins do Estado pretendem atingir um conjunto de tarefas de interesse geral, que podem residir nos
indivíduos, nas pessoas coletivas ou nas organizações que também o constituem.

A SEGURANÇA garante-se através das regras jurídicas para se ter noção daquilo que é permitido e
daquilo que não é permitido.

A JUSTIÇA: funcionamento dos tribunais são instrumentais, e a justiça deve fazer-se ao nível material.
Pode ser:
a. JUSTIÇA COMUTATIVA: é uma relação em que um dá e o outro recebe. Tem de se manter o
equilíbrio, garantir aquilo que um dá é o mesmo que o outro recebe. Isto garante-se se as pessoas tiverem
o mesmo comportamento.

b. JUSTIÇA DISTRIBUTIVA: a ideia de que cada um deve ser remunerado de acordo com os seus
méritos. Garante que cada um recebe em proporção daquilo que dá.

BEM-ESTAR (ECONÓMICO E SOCIAL): tarefa que cabe ao Estado de garantir que a todos os cidadãos
é assegurada um conjunto mínimo de condições compatíveis com a dignidade humana, as

OS FINS DO ESTADO NA CONSTITUIÇÃO DE 1976

➢ O entendimento aprovado quanto aos fins do Estado torna-se mais claro se analisarmos os “fins do
Estado” tal como se encontravam consagrados na constituição de 1933 (artigo nº6), por comparação com
as “tarefas fundamentais do Estado” que se ocupa do artigo nº9 da atual constituição.

➢ O teor do artigo nº6 da constituição de 1933 era a seguinte (incumbe ao Estado):

a) Promover a unidade moral estabelecer a ordem jurídica da Nação, definindo e fazendo respeitar os
direitos e garantias resultantes da natureza ou da lei, em favor dos indivíduos, das famílias, das autarquias
locais e das corporações morais e económicas.

b) Coordenar, impulsionar e dirigir todas as atividades sociais, fazendo prevalecer uma justa harmonia de
interesses, dentro da legítima subordinação dos particulares ao geral.

24
c) Zelar pela melhoria de condições das classes sociais mais desfavorecidas, obstando a que aquelas
desçam abaixo do mínimo de existência humanamente suficiente.

➢ As obrigações do Estado Novo reconduziam-se assim ao modelo abstrato dos fins do Estado que foram
evidenciados anteriormente. Estes transportavam também uma carga ideológica hierárquico-corporativa,
assente nos grupos intermédios entre o individuo e o Estado (família, organismos corporativos, igreja,
autarquias).

➢ A matéria dos fins do Estado na constituição de 1976 contemplados no artigo nº9 pode também
reconduzir-se em termos globais, aos fins abstratos antes identificados, com a singular particularidade de
todos eles se encontrarem interligados, mas ao mesmo tempo pressupõe um entendimento democrático e
liberal da sociedade e do Estado, assente no primado da pessoa humana, assim:

a) A segurança encontra-se presente no objetivo da defesa da independência nacional (alínea a) do artigo


nº9 e nº3 do artigo 5. Dimensão da defesa das fronteiras contra a ameaça externa, quer na afirmação da
identidade nacional e da melhoria da qualidade de vida dos portugueses (alíneas a), e) e f) do artigo 9º) …

b) A justiça e o bem-estar estão patentes em várias dimensões, através da promoção do bem estar e
qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, na igualdade entre homens e mulheres
na proteção do património cultural, preservação dos recursos naturais, no correto reordenamento urbano
do território, no desenvolvimento harmonioso de todo o território, na modernização das estruturas
económicas e sociais de modo a construir uma sociedade livre, justa e solidária (artigo 1º e alíneas e), g) e
h) do artigo 9º)

➢ Do texto constitucional em vigor não resulta uma qualquer preponderância dos fins do Estado
abstratamente considerados ou mesmo de qualquer das tarefas ou objetivos definidos, sendo que se
justifica efetuar uma leitura interrelacionada de todos eles (a sociedade “livre, justa e solidária”) - do
artigo 1º. segurando, desde modo, o acesso a direitos económicos, sociais e culturais.

FUNÇÕES DO ESTADO: SÃO PERMANENTES, TEM DE DESENVOLVER UM CONJUTNO

DE ATIVIDADES.

Sendo um Estado uma sociedade politicamente organizada, tendo em vista atingir determinados fins, os
seus órgãos têm de desenvolver as funções, ou seja, um conjunto de atividades necessárias à sua
prossecução. As funções do Estado são funções jurídicas – e normas constitucionais – que qualificam as
funções do Estado e essas funções se aferem pelos fins que visam prosseguir. O Estado, portanto, tem de
garantir que temos acesso a bens e serviço e é chamado a satisfazer um conjunto de necessidades da
sociedade.

Fazemos, portanto, a distinção de 2 poderes:

→Poder Constituinte: é por exemplo a elaboração de uma Constituição, é necessário ser aprovada (são os
poderes que decorrem antes da constituição, ou seja, no seu processo)

→Poder constituído: poderes que decorrem da constituição. As funções do Estado podem ter que ver
com o exemplo de poderes constituintes e poderes constituídos

TIPOLOGIA PROPOSTA DE FUNÇÕES DO ESTADO

1.Função constituinte: Está por detrás da Constituição. Os poderes são constituintes porque são criados
pela constituição e por isso têm de estar em conformidade com a constituição. Poder constituinte
originário: elabora a Constituição a partir do zero; Poder constituinte derivado: revê, muda e altera a
Constituição.

2. Funções no exercício de poderes constituídos:

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3. Função política: traduz-se na definição primária do interesse público, na interpretação dos fins do
Estado e na escolha dos meios adequados para os atingir.

4. Função legislativa: está subordinada à função política, pois num primeiro momento existe uma opção
política e num segundo momento a sua tradução legislativa.

5. Função jurisdicional: visa dirimir os conflitos públicos ou privados, como punir a violação da
Constituição ou das leis, interpretando e aplicando o direito.

6. Função administrativa: prática de atos aptos a satisfazer as necessidades coletivas. Podem ser atos
normativos ou não normativos e estão subordinados às opções políticas e legislativas do Estado.

2. A separação de poderes pode ser feita de modo:

a) Horizontal: os poderes do Estado não dependem de si, ou seja, não há um mais importante que outro.

b) Vertical: forma como os poderes do Estado se distribuem entre o centro e a periferia

FUNÇÕES DO ESTADO:

A. Exercício do poder constituinte: aprovação e alteração

B. Exercício do poder constituído: política/legislativa- independente; administrativa e jurisdicional →


dependente.

Temos de ter em conta que as funções que o Estado vai exercer são sempre limitadas. O poder
constituinte é as regras do jogo, que neste caso é a constituição Modificação da Constituição é um poder
constituinte, pois a criação como documento jurídico pode ser alterada.

→O exercício mais plano de uma soberania é dotar-se de uma Constituição que é uma referência central
do fim do Estado.

Os poderes constituídos decorrem da constituição porque se chamam funções independentes? →Porque o


seu grau de exercício é marcado por um grande grau de condicionamento .

FUNÇÃO POLÍTICA

Fazer política é decidir, é optar entre caminhos alternativos tendo em conta o interesse coletivo e tendo
em conta os objetivos que o Estado visa atingir. Raras são as soluções que o caminho político só tem um
único caminho.

2ª FUNÇÃO: LEGISLATIVA → APROVAÇÃO DE ATOS

Quando a Assembleia da República aprova uma lei, essa é da nossa vontade e por isso quando falamos
em função legislativa não falamos em funções normativas. O que está em causa é a aprovação de normas
que em conta com a mais importante fonte de Direito que existe.

FUNÇÃO JURISDICIONAL

A conveniência humana implica conflitos sempre. Se assim é, tem de haver uma função do Estado que se
dedique a resolver os litígios que ocorra. Essa tarefa é entregue às entidades independentes (não tem nada
a ver com o poder político).

A atividade de julgar é dependente. Coisa diferente á a posição de quem exerce essa função.
Independência dos tribunais, um juiz de primeira instância não pode receber ordens de um tribunal
supremo

➔ A função em si, ser independente é porque estou limitado por termos em que a lei definiu

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Função política esta distribuída:

a. PR

b. Governo

c. AR

Ex: quando o PR demite o governo esta toma uma decisão política. Quando convoca um referendo está a
estabelecer uma decisão de natureza política.

FUNÇÃO LEGISLATIVA

Aprovação de leis. Falamos em atos com valor legislativo, com valor de lei.

São atos de lei:

a. LEIS da AR

b. DECRETO-LEI do GOVERNO

c. DECRETOS LEGISLATIVOS REGIONAIS (RA dos Açores e da Madeira através dos respetivos
parlamentos)

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA:

Está atribuída a vários níveis e outras entidades como são as Regiões Autónomas (RA) e as autarquias
locais.

→A função jurisdicional cabe aos tribunais. Assegura a defesa dos cidadãos e resolve os conflitos entre
entidades publicas e privadas.

OS ORGÃOS DO ESTADO

1. Marcello caetano definiu o tema do órgão político do estado dizendo que este era um cargo singular
que tem competências para participar no processo de manifestação de uma vontade funcional imediata ou
mediatamente aplicável ao Estado-coletividade.

2. Por esta definição conseguimos ver a existência de vários tipos de órgãos que o órgão compreende um
conjunto de elementos constitutivos em que existe uma relação entre órgão e estado (relação jurídica) que
permite transformar a vontade psicológica dos titulares do poder em vontade do próprio estado.

A VONTADE FUNCIONAL

1. O conceito de órgão de estado é determinante para se entender a dinâmica do estado e a sua articulação
com a coletividade.

• Pois este permite explicar o funcionamento do estado como se tratasse de uma grande empresa, com
vontade própria. Porque a dualidade entre a vontade dos que ocupam o poder (vontade psicológica) e a
vontade do estado (vontade funcional), apenas se consegue ultrapassar através da densificação do
conceito de órgão de estado.

2. Quando o estado legisla, este emite sentenças ou formula atos administrativos, isso é então resultado
inicial da atividade de determinadas pessoas físicas a quem é atribuída a competência para decidir.

• Essa vontade psicológica transforma-se através da responsabilidade, em vontade funcional do estado (ou
do órgão de estado).

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ELEMENTOS

1. Instituição: ideia de obra ou de realização que perdura no tempo e na comunidade como uma realidade
aceite.

2. Competência: complexo de poderes funcionais que dizem respeito à participação no exercício de uma
ou mais funções do Estado.

3. Titular: pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que tornam efectiva a vontade do órgão político. É
temporário e os modos da sua designação são por efeito do Direito (sucessão hereditária, sorteio, rotação,
antiguidade e inerência) ou por efeito do Direito e da vontade (cooptação, nomeação, concurso e eleição).

4. Cargo: relação concreta que se estabelece entre o titular e o Estado.

A COMPETÊNCIA E A DOUTRINA DOS PODERES IMPLÍCITOS

1. A competência decorre diretamente da norma jurídica que a fixa, não sendo assim admissível assumir
os poderes que não estão previstos na norma. A constituição portuguesa é clara, sendo que estabelece no
artigo 111º, nº2, que diz que a competência dos órgãos de soberania estão nela definidas.

2. Os órgãos de estado vinculam-se ao princípio da prescrição normativa da competência, esta afirma que
apenas podem agir no exercício dos poderes previstos nas normas que a eles se referirem e nos termos por
elas definidos. Desse mesmo modo que se um órgão de estado exercitar uma competência que não lhe
está atribuída ou extravase dessa mesma competência, esse ato é invalido, podendo ser qualificado como
incompetência do poder.

3. Associado ao princípio da prescrição normativa, encontra-se o princípio da indisponibilidade da


competência e ainda o princípio da tipicidade das competências, todos levam de que as competências dos
órgãos constitucionais são como anteriormente dito as regras que se enumeram na constituição e na qual
não é possível transferir essas mesmas competências para outros órgãos.

4. Fica ainda a pergunta sobre as competências não estritas, se estas são admissíveis à luz do que se vem
sustentando. Assim para se esclarecer essa questão é necessário a distinção entre:

a) Competências constitucionais escritas expressas;

b) Competências constitucionais implícitas;

c) Competências não escritas;

5. A doutrina das competências implícitas decorre dos últimos grupos e, nos Estados Unidos da América,
desenvolveu-se a seguinte tipologia:

a) Poderes decorrentes ou emergentes que resultariam de uma leitura de todos, ou alguns poderes,
conferidos, expressa e especificamente, pela constituição;

b) Poderes Implícitos como poderes não expressamente mencionados na constituição, mas adequados e
necessários à prossecução global dos poderes atribuídos ao órgão de Estado pela lei fundamental;

c) Poderes inerentes ou essenciais, isto é, que sejam indispensáveis ao exercício de funções essenciais de
soberania.

ORGÃO E TITULAR

1. O órgão do Estado é permanente e exerce as suas competências de modo continuo.

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2. O titular, por seu lado, é temporário por natureza, quer em virtude da vida humana ou das suas
capacidades, quer por força das regras jurídicas que apontam para a renovação dos titulares dos cargos
políticos (artigo 118º da constituição). Neste último caso, prevalece o princípio da renovação, de evidente
filiação republicana, que impede a vitalidade dos cargos políticos.

3. Existem assim vários modos de designação dos titulares dos órgãos do Estado, sendo assim usual
distinguir-se entre:

a) Os que funcionam por mero efeito do direito- herança, sorteio…

b) Os que dependem da conjugação do direito e da vontade- nomeação, concurso, eleição…

4. Assim independentemente das várias especificidades de cada um dos órgãos, todos eles resultam de
regras jurídicas que estão definidas na constituição ou na lei, sendo que a designação dos titulares de
órgãos do estado, em especial dos órgãos de soberania assumem o vínculo da representatividade
democrática, assentando atualmente na eleição.

5. São inúmeras as relações que se podem estabelecer entre órgãos de soberania ou entre titulares de
órgãos de soberania, são esses:

a) Supletividade: quando a constituição ou a lei indica um titular habilitado a agir em vez de outro, que
esta impedido ou ausente (exemplo: o presidente da assembleia da república, substitui o presidente da
república- artigo 132º, nº2).

b) Interinidade: quando a constituição ou a lei consentem que o titular impedido ou ausente seja
substituído por outro que ele próprio escolheu (exemplo: caso da substituição do PM, quando inexista
vice-primeiro-ministro- artigo 185º, nº1).

c) Delegação: quando a constituição ou a lei permitem a transferência do exercício de poderes para outro
titular, ainda que sem impedimento;

d) Substituição: quando um órgão de hierarquia superior é autorizado a agir em vez de outro órgão
(substituído).

e) Prorrogação: quando um órgão se mantém em funções transitoriamente e, eventualmente, com


contenção dos seus poderes, enquanto o sucessor não é investido (exemplo: artigo 186º, nº5).

TIPOLOGIA DOS ORGÃOS DO ESTADO

1. Marcello caetano apresentou uma proposta de definição em relação à variedade dos órgãos, que tinha
variadas distinções: órgãos de soberania, órgãos de estado que não são de soberania, órgãos singulares ou
colegiais, órgãos simples ou complexos e órgãos consultivos ou deliberativos.

2. Órgãos de soberania: são imediatamente instituídos e regidos pela constituição, são dotados de poderes
de auto-organização (exceto aos tribunais), não estão também subordinados a quaisquer outros e exercem
o poder superior do estado, quer na sua dimensão externa, quer interna. são ainda essenciais à
caracterização da forma de governo.

3. As relações entre órgãos de soberania são de paridade. Desta forma não há qualquer relação de
superioridade entre os órgãos. Mas este quadro não exclui que pelo acolhimento constitucional há
relações de controlo e interdependência (exemplo: os poderes presidenciais de dissolução do parlamento,
de demissão do governo…).

4. Órgãos singulares e colegiais: no primeiro caso há um titular e no segundo há uma pluralidade. O


segundo é um regime de convocação, funcionamento e deliberação dos órgãos colegiais.

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5. Órgãos simples ou complexos: atribuição meditada da vontade funcional, primeiro ao órgão simples e
depois ao composto. Ou seja, nos órgãos complexos, para efeito de formação da vontade, há um
desdobramento em dois ou mais órgãos.

6. Órgãos deliberativos (deliberam por si só) ou consultivos (participam no processo que culmina a
vontade funcional e por isso dão apenas pareceres).

ORGÃOS DO ESTADO NA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA DE 1976

1. A constituição Portuguesa não contem todos os órgãos do estado português, nem todas as regras sobre
estes. Deste modo a distinção mais relevante seja então entre órgãos constitucionais e órgãos de estado
que não revestem a natureza de órgãos constitucionais.

2. Órgãos constitucionais: encontramos todos os que têm referência constitucional como os órgãos de
soberania (exemplo: PR, assembleia da república, governo, tribunais- artigo 110º). Neste mesmo conjunto
podemos ainda identificar várias categorias: os eletivos (PR); os não eletivos (governo ou os
representantes da república); simples (PR); complexos (assembleia da república ou o governo);
deliberativos (assembleia da república); consultivos (conselho de estado).

3. Os órgãos de soberania: são aqueles que estão ligados de forma direta à soberania do estado e que
dispõem de poder de auto-organização interna e que são imediatamente e fundamentalmente constituídos
pela constituição. Podemos verificar isso mesmo no artigo 110, nº2, que diz que as suas competências e
funções decorrem essencialmente da constituição. Traduzindo dessa mesma forma para a configuração da
forma ou sistema de governo.

4., Órgãos de estado: são aqueles que não tem referência constitucional, sendo que o regime de criação
decorre da lei, se bem que estes se encontrem sujeitos ao regime constitucional comum a todos os órgãos
do estado (exemplo: artigo 3, nº3).

5. Ainda em relação a estes, são particularmente importantes as regras relativas aos órgãos colegiais que
demonstra o funcionamento e as deliberações (artigo 116º). O quórum deliberativo, ou seja, o número
mínimo de titulares presentes na reunião para que o órgão possa validamente decidir (ficou fixado na
maioria do número legal dos seus membros). Por outro lado, a regra de deliberação é da “pluralidade de
votos”, isto é, a maioria simples em que não contando a abstenção há mais votos a favor do que contra.
Mas a constituição não deixa de consagrar várias exceções a essa regra:

a) Assunção de poderes extraordinários de revisão constitucional: impõe uma maioria de 4/5 dos
deputados em efetividade de funções (artigo 284º, nº2).

b) As leis de revisão constitucional: exigem maioria de 2/3 dos deputados em efetividade de funções
(artigo 286º, nº1).

c) Leis orgânicas: necessitam de maioria absoluta na votação final global (artigo 168º, nº5).

d) Leis que requerem dupla maioria: 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta
dos deputados em efetividade de funções (artigo 286º, nº1).

UMA CLASSIFICAÇÃO BIPOLAR: ESTADO SIMPLES OU UNITÁRIO E ESTADO COMPOSTO


OU COMPLEXO

1. O Estado simples ou unitário é o Estado onde há unidade de poder político, de ordenamento jurídico e
de Constituição. Foi a concentração e aglomeração dos poderes intermédios do antigo Regime que deu

30
origem, na Europa, ao Estado Moderno. Significava um povo, um território e um poder político unificado.
E desta forma pondo fim às diferenças jurídicas de nascimento…

2. O Estado unitário pode compreender vários modelos, que se reconduzem ao maior ou menor grau de
descentralização administrativa e política, sem que, todavia, deixe de existir um único centro de poder,
um só ordenamento jurídico e apenas uma Constituição. O Estado unitário pode ser dividido em:

a) Estado unitário centralizado: nenhuma das coletividades que o compõem podem fazer valer um direito
próprio para regular aquilo que lhes diz respeito. Pode ainda compreender um ou vários graus de
desconcentração administrativa (fenómeno que se traduz na transferência de competências de um órgão
superior para um órgão inferior, ou de um órgão central para um órgão periférico, e envolve uma
adaptação da Administração à complexidade do Estado moderno de forma que as decisões da
administração central sejam mais rápidas e eficazes): Sem desconcentração administrativa, com
desconcentração administrativa.

b) Estado descentralizado: transferência de poderes para entidades territoriais locais, que passam a ter
competências e funções próprias, podendo o povo escolher livremente quem os exercerá. Pode ser ainda
uma descentralização: Administrativa- é sempre uma descentralização territorial e implica confiar a
função administrativa do Estado a outras entidades de base territorial. Implica também autonomia,
liberdade e democracia. Pode ser também Administrativa e política – nem sempre é fácil fazer a distinção,
daí que o critério seja a existência de poderes legislativos próprios, de estatuto político também próprio e
de autogoverno.

c) Estado unitário regional: Este tipo de estado pressupõe a existência de uma, várias ou todas as regiões,
dotadas de descentralização política, ou seja, regiões com autonomia política, legislativa e institucional.
Assim este não é reconduzível a um único modelo, podendo assim falar-se de Estados regionais integrais,
no sentido em que todo o seu território está dividido em regiões (exemplo: Espanha). E em estados
parciais, nos quais só parte do território se organiza dessa forma (exemplo: Portugal, Dinamarca). Em
relação aos poderes exercidos pelas estruturas que o integram, a divisão é feita entre Estados regionais
homogéneos que atenta a substancial identidade do estatuto jurídico das regiões (como Portugal) ou
heterogéneos onde tal identidade não existe e prevalecem estatutos diferenciados entre elas (como
Espanha e Itália). O grau de descentralização política varia bastante, pois há regiões com estatutos
elaborados pelo poder central e outras em que os seus próprios órgãos tem participação ativa na
elaboração e revisão. Em suma: Estes não detêm poder constituinte, regendo-se assim por estatuto
aprovado pelo poder central; não participam na elaboração e revisão da constituição do estado; podem
aprovar normas jurídicas com valor de lei, no quadro das suas competências; gozam de autonomia
política, mas não de soberania.

ESTADO COMPOSTO OU COMPLEXO: O ESTADO FEDERAL

1. Estado Federal: Resulta claramente de uma fórmula de compromisso, na qual se cruzam elementos
unitários e elementos diferenciadores. O federalismo consiste na coexistência de Estados particulares e de
uma autoridade central. Reconhece a supremacia da Constituição federal e das leis federais sobre as
Constituições dos Estados, mas atribui a estes direitos e deveres concretos.

2. Os elementos unitários são:

a) Constituição Federal: poder constituinte único, que determina a aplicação do direito federal a todo o
território e a todo o povo, sem intermediação de nenhum tipo.

b) Cidadania Federal: delimitação do conceito de nacionalidade ao nível de Federação, com a


consequente atribuição desse estatuto, em condições de igualdade, aos cidadãos de qualquer dos Estados
federados.

31
c) Homogeneidade político-constitucional: Estado composto de unidades territoriais da mesma natureza,
que compartilham os mesmos princípios de organização social e política.

3. Os princípios diferenciadores são:

a) Existência política das unidades territoriais integradoras, com vontade política autónoma e Constituição
própria.

b) Poder legislativo próprio, exercido através de uma assembleia eleita de cidadãos.

c) Autonomia económica, traduzida em poder tributário próprio ou fontes de recurso constitucionalmente


garantidas.

4. Esta estrutura de poder, politicamente descentralizada, ou seja, com uma pluralidade de centros de
poder, mas ao mesmo tempo com unidade na titularidade do poder (assim o estado federal é unitário),
necessitou de resolver vários problemas:

a) Divisão das competências legislativas entre a federação e os estados federados.

b) Distribuição de recursos tributários, por forma a que a sobrevivência dos estados federados não ficasse
em causa, mas que simultaneamente, a federação dispusesse de receitas próprias.

c) Participação das unidades territoriais na formação da vontade da federação.

ESTRUTURA JURÍDICA DO ESTADO FEDERAL

1. O ponto central na estrutura jurídica do estado federal, que permite fazer a distinção entre a sua
constituição e a de um estado unitário, reside na separação de poderes: aqui uma única de tipo horizontal;
ali uma dupla divisão de poderes- horizontal no âmbito da federação vertical para as relações entre a
federação e os estados federados.

2. O estudo do estado federal obriga a superentender vários momentos:

a) O da unificação do poder

b) O da distribuição do poder

c) O da coordenação dos poderes.

3. A constituição federal consagra quais as competências do estado federal. Deixando as matérias não
reservadas aos Estados membros. Na articulação dessas competências é usual, utilizarem-se dois critérios:
o critério das matérias exclusivas e o critério das matérias concorrentes.

4. Critério das matérias exclusivas:

a) Matérias da competência exclusiva da federação;

b) Matérias da competência exclusiva dos Estados membros;

c) Matérias cuja legislação corresponde à federação e à execução dos estados-membros;

d) Muito raramente, matérias cuja aprovação sob a forma de lei corresponde aos estados-membros e a
execução à federação.

5. Critério das matérias correntes:

a) Autorização da federação aos estados-membros para que estes últimos regulem certas questões;

b) Matérias cuja regulação está confiada aos Estados membros, mas em que a federação pode intervir, se
entender dever tratá-las de forma unitária.

32
6. A distribuição do poder tributário, atualmente leva a uma concorrência de fontes fiscais entre a
federação e estados federados, o que levou a uma tendencial equiparação em termos de participação nas
origens dos rendimentos.

7. O momento de coordenação entre a federação e os estados-membros envolve dois níveis distintos:


relações de supremacia e subordinação e as relações de participação.

8. Relações de supremacia e subordinação:

a) Supremacia da constituição federal;

b) Prevalência do direito federal;

c) Fiscalização federal sobre os estados-membros;

d) Justiça federal;

9. Relações de participação:

a) Na vontade da federação por parte dos estados federados, por intermédio da criação de uma segunda
câmara legislativa de natureza territorial;

b) Dos estados-membros no procedimento de reforma constitucional, de tal modo que, para a sua
concretização, se torna necessária a aprovação por maioria qualificada deles.

DISTINÇÃO ENTRE O ESTADO UNITÁRIO REGIONAL E O ESTADO FEDERAL, QUANTO AOS


PODERES E NATUREZA DAS ENTIDADES TERRITORIAIS

1. Estado Federal foi historicamente a primeira manifestação de descentralização política. Como já foi
visto anteriormente existe uma multiplicidade de modelos, quer federais, quer regionais havendo variadas
diferenças são de salientar então as seguintes:

a) As regiões ou comunidades autónomas não gozam de poder constituinte, enquanto os estados federados
o têm e dessa forma elaborando e revendo as suas próprias constituições.

b) Os estados federados participam enquanto tal, na revisão da constituição federal, não acontecendo o
mesmo com as regiões.

c) O estatuto da autonomia regional deve ser aprovado pelo parlamento central, enquanto a constituição
do estado federado é aprovada por este, tendo como único e natural limite o respeito pela constituição
federal.

ESTADOS COMPOSTOS E ASSOCIAÇÕES DE ESTADOS

1. Federação norte-americana nasceu da confederação e da constatação das suas insuficiências, certo é


que a matriz confederal não é a única a evoluir para o federalismo, pois como já foi dito anteriormente os
estados unitários como o brasil e a Áustria deram lugar a estados federais. Fala-se assim de um
federalismo centrípeto que resulta da associação livre de estados originalmente independentes e soberanos
e de um federalismo centrífugo em que os estados unitários dão origem a estados federais.

2. Como formas de estado composto, o estado federal ou a união real compartilham de aspetos das
associações de estados, como as organizações supranacionais ou as confederações podendo mesmo dizer-
se que são formas mais intensas dessa figura, dando origem a um novo estado.

33
3. A distinção entre confederação e federação parece clara.

4. Confederação: cada estado-membro conserva a sua soberania e independência. Trata- se no fundo de


uma aliança entre estados, que em regra respeita a assuntos internacionais e que é instituída por um
tratado. Os órgãos confederais têm poderes delegados pelos estados e não poderes próprios, sendo que a
execução das decisões da confederação há-de faze-se através dos órgãos internos dos estados e não
mediante ação direta da confederação.

5. Federação (união europeia): embora partilhem elementos comuns (exemplo: de a sua instituição
ocorrer por via do recurso a um instrumento de direito internacional, são mais relevantes os elementos
distintivos, em que podemos destacar duas:

a) O facto de a união europeia dispor de mais poderes e em áreas mais numerosas do que uma
confederação.

b) A existência nela de uma complexa estrutura orgânica, dotada de poderes muito mais alargados do que
os que se encontram na órbita de um congresso confederal, uma vez que esta delibera por unanimidade e
aquela, por via de regra, por maioria qualificada.

A FORMA DO ESTADO PORTUGUÊS NA CONSTITUIÇÃO DE 1976: ESTADO UNITÁRIO


REGIONAL

1. A partir da constituição portuguesa de 1976, conseguimos concluir que Portugal é um Estado unitário
regional.

2. Portugal é um estado unitário regional pois só tem um poder político soberano, só tem uma constituição
e órgãos de soberania nacional, mas ao mesmo tempo concentram vários níveis de descentralização,
sendo o mais importante o “regime autonómico insular” (artigo 6, n1 CRP) que se traduz na existência de
regiões autónomas que participam no exercício da função legislativa, aprovando decretos legislativos e de
direção política próprios e um estatuto político-administrativo.

O REGIME AUTONÓMICO INSULAR

1. Constitui uma das mais significativas alterações na estrutura do Estado português em toda a sua
História Constitucional. As regiões autónomas não são Estados e a sua existência não poe em causa a
integridade da soberania, por controvertida que seja esta noção, designadamente a faculdade de
celebração de convenções internacionais ou o estabelecimento de relações diplomáticas. As regiões
autónomas têm, segundo a Constituição de 1976, as seguintes funções:

a) Podem legislar em matérias de âmbito regional enunciadas no respetivo estatuto político-administrativo


que não estejam reservados aos órgãos de soberania.

b) Têm competência para regulamentar a legislação regional e as leis emanadas dos órgãos de soberania.

c) Podem exercer iniciativa estatuária e legislativa.

d) Têm poder executivo.

e) Têm poder tributário próprio.

f) Superintendem nos serviços, empresas e institutos públicos que exerçam a sua atividade
exclusivamente na região.

34
g) Assumem determinadas atribuições estaduais com as correspondentes transferência de serviços
periféricos do Estado.

h) As assembleias legislativas das regiões autónomas são eleitas por sufrágio universal, direto e secreto e
o Governo Regional é responsável perante aquelas.

i) Consagra-se a existência de um Representante da República em cada uma das regiões autónomas, que
não é, contudo, um órgão próprio da região.

OS ESTATUTOS POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS

1. Os estatutos político-administrativos são leis da Assembleia da República, sujeitas, contudo a um


processo legislativo diverso do comum e com um valor legislativo reforçado. As regiões autónomas não
têm autonomia estatuária, e por isso não podem livremente aprovar o documento-guia. Ao invés, a
Assembleia da República também não tem iniciativa da lei nesta matéria e de igual forma não pode
desencadear uma revisão do estatuto em vigor (artigo 226.º da CRP).

2. As leis estatuárias regionais são parâmetros constitucionais de aferição da legalidade de normas


emanadas dos órgãos regionais ou de normas emanadas dos órgãos de soberania do Estado (artigo 280.º e
281.º da CRP).

OS ORGÃOS DE GOVERNO REGIONAL

1. São órgãos do governo próprio das regiões autónomas a Assembleia Legislativa e o Governo Regional.
A Assembleia Legislativa é um órgão colegial de tipo assembleia, eleito por sufrágio universal, direto e
secreto, de acordo com o sistema eleitoral proporcional pelo método de Hondt. Nestas são admitidas
candidaturas de partidos políticos e só destes que se adota a solução constitucional aplicável às eleições
para a assembleia da república.

2. As assembleias legislativas, para além das funções de fiscalização política da atuação do governo
regional, concentram os poderes legislativos das regiões, tendo assim competência exclusiva na
aprovação dos decretos legislativos das regiões, isto é, têm competência exclusiva. Têm ainda são ainda
exclusivamente competentes para o exercício do poder tributário próprio, para a criação e extinção de
autarquias locais, para a mera ordenação social…

3. Compete ainda regulamentar as leis emanadas dos órgãos de soberania, regulamentar os decretos
legislativos regionais.

4. Esta pode ser dissolvida pelo PR, ouvidos o conselho de estado e a assembleia da república (nº1 do
artigo 234º). Esta dissolução obriga à realização de novas eleições a efetuar no prazo de 60 dias, de
acordo com a lei eleitoral vigente ao tempo da dissolução (nº6 do artigo 113º).

5. O Governo Regional, este é composto pelo presidente, nomeado pelo Representante da República
(tendo em conta os resultados eleitorais) e pelos secretários e subsecretários regionais, que por sua vez
são nomeados e exonerados pelo presidente do Governo Regional e tomam posse perante a Assembleia
Legislativa.

6. A estrutura e funcionamento do sistema de governo regional, nomeadamente dos Açores e da Madeira,


pode ser qualificada como um sistema parlamentar, dado que o governo regional apenas responde
politicamente perante a Assembleia Legislativa Regional.

7.Os estatutos regionais concretizam esta responsabilidade política, fazendo avultar três momentos: a
apreciação do programa do governo, a solicitação de um voto de confiança ou a votação de uma moção de
censura. Em qualquer um dos casos um voto negativo da assembleia legislativa regional nessas situações
implica a demissão do governo regional. E nem o facto de a dissolução poder ocorrer por motivos
políticos, e não apenas por comportamentos questionastes da lei fundamental, parece assim poder colocar

35
em causa aquela qualificação, na medida em que, no exercício das suas funções, o governo regional não
responde perante o PR e se não vislumbra a possibilidade de este intervir diretamente no funcionamento
do sistema político regional, a não ser por circunstâncias excecionais de grave crise política.

8. O governo regional, é competente no que toca à sua própria organização e funcionamento, que se
concretiza na aprovação de decreto governamental, sujeito a assinatura ou ao veto do Representante da
República, cabendo-lhe ainda praticar um conjunto vasto de acros que decorrem da Constituição ou do
respetivo estatuto. Cabe-lhe, assim, representar o Estado nas regiões, sendo nomeado e exonerado pelo
Presidente da República, ouvido o governo. O seu mandato está atualmente limitado temporalmente,
acompanhando o do PR, o que faz com que haja um reforço da ligação institucional entre ambos, facto
reforçado por a sua nomeação deixar de ocorrer por proposta do governo, mas exigir, apenas a audição
deste.

9. Compete-lhe ainda exercer funções que, no quadro do estado unitário, são do PR (nomeação do
presidente do governo regional ou assinatura e veto dos diplomas).

A DESCENTRALIZÃO ADMINISTRATIVA: O PODER LOCAL

1. Outro nível relevante de organização do estado português diz respeito à autonomia das autarquias
locais, sendo que estas representam formas de descentralização administrativa de base territorial.

2. A descentralização enquanto princípio constitucional, está presente em muitos outros pontos da


constituição portuguesa (SNS, Segurança social…). Podemos assim afirmar que a ordem constitucional
de 1976 toma a descentralização como um “processo de realização da liberdade” e assim, como uma
componente da própria democracia constitucional.

3. Para Freitas do amaral uma autarquia local é uma “pessoa coletiva pública de população e território
nacional e que assegura a prossecução dos interesses comuns resultantes da vizinhança, mediante órgãos
próprios, representativos dos respetivos habitantes”.

4. O conteúdo essencial da autonomia das autarquias locais assenta, em primeiro lugar, na sua própria
existência implicando a garantia de órgãos do governo próprios, escolhidos pelas populações respetivas, a
garantia da prossecução de interesses próprios, através do exercício de determinadas competências, por
forma isolada ou em cooperação com a administração central ou regional.

5. O sentido constitucional da “autonomia local” (liberdade/autonomia) - significa claramente “poderes


próprios mais órgãos próprios”. Sendo que isto explica a proibição constitucional dos órgãos de soberania
(o governo) de poderem dar ordens às autarquias ou mesmo de avaliarem o mérito das suas ações. Sendo
que desta forma cabe à tutela a verificação da legalidade dos atos dos poderes locais, mas não pode
significar uma fiscalização de mérito dos seus atos ou a sua substituição ou revogação.

6. A constituição de 1976 reconhece três tipos de autarquias locais: freguesias, municípios e região
administrativa. As regiões administrativas são as únicas autarquias supramunicipais previstas na
Constituição de 1976 são autarquias locais, regem-se pelo próprio direito administrativo do Estado ao
invés de possuírem estatuto próprio, têm apenas poderes administrativos e regulamentares, têm órgãos
administrativos, a dissolução das regiões administrativas compete ao Governo e há um representante do
Governo nomeado em Conselho de Ministros.

7. A estrutura orgânica das autarquias locais assenta num mesmo modelo, que compreende um órgão
deliberativo (assembleia de freguesia, assembleia municipal e assembleia regional) e um órgão executivo
colegial (junta de freguesia, camara municipal e junta regional).

8. No caso das freguesias e dos municípios, a assembleia é eleita por sufrágio universal, direto e secreto
dos cidadãos recenseados na área da respetiva autarquia. Quanto ao executivo a constituição remete para

36
a lei a sua composição e eleição, sendo que, em todo o caso o presidente do órgão executivo colegial há-
de ser o primeiro candidato da lista votada para a assembleia ou para o executivo.

9. As assembleias das autarquias exercem o poder de aprovar as opções do plano e o orçamento,


encontrando-se quanto ao resto, a repartição de competências entre o executivo e o órgão de fiscalização
nas mãos do legislador. Este de acordo com a lógica que faz repousar na assembleia autárquica a
genuidade da representação eleitoral local, conferiu-lhes a competência para aprovar as questões
essenciais da vida autárquica e o poder regulamentar.

10. A autarquia tem ainda o poder de convocar o referendo local, por iniciativa dos cidadãos ou dos
órgãos das autarquias. As autarquias não podem criar impostos, mas podem determinar uma determinada
taxa a aplicar às coletas de impostos que venham a ser considerados impostos autárquicos.

FORMAS DE GOVERNO: REGIMES POLÍTICOS E SISTEMAS DE GOVERNO

1. As sociedades encontram-se organizadas de acordo com um determinado modelo de estruturação do


poder político. A forma de como este se organiza pode se distinguir em duas áreas fundamentais: o regime
político e o sistema de governo.

2. O regime político: definia-se considerando as conceções fundamentais das relações entre o individuo e
a sociedade política.

3. Sistema de governo: era determinado atendendo à titularidade e estruturação do poder político, de


modo a determinar quem é considerado o titular deste e quais os órgãos estabelecidos para o seu
exercício.

4. Na opinião de Marcello caetano o regime político e o sistema de governo estavam ligados pois estes
dois juntos levam à definição da forma política do estado.

TIPOLOGIA SOBRE FORMAS DE GOVERNO

1. Existem várias tipologias clássicas de formas de governo, quase todas se proponham apresentar
modelos teóricos do que deve ser uma sociedade política bem organizada.

2. Aristóteles: a este deve-se a primeira classificação de formas de governo, assente na estrutura


organizativa e em considerações de ordem ética. Para este existiriam formas puras, eram então aquelas em
que o poder seria exercido para o bem comum, podendo esse residir num homem só (monarquia) ou em
vários (aristocracia) ou em todos (politeia). No reverso da medalha, teríamos a tirania e anarquia.

3. A teoria das formas de governo orientou-se, desde cedo, sobretudo pela busca da forma perfeita e da
natureza cíclica da sucessão das diversas formas. Aristóteles sustenta que a conciliação entre “politeia” e
aristocracia poderia oferecer uma maior estabilidade. Mas acaba por ser cícero e Políbio como defensores
do “governo misto”.

4. São Tomás de Aquino: A classificação das formas de governo arranca da tipologia tripartida de
Aristóteles, mas com as seguintes particularidades:

a) As formas de governo variam consoante o ideal e os fins que as inspiram. Esses fins reconduzem-se à
virtude, riqueza e liberdade.

b) As formas de governo são quarto: monarquia, aristocracia, oligarquia e democracia. A tirania é, na sua
perspetiva, uma forma de tal modo violenta e perversa que não merece ser catalogada como forma de
governo.

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c) Adere também às formas mistas, defendendo como regime ou forma perfeita a conciliação entre
monarquia, aristocracia e democracia.

5. Maquiavel: faz a distinção entre república e Monarquia, por prevalência da virtude, por referência à
defesa da coisa pública (interesse público) e em oposição ao interesse privado. As monarquias para este
podem ser herdadas ou conquistadas e as repúblicas podem ser aristocráticas, democráticas ou mistas.
Para este a república é a única forma de governo onde prevalece o bem comum e a única que permite
garantir a liberdade e afastar a tirania.

6. Montesquieu: Estuda a natureza das formas de governo à luz do padrão liberal de limitação do poder
político. Assinala três formas de Governo: república (o povo em conjunto ou só uma parte dele tem o
poder soberano; é a virtude), monarquia (governa um só, mas com leis fixas e estabelecidas; está
subordinada à honra) e despotismo (governa um só sem lei e sem regra tudo arrastando por sua vontade;
está subornado ao medo).

ALGUMAS TIPOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS

1. Reinhold Zipellius: este tal como Aristóteles divide as formas de governo em monarquia (poder está
num), oligarquia (poder está em alguns) e democracia (poder está em muitos). Distingue também as
ditaduras em dois tipos: ditaduras previstas pelas leis (limitados no tempo e destinados a resolver uma
emergência) e a autarquia (baseia-se na omnipotência do ditador sem prévio limite de tempo ou outras
condicionantes).

2. Maurice duverger: Analisa os sistemas políticos dividindo-os em dois: regimes liberais e regimes
autoritários e regimes capitalistas e regime socialistas. Deste cruzamento resultam quatro modelos:
democracias capitalistas, ditaduras socialistas, regimes autoritários e capitalistas e democracias socialistas
(sendo que esta última, segundo o autor, hoje já não funciona).

3. Friedrich e Brzezinski: Consideram o totalitarismo como uma nova forma de governo incluída na
classificação mais geral das ditaduras, um sistema em que instrumentos tecnologicamente avançados de
poder político são exercidos sem controlo por uma liderança centralizada de uma elite e com o objetivo de
efetuar uma revolução social total. O totalitarismo tem como características:

a) a ideologia oficial do Estado

b) o partido único

c) a polícia política

d) o monopólio estatal dos órgãos de comunicação social

e) controlo de todas as organizações socias, políticas e culturais e subordinação total das forças armadas
ao poder político.

4. O conceito de forma de governo autoritária, por contraponto ao totalitarismo, foi estudado por Juan
Linz que o identifica como o sistema caracterizado por pluralismo limitado, sem uma ideologia
orientadora clara e onde o líder, ou um pequeno grupo, exerce o poder no quadro dos limites
constitucionais e legais. Linz e stepan propuseram uma classificação de regimes não democráticos
quadripartida: regimes totalitários, regimes pós-totalitários e regimes sultânicos.

TIPOLOGIAS DE AUTORES PORTUGUESES

1. Marcello caetano: este desenvolveu o conceito de forma política do estado, no qual integrava o regime
político e o sistema de governo. Quanto ao regime político este identifica-os com as conceções básicas
relativas ao individuo e ao estado: a personalista e a transpersonalista. Relativamente ao primeiro, este vê

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as relações entre o individuo e o Estado como forma de facilitar a realização dos fins da pessoa humana,
daí que o poder tenha como limites os direitos dos indivíduos. A segunda parte do princípio de que a
pessoa humana não é um valor em si, mas um mero elemento do todo, e o individuo só conta como
elemento desse todo. É a conceção que reporta ao regime totalitário. Mas há variantes, já que o regime
liberal pode ir de um extremo individualista até às restrições ao exercício dos direitos por razões de ordem
geral. O regime totalitário pode ir do extremo em que não se admitem quaisquer iniciativas individuais
(comunismo) até formas quase-totalitárias.

2. Jorge Miranda: distingue entre tipos de estado, formas de estado, e sistemas de governo. Constatamos
que a forma de governo “tem que ver com a relação política fundamental, a relação entre governantes e
governados e modo como se estabelece essa relação. O sistema de governo centra-se na estrutura interna
do poder, nas instituições e no estatuto dos governantes. Assim com base nesta análise o autor propõe
várias formas de governo modernas (monarquia absoluta, governo representativo clássico ou liberal,
democracia jacobina ou radical…) ver quadro da página 299.

3. Marcelo Rebelo de Sousa: diz que, para uma visão global da estruturação do poder político do estado, é
necessário considerar três realidades: o regime económico, político e o sistema de governo. O regime
económico é definido como a forma de organização do processo de produção numa sociedade política
concreta, envolvendo a propriedade dos meios de produção e a sua gestão e controlo social, inclui assim
três tipos diferenciado: o regime económico capitalista (em que o modo social de produção dominante é o
capitalista, embora possam existir elementos secundários de outros modos de produção); O regime
económico socialista (em que o modo social de produção é socialista, embora possam permanecer
elementos residuais de outros modos de produção); Regime económico de transição entre capitalismo e o
socialismo (coexistem elementos específicos do modo de produção capitalista com outros modo de
produção socialista e em que existe um desígnio político- constitucional de mutação do regime
económico de capitalista em socialista).

4. Quanto aos regimes políticos, este considera a existência de regimes democráticos e regimes ditatoriais.
Já no que respeita ao sistema de governo, defende tratar-se de um conceito amplo que se encontra
estritamente ligado ao regime político. Divide-os da seguinte forma:

a) Sistemas de governo ditatoriais: podem ser monocráticos (sistemas cesaristas se assentarem na


legitimidade de um homem alheia a qualquer forma democrática da expressão da vontade popular e
monárquicos se corresponderem a formas clássicas da monarquia absoluta) e autocráticos.

b) Sistemas de governos democráticos: que se dividem em democráticos diretos, democráticos


semidirectos e democráticos representativos, subdividindo-se estes últimos em sistemas de concentração
de poderes e com separação de poderes (parlamentar, presidencial e semipresidencial).

REGIMES POLÍTICOS

1. O regime político pode definir-se como a relação existente entre os cidadãos e o poder político. Esta
relação deve ser encarada de diversos pontos de vista entre eles:

a) A participação dos cidadãos ou de grupos de cidadãos nas tomadas de decisão políticas e na atividade
política geral;

b) O maior ou menor número de restrições ao exercício de direitos fundamentais e a amplitude da sua


proteção;

c) O grau de controlo por parte dos cidadãos do poder político e a efetiva possibilidade de alternância de
cidadãos ou grupos no exercício do poder;

2. Marcelo Rebelo de Sousa considera o regime político atendendo a três elementos cumulativos
primordiais:

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a) A assunção pelo poder político de uma filosofia de estado constitucional ou legalmente consagrada
como dominante, e como tal politicamente imposta ou, em alternativa, o reconhecimento de um
pluralismo de inspiração ideológica;

b) A existência ou não de um aparelho político colocado ao serviço da filosofia do Estado, exclusiva ou


dominante, com sacrifício, nos princípios e na prática constitucional dos direitos fundamentais dos
cidadãos, em particular dos seus direitos políticos;

c) A adoção de formas não democráticas de designação dos governantes, bem como de controlo do
exercício do poder político.

3. Regime democrático: É aquele em que é respeitado o pluralismo, quer no plano das conceções
filosóficas, quer no domínio institucional. Ao mesmo tempo quer a ordem constitucional, quer a prática
confirmam a efetiva salvaguarda dos direitos fundamentais dos cidadãos, que participam na designação e
controlo dos governantes.

4. Regime ditatorial: reside na imposição dogmática de uma filosofia de estado, na sua aplicação
sistemática através de um aparelho político civil ou militar, que subordina a garantia dos direitos
fundamentais à lógica da linha ideológica exclusiva ou dominante e à conveniência do aparelho político
que zela pela sua observância.

ALGUMAS QUESTÕES TERMINOLÓGICAS

1. Democracia: Sinónimo de governo da população e, por definição, significa uma ameaça aos valores
fundamentais de uma sociedade civilizada e ordeira. Hoje, a democracia não passa do regime/governo
representativo.

2. República: trata-se de um termo que resulta da combinação de duas palavras latinas: res que significa
“coisa” e publica. A coisa pública, significaria então, na conceção clássica, tudo o que tem que ver com os
assuntos da comunidade. Nesta perspetiva, república poderia ser sinónimo de Estado. que significaria, na
conceção clássica, tudo o que tivesse a ver com os assuntos da comunidade.

3. Despotismo: Significa, etimologicamente, o tipo de poder que o senhor exercia sobre os escravos. Por
outro lado, também significa qualquer forma de governo absoluto, muitas vezes sinónimo de ditadura,
tirania ou autocracia.

4. Ditadura: Em Roma, significava uma forma de governo excecional e temporária, com um conteúdo
positivo. Na república romana, assumia essa natureza excecional e temporária para preservar a
integridade e permanência da república. A ditadura atual designa a classe dos governos antidemocráticos
ou não democráticos.

5. O regime político é a relação existente entre os cidadãos e o poder político. Para o poder analisar é
necessário ter em conta:

a) A participação dos cidadãos/grupos de cidadãos nas tomadas das decisões e na atividade política geral.

b) O maior ou menor número de restrições ao exercício de direitos fundamentais e amplitude da sua


proteção.

c) O grau de controlo por parte dos cidadãos do poder político e a possibilidade de alternância de
cidadãos ou grupos no exercício do poder.

Estes aspetos caracterizam um regime político porque permitem identificar uma determinada filosofia
subjacente ao poder político do Estado.

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REGIME POLÍTICO DEMOCRÁTICO

1. A palavra democracia inclui tradições históricas, teorias e práticas de funcionamento das instituições
nos estados modernos.

2. Para definir regime político democrático, é necessário ter em conta alguns conceitos. Assim, o regime
político democrático pode ser:

a) O regime em que os cidadãos se governam a si mesmos, diretamente ou por meio de representantes, e


possuem todos os recursos, direitos e instituições para o fazerem.

b) O regime que pressupõe a existência de responsabilidade dos governantes perante os governados, que
se traduz na existência de eleições nas quais estes últimos controlam os primeiros.

C) O regime definido pelo pluralismo, a concorrência livre de elites e a responsabilidade.

d) O regime que talvez não sirva para eleger os melhores governantes, mas para expulsar os piores com
custos sociais e humanos mínimos.

3. Para poder analisar este conceito tem de se ter em consideração três etapas:

a) Teoria contemporânea: É o resultado da evolução histórica do Estado moderno, com a afirmação do


Estado liberal, no século XIX.

b) Teoria aristotélica: Aristóteles vê a democracia como um governo de todos, mas também como a
forma impura em que o detentor de poder governa no seu interesse e não no da comunidade. Com o
passar do tempo, passou a entender-se a democracia como o governo da maioria.

c) Teoria medieval do poder popular: Marsílio de Pádua sustentava que há uma contraposição entre
o poder que vem do povo e se torna representativo e o poder que vem do príncipe e se transmite por
delegação do superior ao inferior.

d) Conceção de Maquiavel: Com a dicotomia entre monarquia e república diz que república não se
identifica com democracias. A sua conceção republicana torna-se oposta à monarquia e ao despotismo.
Contudo, ao longo do tempo, república e democracia vão-se sobrepondo onde confluem até se fundirem.

FORMULAÇÕES TEÓRICAS DE DEMOCRACIAS

1. Teoria liberal: Locke e Bentham encararam a democracia como um modelo protetor da liberdade
individual do cidadão perante o Estado. Assenta nos seguintes pressupostos:

a) Direitos civis;

b) Divisão de poderes;

c) Divisão territorial de poderes;

d) Controlo da legalidade dos atos do governo e da administração;

e) Consentimento dos governados;

f) Controlo dos representantes, através de eleições e da publicidade das decisões;

g) Representação no Estado dos interesses dos cidadãos para evitar os excessos de participação direta;

h) Desenvolvimento da representação política com o alargamento do sufrágio;

• Teoria elitista: Defende qua a democracia é uma competição pelo poder entre grupos, um regime
político no qual se adquire poder de decisão através de uma luta competitiva entre elites plurais para

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conseguir o apoio da população. A democracia pluralista competitiva é uma democracia onde há vários
grupos competindo pela conquista do poder, que se pode resumir como:

a) Um regime para eleger elites preparadas e para autorizar os governos;

b) Um regime de seleção de elites que se traduz na competição entre dois ou mais grupos, normalmente
partidos, que disputam o voto dos cidadãos periodicamente;

c) Um regime onde o papel dos votantes é eleger pessoas que adotam questões políticas.

• Tipologia de regimes democráticos: Lijphart considera que as democracias se reconduzem a dois


grandes modelos: modelo maioritário OU DE WESTMINSTER e modelo consensual.

• MODELO MAIORITÁRIO OU DE WESTMINSTER: caracteriza-se pelos seguintes pressupostos:

☼ do poder executivo em governos monopartidários e de maioria relativa.

☼ Sistema bipartidário.

☼ Sistema eleitoral maioritários.

☼ Pluralismo de grupos de interesses.

☼ Sistema de governo unitário e centralizado.

☼ Concentração do poder legislativo numa assembleia de uma só câmara.

☼ Constituição flexível.

• MODELO CONSENSUAL: caracteriza-se pelos seguintes pressupostos:

a) Partilha do poder executivo.

b) Equilíbrio dos poderes legislativo e executivo.

c) Sistema multipartidários.

d) Representação proporcional.

e) Corporativismo de grupos de interesse.

f) Federalismo e governo descentralizado.

g) Forte bicameralismo.

h) Constituição rígida.

• Para poder falar-se de democracias são necessárias algumas regras:

1. Órgão político legislativo deve ser composto por membros eleitos pelo povo, direta ou indiretamente.

2. Todos os cidadãos adultos devem ter direito ao voto e a serem eleitos.

3. Todos os cidadãos devem ter voto igual e serem livres de votar segundo a sua opinião formada.

4. Os cidadãos devem ter fontes alternativas e plurais de informação.

5. Os cidadãos devem ter direito a formar associações políticas, partidos e grupos de pressão
independentes.

6. O princípio da maioria numérica aplica-se tanto para as eleições de cargos políticos como para as
decisões dos órgãos políticos.

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7. Nenhuma decisão tomada pela maioria deve limitar os direitos das minorias.

8. O órgão de governo deve gozar da confiança do parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua
vez eleito pelo povo.

9. Os titulares de cargos políticos devem poder exercer os seus direitos constitucionais sem interferências
ou oposições invalidantes por parte dos poderes fácticos.

REGIME POLÍTICO DITATORIAL

1. O regime político ditatorial define-se por oposição à democracia. A ditadura perfeita ou ideal será o
regime onde não existir nenhuma das características da democracia.

2. Hoje, as ditaduras ainda são maioritárias no mundo embora tenham regredido de forma apreciável após
o desmoronamento dos regimes comunistas. Continuam então a existir ditaduras de muitos tipos
variáveis, não tao opressivas e sanguinárias como as já registadas, mas igualmente ofensivas da dignidade
da pessoa humana e causadoras de um rasto de violência e morte assinaláveis.

3. As ditaduras podem surgir em estados com ou sem Constituição, revestir formas monárquicas ou
republicanas, federais ou centralistas com sistemas parlamentares, presidenciais ou ditatoriais. Podem
manifestar-se de várias formas:

a) Garantia mínima dos direitos humanos.

b) Recurso à força para conquistar o poder.

c) Inexistência de eleições livres.

d) Negação da participação dos cidadãos no controlo do poder e a proibição e perseguição da oposição.

e) Exercício do poder de forma totalmente arbitrária com marginalização ou perseguição de grupos


étnicos/religiosos.

f) Assunção de uma ideologia ou religião oficial do Estado, com negação do pluralismo, da liberdade de
consciência e qualquer tipo de divergência.

4. As ditaduras são constituídas por dois pontos permanentes: reduzir ou eliminar o pluralismo político e
controlar e recorrer à força para atribuir e repartir o poder político.

5. Segundo Gianfranco Pasquino, nenhum regime ditatorial pode durar tanto quanto as antigas
democracias. As ditaduras são sempre realidades frágeis e precárias, ainda que poderosas e agressivas.
Podemos dividir estes regimes em quatro: AUTORITÁRIOS:

a) PLURALISMO: Limitado - são poucas as organizações autoritárias a exercer o poder político, que têm
apesar de tudo de ser legitimadas pelo líder, com esferas de autonomia circunscritas e sem concorrência
eleitoral.

b) IDEOLOGIA: Mentalidades – as mentalidades autoritárias mais comuns para todos os regimes é


“Deus, Pátria e Família”.

c) MOBILIZAÇÃO: Mínima – têm relutância ou incapacidade para uma permanente e alargada


mobilização, que atinge níveis máximos pela exigência da revolução permanente ou da luta constante
com o inimigo.

d) LIDERANÇA: Fundadora – há uma componente personalista, com a existência de um líder que muitas
vezes é o fundador do regime

6. TOTALITÁRIOS:

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a) PLURALISMO: Inexistente.

b) IDEOLOGIA: Rígida e forte – apresentam ideologias rígidas, principalmente no regime comunista.

c) MOBILIZAÇÃO: Capilar.

d) LIDERANÇA: Carismática.

e) PÓS-TOTALITÁRIOS: Significa a evolução sofrida pelos antigos regimes totalitários no que respeita
ao pluralismo, à ideologia, mobilização e liderança

f) PLURALISMO: Emergente.

g) IDEOLOGIA: Desgastada.

h) MOBILIZAÇÃO: Ritual.

i) LIDERANÇA: Burocrática/colegial.

j) SULTÂNICOS: Não têm ideologia elaborada e coerente.

k) PLURALISMO: Disperso – não existe, pois, a tomada do poder pelo sultão e a distinção entre público
e privado desaparece no que concerne à atividade e património do líder.

l) IDEOLOGIA: Arbitrariedade.

m) MOBILIZAÇÃO: Manipulada.

n) LIDERANÇA: Personalista – é nas características peculiares do líder que o sultanismo se diferencia do


autoritarismo.

Sistemas de Governo Introdução

➢ O sistema de governo não se desliga do regime político dado que um influencia o outro.

É seguro que, se o regime político assume de conteúdo ditatorial, igualmente o sistema de governo
tenderá a configurar-se como ditatorial já que, não são duas realidades que possam funcionar
independentes uma da outra.

Contudo, o sistema de governo strictu sensu define-se em termos meramente técnicos podendo definir-se
como a “forma como entre si se relacionam os diversos órgãos do poder político soberano”, quer do ponto
de vista do seu modelo e estruturação normativa, quer do ponto de vista das situações fácticas
concretamente desenvolvidas (da prática constitucional).

➢ É importante averiguar a prática constitucional face às prescrições constitucionais, para melhor se


poder qualificar um concreto sistema de governo, porém, esta asserção, não pode legitimar que a prática
do sistema constitucional seja erigida a fator determinante da própria qualificação do sistema de governo.

➢ Perante a variedade de regimes é possível configurar uma grande diversidade de sistemas de governo
vamos, contudo, focar-nos na análise dos tipos fundamentais que coexistem com regimes democráticos e
que apresentam maior relevo contemporâneo: em primeiro lugar os sistemas parlamentar, presidencial e
diretorial, em seguida, o sistema semipresidencial, enquanto sistema hibrido, que busca as suas raízes nos
dois primeiros sistemas de governo e que, está presenta na Constituição Portuguesa de 1976.

A divisão de poderes

➢ A teoria da separação/decisão de poderes não se constitui porém, no único critério de referência para
arrumar os sistemas de governo.

Segundo DOMINIQUE CHAGNOLLAUD a separação de poderes é sobretudo um “mito fundador” da


classificação dos sistemas de governo existem seguramente outros critérios, como a posição do Chefe de

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Estado, a forma monística/ dualista do Governo ou a relação entre Governo e Parlamento  porém,
análise dos sistemas de governo não pode prescindir do enquadramento histórico e das evoluções
modernas do referido princípio, para se compreenderem melhor os esquemas organizatórios e funcionais
dos sistemas de Governo.

➢ “A separação de poderes é um princípio relativamente aberto com contantes e variáveis”.

➢ O princípio da separação de poderes visava assegurar a liberdade, defendendo os direitos dos


governados contra o eventual espírito arbítrio dos governantes. MONTESQUIEU explica que a liberdade
dos indivíduos é precária, porque todo o homem (ou titulares dos órgãos) que possui o poder, tem
tendência para dele abusar. Para defender a liberdade contra o abuso do poder é preciso encontrar um
travão que o torne impossível, porém, o poder soberano está, por definição, acima de tudo, sendo que
nenhum travão é poderoso o suficiente para o deter. MONTESQUIEU conclui que não se pode limitar o
poder senão pelo poder: é preciso partilhar e atribuir as diversas funções a titulares diferentes que
mutuamente as exerçam com equilíbrio. Sem esta separação não se poderia garantir a liberdade.

➢ A ideia é a de que o Estado deva ser organizado em três ramos pelo que a teoria da separação conduz à
distinção de três poderes:

• O poder legislativo que faz as leis;

• O poder executivo que assegura a sua execução;

• O poder judicial que aplica as leis e salvaguarda-as, julgando os diferendos. Cada um destes poderes
encontrar-se ia em sede de órgãos e titulares diferentes e jamais reunidos sob o controlo de um só homem
ou órgão nenhum deles teria o poder de coagir ou se sobrepor a qualquer um dos outros dois tornando-se
assim imprescindível existir um acordo entre os três poderes para que um ato de governo pudesse ser
executado.

➢ Pode dizer-se que o poder legislativo, o poder executivo e o poder judicial, distinguidos por
MONTESQUIEU, estavam já presentes na obra de LOCKE, “Two Treatises of Government”  para o
qual existiam fundamentalmente dois poderes:

• O poder essencial (o legislador) e o poder executivo, que compreendia os domínios da administração e


da justiça, sendo exercidos por órgãos distintos.

• Contudo, visionava ainda aplicar um terceiro poder para a aplicação das regras de Direito Internacional.

➢ LOCKE entendia que os três poderes não podiam estar isolados uns dos outros: pelo contrário a
harmonia constitucional exigia que cada um estivesse na “dependência” dos outros e se controlassem
mutuamente de modo que os abusos de poder não corressem o risco de se manifestar só assim os direitos
naturais dos indivíduos seriam preservados.

➢ Também para MONTESQUIEU  os órgãos do poder deviam exercer um equilíbrio mútuo 


controlando-se reciprocamente e permitindo igualmente agir uns sobre os outros.

• Segundo este, cada um dos órgãos essenciais (executivo e legislativo) é detentor de duas faculdades: a
faculdade de estatuir no domínio das suas atribuições e a faculdade de impedir no domínio dos atos de
outros poderes, controlando-os ou, eventualmente, paralisando-os.

➢ Hoje em dia a divisão de poderes encontra a sua essencial razão de ser em ideias de estabilização e
delimitação do poder estadual e na garantia da liberdade através da organização jurídica dos limites dos
órgãos, com o consequente controlo recíproco (checks and balances).

A Constituição da República Portuguesa no art. 111.º refere em relação ao princípio da divisão de poderes
que o mesmo “radica em duas direções: por um lado, na de que a função legislativa é atribuída em
princípio ao Parlamento, a função executiva ao Governo, a função judicial aos Tribunais; por outro lado,

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na de que os órgãos do Legislativo, do Executivo e do Judiciário se controlam ou limitam mutuamente de
tal forma que o poder do Estado resulte atenuado e a liberdade das pessoas protegida…” “A Constituição
não refere jamais, nem entre os seus princípios fundamentais nem entre os princípios gerais de
organização do poder político, o da separação de poderes. Pelo contrário estabelece o princípio da
separação e interdependência dos órgãos de sobernais e o da divisão de competências (arts. 114.º e 113.º)
garantindo por essa forma que a Assembleia e o Governo se limitem e controlem mutuamente.”

➢ Hoje, o princípio da separação ou divisão de poderes constitui uma aquisição essencial ao Estado de
Direito e, por consequência, é garantia da liberdade e dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Divisão de poderes e sistemas de governo

➢ Uma outra conceção sobre o princípio da separação de poderes é chamada “separação flexível” que
significa que os diversos poderes do Estado devem concertar-se, trabalhar em colaboração em
determinados aspetos, ter relações e laços que impossibilitem a oposição entre eles.

➢ A separação rígida de poderes, configura-se como sendo uma realizada com o sistema presidencial no
qual se pode distinguir, por um lado, o poder executivo nas mãos do Presidente e, do outro lado, o poder
legislativo detido pelo Parlamento, não existindo entre os dois, quaisquer ligações orgânicas contudo, o
sistema diretorial talvez se aproxime mais desse ideal de absoluta separação entre o legislativo e o
executivo.

➢ Como sistema presidencial-tipo apresenta-se o dos Estados Unidos, o qual se caracteriza por dois
traços essenciais: o Presidente é detentor do poder executivo e é irresponsável perante o Parlamento, o
qual não pode ser dissolvido pelo Presidente. No entanto, os diversos órgãos não se encontram de costas
uns para os outros: o Presidente, sobretudo, detém poderes substanciais, que invadem as áreas do
legislativo (ex: poder de vetar suspensivamente as leis, fazendo-as baixar ao Congresso). Por sua vez, o
Congresso exerce alguma fiscalização sobre o Executivo e os Tribunais exercem a fiscalização dos outros
dois poderes.

➢ A chamada separação flexível de poderes realiza-se com o sistema parlamentar. No qual, de um lado
se encontra o poder executivo nas mãos do Chefe de Estado e do Governo (presidente ou monarca); de
outro lado, o poder legislativo a cargo do Parlamento. Nesta fórmula, o Legislativo e o Executivo são
chamados a colaborar um com o outro.

➢ Entre os dois poderes, a ligação é assegurada pelo Governo nomeado pelo Chefe de Estado; mas o
Governo depende igualmente do poder legislativo, porque é politicamente responsável perante o
Parlamento, sendo obrigado a demitir-se quando perca a maioria que o sustenta. A responsabilidade
política constitui um traço essencial da distinção do sistema parlamentar.

➢ Em suma, a maneira diversa como a divisão de poderes se concretiza dá lugar a duas modalidades: o
sistema presidencial e o sistema parlamentar. Mais recentemente, um novo tipo de sistema de Governo,
apelidado de semipresidencial, obteve consagração em algumas ordens constitucionais após 1919.

O sistema de governo parlamentar

Génese do sistema

➢ O sistema parlamentar é fruto de uma longa evolução que se delineou historicamente muito antes do
sistema de governo presidencial, o qual foi buscar àquele o seu modelo de instituições.

➢ O sistema constitucional britânico apresenta-se como paradigma e a sua característica principal reside
no facto de o Governo ser formado em conformidade com o Parlamento, do qual depende, respondendo
politicamente apenas perante ele. Neste quadro o Governo dependerá exclusivamente do Parlamento,
tanto na sua formação, como na sua manutenção, e na sua composição traduzirá o reflexo dos partidos
políticos com assento no órgão representativo.

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➢ O parlamentarismo desenvolveu-se a par da necessidade de sujeitar o Executivo à fiscalização do
Parlamento.

➢ Os contornos da forma característica do moderno parlamentarismo, o chamado Governo de Gabinete


começaram-se a definir na Inglaterra a partir da revolução de 1688.

Sucessivamente, começam a aparecer os elementos definidores do sistema parlamentar:

• Entre 1721 e 1742 com o Governo de WALPOLE  destaca-se pela primeira vez a figura do primeiro-
ministro e que como consequência levou a que passasse a ser prática que o rei constituísse o Gabinete
chamando os chefes do partido dominante;

• A partir de 1742 o rei passou a confiar a formação do novo Gabinete, apenas, a personalidades afetas à
Câmara Baixa;

• A partir de 1782 o parlamentarismo criou os traços ainda hoje considerados essenciais à caracterização
de um sistema parlamentar. Foi nesse ano que apareceu a primeira moção de desconfiança, contra o
primeiro-ministro lord NORTH, que teve de se retirar devido à perda das colónias da América do Norte.

➢ Ao mesmo tempo desenhou-se a noção de responsabilidade política do Executivo perante o


Parlamento.

➢ O modelo atual britânico pode qualificar-se de parlamentar “monista” uma vez que o Chefe de Estado
surge como uma figura simbólica e o Gabinete não tem necessidade senão da confiança do Parlamento.

➢ Muitos dos elementos característicos do parlamentarismo inglês integraram ou influenciaram outros


sistemas de Governo especialmente na Europa e em certos países da “Commonwealth” (Ex: Canadá e
Austrália).

Traços fundamentais do sistema de governo parlamentar

➢ Um dos princípios fundamentais do sistema Parlamentar  reside no controlo do Governo pelo


Parlamento e na colaboração mútua entre estes  daí que uma das características essenciais deste sistema
consista na responsabilidade política exclusiva do Governo perante o Parlamento.

• O Chefe do Estado é a mais alta autoridade do país. Apesar de este nomear e exonerar os ministros, está
condicionado a fazê-lo de acordo com as indicações do Parlamento e o Gabinete não responde
politicamente perante si, embora o Chefe de Estado e o Governo sejam as partes componentes do
Executivo- Diarquia do Executivo.

O chefe do Estado é politicamente irresponsável, por isso, não lhe dizem respeito os conflitos entre o
Governo e o Parlamento. Em consequência, não pode praticar a generalidade dos atos políticos, senão
com referenda ministerial;

• O Governo não pode iniciar ou continuar em funções sem a confiança do Parlamento (consequência da
responsabilidade política). Os ministros saem do próprio órgão representativo, onde o Governo tem de
estar permanentemente presente para justificar as suas opções políticas, bem como sujeitar-se às
interpelações e à censura parlamentar;

• O parlamento pode ser dividido em duas Câmaras, de acordo com alguma doutrina, de forma a impedir
o excesso de poderes num Parlamente que se confronta com um Executivo dividido em dois órgãos:
Chefe do Estado e Chefe do Governo

47
Desenvolvimento do sistema de governo parlamentar

➢ O Governo no sistema parlamentar não pode subsistir sem a confiança do Parlamento ou, no caso
deste ser bicameral, sem a confiança da Câmara Baixa ou, até das duas como acontece em Itália.

A inexistência de confiança efetiva faz funcionar os mecanismos da responsabilidade política, que se


traduzem, em regra, na perda do poder.

Os meios clássicos para verificar se o Governo mantém a confiança do Parlamento são a moção de
confiança e a moção de censura.

➢ Numa vertente oposta e como contrapartida à responsabilidade política do Governo este pode exercer
uma pressão sobra o Parlamento que lhe permite ultrapassar eventuais situações de ausência do necessário
apoio parlamentar essa pressão, constituindo um importante elemento de equilíbrio do sistema, traduz-se
no direito de dissolução do Parlamento, utilizado pelo Chefe de Estado, mas, na realidade, da iniciativa do
Governo assim, se o Executivo se vê confrontado com uma oposição maioritária no Parlamento ou
entende por ser politicamente oportuna uma renovação do mandato popular a dissolução deste faz
deslocar a resolução do conflito para as mãos dos eleitores.

➢ Sobressaindo deste modo um dos aspetos essenciais do sistema de governo parlamentar: o equilíbrio
entre os poderes.

A responsabilidade política do Governo

➢ O aspeto que é considerado mais característico do sistema parlamentar é a responsabilidade política do


Governo perante o parlamento que é também um produto da evolução histórica do sistema britânico.

➢ A responsabilidade política funda as suas origens no chamado processo penal de impeachement que
consistia numa acusação contra um ou vários ministros pela Câmara dos Comuns perante a Câmara dos
Lordes (constituída em tribunal).

O processo foi inicialmente utilizado para reprimir crimes ou delitos previstos na lei penal no sec. XVII
foi alargado às faltas consideradas graves, mesmo que não previstas na lei penal, dando origem a um novo
conceito de crime, infração difusa, cujos limites ultrapassavam as prescrições da lei.

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➢ Atualmente, a responsabilidade política do governo não é mais aferida pela prática de qualquer
infração penal mas, pelo contrário, revela de elementos de natureza subjetiva, decorrentes de uma ação
de controlo e assente na apreciação que o Parlamento efetua sobre a atividade desenvolvida pelo Governo
este tem de prestar contas sobre a sua atuação política, sendo essa precisa atuação que a Assembleia pode
discutir e pôr em causa, mesmo considera-la errada, ainda que se haja desenvolvido no respeito das
prescrições constitucionais e legais.

➢ A conceção de responsabilidade política pode tomar-se em dois sentidos:

• Em sentido amplo traduz-se num acervo de mecanismos em que se traduzem as relações de confiança
ou desconfiança do Governo face ao Parlamento.

Ex: são manifestações de responsabilidade política, neste sentido, não só as moções de censura ou
confiança, mas também as interpelações parlamentares ao governo.

• Em sentido estrito conexiona-se com a continuação ou demissão do governo.

Ex: aqui, os meios adequados para a efetivar serão, principalmente a moção de censura e a moção de
confiança, mas não uma simples interpelação.

➢ A sanção da responsabilidade política não assume qualquer feição penal  pelo contrário caracteriza-
se pela perda do poder.

Responsabilidade política, responsabilidade institucional e solidariedade institucional

➢ Exige-se uma precisão dos mecanismos de efetivação da responsabilidade política com vista à
salvaguarda da separação e interdependência no sentido moderno bem como a impedir a rigidez na
divisão de poderes e, concomitantemente, a supremacia de qualquer dos órgãos de soberania.

➢ Nesse contexto, a noção de responsabilidade política obrigará o governo a responder perante o


Parlamento e perante o Presidente da República por uma maior ou menor amplitude de efeitos e
orientações políticas, resultantes da sua governação.

Em consequência pode-se dizer, que a responsabilidade política pode variar de grau mas ela existirá
sempre que um órgão responde perante outro pelos efeitos resultantes da sua atividade, dispondo o último
de mecanismos sancionatórios, como por exemplo, a demissão.

➢ RESCIGNO começou por distinguir responsabilidade política difusa da responsabilidade institucional


considerando que na primeira, responsabilidade significa a situação em que se encontram os aspirantes ao
poder político ou os seus detentores, porque dependentes de fatores que condicionam o acesso a esse
poder, enquanto a segunda assinala, objetivamente, os mecanismos de que dispõe o titular de um órgão de
soberania para impor a outro consequências políticas negativas, como a demissão ou a exoneração do
cargo.

➢ Mais tarde, o mesmo autor distingue três tipos de responsabilidade:

• Responsabilidade em sentido estrito caracterizada pela existência, no órgão controlante, de poderes


jurídicos reais, capazes de produzir efeitos negativos, como a demissão, no órgão controlado;

• Responsabilidade em sentido lato que consiste na possibilidade de crítica de um órgão relativamente a


outro órgão;

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• Responsabilidade difusa correspondente àquela primeira versão de responsabilidade política difusa.
Como refere Gomes Canotilho, “a responsabilidade institucional é sempre, como se vê, uma
responsabilidade política”.

➢ A noção de solidariedade institucional pouco terá haver com a noção de responsabilidade política.

➢ É possível distinguir-se duas modalidades de solidariedade institucional.

• De acordo com a primeira modalidade existirá solidariedade institucional quando dois ou mais órgãos
do poder, conjuntamente, estão empenhados na prossecução e no desenvolvimento de uma dada política
governamental é a solidariedade institucional em sentido estrito, a qual não estará presente sempre que,
por qualquer circunstância, se verifique uma absoluta autonomia governamental, da qual resulta só o
governo ser responsável e interessado direto pelos resultados da política que persegue.

• A segunda modalidade solidariedade institucional em sentido lato identificada com a manutenção do


regime, caracteriza-se pela necessidade da conjugação de esforços de todos os órgãos de soberania, no
sentido de serem assegurados os mecanismos e os equilíbrios conducentes à perdurabilidade do regime
pode, neste sentido, dizer-se que a solidariedade institucional vincula, uns aos outros, todos os órgãos de
soberania de um determinado regime.

Este último perfil do conceito de solidariedade institucional parece estar presente no artigo 111.º da atual
Constituição pois, à observância do princípio da separação de poderes estabelecido na Lei fundamental,
se obriga a uma interdependência dos órgãos o que, nesse contexto, se entenderá como um modo de
preservação da estabilidade do regime político, unindo os órgãos de soberania por esse laço solidário.

O sistema de governo presidencial

Génese do sistema

➢ O sistema presidencial nasceu com a independência dos Estados Unidos no fim do século XVIII, num
momento em que a própria teoria do parlamentarismo não se encontrava ainda perfeitamente delineada
por isso, tem sido definido por referência ao sistema constitucional dos EUA e por oposição ao sistema
parlamentar.

➢ Este sistema funda-se em primeiro lugar, numa separação estrita de poderes, mas é duvidoso que os
constituintes de 1787 tenham pretendido estabelecer um regime onde a figura do Presidente se
sobrepusesse aos outros poderes instituídos. Certo, é, que estavam imbuídos de uma excessiva
desconfiança que os levaria a não estabelecerem, voluntariamente, um mecanismo capaz de criar o
desequilíbrio entre os poderes do Estado.

Por isso, pensavam que era importante encontrar um equilíbrio, o mais eficaz possível, entre os diversos
poderes de forma que se limitassem reciprocamente de modo, a evitar o domínio do Congresso pelo
executivo, era conveniente que este não tivesse nenhuma possibilidade de fazer pressão sobre aquele.

Traços do sistema de governo presidencial

➢ No sistema presidencial o poder legislativo e o poder presidencial mostram-se, em absoluto, separados:

• Ao Parlamento (Congresso) cabe o encargo de elaborar e votar as leis e ao Presidente o de as executar,


bem como de orientar a política do país, no âmbito do quadro jurídico delineado por o mesmo;

• O Poder Executivo é entregue ao próprio Presidente (órgão singular) que escolhe os seus Secretários,
não respondendo nem um nem os outros perante o Parlamento, logo não dependendo de qualquer dos

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partidos com assento no Congresso. O chefe de Estado (Presidente da República) é, simultaneamente, o
chefe do governo;

• O Presidente é eleito por sufrágio universal indireto, em duas fases (em rigor 4

fases, mas apenas 2 estão consagradas na constituição) podendo a sua escolha resultar de uma maioria
político-partidária não coincidente com a do Congresso;

• Pelo facto de o Presidente e os seus Secretários não carecerem da confiança do Congresso este não
pode forçar, nem um, nem outros, a demitirem-se. Por seu lado, o Presidente não tem poderes para
dissolver o Congresso.

➢ MAURICE DUVERGER descreve a posição dos diversos poderes no sistema presidencial com a
seguinte expressão “Cada qual tem as mãos livres no seu domínio, mas tem que se acomodar com a
presença de outro. É um casamento sem divórcio nem separação de corpos e que obriga a compromissos
permanente”.

Atenuação/flexibilização da divisão de poderes

➢ Ao mecanismo da separação de poderes consagrada na Constituição de 1787 o devir encarregou-se de


introduzir alguns corretivos, resultantes da prática constitucional.

➢ Flexibilizou-se a separação de poderes passando a efetivar-se a responsabilidade penal do Presidente


pelo processo do impeachement.

Porém, esta ação contra o presidente tem um alcance pouco considerável trata-se de um processo penal
que apenas pode ser aplicado em caso de traição, corrupção ou outros crimes e delitos, não estando estes
últimos definidos na Constituição por outro lado, é necessária a acusação pela Câmara dos
Representantes e uma maioria de dois terços dos senadores presentes para que a condenação possa ser
pronunciada pelo Senado estas serão as razões pelas quais o processo conducente ao impeachement é tão
pouco utilizado ou, quando o é, raramente chega ao termo.

Por sua vez, o Presidente pode opor o veto a uma lei do Congresso, a qual precisa, para ser aprovada em
segunda votação, de uma maioria de dois terços.

➢ Se o impeachement não foi objeto de grande aplicação o veto tem constituído uma arma de grande
importância nas mãos do Presidente é, com a sua utilização, iniciada a partir do fim do Séc. XIX, que o
Presidente consegue atrasar a produção legislativa do Congresso quando dele se serve com excessiva
frequência, com a agravante de, em determinadas condições políticas, poder corresponder a um autêntico
veto definitivo.

➢ Para além do direito de veto explicitado o presidente reforça a sua posição pela prática do chamado
veto de bolso (pocket veto) no qual, o Presidente limita-se a não assinar o texto da lei votada pelo
Congresso, não lha devolvendo e aproveitando- se do facto de o Congresso não estar em funcionamento,
por força do termo da sessão legislativa.

➢ Outro aspeto que tem contribuído para uma maior colaboração institucional entre os diferentes órgãos
de soberania é a especialização funcional dos órgãos e o consequente monopólio pelo Congresso em
matérias como a orçamental e seus reflexos na política externa e defesa nacional.

➢O equilíbrio entre órgãos de soberania e a flexibilização na separação de poderes são imperativos hoje
indispensáveis.

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Que pode fazer um Presidente sem crédito parlamentar, se fica privado de todas ou quase todas as
prerrogativas? Nesse contexto, deverá ter em conta as sugestões e críticas do Parlamento. Mas, por outro
lado, em que posição fica um parlamento que não consiga ultrapassar obstáculos que o presidente coloca
às propostas legislativas dele emanadas?

O Presidente tem também uma importante influência nos trabalhos legislativos do Congresso. É este que
detém a faculdade de iniciativa ou de orientação legislativa, através da leitura das chamadas mensagens,
das quais sobressai a que é lida pelo próprio em cada ano, mo início da sessão parlamentar e que constitui
o programa da Administração.

➢ O Supremo Tribunal de Justiça tem um papel importante é um tribunal que goza de avultado prestígio
nos E.U.A e que controla de modo eficaz a conformidade, com a Constituição, dos atos jurídicos
emanados dos diferentes órgãos do Estado.

Constitui uma espécie de árbitro entre os poderes, mas é, sobretudo, o garante do exercício das liberdades
e dos direitos fundamentais.

➢ A prática do funcionamento dos órgãos introduziu significativas alterações de ordem política, que
mais contribuíram para a flexibilização do sistema, e simultaneamente, para a proeminência institucional
do Presidente, pois que a evolução dos poderes daquele, o qual detém a autoridade que lhe advém da
eleição por sufrágio universal, embora indireto, através de um colégio de grandes eleitores.

O Presidente, crescentemente, tem-se apresentado como motor da vida política do país arrastando com
frequência o Congresso para a defesa dos seus pontos de vista.

➢ A praxis política levou, ainda, ao estabelecimento do chamado “parlamentarismo corredor” que se


traduziu nos contactos estabelecidos entre os Secretários de Estado e o Congresso contatos oficiosos, mas
eficazes, e que foram atenuando a rigidez do modelo primitivo.

➢ Apesar do reforço dos poderes do Presidente, nada permite que se possa apresentar tal sistema como de
governo pessoal por várias razões: quer porque os partidos políticos americanos não estão enfeudados a
ideologias políticas rígidas e, portanto, o Presidente é obrigado, com frequência, a reunir a maioria
parlamentar, a negociar com ela e a ter em conta as suas razões; até porque as eleições presidenciais têm
lugar de 4 em 4 anos.

➢ Dada a longevidade deste sistema de governo nos E.U.A. vários países têm tentado aplicá-lo imitando
as suas instituições, principalmente na América Latina e em África.

• Porém, sempre com maus resultados não se alcançando de modo algum o nível de funcionamento e a
estabilidade das instituições americanas.

• Naturalmente, por razões diversas em particular as atinentes ao estádio do desenvolvimento económico,


social e político, resultando rapidamente num governo ditatorial, em que só a forma corresponde ao
modelo presidencial.

• Nesses países não existe efetivamente qualquer divisão de poderes, mas antes sobressaem os primados
jurídico e político decorrentes da omnipotência presidencial.

• É degradação do sistema traduzindo-se naquilo a que se designa de presidencialismo num sentido


degenerado da expressão presidencial.

➢ “O Presidencialismo está para o Sistema Presidencial como a Monarquia Absoluta está para a
Monarquia Constitucional” CLAUDE LECLRC.

➢ É comum utilizar as expressões presidencial e presidencialismo para designar a forma presidencial de


governo dos Estados Unidos da América.

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O sistema de governo directorial

➢ O sistema de governo directorial (deve o seu nome à Constituição Francesa de 1795) realiza-se com
sucesso na Confederação Helvética, através da sua Constituição de 1848 e mantém-se hoje, na
Constituição de 1999.

➢ Os traços essenciais deste sistema de governo assentam em quatro aspetos (ver Fig.22 P.366):

• Existência de um executivo composto por sete membros designado Conselho Federal, eleito pela
Assembleia Federal (bicameral) por um período de quatro anos sendo que esse órgão – autêntico
directório – é o verdadeiro governo do país; cada um dos membros do Directório chefia um departamento
federal com amplas atribuições dado que cada departamento constitui, em rigor, um verdadeiro
superministério;

• A chefia de Estado – Presidente da Confederação é exercida rotativamente através de um mandato atual


por um dos membros do directório (Conselho Federal), que preside às reuniões e é eleito pela Assembleia
Federal;

• O Directório não pode ser demitido pela Assembleia Federal, através de votos ou moções de censura;
aliás, raras são as situações de demissão do Directório (ou de algum dos seus membros), por sua
iniciativa, e todas elas ligadas a maus resultados referendários;

• A Assembleia Federal, que não pode ser dissolvida pelo Directório é composta por duas câmaras: o
Conselho Nacional, eleitos pelo sistema proporcional por quatro anos e o Conselho dos Estados, órgão
representativo dos Estados (Cantões) e composto por 46 representantes (2 por cada um dos 20 cantões e 1
por cada um dos seis semicantões), eleitos de acordo com o sistema eleitoral vigente em cada cantão (mas
que no geral é o maioritário); a Assembleia Federal é o órgão com competência legislativa, mas a
iniciativa da lei pode resultar do Conselho Federal ou, muito frequentemente, dos cidadãos, no quadro das
várias figuras de democracia direta existentes.

➢ A realidade política da Suíça, que exemplifica bem um modelo de democracia consensual ajuda a que
o sistema directorial tenha tido sucesso ao longo dos anos.

• A Suíça é uma realidade composta por vários Estados federados apelidados de Cantões cada cantão
possui Constituição própria e goza de uma muito ampla autonomia política e legislativa.

• Por outro lado, a Confederação Helvética é uma sociedade fragmentada do ponto de vista cultural
constituída por população heterogénea de língua francesa, alemã e italiana (e uma minoria que fala
romanche), que por sua vez professa várias religiões, sendo predominantes os cultos católicos e
protestantes.

• Os partidos políticos procuram representar estas particulares clivagens sendo o seu espectro composto
tradicionalmente por quatro forças políticas socialistas, democratas cristãos, liberais e conservadores (nas
últimas eleições federais com um total de 200 deputados mais de dois terços ficaram distribuídos por
estes partidos).

• O sistema político é estável, com votações aproximadas entre estas quatro grandes forças políticas, que
registam variações não muito acentuadas entre si de eleição para eleição.

• Por outro lado, o governo da suíça (Conselho Federal/Directório) traduz-se num executivo de coligação
(pelo menos desde 1959) em que os quatro maiores partidos distribuem entre si os sete lugares em
presença, com muito discretas alterações dos lugares de eleição para eleição (“fórmula mágica).

• O sistema político suíço complementa-se através de uma prática sistemática de recurso a instituições de
democracia direta como o referendo, a iniciativa popular e o “recall” existindo mesmo alguns raros

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espaços de governo popular direto, ao modo ateniense, em que os cidadãos decidem na praça pública
discutindo e votando os assuntos da comunidade.

• Desde 1858 que, só a nível federal se realizaram cerca de 600 referendos, quer sobre leis ou tratados
internacionais em relação às iniciativas populares e a outras formas de democracia direta estão também
bastante presentes na vida política dos cantões.

➢ Em suma, o êxito do sistema directorial suíço  deve-se muito mais às características culturais e
políticas da sociedade suíça, do que às virtudes do modelo consagrado na Constituição.

O sistema de governo semi-presidencial

Génese do sistema de governo semi-presidencial

➢ A necessidade prática de responder às novas exigências da sociedade e a impossibilidade prática de


qualquer um dos sistemas de governo já referidos geradores de instabilidade e incapazes de dar resposta
aos complexos problemas do Estado hodierno estão na origem do desenvolvimento de um novo modelo
de sistema de governo que foi buscar, ao sistema parlamentar e presidencial, alguns dos seus elementos
característicos essenciais o sistema de governo semipresidencial.

➢ Apesar deste sistema sintetizar a convergência do parlamentarismo e do presidencialismo a sua origem


resultou muito mais do primeiro do que do segundo. Foi graças à incapacidade do sistema parlamentar
que historicamente se projetou o sistema semipresidencial do qual foi precursor a Constituição alemã de
Weimar (1919). Esta consagra os traços que mais tarde a doutrina  veio chamar de sistema
semipresidencial.

A par de um governo responsável perante o Parlamento consignava a eleição do Presidente por sufrágio
universal direto, a quem atribuía importantes poderes efetivos de participação no exercício da função de
direção política o seu mandato era de sete anos e só podia ser demitido, precedendo voto da Assembleia,
por referendo popular para além daquela função, outros poderes incondicionais lhe cabiam:

• A dissolução da Assembleia embora apenas uma vez pelo mesmo motivo;

• A nomeação e demissão do Chanceler e, sob proposta deste, dos ministros;

• O veto e submissão a referendo das leis vetadas;

• A suspensão, total ou parcial, de determinados direitos fundamentais bem como a possibilidade de


ordenação de medidas de emergência no caso de perturbação ou ameaça grave à segurança e ordem
pública;

• A nomeação e demissão dos funcionários do Estado salvo disposição da lei em sentido diverso.

➢ Na linha da Constituição de Weimar encontramos a da Áustria (1929), a da Islândia (1944), a da


Irlanda (1937), a da França (1958) e a de Portugal de 1976, sendo que a Finlândia manteve um sistema
semipresidencial até 2000.

Contudo, a vaga democratizadora que se desenvolveu no início dos anos 90 na Europa, levou à
consagração de Constituições com sistemas desse tipo a influência do semipresidencialismo português foi
significativa em boa parte dos países de língua oficial portuguesa, como por exemplo Angola, Guiné-
Bissau, São Tomé ou Timor-Leste. Todas elas introduziram a eleição por sufrágio universal do Presidente
da República consagrando uma estrutura dualista com dois órgãos possuidores do mesmo grau de
legitimidade: o Presidente da República e o Parlamento.

➢ A este respeito há quem prefira falar em três vagas semipresidenciais:

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• Uma primeira após a I Guerra Mundial, com as constituições de Weimar, Finlândia, Áustria, Irlanda e
Islândia;

• A segunda com as Constituições da França (após a revisão de 1962) e de Portugal;

• A terceira após a queda do muro de Berlim, que incluiria, entre outras, as Constituições da Polónia,
Roménia, Ucrânia, Lituânia e Bulgária.

➢ A generalidades destas Constituições atribuem importantes poderes ao Presidente da República embora


a respetiva extensão se veja frequentemente confrontada com as particularidades do sistema partidário e
da vida política do respetivo país.

Esboço de definição do sistema

Concretização do sistema

➢ Diferentemente do sistema de governo presidencial neste o Executivo responde perante o Parlamento e


perante o Presidente da República.

➢ Ao contrário do sistema parlamentar este último é eleito por sufrágio universal, ao mesmo tempo que o
Governo é também responsável perante ele.

➢ Em suma, para além do Parlamento e do Governo existe um Presidente da República eleito por
sufrágio universal e com prerrogativas que ultrapassam o mero caráter representativo, concomitantemente
com um Governo dele não diretamente dependente mas perante quem também responde, a par do
Parlamento, e dispondo aquele de diversos poderes exercitáveis por si só, nomeadamente o direito de
dissolução do Parlamento.

➢ As características essenciais do sistema presidencial são:

• A eleição do Presidente da República através de sufrágio universal, à semelhança do Parlamento;

• A dupla responsabilidade política do Governo, ou do primeiro-ministro, perante o Presidente da


República e perante o Parlamento e a diarquia do Executivo com distinção de funções entre o aquele e o
chefe de governo;

• A atribuição de uma amplitude de poderes reais ou dominantes ao Presidente, decorrentes da


legitimidade adveniente do método de eleição, especialmente o direito de dissolução do Parlamento;

• A formação do Governo em função dos resultados eleitorais, dependendo a sua constituição e


sobrevivência da confiança parlamentar;

• A possibilidade, por parte do Presidente da República, de controlar a atividade do Governo.

➢ Perante estes aspetos podemos concluir que o sistema semipresidencial não é um sistema misto, pois
não é possível a coexistência do governo presidencial e do governo parlamentar num mesmo sistema.

➢ O sistema semipresidencial insere-se nos sistemas de separação flexível ou de colaboração de poderes.

Deve ser considerado como um novo tipo de sistema de governo e não como um sistema misto
parlamentar/presidencial pois dada a expressão contraditória de ambos isso não seria possível.

➢ Pode definir-se o sistema de governo semipresidencial como o “sistema de governo em que, da


conjugação do mesmo grau de legitimidade do Presidente da República e do Parlamento, porque ambos
eleitos por sufrágio universal, neles se consubstancia a faculdade de exercerem os poderes jurídicos que a
Constituição lhes atribui, no sentido de, em maior ou menor grau, controlarem a ação do Governo, de
molde a qualquer deles, mesmo que indiretamente, possa fazer cessar as funções daquele”.

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➢ Da legitimidade popular do mandato do Presidente da República decorre a característica dualista do
poder efetivando-se a responsabilidade do Governo em duas vertentes isto é, a sua subsistência depende
da confiança do órgão representativo parlamentar e do próprio Presidente da República.

O modelo é complementado ainda pelo conjunto de poderes e mecanismos que permitem o controlo real
da atividade do Governo com especial relevo para aqueles que se inscrevem na esfera do Presidente da
República (ver fig. 23 p.375).

Concretização do sistema

➢ O equilíbrio de poderes estabelecido no sistema semipresidencial difere do dos outros sistemas porque
em situações de crise, podem encontrar-se no seu seio esquemas alternativos suscetiveis de impedir
roturas ou bloqueios graves para a estabilidade do sistema de Governo e do próprio regime.

Maurice Duverger “pai” do semipresidencialismo enquanto categoria autónoma reconhece importância à


prática de cada país, a qual permite concluir que textos constitucionais semelhantes possam desenvolver-
se em termos deveras díspares. Exemplos disso mesmo, é a constatação de que a prática política de certos
países, como a Áustria, a Irlanda e a Islândia, caminhou num sentido parlamentar ou que a França se
apresenta com um Presidente que de facto detém enormes poderes daí que para esses três países se fale de
um “semipresidencialismo aparente”, guardando a real designação de semipresidencialismo para Weimar,
Finlândia, França e Portugal.

➢ Duverger não deixa de chamar a atenção para o facto do semipresidencialismo permitir um modelo de
análise que explica o funcionamento do sistema em países com diversas culturas.

Esse modelo parte de três variáveis os poderes que a Constituição reconhece ao Presidente da República,
a presença ou ausência de maioria parlamentar e a posição do Presidente em relação a essa maioria.

Na verdade, basta verificar a situação da França e da Finlândia (até 2000), países em que o Presidente da
República é a sede orgânica preponderante do sistema político, como resultado da sua posição perante o
sistema de partidos ou, em sentido contrário, o conjunto dos diversos países que consagram o mesmo tipo
de governo, cuja evolução tendeu para o parlamentarismo.

➢ As prerrogativas inabituais ou mesmo excecionais do Presidente da República só devem ser


utilizadas se o sistema o requerer assim, deverá ter-se em conta que muitas das prerrogativas jurídicas se
encontram na reserva, podendo vir a ser utilizadas se tal se verificar necessário, não significando por isso
que essas tenham caído em desuso.

O sistema de Governo na Constituição da República Portuguesa de 1976

➢ O projeto de Constituição partidários apresentado à Assembleia Constituinte é apelidado de


semipresidencialismo.

➢ Com o 25 de Abril de 1974 houve a necessidade de prover à estruturação dos diversos órgãos de poder
político emergentes da Revolução até vir a ser aprovada pela Assembleia Constituinte a nova Constituição
a escolha do sistema de governo plasmado na Constituição resultou assim de um Pacto entre o MFA e os
partidos.

➢ A Constituição originária alberga os vários poderes do Presidente da República, nomeadamente:

- Poder de dissolução da Assembleia da República.

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- Poderes de nomeação e exoneração do primeiro-ministro.

- Poder de veto sobre as leis.

- Poder de iniciativa nos processos de fiscalização da constitucionalidade.

➢ No semipresidencialismo português estão presentes as seguintes características:

- Presidente da República é eleito por sufrágio universal e directo.

- Dupla responsabilidade do Governo perante a Assembleia da República e o Presidente da República.

- Largos poderes dos dois órgãos no confronto com o executivo: o Presidente da República nomeia e
exonera o Governo e a Assembleia da República aprecia o Programa de Governo.

- Amplos e reais poderes do Presidente da República face ao Governo e à Assembleia da República, como
o direito de veto, dissolução do Parlamento e a iniciativa de fiscalização preventiva de
constitucionalidade.

➢ A Constituição originária também veio consagrar como órgão de relevantes poderes jurídico-
constitucionais o Conselho da Revolução, criado com excecionais condições revolucionárias.

Contudo, esta constituição sofreu várias revisões:

1ª (1982) – Esvaziamento dos poderes do Presidente da República; eliminação do Conselho da


Revolução; introdução de um Conselho de Estado (órgão político de consulta do Presidente da República
com funções meramente consultivas); equilíbrio entre as componentes parlamentares e presidenciais.

2ª (1989) – Organização económica e aprofundamento de alguns direitos fundamentais.

3ª (1992) – De natureza extraordinária, determinada pela assinatura do Tratado de Maastricht.

4ª (1997) – Reforço dos mecanismos de participação dos cidadãos e aumento dos poderes da Assembleia
da República.

5ª (2001) – Exigência da ratificação do Tratado sobre o Tribunal Penal Internacional.

6ª (2004) – Relacionamento entre os órgãos da Republica e as regiões autónomas, com o aumento das
competências legislativas das respectivas Assembleias Legislativas e o reforçado papel do Presidente da
República no regular funcionamento das instituições democráticas regionais e na nomeação dos
Representantes da Republica.

7ª (2005) – Introduzir um novo normativo para permitir a realização de referendos sobre tratados
europeus.

➢ A atual Constituição de 1976 tem as seguintes características:

- Presidente da República é eleito por sufrágio universal e direto.

- Dupla responsabilidade do Governo perante a Assembleia da República e o Presidente da República.

- Atribuição de importantes poderes de arbitragem ao Presidente da República, incluindo a dissolução do


Parlamento, direito de veto sobre leis e decretos-lei, nomeação e exoneração do Governo, etc.

- Formação e manutenção do Governo de acordo com a maioria parlamentar que lhe dá vida e que o pode
derrubar.

➢ A formação de governo em Portugal é feita por nomeação e não por eleição o governo é nomeado pelo
Presidente de acordo com os resultados eleitorais e na deve ser precedida uma audição dos partidos
políticos representados na Assembleia (artigo 187º, nº1) os resultados eleitorais têm de ser interpretados
para o Presidente da República poder nomear e publicar os nomes no Diário da República.

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➢ Após a nomeação e publicação no Diário da República o governo toma a posse e tem 10 dias para
apresentar o seu programa à Assembleia da República uma vez apresentado, este programa tem de ser
discutido (obrigação constitucional) e, se não houver nada contra, pode entrar imediatamente em plenas
funções após esta discussão.

➢ Contudo, o programa também pode sofrer uma votação a votação não é um procedimento obrigatório
mas pode ser solicitada pelo próprio governo ou pela oposição  se houver votação pode acontecer duas
coisas:

- A oposição apresenta uma moção de rejeição (apreciação do conteúdo do programa do governo), e o


governo pode cair esta for apresentada por 116 deputados.

- O governo pede um voto de confiança à Assembleia da República, o qual tem de ser aprovado e ter mais
votos a favor do que contra, independentemente da abstenção. Se o voto for rejeitado, o governo é
demitido.

➢ A demissão do Governo por qualquer razão não leva necessariamente à dissolução da Assembleia e à
marcação de novas eleições gera, em vez disso, uma restrição das suas normais funções, ficando assim
com poderes diminuídos (artigo 186º, nº5)  após isto, o Presidente da República fica obrigado a nomear
um novo Primeiro- Ministro, sem prazo afixado pela Constituição, ou dissolver a Assembleia e convocar
novas eleições enquanto um novo Primeiro-Ministro não for nomeado, o Governo fica numa situação de
“Governo de Gestão”.

➢ A Assembleia da República é composta por 230 deputados  no máximo, eleitos em listas


plurinominais partidárias  através do sistema de representação proporcional pelo método da média mais
alta de Hondt (artigo 149º) e com um mandato parlamentar livre (artigo 152º, nº2)  a Assembleia da
República é eleita por quatro anos (artigo 171º), durando cada sessão legislativa 1 ano – 15 de Setembro a
15 de Junho (artigo 174º), fora deste tempo funciona uma Comissão Permanente, com amplos poderes
(artigo 179º)  a Assembleia da República é presidida pelo Presidente da Assembleia da República, eleito
pelos seus pares e também pode ser constituída não só por deputados mas também por grupos
parlamentes, que tem poderes próprios (artigo 156º e 180º)  é um órgão com competência legislativa;
um órgão de soberania a quem por excelência compete legislar, orientar e fiscalizar a política.

Livro 2

Capítulo I- Eleições e sistemas eleitorais

1. O Princípio da democracia representativa e a soberania popular

➢ Quase todos os regimes políticos atuais assentam no conceito de representação uma vez que reclamam
uma determinada caução popular como fonte da legitimidade do poder incluindo os de natureza ditatorial,
que geralmente instituem eleições como título, ainda que artificial e falso, da legitimação dos seus
dirigentes ou, pelo menos, de alguns deles (ex: ditaduras de Salazar, de Fraco ou com a grande parte dos
regimes comunistas).

Porém, a verdadeira representação é a que se opera nas democracias nas quais o mandato representativo
se impõe como elemento-chave e os partidos políticos assumem o principal papel no funcionamento desse
mecanismo, fazendo do Estado contemporâneo um “Estado de Partidos” dado que, como afirma Manuel
Garcia-

Pelayo, “só a interação entre o sistema de partidos e o sistema estadual pode proporcionar a este uma
legitimidade e funcionalidade democráticas” e daí também a importância de se proceder ao estudo das
eleições em democracias, englobando nele todos os procedimentos prévios ao ato eleitoral e os modelos
teóricos de conversão de votos em mandatos.

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➢ O vínculo da representação envolve uma lógica dual isto é, por um lado, a existência de representados
e de representantes, por outro e, por isso, pressupõe a existência de um mandato, que é, em termos gerais,
o titulo com base no qual são atribuídos poderes, por uma ou mais pessoas, a outra ou outras, com o fim
de que estas desempenhem uma função em nome e por conta daquelas.

• Deste modo, mandato e representação política são conceitos inseparavelmente relacionados.

➢ Em termos gerais, o mandato representativo (ou não imperativo) é delimitado em função de quatro
elementos essenciais: a generalidade, a liberdade, a independência e a irrevogabilidade.

➢ Em Portugal a Constituição vigente adere à conceção do mandato não imperativo como se pode
verificar através da presença conjugada dos quatro principais fatores delimitadores do exercício do cargo
de Deputado:

• A função de representação de todo o país e não apenas do círculo pelo qual foi eleito (n.º2 do art. 152.º
da Constituição);

• A inexistência de vinculação jurídica ao cumprimento dos seus compromissos eleitorais traduzida na


ideia de liberdade na forma como conduz a sua atuação (n.º1 do art. 155.º da Constituição);

• A natureza irrevogável do mandato que exerce pois, a sua perda só pode decorrer da superveniência de
incapacidades ou incompatibilidades, da circunstância de não tomar assento no Parlamento ou de exercer
o limite pelo qual foi apresentado a sufrágio, da condenação judicial por crime de responsabilidade no
exercício da função ou por participação em organizações racistas que perfilhem a ideologia fascista (art.
160.º da Constituição);

• A irresponsabilidade, civil, criminal ou disciplinar  pelos votos e opiniões que emitir no quadro das
suas funções (n.º1 do art.157.º da Constituição).

As funções eleitorais

➢ As funções das eleições democráticas  desdobram-se em quatro planos conceptualmente distintos:

1. Proporcionar participação política;

2. Produzir representação;

3. Gerar governo;

4. Oferecer legitimação.

1. Em primeiro lugar as eleições proporcionam a participação política dos cidadãos.

• Nas democracias modernas o sufrágio generalizou-se o que significa poderem nele envolver-se todos os
cidadãos maiores de idade, o quem possibilita um grau de participação política muito amplo e que é
justamente uma das diferenças assinaláveis por comparação com regimes ditatoriais, onde tal participação
não existe ou se encontra severamente limitada e condicionada.

• A competição eleitoral é então o momento em que o eleitorado expressa as suas preferências 


escolhendo determinados programas políticos e aqueles que os protagonizam.

• As eleições também exercem influência na agenda política, motivando e condicionando os temas para
debate público. Os eleitores podem introduzir novas questões nesse debate e o resultado eleitoral não
deixa de criar alguma margem de vinculação política dos decisores quanto à prossecução das políticas
sufragadas maioritariamente, ainda que, bastante frequente, demasiado aquém do que seria exigível.

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• As eleições condicionam ainda o modo de funcionamento interno e externo dos partidos políticos
configurando o sistema partidário.

• O exercício do sufrágio é naturalmente visto como o elemento principal em que a participação política
se traduz porém, esta tem um grau de abrangência muito mais amplo, podendo incluir os mecanismos de
democracia direta, a iniciativa legislativa popular, a participação em campanhas eleitorais, os vários
modos de pressão sobre os representantes eleitos, a participação e militância em partidos, associações
políticas e grupos de interesses, o exercício dos direitos de reunião, de manifestação e de expressão ou,
até, a desobediência civil ( e o direito de resistência, como formas de “participação não convencionais”).

♠ Em segundo lugar, as eleições produzem representação já que só este mecanismo permite resolver a
distância entre a titularidade do poder, que pertence ao povo, e o exercício do poder em seu nome.

• Até devido à complexidade das tarefas que os Estados modernos são chamados a desenvolver que,
evidentemente, não permitem a participação diária e imediata dos cidadãos nas decisões políticas, porém,
nada impede de que pontualmente recorram a instrumentos como o referendo ou a iniciativa legislativa.

• Como os eleitos tomam decisões em nome do povo  as eleições cumprem, também, uma tarefa
relevante no processo de seleção e renovação dos representantes políticos, no recrutamento das elites
políticas e na expressão institucional do pluralismo político da sociedade, na medida em que refletem, de
forma pacífica, interesses heterogéneos e conflituais.

3. Em terceiro lugar, as eleições geram governo, isto é, permitem que um determinado grupo ou grupos,
correspondentes a correntes de opinião política (um partido ou vários partidos coligados) assumam a
direção do poder executivo.

• Nos sistemas parlamentares a eleição dos deputados determina quem acederá ao poder executivo; nos
sistemas presidências é escolhido o chefe do governo (também chefe do Estado), que depois com maior
ou menor grau de liberdade, formará a sua equipa; nos sistemas semi-presidencialistas geralmente, é
exigida a intervenção na instituição do governo dos dois órgãos que gozam de legitimidade democrática
direta: o chefe do Estado e o parlamento assim, pode dizer-se que as funções do Estado são levadas a
cabo por representantes escolhidos pelo povo, de forma direta ou indireta.

• Com a escolha de uma maioria as eleições também identificam uma minoria, que cumpre o papel da
oposição ao executivo, controlando-o e fiscalizando-o a democracia assenta igualmente na ideia de
alternância, ou seja, na possibilidade real de virem a ser poder aqueles que antes eram oposição através de
novas eleições.

• Por último as eleições determinam uma orientação global quanto às políticas públicas a prosseguir já
que a definição de orientações, mais conservadoras ou mais progressistas, de conteúdo mais liberal ou
mais socializante, de maior ou menor intervencionismo estatal  decorre das escolhas então produzidas
pelos cidadãos.

۵ Em quarto lugar as eleições oferecem legitimação.

• A vontade política manifestada por via eleitoral, que pressupõe a decisão livre e informada da maioria
dos cidadãos é a única via legitimadora do poder político.

• “O objeto fundamental dos sistemas eleitorais á a legitimação do poder político, a concessão a esse
poder de uma auctoritas suficiente que legitime o exercício da sua potestas” – Juan Hernandez Bravo.

• Nos dias de hoje, esta função tem maior alcance devido aos meios de comunicação  que oferecem um
espaço público de confrontação de opiniões proporcionando uma visão mais ampla da ação política entre
duas eleições e isto graças ao processo de interação que aqui se abriu, mediatizado pelos órgãos de
comunicação social, por vezes com recurso a sondagens ou interpretando os movimentos sociais, entre os
cidadãos (via opinião pública) e as elites políticas (governantes) , que permite legitimar (ou não) essa
ação.

60
• Todos estes fatores contribuem, de forma decisiva, para o processo de socialização política  ou seja,
funcionam como modo de incorporação numa dada sociedade política dos valores e princípios
democráticos que a regem.

Eleições, direito eleitoral e sistema eleitoral

➢ Direito eleitoral e sistema eleitoral são conceitos que traduzem leituras diversas do mesmo fenómeno.

• Por Direito eleitoral entende-se o conjunto de comandos jurídicos, positivos ou consuetudinários que
regulam a designação, por sufrágio, de representantes para cargos políticos.

• Já o sistema eleitoral compreende a totalidade das normas, das técnicas e dos procedimentos que se
aplicam desde a abertura do processo eleitoral até à proclamação dos resultados  incluindo os modos de
distribuição dos assentos parlamentares.

• Porém, há um significativo campo de sobreposição entre ambos desde logo porque quase sempre
subjazem às questões relativas ao sistema eleitoral postulados de índole jurídico-constitucional.

➢ Os tipos de votação variam muito de Estado para Estado e, até, no interior de cada um daí que se possa
falar em eleições nacionais, em eleições regionais, em eleições locais (autárquicas) e em eleições
referendárias (sufrágio referendário).

➢ Nos atos de caráter nacional, cumpre separar, quanto aos titulares do poder político a designar as
eleições para as assembleias representativas e as eleições para Presidente da República.

➢ Em relação ao fracionamento de territorial distinguem-se as eleições no quadro nacional e as eleições


no contexto de círculos ou circunscrições eleitorais.

• No primeiro caso é considerada como único círculo eleitoral a totalidade do território do Estado (pode-
se, no entanto, admitir-se circunscrições fara dele, para votação de nacionais residentes no estrangeiro).

• No segundo caso é necessária uma delimitação de critérios claros e transparentes, visto que “a divisão
do Estado em circunscrições eleitorais provoca inevitavelmente desigualdades de representação
relativamente à repartição de lugares entre as mesmas” - Cotteret e Emeri.

➢ Para que a representação fosse teoricamente perfeita cada eleito deveria representar exatamente o
mesmo número de eleitores.

Ex: Num círculo eleitoral que elege 5 deputados, com a participação de 500 cidadãos, cada eleito
representa 100 pessoas mas, se um representante é eleito por 50 pessoas, enquanto no círculo eleitoral ao
lado é escolhido por 150 pessoas, é evidente que o primeiro grupo de cidadãos se encontra três vezes
melhor representado do que o segundo.

➢ Nas eleições regionais, também se pode colocar a questão da divisão dos círculos, sempre e quando aí
seja necessário proceder à sua delimitação (ex: designação dos deputados à assembleia legislativa
regional dos Açores) já no que diz respeito às eleições locais, o problema encontra-se solucionado “ex
natura”, por força da circunstância de cada autarquia corresponder a um círculo.

➢ Os processos referendários que podem também apresentar uma configuração nacional, regional ou
local são formas de decisões de temas concretos que envolvem a direta participação dos eleitores pela
especificidade que reveste, trata- se de instituto merecedor de tratamento autónomo.

➢ A democracia prossupõe a celebração das eleições que se concretizam primacialmente pelo sufrágio,
que pode ser definido como o ato da escolha através do voto, o qual deve ser visto como um direito

61
político fundamental, mas também como uma expressão sociológica das opções e preferências dos
cidadãos.

O direito de sufrágio e a abstenção eleitoral

➢ A capacidade eleitoral é um conceito que se desdobra em duas dimensões distintas: uma ativa, que
traduz a possibilidade de participar no sufrágio  e outra passiva, que tem a ver com a suscetibilidade se
ser candidato e, eventualmente, eleito.

➢ A abstenção eleitoral  relaciona-se com a capacidade eleitoral ativa e traduz-se na ausência do


exercício do direito de voto por parte dos cidadãos que dele gozam e a sua ocorrência, com taxas cada vez
mais significativas, funda-se em razões muito variadas:

• Pode ser devido a atitude consciente e deliberada do cidadão por não concordar com as eleições, por
manifestar reservas face ao sistema democrático, por não ter qualquer interesse na vida política ou por
não se rever em nenhuma das propostas eleitorais que lhe são apresentadas.

▪ É a chamada abstenção voluntária, frequente manifestação daquilo que tem vindo a ser qualificado
como apatia política;

• Pode ser traduzida por circunstâncias alheias à vontade do cidadão porque o recenseamento eleitoral
está incompleto ou errado ou porque, na data das eleições, uma qualquer impossibilidade insuperável, de
natureza objetiva ou de índole subjetiva, inviabiliza o voto (acidente, doença, cataclismos naturais, causas
laborais), ao menos sempre que nestes últimos casos, não sejam admitidas soluções que permitam votar
antecipadamente, por representação ou por correspondência.

▪ É aquilo que se designa por abstenção técnica.

➢ Porém, estas não são as únicas formas de o cidadão se recusar a tomar parte na decisão eleitoral é,
também, possível evitar expressar qualquer preferência e intervir à mesma no processo através do voto
branco e do voto nulo.

• O voto em branco corresponde ao boletim que não tenha sido objeto de qualquer tipo de marca.

• O voto nulo é uma expressão irregular de vontade, porque é concretizado em desconformidade com a
lei eleitoral, podendo traduzir o erro ou a ignorância do eleitor ao votar, mas também uma forma de
protesto de quem, sabendo como se vota, decide conscientemente invalidar o boletim (ex: ao assinalar
várias opções quando apenas uma é autorizada ou ao efetuar desenhos ou rasuras).

Assim, a abstenção ativa principalmente no caso do voto branco e do voto nulo (quando este assume
forma de protesto), constitui um modo de expressar a rejeição do regime político, das eleições ou das
várias listas ou partidos concorrentes  mas não se pode esquecer, que nalguns países, os votos
brancos/nulos apesar de serem considerados para a totalidade dos sufrágios não são contabilizados para
efeito do apuramento dos resultados, dado a serem incluídos na categoria de sufrágios que não se
consideram validamente expressos (ex: votos brancos nas eleições presidências – n.º 1 do art. 126.º da
constituição).

➢ A abstenção ativa permite monitorizar a evolução dos processos democráticos e apurar o grau e
consistência da crise da representação partidária.

62
Características do sufrágio

➢ Os contornos que atualmente caracterizam, em termos gerais, o sufrágio democrático

são:

✔️a universalidade;

✔️a igualdade;

✔️o secretismo;

✔️a liberdade;

✔️o caráter direto;

✔️a periodicidade.

Universalidade

➢ A par da herança (designação por sucessão ex: monarquias), da cooptação (alguns dos titulares de um
órgão são designados pelos demais titulares desse mesmo órgão ex: os 3 juízes do Tribunal Constitucional
que são designados pelos 10 que foram eleitos pela assembleia da República), da nomeação (designação
do titular de um órgão pelo titular de outro órgão ex: o Primeiro-Ministro que é escolhido pelo Presidente
da República) e da inerência (a qualidade de titular de um órgão surge como efeito automático da
titularidade noutro órgão ex: o Presidente da Assembleia da República, o Primeiro- Ministro, entre outros,
são também membros do Conselho de Estado) a eleição aparece como uma das mais correntes formas de
designação de titulares de cargos políticos caracterizando-se pelo facto de a escolha ser feita através da
expressão dos votos de uma pluralidade de pessoas.

➢ Saber quem pode exercer o direito de voto é determinar o corpo ou colégio eleitoral contudo, o
universo dos eleitores é variável, uma vez que cada Estado edita a sua própria legislação, de modo a
determinar a respetiva latitude.

Assim, a reivindicação da universalidade do sufrágio, desenvolvida em paralelo com a luta pela


democracia representativa e pelo constitucionalismo traduziu a exigência daqueles que se encontravam
excluídos da participação política ou dela beneficiavam em termos muito limitados porém, isso não
impede que se deva reconhecer que, tratando-se de uma escolha jurídico-legal, a sua maior ou menor
extensão depende também dos interesses daqueles que, em cada momento, exercem o poder político e só
tendo isso em conta é que é possível compreender porque é que tal alargamento foi, várias vezes
contrabalançado por mecanismos que previam eleições em mais de um grau (indiretas), retirando assim
poder real ao eleitor de base.

➢ No sec. XIX apenas uma pequena parte da população podia votar. O sufrágio era restrito com base em
quatro tipos de fundamentos:

• De estatuto económico por implicar a propriedade de bens de raiz ou a perceção de uma renda (sufrágio
censitário);

• De nível de conhecimentos por exigir um determinado grau de instrução, excluindo, por exemplo, os
que não soubessem ler e escrever (sufrágio capacitário);

• De género por ser atribuído só aos cidadãos do sexo masculino maiores (e negado às mulheres, alegando
que o combate político é próprio dos homens);

63
• De raça por ser limitado a pessoas brancas, dele banindo as demais.

➢ Acontece que, por um lado a maioria dos cidadãos vivia numa situação de pobreza ou de limitadas
posses económicas e por outro, o analfabetismo atingia níveis bastante elevados  pelo que a exigência
de um determinado índice de rendimento ou de educação condicionava o número daqueles que podiam
votar.

E foi a pressão da classe trabalhadora (levada a cabo pelos sindicatos e pelos partidos com maior
influência nos meios operários) que acabou por conduzir a um progressivo recuo, no plano eleitoral deste
tipo de discriminações socialmente fundadas.

➢A situação só começou a evoluir a partir da segunda metade do séc. XIX com significativos avanços e
recuos.

A constituição francesa de 1793 reconheceu o sufrágio universal masculino e só depois da Iª Guerra


Mundial é que o mesmo se veio a estender pela europa.

Já a introdução do voto feminino ocorreu bem mais tarde  e com várias restrições por comparação com
o voto masculino  hoje em dia, e no contexto dos regimes democráticos, são virtualmente inexistentes
as situações de discriminação sexual quanto ao direito de voto.

Também no que diz respeito às discriminações em função de características étnicas o avanço foi bastante
lento  por exemplo, no caso dos EUA, a questão só ficou resolvida em 1965, com a adoção do “Voting
Rights Act”.

➢ No que toca à idade a tendência é a de equiparar a maioridade civil à maioridade eleitoral.

➢ Em suma, a regra geral, hoje é a de que o sufrágio é universal.

Contudo, isto não significa que todos possam votar o sufrágio diz-se universal quando o conjunto dos
cidadãos tem direito de voto, sem que ninguém possa ficar excluído por razões arbitrárias ou
discriminatórias porém, a verdadeira universalidade implicaria o reconhecimento da capacidade eleitoral
a todos sem qualquer tipo de restrição, o que não é possível devido ao facto de existirem pessoas que não
têm capacidades para votar como por exemplo os menores e aqueles que apesar de maiores são afetados
pelas incapacidades eleitorais.

Assim, nos Estados Modernos subsistem apenas restrições objetivamente fundadas como é o caso da
alienação mental judicialmente reconhecida, da incapacidade civil genérica, também se confirmada pelos
tribunais, da condenação pela prática de crime ou delito grave ou da comissão de certos ilícitos eleitorais.

Igualdade

➢ O sufrágio igual significa que todos os votos devem ter a mesma eficácia jurídica, isto é, o mesmo
peso (“uma pessoa um voto”) e surge como corolário de uma das traves mestras do Estado de Direito
Democrático, “in casu” o princípio da dignidade humana.

➢ A igualdade pode e deve ser encarada na perspetiva da igualdade substancial ou seja, a de “igual valor
do resultado” isto quer dizer que o objetivo pretendido deve ser que cada eleito, represente de forma
proporcional, o mesmíssimo número de eleitores, algo que ainda assim não pode nunca ser atingido,
principalmente por razões de ordem prática e que se encontra à partida excluída nos sistemas políticos
que optam pela consagração das chamadas cláusulas-barreira, prevendo que a atribuição de mandatos,
especialmente parlamentares fica dependente da obtenção de uma percentagem eleitoral mínima.

Secretismo

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➢ O secretismo do sufrágio constitui “conditio sine qua non” para garantir a genuinidade da eleição
protegendo assim a autonomia de decisão de cada cidadão e evitando a manipulação ou influência de
terceiros, que o voto público facilita pois cada um deve poder dar plena expressão às suas convicções no
ato de votar, sem receios nem constrangimentos.

Liberdade

➢ A ideia de liberdade relaciona-se aqui com a margem de discricionariedade reconhecida ao cidadão no


que toca à participação no ato eleitoral significa que não pode ser exercida qualquer pressão sobre os
eleitores, quer no sentido de votarem, quer de se absterem de o fazer, deixando-os optar pela opção que
considerem mais adequada.

Contudo, há países, como é o caso da Austrália ou da Bélgica onde existem ordenamentos jurídicos que
impõem a comparência do eleitor às urnas sob pena de sanções pecuniárias ou meramente cívicas, é o
chamado sufrágio obrigatório trata- se de uma tentativa de resolver o fenómeno do absentismo eleitoral
mas que apresenta sérios inconvenientes, originando um retrato ilusório da participação eleitoral.

➢ A liberdade de voto prende-se com a sua natureza pessoal já que, se trata de um requisito assente em
quase todas as legislações e que implica o seu exercício pelo respetivo titular vedando em consequência o
recurso a qualquer tipo de mecanismos de representação, seja ela legal ou voluntária.

➢ O voto presencial exige que o cidadão compareça pessoalmente na assembleia de voto porém, apesar
de essa ser a solução normal, existem exceções, como é o caso do voto antecipado ao qual se pode
recorrer no caso de existir uma impossibilidade inultrapassável de comparência na assembleia de voto no
dia do sufrágio e do voto por correspondência.

Natureza direta

➢ O conceito de sufrágio direto envolve a ideia de que cabe ao primeiro eleitor escolher os
representantes que quer ver designados excluindo a instituição de qualquer instância intermédia com o
direito de decidir em definitivo quem aqueles são.

Periocidade

➢ O exercício do sufrágio deve assumir natureza regular  uma vez que a necessidade de impedir a
perpetuação no poder dos respetivos titulares se encontra inscrita no código genético do regime
democrático.

O sufrágio em Portugal

➢ A Constituição Portuguesa  estabelece que o poder político se exerce, entre outras formas  através
do sufrágio universal, igual, direto, secreto e periódico (n.º 1 art. 10.º).

➢A universalidade é consagrada  no n.º 1 do artigo 49.º da Constituição  que confere o direito de voto
a todos os cidadãos, maiores, de dezoito anos  nesses termos fica delimitada tanto a capacidade eleitoral
ativa, quanto a passiva, exceto no caso das eleições presidenciais, uma vez que esta é estabelecida aos 35
anos (art. 122.º).

➢ A lei fundamental permite a consagração de incapacidades eleitorais  que o legislador ordinário veio
a impor:

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• Aos que apresentem notoriamente limitação ou alteração grave das funções mentais  ainda que não
sujeitos a acompanhantes, quando internados em estabelecimento psiquiátrico ou como tal declarados por
uma junta de dois médicos;

• Aos que estejam privados de direitos políticos  por decisão judicial transitada em julgado.

➢ As incapacidades eleitorais passivas  dividem-se em dois grupos:

• As gerais  que impedem a candidatura em quaisquer circunstâncias;

▪ Incluem-se, para além daqueles que não gozam de capacidade eleitoral ativa  o Presidente da
República, os magistrados judiciais e do Ministério Público em efetividade de funções, bem como os
demais juízes em exercício de funções, os militares e os elementos das forças militarizadas do quadro
permanente que se encontrem no ativo, os diplomatas em efetividade de funções ou aqueles que exerçam
funções diplomáticas à data da apresentação.

• E especiais  que apenas a vedam em situações em que o hipotético candidato pudesse, em função do
estatuto que goza, beneficiar indevidamente de uma específica capacidade de influência.

▪ Impede-se a eleição, mas apenas no círculo eleitoral onde exerceram a sua atividade  dos diretores e
chefes de repartição de finanças, bem como dos ministros de qualquer religião ou culto que aí detenham
poderes de jurisdição.

➢ No que diz respeito à igualdade do valor do voto  ela surge como consequência direta do princípio
geral da igualdade  consagrado no art. 13.º da Constituição.

A igualdade de resultado  levou à consagração da proibição das cláusulas-barreira nas eleições para a
Assembleia da República (n.º 1 do art. 152.º da Constituição).

➢ O secretismo também é acolhido  já que não é autorizado qualquer modo de identificação do sentido
do voto.

➢ O n. º2 do art. 49.º da Constituição  define o direito de sufrágio como um dever cívico  sendo assim
o seu exercício livre, configurando-se como um verdadeiro direito e não como uma obrigação legal.

➢ A pessoalidade do voto é consagrada no n.º 2 do art. 49.º da Constituição  excluindo deste modo o
voto por representação.

➢ A presencialidade do voto é requerida, pelo menos como regra geral não impedindo em situações
excecionais a previsão do voto antecipado ou que por razões de incremento da participação, se acolha o
voto por correspondência (embora isto só seja possível no caso dos cidadãos residentes no estrangeiro e
apenas no sufrágio da Assembleia da República).

➢ O caráter direto é imposto em todos os atos eleitorais  uma vez que em nenhum é prevista a
constituição de corpos intermédios, assegurando assim a existência de uma relação imediata de
designação entre representantes e representados.

➢ O princípio republicano  acolhido pela nossa lei fundamental, apresenta como corolário lógico  a
insusceptibilidade do caráter vitalício dos mandatos e impõe, por isso, a sua renovação periódica (5 anos
no caso do Presidente da República e 4 quando se trate dos deputados).

Os círculos eleitorais

➢ A eleição pode ter como referência um círculo nacional  como acontece em Portugal com as eleições
para o Presidente da República e para o Parlamento Europeu.

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➢ Contudo, a solução mais comum é a instituição de vários círculos  traduzindo a existência de um
conjunto de eleitores normalmente ligados a uma unidade territorial pelo critério da residência, que
constitui o universo regra do exercício do direito de voto e que serve de base à organização do processo
eleitoral e à distribuição dos mandatos.

Tais círculos podem ser  uninominais (quando designam apenas 1 deputado)  ou plurinominais
(quando designam no mínimo 2 deputados).

➢ Os círculos eleitorais agrupam e distribuem o corpo ou colégio eleitoral  que resulta da soma de
todos os que têm capacidade eleitoral ativa e se encontrem inscritos no registo pertinente para votar  daí
que o recenseamento eleitoral seja uma condição necessária para o exercício do direito de voto  este
pode ser promovido pelo Estado oficiosamente ou depender da vontade dos cidadãos  em Portugal, a
constituição qualifica o recenseamento como oficioso, obrigatório, único e permanente para todas as
eleições  a revisão operada pela Lei n.º 47/2018 passou a determinar a inscrição oficiosa e automática
de todos os cidadãos maiores de 17 anos possuidores do cartão de cidadão  ainda assim, os cidadãos
residentes no estrageiro podem a qualquer momento solicitar o cancelamento da inscrição no
recenseamento automático.

➢ A divisão em círculos eleitorais deve assentar em fatores objetivos  quer sejam de ordem
demográfica, de natureza geográfica ou índole administrativa, mas nunca em critérios subjetivos e
políticos  já que a sua delimitação concreta tem sido palco de manipulações frequentes.

➢ Para evitar situações que frustram a justiça e a igualdade da representação  o legislador deve:

📌Respeitar a geometria dos círculos eleitorais (de forma a evitar a delimitação arbitrária ou a grandeza
desigual);

📌Fazer uma repartição equitativa entre todos eles (devido ao princípio da igualdade de voto na sua
dimensão de resultado);

📌Aceitar e estrutura natural dos seus contornos (que deve assentar em realidades geográficas ou
administrativas pré-existentes).

➢ Um círculo pequeno  não deverá atingir valores superiores a 5 mandatos e um círculo grande deverá
designar 10 ou mais mandatos.

A distribuição dos mandatos por círculo deve ser equitativa  pois a dimensão dos círculos está
diretamente relacionada com a proporcionalidade do resultado eleitoral. Uma circunscrição pequena 
traduzirá um resultado não proporcional  e, por outro lado, uma circunscrição maior  tenderá traduzir
um resultado mais proporcional.

➢ A LEAR estabelece a coincidência entre  os círculos eleitorais do continente e os distritos e define


ainda dois círculos correspondentes às Regiões Autónomas (Açores e Madeira) e outros dois respeitantes
aos eleitores fora do território nacional (um abrangendo o território europeu e outro todos os restantes
países).

➢ A Constituição fixa  como coração da geometria dos círculos eleitorais  a regra da


proporcionalidade entre o número de Deputados por círculo e o número de cidadãos eleitores nele
inscrito.

67
Porém existem dois casos em que a proporcionalidade não se aplica: quando se trata de um círculo
nacional  e quando se trata dos círculos do estrangeiro, os quais elegem sempre 2 deputados,
independentemente do número concreto de eleitores recenseados.

Sistemas eleitorais

➢Na análise dos sistemas eleitorais é necessário considerar  pelo menos, os círculos eleitorais, as
formas de candidaturas, os modos de expressão do voto, as barreiras eleitorais da exclusão e as fórmulas
eleitorais.

➢ A forma de candidatura  pode ser unipessoal (singular) ou por lista  mas, para a representação ser
proporcional tem de ser feita pela segunda forma (por lista).

➢ As candidaturas por lista  podem assumir três modalidades distintas:

• Fechadas e bloqueadas  nas quais o eleitor não pode alterar a ordenação pré-estabelecida, fazendo-se a
atribuição dos mandatos pela ordem de inscrição dos candidatos (Ex: Espanha ou Alemanha);

• Fechadas e não bloqueadas  caso em que o eleitor pode modificar total ou parcialmente a ordem
constante da lista em que vota, que através do voto,preferencial, que pela colocação de um número de
ordem em todos os candidatos (Ex: Finlândia, Áustria, Holanda, Bélgica);

• Abertas  que permitem ao eleitor compor o seu voto, selecionando candidatos de diferentes partidos e
estabelecendo a preferência entre eles (Ex: Suiça ou Luxemburgo).

➢ Existe uma distinção fundamental, nos modos de expressão dos votos  entre o voto categórico (no
qual o eleitor só pode votar num candidato ou num partido) e o voto ordinal (em que o eleitor pode votar
em candidatos de diversos partidos políticos e até ordenar as suas preferências).

Situada no plano político existe também a distinção  entre voto sincero (no qual

aludimos às situações em que o eleitor manifesta o seu apoio ao candidato ou à lista que constitui a sua
verdadeira escolha) e o voto estratégico (em que o voto é atribuído ao candidato ou à lista que menos lhe
desagrada).

O voto estratégico  pode ser determinado por três tipos de situações:

• Porque, num sistema eleitoral de duas voltas, aquele em que inicialmente votou não se apurou para esta
fase;

• Porque, por força da própria configuração do sistema eleitoral, o eleitor é fortemente condicionado a
escolher a hipótese que menos contribua para a desvalorização do seu voto (como acontece no sistema
maioritário de uma volta);

• Porque numa leitura racional, o eleitor opta por uma escolha que valorize a

força política que mais hipótese tem de atingir um resultado sólido (é aquilo que se designa por voto útil).

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➢ As cláusulas barreira  são frequentemente instituídas no âmbito dos sistemas proporcionais, sendo
variável o seu concreto limiar.

➢ A fórmula eleitoral  é a análise dos modos de escrutinio e da conversão dos votos em mandatos.

Os sistemas maioritários

➢ Os sistemas maioritários  passam por um raciocínio muito simples: a eleição de quem tiver ficado
em primeiro lugar, ou seja, de quem tenha obtido o maior número de votos.

No entanto, o funcionamento do sistema pode implicar a realização de uma ou duas voltas  consoante o
que é pretendido, se é que a eleição seja legitimada apenas por obtenção de maioria relativa ou se a
mesma deve tender para a maioria absoluta.

➢ Em ordem a que cada voto apresente um peso idêntico ou similar  o território nacional deve ser
dividido em circunscrições aproximadamente iguais  por força disso em número bastante significativo e
de âmbito relativamente reduzido.

Sistema maioritário a uma volta

➢ O sistema maioritário a uma volta também conhecido por maioria relativa é o menos complexo de
todos na medida em que se traduz na designação direta do candidato mais votado, independentemente da
relação que se estabeleça entre o número de votos conseguidos e a dimensão do colégio eleitoral é
vigente, por exemplo, nas eleições para a Câmara dos Comuns no Reino Unido.

A ideia é a de eleger quem ganha, sem olhar à respetiva representatividade relativa. Exemplo:

Sufrágios- 75 000

Votos obtidos: Assim, é designado o candidato Silva

Silva- 30 000 por ter obtido a maioria relativa,

Sousa- 25 000 apesar de o apoio de 60% do colégio

Saraiva- 20 000 eleitoral (isto é, os outros 45 000 eleitores) lhe ter sido recusado

Sistema maioritário a duas voltas

➢ Nenhum sistema maioritário envolve por natureza o recurso a duas voltas.

Até aqueles que apontam nesse sentido se podem satisfazer com a realização de um só escrutinio caso
neste o candidato mais votado obtenha logo a maioria absoluta dos sufrágios expressos.

➢ Só no caso de, na primeira volta, nenhum candidato atingir a maioria absoluta é que se procederá a
uma segunda volta  a esta terão acesso os dois candidatos mais votados na primeira, de forma a garantir
que o vencedor obtenha a maioria absoluta dos sufrágios expressos.

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Partidos Círculos Resultados
A B C Exemplo:

Direita 20.000 10.000 18.000 2

Esquerda 15.000 25.000 17.000 1

☺ Assim,
o sistema a duas voltas envolve por regra, apenas o apuramento das duas candidaturas mais votadas para a
segunda volta, porém, há situações em que a todos os que no primeiro escrutinio obtenham um
determinado mínimo dos sufrágios expressos (12,5%) é assegurada a passagem à segunda volta (ex:
sistema francês). Contudo, por razões políticas a pratica tem demonstrado ser mais frequente que a

➢ O sistema maioritário pode funcionar também através do recurso ao voto alternativo ou preferencial
(ex: eleição da câmara baixa na Austrália) nestes casos, o eleitor vota num candidato, mas ordena os
restantes de acordo com a sua preferência assim, se em dado círculo eleitoral, um candidato entre 4
concorrentes, por exemplo, obtiver a maioria absoluta de votos, a designação fica imediatamente feita
mas, se esse patamar não for atingido, procede-se, numa segunda fase, à exclusão do candidato que
registou o menor número de apoio, transferindo-se os votos por ele obtidos para as segundas preferências
manifestadas pelos eleitores que o colocaram em primeiro lugar e, se necessário, assim sucessivamente
até que um candidato alcance a maioria absoluta.

➢ As vantagens do escrutinio maioritário passam pela evidente simplicidade do modo como funciona e
que, por isso, contribui para a estabilidade governamental, na medida em que gera mais facilmente a
obtenção de maiorias absolutas, aproxima os candidatos dos eleitores (o eleito representa realmente os
seus eleitores que ficam a saber quem é o “seu” deputado) e diminui a influência dos partidos na
designação dos eleitos.

Contudo, tem também relevantes aspetos negativos já que em determinadas situações este sistema pode
ser considerado injusto e imoral, sobretudo quando de trata do modelo a uma só volta por exemplo: um
país imaginário repartido em três círculos eleitorais, em que só dois partidos concorreriam – O Partido da
Direita e o Partido da Esquerda:

70
Constata-se que o partido da Direita elege 2 deputados com 48 mil votos enquanto o partido da Esquerda,
apesar de registar um número superior de preferências, obtém apenas 1 deputado.

Também ao escrutinio com duas votações se apontam aspetos negativos como o facto de a segunda volta
ser muitas vezes objeto de negociações pouco claras em que certos candidatos “vendem” as suas
desistências pela maior oferta política e também, tende a gerar menor participação política, já que muitos
eleitores não se disponibilizam a participar num sufrágio em que já não está presente o candidato da sua
preferência e pode ainda gerar diversas injustiças.

O sistema proporcional

➢ Diferentemente do que acontece com os sistemas maioritários os proporcionais radicam na atribuição a


cada partido ou lista concorrente de um número de mandatos determinado em função direta da respetiva
expressão eleitoral, ou seja, dos votos conseguidos assim, enquanto os primeiros assentam no conceito de
exclusão dos vencidos, os segundos propiciam uma repartição mais equitativa dos manda entre os
diversos concorrentes, outorgando naturalmente mais lugares aos mais votados, mas permitindo, ao
mesmo tempo, que os que atingem um resultado mais modesto possam, apesar de tudo assegurar
representação daí que os sistemas proporcionais sejam apenas compativeis com o sufrágio de lista e,
simultaneamente com a existência de círculos plurinominais de apuramento, não podendo, por isso, a
eleição para cargos singular ocorrer desta forma.

➢ Assim como sucede com os sistemas maioritários os proporcionais também podem ser construídos por
recurso a modos de cálculo distintos quatro das soluções concretas a que se pode recorrer no cálculo da
transformação de votos em mandatos são: a representação proporcional integral, o método do maior resto,
o método da maior média e o método da média mais alta de Hondt.

Representação proporcional integral

➢ Esta funciona a nível nacional estando por isso ligada à existência de uma única circunscrição
eleitoral.

Exemplo: uma situação em que o número de votos expressos é de 10 000 000, o número de representantes
a eleger de 250 e a repartição dos votos é a seguinte:

Partido A- 4 000 000

Partido B- 3 400 000

Partido C- 2 000 000

Partido D- 600 000

Na atribuição de mandatos o primeiro passo consiste em determinar o quociente eleitoral (QE) 


procedendo-se, para isso, à divisão do número de sufrágios expressos (NSE), pelo número de
representantes a eleger (NRE):

QE= NSE + NRE = 10 000 000 ÷ 250 = 40 000

Encontrado o quociente eleitoral a fase seguinte consistirá, muito simplesmente, na divisão do número de
sufrágios de cada partido por esse quociente, atribuindo-se consequentemente a quantidade de mandatos
que decorrer dessa operação:

Partido A - 4 000 000 ÷ 40 000 = 100

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Partido B - 3 400 000 ÷ 40 000 = 85

Partido C - 2 000 000 ÷ 40 000 = 50

Partido D - 600 000 ÷ 40 000 = 15

Na prática a representação proporcional integral  é estatisticamente inaplicável, uma vez que pressupõe
que as divisões operadas não gerariam restos, o que nunca sucede.

Método do maior resto

➢ Diferentemente da representação integral os restantes métodos pressupõem um número variável de


círculos pelo que o cálculo da distribuição dos mandatos terá de ser feito em relação a cada um deles.

Assim, nestes exemplos recorreremos sempre aos mesmos valores quantitativos  pois isso permitirá
compreender, de forma mais próxima, como os resultados da conversão de votos em mandatos podem ser
influenciados pela simples mudança de cálculo.

Exemplos:

Uma determinada circunscrição elege oito representantes e os sufrágios expressos (30 000) distribuem-se
pelas listas concorrentes da seguinte forma:

Partido A – 95 000

Partido B – 80 000

Partido C – 55 000

Partido D – 47 500

Partido E – 22 500

O passo inicial será a determinação do quociente eleitoral, em termos semelhantes aos da


proporcionalidade integral:

QE= NSE + NRE = 300 000 ÷ 8 = 37 500

Em seguida, procede-se à divisão do número de votos registados por cada lista pelo quociente eleitoral
obtido atribuindo-se também um mandato por cada vez que esse quociente seja atingido:

Partido A – 95 000 ÷ 37 500 = 2 (resto -20 000)

Partido B – 80 000 ÷ 37 500 = 2 (resto -5 000)

Partido C – 55 000 ÷ 37 500 = 1 (resto -17 500)

Partido D – 47 500 ÷ 37 500 = 1 (resto -10 000)

Partido E – 22 500 ÷ 37 500 = 0 (resto -22 500)

Ao dividir os votos pelo QE apenas se conseguiu a alocação de seis dos oito mandatos do círculo em
causa ao mesmo tempo, uma significativa parte dos sufrágios (75 000) não gerou qualquer representação
por isso, numa segunda fase, proceder-se-á à atribuição dos mandatos ainda em falta elencando, de forma
decrescente, os restos não utilizados e como são apenas dois os lugares remanescentes, é a esses que
serão atribuídos os lugares em falta ou seja, um lugar caberá ao partido E (22 500) e outro ao partido A
(20 000) em consequência disso o resultado final será o seguinte: Partido A- 3

Partido B- 2

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Partido C- 1

Partido D- 1

Partido E- 1

Método da maior média

➢ A diferença deste método em relação ao anterior é que não se procede à distribuição dos lugares
sobrantes pelos maiores restos mas sim à procura de uma nova média, que é calculada adicionando uma
unidade ao número de lugares obtidos na primeira fase.

Exemplo:

Primeira fase Segunda fase

Partido A – 95 000 ÷ 37 500 = 2 Partido A – 95 000 ÷ (2+1) = 31 666

Partido B – 80 000 ÷ 37 500 = 2 Partido B – 80 000 ÷ (2+1) = 26 666

Partido C – 55 000 ÷ 37 500 = 1 Partido C – 55 000 ÷ (1+1) =27 500

Partido D – 47 500 ÷ 37 500 = 1 Partido D – 47 500 ÷ (1+1) = 23 750

Partido E – 22 500 ÷ 37 500 = 0 Partido E – 22 500 ÷ (0+1) = 22 500

Com base neste apuramento avança-se para a administração de um lugar, através da escolha da maior
média que é, neste caso, a do partido A (31 666).

Contudo, continua em falta o oitavo mandato e para resolver esse problema recorre-se novamente ao
processo seguido na segunda fase, dividindo-se de novo o número de votos de cada partido pelo número
de representantes já eleitos, incluindo o apurado na fase anterior.

Terceira fase

Partido A – 95 000 ÷ (3+1) = 23 750

Partido B – 80 000 ÷ (2+1) = 26 666

Partido C – 55 000 ÷ (1+1) =27 500

Partido D – 47 500 ÷ (1+1) = 23 750

Partido E – 22 500 ÷ (0+1) = 22 500

Aplicando-se o mesmo critério da maior média, o lugar remanescente caberá ao partido C (média de 27
500), dando lugar ao seguinte apuramento final:

Partido A – 3 Partido B – 2 Partido C – 2 Partido D – 1 Partido E – 0

A opção pelo método da maior media afeta só por si a distribuição dos mandatos e a representatividade
relativa dos partidos políticos.

Método da média mais alta de Hondt

➢ No método de Hondt determina-se um repartidor que permita, “através da divisão do número de votos
de cada partido por esse número repartidor, a obtenção direta do número de lugares que deve ser afetado a

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cada partido” e, para o definir, procede-se à divisão dos votos de cada lista, sucessivamente, de 1 até n,
sendo n o número de lugares que cabe a cada circunscrição eleitoral.

Exemplo:

Recorrendo ao exemplo anterior, neste caso teremos de fazer a divisão dos votos registados por cada lista
desde 1 até 8, por ser este o número n, isto é, o total de representantes que cabem ao círculo em causa.

1 2 3 4 5 6 7 8
A 95 000 47 500 31 666 23 750 19 000 15 833 13 571 11 875
B 80 000 40 000 26 666 20 000 16 000 13 333 11 428 10 000
C 55 000 27 500 18 333 13 750 11 000 9 166 7 857 6 875
D 47 500 23 750 15 833 11 875 9 500 7916 6 785 5 937
E 22 500 11 250 7 500 5 625 4 500 3 759 3 214 2 812

Em seguida  procede-se à ordenação, por ordem decrescente, das médias obtidas até à oitava: 95 000,
80 000, 55 000, 47 500, 40 000, 31,666 e 27 500. Este último número corresponde ao repartidor a utilizar
para determinar a distribuição dos mandatos, prosseguindo-se então para a divisão por ele dos votos de
cada lista: Partido A – 95 000 ÷ 27 500 = 3

Partido B – 80 000 ÷ 27 500 = 2

Partido C – 55 000 ÷ 27 500 = 2

Partido D – 47 500 ÷ 27 500 = 1

Partido E – 22 500 ÷ 27 500 = 0

➢ Uma alternativa muito simples é a de proceder diretamente à hierarquização de todas as médias assim
obtidas correspondendo as 8 primeiras aos mandatos a preencher, permitindo ao mesmo tempo descobrir
o número alcançado por cada lista.

➢ O sistema proporcional funciona geralmente, através de listas fechadas, razão pela qual a ordenação de
lugares no interior da lista escapa ao eleitor, que fica à mercê das decisões partidárias, que podem impor
candidatos com pouco apoio popular. Esta situação pode ser corrigida através do voto preferencial.

➢ O sistema proporcional tem como vantagens a equidade que reveste, a possibilidade da representação
das minorias, o facto de favorecer o escrutinio de ideias em vez da escolha de pessoas e a honestidade que
apresenta, na medida em que a ausência de uma segunda votação exclui as negociações que esta
normalmente envolve.

Contudo, também são diversas as desvantagens que contra ele podem ser invocadas a instabilidade
governativa que induz, a pulverização partidária que facilita, o facto de potenciar o domínio da oligarquia
partidária na elaboração das listas eleitorais, o afastamento entre eleitores e eleitos que ocasiona e a
fragmentação da opinião pública que propicia.

Sistemas mistos

➢ O reconhecimento de que tanto os sistemas mistos como os sistemas proporcionais apresentam aspetos
negativos e positivos tem levado à construção de soluções híbridas, conhecidas como os sistemas mistos
que procuram valorizar as vantagens de ambos os sistemas e ao mesmo tempo evitar os seus
inconvenientes.

➢ Existem sistemas mistos de predominância de prevalência proporcional e de natureza equilibrada.

➢ Os sistemas mistos apresentam prós e contras.

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Como prós têm a conciliação da proporcionalidade do voto com a aproximação entre deputados e
eleitores, a facilitação da criação de maiorias e a maior abertura à possibilidade de candidaturas
independentes.

Os contras passam pela dificuldade em constituir o círculo nacional (ou círculos estaduais), em ordem a
favorecer o surgimento de maiorias sem prejudicar os partidos pequenos, o eventual estabelecimento de
uma distinção entre deputados de primeira (eleitos a nível local) e de segunda (a nível nacional) e o
acréscimo de dificuldades que o seu funcionamento envolve, quer para os eleitos, quer para o apuramento
dos votos.

Apreciação global

➢ Temos de um lado países como Portugal, Espanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Islândia,
Israel, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Suécia e Suíça do outro, Estados como o Canadá, os E.U.A., o
Reino Unido, a França e a Austrália ou seja, as democracias atuais dos países desenvolvidos parecem
inclinar-se para a representação proporcional, deixando o sistema maioritário reduzido aos países de
influência britânica, com exceção da França (embora com presença relevante de elementos maioritários
no quadro dos sistemas mistos).

➢ Para além da divergência no que toca á fórmula de conversão dos votos em mandatos

todos os sistemas eleitorais se podem diferenciar também por força da dimensão do círculo, dos assentos
parlamentares suplementares, das cláusulas-barreira e da estrutura do boletim de voto.

• Dimensão do círculo da dimensão do círculo eleitoral depende o grau de proporcionalidade do


resultado.

• Assentos Parlamentares Suplementares de forma a corrigir os desvios de proporcionalidade, causados


por uma pequena dimensão dos círculos territoriais, podem ser reservados lugares parlamentares
suplementares para um círculo eleitoral mais alargado – seja nacional, seja num quadro geográfico mais
limitado.

• Cláusulas-barreira impondo níveis mínimos de representatividade e colocando obstáculos à


representação das minorias, a sua previsão dificulta, quando não inviabiliza, a presença de forças
partidárias mais pequenas no Parlamento. A sua existência traduz, assim, uma assumida vontade do
legislador interferir diretamente na composição do quadro eleitoral e, por essa via, no comportamento do
próprio eleitor.

• Estrutura do boletim de voto os boletins podem variar na sua estrutura interna, impondo ao eleitor que
escolha apenas uma lista partidária ou permitindo-lhe que divida a sua opção entre os candidatos, do
mesmo partido ou de diferentes partidos. Asa opção por uma ou outra estrutura tem diretas consequências
sobre o grau de liberdade de conformação das escolhas por parte do eleitor.

O sistema eleitoral português

➢ O sistema eleitoral em vigor em Portugal tem a sua origem nas decisões prévias à adoção da
Constituição de 1976 mais especificamente no Decreto-Lei n.º 621-c/74, de 15 de novembro, que
aprovou a regulação do sufrágio para a Assembleia Constituinte aí se estabelecia, o voto singular de lista,
a aplicação do método de Hondt e a natureza fechada e bloqueada das listas e aprovou a regulação do
sufrágio para a Assembleia Constituinte.

➢ O legislador nacional decidiu que a conversão de votos em mandatos se devia fazer em harmonia com
o principio da representação proporcional e determinou depois que, em relação à Assembleia da
Republica, a eleição deveria obedecer ao método da representação proporcional e ser feito de acordo com
o método da média mais alta de Hondt e que, no caso das eleições para as Assembleias legislativas das
Regiões Autónomas e para os órgãos autárquicos, seria seguido o principio da representação proporcional.

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➢ Nas eleições para a Assembleia da República a fixação que a própria Constituição faz de um método
concreto dentro do sistema proporcional leva a que só em sede da sua revisão a eventual alteração dessa
escolha possa concretizar-se; no caso das demais leis eleitorais, decorrendo a escolha do método de Hondt
de decisão do legislador ordinário, nada impede que este proceda à sua modificação, se o considerar
necessário.

➢ A eleição para o Presidente da República é necessário o recurso ao método maioritário com eventual
realização de segunda volta, devido à natureza unipessoal que este cargo implica.

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